-Não poderia ser verdade. Eu não acreditei que aquilo fosse verdade!
Simplesmente não acreditei!
Me senti inerte e sem saber o que fazer. Muitas vezes eu me senti assim, mas daquela vez foi muito pior, muito pior mesmo.
- Mas... Mas como?
- Eu não sei, Caio, eu não sei – ela se desesperou mais ainda.
- Onde foi isso, Ellen? – eu também caí no desespero.
- Aqui na frente da minha casa!!!
- Meu Deus do céu, isso não pode ser verdade!
- MAS É! ELE FOI ATROPELADO E EU NÃO SEI SE ELE ESTÁ VIVO!!!
Ouvir essa frase me matou. Eu senti vontade de desmaiar e fui obrigado a sentar no chão, senão eu poderia cair.
Me senti inerte e sem saber o que fazer. Muitas vezes eu me senti assim, mas daquela vez foi muito pior, muito pior mesmo.
- Mas... Mas como?
- Eu não sei, Caio, eu não sei – ela se desesperou mais ainda.
- Onde foi isso, Ellen? – eu também caí no desespero.
- Aqui na frente da minha casa!!!
- Meu Deus do céu, isso não pode ser verdade!
- MAS É! ELE FOI ATROPELADO E EU NÃO SEI SE ELE ESTÁ VIVO!!!
Ouvir essa frase me matou. Eu senti vontade de desmaiar e fui obrigado a sentar no chão, senão eu poderia cair.
- Não fala uma coisa dessas – chorei e chorei bonito.
- O pessoal da ambulância está removendo o corpo dele. Eu vou desligar. Eu vou com eles.
- NÃO! NÃO DESLIGA! ME FALA ONDE É ESSE HOSPITAL QUE EU VOU DIRETO PARA LÁ!
- Eu não sei para onde eles estão indo, eu não faço ideia! EU VOU, EU VOU!!!
Eu só ouvia a movimentação do outro lado da linha. Eu não conseguia imaginar o meu irmão morto! Não conseguia.
- Cauã – chamei o nome dele baixinho. – Mano...
- SAI DA FRENTE, BANDO DE CURIOSOS DO CARALHO! VÃO CUIDAR DA VIDA DE VOCÊS!
Cauã...
- EU VOU NA AMBULÂNCIA, PAI! EU VOU, VAI DE CARRO, DEIXA QUE EU VOU COM ELE. EU VOU!
Meu irmão...
- Dá licença, dá licença – Ellen estava afobada. – Eu sou a noiva dele, eu vou com ele. Eu vou...
Meu gêmeo...
Eu só ouvia a respiração acelerada e o choro da Ellen pelo telefone. Eu não conseguia me levantar do chão e não sentia mais as minhas pernas.
- Para onde estão levando ele? Para onde?
- Santa Casa.
Santa Casa? Eu me levantei de chofre e saí correndo atrás de táxi.
- Caio, ele está indo para a Santa Casa.
- Eu ouvi! Ele não...
- Ele está...?
- Não, ele está vivo.
- GRAÇAS A DEUS! – Ellen e eu berramos ao mesmo tempo.
- Mas como ele está? Por que ele não se mexe?
- Não termos nenhum diagnóstico. Ele precisa ser examinado. Ele só está desacordado.
Não falei mais nada com minha cunhada. Desliguei o telefone, saí correndo atrás de táxi e acabei encontrando um no meio do meu trajeto.
- TÁXI, TÁXI, PAAAAAAAAAAAAAAARA!!!
O veículo parou, eu abri a porta, entrei, bati a mesma com certa ferocidade e coloquei o cinto de segurança.
- VAI VOANDO PRA SANTA CASA, MOÇO!
Eu tremia, suava frio e estava ofegante. Eu queria saber o que tinha acontecido com o Cauã e precisava saber naquele momento. Eu estava muito angustiado com toda aquela situação.
- Alô? – atendi sem ver o identificador.
- Amor? Está tudo bem?
- Não, Bruno!
- O que houve? Eu tive um mau pressentimento e resolvi te ligar.
- Cauã foi atropelado.
- O QUÊ?!
- Eu não sei bem o que aconteceu, só sei que ele está indo pro hospital. Eu estou indo ao encontro dele.
- Mas ele está bem, Caio? Como isso foi acontecer?
- Eu não sei, não sei de nenhum detalhe! Só sei que foi na frente da casa da Ellen. Eu te ligo quando souber de notícias.
- Eu não sei, não sei de nenhum detalhe! Só sei que foi na frente da casa da Ellen. Eu te ligo quando souber de notícias.
- Por favor! Eu vou orar por ele.
- Obrigado. Te amo.
- Eu também!
Para piorar, o taxista levou uma eternidade até chegar na Santa Casa de Misericórdia. Isso me deixou ainda pior.
- Não dá para ir mais rápido?
- Só se eu voar por cima dos outros carros.
- MERDA DE TRÂNSITO DE SÃO PAULO!!!
Mesmo sendo feriado, alguns pontos da cidade estavam congestionados. Parecia que nada estava ao meu favor naquele momento.
