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edo e apreensão me definiam naquele instante. Meu coração batia na
minha cabeça e eu não sabia direito o que fazer.
- Hã... Olá!
Silêncio. Eu não sabia muito bem o que fazer, muito menos o meu namorado.
- Oi, Fátima! – engoli em saco. – Desculpa invadir assim o quarto deles.
- O que é isso, filho? – ela se aproximou e me beijou. – Você é de casa, você entra e sai a hora que você quiser.
- Deixa eu fazer as apresentações – senti um frio na barriga. – Bruno, essa é a minha mãe. Fátima, ele é o Bruno, meu... Noivo!
Que situação mais esquisita, meu Deus! Por mais moderno que eu fosse, eu não soube reagir com naturalidade naquele momento.
- Olá, querido – para a minha surpresa, Fátima deu um beijo no rosto do meu príncipe.

QUE ALÍVIO! Eu respirei aliviado nesse momento.
- Boa noite, Dona Fátima!
- Boa noite. É um prazer conhecê-lo.
- O prazer é todo meu. Seus filhos são maravilhosos. Os bebês.
Eu franzi o cenho. E eu?!
- Você também, é claro – ele ficou muito, muito, muito vermelho.
- Ah, tá! Já ia brigar.
Fátima riu. Ela estava meio sem jeito também.
- Bom, obrigada! Eles são os meus amores. Os quatro homens da minha vida.
- Imagino – Bruno olhou para a sogra. – Eu imagino mesmo.
- É muito bom tê-lo aqui em casa. Fique à vontade, está bem?
- Obrigado, Dona Fátima. Espero não causar nenhum incômodo.
- Não, não causará. Não se preocupe. Fique tranquilo.
- Obrigado!
- Acho que eles estão com a fralda suja – falei.
- Eu vou dar banho neles agora.
- Eu posso? – indaguei. – É que a sogra do Cauã já está lá embaixo e acho que seria bom você fazer sala, né?
- Ela já chegou? Meu Deus do céu, e seu irmão não me fala nada?
- Posso cuidar deles?
- Claro que pode, meu filho! É um prazer. Eles são de vocês. Fiquem à vontade.
- O banho é no banheiro do corredor?
- Pode ser no meu porque as coisas deles já estão lá.
- Ah, perfeito. A gente não demora muito não.
- Fica em paz, meu filho. Eles vão adorar.
- Depois eu desço com eles?
- Sim, desça. A família da Ellen adora os gêmeos.
- Quem não adora?

Quando a Fátima saiu, Bruno e eu começamos os preparativos para o banho dos meus irmãozinhos. Seria a primeira vez que eu daria banho nos dois.
- Eu sabia que você tinha feito côco, mocinho – falei.
- Já vamos treinando para quando nós tivermos o nosso!
- É – já fiquei imaginando a cena.
- Que foi, bebê? Está com frio?
- Coloca ele na banheira – falei.
- Pode deixar.
Ver o Bruno naquela circunstância, me deixou feliz da vida. Ele levava muito jeito com criança!
David ficou gemendo na água. O bebê estava muito esperto naquele dia.
- Está gostando, mocinho? – passei sabonete no corpo dele.
- Lava as perninhas dele.
- Deixa comigo!
Não foi nada difícil banhar meu irmão mais novo. Ele se comportou como um anjinho o tempo todo. E com o Davi não foi nada diferente.
- Pronto, pronto – falei. – Já acabou. Agora vamos colocar uma roupinha, né rapaz?
- Ele é muito lindo, meu Deus! Eles são, na verdade.
Quando Bruno e eu colocamos os pés para fora da suíte do quarto dos meus pais, acabamos encontrando com Edson.
Ele olhou para nós e ficou vermelho gradativamente. Deu para notar que o coração dele acelerou porque as veias de seu pescoço começaram a pulsar com intensidade. Com certeza ele estava nervoso!

- O QUE DIABOS ESTÁ ACONTECENDO AQUI???
Eu sabia que aquele encontro poderia acontecer. Eu sabia que a qualquer momento meu pai chegaria e que provavelmente ele não reagiria nada bem quando me visse ao lado do Bruno no interior de seu quarto.
- COMO VOCÊ SE ATREVE TRAZER ESSE...
- Vê lá como você vai falar a respeito dele!
Edson ficou calado, apenas ficou olhando com ódio para mim e para o Bruno.
- Sumam já do meu quarto!!!
- Se você não viu, nós estamos cuidando dos gêmeos.
- Não quero que coloquem suas mãos imundas em cima dos meus filhos! Não quero!
- Eles não são propriedades privadas suas. São meus irmãos e eu tenho todo o direito do mundo de cuidar deles; quer você queira, quer não!
- SAIAM JÁ DAQUI E NÃO COLOQUEM AS MÃOS EM CIMA DOS MEUS FILHOS!
- O que você vai fazer? Vai bater na gente?
- VONTADE NÃO ME FALTA!
- O que está esperando? – quem desafiou foi o Bruno. – Encosta um dedo que a gente vai se ver na delegacia, seu imbecil!
- E AINDA OUSA ME XINGAR NA MINHA PRÓPRIA CASA?
- A casa também é minha – Fátima entrou no quarto. – E eles são meus convidados e convidados do Cauã. Portanto, baixa a bola porque nós temos visita!
- Foda-se a visita! Foda-se quem quer que esteja aqui. Debaixo do meu teto eles não ficam!!!
- Quem vai impedir? Você, Edson? – minha mãe estava toda valentona. – O Caio e o Bruno são convidados do Cauã, dono da festa e eles têm direito de ficar aqui.
- NA MINHA CASA NÃO!
- A CASA TAMBÉM É MINHA, EDSON E ELES FICAM!
A criança começou a chorar no colo do Bruno.
- Vem, Bruno. Esse ambiente é negativo demais para o menino.
Eles ficaram discutindo entre si. Por sorte, ninguém na sala conseguiria escutar porque a acústica do banheiro e do quarto dos meus pais não chegariam até lá embaixo.
- Não vamos deixar ele pisar na gente – falei.
- Não mesmo. Mas é horrível isso, sabia? Eu me sinto humilhado.
- Eu sei, eu também me sinto assim. Só que nós não podemos abaixar a cabeça. É isso que ele quer.
- Eu troco um, você troca o outro.
- Combinado.
Bruno e eu trocamos os nenéns e eles ficaram quietinhos. Eles estavam muito espertos.
- Qual a roupa nós devemos colocar neles?
- Não faço ideia – confessei. – Eu vou perguntar.
Saí do quartinho das crianças e voltei ao quarto dos meus pais. Eles ainda brigavam e eu fui obrigado a ouvir tudo:
- Eu não estou nem aí para a sua opinião, Edson! Por mim você pode morrer de catapora preta de raiva. O nosso filho e nosso genro ficam!
- EU NÃO TENHO GENRO, FÁTIMA! AQUELE NOJENTO NÃO É MEU FILHO E AQUELE OUTRO NÃO É MEU GENRO!
- Ele É seu filho e o Bruno É seu genro, encara a realidade, Edson!!! Chega de tanto preconceito, chega! Eu estou cansada, entendeu? Cansada!
- Quem está cansado sou eu, Fátima! Nós estávamos muito bem sem ele voltar!
- Ah, para de fingir isso, Edson! Para! Já deu o que tinha que dar!!! Eu sei tanto quanto você o quanto ele nos fez falta! Não adianta mentir para si mesmo!
- Eu não aceito um filho gay, não aceito!!!
- E eu não aceito um marido tão mal-caráter como você. Eu vou te falar uma coisa e eu quero que você me ouça muito bem: ou você muda, ou você sai dessa casa para nunca mais voltar.
- Como é?! – notei a surpresa na voz do meu pai.
- É isso mesmo que você ouviu! Ou você muda, ou você some daqui e nunca mais volta. Entendeu?
- Você está me expulsando da minha própria casa?
- NOSSA casa, NOSSA! Essa casa é tão minha quanto sua! E eu não quero ver cara feia pro lado de ninguém hoje, está entendido?
- Como se você mandasse na minha vida!
- Ah, não mando? Não mando? Então é melhor você ficar aqui em cima a noite toda! Eu prefiro te trancar aqui nessa porcaria desse quarto a ter que ver essa cara nojenta que você tem. Ah, estou cansada! Chega de tanto sofrimento.
- O que é agora? Vai querer pedir o divórcio?
- É um caso a se pensar. É um caso a se pensar. Eu não sou obrigada a viver debaixo do teto com uma pessoa tão mal-humorada, tão ranzinza e tão preconceituosa como você. Eu já vivi tempo demais longe do meu filho para ter que suportar ficar longe dele de novo. Isso não vai acontecer. Não vai!
Eu engoli em seco.
- Então você quer se separar, é isso?

- Se você não mudar, se você não passar a aceitar o Caio e o Bruno na nossa família, sim eu quero. A escolha é sua, meu querido. A escolha é sua.
- Então pode dar entrada no pedido de divórcio, porque eu não vou aceitar aqueles dois debaixo do meu teto.

- ELES SÃO DA FAMÍLIA, EDSON! QUAL A DIFICULDADE DE VOCÊ ENTENDER ISSO?
- Caio? Está tudo bem?
Eu coloquei o dedo indicador no lábio e nós continuamos ouvindo.
- EU NÃO ACEITO! NÃO ACEITO!
- ENTÃO VAI PRO INFERNO! O CAIO FICA, O BRUNO FICA E SE VOCÊ QUISER, SAIA AGORA DESSA CASA. SUMA, DESAPAREÇA!
- Eu não vou sair! É o noivado do MEU filho, do Cauã, o MEU filho, MEU!
- O Cauã, o Caio, o David e o Davi são NOSSOS filhos, porque nem você e nem eu fizemos sozinhos. Eles são e sempre serão NOSSOS filhos; quer você queira, quer não!!!
Silêncio.
- Eu não sou obrigado a conviver com aquelas duas aberrações.
- A única aberração aqui é você. Estou farta. O recado está dado. Você tem 5 minutos para descer e recepcionar todos com um sorriso na cara. E vê se coloca uma roupa descente, é o noivado do NOSSO filho, é uma data importante.
E dizendo isso, ela saiu e deu de cara com nós dois no meio do corredor. Minha mãe me olhou, olhou para o Bruno e ficou vermelha imediatamernte.
- Vocês... Vocês estão aí há muito tempo?
- Não, Fátima – eu menti. – Só chegamos agora. Está tudo bem?
- Tudo ótimo, meu amor. Tudo ótimo! Os gêmeos já estão prontos?
- Então, qual roupa colocamos neles?
- Ah, sim! Vamos lá escolher. Que cabeça a minha, meu Deus do céu!!!
Bruno e eu nos entreolhamos. Eu não pude acreditar que aquilo estava acontecendo. Minha mãe estava muito mudada!
- O que acham dessa aqui?
- Perfeito. Eles vão ficar um charme!
Eram roupinhas idênticas: calça jeans e camisa pólo. Os meninos ficaram uma gracinha. Deu vontade de levar os dois pra casa.
- Eles são muito lindos! – Bruno suspirou.
- Obrigada, querido. Eles são uns anjinhos.
- Mãe?

Ela quase chorou quando me ouviu falando a palavra “mãe”.
- Me chamou de... Mãe? – os olhos dela marejaram.
- É isso que você é, não é? – os meus também marejaram.
Nos abraçamos.
- Ah, filho!
- Desculpa, eu ouvi tudo. Eu ouvi! Não pude deixar de ouvir!
- Não era para você ter ouvido, não era!
- Você... Você me defendeu!
- Claro que eu te defendi. Claro! Eu não vou assistir tudo de camarote sem fazer nada dessa vez. Não vou!
Eu chorei. Eu queria tanto que ela tivesse feito aquilo da outra vez!
- Me perdoa – falei baixinho. – Me perdoa por ter sido tão duro com você!
- Não, amor – ela estava chorando também. – Não tem que pedir perdão. Eu é que te peço!
- É claro que eu te perdoo, é claro que eu te desculpo! Ô, mãe! Como eu sentia falta desse abraço!
- Eu também, meu filho! Eu também!!!
- Essa prova de amor que você me deu hoje – sequei as lágrimas –, foi mais do que suficiente para eu perceber o quanto você está mudada!
- Eu te amo, Caio! Eu te amo, meu filho! Eu nunca deixei de te amar, nunca!
- Nem eu, mãe. Eu também nunca deixei de te amar, embora estivesse muito magoado. Eu nunca te esqueci e não teve um dia sequer que eu não tenha pensado em você e no meu irmão!
- Eu sei disso, minha vida! Eu sei disso. Me perdoa por tudo, pelo amor de Deus!
- Eu te perdoo – beijei o rosto dela. – Eu te perdoo sim! Eu te amo!
Bruno estava chorando.
- Também te amo, meu filho! Também te amo! Muito, muito, muito!
- Minha mãe!
- Meu filho!
Intensificamos nosso abraço.
- Você quer mesmo o divórcio? – indaguei quando nos afastamos.
- Eu estou cansada – ela suspirou profundamente. – Muito cansada de viver com ele.
- Uhum.
- Se for o melhor a ser feito, é isso que faremos. Chega uma hora que não dá mais.
- É verdade. Não existe amor que suporte isso.
- Exatamente. Exatamente. Ai, filho, eu te amo tanto!
- Também te amo – a abracei de novo. – Você me fez muita falta!
- Você também me fez falta, meu pequeno!
Como foi bom aquele abraço. Ainda que tardio, ele recuperou as forças que eu tinha perdido no passado. A Fátima me fez, de fato, muita falta.
- Não chora, Bruh – eu sorri.
- É que essa cena foi linda – ele se explicou.
- Eu esperei 8 anos por isso – ela falou.
- Eu também. 8 anos.
- Eu sei – ele secou as lágrimas. – E fico feliz que estejam bem novamente.
- O Bruno é um anjo, mãe. Ele é um anjo!
- Dá pra ver, filho. Dá pra perceber o quanto ele te faz feliz.
- Muito – eu confessei de imediato.
- E se você faz meu filho feliz, você também me faz feliz. Posso te dar um abraço?
Pausa.
- Claro!
Eles se abraçaram e esse foi um dos momentos mais felizes da minha vida. Eu nunca imaginei que a minha mãe fosse tratar o Bruno dessa forma. Nunca mesmo!
- Obrigada por cuidar do meu filho!
- Eu fiz isso com o maior prazer da minha vida! Eu amo o seu filho!
- Eu sei que ama. Eu sinto isso. E é por isso que você já é parte da nossa família.
- Obrigado, Dona Fátima.
- Ganhei um genro. Um genro!
Eles riram.
- É! Um genro.
- Obrigada por cuidar dele. Eu serei eternamente grata por isso.
- Não tem que agradecer nada. Se for assim, eu serei eternamente grato por tê-lo colocado no mundo.
Que lindo!
- Eu tenho muito orgulho disso. Muito mesmo.
- Querem parar? – fiquei muito sem graça.
- Você sempre será muito bem-vindo aqui na minha casa, viu? Vocês dois!
- Obrigado, Dona Fátima! Muito obrigado!
- Conte sempre com meu apoio. E ele é lindo, meu filho. Muito mais lindo pessoalmente do que por foto.
- Ele é – concordei. – Meu tudo!
- Para!
- É verdade.
- Seus olhos são maravilhosos. Ótima escolha, filho.
- Não foi questão de escolha, né Bruh?
- Verdade. É questão de alma.
- Uhum.
- Um dia quero saber a história de vocês. Estão juntos há quanto tempo?
- 3 anos e 11 meses, mas nos conhecemos há 7 anos e meio – nós dois falamos juntos.
- Que bênção de Deus! Que esses quase 4 anos se multipliquem em 40, 50, 60...
- E que assim seja – falei.
Não podia existir felicidade maior que essa. Não mesmo. Receber o apoio da minha mãe foi uma surpresa muito grande. Eu fiquei feliz da vida com isso!
- Vamos descer? – ela perguntou.
- Vamos! Podemos levar os gêmeos?
- Fiquem à vontade. Eles são de vocês.
Bruno e eu levamos os meninos até a sala e lá encontramos várias outras pessoas. Algumas delas eu já conhecia.
- Caio, lembra do Guto?
- Claro que lembro. Como eu poderia esquecer? Como vai?
O Guto era um dos amiguinhos homofóbicos do Cauã que ficava zombando de mim no colégio. Ele estava igualzinho, fisicamente falando.
- E ai, Caio? Tranquilo?
- Na paz!
- Natan, Anderson e Dênis você já conhece também.
- Eu sei, eu sei. Eu lembro de todos vocês.
Eles não me pareceram muito solícitos com a minha presença, mas eu pouco me importei. Eu queria mais é me divertir naquela noite, isso sim.
- E esse é meu sogro – falou o Cauã. – Moisés, meu irmão, Caio.
- Dá pra ver, Cauã. Dá pra ver que ele é seu irmão. Tudo bem, rapaz?
- Bem e você?
- Um pouco inquieto com esse noivado, mas bem. É apenas ciúmes de pai.
- Entendo – ri.
Para a minha surpresa, a família da minha mãe também estava lá em casa. Fazia anos, simplesmente anos que eu não via minhas tias-avós e meus primos de segundo e terceiro grau.
- Nossa, Caio! Você sumiu – Lúcia, prima da minha mãe, reclamou.
- Pois é, mas estou de volta. Tudo bem, tia Mirtes?
- Levando a vida do jeito que Deus permite, meu filho. Que saudade de você!
- Também, tia. E a senhora, tia Odete?
- Bem, menino. E você? Por que sumiu sem dar notícias? Sua mãe ficou muito preocupada!
- Eu tive os meus motivos.
- Que irresponsabilidade, Caio! Você não pensou na pobre de sua mãe, menino?
- Olha, tia, eu não estou a fim de discutir. Não vou nem entrar em detalhes porque acho que não vêm ao caso. O assunto morreu. Com licença!
Era só o que me faltava: receber sermão de tia-avó no meio de várias pessoas em um jantar de noivado. Eu que não ia perder meu tempo com isso!

