E para ser bem sincero, nem eu sabia se estava preparado para dar aquela notícia, mas ele tinha que saber... Ele precisava saber.
E o coitadinho ficou paralisado. Estático, talvez. Não se mexeu, não piscou e acho que nem respirou. Eu fiquei chateado por causa disso.
- Não vai falar nada? – perguntei baixinho, totalmente desolado por dentro.
- Ai, amor... Eu fiquei sem reação!
- Eu sei. Eu também estou assim.
- Tem certeza que é isso que você quer?
- Sim. Acho que sim. Acho que é o melhor a ser feito.
- Não está fazendo isso só pelo dinheiro, não é?
- Não, claro que não, amor. Não é apenas pelo dinheiro. O dinheiro é bom, é claro, mas eu estou fazendo isso para sanar tudo o que está acontecendo na minha vida.
- E você já falou com o pai do Víctor?
- Não! Ainda não! Eu queria primeiro falar com você, saber a sua reação!
- Medo! Eu estou com medo!
Medo? De todos os sentimentos que existem no mundo, ele estava com medo? Por quê?
- Por que você está com medo?
- Porque eu não quero perder você, Caio!
Fiquei triste com essa reação do Bruno. É claro que ele não ia me perder, era óbvio que isso não ia acontecer.
- Bruno, você não vai me perder por causa disso!
Deu pra notar que ele também estava triste.
- Eu preciso ir porque vai ser melhor para nós dois, entende?
- Mas... E a gente?
- Eu sei que vai ser muito difícil a gente ficar separado, mas a gente pode se ver aos finais de semana!!!
- Não vai ser a mesma coisa!
Lembrei do Rodrigo nesse momento. Ele disse a mesma coisa quando eu saí da república.
- Sei que não será a mesma coisa, mas se você me amar de verdade como eu sei que ama, nada nos impedirá de ficar juntos.
- É claro que eu te amo, Caio! Você tem dúvidas disso?
- Não – eu fui sincero. – Lógico que não tenho!
- Mas a gente precisa ver todas as questões burocráticas. Essa não é uma decisão que você pode tomar de uma hora para outra.
- Não é de uma hora para outra. Eu já estou pensando nisso há semanas e você sabe.
- Eu sei, mas é um passo muito grande que você vai dar.
- Uhum, eu tenho ciência disso. Só preciso de seu apoio, de sua ajuda!
- É claro que eu vou te apoiar, meu amor!!!
Ele me abraçou e foi com vontade. Eu não posso negar que fiquei feliz com essa reação do meu namorado.
Ter o apoio do Bruno era tudo o que eu mais queria e precisava naquele momento. Eu não podia fazer nada, absolutamente nada, caso ele não estivesse de acordo, caso ele não me apoiasse.
- Eu te apoio incondicionalmente – meu namorado me deu um beijo carinhoso no rosto. – E farei tudo o que estiver ao meu alcance para a gente ficar bem enquanto você estiver morando lá em São Paulo.
- Eu quero que você saiba que não será em definitivo. Eu não vou trocar o Rio por São Paulo para sempre. Eu fiz a minha vida aqui e é aqui que eu quero continuar. Esse será apenas um período de transição.
- O que você pensa em fazer?
- Vou aceitar a proposta da loja e depois que estiver tudo certo eu saio e começo no outro. Enquanto isso eu não posso ficar parado. Depois eu faço um acordo para eles me mandarem embora.
- Mas e moradia? E essas coisas?
- Esse vai ser o problema, mas eu dou um jeito. Posso alugar uma casa.
- Uhum.
- Amor? Será que não daria pra você pedir transferência da faculdade? Será que você não poderia ir comigo pra São Paulo?
- Não, amor! Não dá. Não tem como porque é Federal. Quer dizer, acho que não tem como.
- Por que não se informa?
- Eu posso fazer isso, mas de toda forma e não vou sair daqui agora, Caio.
- Não? – fiquei triste de novo.
- Não, amor. Faltam só 2 anos para eu me formar. Não dá pra sair agora.
É, ele tinha razão.
- Eu posso ir sim morar contigo, mas não agora. Só depois que acabar a faculdade.
- Você faria isso? – eu fiquei radiante.
- Lógico que faria, né Caio? Você acha que eu vou te deixar dando sopa em Sampa? É claro que não!
Isso foi motivo para um beijo longo e apaixonado, que acabou resultando em sexo. Antes mesmo de ir eu já estava pensando em como seria difícil ficar separado do meu homem. Será que eu ia suportar?
E com essa dúvida eu consegui ficar cheio de incertezas. Como seria a minha nova vida em São Paulo?
Eu ia voltar depois de quase 8 anos. 8 anos longe daquela selva de pedras e de repente eu estaria de volta. Será que eu ia me readaptar?
Será que eu me acostumaria a viver sem o mar? Sem o sotaque dos cariocas? Sem a minha rotina de anos? Sem os meus amigos? Sem o Rodrigo? E principalmente, sem o Bruno?
Essas eram perguntas que teriam respostas apenas com a minha chegada na cidade que eu tanto amava. E infelizmente eu não podia respondê-las naquele momento.
- Eu te amo – falei baixinho.
- Eu também te amo!
- Não quero que fique triste, tá?
- Eu vou tentar. Eu vou tentar não ficar triste porque sei que isso é o melhor pra você. Não posso me opor porque vai ser ótimo para a sua carreira profissional. Eu só tenho medo da sua família!
- Eu nem tinha pensado neles, mas deixa isso comigo. Ninguém vai montar em mim.
- Eu sei que não, mas mesmo assim eu fico receoso. Tem que ter muito cuidado com isso.
- Eu sei!
- Eu te apoio, tá bom? Eu sempre vou te apoiar.
- Eu sei, amor. E eu fico muito feliz com isso. Obrigado!
- Não tem que agradecer, amor – ele beijou minha testa. – Eu sempre estarei ao seu lado. E prometo que isso nunca vai mudar, indepentente da distância.
Não poderia receber notícia melhor que aquela. Como eu pude ficar tanto tempo sem o Bruno, hein? Por que ele não apareceu na minha vida desde a época em que eu era criança?
Se eu era apaixonado por aquele homem, eu consegui ficar mais apaixonado ainda. Bruno conseguiu me reconquistar milhares de vezes durante aquele tempo em que nós estávamos juntos e há muito não havia nenhum resquício do que houve no passado entre nós dois.
A minha relação com ele ia de vento em poupa, obrigado. E continuaria sendo assim, mesmo eu morando no Rio, em São Paulo, na Argentina ou no Japão. Meu namorado e eu não nos separaríamos nunca mais! Eu tinha plena certeza e convicção disso.
Eu já estava decidido e precisava comunicar a boa nova aos meus amigos, mas não sabia se deveria fazer isso de imediato ou se deveria esperar algo mais concreto com relação a minha volta para a minha cidade. Fiquei confuso.
Pelo sim e pelo não, eu já sabia que tinha emprego certo em São Paulo, então resolvi acabar com aquela dúvida de uma vez por todas. Liguei para o Rodrigo e fui preparando o terreno, porque eu sabia que ele ia sofrer e muito com a notícia que eu iria dar.
- E que novidade é essa?
- Hã... É algo ao meu respeito.
- O que foi? Por que estou achando você preocupado?
- Porque eu estou! Nossa, você me conhece mesmo, hein? Só em ouvir a minha voz percebeu que eu não estou legal.
- Claro que eu te conheço, cachorro. O que te aflige? Abre esse coraçãozinho.
- Eu prefiro falar pessoalmente.
- Então vamos nos ver!
- No final de semana. Na sua casa. Pode ser?
- Claro! A Babí vai estar aqui, mas a gente conversa sim. É algo bom ou ruim?
- Depende.
- Depende do quê?
- Do ponto de vista. Eu não sei se é bom ou ruim.
- Você está me deixando preocupado!
- Não, não se preocupe. Está tudo bem.
- Mesmo?
- Mesmo!
- É o inseto do seu namorado? Ele brigou com você de novo?
- Não! Ele não é inseto – fiquei bravo. – E ele não brigou comigo. Não tem nada a ver com o Bruno.
- Hum... Então tá! A gente se vê no final de semana,
- Beleza. Se cuida aí, hein?
- Pode deixar. Abraço.
- Outro.
Desligando o Rodrigo, eu liguei pra Dona Elvira. Eu queria que ela soubesse da minha novidade. Ela reagiu bem:
- Se é o melhor, não adie mais. Vá e seja muito feliz.
- Obrigado, Dona Elvira. O que me preocupa é o Bruno, sabe?
- Ele te ama?
- Por que está fazendo essa pergunta?
- Responda! Ele te ama?
- Ama, ué.
- Então ele não vai ficar abalado por causa disso. Quando um relacionamento é sólido igual ao de vocês, ele é capaz de suportar uma ventania como essa. Se procupe não, querido.
Como ela era sábia!!!
- Obrigado pelo apoio!
- Conte sempre comigo. Sempre.
- Digo o mesmo!!!
Restava dar a notícia pra Duda e pro Antony. Eu sabia que eles ficariam felizes com a novidade, mas não tanto como ficaram:
- Que bom, Caio! – Eduarda abriu um sorriso. – Que bom que pensou e resolveu aceitar.
- Ficou feliz?
- Claro! Isso vai ser ótimo para a sua carreira.
