NO ÚLTIMO
TRIMESTRE DE 2.014...
As
semelhanças que existiam entre Cauã e eu transcendiam o limite da palavra
“normal”. Antes mesmo de saber que Luan estava à caminho, cheguei a comentar
com meu irmão que só faltava nós dois nos tornarmos pais ao mesmo tempo. E não
é que isso aconteceu?
Era noite de quinta-feira e eu resolvi ir até a casa da minha família porque meu filho estava no Rio de Janeiro com o pai. Sempre que isso acontecia, eu me sentia sozinho e angustiado. Por isso resolvi sair de casa.
A nossa rotina era essa: quando eu ia para o Rio, eu levava o menino e quando o Bruno vinha para São Paulo, ele deixava a criança. Ou era assim, ou um de nós dois acabaria perdendo o crescimento do nosso filho.
Por sorte, aquela rotina turbulenta estava prestes a acabar. Em pouquíssimo tempo, Bruno iria se formar e quando isso acontecesse, tudo ficaria mais tranquilo porque ele ia morar comigo em São Paulo. Eu estava contando os segundos para que isso acontecesse.

- Como ele está, vida?
- Com um pouquinho de cólica, amor, mas fora isso está tudo bem.
- Que judiação – meus olhos se encheram de lágrimas e meu coração apertou. – Eu odeio quando isso acontece.
- Eu também, mas logo vai passar. Eu já dei um remedinho e ele não está chorando mais.
- Morrendo de saudade dele – uma lágrima escapoliu.
- Só dele?
- E do pai dele também, é claro.
- Ah, bom! Já ia brigar.
- Depois nos falamos. Cuida dele.
- Pode deixar.
- Beijo, eu amo vocês.
- Nós também te amamos.
A bolsa da Ellen estourou poucos minutos após a minha chegada. Quando isso aconteceu, foi a maior correria e nós ficamos perdidos no meio de tantos afazeres.
- Calma, Cauã! Vai dar tudo certo.
- COMO EU VOU FICAR CALMO NUMA HORA DESSAS? NÃO DÁ!
- Não precisa gritar, cachorro doente. Eu não sou surdo.
- VOLTA AQUI COM ESSE SACO DE FEIJÃO, DAVI!
Edson corria atrás de um gêmeo e Fátima atrás do outro. Meus irmãozinhos estavam prestes a completar dois anos e eram verdadeiros terroristas.
Não havia um canto da casa em que os dois não fizessem traquinagens. Por causa disso, meus pais se viram na obrigação de colocar uma porta no topo da escada, senão era capaz que eles saíssem do berço de madrugada para correr pela casa.
Edson, Cauã e Ellen foram em um carro e minha mãe, meus irmãos e eu fomos no outro. Todos estávamos muito ansiosos para a chegada da primeira mulher da família depois da minha mãe.
- Meu Deus do céu, que trânsito!
- Só para piorar tudo – bufei. – Mas é assim mesmo!
Meu pai e eu paramos lado a lado em um farol e eu pude notar que a Ellen estava muito inquieta no banco traseiro. Ela parecia estar sentindo bastante dor.

- Calma, cunhada. Segura essa menina aí que vai dar tudo certo.
- Fala isso para ela – ela me fitou com cara de sofrimento. – Acho que já está nascendo!!!
O trabalho de parto da Ellen foi rápido demais. A bolsa estourou e pouco tempo depois ela já estava no centro cirúrgico. Quando nós chegamos na maternidade, ela já foi logo levada para dar a luz e isso nos deixou aliviados.
- Boa sorte, papai – dei um tapa no ombro do Cauã. – Vai ver o nascimento da sua filha!
Meu irmão estava meio abobalhado. A gravidez da Ellen não foi nada planejada e aconteceu em um acidente de percurso, mas já que aconteceu, a criança estava sendo muito bem-vinda na nossa família.
- E como está o meu netinho lindo que tanto amo, filho?
- Com um pouquinho de cólica – meu coração apertou. – Mas acredito que esteja bem, mãe.
- Vovó já está morrendo de saudade dele.
A família da Ellen estava inquieta com a chegada da criança. Todos andavam de um lado para o outro, sem parar e sem dar atenção a ninguém.
- Para quieto, moleque – Edson segurou David no colo.
Eu fiquei com o Davi porque senão ele ficaria correndo para todos os lados. Nós só levamos as crianças até o hospital, porque não tivemos com quem deixá-las.
O meu relacionamento com meu pai evoluía a passo de tartaruga, mas era evidente que não era o mesmo de antes. Ele já me cumprimentava, me dirigia o olhar e nunca mais tinha brigado comido. Muito pelo contrário. Parecia que ele estava se regenerando.
Cerca de uma hora depois da entrada do Cauã no centro cirúrgico, ele voltou com o rosto lavado e com um sorriso tonto na cara. Ele já era pai também.
- NASCEU!!!
Foi a maior festa. Os avós choraram e os tios ficaram felizes da vida. Eu estava radiante!
- Parabéns, papai!! Que ela tenha muita saúde e que Deus a abençoe. Parabéns!
- Obrigado, mano! Eu não acredito que sou pai!
- A ficha cai aos poucos, vai por mim!!!
Nossa família estava crescendo. Em menos de dois anos, quatro bebês chegaram no seio dos Monteiros. Isso me fez perceber que estávamos ficando velhos.
Uma vez no quarto, pudemos visitar a minha cunhada. Ela parecia bem, embora estivesse um pouco cansada. O parto foi normal.
- Como se sente?
- Bem, Caio. Só estou cansada.
- Feliz?
- Você não imagina o quanto.
- Imagino sim. Pode ter certeza que eu imagino.
Minha mãe soluçou de emoção quando a neta entrou no quarto para mamar pela primeira vez. Confesso que eu também fiquei um pouco emocionado, porque a princesinha era simplesmente deliciosa!
- Ô, meu Deus – falei baixinho. – Ela é uma delícia!
- Já é o amor do papai, né minha filha?
- Ai que saudade do meu Luan – acabei chorando, mais pelo Luan do que pela minha sobrinha.
- Como vai ser o nome dela? – perguntou Edson, que parecia feliz da vida.
Os papais de primeira viagem se olharam. Eles não tinham falado o nome dela até aquele momento.
- Sophie – respondeu Ellen.
- Sophie C. Monteiro de Lima – falou o paizão, com os olhos cheios de lágrimas.
Era noite de quinta-feira e eu resolvi ir até a casa da minha família porque meu filho estava no Rio de Janeiro com o pai. Sempre que isso acontecia, eu me sentia sozinho e angustiado. Por isso resolvi sair de casa.
A nossa rotina era essa: quando eu ia para o Rio, eu levava o menino e quando o Bruno vinha para São Paulo, ele deixava a criança. Ou era assim, ou um de nós dois acabaria perdendo o crescimento do nosso filho.
Por sorte, aquela rotina turbulenta estava prestes a acabar. Em pouquíssimo tempo, Bruno iria se formar e quando isso acontecesse, tudo ficaria mais tranquilo porque ele ia morar comigo em São Paulo. Eu estava contando os segundos para que isso acontecesse.
- Como ele está, vida?
- Com um pouquinho de cólica, amor, mas fora isso está tudo bem.
- Que judiação – meus olhos se encheram de lágrimas e meu coração apertou. – Eu odeio quando isso acontece.
- Eu também, mas logo vai passar. Eu já dei um remedinho e ele não está chorando mais.
- Morrendo de saudade dele – uma lágrima escapoliu.
- Só dele?
- E do pai dele também, é claro.
- Ah, bom! Já ia brigar.
- Depois nos falamos. Cuida dele.
- Pode deixar.
- Beijo, eu amo vocês.
- Nós também te amamos.
A bolsa da Ellen estourou poucos minutos após a minha chegada. Quando isso aconteceu, foi a maior correria e nós ficamos perdidos no meio de tantos afazeres.
- Calma, Cauã! Vai dar tudo certo.
- COMO EU VOU FICAR CALMO NUMA HORA DESSAS? NÃO DÁ!
- Não precisa gritar, cachorro doente. Eu não sou surdo.
- VOLTA AQUI COM ESSE SACO DE FEIJÃO, DAVI!
Edson corria atrás de um gêmeo e Fátima atrás do outro. Meus irmãozinhos estavam prestes a completar dois anos e eram verdadeiros terroristas.
Não havia um canto da casa em que os dois não fizessem traquinagens. Por causa disso, meus pais se viram na obrigação de colocar uma porta no topo da escada, senão era capaz que eles saíssem do berço de madrugada para correr pela casa.
Edson, Cauã e Ellen foram em um carro e minha mãe, meus irmãos e eu fomos no outro. Todos estávamos muito ansiosos para a chegada da primeira mulher da família depois da minha mãe.
- Meu Deus do céu, que trânsito!
- Só para piorar tudo – bufei. – Mas é assim mesmo!
Meu pai e eu paramos lado a lado em um farol e eu pude notar que a Ellen estava muito inquieta no banco traseiro. Ela parecia estar sentindo bastante dor.
- Calma, cunhada. Segura essa menina aí que vai dar tudo certo.
- Fala isso para ela – ela me fitou com cara de sofrimento. – Acho que já está nascendo!!!
O trabalho de parto da Ellen foi rápido demais. A bolsa estourou e pouco tempo depois ela já estava no centro cirúrgico. Quando nós chegamos na maternidade, ela já foi logo levada para dar a luz e isso nos deixou aliviados.
- Boa sorte, papai – dei um tapa no ombro do Cauã. – Vai ver o nascimento da sua filha!
Meu irmão estava meio abobalhado. A gravidez da Ellen não foi nada planejada e aconteceu em um acidente de percurso, mas já que aconteceu, a criança estava sendo muito bem-vinda na nossa família.
- E como está o meu netinho lindo que tanto amo, filho?
- Com um pouquinho de cólica – meu coração apertou. – Mas acredito que esteja bem, mãe.
- Vovó já está morrendo de saudade dele.
A família da Ellen estava inquieta com a chegada da criança. Todos andavam de um lado para o outro, sem parar e sem dar atenção a ninguém.
- Para quieto, moleque – Edson segurou David no colo.
Eu fiquei com o Davi porque senão ele ficaria correndo para todos os lados. Nós só levamos as crianças até o hospital, porque não tivemos com quem deixá-las.
O meu relacionamento com meu pai evoluía a passo de tartaruga, mas era evidente que não era o mesmo de antes. Ele já me cumprimentava, me dirigia o olhar e nunca mais tinha brigado comido. Muito pelo contrário. Parecia que ele estava se regenerando.
Cerca de uma hora depois da entrada do Cauã no centro cirúrgico, ele voltou com o rosto lavado e com um sorriso tonto na cara. Ele já era pai também.
- NASCEU!!!
Foi a maior festa. Os avós choraram e os tios ficaram felizes da vida. Eu estava radiante!
- Parabéns, papai!! Que ela tenha muita saúde e que Deus a abençoe. Parabéns!
- Obrigado, mano! Eu não acredito que sou pai!
- A ficha cai aos poucos, vai por mim!!!
Nossa família estava crescendo. Em menos de dois anos, quatro bebês chegaram no seio dos Monteiros. Isso me fez perceber que estávamos ficando velhos.
Uma vez no quarto, pudemos visitar a minha cunhada. Ela parecia bem, embora estivesse um pouco cansada. O parto foi normal.
- Como se sente?
- Bem, Caio. Só estou cansada.
- Feliz?
- Você não imagina o quanto.
- Imagino sim. Pode ter certeza que eu imagino.
Minha mãe soluçou de emoção quando a neta entrou no quarto para mamar pela primeira vez. Confesso que eu também fiquei um pouco emocionado, porque a princesinha era simplesmente deliciosa!
- Ô, meu Deus – falei baixinho. – Ela é uma delícia!
- Já é o amor do papai, né minha filha?
- Ai que saudade do meu Luan – acabei chorando, mais pelo Luan do que pela minha sobrinha.
- Como vai ser o nome dela? – perguntou Edson, que parecia feliz da vida.
Os papais de primeira viagem se olharam. Eles não tinham falado o nome dela até aquele momento.
- Sophie – respondeu Ellen.
- Sophie C. Monteiro de Lima – falou o paizão, com os olhos cheios de lágrimas.
- Eu tenho uma novidade para contar, Cacs!
Ele entrou na minha casa e fechou a porta ao passar.
- Que foi, Digow? – eu estava fazendo a janta.
- Hoje a Bárbara e eu fomos ver como está o nosso bebê.
- E como está o meu sobrinho lindo que tanto amo?
Rodrigo cumpriu a promessa. Pouquíssimo tempo depois do casamento, a Bárbara engravidou. O neném estava previsto para abril.
- Então, na verdade não é sobrinho. É sobrinha.
- O QUÊ?! – eu até deixei a panela que estava na minha mão cair no chão. Ainda bem que ela estava vazia.
- É que agora deu para ver, maninho! Ela descruzou as perninhas e...
- E AGORA EU VOU TE MATAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAR!!!
Simplesmente comecei a bater no filho da puta do Rodrigo. Eu fiquei puto da vida quando recebi essa notícia.
- SEU FILHO DA PUTA! EU DEIXEI DE COLOCAR O NOME DO MEU FILHO COMO MATEUS PORQUE VOCÊ IA COLOCAR MATEUS NO SEU! AGORA VOCÊ VEM E ME FALA QUE É UMA MENINA? FILHO DA PUUUUUUUUUUUUUUUTA!!!
- Calma, Cacs – ele se escondeu atrás da porta. – Eu não sabia!
- VOCÊ DISSE QUE O MÉDICO TINHA CERTEZA QUE ERA MENINO, SEU IMBECIL! EU NÃO COLOQUEI O NOME DO LUAN COMO MATEUS POR CAUSA DISSO!!! AI QUE ÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓDIO!!!
- Me perdoa, eu não sabia!
- EU TE PERDOO É O CARALHO! ANDA, SOME DA MINHA FRENTE! SÓ POR CAUSA DISSO EU VOU TE PROIBIR DE CHEGAR PERTO DO SEU AFILHADO NOS PRÓXIMOS CINEQUENTA ANOS! CACHORRO!

- Au, au.
Ele entrou na minha casa e fechou a porta ao passar.
- Que foi, Digow? – eu estava fazendo a janta.
- Hoje a Bárbara e eu fomos ver como está o nosso bebê.
- E como está o meu sobrinho lindo que tanto amo?
Rodrigo cumpriu a promessa. Pouquíssimo tempo depois do casamento, a Bárbara engravidou. O neném estava previsto para abril.