A casa estava cheia. Havia muita gente naquele lugar e isso garantiu altas risadas e muitas conversas paralelas. Teve um momento, que eu ouvi o Guto falando ao meu respeito com o Cauã:
- Ele está tão diferente!
- Ele é outra pessoa.
- Não esperava vê-lo por aqui, muito menos com aquele...
- O Bruno? Meu cunhado. Faz favor de tratar bem.
- Não acredito que você concorda com isso, cara.
- Por que não concordaria? Qual o problema nisso? Ele é meu irmão, meu irmão gêmeo e eu senti falta dele pra cacete nesse tempo que ficamos separados.
- Não dá pra crer nisso.
- Pois é a verdade. Ele é meu irmão e o que ele faz com a vida particular dele, não diz respeito nem a mim, nem a você e nem a ninguém.
BOA, CAUÃ!
- A única coisa que importa de verdade, é o que ele é por dentro, o que ele se tornou e eu te garanto que meu irmão é um homem de bem e que meu cunhado também é. Então, cara, fica na sua e respeita. Só isso.
- Desde que eles não fiquem com gracinha pra cima de mim...
- Olha só, Guto – eu me meti. – Não é porque eu sou gay que eu vou dar em cima de todos os homens da festa. Até mesmo porque, eu já tenho o meu e se não tivesse, não daria em cima de você nunca porque você não faz meu tipo.
Ele ficou roxo. Não sei se foi de vergonha ou de raiva.
- Limite-se a sua insignificância e me deixa em paz. A sua opinião e nada para mim é a mesma coisa. O que vale aqui, o que conta de verdade, é a opinião do Cauã. E essa eu já sei qual é.
- Eu...
- Não, não tenta se explicar porque vai feder mais. É melhor ficar calado se não tiver o que responder.
- Bem feito – Cauã riu. – Vai pensando que ele é o mesmo garotinho de 8 anos atrás! Vai pensando.
Quando meu pai desceu, o clima voltou a ficar um pouco tenso. No entanto, rapidamente tudo voltou ao normal porque ele não deu importância para mim e o meu noivo. Ele nem olhou na nossa cara.
- Melhor assim – comentei com o Bruno.
- É sim! Caio, o cunhado do seu irmão não para de olhar para nós.
- Ele tá querendo. Mas vai ficar querendo.
- Fato!
- O jantar está servido!!! – Fátima entrou na sala com um sorriso nos lábios.
Não sei como eles fizeram isso, mas a mesa duplicou de tamanho. Com certeza alguém deve ter emprestado outro móvel para todos se acomodarem, mas quem fez isso?
- Sua mãe cozinha bem?
- Maravilhosamente.
Era quase um banquete. Havia lasanha, macarronada, arroz branco, arroz parborizado, arroz de forno, carne assada, frango, galinha caipira e até lombo recheado. Boa parte da comida, quem fez foi a mãe da Ellen.
- Nossa – Bruno se surpreendeu. – Que feijão gostoso!
- O feijão da minha mãe é ótimo.
- Verdade – concordou uma das amigas da minha cunhada. – É ótimo mesmo!
- O tempero dela nunca muda.
- Desculpa a curiosidade – essa mesma amiga ficou nos olhando. – Vocês são namorados?
- Não – respondi. – Somos noivos.
- Noivos?!
- Sim, noivos!
- Caramba! Parabéns pela ousadia.
- Não é ousadia. A gente não está fazendo nada demais.
- Eu sei que não. Eu digo pelo fato de fugir à regra. Eu não sou preconceituosa, não me interpretem mal, por favor.
- Fique tranquila. A gente sabe quando alguém é preconceituoso e quando não é.
Vinte e duas pessoas estavam na cozinha e nem todos ficaram na mesa. No entanto, foi gostoso. Há muito eu não via tanta gente reunida como naquele momento.
Foi um jantar extremamente tranquilo. Não houve nenhum empecilho e Edson se comportou como um verdadeiro lord inglês. Isso me deixou feliz.
Após o jantar, meu irmão pediu a mão da namorada em casamento. Esse foi um momento bem emocionante, porque as mães dos noivos acabaram chorando, que coisa clichê!
- Quer casar comigo?
- Claro que eu quero!!!
Eles foram aplaudidos enquanto se beijavam. Eu sempre gostava muito de noivados, sempre me emocionava, mas no do meu irmão isso não aconteceu.
- Pensei que você ia chorar.
- Eu também, mas não. Acho que é porque eu não acompanhei o namoro desde o começo.
- Uhum. Já no Digow, né?
- Não fala nele. Aquele cachorro! Estou morrendo de saudade dele.
- Eu sei. Eu sei que está.
Em seguida, provamos as sobremesas. Havia pudim de leite condensado, bolo gelado de côco, mousse de manga, mousse de maracujá e mousse de chocolate com pimenta.
- Eu quero é mousse de maracujá.
- Eu sei disso – peguei o mousse de chocolate com pimenta. – Eu te conheço muito bem!
- Sem graça!
Bruno era fissurado nessa sobremesa. Ele não vivia sem. Já eu, preferi ficar com as outras opções. O bolo estava delicioso.