- Ficou tão feliz que tenho até a impressão que quer se livrar de mim.
- Não é isso, rapaz! É que vai ser ótimo pra você! Em todos os sentidos!
- Eu sei que vai ser bom, Duda. É por isso que eu estou indo.
Minha regional e o Antony não sabiam que eu ia para outra empresa. Eu aceitei a proposta deles só para não ficar ocioso em São Paulo, enquanto não começava na firma nova.
- Eu vou verificar com a Sandra e vou ver quando você tem que ir – informou o meu diretor. – A Eduarda vai te avisar.
- Eu fico no aguardo. Por enquanto, muito obrigado por tudo.
- Não tem nada que agradecer. Eu também estou feliz que você tenha aceitado a minha proposta.
- Uhum.
- Faz uma gentileza, Caio: reúna suas equipes e informe que você sairá da filial, por favor.
- Já?
- Para que esperar?
Atendi ao pedido do diretor. Pra mim aquilo estava muito esquisito. As coisas estavam acontecendo rápido demais.
Quando toda a equipe manhã estava reunida, eu passei a informação que não faria mais parte da filial e para o meu total agrado, eles ficaram revoltados.
- Ah, não! – disse uma funcionária muito boazinha. – Você também? Já não basta a Janaína ter ido embora?
- É, eu também, Cleusa. Mas eu serei remanejado. Ainda não sei quando, só estou avisando para evitar os boatos.
A maioria ficou triste e a tristeza deles foi a minha felicidade. Era bom saber que eu era querido pelos meus liderados. Também, eu merecia! Depois de tanto sofrimento, depois do trabalho que tive para cativá-los, o mínimo que eles poderiam fazer era retribuir com carinho. Isso me deixou bem contente.
Com a equipe tarde não foi diferente. Eles reagiram ainda pior e falaram que iam fazer um motim para que eu ficasse. Eu ri e disse que não era necessário. De qualquer forma eu iria sair. Fosse pela transferência, fosse pela nova oportunidade que eu recebera.
- Eu também gosto muito de vocês – falei, quase me emocionando. – E agradeço por esse carinho, mas a decisão já está tomada. Eu preciso ir. É um novo ciclo que vai se iniciar.
Eu preferia pensar dessa forma. Eu preferia pensar que era o final de um ciclo para o começo de outro. Pensando dessa forma eu ficava um pouco mais confortado, mas isso não tirava a tristeza que eu estava sentindo dentro do meu peito.
Sair da loja, por pior que ela estivesse, seria bem difícil. Ali eu fiz amigos, colegas e passei momentos inesquecíveis, como os que tive ao lado da Janaína. Não dava pra negar que eu ia sentir muita falta daquele povo rebelde!
O próximo passo era comunicar ao Bruno e eu fiz isso assim que cheguei em casa, naquela noite mesmo. Ele estava estudando.
- E meu beijo? – ele me olhou.
- Hum... – dei um beijo nele. – Te amo!
- Também. Você está bem?
- Mais ou menos e você?
- Eu também. Me sentindo meio triste. Não posso negar.
- Eu sei. Eu te conheço. Eu também estou triste.
Nos fitamos. Eu vi a tristeza transparecer através daqueles olhos azuis.
- Não vamos sofrer por antecedência, né?
- Verdade – eu concordei. – Vou tomar um banhp. Vem comigo?
- Hum... Safadinho!!!
Ele largou tudo, mordeu os lábios e saiu atrás de mim. Rolou uma pegação básica embaixo do chuveiro, como era de costume.
- Delícia – Bruno segurou o meu membro.
- Tá doendo...
- É? Tá muito duro, né?
- Cai de boca, cai?
Bruno me chupou com maestria. Ele foi muito safado e não parou de me olhar um segundo sequer. O safado quase me enlouqueceu com aquela chupada. Eu gozei muito na boca dele.
- Ui... – gemi.
Como era bom sentir prazer com o Bruno. Só de pensar que quando eu chegasse em São Paulo eu não teria mais isso... Pelo menos não diariamente...
Era melhor não pensar nessas coisas. Era melhor crer que aquele seria apenas um momento transitório e que depois de um tempo tudo voltaria ao normal. Era nisso que eu tinha que pensar.
E foi isso que eu fiz. Enquanto estive ao lado do Bruno naquela noite, tentei transmitir segurança para ele e ele fez o mesmo comigo. Por mais que nós dois estivéssemos desolados por dentro, um não transmitia ao outro. Foi assim que as coisas aconteceram.
Eu pensei que a data da minha mudança demoraria a chegar, mas não foi bem assim. Já no dia seguinte a Eduarda apareceu com a notícia de que eu mudaria dali há 3 semanas.
- Já? – meu coração disparou e eu senti um bolo no estômago.
- Sim! Suas atividades aqui na loja terminam nesse final de semana.
- Como assim?
- Antony te deu alguns dias para você descansar e organizar a sua mudança.
- Sério?
- Sim! Pra você ver como ele não é carrasco.
- É a obrigação dele, fato. E que dia eu assumo na loja de São Paulo?
- Dia 8 de dezembro.
- Em um sábado? – reclamei.
- Sim! Um dia mais calmo.
- Calmo? Em pleno dezembro? E eu sou o Bozo!
- Não reclama. Você vai ter vários dias para descansar.
- Era o mínimo que ele poderia fazer por mim. Aliás, é a obrigação dele!
- Sentirei muito a sua falta.
- Eu também vou sentir a sua, embora ultimamente você esteja sendo muito rígida comigo.
- Desculpa, Caio! É o meu papel.
A Duda estava tão diferente comigo que eu nem perguntava mais pela Dani. Será que ela estava bem?
- Está bem sim, obrigada por perguntar. Me fazendo um monte de perguntas.
- Imagino! Está sabendo que a Alexia está grávida de novo, né?
- Uhum, sei sim. E sua mãe, hein?
- Não tive mais notícias e nem quero.
- Você sabe bem o que passou, não posso te julgar.
- É, foi fácil não!
- Imagino. E você vai vê-la lá em São Paulo?
- Acho que não.
- Hum...
Só falei com ela por mais uns 5 ou 10 minutinhos. Depois eu saí e voltei para as minhas atividades. O Bruno foi o primeiro a saber da novidade e é claro que ele não ficou feliz com isso.
- Cedo assim? Pensei que você iria só no ano que vem!
- Não, amor! Tem que ser rápido porque eu não aguento mais essa loja.
- Hum... Entendi. Se for em dezembro eu vou poder ir com você!
- SÉRIO? – fiquei radiante.
- É... Posso?
- Você ainda me pergunta? Óbvio que pode! Só não pode como deve ir. Vou ficar muito mais feliz se for desse jeito.
- Eu também! Ih, tenho que desligar. Preciso voltar pra aula.
- Volta lá. Bons estudos.
- Bom trabalho.
- Obrigado, pra você também.
Nem sei porque falei isso. O Bruno só ia entrar no trabalho no período da tarde, mas estava valendo.
Depois que desliguei o telefone, fiquei pensando em tanta coisa que eu queria fazer naquelas três semanas que ainda ficaria no Rio. Eu precisava organizar a minha agenda.
E eu comecei contando aos meus amigos que iria embora do Rio na primeira semana de dezembro. Isso aconteceu coletivamente, na casa do Digow, e um ficou mais triste que o outro. O pior de todos foi o próprio Rodrigo.
- Tem certeza que isso é o certo, Caio? – perguntou o pai do Nícolas.
- Sim, Fabrício. Eu não posso mais ficar nessa vida de gerente de vendas. Se continuar eu não chego aos 30. O clima está horrível.
- Mas se você não quer ficar nesse cargo, porque pediu transferência na loja? – perguntou a mulher do Vinícius.
- Porque eu acho que só começo no outro em janeiro e eu não quero ficar parado esse tempo.
- Hum...
De reoente percebi que o Rodrigo não estava mais no meio dos nossos amigos. Perguntei por ele e a Bárbara disse que ele tinha ido pro quarto. Eu fui atrás dele.
Quando entrei, vi que meu amigo estava sentado na cama, olhando pra janela. Eu coloquei a mão no ombro dele e percebi que ele chorava. Isso me fez ficar péssimo.
- Mano? – minha voz quase não saiu.
- Oi, Cacs?
- Quer conversar?
- Claro...
- Não chora, Digow!
- Ah, Caio... Eu nunca queria que esse dia chegasse.
- Eu também não, mas infelizmente ele chegou.
- Por que as coisas têm que ser assim?
- Não sei.
Sentei ao lado dele e também fiquei olhando pra janela, olhando pro nada.
- A vida quer nos separar.
- Não pensa assim – a minha garganta deu um nó e eu também chorei. – Não pensa assim!
- E eu vou pensar o quê então? É assim que as coisas estão acontecendo!
- A minha volta vai calhar com a sua volta, Rodrigo! A gente iria se separar de qualquer jeito.
Ele ficou calado. O meu irmão também iria voltar pro Paraná naquela época. A defesa do doutorado dele estava chegando.
- Vai ser muito difícil ficar longe de você, Caio.
- Vai ser difícil pra mim também, mas a gente pode se falar sempre! Diariamente se for o caso!!!
- É... A gente pode se falar.
- E podemos nos ver sempre que quisermos. São Paulo fica mais perto do Paranná do que o Rio de Janeiro. Pensa nisso.