- Então, na verdade não é sobrinho. É sobrinha.
- O QUÊ?! – eu até deixei a panela que estava na minha mão cair no chão. Ainda bem que ela estava vazia.
- É que agora deu para ver, maninho! Ela descruzou as perninhas e...
- E AGORA EU VOU TE MATAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAR!!!
Simplesmente comecei a bater no filho da puta do Rodrigo. Eu fiquei puto da vida quando recebi essa notícia.
- SEU FILHO DA PUTA! EU DEIXEI DE COLOCAR O NOME DO MEU FILHO COMO MATEUS PORQUE VOCÊ IA COLOCAR MATEUS NO SEU! AGORA VOCÊ VEM E ME FALA QUE É UMA MENINA? FILHO DA PUUUUUUUUUUUUUUUTA!!!
- Calma, Cacs – ele se escondeu atrás da porta. – Eu não sabia!
- VOCÊ DISSE QUE O MÉDICO TINHA CERTEZA QUE ERA MENINO, SEU IMBECIL! EU NÃO COLOQUEI O NOME DO LUAN COMO MATEUS POR CAUSA DISSO!!! AI QUE ÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓDIO!!!
- Me perdoa, eu não sabia!
- EU TE PERDOO É O CARALHO! ANDA, SOME DA MINHA FRENTE! SÓ POR CAUSA DISSO EU VOU TE PROIBIR DE CHEGAR PERTO DO SEU AFILHADO NOS PRÓXIMOS CINEQUENTA ANOS! CACHORRO!
- Au, au.
- Vamos receber o papai, amor? Vamos? 
Tirei o meu Luanzinho do berço e o segurei no colo. Ele estava cada dia mais lindo, cada dia mais gostoso e cada sai mais sapeca.
- O papai está chegando do Rio, amor! Ele vem morar com a gente, coisa mais linda!
Coloquei o bonezinho que o Bruno gostava na cabeça do nosso filho e saí para esperá-lo no portão. Meu companheiro estava chegando de mudança naquele dia. Finalmente nós três ficaríamos juntos e felizes. Nós merecíamos isso.
- Oi, Caio! Oi, Luanzinho!
- Oi, Babí! Como está a minha sobrinha?
- Está ótima. Dá ele aqui, dá meu afilhado lindo!
Passei a criança para o colo da madrinha. Rodrigo e eu já éramos vizinhos há alguns meses e isso nos deixou feliz da vida.
- Que cheiroso! Eu estou tão ansiosa para a chegada da minha!
- Eu sei. Mas ainda faltam alguns meses. Eu ainda estou inconformado com essa mudança de sexo. Eu poderia ter colocado o nome do Luan como Mateus! Ai que raiva!
- Brigue com seu irmão, não comigo.
- Claro que eu brigo com ele! A culpa é dele. E a casa de sucos, como vai?
- Vai bem. Eu estou administrando por aqui, você sabe, né?
- Eu sei. O Digow me contou. Não pretende trazê-la para cá?
- Pretendo abrir uma aqui também, mas só depois do nascimento da bebê.
- Entendo. Então ainda vai demorar muito.
- Vai sim. Pega ele, Caio. O meu telefone fixo está tocando e deve ser o meu marido.
- Não me fale dele. Estou com raiva até a próxima encarnação.
Luan e eu fomos até o portão de nossa casa e ficamos esperando o carro do Bruno surgir no horizonte. Quando isso aconteceu, meu coração acelerou e eu fiquei com um gelo imenso na minha barriga. Não dava para acreditar que ele tinha chegado.
- Papai chegou, filho! Olha o papai!
Bruno saiu do carro e foi correndo ao nosso encontro. Antes de me beijar, ele roubou o nosso filho de meus braços e deu vários e vários beijos no menino.
- Papai estava morrendo de saudades do meu amor!
- E meu beijo? Eu não mereço?
Ele me beijou e foi um beijo bem apaixonado. Nós nem nos importamos com o local onde estávamos.
- Entra com ele – falei, apertando o nariz dele. – Eu levo as suas coisas.
Não precisei pedir duas vezes. Quando o assunto era Luan, o Bruno esquecia do resto do mundo. Eu já estava acostumado com isso.
Peguei as inúmeras malas do meu gostoso e fui levando de uma em uma para o interior de nossa casa. Deixei a Gertrudes Filomena e a Abigail, sua filha, por último. Eu estava com saudades dela.
- Oi, filha!
- MÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃE...
- Oi, minha netinha linda!
Abigail era a gata preta da ninhada. Infelizmente ninguém a quis por causa de sua cor e por isso, Bruno e eu tivemos que ficar com a coitada. No entanto, eu a daria para a minha mãe ainda naquele dia.
Já o Enzo, não fazia mais parte da minha família. Depois do nascimento do Luan, o gato ficou muito arisco e nós preferimos doá-lo para a Dona Maria, avó do Víctor. Por causa do bebê, a gente não podia ficar com muitos animais. Poderia ser prejudicial a saúde da criança e o Luan vinha em primeiro lugar.
- Essa é sua casa nova, Gertrudes. Fique à vontade, filha!
- Mãe!
Bruno estava deitado na cama com o Luan em sua barriga, isso era mais do que rotina, já era tradição. Eu amava quando isso acontecia.
- Enfim eu tenho os dois amores da minha vida ao meu lado e sem ter que me preocupar com viagens e distância.
- É – ele me olhou com os olhos brilhando. – Nem me fala.
- Feliz?
- Você não imagina o quanto!!!
Deitei ao lado dele e o beijei. Aquele foi o primeiro de vários dias que nós passaríamos a ficar juntos em tempo integral. Depois de mais de dois anos morando separados, finalmente a nossa vida tinha voltado aos eixos.

Tirei o meu Luanzinho do berço e o segurei no colo. Ele estava cada dia mais lindo, cada dia mais gostoso e cada sai mais sapeca.
- O papai está chegando do Rio, amor! Ele vem morar com a gente, coisa mais linda!
Coloquei o bonezinho que o Bruno gostava na cabeça do nosso filho e saí para esperá-lo no portão. Meu companheiro estava chegando de mudança naquele dia. Finalmente nós três ficaríamos juntos e felizes. Nós merecíamos isso.
- Oi, Caio! Oi, Luanzinho!
- Oi, Babí! Como está a minha sobrinha?
- Está ótima. Dá ele aqui, dá meu afilhado lindo!
Passei a criança para o colo da madrinha. Rodrigo e eu já éramos vizinhos há alguns meses e isso nos deixou feliz da vida.
- Que cheiroso! Eu estou tão ansiosa para a chegada da minha!
- Eu sei. Mas ainda faltam alguns meses. Eu ainda estou inconformado com essa mudança de sexo. Eu poderia ter colocado o nome do Luan como Mateus! Ai que raiva!
- Brigue com seu irmão, não comigo.
- Claro que eu brigo com ele! A culpa é dele. E a casa de sucos, como vai?
- Vai bem. Eu estou administrando por aqui, você sabe, né?
- Eu sei. O Digow me contou. Não pretende trazê-la para cá?
- Pretendo abrir uma aqui também, mas só depois do nascimento da bebê.
- Entendo. Então ainda vai demorar muito.
- Vai sim. Pega ele, Caio. O meu telefone fixo está tocando e deve ser o meu marido.
- Não me fale dele. Estou com raiva até a próxima encarnação.
Luan e eu fomos até o portão de nossa casa e ficamos esperando o carro do Bruno surgir no horizonte. Quando isso aconteceu, meu coração acelerou e eu fiquei com um gelo imenso na minha barriga. Não dava para acreditar que ele tinha chegado.
- Papai chegou, filho! Olha o papai!
Bruno saiu do carro e foi correndo ao nosso encontro. Antes de me beijar, ele roubou o nosso filho de meus braços e deu vários e vários beijos no menino.
- Papai estava morrendo de saudades do meu amor!
- E meu beijo? Eu não mereço?
Ele me beijou e foi um beijo bem apaixonado. Nós nem nos importamos com o local onde estávamos.
- Entra com ele – falei, apertando o nariz dele. – Eu levo as suas coisas.
Não precisei pedir duas vezes. Quando o assunto era Luan, o Bruno esquecia do resto do mundo. Eu já estava acostumado com isso.
Peguei as inúmeras malas do meu gostoso e fui levando de uma em uma para o interior de nossa casa. Deixei a Gertrudes Filomena e a Abigail, sua filha, por último. Eu estava com saudades dela.
- Oi, filha!
- MÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃE...
- Oi, minha netinha linda!
Abigail era a gata preta da ninhada. Infelizmente ninguém a quis por causa de sua cor e por isso, Bruno e eu tivemos que ficar com a coitada. No entanto, eu a daria para a minha mãe ainda naquele dia.
Já o Enzo, não fazia mais parte da minha família. Depois do nascimento do Luan, o gato ficou muito arisco e nós preferimos doá-lo para a Dona Maria, avó do Víctor. Por causa do bebê, a gente não podia ficar com muitos animais. Poderia ser prejudicial a saúde da criança e o Luan vinha em primeiro lugar.
- Essa é sua casa nova, Gertrudes. Fique à vontade, filha!
- Mãe!
Bruno estava deitado na cama com o Luan em sua barriga, isso era mais do que rotina, já era tradição. Eu amava quando isso acontecia.
- Enfim eu tenho os dois amores da minha vida ao meu lado e sem ter que me preocupar com viagens e distância.
- É – ele me olhou com os olhos brilhando. – Nem me fala.
- Feliz?
- Você não imagina o quanto!!!
Deitei ao lado dele e o beijei. Aquele foi o primeiro de vários dias que nós passaríamos a ficar juntos em tempo integral. Depois de mais de dois anos morando separados, finalmente a nossa vida tinha voltado aos eixos.
1º DE MARÇO DE 2.015...
Eu parei tudo o que estava fazendo porque meu filho começara a chorar.
Eu precisava saber o que estava acontecendo.
- Que foi, meu amor? – falei baixinho. – Que foi, anjinho? O que você tem? Hum?
Era a fralda que estava suja. Pelo menos era só isso. Eu fiquei preocupado pensando que fosse algo mais grave.
- Papai vai te trocar, meu amor.
O menino ficou olhando para tudo que foi lado. Ele sempre fazia isso. Mesmo tendo apenas seis meses, Luan já era muito esperto e atencioso. Ele era uma graça!
- Que foi? Está procurando seu papai? Ele não está! Ele foi para o Rio, amor! Ele foi ver sua bisavó Terezinha que foi pro céu, bebê! É, bebê!
Eu sempre conversava com o meu filho enquanto trocava a fralda dele ou lhe dava a mamadeira. Acho que era por isso que ele já reconhecia a minha voz.
- Vamos limpar esse pipi? Vamos? Seu safado! Amor do pai!
De fralda trocada, continuei meus afazeres. Naquele dia, eu tinha que almoçar com minha mãe porque ela queria ajuda com algumas coisas da faculdade e eu não ia negar esse pedido a ela.
Fátima já estava no terceiro semestre de pedagogia e estava se dando muito bem com os estudos, embora esporadicamente sofresse bullying por causa de sua idade.
Eu estava orgulhoso dela. Por mais que o Edson não quisesse, por mais que ele fosse resistente aos estudos da mulher, ela não abaixou a cabeça e seguiu em frente sem medo de ser feliz. Isso me orgulhou muito.
Quando terminei de limpar a casa, dei banho no Luan, em seguida tomei o meu e depois nós saímos de casa. Será que meu irmão estava lá com a Sophie? Fazia tempo que os primos não se viam.
- Olha, filho! Aquele é o trem. Qualquer dia eu e seu pai vamos te levar para andar nele.
O menino só resmungava. Por estar crescendo, ele já estava fazendo vários barulinhos, mas ainda era muito cedo para começar a falar.
Ao chegar na casa da Fátima, estacionei o carro, desci, peguei o bebê e depois travei o meu automóvel.
- Vem com o papai, meu filho. Vamos ver sua vovó? Vamos, coisa linda?
Edson estava na garagem. Ele estava limpando o carro dele e quando nos viu, ficou de olho no meu menino, mas não falou nada. Eu tomei a iniciativa:
- Boa tarde!
- Boa tarde. Como está?
- Bem e você?
- Bem!
- Eu posso?
- Sim. Entra aí!
- Obrigado.
Entrei e fui ao encontro da minha mãe. A casa estava silenciosa e isso me fez crer que os gêmeos não estavam por lá. Não deu outra.
- Ai meu Deus do céu, mas que charme é esse com esse boné virado de lado?
- Eu sou muito gato, vó Fátima!
- Claro que é! Me dá esse anjo aqui, filho! Vovó estava morrendo de saudade!!!
Avó e neto ficaram se curtindo por um tempo. Eu não fiz diferente. Sentei no sofá e fiquei acariciando minha netinha. Ela estava a coisa mais linda.
- Que saudade de você, Abigail! Vovô estava com saudades!!!
- Para de falar que ela é sua neta, menino! Eu não tenho idade para ser bisavó não!
- Ah, tem sim! E seu eu ou o Cauã tivéssemos sido pais aos treze? A essa altura já poderíamos ser avôs de verdade. Sabia que o avô mais jovem do mundo tem a minha idade?
- Se isso tivesse acontecido, eu teria capado os dois. Onde é que já se viu? Ter filho aos treze anos?! Isso é fim de mundo!
- Cadê meus irmãos?
- Saíram. Foram ao Ibirapuera.
- E minha sobrinha linda e maravilhosa?
- Foi junto. Ela está uma graça também! Meus dois netos são as coisas mais lindas desse mundo.
- São mesmo! Né, meu amor?
Almoçamos os três juntos e depois fui ajudar minha mãe com o trabalho da faculdade. Era um tema meio complicado, por isso ela teve dificuldade para encontrá-lo na internet.
- Achei isso daqui, mãe. Acho que vai te ajudar muito.
- Deixa eu ver, filho.
Passei o notebook a ela. Minha mãe estava mesmo muito empenhada com os estudos. Isso era ótimo!
- Eu preciso dessa impressão.
- Eu imprimo para você.
Deixei o Luan no berço dos gêmeos. Como eles não estavam em casa, não teve nenhum impecilho com relação a isso. Com certeza ele iria dormir a tarde toda.
- Prontinho.
- Obrigada, meu amor.
- De nada!
No entanto, ele não dormiu. De repente, ouvi o choro do meu filho e tive que sair correndo para ver o que estava acontecendo.