- Eu que fiz – disse Ellen.
- Já pode casar então, cunhada. Está maravilhoso.
- Obrigada! Que bom que curtiu.
Nós aproveitamos a festa ao máximo. Foi tudo de fato muito tranquilo, exceto pelos problemas que tivemos antes do pedido de casamento do meu irmão.
- Vamos? – ele me fitou.
- Vamos, Bruh. Já está ficando tarde.
- É! Vamos nos despedir de todos.
- Vamos sim.
Deixamos Cauã e Fátima por último. Eles estavam próximo ao Edson e quando nós nos aproximamos, ele saiu de fininho, sem fazer escândalo.
- Nós já temos que ir.
- Cedo assim? – o novo noivo da família reclamou.
- Cedo nada, já passa da meia noite.
- Fiquem mais – Fátima nos fitou.
- Não podemos – Bruno suspirou. – Amanhã eu volto pro Rio!
- Que pena! Voltem sempre que quiserem.
- Pode deixar, mãe.
- Mãe? – Cauã estranhou.
- Fizemos as pazes de vez, né mãe?
- É, meu amor – ela me abraçou. – E eu estou muito feliz e grata por causa disso. Nunca vou cansar de agradecer a Deus!
- Que bom, gente – Cauã sorriu. – Eu fico feliz com isso!
- Eu também estou – confessei. – É muito bom estar de volta por completo. Ou quase.
- É bom ter você de volta – ele falou.
Abracei meu irmão.
- Felicidades. Muitas felicidades. Seja muito feliz ao lado dela.
- Obrigado! Mas vai pensando que você vai sair assim do nada? Eu tenho um convite!
- Que convite?
- Eu adoraria que você fosse meu padrinho. Aceita?
- Que máximo!!! – minha mãe aplaudiu.
- Nossa! – confesso que fiquei surpreso. – Por essa eu não esperava!
- Aceita? – ele me encarou.
- Quem vai ser minha par?
- Uma amiga que não pôde vir porque está viajando. Aceita, vai?
- Nossa! Que honra! Claro que eu aceito!!!
- É isso aí! – meu gêmeo me puxou para um abraço. – Vai ser um prazer e a honra é minha!
- O prazer é meu! Obrigado por pensar em mim.
- Eu não te deixaria fora, jamais. Jamais mesmo!
- Obrigado, maninho!
- Eu é que te agradeço, maninho!
- Obrigada, meu Deus! Obrigada por me deixar presenciar esse momento dos meus filhos!!!
Nós dois abraçamos a minha mãe ao mesmo tempo. Ela estava muito feliz e nós também.
- Os amores da minha vida.
- E você a nossa princesa – falei.
- É!
- Ah, não esqueça que ainda temos aquele assunto para tratar.
- Eu ainda estou decidindo, filho. A cada dia que passa estou mais tentada a fazer faculdade.
- É isso aí. Eu tenho certeza que você vai topar e isso será ótimo para você.
- Verdade, mãe. Verdade.
- Bom, eu preciso ir. Parabéns novamente, fiquem com Deus e se cuidem.
- Você também.
- Tchau, Dona Fátima.
- Até logo, Bruno – minha mãe tomou a iniciativa e abraçou meu noivo. – Fique com Deus e obrigada novamente por cuidar do meu filho.
- Não tem nada que agradecer. Tchau, cunhado.
- Até, Brunão! Obrigado por ter vindo.
- Imagina! Felicidades.
- Obrigado!!!
Bruno e eu saímos e eu fiquei com a sensação de dever cumprido. Foi bom participar daquele momento da vida do meu irmão.
- Quer dizer que você vai ser padrinho de dois casamentos?
- Pois é! Dá pra acreditar?
- Dá sim! São seus irmãos e eles amam você.
- É! E eu amo os dois também. Finalmente a minha vida está ficando completa, Bruno. Todos os meus amores estão voltando a conviver comigo.
- É sim!
Quando eu fui tirar o carro, notei a presença do novo veículo do meu pai. Era um Pálio vermelho. Até que era bonito.
- Deve estar se sentindo com esse carro novo – falei.
- Deve mesmo. Mas quer saber de uma coisa?
- O quê?
- O seu é muito mais bonito que o dele.
- Fatão. Não tenha dúvidas disso!
- Hã... Olá!
Silêncio. Eu não sabia muito bem o que fazer, muito menos o meu namorado.
- Oi, Fátima! – engoli em saco. – Desculpa invadir assim o quarto deles.
- O que é isso, filho? – ela se aproximou e me beijou. – Você é de casa, você entra e sai a hora que você quiser.
- Deixa eu fazer as apresentações – senti um frio na barriga. – Bruno, essa é a minha mãe. Fátima, ele é o Bruno, meu... Noivo!
Que situação mais esquisita, meu Deus! Por mais moderno que eu fosse, eu não soube reagir com naturalidade naquele momento.
- Olá, querido – para a minha surpresa, Fátima deu um beijo no rosto do meu príncipe.
QUE ALÍVIO! Eu respirei aliviado nesse momento.
- Boa noite, Dona Fátima!
- Boa noite. É um prazer conhecê-lo.
- O prazer é todo meu. Seus filhos são maravilhosos. Os bebês.
Eu franzi o cenho. E eu?!
- Você também, é claro – ele ficou muito, muito, muito vermelho.
- Ah, tá! Já ia brigar.
Fátima riu. Ela estava meio sem jeito também.
- Bom, obrigada! Eles são os meus amores. Os quatro homens da minha vida.
- Imagino – Bruno olhou para a sogra. – Eu imagino mesmo.
- É muito bom tê-lo aqui em casa. Fique à vontade, está bem?
- Obrigado, Dona Fátima. Espero não causar nenhum incômodo.
- Não, não causará. Não se preocupe. Fique tranquilo.
- Obrigado!
- Acho que eles estão com a fralda suja – falei.
- Eu vou dar banho neles agora.
- Eu posso? – indaguei. – É que a sogra do Cauã já está lá embaixo e acho que seria bom você fazer sala, né?
- Ela já chegou? Meu Deus do céu, e seu irmão não me fala nada?
- Posso cuidar deles?
- Claro que pode, meu filho! É um prazer. Eles são de vocês. Fiquem à vontade.
- O banho é no banheiro do corredor?
- Pode ser no meu porque as coisas deles já estão lá.
- Ah, perfeito. A gente não demora muito não.
- Fica em paz, meu filho. Eles vão adorar.
- Depois eu desço com eles?
- Sim, desça. A família da Ellen adora os gêmeos.
- Quem não adora?
Quando a Fátima saiu, Bruno e eu começamos os preparativos para o banho dos meus irmãozinhos. Seria a primeira vez que eu daria banho nos dois.
- Eu sabia que você tinha feito côco, mocinho – falei.
- Já vamos treinando para quando nós tivermos o nosso!
- É – já fiquei imaginando a cena.
- Que foi, bebê? Está com frio?
- Coloca ele na banheira – falei.
- Pode deixar.
Ver o Bruno naquela circunstância, me deixou feliz da vida. Ele levava muito jeito com criança!
David ficou gemendo na água. O bebê estava muito esperto naquele dia.
- Está gostando, mocinho? – passei sabonete no corpo dele.
- Lava as perninhas dele.
- Deixa comigo!
Não foi nada difícil banhar meu irmão mais novo. Ele se comportou como um anjinho o tempo todo. E com o Davi não foi nada diferente.
- Pronto, pronto – falei. – Já acabou. Agora vamos colocar uma roupinha, né rapaz?
- Ele é muito lindo, meu Deus! Eles são, na verdade.
Quando Bruno e eu colocamos os pés para fora da suíte do quarto dos meus pais, acabamos encontrando com Edson.
Ele olhou para nós e ficou vermelho gradativamente. Deu para notar que o coração dele acelerou porque as veias de seu pescoço começaram a pulsar com intensidade. Com certeza ele estava nervoso!
- O QUE DIABOS ESTÁ ACONTECENDO AQUI???
Eu sabia que aquele encontro poderia acontecer. Eu sabia que a qualquer momento meu pai chegaria e que provavelmente ele não reagiria nada bem quando me visse ao lado do Bruno no interior de seu quarto.
- COMO VOCÊ SE ATREVE TRAZER ESSE...
- Vê lá como você vai falar a respeito dele!
Edson ficou calado, apenas ficou olhando com ódio para mim e para o Bruno.
- Sumam já do meu quarto!!!
- Se você não viu, nós estamos cuidando dos gêmeos.
- Não quero que coloquem suas mãos imundas em cima dos meus filhos! Não quero!
- Eles não são propriedades privadas suas. São meus irmãos e eu tenho todo o direito do mundo de cuidar deles; quer você queira, quer não!
- SAIAM JÁ DAQUI E NÃO COLOQUEM AS MÃOS EM CIMA DOS MEUS FILHOS!
- O que você vai fazer? Vai bater na gente?
- VONTADE NÃO ME FALTA!
- O que está esperando? – quem desafiou foi o Bruno. – Encosta um dedo que a gente vai se ver na delegacia, seu imbecil!
- E AINDA OUSA ME XINGAR NA MINHA PRÓPRIA CASA?
- A casa também é minha – Fátima entrou no quarto. – E eles são meus convidados e convidados do Cauã. Portanto, baixa a bola porque nós temos visita!
- Foda-se a visita! Foda-se quem quer que esteja aqui. Debaixo do meu teto eles não ficam!!!
- Quem vai impedir? Você, Edson? – minha mãe estava toda valentona. – O Caio e o Bruno são convidados do Cauã, dono da festa e eles têm direito de ficar aqui.
- NA MINHA CASA NÃO!
- A CASA TAMBÉM É MINHA, EDSON E ELES FICAM!
A criança começou a chorar no colo do Bruno.
- Vem, Bruno. Esse ambiente é negativo demais para o menino.
Eles ficaram discutindo entre si. Por sorte, ninguém na sala conseguiria escutar porque a acústica do banheiro e do quarto dos meus pais não chegariam até lá embaixo.
- Não vamos deixar ele pisar na gente – falei.
- Não mesmo. Mas é horrível isso, sabia? Eu me sinto humilhado.
- Eu sei, eu também me sinto assim. Só que nós não podemos abaixar a cabeça. É isso que ele quer.
- Eu troco um, você troca o outro.
- Combinado.
Bruno e eu trocamos os nenéns e eles ficaram quietinhos. Eles estavam muito espertos.
- Qual a roupa nós devemos colocar neles?
- Não faço ideia – confessei. – Eu vou perguntar.
Saí do quartinho das crianças e voltei ao quarto dos meus pais. Eles ainda brigavam e eu fui obrigado a ouvir tudo:
- Eu não estou nem aí para a sua opinião, Edson! Por mim você pode morrer de catapora preta de raiva. O nosso filho e nosso genro ficam!
- EU NÃO TENHO GENRO, FÁTIMA! AQUELE NOJENTO NÃO É MEU FILHO E AQUELE OUTRO NÃO É MEU GENRO!
- Ele É seu filho e o Bruno É seu genro, encara a realidade, Edson!!! Chega de tanto preconceito, chega! Eu estou cansada, entendeu? Cansada!
- Quem está cansado sou eu, Fátima! Nós estávamos muito bem sem ele voltar!
- Ah, para de fingir isso, Edson! Para! Já deu o que tinha que dar!!! Eu sei tanto quanto você o quanto ele nos fez falta! Não adianta mentir para si mesmo!
- Eu não aceito um filho gay, não aceito!!!
- E eu não aceito um marido tão mal-caráter como você. Eu vou te falar uma coisa e eu quero que você me ouça muito bem: ou você muda, ou você sai dessa casa para nunca mais voltar.
- Como é?! – notei a surpresa na voz do meu pai.
- É isso mesmo que você ouviu! Ou você muda, ou você some daqui e nunca mais volta. Entendeu?
- Você está me expulsando da minha própria casa?
- NOSSA casa, NOSSA! Essa casa é tão minha quanto sua! E eu não quero ver cara feia pro lado de ninguém hoje, está entendido?
- Como se você mandasse na minha vida!
- Ah, não mando? Não mando? Então é melhor você ficar aqui em cima a noite toda! Eu prefiro te trancar aqui nessa porcaria desse quarto a ter que ver essa cara nojenta que você tem. Ah, estou cansada! Chega de tanto sofrimento.
- O que é agora? Vai querer pedir o divórcio?
- É um caso a se pensar. É um caso a se pensar. Eu não sou obrigada a viver debaixo do teto com uma pessoa tão mal-humorada, tão ranzinza e tão preconceituosa como você. Eu já vivi tempo demais longe do meu filho para ter que suportar ficar longe dele de novo. Isso não vai acontecer. Não vai!
Eu engoli em seco.
- Então você quer se separar, é isso?
- Se você não mudar, se você não passar a aceitar o Caio e o Bruno na nossa família, sim eu quero. A escolha é sua, meu querido. A escolha é sua.
- Então pode dar entrada no pedido de divórcio, porque eu não vou aceitar aqueles dois debaixo do meu teto.
- ELES SÃO DA FAMÍLIA, EDSON! QUAL A DIFICULDADE DE VOCÊ ENTENDER ISSO?
- Caio? Está tudo bem?
Eu coloquei o dedo indicador no lábio e nós continuamos ouvindo.
- EU NÃO ACEITO! NÃO ACEITO!
- ENTÃO VAI PRO INFERNO! O CAIO FICA, O BRUNO FICA E SE VOCÊ QUISER, SAIA AGORA DESSA CASA. SUMA, DESAPAREÇA!
- Eu não vou sair! É o noivado do MEU filho, do Cauã, o MEU filho, MEU!
- O Cauã, o Caio, o David e o Davi são NOSSOS filhos, porque nem você e nem eu fizemos sozinhos. Eles são e sempre serão NOSSOS filhos; quer você queira, quer não!!!
Silêncio.
- Eu não sou obrigado a conviver com aquelas duas aberrações.
- A única aberração aqui é você. Estou farta. O recado está dado. Você tem 5 minutos para descer e recepcionar todos com um sorriso na cara. E vê se coloca uma roupa descente, é o noivado do NOSSO filho, é uma data importante.
E dizendo isso, ela saiu e deu de cara com nós dois no meio do corredor. Minha mãe me olhou, olhou para o Bruno e ficou vermelha imediatamernte.
- Vocês... Vocês estão aí há muito tempo?
- Não, Fátima – eu menti. – Só chegamos agora. Está tudo bem?
- Tudo ótimo, meu amor. Tudo ótimo! Os gêmeos já estão prontos?
- Então, qual roupa colocamos neles?
- Ah, sim! Vamos lá escolher. Que cabeça a minha, meu Deus do céu!!!
Bruno e eu nos entreolhamos. Eu não pude acreditar que aquilo estava acontecendo. Minha mãe estava muito mudada!
- O que acham dessa aqui?
- Perfeito. Eles vão ficar um charme!
Eram roupinhas idênticas: calça jeans e camisa pólo. Os meninos ficaram uma gracinha. Deu vontade de levar os dois pra casa.
- Eles são muito lindos! – Bruno suspirou.
- Obrigada, querido. Eles são uns anjinhos.
- Mãe?
Ela quase chorou quando me ouviu falando a palavra “mãe”.
- Me chamou de... Mãe? – os olhos dela marejaram.
- É isso que você é, não é? – os meus também marejaram.
Nos abraçamos.
- Ah, filho!
- Desculpa, eu ouvi tudo. Eu ouvi! Não pude deixar de ouvir!
- Não era para você ter ouvido, não era!
- Você... Você me defendeu!
- Claro que eu te defendi. Claro! Eu não vou assistir tudo de camarote sem fazer nada dessa vez. Não vou!
Eu chorei. Eu queria tanto que ela tivesse feito aquilo da outra vez!
- Me perdoa – falei baixinho. – Me perdoa por ter sido tão duro com você!
- Não, amor – ela estava chorando também. – Não tem que pedir perdão. Eu é que te peço!
- É claro que eu te perdoo, é claro que eu te desculpo! Ô, mãe! Como eu sentia falta desse abraço!
- Eu também, meu filho! Eu também!!!
- Essa prova de amor que você me deu hoje – sequei as lágrimas –, foi mais do que suficiente para eu perceber o quanto você está mudada!
- Eu te amo, Caio! Eu te amo, meu filho! Eu nunca deixei de te amar, nunca!
- Nem eu, mãe. Eu também nunca deixei de te amar, embora estivesse muito magoado. Eu nunca te esqueci e não teve um dia sequer que eu não tenha pensado em você e no meu irmão!
- Eu sei disso, minha vida! Eu sei disso. Me perdoa por tudo, pelo amor de Deus!
- Eu te perdoo – beijei o rosto dela. – Eu te perdoo sim! Eu te amo!
Bruno estava chorando.
- Também te amo, meu filho! Também te amo! Muito, muito, muito!
- Minha mãe!
- Meu filho!
Intensificamos nosso abraço.
- Você quer mesmo o divórcio? – indaguei quando nos afastamos.
- Eu estou cansada – ela suspirou profundamente. – Muito cansada de viver com ele.
- Uhum.
- Se for o melhor a ser feito, é isso que faremos. Chega uma hora que não dá mais.
- É verdade. Não existe amor que suporte isso.
- Exatamente. Exatamente. Ai, filho, eu te amo tanto!
- Também te amo – a abracei de novo. – Você me fez muita falta!
- Você também me fez falta, meu pequeno!
Como foi bom aquele abraço. Ainda que tardio, ele recuperou as forças que eu tinha perdido no passado. A Fátima me fez, de fato, muita falta.
- Não chora, Bruh – eu sorri.
- É que essa cena foi linda – ele se explicou.
- Eu esperei 8 anos por isso – ela falou.
- Eu também. 8 anos.
- Eu sei – ele secou as lágrimas. – E fico feliz que estejam bem novamente.
- O Bruno é um anjo, mãe. Ele é um anjo!
- Dá pra ver, filho. Dá pra perceber o quanto ele te faz feliz.
- Muito – eu confessei de imediato.
- E se você faz meu filho feliz, você também me faz feliz. Posso te dar um abraço?
Pausa.
- Claro!
Eles se abraçaram e esse foi um dos momentos mais felizes da minha vida. Eu nunca imaginei que a minha mãe fosse tratar o Bruno dessa forma. Nunca mesmo!
- Obrigada por cuidar do meu filho!
- Eu fiz isso com o maior prazer da minha vida! Eu amo o seu filho!
- Eu sei que ama. Eu sinto isso. E é por isso que você já é parte da nossa família.
- Obrigado, Dona Fátima.
- Ganhei um genro. Um genro!
Eles riram.
- É! Um genro.
- Obrigada por cuidar dele. Eu serei eternamente grata por isso.
- Não tem que agradecer nada. Se for assim, eu serei eternamente grato por tê-lo colocado no mundo.
Que lindo!
- Eu tenho muito orgulho disso. Muito mesmo.
- Querem parar? – fiquei muito sem graça.
- Você sempre será muito bem-vindo aqui na minha casa, viu? Vocês dois!
- Obrigado, Dona Fátima! Muito obrigado!
- Conte sempre com meu apoio. E ele é lindo, meu filho. Muito mais lindo pessoalmente do que por foto.
- Ele é – concordei. – Meu tudo!
- Para!
- É verdade.
- Seus olhos são maravilhosos. Ótima escolha, filho.
- Não foi questão de escolha, né Bruh?
- Verdade. É questão de alma.
- Uhum.
- Um dia quero saber a história de vocês. Estão juntos há quanto tempo?
- 3 anos e 11 meses, mas nos conhecemos há 7 anos e meio – nós dois falamos juntos.
- Que bênção de Deus! Que esses quase 4 anos se multipliquem em 40, 50, 60...
- E que assim seja – falei.
Não podia existir felicidade maior que essa. Não mesmo. Receber o apoio da minha mãe foi uma surpresa muito grande. Eu fiquei feliz da vida com isso!
- Vamos descer? – ela perguntou.
- Vamos! Podemos levar os gêmeos?
- Fiquem à vontade. Eles são de vocês.
Bruno e eu levamos os meninos até a sala e lá encontramos várias outras pessoas. Algumas delas eu já conhecia.
- Caio, lembra do Guto?
- Claro que lembro. Como eu poderia esquecer? Como vai?
O Guto era um dos amiguinhos homofóbicos do Cauã que ficava zombando de mim no colégio. Ele estava igualzinho, fisicamente falando.
- E ai, Caio? Tranquilo?
- Na paz!
- Natan, Anderson e Dênis você já conhece também.
- Eu sei, eu sei. Eu lembro de todos vocês.
Eles não me pareceram muito solícitos com a minha presença, mas eu pouco me importei. Eu queria mais é me divertir naquela noite, isso sim.
- E esse é meu sogro – falou o Cauã. – Moisés, meu irmão, Caio.
- Dá pra ver, Cauã. Dá pra ver que ele é seu irmão. Tudo bem, rapaz?
- Bem e você?
- Um pouco inquieto com esse noivado, mas bem. É apenas ciúmes de pai.
- Entendo – ri.
Para a minha surpresa, a família da minha mãe também estava lá em casa. Fazia anos, simplesmente anos que eu não via minhas tias-avós e meus primos de segundo e terceiro grau.
- Nossa, Caio! Você sumiu – Lúcia, prima da minha mãe, reclamou.
- Pois é, mas estou de volta. Tudo bem, tia Mirtes?
- Levando a vida do jeito que Deus permite, meu filho. Que saudade de você!
- Também, tia. E a senhora, tia Odete?
- Bem, menino. E você? Por que sumiu sem dar notícias? Sua mãe ficou muito preocupada!
- Eu tive os meus motivos.
- Que irresponsabilidade, Caio! Você não pensou na pobre de sua mãe, menino?
- Olha, tia, eu não estou a fim de discutir. Não vou nem entrar em detalhes porque acho que não vêm ao caso. O assunto morreu. Com licença!
Era só o que me faltava: receber sermão de tia-avó no meio de várias pessoas em um jantar de noivado. Eu que não ia perder meu tempo com isso!
A casa estava cheia. Havia muita gente naquele lugar e isso garantiu altas risadas e muitas conversas paralelas. Teve um momento, que eu ouvi o Guto falando ao meu respeito com o Cauã:
- Ele está tão diferente!
- Ele é outra pessoa.
- Não esperava vê-lo por aqui, muito menos com aquele...
- O Bruno? Meu cunhado. Faz favor de tratar bem.
- Não acredito que você concorda com isso, cara.
- Por que não concordaria? Qual o problema nisso? Ele é meu irmão, meu irmão gêmeo e eu senti falta dele pra cacete nesse tempo que ficamos separados.
- Não dá pra crer nisso.
- Pois é a verdade. Ele é meu irmão e o que ele faz com a vida particular dele, não diz respeito nem a mim, nem a você e nem a ninguém.
BOA, CAUÃ!
- A única coisa que importa de verdade, é o que ele é por dentro, o que ele se tornou e eu te garanto que meu irmão é um homem de bem e que meu cunhado também é. Então, cara, fica na sua e respeita. Só isso.
- Desde que eles não fiquem com gracinha pra cima de mim...
- Olha só, Guto – eu me meti. – Não é porque eu sou gay que eu vou dar em cima de todos os homens da festa. Até mesmo porque, eu já tenho o meu e se não tivesse, não daria em cima de você nunca porque você não faz meu tipo.
Ele ficou roxo. Não sei se foi de vergonha ou de raiva.
- Limite-se a sua insignificância e me deixa em paz. A sua opinião e nada para mim é a mesma coisa. O que vale aqui, o que conta de verdade, é a opinião do Cauã. E essa eu já sei qual é.
- Eu...
- Não, não tenta se explicar porque vai feder mais. É melhor ficar calado se não tiver o que responder.
- Bem feito – Cauã riu. – Vai pensando que ele é o mesmo garotinho de 8 anos atrás! Vai pensando.
Quando meu pai desceu, o clima voltou a ficar um pouco tenso. No entanto, rapidamente tudo voltou ao normal porque ele não deu importância para mim e o meu noivo. Ele nem olhou na nossa cara.
- Melhor assim – comentei com o Bruno.
- É sim! Caio, o cunhado do seu irmão não para de olhar para nós.
- Ele tá querendo. Mas vai ficar querendo.
- Fato!
- O jantar está servido!!! – Fátima entrou na sala com um sorriso nos lábios.
Não sei como eles fizeram isso, mas a mesa duplicou de tamanho. Com certeza alguém deve ter emprestado outro móvel para todos se acomodarem, mas quem fez isso?
- Sua mãe cozinha bem?
- Maravilhosamente.
Era quase um banquete. Havia lasanha, macarronada, arroz branco, arroz parborizado, arroz de forno, carne assada, frango, galinha caipira e até lombo recheado. Boa parte da comida, quem fez foi a mãe da Ellen.
- Nossa – Bruno se surpreendeu. – Que feijão gostoso!
- O feijão da minha mãe é ótimo.
- Verdade – concordou uma das amigas da minha cunhada. – É ótimo mesmo!
- O tempero dela nunca muda.
- Desculpa a curiosidade – essa mesma amiga ficou nos olhando. – Vocês são namorados?
- Não – respondi. – Somos noivos.
- Noivos?!
- Sim, noivos!
- Caramba! Parabéns pela ousadia.
- Não é ousadia. A gente não está fazendo nada demais.
- Eu sei que não. Eu digo pelo fato de fugir à regra. Eu não sou preconceituosa, não me interpretem mal, por favor.
- Fique tranquila. A gente sabe quando alguém é preconceituoso e quando não é.
Vinte e duas pessoas estavam na cozinha e nem todos ficaram na mesa. No entanto, foi gostoso. Há muito eu não via tanta gente reunida como naquele momento.
Foi um jantar extremamente tranquilo. Não houve nenhum empecilho e Edson se comportou como um verdadeiro lord inglês. Isso me deixou feliz.
Após o jantar, meu irmão pediu a mão da namorada em casamento. Esse foi um momento bem emocionante, porque as mães dos noivos acabaram chorando, que coisa clichê!
- Quer casar comigo?
- Claro que eu quero!!!
Eles foram aplaudidos enquanto se beijavam. Eu sempre gostava muito de noivados, sempre me emocionava, mas no do meu irmão isso não aconteceu.
- Pensei que você ia chorar.
- Eu também, mas não. Acho que é porque eu não acompanhei o namoro desde o começo.
- Uhum. Já no Digow, né?
- Não fala nele. Aquele cachorro! Estou morrendo de saudade dele.
- Eu sei. Eu sei que está.
Em seguida, provamos as sobremesas. Havia pudim de leite condensado, bolo gelado de côco, mousse de manga, mousse de maracujá e mousse de chocolate com pimenta.
- Eu quero é mousse de maracujá.
- Eu sei disso – peguei o mousse de chocolate com pimenta. – Eu te conheço muito bem!
- Sem graça!
Bruno era fissurado nessa sobremesa. Ele não vivia sem. Já eu, preferi ficar com as outras opções. O bolo estava delicioso.
- Eu que fiz – disse Ellen.
- Já pode casar então, cunhada. Está maravilhoso.
- Obrigada! Que bom que curtiu.
Nós aproveitamos a festa ao máximo. Foi tudo de fato muito tranquilo, exceto pelos problemas que tivemos antes do pedido de casamento do meu irmão.
- Vamos? – ele me fitou.
- Vamos, Bruh. Já está ficando tarde.
- É! Vamos nos despedir de todos.
- Vamos sim.
Deixamos Cauã e Fátima por último. Eles estavam próximo ao Edson e quando nós nos aproximamos, ele saiu de fininho, sem fazer escândalo.
- Nós já temos que ir.
- Cedo assim? – o novo noivo da família reclamou.
- Cedo nada, já passa da meia noite.
- Fiquem mais – Fátima nos fitou.
- Não podemos – Bruno suspirou. – Amanhã eu volto pro Rio!
- Que pena! Voltem sempre que quiserem.
- Pode deixar, mãe.
- Mãe? – Cauã estranhou.
- Fizemos as pazes de vez, né mãe?
- É, meu amor – ela me abraçou. – E eu estou muito feliz e grata por causa disso. Nunca vou cansar de agradecer a Deus!
- Que bom, gente – Cauã sorriu. – Eu fico feliz com isso!
- Eu também estou – confessei. – É muito bom estar de volta por completo. Ou quase.
- É bom ter você de volta – ele falou.
Abracei meu irmão.
- Felicidades. Muitas felicidades. Seja muito feliz ao lado dela.
- Obrigado! Mas vai pensando que você vai sair assim do nada? Eu tenho um convite!
- Que convite?
- Eu adoraria que você fosse meu padrinho. Aceita?
- Que máximo!!! – minha mãe aplaudiu.
- Nossa! – confesso que fiquei surpreso. – Por essa eu não esperava!
- Aceita? – ele me encarou.
- Quem vai ser minha par?
- Uma amiga que não pôde vir porque está viajando. Aceita, vai?
- Nossa! Que honra! Claro que eu aceito!!!
- É isso aí! – meu gêmeo me puxou para um abraço. – Vai ser um prazer e a honra é minha!
- O prazer é meu! Obrigado por pensar em mim.
- Eu não te deixaria fora, jamais. Jamais mesmo!
- Obrigado, maninho!
- Eu é que te agradeço, maninho!
- Obrigada, meu Deus! Obrigada por me deixar presenciar esse momento dos meus filhos!!!
Nós dois abraçamos a minha mãe ao mesmo tempo. Ela estava muito feliz e nós também.
- Os amores da minha vida.
- E você a nossa princesa – falei.
- É!
- Ah, não esqueça que ainda temos aquele assunto para tratar.
- Eu ainda estou decidindo, filho. A cada dia que passa estou mais tentada a fazer faculdade.
- É isso aí. Eu tenho certeza que você vai topar e isso será ótimo para você.
- Verdade, mãe. Verdade.
- Bom, eu preciso ir. Parabéns novamente, fiquem com Deus e se cuidem.
- Você também.
- Tchau, Dona Fátima.
- Até logo, Bruno – minha mãe tomou a iniciativa e abraçou meu noivo. – Fique com Deus e obrigada novamente por cuidar do meu filho.
- Não tem nada que agradecer. Tchau, cunhado.
- Até, Brunão! Obrigado por ter vindo.
- Imagina! Felicidades.
- Obrigado!!!
Bruno e eu saímos e eu fiquei com a sensação de dever cumprido. Foi bom participar daquele momento da vida do meu irmão.
- Quer dizer que você vai ser padrinho de dois casamentos?
- Pois é! Dá pra acreditar?
- Dá sim! São seus irmãos e eles amam você.
- É! E eu amo os dois também. Finalmente a minha vida está ficando completa, Bruno. Todos os meus amores estão voltando a conviver comigo.
- É sim!
Quando eu fui tirar o carro, notei a presença do novo veículo do meu pai. Era um Pálio vermelho. Até que era bonito.
- Deve estar se sentindo com esse carro novo – falei.
- Deve mesmo. Mas quer saber de uma coisa?
- O quê?
- O seu é muito mais bonito que o dele.
- Fatão. Não tenha dúvidas disso!
- Obrigado por vir me pegar – ele entrou no carro e colocou o cinto de
segurança.
- Não tem nada que agradecer. Como estão as coisas?
- Bem e com você?
- Também. E a Ellen?
- Trabalhando como sempre.
- Que bom. Isso é ótimo.
- E o Bruno?
- Trabalhando e estudando como sempre.
- Isso também é bom.
- Será que hoje a gente tira esses aparelhos?
- Eu não tiro não, mas você acho que sim.
- Por que você não tira?
- Ainda está um pouco torto.
- Sorri aí.
Olhei os dentes do meu irmão e não vi nada de anormal.
- Não tem nada torto aí não, cara.
- Eu sinto com a língua. Bom, quem vai dizer é a dentista.
- Verdade.
Cauã e eu estávamos frequentando a mesma profissional. Isso se deu pelo fato dele me indicar a médica que ele passava. A mulher se chamava Marilda.
- Par de vasos! – ela exclamou quando nos viu na recepção. – Quanto tempo!
- Oi, Marilda – falamos juntos.
- Quem de vocês é o Caio?
- Sou eu – Cauã e eu levantamos ao mesmo tempo.
- Não comecem, pelo amor de Deus!!! – a médica ergueu as sobrancelhas. – Eu fico confusa.
Nós rimos.
- Eu sou o Caio – saí andando. – Esse engraçadinho sempre faz isso.
- Então vem comigo, par de vaso número um. Vamos ver como está esse sorriso.
Eu entrei no consultório e deitei na bendita cadeira de dentista. A minha sorte era que não tinha mais nenhum dente para arrancar.
- Já está perfeito, Caio – ela analisou. – Já está na hora de remover o aparelho ortodôntico. Vamos lá?
- Que pena. Eu gosto dele.
- É, mas não tem sentido você ficar com ele se seus dentes já foram perfeitamente alinhados.
- Não dói tirar isso não, né?
- Nadinha, nadinha.
- Menos mal.
Fiquei triste. Eu realmente gostava do meu aparelho. Ele me deixava com cara de molecão.
- Eu vou tirar primeiro o fio.
Ela foi desmontando parte por parte e quando chegou a hora de tirar os bracts, foi um verdadeiro sacrifício.
- Calma, Marilda – reclamei. – Desse jeito vai acabar arrancando meus dentes.
- Que nada, larga a mão de ser medroso.
Ela descolou o aparelho com o auxílio de uma ferramenta que mais parecia um alicate. Conforme ela mexia com o instrumento, o meu rosto virava para um lado, para o outro e eu tinha a impressão que a qualquer momento meu dente quebraria. Isso não aconteceu.
- Pronto. Agora só falta tirar a cola.
- E como faz isso?
- Eu vou fazer um polimento e passar flúor. Não quer aproveitar e fazer uma limpeza profunda?
- Quanto isso me custará?
- Quase nada – ela falou o valor.
- Já que estou na dança, manda brasa.
- É assim que se fala!
Ela queria era ganhar dinheiro, isso sim. No entanto, eu não me importei. Nunca era demais fazer uma limpeza nos dentes.