- É... Você tem razão. A gente vai poder se ver.
- Você ganha bem, você pode viajar para me visitar sempre que quiser.
- Você também ganha bem, seu ridículo!
Nós sorrimos, mas foi um sorriso que acabou muito rápido. A tristeza e o vazio falaram mais alto.
- Eu estava lembrando do passado.
- É?
- Lembrando de como você era pivete!
- Olha o respeito!
- De como você era novinho. Uma criança!
- Palhaço. Eu era jovem, você também era jovem.
- Faz tanto tempo, mas parece que foi ontem.
Era verdade. Fazia muito tempo que eu conhecia o Rodrigo, mas parecia que tinha sido no dia anterior. A nossa amizade era forte mesmo.
- Você lembra das nossas brigas?
- Eram tão bobas! – ele riu.
- É verdade! A gente brigava por qualquer coisa.
- É. Nos conhecemos você tinha 17 e eu 20, agora estou perto dos 30 e você na metade dos 20. O tempo voou.
- Quando a gente se conheceu você nem estudava ainda e agora já está aí, prestes a terminar o doutorado. Como a gente evoluiu, né?
- É verdade! A gente se matava de trabalhar no telemarketing pra ganhar um salário mínimo e hoje estamos ganhando bem. Nós evoluímos mesmo.
- É!
Acho que pela primeira vez eu pensei que o Rodrigo e eu chegamos no Rio na mesma época e iríamos embora do Rio na mesma época. Engraçado isso, né?
- Talvez o destino tenha conspirado para a gente se conhecer – ele secou outra lágrima.
- Não tenho dúvidas disso.
Pausa. As minhas lágrimas teimaram em escorrer. As dele não ficavam atrás.
- Eu apoio a sua volta, Caio.
- Apoia?
- Eu sei que vai ser o melhor pra você. Você tem que ir.
Fiquei calado.
- Da mesma forma que eu sei que você apoia a minha volta pro Paraná.
- Sim!
- As minhas raízes estão me chamando, entende?
- Uhum.
Eu entendia, porque de certa forma as minhas raízes também me chamavam. Eu não podia simplesmente ignorar o fato de que seria ótimo morar novamente na minha selva de pedras que eu tanto amava.
- Digow? – a minha voz saiu em um silvo.
- Hum?
- Me abraça?
Meu pedido foi atendido prontamente. Rodrigo me recebeu em seus braços sem pestanejar e aquele abraço apertado me fez chorar mais ainda. Ele me faria muita falta. Muita falta mesmo.
- Vou sentir sua falta, irmãozinho!
- Eu também vou sentir sua falta, meu irmão mais velho!!!
Vazio. Assim eu estava me sentindo. Vazio. Eu tinha a impressão que nada poderia preencher o vazio que eu estava sentindo. Nem mesmo o amor que eu tinha pelo Bruno.
Tudo estava conspirando para a minha volta a São Paulo. Ainda naquele mês de novembro, Rodrigo e eu tivemos a nossa última aula do curso de inglês. E nesse dia também seria o meu derradeiro dia na filial de Copacabana. Tudo estava se encaixando perfeitamente na minha vida. Eu tinha a impressão que estava fazendo parte de um plano de Deus, porque tudo, absolutamente tudo se encaixava.
A sala, que antes era lotada, naquele momento tinha meia dúzia de gatos pingados. A grande maioria dos alunos tinha desistido na metade do curso. Rodrigo e eu ficamos tentados, mas só paramos naquele momento.
Daquele momento em diante, teríamos que finalizar o curso em nossos respectivos estados. Não daria mais para ficar ali, afinal nós iríamos nos mudar.
Na hora da saída, meu amigo e eu demos um abraço na professora e agradecemos por tudo. Mantivemos um diálogo em inglês e foi muito divertido.
- Oh, thank you!!! – a mestre agradeceu.
- You’re welcome – eu respondi.
Mais uma ciclo finalizado. Quando nós saímos da Wizard, Rodrigo foi pra casa e Bruno me deixou na loja. Ele também fazia aula aos sábados, mas não era na mesma turma que eu.
- Good work – o menino estava tristonho.
- Thank you. The last Day!
- Yeah... The last day.
- Will be very difficult!
- I know, but you can.
- I hope so. God help me!
- I Love you so much! Good luck.
- Thanks, Love. I Love you!
- Me too.
Bruno me beijou e depois do beijo eu saí do automóvel. Ao entrar na loja eu já comecei a me sentir estranho.
Lembrei que no começo eu sentia um clima pesado naquela loja. Naquele momento o clima era de tristeza.
Foi impossível não me recordar dos três ou quatro tercinhos que quebraram com uma facilidade absurda enquanto eu ali estava. Por que isso aconteceu?
- Bom dia, bom dia – eu ia cumprimentando os funcionários.
A maioria estava triste, mas alguns estavam felizes. Eu não agradava à todos e nem me importava. Quem era eu para conquistar todo mundo?
Mas foi na reunião de despedida da equipe manhã que eu comecei a chorar. Chorei e quase não parei mais.
A equipe preparou uma festa pra mim e me deu muitos presentes. Eu ganhei uma camisa social, gravata, perfume e chocolates. Como não me emocionar com isso?
- Eu... Eu queria agradecer à vocês por esse tempo em que passamos juntos...
Meu discurso foi cortado várias vezes pela minha falta de ar.
- Eu sei que não deveria estar chorando, mas às vezes eu sou uma manteiga derretira! Eu me apego muito aos lugares e às pessoas e vou sentir muita falta disso daqui, mesmo com todos os problemas, mesmo com todos os transtornos.
Passei vários meses naquele lugar e se a loja estava bem do jeito que estava, era por minha causa. Por minha causa e por causa da Jana.
Eu fui o responsável por várias mudanças naquela loja. Mudanças boas, mudanças não tão boas, mas mudanças que seriam perpétuas.
Querendo ou não, eu tinha deixado a minha marca naquela loja e também na empresa. Eu me sentia como um tijolinho, me sentia como parte do alicerce daquele grupo tão imponente. Eu passei 5 anos da minha vida naquela empresa.
- Então, à todos vocês, o meu muito obrigado! Eu peço desculpas por qualquer coisa. E é isso. Que todos sejam muito bem realizados na vida profissional e quem sabe um dia a gente volte a se encontrar? Obrigado!
Fui aplaudido e depois fui abraçado por todos os funcionários. Fiquei muito contente com o reconhecimento.
- Vai com Deus e que Ele te abençoe nessa nova etapa! A gente se fala pelo Facebook.
- Amém, Gleice. Fica com Deus também e não esquece de mim, hein?
- Jamais. Você sempre será o meu chefinho lindo!
- Obrigado, coração! Obrigado.
Receber esse carinho dos meus liderados fez com que eu me sentisse um pouco melhor, mas por dentro, eu ainda estava vazio. Oco como um côco seco.
Com a equipe tarde não foi diferente. ´Deles eu ganhei um kit com produtos para a barba e mais chocolates. Será que eles queriam me engordar?
- Muito obrigado, pessoal! Eu agradeço por tudo e peço desculpas por qualquer coisa que tenha feito com vocês!
Fiz mais ou menos o mesmo discurso e mais uma vez me emocionei. A equipe tarde era a minha preferida. Eles também me abraçaram, me desejaram sorte e a grande maioria disse que sentiria a minha falta.
- Eu também vou sentir a falta de vocês. Não esqueçam de mim e a gente se fala pelas redes sociais! Nunca se esqueçam que depois da noite mais escura e tenebrosa, sempre haverá um dia claro e às vezes com sol. Nunca esqueçam que sempre há uma luz no fim do túnel, por maior que ele seja. Nunca desistam dos sonhos de vocês e nunca abaixem as suas cabeças. Lutem, batalhem e vençam. Eu amo vocês!!!
Algumas pessoas também choraram. Foi um momento muito difícil aquela despedida.
Deixei todos saírem para poder me despedir da loja com mais tranquilidade. A única pessoa que ficou no recinto foi o segurança, mas de repente...
- Amor?
Me virei e vi o Bruno atrás de mim. Ele me olhou e quando percebeu que eu estava chorando, me abraçou com força e tentou me confortar:
- Está sendo difícil, não é?
- Muito!
- Vai ficar tudo bem. Você vai ver.
Eu fiz questão de andar por todos os lados na loja. Eu queria guardar cada detalhe na minha memória. Eu nunca me esqueceria dos dias que passei naquele lugar.
“- VAMOS LÁ, EQUIPE! VAMOS ARREBENTAR NAS VENDAS HOJE!!!”.
Caminhei pelos corredores e olhei para todos os lados. Fui até o setor de móveis...
“- Vamos lá, pessoal dos móveis! Não falta quase nada para nós passarmos a loja de Ipanema! Vamos lá, a gente consegue!!!”.
Fui até a telefonia...
“- E aí, como estão esses celulares? Alguém faria o favor de fazer uma venda pra mim? O meu tá muito velhinho e eu quero trocar!
- Eu faço, eu faço!!!
- Não mesmo! Eu te vendo um, chefe!
- Nem vem que não tem, eu atendo o Caio! Qual você quer, Caio?
- Nenhum – eu ri. – Era só pra descontrair o ambiente!!!”.
Parti para a linha branca...
“- Linha branca, olhem o foco! Vamos vender muitos ares condicionados hoje porque o calor tá de matar!!!”.