Todavia, quando cheguei no corredor, percebi que meu pai já estava no quarto com a criança. Isso me deixou encafifado. O que o Edson queria com o Luan?
- Que foi? – ouvi a voz dele. – O que você tem?
Pausa. Eu me aproximei.
- Que foi? Por que está me olhando com esses olhos esbugalhados?
Outra pausa.
- Está pensando o quê? Que eu sou seu avô? Eu sou, ué! Fazer o quê?!
Engoli em seco. Então ele se considerava avô do meu filho? Então isso queria dizer que ele já era meu pai novamente? É isso?
- Por que está resmungando desse jeito? Não sabe ficar quieto não?
Edson deu risada. Isso me deixou incrédulo.
- Sabia que você é bem engraçadinho?
Eu arregalei meus olhos.
- É, é engraçadinho sim! Não tem que ficar me olhando assim não. Qual é? Não posso te achar bonitinho não?
Outra pausa. Eu não estava entendendo nada.
- Você é a cara do seu... Pai quando ele tinha essa idade. Do seu pai e do seu tio, é claro.
Será? Será mesmo?
- Mas ao mesmo tempo, você não parece nada com ele. Que engraçado! Não dá para entender essas coisas não.
É, realmente não dava para entender nada.
- É, definitivamente, você parece com seu pai. Que bela rasteira a vida me deu! Meu primeiro neto veio logo do seu pai! Não dá para acreditar nisso.
Eu senti um frio esquisito na espinha e no estômago. Por que o Edson estava conversando com o Luan?
Então ele entendeu que a vida tinha dado rasteiras nele? Então ele se tocou que a vida deu lições a ele?
- Que é, moleque? Para de resmungar! Até nisso você se parece com seu pai! Ele fazia isso quando ea pequeno. Só ele. Seu tio Cauã não fazia não.
Engoli em seco.
- Mas aí eu pegava seu pai no colo e ele parava. Será que é manha? Será que se eu te pegar você fica calado?
Edson? Segurando o MEU filho?
- Deixa eu fazer o teste. Vem aqui, moleque. Até que você é pesado. Também, não é a toa. Você mama mais que um bezerro. Por isso está gordinho do jeito que está.
Nesse momento, meu menino parou de choramingar. Eu achei isso inacreditável.
- E não é que é manha mesmo? – Edson riu de novo. – Já vi que você vai ser mimado, hein? Claro que vai. Aquele garoto lá vai te mimar muito. Eu sei que vai.

Ele estaria falando de mim ou do Bruno?
- Que foi? Por que me olha tanto? Está me achando bonito por acaso? Está achando o vô bonito, moleque?
Meu Deus...
- Sabia que eu tenho dó de você, menino?
DÓ?!
- Você vai sofrer muito nessa vida. E a culpa nem é sua.
Engoli em seco novamente.
- Você vai sofrer porque você tem dois pais ao invés de um pai e uma mãe. Isso vai te machucar muito no futuro.
O pior é que ele tinha razão. Ele estava certo nesse aspecto.
- Só que eu sei que aqueles dois vão te ajudar nisso. Eu sei que eles vão te auxiliar em tudo que você precisar.
Como ele sabia disso? Como?
- Sabia que eu já machuquei muito o seu pai?
Eu não acreditei no que ouvi.
- É, eu machuquei – meu pai suspirou. – E não foi pouco não.
Ainda bem que ele reconhecia.
- Eu expulsei seu pai de casa aos chutes, sabia moleque? É porque ele é gay. Eu não queria isso, eu não aceitava isso.
Queria? Aceitava? Por que ele estava falando no passado? Por quê?!
- Eu não queria porque eu sabia que ele seria humilhado lá fora. Só que eu não percebi que antes de ser humilhado lá fora, ele estava sendo humilhado aquk dentro também.
E muito. Muito mesmo.
- Seu avô agiu por impulso, moleque. Não foi fácil para mim expulsar seu pai de casa. Mas não conta isso pra ele não. É segredo!
Eu abri a boca e fiquei incrédulo. Por que ele estava falando essas coisas ao meu filho?
- Eu fiquei muitos anos sem ver seu pai. Só que ao mesmo tempo, eu o via todos os dias por causa do seu tio. Eu olhava pro seu tio e pensava no seu pai. Era inevitável.
- Pensava em mim? – falei baixinho.
- Mesmo com todo o meu jeito turrão, mesmo com toda a raiva que eu tinha no meu peito por ele ser assim, eu pensava nele. Eu queria notícias, mas meu orgulho falava mais alto. Por isso eu comecei a beber.
- E isso justifica alguma coisa?
- Eu não queria que fosse assim, rapaz. Eu queria que seu pai fosse normal.
E eu era anormal por acaso?
- Eu queria que ele fosse hetero. Será que era pedir demais? Eu não me acostumava com a ideia. Acho que não me acostumo até hoje.
Fato. Homofóbico!
- Seu avô tem o coração duro, menino. Mas mesmo sendo duro, ele tem sentimentos. Eu gosto do seu pai.
FIQUEI PRETO PASSADO NA CHAPINHA.
- Eu só não demonstro. Sou orgulhoso. Sabia que eu sou orgulhoso? Isso é um defeito. Não seja orgulhoso quando você crescer.
Eu dei dois passos na direção do quartinho dos gêmeos.
- Que é? Por que está me olhando assim? Será que você está me entendendo?
Claro que sim! Claro que ele estava entendendo!
- Você é tão esperto para a sua idade. Vai ser um menino muito inteligente. Luan. Eu preferia Giuseppe.
Ele e os nomes italianos...
- Se seu pai me vê com você no meu colo, ele me mata. Mas eu nem me importo! Talvez essa seja uma das poucas vezes que eu possa te segurar.
Não consegui pensar em nada a esse respeito.
- Você é bonitinho – Edson riu. – O seu pai deve estar feliz da vida com você. Sabia que eu estou surpreso com seu pai?
Surpreso?
- Estou surpreso porque não esperei que ele fosse voltar do jeito que voltou. Ele está tão bem!
Eu pisquei duas vezes, A minha incredulidade chegou ao ponto máximo nesse momento.
- Eu pensei que ele fosse voltar derrotado, ou que simplesmente não fosse voltar nunca. Me enganei. Mas acho que ele só voltou porque sua avó pediu.
Fato.
- Foi bom ele ter voltado. Apesar da minha raiva e do meu orgulho, eu fiquei feliz em vê-lo.
OI?!
- É, fiquei! Para de choramingar, hein? Você para! Coisa linda! Meu neto. Nem creio nisso. Meu primeiro neto vindo logo do Caio. Isso é inacreditável. A vida me deu uma rasteira mesmo.
E que bela rasteira!
- Eu estou amadurecendo, sabe Luan? Aprendendo a lidar com as pessoas que são diferentes de mim. A cada dia eu aprendo um pouco.
Eu realmente não sabia o que pensar.
- Esses meses atrás eu sonhei com seu pai.
Sonhou COMIGO?
- Sonhei que ele ia embora de novo e que ia por minha causa. Fiquei remoendo esse sonho por dias. Não acho justo isso acontecer de novo.
HÃ?!
- Eu já fiz muito mal a ele, moleque. Acho que mal até demais.
Fato.
- E esse pecado eu vou levar para o resto da minha vida.
Fato. Eu também ia levar o pecado de ter batido nele e ter ofendido ele várias vezes.
- Mas a vida já está me fazendo pagar pelos meus erros.
Como assim?
- Eu não quero mais ferir o seu pai. Sua avó abriu meus olhos. Seu tio também. Eles aceitaram seu pai. E seu pai aceitou a eles. Mas eu sei que a mim ele nunca vai aceitar.
Fatão!
- É complicado – meu velho suspirou. – É muito complicado. Nós dois somos muito teimosos e orgulhosos.
FATÍSSIMO.
- Sei lá, eu não consigo entender meu coração velho e gelado. Eu quase matei o moleque no passado.
Verdade.
- E de que isso adiantou? De nada. Ele continua sendo gay. E é feliz com isso.
Sem dúvidas!
- Eu errei muito, sabe meu neto? Meu neto. Isso não me desce. É muito esquisito saber que você é filho de dois homens. Mas, quem sou eu para entender isso? Á vida é deles mesmo!
Gente...
- Que foi? Por que está chorando assim? Quer deitar no berço? Então deita, oras. Cansou de ficar no meu colo, né? Que pena. Eu estava gostando de ficar com você.
MEU DEUS!!!
- Pronto. Fica aí no berço dos seus tios. Moleque safado! Você é mesmo o focinho do Caio quando ele tinha a sua idade. E é manhoso igual a ele. Vê se pode.
Pausa. Eu só ouvi um ou dois suspiros.
- Pena que eu não vá te ver crescer, moleque. Pena que eu não vá te ver crescer.
Por que? Por que ele não ia ver o neto crescer?
- Será que você vai ser feliz?
Claro que vai.
- Será que você vai ter paz sendo filho de quem você é?
Sem dúvidas.
- A culpa nem é sua, viu? A culpa é deles que quiseram ter você.
Quem era ele para se meter nisso?
- Mas já que você está aqui, o jeito é encarar a realidade, não é mesmo? E tentar ser feliz, mesmo sendo filho de dois... Gays!
Eu suspirei.
- Vai dormir? Está com sono, é? Preguiçoso! Então dorme, moleque. Eu vou sair para te deixar em paz.
Pausa.
- Não fala pro seu pai que eu fiquei com você, senão ele me mata.
- Por que eu te mataria? – nesse momento eu entrei no quarto.
Edson me olhou e ficou branco como uma folha de papel. Ele ficou surpreso.
- Você estava...
- Ouvindo? Desde o começo!
Silêncio. Acho que aquele era o momento de nós dois enfim conversarmos como duas pessoas civilizadas.
- Não sabia que estava aí.
- Cheguei e ouvi você com ele, fiquei escutando. Foi mau.
- Relaxa. Já que ouviu, paciência.
- Quer falar sobre isso, Edson?
- Falar o quê, rapaz? Você já ouviu tudo mesmo.
- Não quer acrescentar nada?
- Não.
- Por que não me falou tudo isso pessoalmente?
- Porque sou orgulhoso.
- Jura? Nem sabia disso.
Ele ficou calado, olhando para o menino.
- Sabe, Edson, acho que é o momento de nós dois nos entendermos. Não acha não?
- Pode ser.
- Eu sei o quanto você é orgulhoso. Eu te conheço muito bem.
- Não vem não porque você também é.
- Eu tenho a quem puxar, não tenho?
Silêncio.

- Por que me expulsou de casa, hein? – minha voz tremeu.
- Porque fui burro.
- Por que não me aceitou como sou? Por que teve que agir assim desde o começo?
- Porque não é fácil para um pai saber que um filho é gay, Caio – ele me encarou. – Por que não é fácil para um pai saber que um filho não é heterossexual como a maioria da sociedade.
- Eu sei que não é fácil, Edson, mas nem por isso você precisava ter feito o que fez. Você quase me matou.
- Eu sei disso, moleque. Eu sei. Eu fiquei fora de mim naquele dia.
- Naquele e em todos os outros, não é?
Ele ficou calado.
- Por que você me odeia tanto, Edson? Por que me rejeita desde que eu sou pequeno?
- Não sei – ele falou baixinho.
- Não sabe ou não quer responder?
- Não sei. Eu não sei. Eu não consigo entender isso.
Doeu. Doeu muito.
- Sabe o quanto era difícil para mim saber que você sempre teve predileção pelo Cauã? Sabe o que era pedir um abraço e você não dar e dar ao Cauã?
Ele ficou calado.
- Sabe o que é crescer sem carinho de pai? Isso me machucou tanto... Tanto...
- Eu sei.
- Você foi a pior pessoa da minha vida, Edson. A pior.
Ele ficou calado.
- É até difícil estar aqui agora falando com você.
- Para mim também é difícil, moleque.
- Por sua causa eu quase morri de fome.
- Lamento muito tudo isso.
- Lamenta mesmo? Ou será que isso tudo é teatrinho?
- Lamento sim, moleque. Eu sei que fui errado.
- Sabe, mas não se arrepende não é mesmo?
Ele ficou calado.
- Não se arrepende e pelo jeito nunca vai se arrepender.
- Me arrependo sim. Eu gostava de você, Caio. Embora não parecesse.
- De fato, não parecia. Eu não consigo acreditar nisso.
- Mas é a verdade. Eu gostava sim de você. Ainda gosto para ser sincero.
Engoli em seco.
- Gosta bem longe, né?
- Não. Eu gosto. Simples. Só isso.
Já era um começo, não é?
- Deve ser difícil para você assumir para si mesmo que seu filho rejeitado fez tudo primeiro que seu predileto, não é?
Ele continuou calado.
- Deve ser dolorido para você saber que eu me formei primeiro que o Cauã. Fiz pós primeiro que o Cauã, fiz mestrado primeiro que o Cauã, tive carro primeiro que o Cauã, me casei primeiro que o Cauã e tive um filho primeiro que o Cauã.
Ele permaneceu na dele.
- Deve ser um tormento saber que eu ganho mais que o Cauã, que eu tenho um cargo superior ao do Cauã e que eu superei ele em vários aspectos.
Não houve resposta.
- Sabe o porquê disso? Porque a vida quis te provar que mesmo eu sendo gay, eu tenho os meus valores. Mesmo eu sendo gay, eu posso ter uma vida digna. Mesmo eu sendo gay, eu posso ser estudado. Mesmo sendo gay, eu posso ter um bom cargo em uma boa empresa. Mesmo sendo gay, eu posso ter um carro. Mesmo eu sendo gay, eu posso ter a minha família.
Meu pai não falou nada.
- Você não acreditava em nada disso, não é, Edson?
- Não. Eu não acreditava.
- Porque você é muito, muito preconceituoso. Porque a educação que você teve com seus pais, te limitou a não aceitar quem é diferente de você. Porque a sua percepção da vida é tão antiga quando a escravidão dos negros.
Novamente silêncio.
- Talvez se você tivesse tido uma educação mais profunda, você fosse diferente. Talvez a culpa disso nem seja sua. Mas você tem culpa quando não tenta melhorar isso dentro de você.
- Eu estou tentando!
- Agora depois que a minha mãe ameaçou te colocar para fora de casa. Depois que o Cauã saiu de casa e foi passar um tempo comigo. Depois que eles queriam te virar as costas. Você só percebeu que tinha que mudar, quando se sentiu ameaçado.
Isso era uma grande verdade.