- Prontinho, querido Caio. Olha o resultado.
Peguei o espelho, sorri e vi meus dentes. Não gostei nada do aparência dos mesmos.
- Estou me sentindo pelado, coloque meu aparelho de volta.
Marilda riu.
- Só colocaremos se eles entortarem. À partir de agora, você vai usar o móvel. É esse daqui.
- Essa coisa horrorosa? Vou usar isso não!
- Coloque.
Eu coloquei e senti um plástico nojento no céu da minha boca. Deu vontade de vomitar.
- Deus me livre – falei. – CREDO! Ainda por cima me deixa com a língua presa? Quero não!
- Você usará ele por seis meses, sim senhor. Senão não surtirá nenhum efeito. Depois, vai usar por mais seis meses só para dormir.
- Não gostei dessa contenção aqui atrás também não. Coisa mais esquisita! Aparelho é para ficar na frente, não atrás dos dentes.
- Já te falaram que você é muito reclamão?
- É que eu não curti. Só estou falando a verdade.
- Pois vai ter que se acostumar. Eu não posso fazer um trabalho pela metade. Agora vá, chame o seu irmão e marque com minha secretária só para o ano que vem.
- Então tá, né? Manda quem pode, obedece quem tem juízo.
- Assim que eu gosto.
Saí e fui logo falando com meu gêmeo.
- Estou me sentindo pelado.
- Deixa eu ver?
Sorri e foi a vez dele olhar meus dentes.
- Vai usar o móvel?
- Meu ovo! Esse negócio prende a minha língua e é nojento.
- É para eu entrar?
- Ah, é! Já ia esquecendo. Vai lá.
Ele entrou, eu marquei o retorno e efetuei o pagamento da mensalidade e da limpeza. Eu estava bravo.
Tirei uma foto e mandei para todos os meus amigos com a seguinte legenda: “SEQUESTRARAM MEU APARELHO. COMO FAZ?”.
- QUE LIIIIIIIIIINDO – Bruno gritou na minha orelha.
- Lindo é nosso filho – choraminguei.
- O Enzo também, mas seus dentes ficaram lindos, hein?
- Estou me sentindo pelado. Não curti.
- Pelado? Só na nossa cama e comigo, bebê!
- Ah, é? Disso eu gostei!
- Gostou? Então vem para cá, vem?
- Espera aí, eu chego em cinco minutos!
- Não tem nada que agradecer. Como estão as coisas?
- Bem e com você?
- Também. E a Ellen?
- Trabalhando como sempre.
- Que bom. Isso é ótimo.
- E o Bruno?
- Trabalhando e estudando como sempre.
- Isso também é bom.
- Será que hoje a gente tira esses aparelhos?
- Eu não tiro não, mas você acho que sim.
- Por que você não tira?
- Ainda está um pouco torto.
- Sorri aí.
Olhei os dentes do meu irmão e não vi nada de anormal.
- Não tem nada torto aí não, cara.
- Eu sinto com a língua. Bom, quem vai dizer é a dentista.
- Verdade.
Cauã e eu estávamos frequentando a mesma profissional. Isso se deu pelo fato dele me indicar a médica que ele passava. A mulher se chamava Marilda.
- Par de vasos! – ela exclamou quando nos viu na recepção. – Quanto tempo!
- Oi, Marilda – falamos juntos.
- Quem de vocês é o Caio?
- Sou eu – Cauã e eu levantamos ao mesmo tempo.
- Não comecem, pelo amor de Deus!!! – a médica ergueu as sobrancelhas. – Eu fico confusa.
Nós rimos.
- Eu sou o Caio – saí andando. – Esse engraçadinho sempre faz isso.
- Então vem comigo, par de vaso número um. Vamos ver como está esse sorriso.
Eu entrei no consultório e deitei na bendita cadeira de dentista. A minha sorte era que não tinha mais nenhum dente para arrancar.
- Já está perfeito, Caio – ela analisou. – Já está na hora de remover o aparelho ortodôntico. Vamos lá?
- Que pena. Eu gosto dele.
- É, mas não tem sentido você ficar com ele se seus dentes já foram perfeitamente alinhados.
- Não dói tirar isso não, né?
- Nadinha, nadinha.
- Menos mal.
Fiquei triste. Eu realmente gostava do meu aparelho. Ele me deixava com cara de molecão.
- Eu vou tirar primeiro o fio.
Ela foi desmontando parte por parte e quando chegou a hora de tirar os bracts, foi um verdadeiro sacrifício.
- Calma, Marilda – reclamei. – Desse jeito vai acabar arrancando meus dentes.
- Que nada, larga a mão de ser medroso.
Ela descolou o aparelho com o auxílio de uma ferramenta que mais parecia um alicate. Conforme ela mexia com o instrumento, o meu rosto virava para um lado, para o outro e eu tinha a impressão que a qualquer momento meu dente quebraria. Isso não aconteceu.
- Pronto. Agora só falta tirar a cola.
- E como faz isso?
- Eu vou fazer um polimento e passar flúor. Não quer aproveitar e fazer uma limpeza profunda?
- Quanto isso me custará?
- Quase nada – ela falou o valor.
- Já que estou na dança, manda brasa.
- É assim que se fala!
Ela queria era ganhar dinheiro, isso sim. No entanto, eu não me importei. Nunca era demais fazer uma limpeza nos dentes.
- Prontinho, querido Caio. Olha o resultado.
Peguei o espelho, sorri e vi meus dentes. Não gostei nada do aparência dos mesmos.
- Estou me sentindo pelado, coloque meu aparelho de volta.
Marilda riu.
- Só colocaremos se eles entortarem. À partir de agora, você vai usar o móvel. É esse daqui.
- Essa coisa horrorosa? Vou usar isso não!
- Coloque.
Eu coloquei e senti um plástico nojento no céu da minha boca. Deu vontade de vomitar.
- Deus me livre – falei. – CREDO! Ainda por cima me deixa com a língua presa? Quero não!
- Você usará ele por seis meses, sim senhor. Senão não surtirá nenhum efeito. Depois, vai usar por mais seis meses só para dormir.
- Não gostei dessa contenção aqui atrás também não. Coisa mais esquisita! Aparelho é para ficar na frente, não atrás dos dentes.
- Já te falaram que você é muito reclamão?
- É que eu não curti. Só estou falando a verdade.
- Pois vai ter que se acostumar. Eu não posso fazer um trabalho pela metade. Agora vá, chame o seu irmão e marque com minha secretária só para o ano que vem.
- Então tá, né? Manda quem pode, obedece quem tem juízo.
- Assim que eu gosto.
Saí e fui logo falando com meu gêmeo.
- Estou me sentindo pelado.
- Deixa eu ver?
Sorri e foi a vez dele olhar meus dentes.
- Vai usar o móvel?
- Meu ovo! Esse negócio prende a minha língua e é nojento.
- É para eu entrar?
- Ah, é! Já ia esquecendo. Vai lá.
Ele entrou, eu marquei o retorno e efetuei o pagamento da mensalidade e da limpeza. Eu estava bravo.
Tirei uma foto e mandei para todos os meus amigos com a seguinte legenda: “SEQUESTRARAM MEU APARELHO. COMO FAZ?”.
- QUE LIIIIIIIIIINDO – Bruno gritou na minha orelha.
- Lindo é nosso filho – choraminguei.
- O Enzo também, mas seus dentes ficaram lindos, hein?
- Estou me sentindo pelado. Não curti.
- Pelado? Só na nossa cama e comigo, bebê!
- Ah, é? Disso eu gostei!
- Gostou? Então vem para cá, vem?
- Espera aí, eu chego em cinco minutos!
- Hoje a noite é nossa – falei, puxando ele pela camiseta.
- É? É mesmo?
- Não tenha dúvidas.
Nos beijamos e já fomos nos despindo. Eu não conseguia acreditar que o Bruno estava ali, do meu lado e que ele ficaria comigo por um mês.
- É um sonho?
- Não – ele falou no meu ouvido. – Não é um sonho. É realidade.
Mordi o queixo dele.
- Te amo.
- Eu também te amo, amor.
Rolamos e eu fiquei por cima. Alisei o corpo do meu noivo com suavidade e peguei o óleo que esfriava. Eu estava sedento por prazer naquela noite.
- Ah, que delícia! – ele gemeu.
- Você que é uma delícia, cachorro.
- Eu quero você!
- Quer? – grudei as nossas testas.
- Quero.
- Eu também quero você.
Tudo rolou na maior naturalidade, como sempre. Nossos corpos se entrelaçaram e ficaram colados. Só nos desgrudamos quando o ápice nos tocou, ao mesmo tempo.
- Eu te amo para sempre – arfei.
- Eu é que te amo pelo resto da eternidade.
Bruno e eu estávamos suados e por causa disso, partimos para o chuveiro. Lá, nos beijamos e um deu banho no outro, no maior clima de intimidade.
- Esse corpo – ele me olhou.
- O que tem o meu corpo?
- Cada dia mais gostoso, cada dia mais másculo, cada dia mais viril...
- Você que é tudo isso e muito mais – encostei Bruno na parede de azulejo e o beijei.
Foi uma noite quente e insaciável, que mais uma vez só acabou quando o dia amanheceu. Era bom demais tê-lo ali comigo, pertinho de mim e não ter que me preocupar em quando ele tinha que voltar para o Rio de Janeiro.
- Sentindo falta da Gertrudes Filomena – falei.
- Eu também, mas ela vai ficar bem lá na casa do Vitinho.
- Ele está bem, Bruh?
- Está sim, amor. Feliz da vida, trabalhando e estudando.
- Que bom. É bom que ele pense no futuro dele.
- Sim.
- Tem tido notícias do Murilo?
- Pelo que parece, ele está mesmo seguindo carreira militar.
- Isso é ótimo para ele. Deixa ele lá.
- Uhum. Verdade.
- Que tal você me dar mais um beijo agora? – pulei no colo dele.
- Só um? Eu dou é quantos você quiser!