No som e imagem...
“- Eu estou de olho, hein equipe? Não é pra ninguém ficar assistindo ‘Cheias de Charme’! Vamos focar no nosso objetivo e vamos arrebentar nas vendas! Vamos que vamos, pessoal!!!”.
Colchões e estofados...
“- Com o cansaço que eu estou hoje, a minha vontade é cair ali naquela cama e só levantar na sexta-feira santa de 2.020!
- Atreva-se a sair dessa mesa e eu arranco o seu fígado com as unhas!
- Me dá uma trégua, Janaína dos Santos, Santos, Santos. Eu estou convalescendo de cansaço!
- Cale-se! Pelo menos você não tem que ficar andando para um lado e para o outro com um salto tão grande como o meu! Cale a boca e volte a lançar essas advertências em sistema.”.
Até no crediário eu fui...
“- E essa ociosidade? – eu abri um sorriso.
- Deixa assim, deixa assim – uma funcionária me olhou.
- Deixa assim mesmo! Melhor tranquilidade do que muvuca como ontem à noite!
- Nem me fala, chefe. Nem me fala!”.
Nos caixas...
“- Caio Monteiro? Você por aqui?
- Pois é, Dona Geisa. Vim colocar crédito no meu celular. Me ajuda aí!
- É pra já! Qual a operadora?
- TIM...”.
O estoque...
“- E aí, rapaziada do estoque? Tudo certo por aqui, né?
- Na mais tranquila paz, Caio!!!
- Assim é que é bom, hein? E o recebimento? Já finalizaram a arrumação dos produtos?
- Sim! Tudo nos conformes.
- É isso aí!!! Parabéns à todos! Bom trabalho para nós!!!”.
O vestiário...
“- Menos um dia, meu Pai!
- Pode crer, chefe! Pode crer.
- Agora só segunda-feira, hein? Vamos aproveitar a nossa folga!
- Com certeza. Não tenha dúvidas disso.
- Então bom descanso pra vocês e até segunda! Fiquem com Deus!
- Amém, Caio! Fica com Deus você também!”.
A cozinha...
“- Tem bolo aí ainda, gente?
- Você? Aqui na cozinha, chefe?
- Eu também sou filho de Deus, oras bolas! Tenho direito a tomar um cafezinho. Ou será que não?
- Claro que tem!!!”.
A sala da Duda...
“- Estou felicíssima com sua evolução, Caio! Meus parabéns!
- Obrigado, Duda! Obrigado mesmo. Eu fico feliz que esteja fazendo as coisas da forma correta.
- Está sim! Estou orgulhosa de você!”.
A sala de reuniões...
“- Equipe, vou colocar um vídeo motivacional para vocês. Agradeço pelo dia de hoje e que amanhã venha com força total para nós vencermos nossos obstáculos!!!”.
É, eu estava indo embora depois de 10 meses naquele lugar. Os 10 meses mais corridos e turbulentos de toda a minha vida.
Como foi difícil no começo! Como eu fui apedrejado! Como eu fui mal-recebido. Como eu fui mal-visto.
Mas no fim das contas, deu tudo certo. Eu consegui conquistar os funcionários e aos poucos, muito aos pouquinhos, eles foram percebendo que eu só estava ali para tocar o barco da melhor forma possível e acabaram virando os meus aliados.
Eu iria sentir falta dali. Foi naquele lugar que eu pude enfim mostrar a minha capacidade em um cargo de liderança. E foi ali que eu desenvolvi o meu estilo de liderar as equipes. Como esquecer daquele lugar, por mais densa que fosse a energia? Não tinha como.
Foi naquela loja que enfim eu pude notar o meu nome na hierarquia dos colaboradores. Como eu fiquei feliz quando isso aconteceu!!!
“Eu puxei o relatório pelo sistema e vi o meu nome como superior imediato de todas aquelas pessoas.
Independente de qualquer coisa, não dava para negar que eu estava orgulhoso. Por mais difícil que estivesse sendo, eu enfim estava no cargo da gerência e à partir de então, tinha que fazer o meu melhor sempre.”.
Sentei na minha mesa e olhei para o meu computador, ainda ligado. Era como se eu estivesse ouvindo o som ligado, o barulho dos clientes, o toque dos telefones, as vozes, os passos, os perfumes... Que vazio!
“Ao mesmo tempo em que o ramal da telefonia tocava, o ramal da linha branca também tocava.
Os clientes andavam por todos os lados e os funcionários não ficavam atrás.
Era a correria de todos os dias, era a correria que eu estava acostumado há 5 anos, era a correria que já fazia parte da minha vida e era a correria que eu adorava.
Era a minha mesa, era a minha loja, era o meu departamento, eram os meus liderados, eram as minhas equipes, era a minha responsabilidade, era a minha nova realidade.”.
Minha mesa. Até dela eu sentiria falta. Por mais que eu passasse perrengues naquele lugar, eu gostava de trabalhar ali e se eu não iria mais continuar, era porque estava no meu limite.
Limite do estresse, limite da raiva, limite de tensão. Eu amava aquele lugar, mas infelizmente as coisas não eram mais as mesmas. O clima era outro, os tempos eram outros. E eu precisava ir embora.
Dei uma olhada nos meus arquivos e só depois de uns 5 minutos desliguei o computador. Olhei pro ramal, passei a mão nele e recordei as várias ligações que eu recebia por dia. Aquela rotina louca e cansativa iria me fazer falta.
“- Gerência, Caio?
Era um cliente. Enquanto ele relatava o problema dele, eu lia meus e-mails. Após resolver a questão do mesmo, coloquei o telefone no gancho e este voltou a tocar de imediato.
- Gerência, Caio? – suspirei.
Era a Eduarda dessa vez. Ela queria notícias da filial. Não deu nem tempo de respirar e o telefone voltou a tocar novamente:
- É hoje, meu Deus! É hoje!!! Casa da salada, qual é o seu pepino?!”.
- Vamos? – a voz do Bruno entrou na minha cabeça.
- Vamos – falei baixinho.
Levantei, arrumei a papelada e segui rumo a saída. Eu não ia mais pisar ali. Não como funcionário. Talvez pudesse voltar um dia, mas como cliente. Quem diria que eu iria sair da loja um dia?
- Já vai, Caio? – perguntou o segurança.
- Sim... Já vou. Acabou.
- Boa sorte lá na nova loja!
- Obrigado! Boa sorte pra você também e cuida bem daqui. Eu vou sentir falta.
- Deixa comigo. Boa sorte.
- Muito obrigado!
Apertei a mão do cara e saí. Estava finalizado mais aquele ciclo. O que me restava à partir daquele momento era esperar o dia de ir para São Paulo. E só.
Quando entrei no carro, o Bruno já estava com o motor ligado. Antes de sair, eu olhei mais um pouco para o emblema da empresa e me senti esquisito. Como seria ficar longe daquela rotina louca?
- Posso ir?
- Pode!
- Pegou todas as suas coisas?
- Sim, peguei sim. Pode ir. Não adianta ficar olhando mais.
- É verdade. Você tem que pensar que vem coisa melhor pela frente.
- Vem sim. Pra nós dois.
- Assim seja. Você ganhou muita coisa, hein?
- É... Minhas equipes eram lindas, apesar de toda a dificuldade que nós tivemos no começo!
Foi difícil falar no passado. Pra mim eles ainda eram meus.
- Dá um chocolate pra mim?
- Claro que dou!
- Te amo!
- Não mais do que eu.
Naquela noite o Bruno me fez uma massagem relaxante incrivelmente perfeita. Eu relaxei tanto, fiquei tão leve, que esqueci rapidinho a tristeza que estava sentindo.
- Você é uma delícia, hein? – ele mordeu os lábios.
- O que está esperando pra começar a me beijar?
Meu pedido foi uma ordem e ele me beijou com muita delicadeza, mas eu estava sedento por sexo e agilizei as coisas rapidinho. Foi mais uma vez ótimo, como sempre.
Após isso, no auge da madrugada, eu peguei o notebook, entrei no Facebook e escrevi uma despedida aos meus ex-liderados. Eu sentiria muito a falta de todos.
- Caio? Você por aqui? O que está fazendo aqui no hospital? Aconteceu alguma coisa?
- Oi, Vini! – abracei meu amigo. – Coincidência te encontrar aqui.
- Eu trabalho aqui, Caio! Mas me diz, o que faz aqui?
- Eu vim fazer exames de rotina. O clínico pediu e eu já estou fazendo. Acabei de coletar sangue.
- Está tudo bem, né?
- Sim, sim. São apenas exames de rotina mesmo. E você, como está?
- Bem! Na correria. Quer tomar um café?
- Um café não, mas um suco eu aceito. Não está trabalhando?
- Em horário de descanso. Volto daqui meia hora. Quer conversar? Estou te achando tenso!
Suspirei. Eu estava triste, não tenso.
- Pode ser. Sempre é bom desabafar com você, que é tão maduro e sábio.
O oncologista e eu fomos até a cantina. Lá, ele pegou um café, eu peguei um suco, nós sentamos e ficamos conversando. Vinícius me aconselhou naquela tarde:
- Fica calmo, Caio. Vai dar tudo certo, mano!
- Eu sei que vai, mas é difícil demais encarar isso, Vinícius!!!