- Você precisa entender, Edson, que o seu limite termina onde começa o meu. Eu não sou obrigado a ser ofendido, a ser humilhado e a ser massacrado como você faz comigo. Eu não sou obrigado a ser xingado, espancado e jogado para fora de casa. Eu não sou obrigado a nada disso. Nada!
- Eu sei.
- Que bom que você sabe. Porque eu não vou permitir que nada disso aconteça novamente.
Você tem que compreender que as pessoas não são melhores e nem piores por serem negras, gays, lésbicas, deficientes ou qualquer coisa do tipo. O que diferencia uma pessoa da outra é o caráter. Apenas isso. Nada além disso.
Não houve manifestação por parte dele.
- Você precisa aprender, ainda que tardiamente, que todos nós somos iguais e que estamos nesse mundo para aprendermos, evoluirmos e sermos felizes. Só isso. Independente de raça, de credo, de orientação sexual ou do time que torcemos. Todos somos iguais. Todos.

Ele sequer olhava na minha cara.
- A minha sexualidade é algo que só diz respeito a mim, Edson. Ninguém tem o direito de me julgar ou de me diferenciar por causa disso. O que eu faço em cima de uma cama dentro de quatro paredes fica na minha intimidade. Ninguém precisa saber disso. Entende?
Ele suspirou.
- Eu só quero ser feliz. Será que é pedir demais isso? Será que é pedir demais ter direito a ficar com quem eu quero? Seja homem ou mulher? Será que é demais eu buscar a minha felicidade ao lado da pessoa que eu amo?
- Eu não pensei que seria assim.
- Ah, não? O que pensou? Que eu levaria uma vida promiscua? Que sairia com um cara a cada dia da semana? Que eu seria daquelas bichinhas quaquás que falam afeminado e se comportam como mulher?
- Eu cheguei a pensar isso sim.
- Pois se enganou, Edson! Eu não abro mão da minha masculinidade. Não é porque sou gay que vou me comportar como uma mulher. Só faria isso se a minha essência me pedisse. Não é o caso. Eu sou homem, homem! Não sou mulher e nem quero ser. Só sou homossexual. Só isso. E isso é apenas um detalhe que não muda em nada a minha pessoa e que não me torna melhor e nem pior do que ninguém. É só um detalhe.
- É difícil aceitar isso, Caio.
- Quem disse que eu quero que você aceite? A única coisa que eu preciso, é que você respeite. Isso para mim já é suficiente.
Houve uma pausa e essa foi maior que as outras. Eu estava bem mais leve por poder soltar tudo aquilo que estava na minha garganta há anos.
- Me perdoa por ter feito o que fiz.
Eu não esperava por essa. Não mesmo! Juro que não. Fiquei espantado com o que ele disse.
- Eu sou grato a isso, Edson. Sou grato por você ter me expulsado de casa. Se não fosse assim, eu não teria aprendido a viver nunca. Eu teria ficado na zona de conforto e não teria chegado onde cheguei. Eu tenho é que te agradecer por ter aberto as portas da vida para mim. Obrigado.
Silêncio.
- Mesmo assim, preciso de pedir perdão.
- Eu perdoo sim, Edson. Eu perdoo porque não quero continuar com essa mágoa dentro do meu peito.
- É, eu também não.
- Eu perdoo de coração. De coração mesmo! Hoje eu entendo, aliás, já há muito tempo, eu entendo que foi melhor assim. Se não fosse isso, eu não seria quem sou hoje. Por isso e só por isso, eu perdoo sim. Esquece.
- Está fazendo isso com sinceridade?
- Estou – falei a verdade. – Estou sim! O perdão alivia a alma da gente. Eu não quero ficar carregando essa carga negativa para sempre. Eu quero viver em paz, viver plenamente e quero cuidar do meu filho. Só isso.
- Hã... Valeu então.
- Eu também tenho que te pedir perdão. Principalmente pelos socos e xingamentos. Me perdoe por tudo o que te fiz no passado.
- Sem crise, moleque. Sem crise. Eu sei que eu mereci.
- Isso não justifica, não é? A gente não chega a lugar nenhum com agressão.
- É. É verdade.
- Posso te fazer uma pergunta?
- Faz.
- Por que você disse que não vai ver o Luan crescer?
Pausa. Bem demorada.
- Porque eu esto com câncer.
Simplesmente senti todo o meu chão sumir. Que história era essa de câncer? Ele estava doente? Como ninguém sabia disso? Como?
- Meu Deus – falei baixinho.
- Ninguém sabe ainda. Eu vou esperar o casamento do Cauã passar para falar.
- Mas... Mas onde é? Desde quando você sabe disso?
Confesso que fiquei chocado e ao mesmo tempo preocupado com essa notícia. Eu não esperava por isso. Não mesmo!!!
- É no fígado. Eu descobri semana passada.
- Por isso você está com problemas para comer, não é?
- Isso.
Silêncio. Eu fiquei mal com isso. De verdade.
- Olha, mas vai dar tudo certo, viu? A medicina está avançada e você vai conseguir se curar. Tenha fé em Deus.
- É, vamos ver o que acontece.
- Não seja pessimista, Edson! Você tem que pensar positivo nesse momento. E é claro, tem que lutar contra essa doença.
Vai ver que foi por isso que ele falou tudo aquilo para mim.
- É difícil pensar positivo num momento como esses, moleque. É difícil. Você lembra o que houve com sua avó, não lembra?
- Sim, eu me lembro. Mas muita coisa mudou de lá para cá. Não tem motivos para ficar preocupado. Basta fazer o tratamento e ter fé em Deus.
- É, vamos ver o que acontece.
- Eu sei que você vai ser curado, Edson. Agora mais do que nunca eu te perdoo por tudo. Absolutamente tudo.
- Sério? – ele me olhou com os olhos marejados.
- Sério. De coração.
- Eu perdoo você também, Caio. De coração.
Silêncio. Eu estava com um misto de sentimentos dentro do meu peito.
- Amigos? – ele perguntou, com a mão direita estendida.
Pausa. Eu não sabia o que dizer. Não mesmo.
- Digamos que possamos começar do zero – apertei a mão dele. – Com respeito. Só isso.
- Sim. Com respeito. Só isso.
- Você me respeita e eu respeito você. Mas não espere mais nada de mim.
- Sim, eu sei. Eu sei que talvez você não me aceite como seu pai nunca mais.
- Nunca é uma palavra muito forte. Digamos que isso possa acontecer algum dia. Dê tempo ao tempo.
Luan começou a chorar novamente e eu tinha certeza que era fome. Peguei o menino no colo e me virei para sair do quarto. A mamadeira dele estava lá no térreo.
- Papai já vai dar seu leitinho, filho.
- Caio? – ele me chamou quando eu ia saindo.
- Eu? – me virei.
- Obrigado. Por tudo.
Silêncio. Ele parecia abatido.
- De nada, Edson. Não tem nada que agradecer.
- Que foi, meu amor? – falei baixinho. – Que foi, anjinho? O que você tem? Hum?
Era a fralda que estava suja. Pelo menos era só isso. Eu fiquei preocupado pensando que fosse algo mais grave.
- Papai vai te trocar, meu amor.
O menino ficou olhando para tudo que foi lado. Ele sempre fazia isso. Mesmo tendo apenas seis meses, Luan já era muito esperto e atencioso. Ele era uma graça!
- Que foi? Está procurando seu papai? Ele não está! Ele foi para o Rio, amor! Ele foi ver sua bisavó Terezinha que foi pro céu, bebê! É, bebê!
Eu sempre conversava com o meu filho enquanto trocava a fralda dele ou lhe dava a mamadeira. Acho que era por isso que ele já reconhecia a minha voz.
- Vamos limpar esse pipi? Vamos? Seu safado! Amor do pai!
De fralda trocada, continuei meus afazeres. Naquele dia, eu tinha que almoçar com minha mãe porque ela queria ajuda com algumas coisas da faculdade e eu não ia negar esse pedido a ela.
Fátima já estava no terceiro semestre de pedagogia e estava se dando muito bem com os estudos, embora esporadicamente sofresse bullying por causa de sua idade.
Eu estava orgulhoso dela. Por mais que o Edson não quisesse, por mais que ele fosse resistente aos estudos da mulher, ela não abaixou a cabeça e seguiu em frente sem medo de ser feliz. Isso me orgulhou muito.
Quando terminei de limpar a casa, dei banho no Luan, em seguida tomei o meu e depois nós saímos de casa. Será que meu irmão estava lá com a Sophie? Fazia tempo que os primos não se viam.
- Olha, filho! Aquele é o trem. Qualquer dia eu e seu pai vamos te levar para andar nele.
O menino só resmungava. Por estar crescendo, ele já estava fazendo vários barulinhos, mas ainda era muito cedo para começar a falar.
Ao chegar na casa da Fátima, estacionei o carro, desci, peguei o bebê e depois travei o meu automóvel.
- Vem com o papai, meu filho. Vamos ver sua vovó? Vamos, coisa linda?
Edson estava na garagem. Ele estava limpando o carro dele e quando nos viu, ficou de olho no meu menino, mas não falou nada. Eu tomei a iniciativa:
- Boa tarde!
- Boa tarde. Como está?
- Bem e você?
- Bem!
- Eu posso?
- Sim. Entra aí!
- Obrigado.
Entrei e fui ao encontro da minha mãe. A casa estava silenciosa e isso me fez crer que os gêmeos não estavam por lá. Não deu outra.
- Ai meu Deus do céu, mas que charme é esse com esse boné virado de lado?
- Eu sou muito gato, vó Fátima!
- Claro que é! Me dá esse anjo aqui, filho! Vovó estava morrendo de saudade!!!
Avó e neto ficaram se curtindo por um tempo. Eu não fiz diferente. Sentei no sofá e fiquei acariciando minha netinha. Ela estava a coisa mais linda.
- Que saudade de você, Abigail! Vovô estava com saudades!!!
- Para de falar que ela é sua neta, menino! Eu não tenho idade para ser bisavó não!
- Ah, tem sim! E seu eu ou o Cauã tivéssemos sido pais aos treze? A essa altura já poderíamos ser avôs de verdade. Sabia que o avô mais jovem do mundo tem a minha idade?
- Se isso tivesse acontecido, eu teria capado os dois. Onde é que já se viu? Ter filho aos treze anos?! Isso é fim de mundo!
- Cadê meus irmãos?
- Saíram. Foram ao Ibirapuera.
- E minha sobrinha linda e maravilhosa?
- Foi junto. Ela está uma graça também! Meus dois netos são as coisas mais lindas desse mundo.
- São mesmo! Né, meu amor?
Almoçamos os três juntos e depois fui ajudar minha mãe com o trabalho da faculdade. Era um tema meio complicado, por isso ela teve dificuldade para encontrá-lo na internet.
- Achei isso daqui, mãe. Acho que vai te ajudar muito.
- Deixa eu ver, filho.
Passei o notebook a ela. Minha mãe estava mesmo muito empenhada com os estudos. Isso era ótimo!
- Eu preciso dessa impressão.
- Eu imprimo para você.
Deixei o Luan no berço dos gêmeos. Como eles não estavam em casa, não teve nenhum impecilho com relação a isso. Com certeza ele iria dormir a tarde toda.
- Prontinho.
- Obrigada, meu amor.
- De nada!
No entanto, ele não dormiu. De repente, ouvi o choro do meu filho e tive que sair correndo para ver o que estava acontecendo.
Todavia, quando cheguei no corredor, percebi que meu pai já estava no quarto com a criança. Isso me deixou encafifado. O que o Edson queria com o Luan?
- Que foi? – ouvi a voz dele. – O que você tem?
Pausa. Eu me aproximei.
- Que foi? Por que está me olhando com esses olhos esbugalhados?
Outra pausa.
- Está pensando o quê? Que eu sou seu avô? Eu sou, ué! Fazer o quê?!
Engoli em seco. Então ele se considerava avô do meu filho? Então isso queria dizer que ele já era meu pai novamente? É isso?
- Por que está resmungando desse jeito? Não sabe ficar quieto não?
Edson deu risada. Isso me deixou incrédulo.
- Sabia que você é bem engraçadinho?
Eu arregalei meus olhos.
- É, é engraçadinho sim! Não tem que ficar me olhando assim não. Qual é? Não posso te achar bonitinho não?
Outra pausa. Eu não estava entendendo nada.
- Você é a cara do seu... Pai quando ele tinha essa idade. Do seu pai e do seu tio, é claro.
Será? Será mesmo?
- Mas ao mesmo tempo, você não parece nada com ele. Que engraçado! Não dá para entender essas coisas não.
É, realmente não dava para entender nada.
- É, definitivamente, você parece com seu pai. Que bela rasteira a vida me deu! Meu primeiro neto veio logo do seu pai! Não dá para acreditar nisso.
Eu senti um frio esquisito na espinha e no estômago. Por que o Edson estava conversando com o Luan?
Então ele entendeu que a vida tinha dado rasteiras nele? Então ele se tocou que a vida deu lições a ele?
- Que é, moleque? Para de resmungar! Até nisso você se parece com seu pai! Ele fazia isso quando ea pequeno. Só ele. Seu tio Cauã não fazia não.
Engoli em seco.
- Mas aí eu pegava seu pai no colo e ele parava. Será que é manha? Será que se eu te pegar você fica calado?
Edson? Segurando o MEU filho?
- Deixa eu fazer o teste. Vem aqui, moleque. Até que você é pesado. Também, não é a toa. Você mama mais que um bezerro. Por isso está gordinho do jeito que está.
Nesse momento, meu menino parou de choramingar. Eu achei isso inacreditável.
- E não é que é manha mesmo? – Edson riu de novo. – Já vi que você vai ser mimado, hein? Claro que vai. Aquele garoto lá vai te mimar muito. Eu sei que vai.
Ele estaria falando de mim ou do Bruno?
- Que foi? Por que me olha tanto? Está me achando bonito por acaso? Está achando o vô bonito, moleque?
Meu Deus...
- Sabia que eu tenho dó de você, menino?
DÓ?!
- Você vai sofrer muito nessa vida. E a culpa nem é sua.
Engoli em seco novamente.
- Você vai sofrer porque você tem dois pais ao invés de um pai e uma mãe. Isso vai te machucar muito no futuro.
O pior é que ele tinha razão. Ele estava certo nesse aspecto.
- Só que eu sei que aqueles dois vão te ajudar nisso. Eu sei que eles vão te auxiliar em tudo que você precisar.
Como ele sabia disso? Como?
- Sabia que eu já machuquei muito o seu pai?