- É? É mesmo?
- Não tenha dúvidas.
Nos beijamos e já fomos nos despindo. Eu não conseguia acreditar que o Bruno estava ali, do meu lado e que ele ficaria comigo por um mês.
- É um sonho?
- Não – ele falou no meu ouvido. – Não é um sonho. É realidade.
Mordi o queixo dele.
- Te amo.
- Eu também te amo, amor.
Rolamos e eu fiquei por cima. Alisei o corpo do meu noivo com suavidade e peguei o óleo que esfriava. Eu estava sedento por prazer naquela noite.
- Ah, que delícia! – ele gemeu.
- Você que é uma delícia, cachorro.
- Eu quero você!
- Quer? – grudei as nossas testas.
- Quero.
- Eu também quero você.
Tudo rolou na maior naturalidade, como sempre. Nossos corpos se entrelaçaram e ficaram colados. Só nos desgrudamos quando o ápice nos tocou, ao mesmo tempo.
- Eu te amo para sempre – arfei.
- Eu é que te amo pelo resto da eternidade.
Bruno e eu estávamos suados e por causa disso, partimos para o chuveiro. Lá, nos beijamos e um deu banho no outro, no maior clima de intimidade.
- Esse corpo – ele me olhou.
- O que tem o meu corpo?
- Cada dia mais gostoso, cada dia mais másculo, cada dia mais viril...
- Você que é tudo isso e muito mais – encostei Bruno na parede de azulejo e o beijei.
Foi uma noite quente e insaciável, que mais uma vez só acabou quando o dia amanheceu. Era bom demais tê-lo ali comigo, pertinho de mim e não ter que me preocupar em quando ele tinha que voltar para o Rio de Janeiro.
- Sentindo falta da Gertrudes Filomena – falei.
- Eu também, mas ela vai ficar bem lá na casa do Vitinho.
- Ele está bem, Bruh?
- Está sim, amor. Feliz da vida, trabalhando e estudando.
- Que bom. É bom que ele pense no futuro dele.
- Sim.
- Tem tido notícias do Murilo?
- Pelo que parece, ele está mesmo seguindo carreira militar.
- Isso é ótimo para ele. Deixa ele lá.
- Uhum. Verdade.
- Que tal você me dar mais um beijo agora? – pulei no colo dele.
- Só um? Eu dou é quantos você quiser!
- Gerência de Recursos Humanos, Caio?
- Bom dia, Caio. Tudo bem?
- Bom dia, Roberto. Bem e você?
- Ótimo. Eu te enviei um e-mail solicitando a abertura de um novo processo seletivo.
- Acabei de respondê-lo informando que daria as tratativas imediatamente.
- Ah, que bom. Obrigado! Eu tenho uma novidade.
- Que novidade?
- Sua equipe vai aumentar. Você vai ganhar um novo estagiário.
- Ah, é? E quando ele começa?
- Daqui a pouco. Eu vou levá-lo aí já, já.
- Tudo bem, eu fico no aguardo.
- Um abraço.
- Outro.
Quando ele desligou, eu entrei em contato com a responsável por colocar anúncios de emprego na internet e pedi que a mesma fizesse o que o meu chefe pediu.
- Deixa comigo. Em duas horas estará no ar.
- Perfeito, Silvana. Obrigado!
- Por nada, chefe.
Pouco tempo depois, o diretor entrou no departamento e foi até a minha sala. Ele estava com meu novo estagiário, mas eu não sabia que ele era o...
- Víctor?
- Bom dia, Caio! – meu melhor amigo sorriu.
- Surpreso? – indagou o pai do jovem.
- É uma surpresa do tamanho do Everest.
- À partir de hoje, ele fica com você. Já está na hora.
- Claro, como você quiser. Seja bem-vindo, rapaz!
Meu amigo e eu nos abraçamos.
- Obrigado. Chefe?
Nós três rimos.
- Não nego que isso é estranho, mas a gente se acostuma.
- Claro que sim. A gente se acostuma.
- Onde eu devo deixá-lo, patrão?
- Carta branca. Você manda no seu departamento.
- Como quiser. Deixa ele comigo.
- Aprenda direitinho – Roberto beijou o filho.
- Pode deixar. Obrigado, pai.
- Disponha. Até logo.
- Até!
Quando ele saiu, Víctor e eu conversamos um pouco e combinamos que ali dentro, seríamos profissionais. Fora da empresa a amizade continuaria.
- Vem, vou te apresentar aos funcionários do departamento.
Fiz uma pequena reunião e apresentei o nosso novo colega de trabalho. O pessoal recebeu o Víctor muito bem, até eles saberem que ele era o filho do diretor.
- Por enquanto, vou te deixar com o Max. Ele cuida das férias. Max, ensina tudo a ele, por favor.
- Deixa comigo, Caio!
- Bom trabalho, Víctor. Seja bem-vindo novamente.
- Obrigado, Caio!!!
- Bom dia, Caio. Tudo bem?
- Bom dia, Roberto. Bem e você?
- Ótimo. Eu te enviei um e-mail solicitando a abertura de um novo processo seletivo.
- Acabei de respondê-lo informando que daria as tratativas imediatamente.
- Ah, que bom. Obrigado! Eu tenho uma novidade.
- Que novidade?
- Sua equipe vai aumentar. Você vai ganhar um novo estagiário.
- Ah, é? E quando ele começa?
- Daqui a pouco. Eu vou levá-lo aí já, já.
- Tudo bem, eu fico no aguardo.
- Um abraço.
- Outro.
Quando ele desligou, eu entrei em contato com a responsável por colocar anúncios de emprego na internet e pedi que a mesma fizesse o que o meu chefe pediu.
- Deixa comigo. Em duas horas estará no ar.
- Perfeito, Silvana. Obrigado!
- Por nada, chefe.
Pouco tempo depois, o diretor entrou no departamento e foi até a minha sala. Ele estava com meu novo estagiário, mas eu não sabia que ele era o...
- Víctor?
- Bom dia, Caio! – meu melhor amigo sorriu.
- Surpreso? – indagou o pai do jovem.
- É uma surpresa do tamanho do Everest.
- À partir de hoje, ele fica com você. Já está na hora.
- Claro, como você quiser. Seja bem-vindo, rapaz!
Meu amigo e eu nos abraçamos.
- Obrigado. Chefe?
Nós três rimos.
- Não nego que isso é estranho, mas a gente se acostuma.
- Claro que sim. A gente se acostuma.
- Onde eu devo deixá-lo, patrão?
- Carta branca. Você manda no seu departamento.
- Como quiser. Deixa ele comigo.
- Aprenda direitinho – Roberto beijou o filho.
- Pode deixar. Obrigado, pai.
- Disponha. Até logo.
- Até!
Quando ele saiu, Víctor e eu conversamos um pouco e combinamos que ali dentro, seríamos profissionais. Fora da empresa a amizade continuaria.
- Vem, vou te apresentar aos funcionários do departamento.
Fiz uma pequena reunião e apresentei o nosso novo colega de trabalho. O pessoal recebeu o Víctor muito bem, até eles saberem que ele era o filho do diretor.
- Por enquanto, vou te deixar com o Max. Ele cuida das férias. Max, ensina tudo a ele, por favor.
- Deixa comigo, Caio!
- Bom trabalho, Víctor. Seja bem-vindo novamente.
- Obrigado, Caio!!!
Nós já estávamos em julho e o frio na cidade de São Paulo estava
simplesmente insuportável.
Uma massa de ar polar cobria a região e dia após dia, a cidade estava batendo recordes de temperatura mais baixa do ano.
- Boa noite, minha vida – falei, quando entrei no quarto.
- Boa noite – a voz do Bruno saiu abafada, porque ele estava debaixo de várias cobertas, coberto até a cabeça. Eram tantos cobertores, que eu não sabia em que lado da cama ele estava deitado.
Eu ri. O jovem estava odiando aquele frio todo. Por mais que ele fosse acostumado por ter morado na Espanha, há muito ele não sentia frio como estava sentindo naquele momento.
Eu fui até o travesseiro e puxei os cobertores. Eram dois e mais dois edredons, mas quando tirei tudo, não encontrei o Bruno e sim o Enzo.
- Não – ele miou e me olhou com a cara feia.
- Mas eu mereço uma coisa dessas!!! Mas eu mereço!!!
Descobri o Bruno e ele se encolheu todinho. Nos beijamos e depois ele berrou:
- AI QUE NARIZ FRIO!
Eu ri de novo.
- Tudo bem por aqui?
- Tirando o frio sim – ele se cobriu novamente.
- Já jantou?
- Não!
- Que bom. Nós vamos jantar fora.
- MEU OVO! Eu não saio nesse frio nem que a vaca tussa!
Uma massa de ar polar cobria a região e dia após dia, a cidade estava batendo recordes de temperatura mais baixa do ano.
- Boa noite, minha vida – falei, quando entrei no quarto.
- Boa noite – a voz do Bruno saiu abafada, porque ele estava debaixo de várias cobertas, coberto até a cabeça. Eram tantos cobertores, que eu não sabia em que lado da cama ele estava deitado.
Eu ri. O jovem estava odiando aquele frio todo. Por mais que ele fosse acostumado por ter morado na Espanha, há muito ele não sentia frio como estava sentindo naquele momento.
Eu fui até o travesseiro e puxei os cobertores. Eram dois e mais dois edredons, mas quando tirei tudo, não encontrei o Bruno e sim o Enzo.
- Não – ele miou e me olhou com a cara feia.
- Mas eu mereço uma coisa dessas!!! Mas eu mereço!!!
Descobri o Bruno e ele se encolheu todinho. Nos beijamos e depois ele berrou:
- AI QUE NARIZ FRIO!
Eu ri de novo.
- Tudo bem por aqui?
- Tirando o frio sim – ele se cobriu novamente.
- Já jantou?
- Não!
- Que bom. Nós vamos jantar fora.
- MEU OVO! Eu não saio nesse frio nem que a vaca tussa!
- Nem está tão frio assim, amor – falei.
- Imagina, coisa pouca. Só 30º abaixo de zero.
- Meu Deus, como é exagerado! A gente vai comer um fundue e vamos nos esquentar, tá bom?
- Só se eu mergulhar no fundue. Que frio da bexiga!
Estava mesmo muito gelado. Quase não havia pessoas nas ruas e as que se aventuravam, estavam cobertas da cabeça aos pés.
- Você está parecendo uma bolota por causa dessas roupas – me diverti.
- Nem ligo, tá legal? – ele fez bico. – Eu estou com frio!
- Mais tarde eu te esquento, coisa linda.
- É? – ele me olhou. – Disso eu gostei.
- Gostou, né safadinho?
Levei Bruno em uma cantina maravilhosa na zona oeste da cidade. Lá nos acabamos com fundue de queijo e isso amenizou um pouco o frio que estávamos sentindo.

- Que delícia – ele elogiou.
- Não é ótimo?
- Depois eu vou experimentar o de chocolate.
- É uma tentação. Eu vou comer um também.
- Chocólatra.
- Olha quem fala. Quem foi que comeu três ovos de páscoa?
- Nem me importo – ele deu de ombros.
- Ainda bem que você não tem tendência para engordar.
- É mesmo. Você vem sempre aqui?
- Quase nunca. É um pouco longe de casa.
- Um pouco? Acho que daria tempo ir para o Rio a pé e chegar lá primeiro do que vir do seu apartamento até aqui.
- Mas é o cúmulo do exagero.
Ele mostrou a língua.
- Sabia que lá no Paraná está mais frio que aqui?
- E o pobre do Rods está vivo?
- Vivíssimo. Ele adora o frio. Disse que lá a sensação está abaixo de zero.
- Mas aqui deve estar também, anjo.
- Depois a gente vê em algum termômetro pela cidade.
Isso ocorreu na volta para o meu apê. A temperatura oficial naquele momento era de 4º C, mas com certeza a sensação era bem mais baixa.
- Para o carro, Caio!
- Hã? – não entendi o motivo daquele pedido.
- Para o carro, Caio! Para!
- Mas por que? Não entendi!
- PARA JÁ O CARRO, CAIO! PARA, PARA!!!
Eu freei, ele abriu a porta e saiu correndo. Eu não entendi nada, fiquei preocupado, encostei o carro e saí correndo atrás dele.
- BRUNO? BRUNO? ESPERA, BRUNO!
O que estava acontecendo, meu Deus? Por que ele estava correndo daquele jeito? Será que eu tinha falado alguma coisa de errado?
- BRUNO? BRUUUUUUUUUUUNO, ME ESPERA!
De repente, ele ajoelhou na calçada e começou a se despir. Se antes eu não estava entendendo nada, naquele momento então, eu entendi menos ainda!
Só compreendi o que acontecia quando cheguei ao lado dele. Meu noivo estava tirando a roupa para ajudar uma moradora de rua que estava sem agasalhos e ainda por cima, com uma criança junto dela.
- Coloca isso, coloca isso – ele envolveu o menino com a blusa de frio.
Eu ajoelhei ao lado dele, tirei a minha blusa e coloquei sobre a mulher. Ela tremia feito vara verde e estava com os lábios arroxeados.
- Coloca a blusa, moça – falei.
Tanto Bruno quanto eu, estávamos com duas blusas de frio, luvas e toucas. Nós tiramos tudo e cobrimos aquelas pessoas para que elas não ficassem com hipotemia.
- Não tem um lugar coberto para vocês ficarem?
- Nã-nã-não – disse a mulher.
A criança sequer se mexia, mas estava com os olhos abertos e respirava. Eu fiquei preocupado.
- Conseguem andar?
Não houve resposta.
- Conseguem andar? Eu vou levar vocês para um abrigo da prefeitura.
A mendiga só tremeu, pobre coitada.
- Me ajuda a levá-los pro carro, Bruno.
Foi difícil porque meu noivo e eu estávamos morrendo de frio, uma vez que ficamos completamente desagasalhados, mas com paciência, chegamos no veículo.
- Entrem, entrem – falei.
Eles entraram e eu arranquei com o automóvel. Eu sabia onde tinha um abrigo onde eles podiam passar a noite.
- Meu Deus do céu – Bruno estava tremendo bastante.
- Calma. Vai ficar tudo bem.
Minhas mãos estavam duras. Foi difícil dirigir naquelas circunstâncias, mas no fim das contas, deu tudo certo.
- É aqui – falei. – Venham, venham se aquecer.
Por sorte, foi fácil deixar mãe e filho naquele albergue. Não houve impedimento e lá eles puderam se aquecer um pouco. Nós ficamos mais tranquilos.
- Obrigada – falou a mulher. – Deus abençoe vocês.
- Amém – eu falei. – Tente ficar por aqui, pelo menos durante a noite.
- Você está bem? – Bruno agachou e olhou para o menino.
A criança assentiu.
- Vai ficar tudo bem agora, tá bom? – meu noivo acariciou o garotinho. – Não precisa ficar com medo.
- Obrigado!
- De nada, anjinho – notei que a voz dele embargou. – Deus abençoe vocês dois. Não saiam daqui, por favor. Está muito frio lá fora.
- Deus abençoe, moço – a moradora de rua agradeceu ao Bruno. – Deus abençoe.
- A todos nós.
Nós não falamos nada durante o percurso até a minha casa. Fazia tanto frio, mas tanto frio, que a gente não tinha coragem para balbuciar nenhuma palavra.
Naquela madrugada, a região da Avenida Paulista ficou com – 1º C. A menor temperatura dos últimos tempos na cidade de São Paulo.

- Imagina, coisa pouca. Só 30º abaixo de zero.
- Meu Deus, como é exagerado! A gente vai comer um fundue e vamos nos esquentar, tá bom?
- Só se eu mergulhar no fundue. Que frio da bexiga!
Estava mesmo muito gelado. Quase não havia pessoas nas ruas e as que se aventuravam, estavam cobertas da cabeça aos pés.
- Você está parecendo uma bolota por causa dessas roupas – me diverti.
- Nem ligo, tá legal? – ele fez bico. – Eu estou com frio!
- Mais tarde eu te esquento, coisa linda.
- É? – ele me olhou. – Disso eu gostei.
- Gostou, né safadinho?
Levei Bruno em uma cantina maravilhosa na zona oeste da cidade. Lá nos acabamos com fundue de queijo e isso amenizou um pouco o frio que estávamos sentindo.
- Que delícia – ele elogiou.
- Não é ótimo?
- Depois eu vou experimentar o de chocolate.
- É uma tentação. Eu vou comer um também.
- Chocólatra.
- Olha quem fala. Quem foi que comeu três ovos de páscoa?
- Nem me importo – ele deu de ombros.
- Ainda bem que você não tem tendência para engordar.
- É mesmo. Você vem sempre aqui?
- Quase nunca. É um pouco longe de casa.
- Um pouco? Acho que daria tempo ir para o Rio a pé e chegar lá primeiro do que vir do seu apartamento até aqui.
- Mas é o cúmulo do exagero.
Ele mostrou a língua.
- Sabia que lá no Paraná está mais frio que aqui?
- E o pobre do Rods está vivo?
- Vivíssimo. Ele adora o frio. Disse que lá a sensação está abaixo de zero.
- Mas aqui deve estar também, anjo.
- Depois a gente vê em algum termômetro pela cidade.
Isso ocorreu na volta para o meu apê. A temperatura oficial naquele momento era de 4º C, mas com certeza a sensação era bem mais baixa.
- Para o carro, Caio!
- Hã? – não entendi o motivo daquele pedido.
- Para o carro, Caio! Para!
- Mas por que? Não entendi!
- PARA JÁ O CARRO, CAIO! PARA, PARA!!!
Eu freei, ele abriu a porta e saiu correndo. Eu não entendi nada, fiquei preocupado, encostei o carro e saí correndo atrás dele.
- BRUNO? BRUNO? ESPERA, BRUNO!
O que estava acontecendo, meu Deus? Por que ele estava correndo daquele jeito? Será que eu tinha falado alguma coisa de errado?
- BRUNO? BRUUUUUUUUUUUNO, ME ESPERA!
De repente, ele ajoelhou na calçada e começou a se despir. Se antes eu não estava entendendo nada, naquele momento então, eu entendi menos ainda!
Só compreendi o que acontecia quando cheguei ao lado dele. Meu noivo estava tirando a roupa para ajudar uma moradora de rua que estava sem agasalhos e ainda por cima, com uma criança junto dela.
- Coloca isso, coloca isso – ele envolveu o menino com a blusa de frio.
Eu ajoelhei ao lado dele, tirei a minha blusa e coloquei sobre a mulher. Ela tremia feito vara verde e estava com os lábios arroxeados.
- Coloca a blusa, moça – falei.
Tanto Bruno quanto eu, estávamos com duas blusas de frio, luvas e toucas. Nós tiramos tudo e cobrimos aquelas pessoas para que elas não ficassem com hipotemia.
- Não tem um lugar coberto para vocês ficarem?
- Nã-nã-não – disse a mulher.
A criança sequer se mexia, mas estava com os olhos abertos e respirava. Eu fiquei preocupado.
- Conseguem andar?
Não houve resposta.
- Conseguem andar? Eu vou levar vocês para um abrigo da prefeitura.
A mendiga só tremeu, pobre coitada.
- Me ajuda a levá-los pro carro, Bruno.
Foi difícil porque meu noivo e eu estávamos morrendo de frio, uma vez que ficamos completamente desagasalhados, mas com paciência, chegamos no veículo.
- Entrem, entrem – falei.
Eles entraram e eu arranquei com o automóvel. Eu sabia onde tinha um abrigo onde eles podiam passar a noite.
- Meu Deus do céu – Bruno estava tremendo bastante.
- Calma. Vai ficar tudo bem.
Minhas mãos estavam duras. Foi difícil dirigir naquelas circunstâncias, mas no fim das contas, deu tudo certo.
- É aqui – falei. – Venham, venham se aquecer.
Por sorte, foi fácil deixar mãe e filho naquele albergue. Não houve impedimento e lá eles puderam se aquecer um pouco. Nós ficamos mais tranquilos.
- Obrigada – falou a mulher. – Deus abençoe vocês.
- Amém – eu falei. – Tente ficar por aqui, pelo menos durante a noite.
- Você está bem? – Bruno agachou e olhou para o menino.
A criança assentiu.
- Vai ficar tudo bem agora, tá bom? – meu noivo acariciou o garotinho. – Não precisa ficar com medo.
- Obrigado!
- De nada, anjinho – notei que a voz dele embargou. – Deus abençoe vocês dois. Não saiam daqui, por favor. Está muito frio lá fora.
- Deus abençoe, moço – a moradora de rua agradeceu ao Bruno. – Deus abençoe.
- A todos nós.
Nós não falamos nada durante o percurso até a minha casa. Fazia tanto frio, mas tanto frio, que a gente não tinha coragem para balbuciar nenhuma palavra.
Naquela madrugada, a região da Avenida Paulista ficou com – 1º C. A menor temperatura dos últimos tempos na cidade de São Paulo.
Eu toquei a campainha e fiquei esperando que ela fosse me atender, o
que não demorou a acontecer.
- Boa tarde, mãe – beijei o rosto dela.
- Boa tarde, filho.
- Ah, não creio que você está triste? Tudo isso é porque os gêmeos vão ficar na creche?
- Claro! Eu não queria que isso acontecesse. Eles são muito novinhos!
- Já estão com sete meses e já está na hora. Cadê eles?
- Na sala, coitadinhos. Não queria fazer isso não.
- Mas vai. Você precisa se cuidar. Cauã está no trabalho, né?
- Sim, sim. Ele só volta à noite.
- Depois ligo para ele. Oi, meus amores – agachei e fiquei olhando para David e Davi.
Eles ficaram gritando e rindo. Ambos estavam muito espertos e isso estava me deixando encantado.
- Mas que safadeza é essa? – eu ri.
- Estão tão espertos!
- Estão mesmo. Já está pronta? Já podemos ir?
- Fazer o quê, não é? Só deixa eu pegar a minha bolsa.
Aquele seria o primeiro dia dos gêmeos na creche e o primeiro dia da minha mãe na academia. Eu fiz questão de levá-los de carro. Eu quis participar desse momento.
- Como não tenho as cadeirinhas ainda, é melhor você ir no banco traseiro com eles.
- Por que disse que ainda não tem as cadeirinhas? Pretende comprar?
- Hã – pausa. – Mais pra frente quem sabe?
Ela ficou calada. Minha mãe sempre foi uma mulher muito sábia e eu tinha certeza que ela entendeu o recado.
- Ui que pesado! – entreguei o Davi para a nossa mãe.
- Eles estão imensos já. Daqui a pouco começam a engatinhar.
- Estou louco para ver isso.
- Estou tão orgulhosa de te ver dirigindo dessa forma.
- Valeu, mãe.
- Esse carro é a sua cara.
- Eu gosto muito dele.
- Eu tenho muito orgulho que você tenha conseguido comprá-lo com seus esforços.
- É. Foi difícil. Foram cinco anos de economia na poupança. Valeu a pena.
- É, valeu sim. Que orgulho do meu pequeno!
- Pequeno de mais de um e oitenta – ri.
- Sempre será o meu pequeno. Sempre.
- Preparada para a academia?
- Mas é claro que não, Caio! Eu nem sei como vou fazer isso. Estou morta de vergonha, isso sim.
- Là têm professores que a ajudarão. Fique tranquila.
- Assim espero. Como está o Bruno?
- Muito bem. Se matando de estudar. As aulas voltaram há poucos dias.
- Ele faz faculdade?
- Isso. Ele estuda na federal do Rio.
- Caramba! Que menino esforçado.
- Muito. Muito mesmo.
- Qual curso ele faz?
- Arquitetura.
Longa pausa.
- Daqui a pouco é seu aniversário, hein mocinho?
- Nem fala, mãe. O ano está voando.
- Está mesmo. Como sempre.
- Como sempre.
O percurso até a creche durou cerca de quinze minutos. Quando a minha mãe entregou os gêmeos, ela já começou logo a chorar.
- Mamãe ama vocês, meus filhos.
Eles só ficaram olhando para a mãe, sem entender nada.
- Mamãe vem buscar vocês daqui a pouco, meus amores.
- Aposto que eles não estão entendendo nada.
- Ai que dor no coração. Eles são muito novinhos!
- Não se preocupe, Dona Fátima – falou a funcionária do estabelecimento. – Eles ficarão bem.
- Eu sei, mas machuca.
- Ei, campeões? – abaixei. – Se cuidem, hein? Seus lindos!
Os gêmeos estavam olhando para tudo que era lado. Com certeza estavam achando o ambiente diferente de tudo o que já viram antes.
- Vamos?
- Não – ela fungou. – Eu não quero deixá-los aqui. É muito difícil.
- Quem vê pensa que eles estão indo para a guerra ou viajando para o Japão. Pare de chorar e venha logo que nós já estamos atrasados.
- Eu venho buscá-los daqui a pouco. Cuidem bem deles, por favor.
- Não se preocupe, Dona Fátima. Eles ficarão bem.