Quando estava mais ou menos perto do hospital, resolvi ligar para a minha mãe. Ela precisava saber o que estava acontecendo e provavelmente a Ellen não fez nenhum contato com a mesma.
- Alô? – quem atendeu foi o Edson.
- Edson, é o Caio.
Ele desligou o telefone na minha cara e isso me deixou puto da vida!
- Santa infantilidade, meu Deus do céu!
Tive que fazer outra ligação e Edson novamente atendeu o telefone fixo da residência.
- Alô?
- Não desliga essa porra desse telefone, caralho!
- Que diabos você quer? Não tenho nada para falar com você, moleque!
- Eu tenho que dar...
- Ah, cala a boca e me deixa em paz!
- O CAUÃ FOI ATROPELADO!
Silêncio. Ele não desligou, mas também não falou nada.
- O que você disse?
- Está surdo? Eu falei que o Cauã foi atropelado!
- O Cauã? Atropelado?
- O QUE ACONTECEU COM MEU FILHO? – ouvi o berro da minha mãe.
- É, Edson, está ficando surdo? Eu não sei explicar como isso aconteceu, só sei que ele foi atropelado na frente da casa da Ellen e que está indo para a Santa Casa nesse exato momento!
- Você não tem mais o que fazer não, garoto? Fica brincando com uma coisa séria dessas?!
- EU NÃO ESTOU BRINCANDO, CACETE! EU NÃO BRINCARIA COM ISSO, É SÉRIO! ELE FOI ATROPELADO E ESTÁ INDO PARA A SANTA CASA!
Silêncio. Acho que nessa hora ele acreditou em mim.
- Meu Deus do céu – foi o que ele disse.
- Eu estou indo para lá, eu não sei como ele está e como isso aconteceu. Não tive detalhes.
- Quem te contou isso?
- A Ellen me ligou do celular dele.
- Meu Deus... Eu estou indo para lá.
Ele desligou e eu coloquei o celular no bolso. Menos de cinco minutos depois, o taxista estacionou na frente do hospital.
- O troco é sua gorjeta. Obrigado.
Saí correndo até a entrada do local e quando cheguei na recepção, dei de cara com os sogros do meu irmão gêmeo. Eles estavam fazendo a ficha de internação.
- Hilda, Hilda, como ele está?
- Não sabemos, Caio. Ele está fazendo exames.
- Mas como foi isso, meu Deus?
- Nós não sabemos porque não vimos, mas os vizinhos falaram que um bêbado virou a esquina e pegou ele em cheio.
- Puta que pariu! Mas como será que ele está?
- Nós de fato não sabemos. Precisamos aguardar o resultado dos exames.
- Ele estava acordado?
- Não, não estava.
- Será que machucou muito? – fiquei todo dolorido por dentro por causa disso.
- Provavelmente sim. O impacto foi grande.
- Meu Deus do céu! Cuida do meu irmão! Cadê a Ellen?
- Lá no corredor, esperando por notícias.
Fui atrás da minha cunhada e a encontrei aos prantos. A moça estava mesmo desesperada e não conseguia se controlar.
- Eu estou com medo! – ela me abraçou.
- Calma – chorei junto. – Vai ficar tudo bem!
- Ele não se mexe, Caio! Ele não se mexe!
- Ele deve ter desmaiado, não se preocupe. Vai ficar tudo bem!
Eu estava com tanta angústia, que nem senti fome. Fiquei andando para um lado e para o outro, a fim de saber de notícias, mas isso nunca acontecia.
- Caio – Edson saiu correndo ao meu encontro e quase trombou comigo no meio do corredor. – Onde ele está?
- Fazendo exames, mas esses exames estão durando mais de uma hora!
- Meu filho, meu filho – minha mãe me abraçou. – Diz que seu irmão está bem, diz?
- Eu não sei, mãe! Não sei como ele está, não faço a menor ideia!
- Como ele foi atropelado, meu Deus do céu?
- Quem sabe maiores detalhes são os pais da Ellen, Edson. Melhor falar com eles.
Meu pai saiu e minha mãe ficou agarrada comigo. Ela tremia de tão nervosa que estava.
- Ai que angústia no meu coração!
- Eu também estou, mãe, mas vamos manter a calma e ter fé em Deus!
Depois da chegada dos meus pais, nós ainda ficamos mais de meia hora sem notícias dele. Nós só recebemos as informações quando o relógio marcou três horas da tarde.
- Familiares de Cauã Monteiro?
Nós parecemos uma manada de elefantes correndo na África do Sul. Eu não sei qual de nós estava mais nervoso e angustiado com a situação do meu irmão gêmeo.
- Como está meu filho? – falaram meu pai e minha mãe.
- Como está meu noivo?
- Como está meu irmão?
- O paciente encontra-se com uma fratura na parna esquerda e outra no braço direito.
Eu prendi a respiração. Pobre Cauã!
- E que mais? – perguntou o pai da Ellen.
- Ele teve várias escoriações pelo corpo, já existem alguns hematomas, mas fora isso não existe nenhuma outra complicação.