Eu não acreditei no que ouvi.
- É, eu machuquei – meu pai suspirou. – E não foi pouco não.
Ainda bem que ele reconhecia.
- Eu expulsei seu pai de casa aos chutes, sabia moleque? É porque ele é gay. Eu não queria isso, eu não aceitava isso.
Queria? Aceitava? Por que ele estava falando no passado? Por quê?!
- Eu não queria porque eu sabia que ele seria humilhado lá fora. Só que eu não percebi que antes de ser humilhado lá fora, ele estava sendo humilhado aquk dentro também.
E muito. Muito mesmo.
- Seu avô agiu por impulso, moleque. Não foi fácil para mim expulsar seu pai de casa. Mas não conta isso pra ele não. É segredo!
Eu abri a boca e fiquei incrédulo. Por que ele estava falando essas coisas ao meu filho?
- Eu fiquei muitos anos sem ver seu pai. Só que ao mesmo tempo, eu o via todos os dias por causa do seu tio. Eu olhava pro seu tio e pensava no seu pai. Era inevitável.
- Pensava em mim? – falei baixinho.
- Mesmo com todo o meu jeito turrão, mesmo com toda a raiva que eu tinha no meu peito por ele ser assim, eu pensava nele. Eu queria notícias, mas meu orgulho falava mais alto. Por isso eu comecei a beber.
- E isso justifica alguma coisa?
- Eu não queria que fosse assim, rapaz. Eu queria que seu pai fosse normal.
E eu era anormal por acaso?
- Eu queria que ele fosse hetero. Será que era pedir demais? Eu não me acostumava com a ideia. Acho que não me acostumo até hoje.
Fato. Homofóbico!
- Seu avô tem o coração duro, menino. Mas mesmo sendo duro, ele tem sentimentos. Eu gosto do seu pai.
FIQUEI PRETO PASSADO NA CHAPINHA.
- Eu só não demonstro. Sou orgulhoso. Sabia que eu sou orgulhoso? Isso é um defeito. Não seja orgulhoso quando você crescer.
Eu dei dois passos na direção do quartinho dos gêmeos.
- Que é? Por que está me olhando assim? Será que você está me entendendo?
Claro que sim! Claro que ele estava entendendo!
- Você é tão esperto para a sua idade. Vai ser um menino muito inteligente. Luan. Eu preferia Giuseppe.
Ele e os nomes italianos...
- Se seu pai me vê com você no meu colo, ele me mata. Mas eu nem me importo! Talvez essa seja uma das poucas vezes que eu possa te segurar.
Não consegui pensar em nada a esse respeito.
- Você é bonitinho – Edson riu. – O seu pai deve estar feliz da vida com você. Sabia que eu estou surpreso com seu pai?
Surpreso?
- Estou surpreso porque não esperei que ele fosse voltar do jeito que voltou. Ele está tão bem!
Eu pisquei duas vezes, A minha incredulidade chegou ao ponto máximo nesse momento.
- Eu pensei que ele fosse voltar derrotado, ou que simplesmente não fosse voltar nunca. Me enganei. Mas acho que ele só voltou porque sua avó pediu.
Fato.
- Foi bom ele ter voltado. Apesar da minha raiva e do meu orgulho, eu fiquei feliz em vê-lo.
OI?!
- É, fiquei! Para de choramingar, hein? Você para! Coisa linda! Meu neto. Nem creio nisso. Meu primeiro neto vindo logo do Caio. Isso é inacreditável. A vida me deu uma rasteira mesmo.
E que bela rasteira!
- Eu estou amadurecendo, sabe Luan? Aprendendo a lidar com as pessoas que são diferentes de mim. A cada dia eu aprendo um pouco.
Eu realmente não sabia o que pensar.
- Esses meses atrás eu sonhei com seu pai.
Sonhou COMIGO?
- Sonhei que ele ia embora de novo e que ia por minha causa. Fiquei remoendo esse sonho por dias. Não acho justo isso acontecer de novo.
HÃ?!
- Eu já fiz muito mal a ele, moleque. Acho que mal até demais.
Fato.
- E esse pecado eu vou levar para o resto da minha vida.
Fato. Eu também ia levar o pecado de ter batido nele e ter ofendido ele várias vezes.
- Mas a vida já está me fazendo pagar pelos meus erros.
Como assim?
- Eu não quero mais ferir o seu pai. Sua avó abriu meus olhos. Seu tio também. Eles aceitaram seu pai. E seu pai aceitou a eles. Mas eu sei que a mim ele nunca vai aceitar.
Fatão!
- É complicado – meu velho suspirou. – É muito complicado. Nós dois somos muito teimosos e orgulhosos.
FATÍSSIMO.
- Sei lá, eu não consigo entender meu coração velho e gelado. Eu quase matei o moleque no passado.
Verdade.
- E de que isso adiantou? De nada. Ele continua sendo gay. E é feliz com isso.
Sem dúvidas!
- Eu errei muito, sabe meu neto? Meu neto. Isso não me desce. É muito esquisito saber que você é filho de dois homens. Mas, quem sou eu para entender isso? Á vida é deles mesmo!
Gente...
- Que foi? Por que está chorando assim? Quer deitar no berço? Então deita, oras. Cansou de ficar no meu colo, né? Que pena. Eu estava gostando de ficar com você.
MEU DEUS!!!
- Pronto. Fica aí no berço dos seus tios. Moleque safado! Você é mesmo o focinho do Caio quando ele tinha a sua idade. E é manhoso igual a ele. Vê se pode.
Pausa. Eu só ouvi um ou dois suspiros.
- Pena que eu não vá te ver crescer, moleque. Pena que eu não vá te ver crescer.
Por que? Por que ele não ia ver o neto crescer?
- Será que você vai ser feliz?
Claro que vai.
- Será que você vai ter paz sendo filho de quem você é?
Sem dúvidas.
- A culpa nem é sua, viu? A culpa é deles que quiseram ter você.
Quem era ele para se meter nisso?
- Mas já que você está aqui, o jeito é encarar a realidade, não é mesmo? E tentar ser feliz, mesmo sendo filho de dois... Gays!
Eu suspirei.
- Vai dormir? Está com sono, é? Preguiçoso! Então dorme, moleque. Eu vou sair para te deixar em paz.
Pausa.
- Não fala pro seu pai que eu fiquei com você, senão ele me mata.
- Por que eu te mataria? – nesse momento eu entrei no quarto.
Edson me olhou e ficou branco como uma folha de papel. Ele ficou surpreso.
- Você estava...
- Ouvindo? Desde o começo!
Silêncio. Acho que aquele era o momento de nós dois enfim conversarmos como duas pessoas civilizadas.
- Não sabia que estava aí.
- Cheguei e ouvi você com ele, fiquei escutando. Foi mau.
- Relaxa. Já que ouviu, paciência.
- Quer falar sobre isso, Edson?
- Falar o quê, rapaz? Você já ouviu tudo mesmo.
- Não quer acrescentar nada?
- Não.
- Por que não me falou tudo isso pessoalmente?
- Porque sou orgulhoso.
- Jura? Nem sabia disso.
Ele ficou calado, olhando para o menino.
- Sabe, Edson, acho que é o momento de nós dois nos entendermos. Não acha não?
- Pode ser.
- Eu sei o quanto você é orgulhoso. Eu te conheço muito bem.
- Não vem não porque você também é.
- Eu tenho a quem puxar, não tenho?
Silêncio.
- Por que me expulsou de casa, hein? – minha voz tremeu.
- Porque fui burro.
- Por que não me aceitou como sou? Por que teve que agir assim desde o começo?
- Porque não é fácil para um pai saber que um filho é gay, Caio – ele me encarou. – Por que não é fácil para um pai saber que um filho não é heterossexual como a maioria da sociedade.
- Eu sei que não é fácil, Edson, mas nem por isso você precisava ter feito o que fez. Você quase me matou.
- Eu sei disso, moleque. Eu sei. Eu fiquei fora de mim naquele dia.
- Naquele e em todos os outros, não é?
Ele ficou calado.
- Por que você me odeia tanto, Edson? Por que me rejeita desde que eu sou pequeno?
- Não sei – ele falou baixinho.
- Não sabe ou não quer responder?
- Não sei. Eu não sei. Eu não consigo entender isso.
Doeu. Doeu muito.
- Sabe o quanto era difícil para mim saber que você sempre teve predileção pelo Cauã? Sabe o que era pedir um abraço e você não dar e dar ao Cauã?
Ele ficou calado.
- Sabe o que é crescer sem carinho de pai? Isso me machucou tanto... Tanto...
- Eu sei.
- Você foi a pior pessoa da minha vida, Edson. A pior.
Ele ficou calado.
- É até difícil estar aqui agora falando com você.
- Para mim também é difícil, moleque.
- Por sua causa eu quase morri de fome.
- Lamento muito tudo isso.
- Lamenta mesmo? Ou será que isso tudo é teatrinho?
- Lamento sim, moleque. Eu sei que fui errado.
- Sabe, mas não se arrepende não é mesmo?
Ele ficou calado.
- Não se arrepende e pelo jeito nunca vai se arrepender.
- Me arrependo sim. Eu gostava de você, Caio. Embora não parecesse.
- De fato, não parecia. Eu não consigo acreditar nisso.
- Mas é a verdade. Eu gostava sim de você. Ainda gosto para ser sincero.
Engoli em seco.
- Gosta bem longe, né?
- Não. Eu gosto. Simples. Só isso.
Já era um começo, não é?
- Deve ser difícil para você assumir para si mesmo que seu filho rejeitado fez tudo primeiro que seu predileto, não é?
Ele continuou calado.
- Deve ser dolorido para você saber que eu me formei primeiro que o Cauã. Fiz pós primeiro que o Cauã, fiz mestrado primeiro que o Cauã, tive carro primeiro que o Cauã, me casei primeiro que o Cauã e tive um filho primeiro que o Cauã.
Ele permaneceu na dele.
- Deve ser um tormento saber que eu ganho mais que o Cauã, que eu tenho um cargo superior ao do Cauã e que eu superei ele em vários aspectos.
Não houve resposta.
- Sabe o porquê disso? Porque a vida quis te provar que mesmo eu sendo gay, eu tenho os meus valores. Mesmo eu sendo gay, eu posso ter uma vida digna. Mesmo eu sendo gay, eu posso ser estudado. Mesmo sendo gay, eu posso ter um bom cargo em uma boa empresa. Mesmo sendo gay, eu posso ter um carro. Mesmo eu sendo gay, eu posso ter a minha família.
Meu pai não falou nada.
- Você não acreditava em nada disso, não é, Edson?
- Não. Eu não acreditava.
- Porque você é muito, muito preconceituoso. Porque a educação que você teve com seus pais, te limitou a não aceitar quem é diferente de você. Porque a sua percepção da vida é tão antiga quando a escravidão dos negros.
Novamente silêncio.
- Talvez se você tivesse tido uma educação mais profunda, você fosse diferente. Talvez a culpa disso nem seja sua. Mas você tem culpa quando não tenta melhorar isso dentro de você.
- Eu estou tentando!
- Agora depois que a minha mãe ameaçou te colocar para fora de casa. Depois que o Cauã saiu de casa e foi passar um tempo comigo. Depois que eles queriam te virar as costas. Você só percebeu que tinha que mudar, quando se sentiu ameaçado.
Isso era uma grande verdade.
- Você precisa entender, Edson, que o seu limite termina onde começa o meu. Eu não sou obrigado a ser ofendido, a ser humilhado e a ser massacrado como você faz comigo. Eu não sou obrigado a ser xingado, espancado e jogado para fora de casa. Eu não sou obrigado a nada disso. Nada!
- Eu sei.
- Que bom que você sabe. Porque eu não vou permitir que nada disso aconteça novamente.
Você tem que compreender que as pessoas não são melhores e nem piores por serem negras, gays, lésbicas, deficientes ou qualquer coisa do tipo. O que diferencia uma pessoa da outra é o caráter. Apenas isso. Nada além disso.
Não houve manifestação por parte dele.
- Você precisa aprender, ainda que tardiamente, que todos nós somos iguais e que estamos nesse mundo para aprendermos, evoluirmos e sermos felizes. Só isso. Independente de raça, de credo, de orientação sexual ou do time que torcemos. Todos somos iguais. Todos.
Ele sequer olhava na minha cara.
- A minha sexualidade é algo que só diz respeito a mim, Edson. Ninguém tem o direito de me julgar ou de me diferenciar por causa disso. O que eu faço em cima de uma cama dentro de quatro paredes fica na minha intimidade. Ninguém precisa saber disso. Entende?
Ele suspirou.
- Eu só quero ser feliz. Será que é pedir demais isso? Será que é pedir demais ter direito a ficar com quem eu quero? Seja homem ou mulher? Será que é demais eu buscar a minha felicidade ao lado da pessoa que eu amo?
- Eu não pensei que seria assim.
- Ah, não? O que pensou? Que eu levaria uma vida promiscua? Que sairia com um cara a cada dia da semana? Que eu seria daquelas bichinhas quaquás que falam afeminado e se comportam como mulher?
- Eu cheguei a pensar isso sim.
- Pois se enganou, Edson! Eu não abro mão da minha masculinidade. Não é porque sou gay que vou me comportar como uma mulher. Só faria isso se a minha essência me pedisse. Não é o caso. Eu sou homem, homem! Não sou mulher e nem quero ser. Só sou homossexual. Só isso. E isso é apenas um detalhe que não muda em nada a minha pessoa e que não me torna melhor e nem pior do que ninguém. É só um detalhe.
- É difícil aceitar isso, Caio.
- Quem disse que eu quero que você aceite? A única coisa que eu preciso, é que você respeite. Isso para mim já é suficiente.
Houve uma pausa e essa foi maior que as outras. Eu estava bem mais leve por poder soltar tudo aquilo que estava na minha garganta há anos.
- Me perdoa por ter feito o que fiz.
Eu não esperava por essa. Não mesmo! Juro que não. Fiquei espantado com o que ele disse.
- Eu sou grato a isso, Edson. Sou grato por você ter me expulsado de casa. Se não fosse assim, eu não teria aprendido a viver nunca. Eu teria ficado na zona de conforto e não teria chegado onde cheguei. Eu tenho é que te agradecer por ter aberto as portas da vida para mim. Obrigado.
Silêncio.
- Mesmo assim, preciso de pedir perdão.
- Eu perdoo sim, Edson. Eu perdoo porque não quero continuar com essa mágoa dentro do meu peito.
- É, eu também não.