Minha mãe beijou os filhos e nós saímos. Eu fiquei rindo dela até chegarmos no carro.
- São as minhas crias, eu preciso cuidar deles.
- Eles vão ficar bem, relaxe.
- São tão pequeninos!
- Vai ser bom para eles e para você também. Você precisa de uma folga.
- Tem certeza que eu não estou te atrapalhando?
- Não está, fique em paz. Eu estou em horário de almoço.
- Mesmo assim! Você já comeu?
- Já, mãe, já. Não precisa ficar grilada.
- Eu me preocupo. É meu filho também.
- Agora você tem quatro preocupações.
- Pois é. Eu fui mesmo premiada tendo duas gravidezes gêmeas.
- Foi mesmo. Qual a sensação?
- Maravilhosa.
- Será que você terá netos gêmeos também?
- Se for da vontade de Deus, sim. Se não, não.
- Sabias palavras. Mas dizem por aí que sempre pula uma geração. Talvez seus bisnetos sejam gêmeos.
- Eu posso fazer uma pergunta?
- Sim.
- Você pretende ter filhos, não é?
- Pretendo – confessei. – E não vai demorar.
- Eu sei que não. Desculpa, mas como?
- Adoção. Já estamos na fila há algum tempo.
- É mesmo, Caio?
- É. Só falta isso, sabe?
- Vai ser tão difícil, filho!
- Eu sei que vai, mãe. Eu sei que vai, mas a gente não se importa com isso.
- Eu entendo.
- Qual a sua opinião sobre?
- Não é algo tão corriqueiro e não pensei que vocês fariam isso, mas se é da vontade dos dois, quem sou eu para falar alguma coisa?
Fiquei calado.
- Vocês sabem o que fazem e eu não meto a colher. Que venha e que seja bem-vindo.
- É. Que venha e que venha logo.
- Meu Deus, meu primeiro neto!
- Calma, calma! Ainda tem o Cauã e talvez ele te dê um neto primeiro.
- Pode ser. Mas será neto do mesmo jeito, meu Deus! Eu avó e mãe de gêmeos que ainda nem saíram das fraldas. Só Jesus na minha vida!
- Certeza que os meninos serão titios antes mesmo de aprenderem a falar direito.
- Meu Deus do céu, isso é tão esquisito.
- É mais comum do que se possa imaginar.
- A academia é aquela ali, não é?
- Vou procurar algum lugar para estacionar.
- Tão lindo no volante!
- Boba – minhas bochechas esquentaram.
Fátima e eu entramos na academia juntos. Era a mesma onde Cauã e eu treinávamos, mas cada um fazia em um horário: ele pela manhã e eu à noite. Nós a matriculamos ali, porque ela ganharia desconto na mensalidade.
- Boa tarde, Kátia – falei.
- Veio mais tarde hoje, Cauã?
- Caio – eu a corrigi rindo.
- Eu nunca sei quem é quem. Desculpe, Caio. Veio mais cedo?
- Não! Vim trazer a minha mãe. Lembra dela?
- Claro. Como vai, Dona Fátima?
- Meio nervosa, minha filha.
- Não fique. A senhora vai gostar. Só um momento, eu vou chamar a sua professora.
Kátia saiu da recepção e eu vasculhei o local com os olhos. Havia vários gatinhos naquele horário.
- Cuidado com as cantadas, hein mãe?
- Que cantadas?
- Dos caras aí.
- Quero que alguém venha me cantar para ver se não leva uma vassourada nas fontes!!!
Eu ri.
- Pareceu a Janaína falando.
- Quem é Janaína?
- Minha melhor amiga lá do Rio. Um dia você vai conhecê-la.
- Boa tarde – uma personal se aproximou. – Você que é a Fátima?
- Isso mesmo!
- Muito prazer, eu me chamo Doralice. Serei a sua instrutora.
- Judia bastante dela, viu? – provoquei.
- Ah, é? Gosto assim!!!
- Não, pelo amor de Deus, não faça isso.
- É brincadeira, mãe – ri. – Vou nessa. Só saia depois de no mínimo duas horas, hein?
- Pode deixar, meu filho.
- Vamos lá bater um papo, Fátima?
- Vamos, vamos.
- Tchau, mãe. Bom treino.
- Obrigada, meu amor. Fique com Deus.
Nos beijamos.
- Amém, fique com Ele você também.

- Boa tarde, mãe – beijei o rosto dela.
- Boa tarde, filho.
- Ah, não creio que você está triste? Tudo isso é porque os gêmeos vão ficar na creche?
- Claro! Eu não queria que isso acontecesse. Eles são muito novinhos!
- Já estão com sete meses e já está na hora. Cadê eles?
- Na sala, coitadinhos. Não queria fazer isso não.
- Mas vai. Você precisa se cuidar. Cauã está no trabalho, né?
- Sim, sim. Ele só volta à noite.
- Depois ligo para ele. Oi, meus amores – agachei e fiquei olhando para David e Davi.
Eles ficaram gritando e rindo. Ambos estavam muito espertos e isso estava me deixando encantado.
- Mas que safadeza é essa? – eu ri.
- Estão tão espertos!
- Estão mesmo. Já está pronta? Já podemos ir?
- Fazer o quê, não é? Só deixa eu pegar a minha bolsa.
Aquele seria o primeiro dia dos gêmeos na creche e o primeiro dia da minha mãe na academia. Eu fiz questão de levá-los de carro. Eu quis participar desse momento.
- Como não tenho as cadeirinhas ainda, é melhor você ir no banco traseiro com eles.
- Por que disse que ainda não tem as cadeirinhas? Pretende comprar?
- Hã – pausa. – Mais pra frente quem sabe?
Ela ficou calada. Minha mãe sempre foi uma mulher muito sábia e eu tinha certeza que ela entendeu o recado.
- Ui que pesado! – entreguei o Davi para a nossa mãe.
- Eles estão imensos já. Daqui a pouco começam a engatinhar.
- Estou louco para ver isso.
- Estou tão orgulhosa de te ver dirigindo dessa forma.
- Valeu, mãe.
- Esse carro é a sua cara.
- Eu gosto muito dele.
- Eu tenho muito orgulho que você tenha conseguido comprá-lo com seus esforços.
- É. Foi difícil. Foram cinco anos de economia na poupança. Valeu a pena.
- É, valeu sim. Que orgulho do meu pequeno!
- Pequeno de mais de um e oitenta – ri.
- Sempre será o meu pequeno. Sempre.
- Preparada para a academia?
- Mas é claro que não, Caio! Eu nem sei como vou fazer isso. Estou morta de vergonha, isso sim.
- Là têm professores que a ajudarão. Fique tranquila.
- Assim espero. Como está o Bruno?
- Muito bem. Se matando de estudar. As aulas voltaram há poucos dias.
- Ele faz faculdade?
- Isso. Ele estuda na federal do Rio.
- Caramba! Que menino esforçado.
- Muito. Muito mesmo.
- Qual curso ele faz?
- Arquitetura.
Longa pausa.
- Daqui a pouco é seu aniversário, hein mocinho?
- Nem fala, mãe. O ano está voando.
- Está mesmo. Como sempre.
- Como sempre.
O percurso até a creche durou cerca de quinze minutos. Quando a minha mãe entregou os gêmeos, ela já começou logo a chorar.
- Mamãe ama vocês, meus filhos.
Eles só ficaram olhando para a mãe, sem entender nada.
- Mamãe vem buscar vocês daqui a pouco, meus amores.
- Aposto que eles não estão entendendo nada.
- Ai que dor no coração. Eles são muito novinhos!
- Não se preocupe, Dona Fátima – falou a funcionária do estabelecimento. – Eles ficarão bem.
- Eu sei, mas machuca.
- Ei, campeões? – abaixei. – Se cuidem, hein? Seus lindos!
Os gêmeos estavam olhando para tudo que era lado. Com certeza estavam achando o ambiente diferente de tudo o que já viram antes.
- Vamos?
- Não – ela fungou. – Eu não quero deixá-los aqui. É muito difícil.
- Quem vê pensa que eles estão indo para a guerra ou viajando para o Japão. Pare de chorar e venha logo que nós já estamos atrasados.
- Eu venho buscá-los daqui a pouco. Cuidem bem deles, por favor.
- Não se preocupe, Dona Fátima. Eles ficarão bem.
Minha mãe beijou os filhos e nós saímos. Eu fiquei rindo dela até chegarmos no carro.
- São as minhas crias, eu preciso cuidar deles.
- Eles vão ficar bem, relaxe.
- São tão pequeninos!
- Vai ser bom para eles e para você também. Você precisa de uma folga.
- Tem certeza que eu não estou te atrapalhando?
- Não está, fique em paz. Eu estou em horário de almoço.
- Mesmo assim! Você já comeu?
- Já, mãe, já. Não precisa ficar grilada.
- Eu me preocupo. É meu filho também.
- Agora você tem quatro preocupações.
- Pois é. Eu fui mesmo premiada tendo duas gravidezes gêmeas.
- Foi mesmo. Qual a sensação?
- Maravilhosa.
- Será que você terá netos gêmeos também?
- Se for da vontade de Deus, sim. Se não, não.
- Sabias palavras. Mas dizem por aí que sempre pula uma geração. Talvez seus bisnetos sejam gêmeos.
- Eu posso fazer uma pergunta?
- Sim.
- Você pretende ter filhos, não é?
- Pretendo – confessei. – E não vai demorar.
- Eu sei que não. Desculpa, mas como?
- Adoção. Já estamos na fila há algum tempo.
- É mesmo, Caio?
- É. Só falta isso, sabe?
- Vai ser tão difícil, filho!
- Eu sei que vai, mãe. Eu sei que vai, mas a gente não se importa com isso.
- Eu entendo.
- Qual a sua opinião sobre?
- Não é algo tão corriqueiro e não pensei que vocês fariam isso, mas se é da vontade dos dois, quem sou eu para falar alguma coisa?
Fiquei calado.
- Vocês sabem o que fazem e eu não meto a colher. Que venha e que seja bem-vindo.
- É. Que venha e que venha logo.
- Meu Deus, meu primeiro neto!
- Calma, calma! Ainda tem o Cauã e talvez ele te dê um neto primeiro.
- Pode ser. Mas será neto do mesmo jeito, meu Deus! Eu avó e mãe de gêmeos que ainda nem saíram das fraldas. Só Jesus na minha vida!
- Certeza que os meninos serão titios antes mesmo de aprenderem a falar direito.
- Meu Deus do céu, isso é tão esquisito.
- É mais comum do que se possa imaginar.
- A academia é aquela ali, não é?
- Vou procurar algum lugar para estacionar.
- Tão lindo no volante!
- Boba – minhas bochechas esquentaram.
Fátima e eu entramos na academia juntos. Era a mesma onde Cauã e eu treinávamos, mas cada um fazia em um horário: ele pela manhã e eu à noite. Nós a matriculamos ali, porque ela ganharia desconto na mensalidade.
- Boa tarde, Kátia – falei.
- Veio mais tarde hoje, Cauã?
- Caio – eu a corrigi rindo.
- Eu nunca sei quem é quem. Desculpe, Caio. Veio mais cedo?
- Não! Vim trazer a minha mãe. Lembra dela?
- Claro. Como vai, Dona Fátima?
- Meio nervosa, minha filha.
- Não fique. A senhora vai gostar. Só um momento, eu vou chamar a sua professora.
Kátia saiu da recepção e eu vasculhei o local com os olhos. Havia vários gatinhos naquele horário.
- Cuidado com as cantadas, hein mãe?
- Que cantadas?
- Dos caras aí.
- Quero que alguém venha me cantar para ver se não leva uma vassourada nas fontes!!!
Eu ri.
- Pareceu a Janaína falando.
- Quem é Janaína?
- Minha melhor amiga lá do Rio. Um dia você vai conhecê-la.
- Boa tarde – uma personal se aproximou. – Você que é a Fátima?
- Isso mesmo!
- Muito prazer, eu me chamo Doralice. Serei a sua instrutora.
- Judia bastante dela, viu? – provoquei.
- Ah, é? Gosto assim!!!
- Não, pelo amor de Deus, não faça isso.
- É brincadeira, mãe – ri. – Vou nessa. Só saia depois de no mínimo duas horas, hein?
- Pode deixar, meu filho.
- Vamos lá bater um papo, Fátima?
- Vamos, vamos.
- Tchau, mãe. Bom treino.
- Obrigada, meu amor. Fique com Deus.
Nos beijamos.
- Amém, fique com Ele você também.
- RH, Virgínia?
- Oi, Vírginia. Sou eu.
- Oi, chefe?
- Deixa eu te fazer uma pergunta: quantos currículos nós recebemos daquela vaga que abrimos na semana passada?
- Foram mais de cem.
- Faz uma triagem para mim, por favor? Escolhe metade e entra em contato com eles agendando o processo para a semana que vem?
- Deixa comigo, Caio. Qual a data?
- Pode ser já para segunda-feira.
- Combinado então.
- E como o Víctor está se saindo?
- Por enquanto ele só está aprendendo mesmo.
- Disponibiliza um dos ramais para ele e pede que ele agende com os candidatos. Ele precisa começar a fazer alguma coisa.
- Pode deixar. Eu fico de olho.
- Isso aí. Obrigado!
- Por nada.
Desliguei o telefone e menos de cinco minutos depois, meu celular começou a tocar. Era a Dona Elvira!
- Mãezinha, como a senhora está?
- Oi, meu amor! Eu estou ótima e você?
- Muito bem! Que saudades da senhora. Eu respondi o seu e-mail, viu?
- Sim, eu sei. Eu estou sem internet lá em casa. Uma derrota.
Eu ri.
- A senhora viciou mesmo, hein?
- É bom demais. Já fiz vários amigos lá. Eu me divirto.
- Que bom! Está tudo bem aí em Minas?
- Bem sim, meu amor e por aí?
- Bem também, graças a Deus. A senhora vai vir para o meu mestrado, não?
- Mas com certeza. Já estou de olho em um traje social da hora que vi no centro da cidade.
- É isso aí – ri novamente.
- Sua mãe, como está?
- Muito bem, graças a Deus. Um pouco dolorida porque está fazendo academia, mas está bem.
- E a relação de vocês?
- Caminhando bem, Dona Elvira. Por enquanto as coisas estão evoluindo a cada dia que passa.
- Ainda está chamando ela de mãe?
- Faz tempo, lembra que eu falei no e-mail?
- Lembro, mas pensei que você voltaria atrás.
- Não, não.
- E com seu pai?
- Com ele não tem diálogo. A cada dia que passa está mais chato, mais ranzinza. Agora implica com minha mãe por ela estar malhando.
- Deus tem que dar muita luz para esse ser.
- Um dia quem sabe, Dona Elvira?
- Tenha paciência. Na hora certa as coisas acontecem. Você precisa perdoá-lo.
- Não tem como ter perdão sincero com ele agindo desse jeito.
- Eu sei, meu filho. Eu sei.
- Um dia talvez. Deus é que sabe.
- É sim. E Bruno?
- Vai bem, obrigado. Estudando muito, tadinho.
- Ele se forma esse ano?
- Que nada! Ano que vem.
- Já está perto. Ele aguenta.
- Com certeza.
- Então tá, filho. Eu liguei só para saber de notícias.
- Estou ótimo. Morrendo de saudade da senhora e do seu doce de leite.
- Nos veremos em breve. Eu levo uma compota de doce para você e sua família.
- Não se incomode. A sua presença já é o suficiente e o mais importante.
- Oi, Vírginia. Sou eu.
- Oi, chefe?
- Deixa eu te fazer uma pergunta: quantos currículos nós recebemos daquela vaga que abrimos na semana passada?
- Foram mais de cem.
- Faz uma triagem para mim, por favor? Escolhe metade e entra em contato com eles agendando o processo para a semana que vem?
- Deixa comigo, Caio. Qual a data?
- Pode ser já para segunda-feira.
- Combinado então.
- E como o Víctor está se saindo?
- Por enquanto ele só está aprendendo mesmo.
- Disponibiliza um dos ramais para ele e pede que ele agende com os candidatos. Ele precisa começar a fazer alguma coisa.
- Pode deixar. Eu fico de olho.
- Isso aí. Obrigado!
- Por nada.
Desliguei o telefone e menos de cinco minutos depois, meu celular começou a tocar. Era a Dona Elvira!
- Mãezinha, como a senhora está?
- Oi, meu amor! Eu estou ótima e você?
- Muito bem! Que saudades da senhora. Eu respondi o seu e-mail, viu?
- Sim, eu sei. Eu estou sem internet lá em casa. Uma derrota.
Eu ri.
- A senhora viciou mesmo, hein?
- É bom demais. Já fiz vários amigos lá. Eu me divirto.
- Que bom! Está tudo bem aí em Minas?
- Bem sim, meu amor e por aí?
- Bem também, graças a Deus. A senhora vai vir para o meu mestrado, não?
- Mas com certeza. Já estou de olho em um traje social da hora que vi no centro da cidade.
- É isso aí – ri novamente.
- Sua mãe, como está?
- Muito bem, graças a Deus. Um pouco dolorida porque está fazendo academia, mas está bem.
- E a relação de vocês?
- Caminhando bem, Dona Elvira. Por enquanto as coisas estão evoluindo a cada dia que passa.
- Ainda está chamando ela de mãe?
- Faz tempo, lembra que eu falei no e-mail?
- Lembro, mas pensei que você voltaria atrás.
- Não, não.
- E com seu pai?
- Com ele não tem diálogo. A cada dia que passa está mais chato, mais ranzinza. Agora implica com minha mãe por ela estar malhando.
- Deus tem que dar muita luz para esse ser.
- Um dia quem sabe, Dona Elvira?
- Tenha paciência. Na hora certa as coisas acontecem. Você precisa perdoá-lo.
- Não tem como ter perdão sincero com ele agindo desse jeito.
- Eu sei, meu filho. Eu sei.
- Um dia talvez. Deus é que sabe.
- É sim. E Bruno?
- Vai bem, obrigado. Estudando muito, tadinho.
- Ele se forma esse ano?
- Que nada! Ano que vem.
- Já está perto. Ele aguenta.
- Com certeza.
- Então tá, filho. Eu liguei só para saber de notícias.
- Estou ótimo. Morrendo de saudade da senhora e do seu doce de leite.
- Nos veremos em breve. Eu levo uma compota de doce para você e sua família.
- Não se incomode. A sua presença já é o suficiente e o mais importante.
NAQUELE MESMO DIA, À NOITE...
Eu estava conectado à internet, debaixo das minhas cobertas e com o
Enzo dormindo ao meu lado. Pouco a pouco, todos os meus amigos ficaram
disponíveis na rede mundial de computadores e eu tive que uni-los em uma única
conversa para bater papo com todos ao mesmo tempo.
- Que diabo é isso? – Janaína falou, mais para si mesmo.
- Uma videoconferência, Janaína – eu ri. – Oi, Vini; oi, Fabrício; oi, Alexia; oi, Jana e oi, Digow!
- Gente, que modernidade – Janaína piscou para a câmera. – Por que não me falou que seria assim? Eu precisava retocar a maquiagem. Ai que badalo!
- Está linda assim, amiga – Alexia se pronunciou.
- Que barbicha é essa, Caio? – Vinícius perguntou.
- Preguiça de fazer, médico.
- Parece até “hominho” desse jeito – Fabrício zoou.
- Vai te catar, velho ancião.
- Olha! Me respeita!
- Sou o mais novo do grupo, beijo me liguem.
- Cala a boca – Digow falou pela primeira vez.
- Vem fazer eu calar. Está frio aí, mano?
- Aqui, aqui, aqui não. Estou cobertinho e bem agasalhado. Lá fora deve estar fazendo uns 5º.
- CABRUNCO DA PESTE DA GOTA SERENA DO RAIO DA SAIA FURADA! A ANINHA ATÉ TREMEU AQUI DENTRO DA MINHA BARRIGA.
- E quando ela nasce, Jana? – perguntou Fabrício.
- Daqui alguns dias, ex-colega de trabalho. Só esperando a boa vontade dela.
- Você engordou, hein Jana?
- VOU TE DAR MEIA HORA DE TAPA NA CARA, RODRIGO! Não se deve falar isso para uma dama como eu.
- Dama? – Alexia riu.
- Calada, branquela azeda. Ai que badalo, eu sou chique. Estou numa videoconferência.
- Quem vê pensa. Alexia, como estão as crianças?
- Bem, Caio. Os dois dormindo. Ganhei uma folguinha.
- A Mila está mais calma?
- Acostumando, pobrezinha.
- E o Nico, Fabrício?
- Capotou agorinha, Caio. Hoje ele fez muita travessura.
- O que ele fez? – Vini franziu o cenho.
- Pulou, derrubou os brinquedos, correu e falou mais do que a Janaína. Só vendo para crer.
- Ai que badalo, eu falo mesmo.
- Janaína e esses bordões loucos dela.
- O Rodrigo está doidinho para ganhar meia hora de tapa na cara, só pode!
- Bate – meu irmão provocou.
- Ele gosta – Vini riu.
- Cala a boca, curandeiro.
- Seu toba, filho da puta!
- Não tem plantão hoje não, VIni?
- Não, Caio. Só amanhã.
- Coragem. E Bruna?
- Ela sim, no plantão.
- Coragem número dois. E Babí?
- Na casa dela. Não quis vir hoje porque está de TPM.
- CORAGEM – Fabrício e Vinícius gritaram. Alexia riu.
- O que você está resmungando aí, Janaína?
- Conversando com a minha filha, posso?
- Pobrezinha! Ela deve estar com medo dessa voz feia.
- Eu só não saio daqui agora e vou até o Morro do Dendé te dar uma surra, Alexia, porque estou cansada e muito pesada. Senão eu ia.
- Vem! Ai que loucura.
- Eu devo ter salgado a Santa Ceia para ela imitar os meus bordões.
- Félix? É você, Félix?
- Sou não, mas bem que eu queria que ele estivesse aqui na minha cama. Ai que badalo.
- Está tudo bem, Alexia? Parece tristinha?
- Está sim, Caio. Só estou cansada por causa dos meninos.
- EITA CABRUNCO DA PESTE DA GOTA SERENA DO RAIO DA SAIA FURADA, A MINHA FILHA ME DEU UM CHUTE TÃO FORTE QUE ACHO QUE QUEBROU AS MINHAS COSTELAS.