- Graças a Deus – foi um côro.
- Dada a gravidade do acidente que ele sofreu, podemos considerar que seja um milagre ele estar vivo.
E era mesmo. Um milagre de Deus que se estabeleceu em nossas vidas.
- Mas por que ele ficou tanto tempo desacordado?
- Nós não sabemos por qual motivo isso aconteceu – o médico foi sincero. – Pensamos que ele estivesse com alguma hemorragia no cérebro, mas os exames acusam que ele não sofreu nenhuma lesão na cabeça. Foi de fato um milagre.
- Louvado seja Jesus Cristo! – minha mãe suspirou.
- Ele pode ir para casa? – indaguei.
- Não. Nós preferimos deixá-lo aqui por no mínimo 72 horas. Como ele bateu com a cabeça, podem ocorrer alguns sintomas nas próximas horas e é melhor que ele fique internado apenas por desencargo de consciência.
- Nós podemos vê-lo? – a noiva já estava mais tranquila.
- Sim, podem. Ele está acordado e consciente. Só peço que entrem aos poucos, senão haverá muito tumulto.
Os primeiros a irem foram os meus pais. Eu fiquei aliviado, contente e agradecido a Deus por nada mais grave ter acontecido com o meu irmão. Eu não sei o que seria de mim se ele tivesse falecido nesse acidente.
Quando a Ellen e eu entramos, nós tomamos um susto porque os dois braços dele estavam em uma tipoia. Foi muito difícil vê-lo naquela situação.
- Como você está? – a Ellen já estava chorando novamente.
- Eu estou com muita dor no corpo...
- Como isso aconteceu, mano?
- Eu estava atravessando a rua e de repente um carro virou na esquina e me atingiu em cheio. Depois eu não me lembro de mais nada.
- Mas você não viu o carro, cara?
- Ele estava muito rápido, eu não tive como desviar e o sinal de pedestres estava aberto. Não foi minha culpa.
- Não falei que foi sua culpa – fiquei muito sem graça.
- Não está sentindo nada na cabeça, amor?
- Um pouco de dor, mas só. O que me mata mesmo é a perna.
- Calma, vai ficar tudo bem.
- Eu não quero ficar aqui!
- Vai ficar por três dias – falei. – É para o seu bem!
Nós falamos pouco. Depois de mais algumas palavras, nos despedimos e saímos para os pais da Ellen verem o genro.
- Eu vou buscar umas roupas para ele e alguns itens de higiene.
- Faz isso sim, Edson. Ele vai precisar.
- É um absurdo não deixarem alguém ficar como acompanhante.
- É assim mesmo, mãe. É assim mesmo. O importante é que agora ele está bem. Foi um milagre!
- Graças a Deus – eles falaram ao mesmo tempo.
Nesse momento, Edson e eu não ficamos com nossas brigas. O acidente do Cauã nos uniu e isso me deixou feliz. Será que vinha uma trégua por aí?
- Eu volto aqui, trago as coisas dele e na volta faço o B.O! Ainda bem que anotaram a placa do carro desse imbecil. Eu vou descobrir quem é ou não me chamo Edson Monteiro.
Nesse momento, eu dei apoio ao meu pai. Ele tinha mesmo que descobrir quem era para que o cara pagasse pelo acidente do meu irmão.
- Eu vou para casa – falei. – Depois eu volto para ver como ele está.
- Obrigada por tudo, filho.
- Nada, mãe. Qualquer coisa me liguem, seja a hora que for.
- Pode deixar.
- Caio? – ouvi a voz do meu pai quando já estava quase dobrando a esquina.
- Eu? – virei e o encarei.
Pausa. Ele me fitou. Os olhos dele estavam enigmáticos.
- Obrigado.
Fiquei em choque. Ele? Me agradecendo?
- De nada, Edson.
- Você está vindo em São Paulo com tanta frequência que eu já estou
ficando mal-acostumado.
- Não foi você mesmo que disse que eu tinha que me mudar para cá? Pois é, estou resolvendo isso.
- SÉRIO?
- Sim – Rodrigo me fitou com a face séria. – Eu venho por dois motivos.
- Por minha causa e por minha causa? – eu sorri.
- Não, idiota.
Fiquei frustrado.
- Eu venho porque virei docente em uma universidade e porque aqui o meu salário será maior.
- Foi promovido?
- Pois é, fui.
- Parabéns! Então quer dizer que você não vem por minha causa, né?
Ele sorriu e me abraçou.
- E por você também, chato. Eu não consigo viver longe de você, você sabe disso.
- Estou feliz agora, embora ainda esteja preocupado com o Cauã.
- Eu sei que está, mas vai ficar tudo bem.
- É, vai sim! Quer jantar fora?
- Quero. Estou com vontade de comer besteira.
- E a dieta da academia, Rodrigo? Seu casamento está logo aí na frente!
- Que porra de dieta que nada, eu não sirvo para essas coisas. Anda, me leva para comer um belo hot dog.