- Eu perdoo de coração. De coração mesmo! Hoje eu entendo, aliás, já há muito tempo, eu entendo que foi melhor assim. Se não fosse isso, eu não seria quem sou hoje. Por isso e só por isso, eu perdoo sim. Esquece.
- Está fazendo isso com sinceridade?
- Estou – falei a verdade. – Estou sim! O perdão alivia a alma da gente. Eu não quero ficar carregando essa carga negativa para sempre. Eu quero viver em paz, viver plenamente e quero cuidar do meu filho. Só isso.
- Hã... Valeu então.
- Eu também tenho que te pedir perdão. Principalmente pelos socos e xingamentos. Me perdoe por tudo o que te fiz no passado.
- Sem crise, moleque. Sem crise. Eu sei que eu mereci.
- Isso não justifica, não é? A gente não chega a lugar nenhum com agressão.
- É. É verdade.
- Posso te fazer uma pergunta?
- Faz.
- Por que você disse que não vai ver o Luan crescer?
Pausa. Bem demorada.
- Porque eu esto com câncer.
Simplesmente senti todo o meu chão sumir. Que história era essa de câncer? Ele estava doente? Como ninguém sabia disso? Como?
- Meu Deus – falei baixinho.
- Ninguém sabe ainda. Eu vou esperar o casamento do Cauã passar para falar.
- Mas... Mas onde é? Desde quando você sabe disso?
Confesso que fiquei chocado e ao mesmo tempo preocupado com essa notícia. Eu não esperava por isso. Não mesmo!!!
- É no fígado. Eu descobri semana passada.
- Por isso você está com problemas para comer, não é?
- Isso.
Silêncio. Eu fiquei mal com isso. De verdade.
- Olha, mas vai dar tudo certo, viu? A medicina está avançada e você vai conseguir se curar. Tenha fé em Deus.
- É, vamos ver o que acontece.
- Não seja pessimista, Edson! Você tem que pensar positivo nesse momento. E é claro, tem que lutar contra essa doença.
Vai ver que foi por isso que ele falou tudo aquilo para mim.
- É difícil pensar positivo num momento como esses, moleque. É difícil. Você lembra o que houve com sua avó, não lembra?
- Sim, eu me lembro. Mas muita coisa mudou de lá para cá. Não tem motivos para ficar preocupado. Basta fazer o tratamento e ter fé em Deus.
- É, vamos ver o que acontece.
- Eu sei que você vai ser curado, Edson. Agora mais do que nunca eu te perdoo por tudo. Absolutamente tudo.
- Sério? – ele me olhou com os olhos marejados.
- Sério. De coração.
- Eu perdoo você também, Caio. De coração.
Silêncio. Eu estava com um misto de sentimentos dentro do meu peito.
- Amigos? – ele perguntou, com a mão direita estendida.
Pausa. Eu não sabia o que dizer. Não mesmo.
- Digamos que possamos começar do zero – apertei a mão dele. – Com respeito. Só isso.
- Sim. Com respeito. Só isso.
- Você me respeita e eu respeito você. Mas não espere mais nada de mim.
- Sim, eu sei. Eu sei que talvez você não me aceite como seu pai nunca mais.
- Nunca é uma palavra muito forte. Digamos que isso possa acontecer algum dia. Dê tempo ao tempo.
Luan começou a chorar novamente e eu tinha certeza que era fome. Peguei o menino no colo e me virei para sair do quarto. A mamadeira dele estava lá no térreo.
- Papai já vai dar seu leitinho, filho.
- Caio? – ele me chamou quando eu ia saindo.
- Eu? – me virei.
- Obrigado. Por tudo.
Silêncio. Ele parecia abatido.
- De nada, Edson. Não tem nada que agradecer.
7 DE MARÇO DE 2.015...

Era o dia do casamento do meu gêmeo. Fazia frio em São Paulo e por causa
disso, Bruno teve que agasalhar nosso filho muito bem agasalhado.
- Anjo do papai – beijei o rostinho dele.
- Nosso anjinho!
- Sim! Ele está tão lindo!
- Está mesmo, amor. Cada dia mais esperto.
- É! Amor do pai!
- Amor dos pais, você quis dizer. Já está pronto? Podemos ir?
- Por mim podemos sim!
A cerimônia do Cauã seria realizada em uma igrejinha bem pequena da cidade de São Paulo. Não haviam muitos convidados e o matrimônio seria só para os mais íntimos mesmo.
- Já vi meus pais lá em cima na porta da igreja.
- Nossa! Luan, não dorme não, filho!!!
- Deixa ele, amor! Na igreja ele não vai conseguir dormir mesmo.
- É, você tem razão.
Bruno estacionou, eu saí, peguei a criança na cadeirinha e me dirigi até a porta da paróquia. Todos já estavam lá e o Cauã estava lindíssimo.
- Está bonitão, hein?
- Você também! Sobrinho!!! Vem com o titio.
Abracei minha mãe e cumprimentei meu pai. Eles estavam um pouco tensos.
- Vem com a vovó, coisa mais linda desse mundo.
- Você está linda, sogra.
- Obrigada, Bruno!
- Ansioso?
- Muito! Nem dormi direito.
- Como foi a despedida de solteiro?
- Fodástica, cara. Peguei várias!
- Sério?!
- Claro. Minha despedida de solteiro. Qual a chance de não pegar?
- Nossa, Cauã! Já vi que daqui nove meses vou ter outro sobrinho.
- Claro que não, panaca. Se liga!
- E Sophie? Cadê?
- Com a família da Ellen. Só vou vê-la depois.
Eu sabia o motivo. Só ele que não, pobre coitado.
Quando chegou a hora do casamento, o pessoal entrou e nós ficamos esperando o nosso momento de entrar. Como eu era a cara do noivo, muitas pessoas me confundiram com ele e foram me parabenizar:
- Felicidades!
- O noivo é ele, eu sou o irmão.
- Ah, desculpa!
- Não foi nada.
Naquele dia, eu não fui o primeiro a entrar no time dos padrinhos. Fui o penúltimo. Eram três pares para cada noivo.
Conforme eu ia passando, o povo ia me olhando com os olhos arregalados. Muitos familiares e amigos da minha cunhada não sabiam que Cauã tinha um irmão gêmeo.
Quando ele entrou, notei vários pares de olhos mudando dele para mim e de mim para ele. Isso me deu vontade de rir. Consegui ver o Bruno ao lado do Digow e da Bárbara nas primeiras fileiras do lado esquerdo. Luan estava sentado, olhando para tudo que era lado. Que lindo!
Minha mãe tremia mais do que vara verde. Quando eles chegaram ao altar, ela deu um beijo no filho e em seguida foi para o lado do esposo. Eles estavam bem ao meu lado.
- Fica calma, mãe.
- É difícil – a voz dela estava embargada.
Ellen atrasou mais de vinte minutos, mas quando a Marcha Nupcial começou a tocar, meu coração bateu aliviado. Eu estava louco para vê-la e mais louco ainda para ver a minha sobrinha.
Quando elas apareceram, eu ouvi um murmúrio simultâneo na igreja toda. O pessoal ficou chocado com a Ellen por ela estar entrando na igreja com a filha no colo, ao invés de um buquê de noiva.
Minha cunhada estava com um vestido justíssimo. Mesmo tendo dado a luz há pouco tempo, ela já estava magérrima e esbelta. Não sei como ela conseguiu essa faceta.
Já minha sobrinha, estava com um minúsculo vestido de noiva que tinha direito a véu e grinalda. Eu notei que meu irmão estava chorando. Não era para menos.
Uma vez no altar, Ellen uniu-se ao noivo e ele beijou mãe e filha na testa. Que momento lindo! Eu fiquei feliz da vida por isso.
O padre deu início a cerimônia com muita facilidade. Ele era bem jovem e bem bonito também. Eu gostei do jeito como o cara conduziu a situação.
Foi emocionante vê-los trocando as alianças. Quando isso aconteceu, a sogra do Cauã segurou a neném no colo para que meu irmão e a esposa pudessem fazer os procedimentos numa boa.
- Ellen, recebe essa aliança em sinal do meu amor e da minha fidelidade. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém!

- Cauã, recebe essa aliança em sinal do meu amor e da minha fidelidade. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém.
Na hora dos cumprimentos, nós não fomos ao encontro dos noivos. Eles é que foram ao nosso. Isso me poupou descer dois degraus. Ai que badalo!
- Felicidades, minha linda!
- Obrigada, lindo!
- Que vocês sejam muito felizes, muito felizes!
- Que assim seja!
- Cuida bem dele, tá?
- Não tenha dúvidas!
- Bem-vinda à família!
- Muito obrigada!
Quando ele me abraçou, eu senti vários e vários flashes na minha cara. Foi bom recebê-lo em meus braços.
- Felicidades, maninho!
- Obrigado, maninho!
- Que vocês sejam muito felizes juntos e que a união seja eterna.
- Amém!
- Obrigado por me deixar fazer parte desse momento.
- Eu é que agradeço por você estar aqui.
- Te amo, tá? Felicidades!
- Obrigado. Te amo também!
Antes de finalizar com a cerimônia, o padre pediu que todos se levantassem e que estendessem o braço direito na direção do casal. Para que seria isso?
- Virem-se de frente um ao outro, mas fiquem com a menina – orientou o padre.
Cauã e Ellen viraram-se de frente um para o outro, deram as mãos e ficaram com a Sophie grudada nos braços dos dois. Foi lindo!
- Que nenhuma família comece em qualquer de repente...
Quando o padre começou a cantar, eu me choquei. Primeiro pela música, segundo pela voz dele, que era maravilhosa.
- Que nenhuma família termine por falta de amor!
Nossa, que lindo! Todos estavam calados, só o padre cantava.
- Que o casal seja um para o outro de corpo e de mente...
Era isso que eu esperava. Que Cauã e Ellen fossem um para o outro de corpo, de mente e de alma.
- E que nada no mundo separe um casal sonhador...
Verdade! Que nada os separasse. Nada!
- Que nenhuma família se abrigue debaixo da ponte...
Que assim acontecesse!
- Que ninguém interfira no lar e na vida dos dois!!!
É verdade. Que ninguém interferisse mesmo. Ninguém.
- Que ninguém nos obrigue a viver sem nenhum horizonte...
Nesse momento eu já estava com a garganta tampada, porque meu irmão grudou a testa na testa da mulher e eles ficaram paradinhos, apenas se olhando e segurando a filha.
- Que eles vivam no ontem e no hoje em função de um depois...
Que bênção mais linda, meu Deus!
- Que a família comece e termine sabendo onde vai...
Uma lágrima escorreu pelo meu rosto.
- E que o homem carregue nos ombros a graça de um pai...
Nesse momento, o padre alteou o vozeirão e fez eco na igreja. Eu me arrepiei.
- Que a mulher seja um céu de ternura, aconchego e calor...
Que coisa mais linda, meu Deus! Muito, muito lindo!
- E que os filhos conheçam a força que brota do amor!
Eu suspirei. A minha par também.
- Abençoa, Senhor, as famílias, amém!
Amém.
- Todos!
- Abençoa, Senhor, a minha também!!! – a igreja fez côro.
- Abençoa, Senhor, as famílias, amém! Abençoa, Senhor, a minha também!!!
Houve um momento de pausa. Eu olhei para a minha mãe e ela estava debulhada em lágrimas. O que meia me surpreendeu, foi perceber que meu pai também estava aos prantos. Não era para menos.
Bruno estava de pé, com Luan no braço esquerdo. O menino continuava olhando para todos os lados. Eu fiquei morrendo de vontade de pegá-lo no colo. Por sorte, os gêmeos estavam quietinhos na primeira fila.
- Que marido e mulher tenham força de amar sem medida – o padre continuou.
Vários dos padrinhos estavam chorando. Não era para menos.
- Que ninguém vá dormir sem pedir ou sem dar seu perdão.
Verdade. Que eles se perdoassem sempre, porque o perdão modifica a nossa vida por completo.
- Que as crianças aprendam no colo o sentido da vida...
Que a Sophie aprendesse o sentido da vida ao lado dos pais. E que ela fosse muito, muito feliz!
- Que a família celebre a partilha do abraço e do pão...
Até os noivos estavam chorando. Só a Sophie estava numa boa. Ela estava calada, ainda bem.
- Que marido e mulher não se traiam, nem traiam seus filhos...
E que assim fosse. Que Cauã e Ellen não se traíssem jamais e que tampouco traíssem a filha que tinham.
- Que o ciúme não mate a certeza do amor entre os dois...
E que esse amor fosse terno e eterno.
- Que no seu firmamento a estrela que tem maior brilho...
O padre saiu do altar e caminhou até próximo aos noivos.
- Seja firme a esperança no céu aqui mesmo e depois...
Eu já não controlava mais as minhas lágrimas.
- Que a família comece e termine sabendo onde vai...
O sacerdote ficou na frente dos noivos e continuou cantando:
- E que o homem carregue nos ombros a graça de um pai...
Nesse momento, ele colocou a mão direita em cima da cabeça do meu irmão. Eu senti outro arrepio.
- Que a mulher seja um céu de ternura, aconchego e calor...
Foi a vez do líder da igreja colocar a mão sobre a cabeça da minha cunhada, que chorava sem parar.
- E que os filhos conheçam a força que brota do amor!
O religioso colocou a mão direita na cabecinha da Sophie e continuou, novamente com a voz alteada:
- Abençoa, Senhor, as famílias, amém!
Amém!
- Vocês dois – ele colocou o microfone no meio de Cauã e Ellen.
- Abençoa, Senhor, a minha também!
A voz deles estava embargada.
- Só os padrinhos!
- Abençoa, Senhor, as famílias, amém! – nós cantamos.
- Todos vocês!
- Abençoa, Senhor, a minha também!
Finalizada a canção, tivemos quem nos recuperar do choque dela ter aparecido no casamento e da emoção dela ter se encaixado tão perfeitamente para aquele casal que acabara de se unir perante Deus. Foi lindo, simplesmente lindo, simplesmente maravilhoso!
- Que Deus abençoe a união desse casal – o padre prosseguiu. – E que essa família perpetue nas bases do amor e do respeito. Derrama, Senhor, Tuas bênçãos sobre Cauã, Ellen e Sophie e que o que Deus uniu, o homem jamais separe...
- AMÉM.
- Eu vos declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva!