- Sei que é, parceiro. Porém, você não pode fugir disso. É uma ótima oportunidade profissional. Vai te fazer crescer como ser humano.
- É verdade. O problema em si é apenas a despedida de vocês.
- Ah, sim. Com certeza essa é a parte mais difícil, mas depois disso, tudo fica mais fácil.
- Sei não, hein?
- Acredite em mim. Vai ficar tudo bem.
- Deus te ouça, meu amigo. Deus te ouça!!!
- Relaxa. É melhor não ficar pensando nisso. Cadê o Bruno?
- Trabalhando, pobre coitado. Aquele ali só trabalha e estuda.
- Eu sei. Ele é um cara bem esforçado.
- Demais. Ele me orgulha.
- Eu sei disso. Viu só? Viu como foi um bom negócio voltar com o cara? Ele está te fazendo feliz!
- É! Muito feliz. Eu me arrependo de ter perdido tanto tempo.
- Todo sofrimento serve de aprendizado e todo aprendizado serve para amadurecimento, brother.
- Você e sua maturidade, né Vini?
- A vida me fez assim, Cacs. A vida me fez assim.
A gente ficou conversando durante a meia hora que ele tinha para descansar. Depois disso, o gostosão voltou para seu trabalho e eu fiquei no aguardo dos resultados dos meus exames.
- Tudo absolutamente normal, Caio. Você não tem nada, está muito saudável.
- Graças a Deus!!! É só isso, não é? Eu volto aqui em 1 ano?
- Em 1 ano. Até a próxima e passar bem.
- Muito obrigado, doutor. Boa tarde!
Eu avistei uma movimentação estranha na frente do hospital e acabei ficando curioso para saber o que estava acontecendo.
Um jovem rapaz, de mais ou menos 20 anos, estava desesperado à procura de pessoas que pudessem doar sangue para a sua prima, que sofrera um acidente e que necessitava com urgência de uma transfusão. No entanto, ninguém quis ou pôde ajudar.
- O tipo sanguíneo dela é O positivo! Alguém pode me ajudar? É caso de vida ou morte, é muito urgente!!!
Ninguém se manifestou e eu percebi que o rapaz ficava mais nervoso e desesperado a cada segundo que passava.
- Ei? – eu toquei nas costas dele duas vezes.
- Oi? – o cara virou e me olhou. Que moço bonito!
- Eu posso ajudar. O meu sangue também é O positivo.
- É mesmo, moço? Você faria isso?
- Faria não! Eu faço. Só me explica o que eu tenho que fazer.
- Graças a Deus! Graças a Deus! Nem sei como te agradecer! Vem comigo, vem comigo... É muito urgente...
2 HORAS DEPOIS...
- Obrigado pela ajuda, cara – o rapaz parecia mais calmo. – Você não sabe o quanto você nos ajudou hoje!
- Imagina. Eu não fiz nada. Não me custou ajudar. Ela está bem?
- Vai ficar, com fé em Deus! Ela ainda precisa de muito mais sangue, mas nós vamos conseguir! Eu tenho fé.
- Nunca desacredite e nunca perca a sua fé. Ficará tudo bem! Boa sorte.
- Ei, ei... Eu nem perguntei seu nome!
- Caio – eu virei e olhei para os olhos dele.
- Muito prazer, Caio – ele estendeu a mão. – Eu me chamo Rafael!
- O prazer é meu, Rafael – apertei a mão do garoto. – Faço votos que sua prima se recupere o mais rápido possível.
- Obrigado, Caio! Muito obrigado mesmo! Obrigado de coração! Você ajudou a salvar a vida da minha prima e para sempre eu serei grato por isso! Obrigado mesmo!
- Não tem que agradecer. Foi um prazer ajudar!
Era sábado e Janaína e eu estávamos curtindo a Praia de Botafogo. Eu tinha que aproveitar ao máximo, uma vez que em São Paulo não tem praia. No entanto, o sol estava tão forte naquele dia, que eu preferi ficar sob o guarda-sol. Eu não quis arriscar.
- Quem manda nascer branco desse jeito?
- Cale-se! Não se sinta só porque você tem um pouco de melanina!
- Eu tenho muita melanina, infeliz! Olha a minha cor e olha a sua. Sou muito mais linda do que você!
- Desgraçada!!!
Naquele dia, minha Irma postiça estava com um biquíni rosa berrante. A cor era tão chamativa, que doía até nos olhos.
- Creio em Deus Pai todo Poderoso!!!
- Que foi, peste da minha vida?
- Eu olhei pro seu biquíni e minhas retinas doeram.
- Ai que desagradável! Meu biquíni novo é a coisa mais linda que existe!
- Só na sua terra, né Jana? Se você estiver lá em João Pessoa a gente consegue te enxergar.
- Ai que badalo! Gosto assim. Amo cores gritantes.
- Mas esse cor-de-rosa não grita, ele berra!
O local não estava tão lotado como deveria estar. Tratando-se de um final de semana de primavera, aquela praia deveria estar muito mais movimentada. Mas foi melhor assim.
- Ai que delícia que você está, hein Caio?
- Quer tirar os olhos? – fiquei todo sem graça.
- Quem manda estar gostosinho desse jeito?!
- Gostosa está você. Aquele cara ali não para de te olhar.
- Oi?! Que cara? É bonito? É gostoso? Será que é rico? Ai que badalo!
Eu ri. Ela era louca demais!
- Aquele ali, Jana. O de bermuda branca.
- AI QUE BADAAAAAAAAAAAAAAAAAAAALO!!! ESTOU PRETA PASSADA NA CHAPINHA! JESUS, ME AMARROTA, ELE É UM GATO!
- Espera aí que eu vou dar uma ligadinha pro Wellington e já volto.
- ATREVA-SE! EU TE DOU MEIA HORA DE TAPA NA CARA!!!
- Você não faria uma coisa dessas, sua quenga.
- Experimenta ligar pro bofe da academia! Eu enfio a sua cara nessa areia quente.
- Malvada. Só não vou ligar porque estou com preguiça.
- Ai que badalo! O cara não para de me encarar.
- Acho que ele quer o seu corpo.
- Jesus, me amarrota! Será que é isso?
- Vai saber. Eu vou comprar uma água de côco. Estou ficando desidratado.
- Não demore e me traga logo duas.
- Ah, vai te catar! Volto logo.
Uma vez no quiosque, pedi o côco mais gelado de todos. Estava fazendo muito calor naquele dia.
- Valeu.
Foi refrescante. Uma pena que não daria para nada.
- Cadê meu côco?
- Que côco?
- O QUE EU TE PEDI, “FÉLA” DA PUTA!
- Ih! Esqueci – comecei a rir.
- CABRUNCO DA PESTE DA GOTA SERENA DO RAIO DA SAIA FURADA. AGORA EU VOU TER QUE IR ATÉ AQUELE FIM DE MUNDO PARA COMPRAR ESSA MERDA DESSA ÁGUA. “FÉLA” DE UMA ÉGUA COM CAGANEIRA!!!
Eu só fiz rir. Eu amava ficar com a minha irmã porque ela me fazia rir o tempo todo.
Janaína saiu resmungando e só voltou depois de uns 10 minutos. Quando ela chegou, eu já tinha terminado a minha água e já me sentia melhor.
- Vou pro mar – falei. – Olha as minhas coisas.
- Eu não! Qual vai ser o meu pagamento?
- Uma dúzia de bolachas nessa cara de pau que você tem. Não suma daqui.
Quando a minha pele bateu na água fria, eu me senti tão aliviado, mas tão aliviado, que a minha vontade foi ficar ali pelo resto do dia.
Nadei um pouco e me refresquei pra valer. A água estava uma delícia.
Confesso que fiquei tempo suficiente na água para me sentir melhor, mas também para me sentir mais calmo.
O mar sempre foi um excelente conselheiro para mim. Ele me tranquilizava, me acalmava, me renovava. E ficar dentro dele naquele momento tão difícil da minha vida, foi renovador.
Acabei me sentindo bem mais leve quando voltei para a areia. A Janaína estava lá, torrando no sol com aquela cara de má que ela tinha.
- Que bico é esse?
- Vê se me erra.
- Ficou brava por eu não ter comprado o côco?
- O QUE VOCÊ ACHA? ME FEZ ANDAR UM QUILÔMETRO ATÉ AQUELA PORCARIA DAQUELA BARRACA! “F[ÉLA” DA PUTA!!!
- Olá, boa tarde – nós ouvimos uma voz masculina próximo a nós.
Quando eu me virei, dei de cara com o rapaz de barmuda branca que estava de olho na Janaína. O que será que ele queria?
- Boa tarde – eu respondi.
- Desculpe incomodá-los. Eu poderia saber o seu nome?
- Meu nome? Janaína. Por quê?
- Muito prazer, Janaína. Eu me chamo Fabiano. Estava te observando há alguns minutos.
- É, eu percebi.
- Desculpe ter te olhado tanto. É que eu sou olheiro do “Big Brother Brasil” e eu estou à procura de possíveis participantes para a próxima edição.
Fiquei preto passado na chapinha. Será que aquele cara estava interessado na minha amiga?
- Jura? – Janaína ficou perplexa.
- Sim. Posso saber qual a sua idade?
- ESTOU PRETA PASSADA NA CHAPINHA! UM CAVALHEIRO NUNCA DEVE PERGUNTAR A IDADE DE UMA DAMA COMO EU!!!