Acabou que essa também foi a minha janta. Confesso que há muito não comia um cachorro quente tão gostoso como aquele.
- Maravilhoso – ele falou de boca cheia.
- Para de falar com a boca cheia!
- Para você também!
Nós rimos.
- Eu vou ver o Cauã daqui a pouco. Se importa de esperar?
- Eu vou contigo. Será que posso entrar?
- Claro! Ele vai ficar feliz em te ver.
Meus dois irmãos já estavam virando amigos. Eles se davam bem e viviam trocando ideia pelas redes sociais e pelo WhatsApp.
- Não foi você mesmo que disse que eu tinha que me mudar para cá? Pois é, estou resolvendo isso.
- SÉRIO?
- Sim – Rodrigo me fitou com a face séria. – Eu venho por dois motivos.
- Por minha causa e por minha causa? – eu sorri.
- Não, idiota.
Fiquei frustrado.
- Eu venho porque virei docente em uma universidade e porque aqui o meu salário será maior.
- Foi promovido?
- Pois é, fui.
- Parabéns! Então quer dizer que você não vem por minha causa, né?
Ele sorriu e me abraçou.
- E por você também, chato. Eu não consigo viver longe de você, você sabe disso.
- Estou feliz agora, embora ainda esteja preocupado com o Cauã.
- Eu sei que está, mas vai ficar tudo bem.
- É, vai sim! Quer jantar fora?
- Quero. Estou com vontade de comer besteira.
- E a dieta da academia, Rodrigo? Seu casamento está logo aí na frente!
- Que porra de dieta que nada, eu não sirvo para essas coisas. Anda, me leva para comer um belo hot dog.
Acabou que essa também foi a minha janta. Confesso que há muito não comia um cachorro quente tão gostoso como aquele.
- Maravilhoso – ele falou de boca cheia.
- Para de falar com a boca cheia!
- Para você também!
Nós rimos.
- Eu vou ver o Cauã daqui a pouco. Se importa de esperar?
- Eu vou contigo. Será que posso entrar?
- Claro! Ele vai ficar feliz em te ver.
Meus dois irmãos já estavam virando amigos. Eles se davam bem e viviam trocando ideia pelas redes sociais e pelo WhatsApp.
- Está se sentindo melhor?
- Mais ou menos, Caio. A minha perna ainda está doendo muito.
- Mas vai ficar bem, tá?
- Já tentaram descobrir quem fez isso, Cauã?
- Meu pai abriu um Boletim de Ocorrência, Rodrigo. Eles vão investigar pela placa do carro. Eu vou prestar depoimento amanhã.
- Como? – estranhei.
- Um policial vem aqui no hospital me fazer algumas perguntas.
- Ah, sim! Vamos rezar para que eles encontrem esse filho da puta!
DOIS DIAS DEPOIS...
- OI, mãe? – atendi ao celular.
- Tudo bem, filho?
- Bem e você?
- Mais ou menos.
- O que foi? O Cauã não está bem?
- Está, está sim. Já está até de alta aqui em casa.
- Sério? Que bom, mãe! Graças a Deus.
- É, só que ele não quer ficar aqui.
- Como assim? Por que não?
- Seu pai brigou com ele e ele está chateado.
- Por que? O Edson é trouxa ou o quê? Por que ele brigou com o Cauã nesse momento?
- Eles discutiram porque seu pai quer se meter no casamento dele e também porque seu pai não quer me deixar fazer a faculdade. Daí eles brigaram e agora seu irmão não quer mais ficar aqui em casa.
- Assim que eu sair do trabalho eu vou até aí e converso com o Cauã. Se ele quiser, ele pode ficar no meu apartamento.
- Não iria te causar incômodo?
- Por favor, né mãe? Claro que não!
- Só que ele precisa de cuidados, meu filho! Como você pode cuidar dele sendo que você trabalha o dia todo?
- O problema é esse. Só que se for o caso, você pode ficar aqui cuidando dele.
- E os gêmeos?
- Leva os gêmeos, oras. Ou se for o caso, deixa eles na creche.
- A gente vê então. A gente vê.
Quando eu cheguei na casa dos meus pais, entendi que a coisa era mais grave do que eu poderia imaginar. Eles até se ofenderam e isso deixou o Cauã extremamente revoltado com o pai.
- Por que ele quer se meter no seu casamento?
- Fica dando pitaco de onde devemos fazer a festa, quem devemos convidar, quem devemos deixar de convidar, onde vai ser a igreja e por aí vai.
- Aposto que ele está falando isso por minha causa.
- Não só pela sua, mas também pelas primas da Ellen que são lésbicas.
- Está difícil a situação, hein?
- Muito – minha mãe suspirou. – Eu já estou cansada.
- Não é para menos. Não é para menos.
- Tem certeza que eu posso ficar lá, Caio?
- Claro que pode! Não tem problema algum. Só se você não quiser.
- Eu quero – ele ficou sem graça. – Porque aqui não dá mais. O clima está muito pesado.
- Então vamos, oras. Vai ser um prazer ter você por perto.
- Tudo bem, filho?