O beijo foi quente e molhado, porque eles não paravam de chorar. As palmas foram inevitáveis. Foi simplesmente lindo, simplesmente emocionante, simplesmente maravilhoso. Foi perfeito. O casamento do meu irmão conseguiu superar o do Rodrigo e o do Vinícius, só por causa dessa música. Eu fiquei encantado. Verdadeiramente encantado.
- Anjo do papai – beijei o rostinho dele.
- Nosso anjinho!
- Sim! Ele está tão lindo!
- Está mesmo, amor. Cada dia mais esperto.
- É! Amor do pai!
- Amor dos pais, você quis dizer. Já está pronto? Podemos ir?
- Por mim podemos sim!
A cerimônia do Cauã seria realizada em uma igrejinha bem pequena da cidade de São Paulo. Não haviam muitos convidados e o matrimônio seria só para os mais íntimos mesmo.
- Já vi meus pais lá em cima na porta da igreja.
- Nossa! Luan, não dorme não, filho!!!
- Deixa ele, amor! Na igreja ele não vai conseguir dormir mesmo.
- É, você tem razão.
Bruno estacionou, eu saí, peguei a criança na cadeirinha e me dirigi até a porta da paróquia. Todos já estavam lá e o Cauã estava lindíssimo.
- Está bonitão, hein?
- Você também! Sobrinho!!! Vem com o titio.
Abracei minha mãe e cumprimentei meu pai. Eles estavam um pouco tensos.
- Vem com a vovó, coisa mais linda desse mundo.
- Você está linda, sogra.
- Obrigada, Bruno!
- Ansioso?
- Muito! Nem dormi direito.
- Como foi a despedida de solteiro?
- Fodástica, cara. Peguei várias!
- Sério?!
- Claro. Minha despedida de solteiro. Qual a chance de não pegar?
- Nossa, Cauã! Já vi que daqui nove meses vou ter outro sobrinho.
- Claro que não, panaca. Se liga!
- E Sophie? Cadê?
- Com a família da Ellen. Só vou vê-la depois.
Eu sabia o motivo. Só ele que não, pobre coitado.
Quando chegou a hora do casamento, o pessoal entrou e nós ficamos esperando o nosso momento de entrar. Como eu era a cara do noivo, muitas pessoas me confundiram com ele e foram me parabenizar:
- Felicidades!
- O noivo é ele, eu sou o irmão.
- Ah, desculpa!
- Não foi nada.
Naquele dia, eu não fui o primeiro a entrar no time dos padrinhos. Fui o penúltimo. Eram três pares para cada noivo.
Conforme eu ia passando, o povo ia me olhando com os olhos arregalados. Muitos familiares e amigos da minha cunhada não sabiam que Cauã tinha um irmão gêmeo.
Quando ele entrou, notei vários pares de olhos mudando dele para mim e de mim para ele. Isso me deu vontade de rir. Consegui ver o Bruno ao lado do Digow e da Bárbara nas primeiras fileiras do lado esquerdo. Luan estava sentado, olhando para tudo que era lado. Que lindo!
Minha mãe tremia mais do que vara verde. Quando eles chegaram ao altar, ela deu um beijo no filho e em seguida foi para o lado do esposo. Eles estavam bem ao meu lado.
- Fica calma, mãe.
- É difícil – a voz dela estava embargada.
Ellen atrasou mais de vinte minutos, mas quando a Marcha Nupcial começou a tocar, meu coração bateu aliviado. Eu estava louco para vê-la e mais louco ainda para ver a minha sobrinha.
Quando elas apareceram, eu ouvi um murmúrio simultâneo na igreja toda. O pessoal ficou chocado com a Ellen por ela estar entrando na igreja com a filha no colo, ao invés de um buquê de noiva.
Minha cunhada estava com um vestido justíssimo. Mesmo tendo dado a luz há pouco tempo, ela já estava magérrima e esbelta. Não sei como ela conseguiu essa faceta.
Já minha sobrinha, estava com um minúsculo vestido de noiva que tinha direito a véu e grinalda. Eu notei que meu irmão estava chorando. Não era para menos.
Uma vez no altar, Ellen uniu-se ao noivo e ele beijou mãe e filha na testa. Que momento lindo! Eu fiquei feliz da vida por isso.
O padre deu início a cerimônia com muita facilidade. Ele era bem jovem e bem bonito também. Eu gostei do jeito como o cara conduziu a situação.
Foi emocionante vê-los trocando as alianças. Quando isso aconteceu, a sogra do Cauã segurou a neném no colo para que meu irmão e a esposa pudessem fazer os procedimentos numa boa.
- Ellen, recebe essa aliança em sinal do meu amor e da minha fidelidade. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém!
- Cauã, recebe essa aliança em sinal do meu amor e da minha fidelidade. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém.
Na hora dos cumprimentos, nós não fomos ao encontro dos noivos. Eles é que foram ao nosso. Isso me poupou descer dois degraus. Ai que badalo!
- Felicidades, minha linda!
- Obrigada, lindo!
- Que vocês sejam muito felizes, muito felizes!
- Que assim seja!
- Cuida bem dele, tá?
- Não tenha dúvidas!
- Bem-vinda à família!
- Muito obrigada!
Quando ele me abraçou, eu senti vários e vários flashes na minha cara. Foi bom recebê-lo em meus braços.
- Felicidades, maninho!
- Obrigado, maninho!
- Que vocês sejam muito felizes juntos e que a união seja eterna.
- Amém!
- Obrigado por me deixar fazer parte desse momento.
- Eu é que agradeço por você estar aqui.
- Te amo, tá? Felicidades!
- Obrigado. Te amo também!
Antes de finalizar com a cerimônia, o padre pediu que todos se levantassem e que estendessem o braço direito na direção do casal. Para que seria isso?
- Virem-se de frente um ao outro, mas fiquem com a menina – orientou o padre.
Cauã e Ellen viraram-se de frente um para o outro, deram as mãos e ficaram com a Sophie grudada nos braços dos dois. Foi lindo!
- Que nenhuma família comece em qualquer de repente...
Quando o padre começou a cantar, eu me choquei. Primeiro pela música, segundo pela voz dele, que era maravilhosa.
- Que nenhuma família termine por falta de amor!
Nossa, que lindo! Todos estavam calados, só o padre cantava.
- Que o casal seja um para o outro de corpo e de mente...
Era isso que eu esperava. Que Cauã e Ellen fossem um para o outro de corpo, de mente e de alma.
- E que nada no mundo separe um casal sonhador...
Verdade! Que nada os separasse. Nada!
- Que nenhuma família se abrigue debaixo da ponte...
Que assim acontecesse!
- Que ninguém interfira no lar e na vida dos dois!!!
É verdade. Que ninguém interferisse mesmo. Ninguém.
- Que ninguém nos obrigue a viver sem nenhum horizonte...
Nesse momento eu já estava com a garganta tampada, porque meu irmão grudou a testa na testa da mulher e eles ficaram paradinhos, apenas se olhando e segurando a filha.
- Que eles vivam no ontem e no hoje em função de um depois...
Que bênção mais linda, meu Deus!
- Que a família comece e termine sabendo onde vai...
Uma lágrima escorreu pelo meu rosto.
- E que o homem carregue nos ombros a graça de um pai...
Nesse momento, o padre alteou o vozeirão e fez eco na igreja. Eu me arrepiei.
- Que a mulher seja um céu de ternura, aconchego e calor...
Que coisa mais linda, meu Deus! Muito, muito lindo!
- E que os filhos conheçam a força que brota do amor!
Eu suspirei. A minha par também.
- Abençoa, Senhor, as famílias, amém!
Amém.
- Todos!
- Abençoa, Senhor, a minha também!!! – a igreja fez côro.
- Abençoa, Senhor, as famílias, amém! Abençoa, Senhor, a minha também!!!
Houve um momento de pausa. Eu olhei para a minha mãe e ela estava debulhada em lágrimas. O que meia me surpreendeu, foi perceber que meu pai também estava aos prantos. Não era para menos.
Bruno estava de pé, com Luan no braço esquerdo. O menino continuava olhando para todos os lados. Eu fiquei morrendo de vontade de pegá-lo no colo. Por sorte, os gêmeos estavam quietinhos na primeira fila.
- Que marido e mulher tenham força de amar sem medida – o padre continuou.
Vários dos padrinhos estavam chorando. Não era para menos.
- Que ninguém vá dormir sem pedir ou sem dar seu perdão.
Verdade. Que eles se perdoassem sempre, porque o perdão modifica a nossa vida por completo.
- Que as crianças aprendam no colo o sentido da vida...
Que a Sophie aprendesse o sentido da vida ao lado dos pais. E que ela fosse muito, muito feliz!
- Que a família celebre a partilha do abraço e do pão...
Até os noivos estavam chorando. Só a Sophie estava numa boa. Ela estava calada, ainda bem.
- Que marido e mulher não se traiam, nem traiam seus filhos...
E que assim fosse. Que Cauã e Ellen não se traíssem jamais e que tampouco traíssem a filha que tinham.
- Que o ciúme não mate a certeza do amor entre os dois...
E que esse amor fosse terno e eterno.
- Que no seu firmamento a estrela que tem maior brilho...
O padre saiu do altar e caminhou até próximo aos noivos.
- Seja firme a esperança no céu aqui mesmo e depois...
Eu já não controlava mais as minhas lágrimas.
- Que a família comece e termine sabendo onde vai...
O sacerdote ficou na frente dos noivos e continuou cantando:
- E que o homem carregue nos ombros a graça de um pai...
Nesse momento, ele colocou a mão direita em cima da cabeça do meu irmão. Eu senti outro arrepio.
- Que a mulher seja um céu de ternura, aconchego e calor...
Foi a vez do líder da igreja colocar a mão sobre a cabeça da minha cunhada, que chorava sem parar.
- E que os filhos conheçam a força que brota do amor!
O religioso colocou a mão direita na cabecinha da Sophie e continuou, novamente com a voz alteada:
- Abençoa, Senhor, as famílias, amém!
Amém!
- Vocês dois – ele colocou o microfone no meio de Cauã e Ellen.
- Abençoa, Senhor, a minha também!
A voz deles estava embargada.
- Só os padrinhos!
- Abençoa, Senhor, as famílias, amém! – nós cantamos.
- Todos vocês!
- Abençoa, Senhor, a minha também!
Finalizada a canção, tivemos quem nos recuperar do choque dela ter aparecido no casamento e da emoção dela ter se encaixado tão perfeitamente para aquele casal que acabara de se unir perante Deus. Foi lindo, simplesmente lindo, simplesmente maravilhoso!
- Que Deus abençoe a união desse casal – o padre prosseguiu. – E que essa família perpetue nas bases do amor e do respeito. Derrama, Senhor, Tuas bênçãos sobre Cauã, Ellen e Sophie e que o que Deus uniu, o homem jamais separe...
- AMÉM.
- Eu vos declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva!
O beijo foi quente e molhado, porque eles não paravam de chorar. As palmas foram inevitáveis. Foi simplesmente lindo, simplesmente emocionante, simplesmente maravilhoso. Foi perfeito. O casamento do meu irmão conseguiu superar o do Rodrigo e o do Vinícius, só por causa dessa música. Eu fiquei encantado. Verdadeiramente encantado.
SEMANAS DEPOIS...

Vinícius, Bruna, Fabrício e seus filhos estavam em São Paulo por causa do nascimento da neném do Rodrigo e da Babí. Já Janaína, Alexia e as crianças, foram atendendo a um pedido meu. Eu queria reunir todos os meus amigos para matar a saudade deles, uma vez que nosso último encontro coletivo havia sido há mais de um ano, na festa do meu casamento.
- Obrigado por ter vindo, sua linda! – abracei minha branquela favorita.
- Obrigado por ter vindo, sua linda! – abracei minha branquela favorita.
- Não tem que agradecer. Eu precisava mesmo de umas férias do Rio de Janeiro, mesmo que fosse por um dia.
- Oi, Camila! Oi, Guilherme!
- Cumprimentem o tio, meninos!
- Oi – as crianças falaram em uníssono.
- Eles estão enormes, hein?
- Crescem muito rápido. Você vai ver.
- É, eu sei. Eu já estou me preparando para isso.
- AI QUE BADAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAALO – Janaína deu o ar da graça. – MEU AFILHADO ESTÁ LIIIIIIIIIIIIIINDO!
- Oi, Camila! Oi, Guilherme!
- Cumprimentem o tio, meninos!
- Oi – as crianças falaram em uníssono.
- Eles estão enormes, hein?
- Crescem muito rápido. Você vai ver.
- É, eu sei. Eu já estou me preparando para isso.
- AI QUE BADAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAALO – Janaína deu o ar da graça. – MEU AFILHADO ESTÁ LIIIIIIIIIIIIIINDO!
- Não precisa gritar – Bruno ajeitou o boné do nosso menino. – Você vai assustar o meu pimpolho.
- ESTOU PRETA PASSADA NA CHAPINHA! ELE ESTÁ ENORME!!!
- “Peta” passada na “sapinha” – Ana imitou a mãe.
- AI QUE BADAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAALO, MINHA FILHA ME IMITOU!!!
- Ai que badalo – a menina parecia uma papagaia.
Janaína sapateou, tirou a filha do chão e a encheu de beijos e mais beijos. Sempre que a guria fazia isso, minha Irmã ficava nas nuvens. Era engraçado.
- Me dá ele aqui, olhos de bola de gude!
- Vamos fazer uma troca. Passa a sua que eu passo o meu.
Eu nunca vi o meu amor tão feliz como ele estava naquele dia. Bruno parecia realizado. Ele estava rodeado de várias crianças e a alegria dele era percebida por todos.
- Volta aqui com minha camisola, David – Ellen saiu correndo atrás do cunhado. – Volta aqui, seu pestinha!!!
- Meu Deus, quanta criança! – exclamei.
Eram dez no total. Camila e Guilherme, filhos da Alexia; Nícolas, o campeão do Fabrício; Ana Vitória, a Janaína mirim; Sarah, a filha dos curandeiros; David e Davi, a parte terrorista dos Monteiro; Sophie, minha sobrinha de sangue; Luan, meu anjinho mais lindo de todo o universo e Giullia, a mais nova inegrante daquela família imensa que eu tanto amava.
David, Davi, Camila, Nícolas, Guilherme e Ana não paravam um segundo sequer. Nós ficamos sentados, olhando as crianças brincando e isso nos deixou felizes. Essa energia dos pequenos era maravilhosa.
- Cadê a Sarah? Cadê a minha princesinha? – Vinícius estava brincando com a filha. A menina não parava de rir.
- Nícolas? O que que a Sarinha é sua mesmo?