- É 30 – eu respondi por ela.
- AH, FEBRE DO RATO PRA SE INTROMETER NA CONVERSA DOS OUTROS! CALA ESSA BOCA, BRANQUELO SEM PIGMENTAÇÃO!!! NINGUÉM PERGUNTOU A SUA OPINIÃO AQUI! CABRUNCO DA PESTE! TÁ NA CARA QUE EU NÃO TENHO MAIS DO QUE 18 ANOS!!!
- Em cada perna, né? – eu ri da cara que ela fez.
- Com licença, moço do “BBB”. Eu preciso acertar as minhas contas com esse asno transparente aqui.
Janaína segurou no meu braço, me puxou e quase me derrubou na areia.
- FALA QUE EU TENHO 30 DE NOVO! EU ARRANCO SUAS VÍSCERAS COM AS UNHAS!!!
- Você é brava! – Fabiano analisou minha amiga.
- Ela é louca, isso sim.
- CALA A BOCA, INFERNO! Não ligue pra ele, Seu moço. Como o senhor dizia?
- Senhor não. Pode me chamar de Fabiano. Eu estou à procura de possíveis participantes para o “BBB 13”. Estaria interessada em participar do programa e concorrer a um milhão e meio de reais?!
Janaína dos Santos ficou tão espantada com aquele convite que até deixou o canudinho do côco cair na areia. Ela ficou boquiaberta.
- AI QUE BADAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAALO!!! ESTOU PRETA PASSADA NA CHAPÍNHA!!!
- Isso é um sim?
- JESUS, ME CHICOTEIA! É UM SONHO? AAAAAI QUE BADAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAALO!!!
A negra colocou as duas mãos pra cima e começou a sapatear na areia. As pessoas passavam e ficavam olhando para ela. Eu ri muito.
- ONDE EU ASSINO? QUANDO EU ENTRO NA CASA? QUANDO EU FICO EM CONFINAMENTO NO HOTEL? AI QUE BADAAAAALO EU VOU FICAR RICA!!!
- Calma! Calma! Não disse que você entraria na casa. Eu disse que estou à procura de possíveis candidatos.
Janaína caiu do cavalo. Nesse momento ela se recompôs e parou de dar o seu showzinho particular.
- Que badalo! Eu quero sim, Fabiano! Claro que eu quero!
Então me passe seus dados que a produção entrará em contato para marcar as entrevistas. Gostei de você. Seu jeito brincalhão chamaria a atenção de todos.
Eles conversaram sobre todos os trâmites e depois o cara foi embora. Quando ele saiu, Janaína começou a pular, gritar e a dar risada como só ela sabia fazer.
- ESTOU PRETA PASSADA NA CHAPIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIINHA!!! EU VOU FICAR RIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIICA!!!
- Agora aguenta essa daí. Já é metida por natureza. Se entrar no “BBB” vai ficar insuportável. Deus, daí-nos força!
- “PI, PI, PI, PI, PI”, OLHA O RECALQUE! DOIS BEIJOS PRA VOCÊ, BRANQUELO!
- Eu? Com recalque? Como se eu quisesse entrar nesse lixo de reality show.
- E eu com isso? O importante é que eu vou ver o Bial! Já estou até me vendo mandando um beijo pro Bial. BEEEEEEEEIJO, BIAL!!! OI, PAI; OI, MÃE; OI, MANINHA!!!! EU ESTOU NA GLOBO! PLIM, PLIM!
- Quem vê pensa que você já passou na seletiva, amada!
- CLARO QUE EU PASSEI, QUAL A CHANCE DO BONINHO NÃO QUERER UMA NEGRA LINDA, JOVEM, BONITA E CARISMÁTICA COMO EU? EU VOU GANHAR ESSE PROGRAMA OU NÃO ME CHAMO JANAÍNA DOS SANTOS!!!
- Doce ilusão. É melhor você não se empolgar muito, hein? O Boninho pode te achar meio louca e te deixar fora dessa.
- “PI, PI, PI, PI, PI”, OLHA O RECALQUE!!! JÁ ESTOU ME VENDO NAS PROVAS DO LÍDER, AI QUE BADAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAALO!
O pior de tudo é que ela ficou crente que ia passar, coitadinha. A mulher ficou fazendo planos pelo resto da tarde.
- Ai que badalo, eu vou sair na Playboy!
- MEU OVO! – eu gargalhei alto. – SÓ SE FOR PRA LEVAR A REVISTA À FALÊNCIA!!!
- ESCUTA AQUI, PIOLHO DE COBRA COM BRONQUITE: EU NÃO PEDI A SUA OPINIÃO, TÁ LEGAL? ASNO COM TUBERCULOSE! QUER PARAR DE AGOURAR A MINHA ENTRADA NO “BIG BROTHER”, CACHORRO DOENTE?
- Eu não estou agourando nada, sua linda! Eu vou torcer muito por você, viu? Se você entrar, eu vou lá em todos os paredões para torcer por você!
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAI QUE BADAAAAAAAAAAAAAAALO!!!! ADOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOORO!!! MINHA MÃE PRECISA SABER DISSO! MÃÃÃÃÃÃÃÃÃE EU VOU FICAR FAMOSA, MÃÃÃÃÃÃÃE!
Só que não. Pobre Janaína, ela se empolgou tanto com essa possível aparição no “BBB” que quando ficou sabendo que não foi selecionada, entrou em uma crise existencial que vai durar até a próxima encarnação. Eu fiquei com dó dela, pobrezinha.
Conforme os dias foram passando, eu fui notando que o meu esposo foi ficando cada vez mais desolado com a minha saída. Eu também estava assim.
- Me faz uma massagem? – ele pediu.
- Claro que eu faço! Deita aqui, vai?
Ele deitou na cama e eu tirei toda a roupa dele. Além da massagem eu fiz oral e beijei todo o corpo gostoso que ele tinha.
- Delícia de boca quente!!!
- Você gosta?
- Adoro! Chupa até o fim, vai?
Bruno estava ficando peludinho e por isso eu fiquei brincando com os pelos dele. Puxei com o dente e ele ficou gemendo baixinho. Safado! Ele estava cheiroso demais!
- Vou sentir tanta falta dessa boquinha – Bruno apertou o meu queixo e limpou uma gota de esperma que escorreu até o meu pescoço.
- Não pensa nisso agora, por favor.
Não tinha como. A minha saída estava cada dia mais próxima e era impossível não pensar na hora da despedida. Eu ia sofrer, ele ia sofrer. Ia ser muito difícil, mas necessário.
Durante todos os dias, Bruno e eu dormimos abraçados. Eu queria aproveitar cada segundo ao lado dele como se fosse o último, afinal eu não saberia quando nós nos veríamos de novo depois da minha mudança.
Pode parecer exagero, mas era isso que eu sentia. Mesmo ele falando que iria comigo, eu sabia que isso seria impossível. Naquele ano, as provas dele acabariam na segunda semana de dezembro e só por causa disso seria impossível ele me acompanhar.
Todavia, ele poderia me visitar. E era com isso que eu estava contando. Se ele fosse ao meu encontro, seria muito bom, porque assim a gente poderia literalmente tirar o atraso.
Até que não era o fim do mundo. O nosso sofrimento maior se dava pelo fato de ambos estarmos acostumados a morar juntos e à partir de dezembro a gente se veria só aos finais de semana e olhe lá. Era isso que matava.
Contudo, a gente ia superar. Eu sabia que no começo seria muito difícil, mas que com o passar dos dias, das semanas e dos meses, nós tiraríamos isso de letra. Será que eu estava certo?
Ainda naquela semana eu fui obrigado a dizer tchau à Alexia. Ela estava entrando de férias e nós não nos veríamos mais até a minha volta para São Paulo, porque ela ia viajar com o esposo e a filha.
- Que barriga linda – eu fiquei derretido de novo.
- Obrigada! Você está bem?
- Ah, Alexia... Me sentindo triste, né?
- Eu imagino! Vai ser bem difícil no começo, mas depois você acostuma.
- Eu espero.
- Sentirei a sua falta!
- E eu a sua! A de vocês, né? Cuida bem da Mila, hein?
- Lógico que eu vou cuidar. Você vai ficar bem?
- Acho que vou, né? Só o tempo dirá.
- Eu vou orar por você. Muito boa sorte, viu?
- Obrigado, coisa linda! Vou sentir saudades. Promete que não vai esquecer de mim?
- Jamais esqueceria de você, amigo! Você é muito importante pra mim. Você é meu padrinho de casamento!
Nem lembrei disso.
- É verdade. Estaremos unidos para sempre por causa disso.
- Se Deus quiser.
- Boa sorte com a loja.
- Obrigada! Eu vou precisar. Aquilo ali virou um inferno sem você, a Jana e o Jonas.
- Imagino.
- Quem ficou no seu lugar lá em Copa?
- Uma tal de Carmen. Eu não a conheci.
- Ai, a Carminha? Que diva!
- Besta!!!
Nós estávamos em novembro e fazia um mês que “Avenida Brasil” tinha acabado. Todo mundo estava se sentindo meio órfão por causa disso, menos eu.
- Eu tenho que ir, Caio.
- Já?
- Sim. Tenho que terminar de arrumar as coisas pra viagem.
- Hum... Então acho que essa é a hora da despedida, né?