- Bem e você?
- Mais ou menos.
- O que foi? O Cauã não está bem?
- Está, está sim. Já está até de alta aqui em casa.
- Sério? Que bom, mãe! Graças a Deus.
- É, só que ele não quer ficar aqui.
- Como assim? Por que não?
- Seu pai brigou com ele e ele está chateado.
- Por que? O Edson é trouxa ou o quê? Por que ele brigou com o Cauã nesse momento?
- Eles discutiram porque seu pai quer se meter no casamento dele e também porque seu pai não quer me deixar fazer a faculdade. Daí eles brigaram e agora seu irmão não quer mais ficar aqui em casa.
- Assim que eu sair do trabalho eu vou até aí e converso com o Cauã. Se ele quiser, ele pode ficar no meu apartamento.
- Não iria te causar incômodo?
- Por favor, né mãe? Claro que não!
- Só que ele precisa de cuidados, meu filho! Como você pode cuidar dele sendo que você trabalha o dia todo?
- O problema é esse. Só que se for o caso, você pode ficar aqui cuidando dele.
- E os gêmeos?
- Leva os gêmeos, oras. Ou se for o caso, deixa eles na creche.
- A gente vê então. A gente vê.
Quando eu cheguei na casa dos meus pais, entendi que a coisa era mais grave do que eu poderia imaginar. Eles até se ofenderam e isso deixou o Cauã extremamente revoltado com o pai.
- Por que ele quer se meter no seu casamento?
- Fica dando pitaco de onde devemos fazer a festa, quem devemos convidar, quem devemos deixar de convidar, onde vai ser a igreja e por aí vai.
- Aposto que ele está falando isso por minha causa.
- Não só pela sua, mas também pelas primas da Ellen que são lésbicas.
- Está difícil a situação, hein?
- Muito – minha mãe suspirou. – Eu já estou cansada.
- Não é para menos. Não é para menos.
- Tem certeza que eu posso ficar lá, Caio?
- Claro que pode! Não tem problema algum. Só se você não quiser.
- Eu quero – ele ficou sem graça. – Porque aqui não dá mais. O clima está muito pesado.
- Então vamos, oras. Vai ser um prazer ter você por perto.
Como naqueles últimos meses eu estava recebendo hóspedes com frequência,
acabei comprando uma bicama e a deixei no quarto que um dia seria do meu filho
ou filha. Isso salvou a vida do Cauã.
- Tem certeza que não quer ficar na minha cama?
- Eu não quero causar incômodo, Caio. Aqui está ótimo!
- Não é incômodo nenhum, mano! Eu posso ficar aqui numa boa.
- Não, eu fico. Fica tranquilo.
- Então tá. Eu vou ajeitar tudo pra você. Já comeu?
- Não.
- Eu vou fazer a janta pra gente então.
- Tem certeza que não quer ficar na minha cama?
- Eu não quero causar incômodo, Caio. Aqui está ótimo!
- Não é incômodo nenhum, mano! Eu posso ficar aqui numa boa.
- Não, eu fico. Fica tranquilo.
- Então tá. Eu vou ajeitar tudo pra você. Já comeu?
- Não.
- Eu vou fazer a janta pra gente então.
Seria ótimo tê-lo por perto, mesmo naquelas circunstâncias. Pelo menos seria uma companhia para mim. Eu me sentia sozinho de vez em quando, mesmo com a presença do Enzo.
- Eu adoro feijão com carne seca.
- É uma delícia, né? Aprendi a fazer com a diarista que trabalha com o Bruno.
- É maravilhoso. A mãe da Ellen faz direto.
- Está sentindo muita dor?
- Só um pouco. Os remédios estão ajudando bastante.
- Que bom. Se precisar de alguma coisa, é só falar.
- Uhum. Espero não te dar trabalho. Eu vou me virando conforme posso.
- Não é trabalho nenhum, mano. Eu fico feliz que esteja aqui comigo.
- Eu também estou feliz de estar aqui com você.
Cauã e eu conversamos muito sobre o Edson e o papo foi bem tenso. Meu irmão também estava muito chateado com nosso pai e isso iria acabar afastando os dois.
- O jeito é dar tempo ao tempo e rezar para que ele mude a mentalidade dele.
- É complicado, Caio. É muito complicado.
- Eu sei bem, Cauã. Eu sei o que sofro nas unhas dele.
- Isso porque ele nem monta em cima de você, hein? Imagina se montasse.
- Nosso pai é um ser que precisa de muita luz e de muito entendimento. Ele ainda precisa aprender muito nessa vida.
- Vamos torcer para que isso ocorra.
- É. Vamos torcer. Quer ir para o quarto?
- Hã – ele coçou a nuca. – Será que eu posso tomar banho?
- Lógico! Você precisa de ajuda para isso, né?
- Sim – ele corou de imediato.
- Eu te ajudo. Se não se importar.
- Eu não me importo.
Levei o coitado até o banheiro e lá o ajudei a tirar a camiseta. O gesso atrapalhava muito, mas era algo extremamente necessário.