- Eu vou é quebrar a sua cara se você gritar de novo – falei.
- Quanta maldade – Fabrício falou.
Enzo se espreguiçou na cama e em seguida ficou de pé. Antes dele sair, segurei o gato no colo e coloquei o mesmo na câmera.
- Dá boa noite aos seus tios e sua avó, filho.
- Enzo!!! – Alexia abriu um sorriso.
- Oi, gato – Vinícius fez ar de curioso. – Que cara preta!
- Fala com seus tios!
- Não – ele miou.
- MAL-EDUCADO, AI QUE BADAAAAAAAAALO!
- Bicho fedorento – Rodrigo bufou. – Ele dorme aí na sua cama, é?
- Claro que não, ele tem a dele. Ele só fica aqui quando está muito frio.
- Porco. Nunca vi dormir com um gato na cama.
- Porco é o seu nariz, cachorro.
Ele latiu, o povo riu, Enzo foi embora e a conversa continuou até a madrugada. Foi ótimo vê-los ao mesmo tempo.
- Que diabo é isso? – Janaína falou, mais para si mesmo.
- Uma videoconferência, Janaína – eu ri. – Oi, Vini; oi, Fabrício; oi, Alexia; oi, Jana e oi, Digow!
- Gente, que modernidade – Janaína piscou para a câmera. – Por que não me falou que seria assim? Eu precisava retocar a maquiagem. Ai que badalo!
- Está linda assim, amiga – Alexia se pronunciou.
- Que barbicha é essa, Caio? – Vinícius perguntou.
- Preguiça de fazer, médico.
- Parece até “hominho” desse jeito – Fabrício zoou.
- Vai te catar, velho ancião.
- Olha! Me respeita!
- Sou o mais novo do grupo, beijo me liguem.
- Cala a boca – Digow falou pela primeira vez.
- Vem fazer eu calar. Está frio aí, mano?
- Aqui, aqui, aqui não. Estou cobertinho e bem agasalhado. Lá fora deve estar fazendo uns 5º.
- CABRUNCO DA PESTE DA GOTA SERENA DO RAIO DA SAIA FURADA! A ANINHA ATÉ TREMEU AQUI DENTRO DA MINHA BARRIGA.
- E quando ela nasce, Jana? – perguntou Fabrício.
- Daqui alguns dias, ex-colega de trabalho. Só esperando a boa vontade dela.
- Você engordou, hein Jana?
- VOU TE DAR MEIA HORA DE TAPA NA CARA, RODRIGO! Não se deve falar isso para uma dama como eu.
- Dama? – Alexia riu.
- Calada, branquela azeda. Ai que badalo, eu sou chique. Estou numa videoconferência.
- Quem vê pensa. Alexia, como estão as crianças?
- Bem, Caio. Os dois dormindo. Ganhei uma folguinha.
- A Mila está mais calma?
- Acostumando, pobrezinha.
- E o Nico, Fabrício?
- Capotou agorinha, Caio. Hoje ele fez muita travessura.
- O que ele fez? – Vini franziu o cenho.
- Pulou, derrubou os brinquedos, correu e falou mais do que a Janaína. Só vendo para crer.
- Ai que badalo, eu falo mesmo.
- Janaína e esses bordões loucos dela.
- O Rodrigo está doidinho para ganhar meia hora de tapa na cara, só pode!
- Bate – meu irmão provocou.
- Ele gosta – Vini riu.
- Cala a boca, curandeiro.
- Seu toba, filho da puta!
- Não tem plantão hoje não, VIni?
- Não, Caio. Só amanhã.
- Coragem. E Bruna?
- Ela sim, no plantão.
- Coragem número dois. E Babí?
- Na casa dela. Não quis vir hoje porque está de TPM.
- CORAGEM – Fabrício e Vinícius gritaram. Alexia riu.
- O que você está resmungando aí, Janaína?
- Conversando com a minha filha, posso?
- Pobrezinha! Ela deve estar com medo dessa voz feia.
- Eu só não saio daqui agora e vou até o Morro do Dendé te dar uma surra, Alexia, porque estou cansada e muito pesada. Senão eu ia.
- Vem! Ai que loucura.
- Eu devo ter salgado a Santa Ceia para ela imitar os meus bordões.
- Félix? É você, Félix?
- Sou não, mas bem que eu queria que ele estivesse aqui na minha cama. Ai que badalo.
- Está tudo bem, Alexia? Parece tristinha?
- Está sim, Caio. Só estou cansada por causa dos meninos.
- EITA CABRUNCO DA PESTE DA GOTA SERENA DO RAIO DA SAIA FURADA, A MINHA FILHA ME DEU UM CHUTE TÃO FORTE QUE ACHO QUE QUEBROU AS MINHAS COSTELAS.
- Eu vou é quebrar a sua cara se você gritar de novo – falei.
- Quanta maldade – Fabrício falou.
Enzo se espreguiçou na cama e em seguida ficou de pé. Antes dele sair, segurei o gato no colo e coloquei o mesmo na câmera.
- Dá boa noite aos seus tios e sua avó, filho.
- Enzo!!! – Alexia abriu um sorriso.
- Oi, gato – Vinícius fez ar de curioso. – Que cara preta!
- Fala com seus tios!
- Não – ele miou.
- MAL-EDUCADO, AI QUE BADAAAAAAAAALO!
- Bicho fedorento – Rodrigo bufou. – Ele dorme aí na sua cama, é?
- Claro que não, ele tem a dele. Ele só fica aqui quando está muito frio.
- Porco. Nunca vi dormir com um gato na cama.
- Porco é o seu nariz, cachorro.
Ele latiu, o povo riu, Enzo foi embora e a conversa continuou até a madrugada. Foi ótimo vê-los ao mesmo tempo.
[DOIS DIAS DEPOIS...
De repente fiquei com uma vontade esquisita de falar com a Janaína e
não tive alternativa a não ser ligar para minha irmã. Eu só não sabia que
acabaria atrapalhando o trabalho de parto da pobre coitada.
- JÁ VAI NASCER?
- Já não era sem tempo, meu filho. Não aguentava mais esse peso. Ai que loucura.
- E quem está aí com você?
- Só meu bofe da academia e minha mãe.
- E o Wellington? Ansioso?
- Parece criança em dia de excursão da escola. Ai que idiota.
Eu ri.
- MEU SÃO ROMÃO DO MORRO DO ALEMÃO, LÁ VEM OUTRA CONTRAÇÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃO – ela berrou e eu ri.
- Calma, Jana!
- CALMA É O CACETE, “FÉLA” DA PUTA, NÃO É NO SEU RABO! AI QUE DOR DA GOTA SERENA!
Mesmo ela estando com dores, nós continuamos falando. Ela estava nervosa e por isso não quis desligar o celular.
- Calma, vai dar tudo certo.
- Cadê o infeliz do médico? Eu estou sofrendo! Chamem a ambulância!
- Você já está no hospital, menina – ouvi a mãe dela falando.
- Ai que badalo, eu esqueci.
- Vai ser normal?
- Está amarrado na saia de Nossa Senhora de Fátima! Cesária e tenho dito.
Só ela para brincar numa hora daquelas.
- MEU SÃO ANTENOR DO ARPOADOR, LÁ VEM MAIS UMA DOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOR... ME ACOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOODE, SANTA IRACEMA DE IPANEMA!!!
Até a mãe dela riu.
- AI MINHA PERERECA ESTÁ ARDEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEENDO...
Eu gargalhei.
- AI EU ACHO QUE ESTOU MIJADA!
- Não filha, é por causa da bolsa. Melhor ver onde o médico está.
- CADÊ AQUELE FEBRE DO RATO? SERÁ QUE ELE NÃO PERCEBE QUE EU ESTOU PARINDO?