- Sim, mas não vai ser um adeus. Vai ser um até breve! Eu quero te ver aqui quando meu filho nascer, hein?
- Eu farei o possível e o impossível para isso. Eu prometo!
- Acho bom. Se cuida, tá gatinho? Não fica triste desse jeito. É uma nova fase da sua vida. Pensa nisso.
- É verdade.
Nos abraçamos demoradamente. Ela estava cheirosa! Eu falei a verdade quando disse que ia sentir falta daquela branquela que eu tanto amava. Ela era uma das minhas melhores amigas.
“- Como é mesmo seu nome? – perguntei.
- Alexia! E o seu?
- Caio...”.
“- Não liga pro Lucas, Caio – Alexia sorriu. – Ele é um mal-educado!
- Mal-educado? Ele é um mal-comido mesmo, isso sim!!!
Alexia caiu na gargalhada.”.
“- Eu tenho medo de sair daqui, Caio!
- Ah, ‘Alexiá’! Para com isso! Vai ser uma ótima oportunidade você sair e vir trabalhar com a gente!
- Eu tenho medo!
- Para de ser cagona, gatinha! Eu não aceito não como resposta!!!”.
“- Eita, que delícia que você está hoje!
- Para, sua branquela nojenta!
- Sabia que você está ficando cada dia mais gostosinho?
- Sabia que você está ficando cada dia mais descarada, Alexia?!”.
“- Eu já te agradeci hoje por ter deixado eu ficar na linha branca no seu lugar?
- Acho que mais de mil vezes.
- Pois eu vou te agradecer novamente: obrigada!
Arranquei uma folha da minha agendinha e escrevi ‘de nada’.
- O que é isso?
- Uma placa, sua ameba. Não está vendo?
- Eu não sou ameba! – ela ficou ofendida.
- É sim! Minha amebinha favorita!
- Trouxa! E pra quê serve essa placa?
- Ameba e burra. É para eu levantar toda vez que você me agradecer.
- Obrigada!
Eu levantei a plaquinha improvisada.
- Seu besta – a menina me abraçou. – Te amo!
- Também te amo, princesa.
- Não sei o que seria de mim sem você. Foi você que me trouxe pra cá, lembra?
- Eu nunca vou esquecer isso, Alexia. Eu nunca vou esquecer.”.
“- Não dá pra acreditar que você está grávida!
- É, eu sei. Não dá mesmo. Mas eu estou!
- Estou preto passada na chapinha!
- Você? Preto? Só se for por dentro, porque por fora você chega a ser encandescente.
- Ah, cala a boca!!! Olha quem fala! Você é tão branca que chega a ser parente da farinha de trigo!!!”.
“- Deus do céu! Quem diria que essa branquela linda e cheirosa seria mamãe, gente?
- Obrigada pelo cheirosa. Eu tomo banho direitinho.
- Ainda bem, né amiga? Coitada da Camilinha não merece ter uma mamãe fedorenta. Né, bebê?!”.
“- Você virou uma camaleoa?
- Qual é? Só por que eu pintei o cabelo de novo? E daí?
- Acho que a Camila deve te achar a pessoa mais esquisita do mundo!!!
- Para de graça, hein? Para de graça! Eu só clareei mais um pouquinho.
- Você pinta tanto esse cabelo que qualquer dia desses vai aparecer carequinha!
- Está repreendido no nome do Senhor! Não fala isso nem de brincadeira!!!”.
“- Sabia que você é o único amigo homem que eu tenho?
- Jura?
- Sim! Amigo, amigo de verdade é só você. Todos os outros são primos.
- Ah, obrigado! Eu fico feliz com isso.
- Eu te adoro, Caio!
- Também te adoro, meu amor!
- Quero ser sua amiga para sempre, posso?
- Se atreva a não ser minha amiga para sempre. Eu te mato!!!”.
“- Alexia?
- Oi, chefe?
- Vem comigo?
- Ai! O que eu fiz?
- Nada, ué. Eu só quero um favor.
- Que favor?
- Anda, vem comigo.
Levei a moça até a sala da Duda e lá eu fui direto ao ponto:
- A Camilinha não te deixou dormir essa noite, né?
- Não, ela está doentinha pra valer, pobrezinha.
- Que judiação! Então, eu não quero favor nenhum não, sua boba!
- E o que você quer então? Eu fiz algo errado?
- Claro que não, Alexia! Eu vou te deixar aqui para você dormir um pouco. Deita ali no sofazinho, descansa. Você está só o pó!
- Putz, é sério?
- E eu estou com cara de quem está brincando?
- Ai, Caio! Nem sei como te agradecer.
- Não precisa! Segredinho nosso!
- Te amo – ela me abraçou. – Muito obrigada!!!
- De nada. Eu volto em uma hora para te buscar e você fala pro pessoal que estava ligando para alguns clientes. Está bem?
- Combinadíssimo!!! Eu te devo mais essa.
- Segredo nosso. Não abra o bico pra ninguém. Nem pra Janaína!
- Deixa comigo, amor. Obrigada mesmo!!!”.
“- Alexia, eu decidi: eu vou voltar para São Paulo.
- Vai mesmo?
- Sim, eu vou.
- Então eu te dou todo o meu apoio, Caio! Se é o melhor para você, eu estarei do seu lado.
- Obrigada, amiga!
- Sentirei sua falta, branquelo!
- E eu a sua.
- Mas a gente não vai perder o contato nunca!
- Nunca!!!”.
- Boa sorte e que Deus te abençoe!
- Muito obrigado.
Chorei um pouco. Eu sabia que a minha amizade com minha branquelinha nunca seria abalada.
- Eu vou nessa então! Parabéns pela nova fase de sua vida.
- Obrigado! A gente vai se falando pelo Twitter ou pelo celular.
- Sim. Não esqueça de mim também, tá?
- Jamais, branquela! Claro que eu não vou te esquecer. Gertrudes? Enzo? Venham se despedir da vovó!!!
- MÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃE...
- Tchau, mocinha! – Alexia abaixou e pegou a gata no colo. – Se comporta bem, tá bom? Sua mãe te mandou um beijo!
- MÃE?
Eu ri.
- É! Sua mamãe. A Mimosa! Tchau, Enzo. Seu gato mal-encarado! Cuide bem de sua irmãzinha. E você, cuide bem deles!
- Sempre!
- Assim espero. Beijo, amado. Fica com Deus.
- Amém! Vocês também.
Nos beijamos, nos abraçamos e eu a acompanhei até o hall de entrada do meu apartamento. Alexia apertou o botão do elevador e quando ele chegou nós nos olhamos novamente. Que saudades eu ia sentir dela!
- Não é um adeus – ela sorriu.
- É um até breve – eu sorri em resposta.
- Tchau, Cacs!
- Tchau, Alexia. Fica com Deus.
- Amém. Você também.
A branquela entrou no elevador e a porta fechou. Pronto. Eu já tinha me despedido de uma amiga. Faltavam os outros. Será que eu ia suportar?
Já era dezembro e o final de semana se aproximava quase que na velocidade da luz. Bruno e eu estávamos tão desolados que nem tínhamos ânimo para quase nada.
A sensação que eu tinha era que as coisas não eram mais iguais a antes. Eu não tinha vontade de comer, não tinha vontade de rir, não tinha vontade de fazer nada, a não ser pensar no passado e nos momentos em que fui feliz na Cidade Maravilhosa.
No entanto, eu tinha que reagir, até mesmo porque tinha chegado o tão esperado dia da defesa do doutorado do meu postiço preferido. Todos estavam ansiosos e felizes da vida, menos eu. E o próprio Rodrigo.
- Vamos colocar um sorriso nesses lábios, doutor Rodrigo? – perguntou o pai dele.
- É difícil, pai. Esse é o dia mais feliz da minha vida, mas ao mesmo tempo é um dos mais tristes.
Eu entendia o lado dele. Para ele também não estavam sendo fáceis aqueles dias.
Nós saímos todos no mesmo carro, no carro do Digow. Só quem iam eram os pais do Rods, a irmã e eu. Bruno não pôde acompanhar porque estava no trabalho.
Vinícius e Fabrício não puderam ir porque naquele mesmo dia era a defesa do mestrado do Engenheiro Químico. Confesso que fiquei chateado por não poder ir aos dois eventos, mas o pai do Nico entendeu, da mesma forma que o Rodrigo entendeu a ausência do Vini.
E o evento foi simplesmente emocionante. Acompanhar aquele momento da vida do meu postiço foi simplesmente importante para mim. Eu me senti realizado por ele e sabia que ele estava muito feliz com aquela conquista.
Era o final de mais um ciclo. Era incrível como aquele final de 2.012 estava sendo responsável pela finalização de vários ciclos na minha vida e na vida do Rodrigo. Tudo o que estava acontecendo comigo, também estava acontecendo com ele. Seria apenas uma coincidência?
Chorei no final da defesa do meu Digow. Ele falou muito bem, soube se expressar de uma forma impecável e conquistou o doutorado com honra. Ele merecia.
Nem preciso falar que a Dona Inês morreu de chorar. A Bárbara, que foi pro evento por conta própria acompanhada pelos pais, também chorou. Ela estava divina em um vestido de gala vermelho extremamente decotado.
- Parabéns! – eu agarrei aquele gostoso nos braços e o abracei com vontade. – Estou muito feliz por você!