- Eu vou colocar uma sacola, espera aí.
Envolvi o braço direito dele em duas sacolas para que não molhasse o gesso. Eu nunca imaginei ver o meu irmão naquela situação.
O pior de tudo, foi despi-lo por completo. Isso nos deixou extremamente constrangidos.
- Que vergonha!
- Não precisa ficar – mas eu também estava.
Não sei como ele topou ficar pelado na minha frente. Se fosse no passado, isso jamais teria acontecido.
- Quem te ajudava no hospital?
- Os enfermeiros ou a Ellen.
- Pensei que fosse o Edson.
- Não, não deixei ele fazer isso.
Coloquei o jovem debaixo do chuveiro e lhe passei um sabonete e uma toalha seca. Ele tomou banho praticamente sozinho, só teve dificuldade na hora de lavar o cabelo e o braço bom. Nisso eu tive que ajudar.
- Fica quieto, porra.
- Desculpa!
Banho terminado, tive que ajudá-lo a se vestir e essa foi outra parte complicada porque ele não conseguia colocar a cueca sozinho.
- Foi, foi. Pronto!
- Obrigado, mano.
- Sabe que pode contar comigo sempre, não sabe?
- Sei. Você pode contar comigo também.
- Eu sei disso. Vamos deitar? Ou quer assistir televisão?
- Posso ficar na sala um pouco?
- A casa é sua! Você pode fazer o que quiser. Não precisa ficar com vergonha de nada.
- Obrigado, Caio! Eu não sei o que seria de mim sem você nesse momento.
Confesso que foi ótimo ouvir isso. Cauã e eu não éramos nem a sombra do que fomos no passado. Naquele momento não existia briga, rivalidade e nem nada que afligisse a nossa relação. Naquele momento, éramos irmãos e a nossa relação era como do jeito que tinha que ser, da forma como sempre teve que ser. E isso me deixou feliz da vida.
- Meu amor – ele largou as malas e correu para me abraçar.
- Hum – caí nos braços do Bruno e me senti aliviado por ele estar ali comigo.
- Que saudade!
- E eu de você!
- Seu irmão está melhor?
- Está, tadinho. Lá em casa ainda. Ele vai ficar lá até tirar os dois gessos.
- Então a coisa com seu pai foi feia mesmo.
- Nem tanto por isso, é que ele está se sentindo bem lá e é melhor porque não tem degraus e ele tem mais liberdade de ir e vir quando quiser.
- Quem diria, né Caio?
- É, Bruh. Quem diria.
- O mundo dá voltas mesmo. Olha de quem ele tem que depender.
- Verdade. É a justiça de Deus que tarda, mas não falha!
- Anjo, a Gertrudes está ficando imensa de gorda!
- Ô, que linda! Eu mal posso esperar para os nossos netinhos nascerem.
Gertrudes Filomena enfim estava grávida. Depois de muitas tentativas, ela conseguiu engravidar e Bruno e eu estávamos ansiosos para que os filhotinhos nascessem logo de uma vez.
- E a faculdade, mocinho?
- Vai bem, obrigado. Começo de semestre é sempre muito tranquilo.
- Agora sim é o penúltimo e nesse ano sim você se forma.
- Graças a Deus, eu não vejo a hora.
- Sabe, Bruno, eu estive pensando.
- No nosso casamento?
- Isso aí. Eu acho melhor adiarmos a data.
- Eu sei, eu também acho melhor. Com seu irmão na sua casa não tem como.
- É. Ele depende de mim pra quase tudo.
- Mas quando ele tira o gesso?
- Daqui três semanas ainda. Vai demorar.
- De fato, não dá tempo.
- Tem problema pra você?
- Claro que não. Tem que ser em um momento em que todos possam comparecer no churrasco.
- Então a gente adia. Ou melhor, você adia.
- Deixa comigo. Eu faço isso quando chegar lá no Rio!
Quando chegamos no apartamento, notei que o Cauã ficou muito constrangido por ficar no meio de nós dois, mas isso não nos importou. Não mesmo.
- Está melhor das escoriações, Cauã?
- Estou, Bruno. Agora só falta tirar esses gessos mesmo.
- Imagino o quanto seja difícil para você ficar com a perna e o braço engessados.
- É horrível. Eu só fico deitado e isso já está me deixando irritado.
- Nesses momentos, nós temos que ter paciência.
- Verdade – concordei com meu amado.
Aquele foi um final de semana extremamente tranquilo. Mesmo com meu irmão na área, Bruno e eu conseguimos namorar numa boa. Nós só tivemos que controlar os nossos instintos para sermos discretos.
- Te amo – falei, quando ele chegou ao orgasmo.
- Eu também te amo!
E o melhor de tudo, foi ver como o relacionamento dos cunhados estava evoluindo. O Cauã respeitava muito a presença do Bruno e vice-versa. Isso me deixou nas nuvens.
- Hum – caí nos braços do Bruno e me senti aliviado por ele estar ali comigo.
- Que saudade!
- E eu de você!
- Seu irmão está melhor?