- Calma, amiga. Vai dar tudo certo.
- SE CONTINUAR FILMANDO, EU QUEBRO OS SEUS DENTES, PERSONAL DOS OLHOS DE BOLA DE GUDE!
- Eu preciso registrar o nascimento da minha filha.
- NOSSA FILHA, CONDENADO. EU TAMBÉM FIZ ESSA MENINA!
- Está tudo bem? – ouvi uma voz masculina do outro lado.
- ATÉ QUE ENFIM, NÉ MÉDICO? DÁ PARA ME LEVAR ATÉ O CENTRO CIRÚRGICO OU ESTÁ DIFÍCIL?
- Acalme-se. Voce já será levada.
- ACALME-SE É O CACETE! NÃO É O TEU FURICO QUE ESTÁ DOENDO, “TIFE AMARELA”!!!
- JÁ VAI NASCER?
- Já não era sem tempo, meu filho. Não aguentava mais esse peso. Ai que loucura.
- E quem está aí com você?
- Só meu bofe da academia e minha mãe.
- E o Wellington? Ansioso?
- Parece criança em dia de excursão da escola. Ai que idiota.
Eu ri.
- MEU SÃO ROMÃO DO MORRO DO ALEMÃO, LÁ VEM OUTRA CONTRAÇÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃO – ela berrou e eu ri.
- Calma, Jana!
- CALMA É O CACETE, “FÉLA” DA PUTA, NÃO É NO SEU RABO! AI QUE DOR DA GOTA SERENA!
Mesmo ela estando com dores, nós continuamos falando. Ela estava nervosa e por isso não quis desligar o celular.
- Calma, vai dar tudo certo.
- Cadê o infeliz do médico? Eu estou sofrendo! Chamem a ambulância!
- Você já está no hospital, menina – ouvi a mãe dela falando.
- Ai que badalo, eu esqueci.
- Vai ser normal?
- Está amarrado na saia de Nossa Senhora de Fátima! Cesária e tenho dito.
Só ela para brincar numa hora daquelas.
- MEU SÃO ANTENOR DO ARPOADOR, LÁ VEM MAIS UMA DOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOR... ME ACOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOODE, SANTA IRACEMA DE IPANEMA!!!
Até a mãe dela riu.
- AI MINHA PERERECA ESTÁ ARDEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEENDO...
Eu gargalhei.
- AI EU ACHO QUE ESTOU MIJADA!
- Não filha, é por causa da bolsa. Melhor ver onde o médico está.
- CADÊ AQUELE FEBRE DO RATO? SERÁ QUE ELE NÃO PERCEBE QUE EU ESTOU PARINDO?
- Calma, amiga. Vai dar tudo certo.
- SE CONTINUAR FILMANDO, EU QUEBRO OS SEUS DENTES, PERSONAL DOS OLHOS DE BOLA DE GUDE!
- Eu preciso registrar o nascimento da minha filha.
- NOSSA FILHA, CONDENADO. EU TAMBÉM FIZ ESSA MENINA!
- Está tudo bem? – ouvi uma voz masculina do outro lado.
- ATÉ QUE ENFIM, NÉ MÉDICO? DÁ PARA ME LEVAR ATÉ O CENTRO CIRÚRGICO OU ESTÁ DIFÍCIL?
- Acalme-se. Voce já será levada.
- ACALME-SE É O CACETE! NÃO É O TEU FURICO QUE ESTÁ DOENDO, “TIFE AMARELA”!!!
ALGUNS DIAS DEPOIS...
- Por que você está andando com as pernas abertas desse jeito?
- Porque saiu uma melancia de dezesseis quilos por um lugar que só passava uma laranja de vinte gramas, peste bobônica.
Bruno e eu caímos na gargalhada.
- Vocês riem, né dois sarnentos? Janaínazinha está toda dolorida e parecendo uma couve-flor. Ai que derrota, a coitada ficou deformada.
- E onde está a minha sobrinha?
- Lavando roupa – ela fechou a cara. – NO QUARTO DELA, IMBECIL. ONDE MAIS?
- E ONDE É O QUARTO DELA, SONGA MONGA?
- NO FINAL DO CORREDOR, PESTE DA MINHA VIDA!!!
Bruno só fez dar risada. Nós fomos até o quarto da recém-nascida e a encontramos nos braços do papai bonitão.
- QUE LIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIINDA – Bruno quase teve um troço e eu não fiquei atrás.
- Jana do céu! – meus olhos brilharam. – Ela é gostosa demais!!!
- Puxou pra mãe – Janaína riu.
- Não – Bruno e eu falamos juntos. – Ela é a cara do pai, mas tem o seu cabelo!
- Eu devo ter salgado a Santa Ceia para ouvir uma coisa dessas!
Foi a vez do meu ex-personal cair na risada.
- Posso segurar?
- Pode sim – Wellington liberou. – Com cuidado.
Para variar um pouco, Bruno envolveu a menina com uma proteção inigualável e inenarrável. A criança ficou quietinha no colo do meu amado.
- Ô – ele falou baixinho.
- Parabéns, casal – falei. – Ela é uma fofa! Enorme!
- Nasceu com 52 centímetros e mais de 4 quilos. Por isso estou derrotada desse jeito. Acho que Janaínazinha nunca mais será a mesma.
- Aí não, hein? – Wellington olhou para a namorada.
- Cale-se. Olha a visita!
- Eles são de casa.
- Valeu, cunhado. Feliz com a cria?
- Porra! Não imagina o quanto. Sempre quis uma menina.
- Ela saiu a sua cara. A sua cara!
- Eita derrota! Eu carrego por nove meses e ainda sai com a cara desse nojento.
- Fazer o quê, né? – Well sorriu. – Eu sou foda.
- Dá ela um pouco? – pedi.
Bruno me passou a minha sobrinha e eu fiquei fazendo carinho nela por um tempão.
- Você é uma princesa, meu amor. Pena que nasceu com o cabelo ruim que nem o da sua mãe.
- Estou preta passada na chapinha!!! Eu devo ter sapateado no sermão da montanha para ouvir uma barbaridade dessas a essa altura do campeonato!
- Porque saiu uma melancia de dezesseis quilos por um lugar que só passava uma laranja de vinte gramas, peste bobônica.
Bruno e eu caímos na gargalhada.
- Vocês riem, né dois sarnentos? Janaínazinha está toda dolorida e parecendo uma couve-flor. Ai que derrota, a coitada ficou deformada.
- E onde está a minha sobrinha?
- Lavando roupa – ela fechou a cara. – NO QUARTO DELA, IMBECIL. ONDE MAIS?
- E ONDE É O QUARTO DELA, SONGA MONGA?
- NO FINAL DO CORREDOR, PESTE DA MINHA VIDA!!!
Bruno só fez dar risada. Nós fomos até o quarto da recém-nascida e a encontramos nos braços do papai bonitão.
- QUE LIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIINDA – Bruno quase teve um troço e eu não fiquei atrás.
- Jana do céu! – meus olhos brilharam. – Ela é gostosa demais!!!
- Puxou pra mãe – Janaína riu.
- Não – Bruno e eu falamos juntos. – Ela é a cara do pai, mas tem o seu cabelo!
- Eu devo ter salgado a Santa Ceia para ouvir uma coisa dessas!
Foi a vez do meu ex-personal cair na risada.
- Posso segurar?
- Pode sim – Wellington liberou. – Com cuidado.
Para variar um pouco, Bruno envolveu a menina com uma proteção inigualável e inenarrável. A criança ficou quietinha no colo do meu amado.
- Ô – ele falou baixinho.
- Parabéns, casal – falei. – Ela é uma fofa! Enorme!
- Nasceu com 52 centímetros e mais de 4 quilos. Por isso estou derrotada desse jeito. Acho que Janaínazinha nunca mais será a mesma.
- Aí não, hein? – Wellington olhou para a namorada.
- Cale-se. Olha a visita!
- Eles são de casa.
- Valeu, cunhado. Feliz com a cria?
- Porra! Não imagina o quanto. Sempre quis uma menina.
- Ela saiu a sua cara. A sua cara!
- Eita derrota! Eu carrego por nove meses e ainda sai com a cara desse nojento.
- Fazer o quê, né? – Well sorriu. – Eu sou foda.
- Dá ela um pouco? – pedi.
Bruno me passou a minha sobrinha e eu fiquei fazendo carinho nela por um tempão.
- Você é uma princesa, meu amor. Pena que nasceu com o cabelo ruim que nem o da sua mãe.
- Estou preta passada na chapinha!!! Eu devo ter sapateado no sermão da montanha para ouvir uma barbaridade dessas a essa altura do campeonato!
AINDA NO RIO DE JANEIRO...
Mesmo sendo final de semana, Bruno e eu não quisemos sair de casa
porque o pobrezinho tinha muita coisa da faculdade acumulada.
- Atrapalha se eu ligar a televisão?
- Que nada. Está na hora da novela, liga aí porque eu adoro o Félix.

- O seu clone? Eu também adoro.
- Meu clone?
- Não percebeu o quanto ele parece com você de vez em quando?
- SÓ NA SUA TERRA, CAIO! – Bruno gargalhou como nunca fez, desde que o conhecera.
- Eu acho – liguei a televisão e coloquei em “Amor à Vida”.
- Claro que não! Olha ele aí. Eu devo ter salgado a Santa Ceia.
- Prefiro o outro.
- Qual?
- Eu devo ter lavado minha cueca na mangedoura.
- Essa também é legal.
- Ele é foda. Eu morro de rir.
- Eu também.
Meu noivo e eu ficamos assistindo o folhetim numa boa, enquanto ele procurava o tema do trabalho na internet. Eu estava apaixonado pela trama.
- Olha a Amarílis.
- Odeio – comentei.
- Dois.
Naquele dia, a história falou de fertilização in vitro e na hora veio um “clique” na minha cabeça.
Bruno e eu nos olhamos imediatamente e deixamos os nossos olhos grudados. Eu sabia muito bem o que ele estava pensando e vice-versa.
- Será? – ponderamos.
Pausa. Uma longa pausa. Ele entreabriu os lábios e eu vi várias coisas passando pelos olhos dele, que brilhavam com intensidade.
- Por que não? – falamos novamente ao mesmo tempo.
- Atrapalha se eu ligar a televisão?
- Que nada. Está na hora da novela, liga aí porque eu adoro o Félix.
- O seu clone? Eu também adoro.
- Meu clone?
- Não percebeu o quanto ele parece com você de vez em quando?
- SÓ NA SUA TERRA, CAIO! – Bruno gargalhou como nunca fez, desde que o conhecera.
- Eu acho – liguei a televisão e coloquei em “Amor à Vida”.
- Claro que não! Olha ele aí. Eu devo ter salgado a Santa Ceia.
- Prefiro o outro.
- Qual?
- Eu devo ter lavado minha cueca na mangedoura.
- Essa também é legal.
- Ele é foda. Eu morro de rir.
- Eu também.
Meu noivo e eu ficamos assistindo o folhetim numa boa, enquanto ele procurava o tema do trabalho na internet. Eu estava apaixonado pela trama.
- Olha a Amarílis.
- Odeio – comentei.
- Dois.
Naquele dia, a história falou de fertilização in vitro e na hora veio um “clique” na minha cabeça.
Bruno e eu nos olhamos imediatamente e deixamos os nossos olhos grudados. Eu sabia muito bem o que ele estava pensando e vice-versa.
- Será? – ponderamos.
Pausa. Uma longa pausa. Ele entreabriu os lábios e eu vi várias coisas passando pelos olhos dele, que brilhavam com intensidade.
- Por que não? – falamos novamente ao mesmo tempo.
Era mais um dia como outro qualquer no RH da firma e eu estava cheio de
coisas para fazer. Uma delas, era dar continuidade ao processo seletivo que o
Roberto havia aberto semanas antes.
- Por que você vai realizar as entrevistas?
- Coisas do seu pai, Víctor. Eu também não entendi, mas tudo bem.
- O que ele alegou?
- Que precisa do melhor candidato para a vaga e que por isso eu devia entrevistar todos eles, por causa do meu feeling.
- Melhor para nós, seus liderados – o garoto riu.
- Para de graça, idiota. E aí, o que está achando?
- Amando, Caio! É uma delícia mexer com essas coisas.
- É uma delícia mesmo. Logo o trabalho aumentará, pelo menos para mim.
- Por causa das novas filiais, né?
- Uhum. Vou ter que viajar para Goiânia na semana que vem.
- Que máximo. Um dia eu quero fazer isso também.
- Em breve você fará. Bom, deixa eu descer que o pessoal está me esperando.
- Boa sorte.
- Obrigado!
Saí e desci até a sala onde eu realizaria as entrevistas do Roberto. Eram cinco candidatos e eu não fazia ideia de quem eles eram, porque até aquele momento, quem fez todo o trabalho foi o pessoal da minha equipe.

- Recepção, Luísa?
- Lú, é o Caio. Tudo bem?
- Oi, meu querido. Bem e você?
- Ótimo! O pessoal da penúltima fase do processo seletivo está aí?
- Sim!
- Libera de um em um, por favor?
- Qual sala você está?
- Dois.
- Deixa comigo. Qualquer ordem?
- Alfabética. Por favor.
- Pode deixar.
- Obrigado.
- Disponha.
Eu separei a papelada. Eu já tinha mais ou menos em mente o que queria perguntar para cada candidato. Será que demoraria muito?
Pouco tempo depois, bateram na porta e eu fui abri-la. A primeira candidata era uma balzaquiana, elegantérrima e muito perfumada.
- Boa tarde – estendi a mão. – Meu nome é Caio e você é a Daphne, correto?
- Exato.
- Muito prazer, Daphne. Pode sentar, fique à vontade. Será apenas um bate-papo.
Eu tentei ser o mais cordial e gentil possível. Durante as respostas, não tirei os olhos da face da mulher e ela não moveu os dela um segundo sequer.
A entrevista transcorreu na maior tranquilidade. Eu anotei os pontos positivos, os negativos, as falhas, os erros de pronúncia, o que me chamou a atenção e o que ela fez de errado para depois tomar a minha decisão.
- Uma qualidade?
- Falar bem.
Ela falava bem, mas falava errado de vez em quando. Falha da minha equipe que deixou passar despercebido.
- Um defeito?
- Ansiedade.
Clichê demais. Não gostei.
- Por que eu devo te contratar?
- Porque eu sou a melhor dentre os outros e porque eu tenho muito a agregar à empresa.
Anotei a frase. Se sentiu demais. Cadê a humildade?
- Perfeito. É isso.
Ela respirou fundo.
- Nós entraremos em contato dando o resultado, seja positivo ou negativo. Faremos isso até o final da semana.
- Perfeito. Obrigada.
- Eu é que agradeço. É só sair e deixar o crachá na recepção.
- Tudo bem. Muito obrigada!
- Eu é que agradeço. Boa sorte.
Levei a mulher até a porta e quando ela saiu, a fechei com suavidade. Voltei para a mesa, fiz mais algumas anotações e ponderei se deveria passá-la para a fase final ou não. Eu estava em dúvida.
Passei os olhos pela ficha do candidato seguinte, mas não me atentei a nenhum detalhe além do primeiro nome. O mesmo não tardou a bater na porta.
Eu respirei fundo. Ainda faltavam quatro pessoas. Eu esperava que desse tempo terminar tudo até o final do meu expediente.
Girei a maçaneta e a puxei. Nesse momento, eu o vi parado no corredor. Nossos olhos grudaram, nossos lábios abriram e meu coração começou a acelerar imediatamente.
Eu não acreditei que era ele. Como? Como isso passou desapercebido por mim? Como ele estava participando daquele processo de contratação e eu não fiquei sabendo?
Será que foi falha minha? Será que eu não dei a devida atenção as informações que me foram passadas? Como eu pude ser tão desleixado? Como?!
- VOCÊ? – Edson e eu falamos ao mesmo tempo, ambos em choque com o que estava acontecendo.

- Por que você vai realizar as entrevistas?
- Coisas do seu pai, Víctor. Eu também não entendi, mas tudo bem.
- O que ele alegou?
- Que precisa do melhor candidato para a vaga e que por isso eu devia entrevistar todos eles, por causa do meu feeling.
- Melhor para nós, seus liderados – o garoto riu.
- Para de graça, idiota. E aí, o que está achando?
- Amando, Caio! É uma delícia mexer com essas coisas.
- É uma delícia mesmo. Logo o trabalho aumentará, pelo menos para mim.
- Por causa das novas filiais, né?
- Uhum. Vou ter que viajar para Goiânia na semana que vem.
- Que máximo. Um dia eu quero fazer isso também.
- Em breve você fará. Bom, deixa eu descer que o pessoal está me esperando.
- Boa sorte.
- Obrigado!
Saí e desci até a sala onde eu realizaria as entrevistas do Roberto. Eram cinco candidatos e eu não fazia ideia de quem eles eram, porque até aquele momento, quem fez todo o trabalho foi o pessoal da minha equipe.
- Recepção, Luísa?
- Lú, é o Caio. Tudo bem?
- Oi, meu querido. Bem e você?
- Ótimo! O pessoal da penúltima fase do processo seletivo está aí?
- Sim!
- Libera de um em um, por favor?
- Qual sala você está?
- Dois.
- Deixa comigo. Qualquer ordem?
- Alfabética. Por favor.
- Pode deixar.
- Obrigado.
- Disponha.
Eu separei a papelada. Eu já tinha mais ou menos em mente o que queria perguntar para cada candidato. Será que demoraria muito?
Pouco tempo depois, bateram na porta e eu fui abri-la. A primeira candidata era uma balzaquiana, elegantérrima e muito perfumada.
- Boa tarde – estendi a mão. – Meu nome é Caio e você é a Daphne, correto?
- Exato.
- Muito prazer, Daphne. Pode sentar, fique à vontade. Será apenas um bate-papo.
Eu tentei ser o mais cordial e gentil possível. Durante as respostas, não tirei os olhos da face da mulher e ela não moveu os dela um segundo sequer.
A entrevista transcorreu na maior tranquilidade. Eu anotei os pontos positivos, os negativos, as falhas, os erros de pronúncia, o que me chamou a atenção e o que ela fez de errado para depois tomar a minha decisão.
- Uma qualidade?
- Falar bem.
Ela falava bem, mas falava errado de vez em quando. Falha da minha equipe que deixou passar despercebido.
- Um defeito?
- Ansiedade.
Clichê demais. Não gostei.
- Por que eu devo te contratar?
- Porque eu sou a melhor dentre os outros e porque eu tenho muito a agregar à empresa.
Anotei a frase. Se sentiu demais. Cadê a humildade?
- Perfeito. É isso.
Ela respirou fundo.
- Nós entraremos em contato dando o resultado, seja positivo ou negativo. Faremos isso até o final da semana.
- Perfeito. Obrigada.
- Eu é que agradeço. É só sair e deixar o crachá na recepção.
- Tudo bem. Muito obrigada!
- Eu é que agradeço. Boa sorte.
Levei a mulher até a porta e quando ela saiu, a fechei com suavidade. Voltei para a mesa, fiz mais algumas anotações e ponderei se deveria passá-la para a fase final ou não. Eu estava em dúvida.
Passei os olhos pela ficha do candidato seguinte, mas não me atentei a nenhum detalhe além do primeiro nome. O mesmo não tardou a bater na porta.
Eu respirei fundo. Ainda faltavam quatro pessoas. Eu esperava que desse tempo terminar tudo até o final do meu expediente.
Girei a maçaneta e a puxei. Nesse momento, eu o vi parado no corredor. Nossos olhos grudaram, nossos lábios abriram e meu coração começou a acelerar imediatamente.
Eu não acreditei que era ele. Como? Como isso passou desapercebido por mim? Como ele estava participando daquele processo de contratação e eu não fiquei sabendo?
Será que foi falha minha? Será que eu não dei a devida atenção as informações que me foram passadas? Como eu pude ser tão desleixado? Como?!
- VOCÊ? – Edson e eu falamos ao mesmo tempo, ambos em choque com o que estava acontecendo.
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