- Minha namorada, tio Caio.
- Seu nariz, pivete! – Vini ficou bravo. – Ela é apenas a sua prima.
- Minha namorada, padrinho. Eu vou casar com ela, aceita que dói menos!
- Esse é meu filhão!!! – Fabrício gargalhou e colocou o menino sentado em seus ombros.
- Aceita que dói menos, Vini – Bruna caiu na risada.
- Mas eu mereço essa! Mas eu mereço! Quem ensinou isso a ele?
- As crianças de hoje em dia são fogo!
Quando meu irmão apareceu com a Sophie, eu notei que a menina estava um pouquinho manhosa. Era a reação da vacina que ela havia tomado há poucos dias.
- Vem com o titio, meu amo, vem com o titio!
- Ela está enjoadinha, mano.
- Luan também está, Cauã. É por causa da vacina.
Bruno estava sentado ao meu lado com nosso pimpolho sentado em seu colo. Pela primeira vez eu fiquei comparando as duas crianças. Elas eram parecidas.
- São primos, oras – ponderou o oncologista.
Eu não tive argumentação. Não soube o que falar. Não havia resposta para isso.
A Giullia só deu o ar da graça quando acordou e quando isso aconteceu, nós ficamos babando pela recém-nascida. Ela estava simplesmente uma delícia!
- Que graça essa tiara – me derreti todo.
- É que ela é muito linda, compadre – Rodrigo beijou a menina.
- Pai babão!
- Olha quem fala, né Caio? Me dá meu afilhado aqui.
Bárbara roubou o Luan dos braços do pai e ficou brincando com o menino. Eram tantos bebês que eu ficava perdido, sem saber qual deles era mais encantador. Acho que todos tinham o seu charme e a sua beleza.
- AI QUE BADAAAAAAAAAAAAALO, O LUAN SANTANA ESTÁ LIIIIINDO!
- Não chama meu filho de Luan Santana – Bruno ficou bravo.
- Que culpa que eu tenho se vocês colocaram o nome dele igual ao do Luan Santana, aquele gato?
- Era para ser MATEUS, sabe? Mas ALGUÉM não deixou eu colocar esse nome porque falou que o FILHO se chamaria assim, quando na verdade era uma FILHA!
- Com licencinha, preciso ver como está o churrasco – Rodrigo saiu de fininho.
- Mas agora falando sério, Caio – Fabrício pegou a Sarah do colo da mãe. – Por que colocou o nome do moleque igual ao do Luan Santana?
- Não foi proposital. Colocamos Luan porque é um nome lindo e porque gostamos muito. E Rafael é por causa do anjo da guarda dele. Só por isso.
- Entendi. Minha nora está ficando vermelha, acho que ela vai sujar a fralda.
- Ela não é sua nora, imbecil. E me dá a minha filha aqui.
- Vinícius morre de ciúmes dessa menina. Ela vai sofrer – analisou Bárbara.
- Vai mesmo, Babí – Bruna suspirou. – Eu estou lascada!
- Qual a dificuldade em entender que ela é a minha nora, Vini?
- Só por cima do meu cadáver. A minha filha só namora depois dos trinta e só casa depois dos quarenta e eu é que vou escolher o maldito que vai roubá-la de mim.
- Só que não – eu, Bruno, Bárbara e Bruna falamos ao mesmo tempo.
- Volta aqui, Camila! – Alexia corria atrás da filha. – Volta aqui com a Gertrudes, menina!
- Eu vou levar pra mim! – Camila exclamou.
- VAI NADA – falei. – Ela é minha!
- Só que não, né Caio? Ela é minha! O seu era o Enzo. Quem mandou mandá-lo embora?
- Ou eu fazia isso, ou ele matava o Luan. O que você preferia?
Quando o Luan chegou em casa, Enzo ficou em crise existencial e com ciúmes do menino. Ele ficou muito arisco e por causa disso, fui obrigado a doá-lo para a avó do Víctor, a Dona Maria.
- Por falar em Víctor, será que ele e o Vitinho estão curtindo muito o Rio?
- Certeza – Bruno riu. – Eu conheço aquele safado.
- E eu o outro!
- Ai que badalo, Luan Santana! Você está rindo para a madrinha? É, seu lindo?
- Não entendo como essa criança pode ter três padrinhos – Alexia segurou o filho no meio das pernas e ajeitou a roupa do moleque.
- Coisas de Caio Monteiro e Bruno Duarte – Babí parecia cansada.
- A Giullia não está te deixando dormir à noite, não é?
- Não, compadre. Eu durmo meia hora e ela já acorda.
- Bem-vinda ao time.
Foi a maior algazarra. Quando a mais novinha de todas começou a chorar, todos os outros a imitaram. O barulho me deixou incomodado.
- Pronto, pronto – balancei Luan para um lado e para o outro. – Não precisa chorar. Está tudo bem!
O almoço aconteceu na casa do Rodrigo mesmo, mas cada um ficou em um canto. Éramos em muitos e não coubemos na mesa.
- Adoro churrasco, ai que badalo.
- Vai falar que está comendo por dois de novo? – perguntou Rodrigo.
- Não se mete se não quiser levar meia hora de tapa na cara!
- Meia “hola” de tapa – Aninha repetiu.
- AI QUE BADAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAALO!
- Ai que badalo!
- Essas duas – Bruno riu.
- Onde estão os meus netos? – perguntou Dona Inês.
- Em seus respectivos berços, mãe – falou Rodrigo.
- SOZINHOS? Vocês são loucos? E se esses meninos acordam? E se começam a chorar? Que pais desnaturados são esses?
- As babás eletrônicas estão aqui, Dona Inês!
- Não justifica em nada. Onde é que já se viu? Eu vou buscar o Luan e vou deixá-lo aqui comigo. Eu não vou deixar meus netinhos sozinhos mas nem que a vaca tussa!!!
Ela saiu resmungando e nós ficamos dando risada. A Dona Inês estava passando uma temporada lá em São Paulo para cuidar da nora e da neta e estava muito apegada as crianças.
- Escreve seu nome para o tio Caio ver, filho.
- É assim, tio Caio. N de navio, I de igreja com acento agudo, C de casa, O de ovo, L de lápis, A de árvore e S de sorvete. Nícolas!
- Seu lindo! Você é muito inteligente.
- Eu sei, eu puxei ao meu papai!
O menino já não falava as coisas de forma incorreta. O garoto faria cinco anos em pouco tempo e já estava se comunicando de forma correta.
- E como se escreve o meu nome?
- B de bola, R de rua, U de uva, N de navio e O de ovo. Bruno. Acertei, tio Bruno?
- Acertou, coisa mais linda! Cadê o beijo do titio?
Nícolas beijou o rosto do meu amor e depois saiu correndo para brincar com meus irmãos. David e Davi não paravam um segundo sequer.
- Caio, Caio, eu quero fazer xixi! – disse o Davi.
- Eu te levo, moleque. Só que eu sou o Cauã, não o Caio.
- Eles sempre se confundem – suspirei.
- Por que sua mãe não veio, Cacs?
- Está fazendo as coisas da faculdade, Digow.
- Ela está bem com os estudos, não está?
- Maravilhosamente. Eu estou orgulhoso dela.
Era verdade. Eu estava mesmo orgulhoso. Orgulhoso e feliz da vida por minha mãe estar correndo atrás dos sonhos dela.
- Esses dias ela tirou um dez na prova e ficou toda feliz.
- Que bom que ela está correndo atrás – Vinícius sentou a filha na perna esquerda.
- É sim!
Quando o dia foi entardecendo, o pessoal precisou ir embora. Antes disso, eu tive a ideia de tirarmos uma foto da primeira e da segunda geração de nossa família. O Bruno foi o fotógrafo, como sempre.
Fizemos questão de deixar os nossos filhos no mesmo local que nós. Essas fotos fariam parte de um álbum e um dia, lá na frente, nós lembraríamos dessa data com saudade.
- Olha pro pai, Luan – falei.
- Olha o passarinho, filho! – Bruno chamou a atenção do menino.
- David e Davi, fiquem paradinhos porque nós vamos tirar uma foto! – orientou Cauã.
- Anda logo com isso, tio Bruno! – Nícolas parecia impaciente.
- Já vai, Nico!
As únicas crianças que não ficaram sentadas, foram as mais novinhas: Sophie e Giullia. Todas as outras ficaram olhando para a câmera e quando isso aconteceu, meu marido bateu a foto e esta ficou impecável.
- Ficou perfeita – falei.
- Agora é só revelar – disse Bruno.
- E colocarmos lado a lado com a de nossos filhos – finalizou Rodrigo.
Era isso mesmo que nós íamos fazer. Deixaríamos as fotos lado a lado. Quando as crianças crescessem, com certeza elas iriam perguntar como havia sido esse dia e nesse momento, nós recordaríamos dessa época que vivemos atualmente com muita saudade.
- Como o tempo passa, não é? – Fabrício analisou.
- Verdade – concordou Vinícius. – Já fazem mais de dez anos que nós nos conhecemos, né mano?
- Sim. Mais de uma década!
- Ai que badalo, estão ficando velhos.
- Cala a boca que você não está muito atrás disso não.
- EU VOU TE DAR MEIA HORA DE TAPA NA CARA, CAIO MONTEIRO!
- Essa negra sempre agressiva.
- Fica quieta, branquela azeda.
- Em pensar que há quase dez anos atrás eu era apenas um garotinho de dezesseis anos...
- Que tinha sido expulso de casa pelo nosso pai – Cauã completou a minha frase.
- E que chegou ao Rio de Janeiro com uma mão na frente e a outra atrás – Digow me fitou.
- Que começou a viver por conta própria – analisou Vinícius.
- Que batalhou em busca de seus sonhos – Fabrício também me olhou.
- E que não abaixou a cabeça para nada e nem para ninguém – Alexia entrou na onda.
- Que era forte e determinado – Janaína deixou o lado brincalhão de lado.
- E que não esmoireceu, nem nos momentos mais difíceis da vida – Rodrigo estava sério.
- E hoje eu estou aqui...
- Formado – falou Vinícius.
- Pós-graduado – disse Fabrício.
- Mestre – lembrou Alexia.
- Ganhando bem – Cauã também estava sério.
- E com sua família – Rodrigo sorriu.
- Minha família – eu fiquei com os olhos lacrimejados. – Minha família que tanto amo!
- Nós também te amamos, branquelo fedorento!
- Como será daqui alguns anos? Será que nossos filhos vão ser amigos?
- Provavelmente sim – Alexia ponderou. – Eles vão crescer juntos.
- Sabem o que mais me orgulha?
- Não – eles falaram.
- Saber que meu filho vai crescer ao lado de tios e primos maravilhosos. Saber que o Luan vai ter uma família linda, a família que eu não pude ter quando pequeno.
- Mas que tem agora – Digow tomou à frente.
- E que terá para sempre – Vinícius abriu um sorriso.
- Sempre – os outros falaram ao mesmo tempo.
- Vamos tirar outra foto? Daquelas que a gente une as cabeças e tira com a máquina de ponta cabeça?
Nos unimos em um círculo e nos abraçamos. Eu fiquei ao lado do Rodrigo e da Janaína. Cauã ficou na minha frente.
- Vamos fazer uma promessa?
- Que promessa, Vini?
- Vamos prometer que seremos amigos para sempre?
- Mais do que amigos. Seremos irmãos para sempre – falei.
- É! – concordou Fabrício. – Irmãos para sempre.
- Ai que badalo!
- Obrigado por existirem na minha vida – falei.
- Não tem nada que agradecer, Caio – Alexia me fitou.
- Nós é que agradecemos por você estar nas nossas vidas – afirou Cauã.
- Alexia, Cauã, Fabrício, Janaína, Rodrigo e Vinícius, eu amo vocês!
- Nós também te amamos, Caio – disse Digow.
- Meus irmãos!!! – sorri.
- Irmãos para sempre? – perguntou Vinícius, também sorrindo.
- IRMÃOS PARA SEMPRE!!! – gritamos.
Cauã bateu a foto e esta também ficou impecável. Esta é outra imagem que já está em um álbum, um álbum entitulado “Família”, a minha família que não é de sangue, mas que Deus me deu de presente no momento em que mais precisei em toda a minha vida.
- MÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃE...
- Que foi, minha linda? Está com fome, é?
- MÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃE...
Coloquei a ração da Gertrudes Filomena e esta foi jantar em paz. Eu fiz carinho na cabeça da bichana e segui até o quarto, eu queria saber porque o Bruno ainda não tinha postado as fotos de sua formatura nas redes sociais.
- Amor, por que você...
Quando entrei, vi que ele e nosso filho estavam dormindo juntos. O menino estava deitado em seu tórax. Isso me deixou emocionado.
- Que foi, minha linda? Está com fome, é?
- MÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃE...
Coloquei a ração da Gertrudes Filomena e esta foi jantar em paz. Eu fiz carinho na cabeça da bichana e segui até o quarto, eu queria saber porque o Bruno ainda não tinha postado as fotos de sua formatura nas redes sociais.
- Amor, por que você...
Quando entrei, vi que ele e nosso filho estavam dormindo juntos. O menino estava deitado em seu tórax. Isso me deixou emocionado.
- Ô – meus olhos se encheram de lágrimas. – Que lindos!!!
Sem fazer barulho, me aproximei da cama e sentei. Fiquei velando o sono de pai e filho e pensei em mil coisas ao mesmo tempo.
Tão lindos! Luan estava dormindo tranquilamente, como se fosse um anjo. Meu anjo! Nosso anjo! Já o Bruno, dormia com a face serena. Ele também parecia um anjo. MEU anjo. Só meu!
Eles estavam parecidos. Os lábios entreabertos e as sobrancelhas um pouco arqueadas. Isso me fez rir.
- Meus anjinhos. Meus homenzinhos!
Deitei e dei um beijo em cada um. Eu não me cansava de olhá-los. Eram tão lindos! Meus olhos se perdiam entre um e outro e eu não sabia para qual fixar o olhar.
No entanto, aos poucos minhas pálpebras começaram a pesar e lentamente, eu fui pegando no sono.
Quando isso aconteceu, deixei de ver Bruno e Luan pessoalmente e passei a vê-los em sonhos. Sonhar com meus príncipes era tão corriqueiro! Mas eu não me importava com isso, pelo contrário! Por mim, eu poderia sonhar com eles todos os dias até o final da minha vida, afinal, Bruno e Luan eram, são e serão sempre os únicos e verdadeiros homens da minha vida.
FiM
 