- Está, tadinho. Lá em casa ainda. Ele vai ficar lá até tirar os dois gessos.
- Então a coisa com seu pai foi feia mesmo.
- Nem tanto por isso, é que ele está se sentindo bem lá e é melhor porque não tem degraus e ele tem mais liberdade de ir e vir quando quiser.
- Quem diria, né Caio?
- É, Bruh. Quem diria.
- O mundo dá voltas mesmo. Olha de quem ele tem que depender.
- Verdade. É a justiça de Deus que tarda, mas não falha!
- Anjo, a Gertrudes está ficando imensa de gorda!
- Ô, que linda! Eu mal posso esperar para os nossos netinhos nascerem.
Gertrudes Filomena enfim estava grávida. Depois de muitas tentativas, ela conseguiu engravidar e Bruno e eu estávamos ansiosos para que os filhotinhos nascessem logo de uma vez.
- E a faculdade, mocinho?
- Vai bem, obrigado. Começo de semestre é sempre muito tranquilo.
- Agora sim é o penúltimo e nesse ano sim você se forma.
- Graças a Deus, eu não vejo a hora.
- Sabe, Bruno, eu estive pensando.
- No nosso casamento?
- Isso aí. Eu acho melhor adiarmos a data.
- Eu sei, eu também acho melhor. Com seu irmão na sua casa não tem como.
- É. Ele depende de mim pra quase tudo.
- Mas quando ele tira o gesso?
- Daqui três semanas ainda. Vai demorar.
- De fato, não dá tempo.
- Tem problema pra você?
- Claro que não. Tem que ser em um momento em que todos possam comparecer no churrasco.
- Então a gente adia. Ou melhor, você adia.
- Deixa comigo. Eu faço isso quando chegar lá no Rio!
Quando chegamos no apartamento, notei que o Cauã ficou muito constrangido por ficar no meio de nós dois, mas isso não nos importou. Não mesmo.
- Está melhor das escoriações, Cauã?
- Estou, Bruno. Agora só falta tirar esses gessos mesmo.
- Imagino o quanto seja difícil para você ficar com a perna e o braço engessados.
- É horrível. Eu só fico deitado e isso já está me deixando irritado.
- Nesses momentos, nós temos que ter paciência.
- Verdade – concordei com meu amado.
Aquele foi um final de semana extremamente tranquilo. Mesmo com meu irmão na área, Bruno e eu conseguimos namorar numa boa. Nós só tivemos que controlar os nossos instintos para sermos discretos.
- Te amo – falei, quando ele chegou ao orgasmo.
- Eu também te amo!
E o melhor de tudo, foi ver como o relacionamento dos cunhados estava evoluindo. O Cauã respeitava muito a presença do Bruno e vice-versa. Isso me deixou nas nuvens.
- Como assim, Caio Monteiro? Que história é essa que eu vou ser bisavó?
- Vai, Alexia. O que eu posso fazer? Quem manda você estar na oitava idade?
- Eu mereço! Não era para ter deixado a gata ficar prenha, Caio.
- Ela vivia no cio. Agora a gente castra a bichinha.
- Depois quero ver meus bisnetos então.
- Basta colar lá no apê do Bruno. Vem cá, como estão as crianças?
- Bem, sentindo a falta do pai.
- Não creio que vocês vão mesmo se separar, Alexia!
- Vamos sim. Nós já demos entrada no pedido de divórcio. Não dá pra dividir a casa com um adúltero.
- Você não vai mesmo perdoar?
- Eu perdoei, mas isso não significa que eu tenha que aceitar continuar a nossa relação. Para mim, traiu acabou. Minha confiança é como um cristal e quando um cristal quebra, ele jamais será reconstituído.
Eu entendia esse lado dela, mas para mim, particularmente, isso era muito relativo. Eu perdoei o Bruno duas vezes e ele não pisou na bola nunca mais. Por que o Diego não poderia se regenerar?
- A minha opinião é muito diferente da sua, você sabe.
- É que no seu caso é diferente, Caio.
- Não sei qual a diferença, Alexia.
- Você e Bruno foram feitos um para o outro.
- Quem te garante que com vocês isso seja diferente?
- Eu não consigo mais confiar. Eu prefiro colocar um ponto final, mesmo ainda amando o Diego.
- O ser humano gosta mesmo de sofrer, fala sério.
- É o sujo falando do mal-lavado, Caio! Você demorou trocentos anos para voltar com o Bruno.
- Porque eu fui idiota. Se eu tivesse ouvido o lado dele desde o começo e acima de tudo, acreditado nele, nós não teríamos demorado tanto tempo.
- As coisas só acontecem no tempo de Deus.
- Isso é verdade. Sei que se conselho fosse bom não se dava, se vendia, mas mesmo assim eu vou te dar um: dê tempo ao tempo e não coloque a carroça na frente dos bois.
- Eu já estou decidida.
Suspirei.
- Então está certo. Você sabe o que faz e eu não sou ninguém para me meter em sua vida. A única coisa que posso fazer nesse momento é lhe desejar sorte e torcer para que as coisas entrem nos eixos novamente; seja com ele, seja sem ele.