- Obrigado, Cacs! Obrigado!
- Que Deus recompense o seu esforço, mano. Você merece muito sucesso na sua vida profissional, porque só sabe quem passa. Trabalhar e estudar não é fácil e você não parou nesses últimos 7 anos! Parabéns!
Foram 7 anos intensos de estudos para o Rodrigo. No entanto, após a graduação, ele fez especializações curtas. Ele não ficou com mestrados e doutorados longos como algumas pessoas fazem. Ele ficou com cursos que duraram 1 ano, mas que não foram menos importantes na formação acadêmica dele.
- Muito obrigado, mano! Obrigado por estar aqui comigo.
- Até parece que eu ia perder esse momento. Não perderia por nada!
- Eu sei que não ia perder. Eu te amo!
- Também te amo!
Fomos comemorar em um restaurante badalado do Rio e o Fabrício, os pais, o Nícolas, o Vini e a Bruna nos encontraram lá.
- MESTRE FABRÍCIO!!!
- Caio C. Monteiro da Silva!!!
Nos abraçamos.
- Por favor, me desculpa por não ter ido, tá?
- Não tem nada que se desculpar. Eu te entendo.
- Obrigado e meus mais sinceros parabéns! Você merece! É outro guerreiro.
- Obrigado, Caio! Obrigado por tudo.
- Espero que Deus recompense todo esse esforço que você fez, de verdade.
- Muito obrigado!
- Que foi, Nico? – olhei para o menino. – Por que o senhor está emburrado desse jeito?
- Papai “bigou” comigo!
Eu me derreti todinho e peguei o menino no colo.
- É mesmo? E por que ele brigou com você? O que você aprontou, seu lindo?
- Ele não deixou eu “tazê” o “Homi Alanha”!
- Pobrezinho, Fabrício! – eu abracei meu sobrinho. – Custava você deixá-lo trazer?
- Ele tem que aprender a se separar daquele brinquedo. Né, Nico?
- Não, papai! Nícolas gosta dele, papai!
Eu quase tive um AVC de tanto que fiquei apaixonado por aquele menino! Ele era extremamente fofo!!!
Bruno chegou poucos minutos depois. Ele estava lindo: de banho tomado e com uma roupa social muito bem passada. Perfeito, como de costume.
- Já ia te ligar – reclamei. – Que demora foi essa?
- Tive que ir tomar banho, né? Não ia vir fedendo pra cá. Uau, a Bárbara está deslumbrante!
- Então deixa eu ver se ficou cheiroso!
Cheirei o pescoço dele e por causa disso ganhei uma excitação que custou a passar. Eita, homem delicioso!
Aproveitei aquela comemoração ao máximo, porque essa foi a última vez em que eu me reuni com todos os meus amigos e o Bruno. Tirei fotos, ri e me senti feliz, depois de muito tempo. Eu ia sentir falta de todos eles.
- Discurso, discurso, discurso – nós pedimos.
- Coisa mais chata isso, hein? – Rodrigo bufou.
- Para de graça! Se eu fiz, você também tem que fazer – Fabrício reclamou.
- Vovô? O que é um “dicuso”? – Nícolas olhou para a cara do pai de seu pai.
- Que lindo – Bruno suspirou.
- Fala, vô! O que é um “dicuso”?
- É um discurso, oras!
- Vovó? O que é um “dicuso”?
Enquanto o Rodrigo ia falando, o Nícolas ia fazendo uma pergunta atrás da outra.
Meu postiço agradeceu aos pais, a irmã e a nós, seus amigos, por todo o apoio que recebeu ao longo daqueles 7 anos e quando ele tocou no meu nome, eu fiquei bestificado:
- Eu te agradeço, Caio, por ter se tornado o meu irmão, por todo o tempo que passamos juntos, por todas as risadas, pelo ombro amigo de todas as horas, pelas nossas conversas, pelas idas à faculdade, pelo incentivo, pelo apoio, pelos puxões de orelha, por ter aberto meus olhos para a vida e por ter me ensinado a perdoar.
Por que ele disse isso?
- Eu te agradeço por ter me ensinado que o perdão é o sentimento mais humano que existe e que ele pode transformar as nossas vidas. Obrigado por ser tão importante na minha vida!
- Ô, mano! Eu é que te agradeço! – tive que segurar o choro. – Obrigado por tudo também!
- E quanto a você, Bruno...
Ele ia falar do Bruno? Por quê?
- Eu?
- Eu te agradeço por você ter me ensinado que as pessoas podem se regenerar. Eu te agradeço por você ter me ensinado que existem sempre dois lados da moeda e que nós temos que ouvir e entender esses dois lados. Eu te agradeço por você me mostrar que existe sim arrependimento e que todos nós podemos mudar e mudar para melhor. Obrigado por me fazer entender e aceitar o perdão. Obrigado por você também me fazer aprender a perdoar!
- Caramba, Rodrigo! Por essa eu não esperava!!!
Confesso que nem eu esperava por uma dessas. Eu não sabia que o Rodrigo era grato ao Bruno e isso me deixou extramamente feliz e realizado. Que bom que era assim. Que bom que ele também aprendeu a perdoar e que bom que ele também perdoou o meu namorado.
O doutor se estendeu em mais alguns agradecimentos e depois mudou totalmente o foco do discurso. Ele passou a falar para a namorada:
- Eu não acrescentei em nada na sua carreira acadêmica, Rodrigo.
- Na acadêmica não, Bárbara, mas na vida sim. Eu quero te agradecer por você ter voltado para a minha vida depois de 10 anos.
Isso era inacreditável. O Rodrigo me condenou tanto por voltar com o Bruno e no fim das contas, acabou fazendo a mesma coisa. Era Deus dando-lhe uma lição de vida!
- Eu te agradeço por você ter sido a minha primeira namorada, por ter sido o meu primeiro amor e por ter sido a minha primeira e talvez única paixão.
Ele estava inspirado naquela noite!
- Quando nós namoramos, nós éramos duas crianças, lembra? Tínhamos só 14 anos de idade. Éramos dois pivetes!
- É verdade!
- Mas nem por isso deixou de ser importante. Nem por isso deixou de ser verdadeiro. E para mim, fez toda a diferença.
Que lindo!
- Eu quero que você saiba, Bárbara Molina, que eu nunca consegui te esquecer, pelo menos não por completo, nesses 10 anos.
Verdade! Ele sempre falava na Bárbara. Uma vez ou outra ele tocava o nome dela.
- Bastou te reencontrar na praia daqui do Rio naquele dia para eu perceber que todo aquele velho sentimento que eu tinha por você no passado, ainda está vivo aqui dentro do meu coração.
- Que lindo! – eu falei baixinho.
- Por que o tio tá falando tanto, pai?
- Fica caladinho, Nico! Ouve o tio Rodrigo, filho.
Bruno riu baixinho.
- Lembra quando eu fui pedir a sua mão em namoro para o seu pai? Lembra desse dia?
- Claro que eu me lembro! Me deu até febre de tanto medo – a modelo riu.
- Se te deu febre de medo, me deu foi dor de barriga e medo de morrer – ele também riu. – Mas no fim das contas, deu tudo certo. Né, Seu Marcos! Lembra disso?
- E você acha que eu ia me esquecer desse dia, rapaz? Eu quase tive um colapso de tanto ciúmes!
- E eu pensei que sairia da sua casa direto pro hospital ou pro cemitério. Ainda bem que deu tudo certo.
- Vontade não me faltou de te dar uma surra. Agradeça a minha mulher e aos seus pais que conversaram comigo.
Eu fiquei imaginando a cena.
- Eu tinha só 14 anos. Era um pivete que nem sabia o que era namorar, mas que estava apaixonado pela sua filha. Só que hoje, eu não sou mais esse pivete de 14 anos.
Não mesmo!!!
- Hoje, eu sou um homem de 27. 13 anos se passaram.
- Só a metade de nossas vidas – Bárbara falou.
Verdade. Era quase a metade da vida deles mesmo.
- E depois de tanto tempo, depois de 13 anos, Seu Marcos, eu quero novamente pedir a mão da sua filha, mas dessa vez não quero pedi-la em namoro. Eu quero pedi-la em casamento!
OH, MY GOD! EU TIVE QUE ME SEGURAR NA MESA, SENÃO TERIA CAÍDO PARA TRÁS.
- Estou preto passado na chapinha!!!
- RODRIGO!!! – Dona Inês se chocou.
Seu Renato riu e a mãe da Bárbara e a própria Bárbara ficaram petrificadas.
- Hoje, 13 anos depois, depois de longos 10 anos de separação, eu quero pedir a mão da sua filha em casamento. Você permite?
- Adianta dizer que não? Ela é toda sua!!!
- Muito obrigado! Então, agora só resta saber de você, Babí, o grande amor da minha vida.
Eu já comecei a chorar antes mesmo dela dizer o sim. Eu não esperava por aquele pedido de casamento naquela altura do campeonato!
- Aceita casar comigo, minha princesa?
Um comentário:
Aiiii que lindo o Rodrigo tem Caio.e a sua ida pra sampa City tem,eu acho que nessa nova loja você vai ser gerente de seu irmão Cauã!!é uma intuição,posso estar enganado mas acho que não.Vamos ver as cenas dos próximos capítulos neh?bjkasss I Love You❤ Bruno e Caio 😍
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