- Vai, Alexia. O que eu posso fazer? Quem manda você estar na oitava idade?
- Eu mereço! Não era para ter deixado a gata ficar prenha, Caio.
- Ela vivia no cio. Agora a gente castra a bichinha.
- Depois quero ver meus bisnetos então.
- Basta colar lá no apê do Bruno. Vem cá, como estão as crianças?
- Bem, sentindo a falta do pai.
- Não creio que vocês vão mesmo se separar, Alexia!
- Vamos sim. Nós já demos entrada no pedido de divórcio. Não dá pra dividir a casa com um adúltero.
- Você não vai mesmo perdoar?
- Eu perdoei, mas isso não significa que eu tenha que aceitar continuar a nossa relação. Para mim, traiu acabou. Minha confiança é como um cristal e quando um cristal quebra, ele jamais será reconstituído.
Eu entendia esse lado dela, mas para mim, particularmente, isso era muito relativo. Eu perdoei o Bruno duas vezes e ele não pisou na bola nunca mais. Por que o Diego não poderia se regenerar?
- A minha opinião é muito diferente da sua, você sabe.
- É que no seu caso é diferente, Caio.
- Não sei qual a diferença, Alexia.
- Você e Bruno foram feitos um para o outro.
- Quem te garante que com vocês isso seja diferente?
- Eu não consigo mais confiar. Eu prefiro colocar um ponto final, mesmo ainda amando o Diego.
- O ser humano gosta mesmo de sofrer, fala sério.
- É o sujo falando do mal-lavado, Caio! Você demorou trocentos anos para voltar com o Bruno.
- Porque eu fui idiota. Se eu tivesse ouvido o lado dele desde o começo e acima de tudo, acreditado nele, nós não teríamos demorado tanto tempo.
- As coisas só acontecem no tempo de Deus.
- Isso é verdade. Sei que se conselho fosse bom não se dava, se vendia, mas mesmo assim eu vou te dar um: dê tempo ao tempo e não coloque a carroça na frente dos bois.
- Eu já estou decidida.
Suspirei.
- Então está certo. Você sabe o que faz e eu não sou ninguém para me meter em sua vida. A única coisa que posso fazer nesse momento é lhe desejar sorte e torcer para que as coisas entrem nos eixos novamente; seja com ele, seja sem ele.
- Nossa mãe está subindo.
- Ela não falta um dia. Dá muita pena dela.
- Ela se preocupa com você.
- Eu sei. Com todos nós.
Quando a campainha tocou, eu abri a porta e notei que Fátima estava sem os gêmeos. Será que eles estavam na creche?
- O pai saiu com os dois. Foram ao parquinho.
- Que bom. Deixa ele cuidar um pouco das crias.
- Como você está, meu filho?
- Bem, mãe. Contando os dias para tirar esses gessos.
- Logo, logo. E essa barba, Cauã? Você fica com cara de cafajeste com essa barba.
- As “mina pira”, mãe.
- Deixa a Ellen saber disso – eu ri.
Só foi falar nela para ela ir ao apartamento. Não era a primeira vez que a minha cunhada visitava o noivo, mas naquele dia ela ficou o dia todo ao lado dele.
- Eu já consigo ir sozinho, não precisa me carregar, Ellen.
- Eu fico preocupada, posso?
- Essas mulheres!
Ele pulou igual Saci-Pererê até o toalete e a namorada entrou logo em seguida. Era ela que ia ajudá-lo com o banho naquele dia.
- Como estão as coisas na sua casa?
- Do mesmo jeito de sempre. Encostei seu pai na parede e falei que quero a separação. Não aguento viver ao lado desse homem. Não com ele agindo desse jeito.
- É muito desgastante.
- A casa está com uma energia muito negativa e a culpa é dele. Ao invés do homem melhorar com o passar do tempo, parece que ele está regredindo!
- Deve ser o capiroto que está no corpo dele.
- SANGUE DE JESUS TEM PODER, FIQUEI TODA ARREPIADA!
- Vai saber. A essa altura do campeonato, eu não duvido de mais nada.
- Ficou pronto o risoto. Você quer agora?
- Ah, eu quero! Não vou esperar esses dois virem comer porque pelo jeito eles vão demorar.
Minha mãe ficou vermelha, mas eu nem me importei.
- Eu amo o seu risoto.
- Obrigada, filho.
- Ela não falta um dia. Dá muita pena dela.
- Ela se preocupa com você.
- Eu sei. Com todos nós.
Quando a campainha tocou, eu abri a porta e notei que Fátima estava sem os gêmeos. Será que eles estavam na creche?
- O pai saiu com os dois. Foram ao parquinho.
- Que bom. Deixa ele cuidar um pouco das crias.
- Como você está, meu filho?
- Bem, mãe. Contando os dias para tirar esses gessos.
- Logo, logo. E essa barba, Cauã? Você fica com cara de cafajeste com essa barba.
- As “mina pira”, mãe.
- Deixa a Ellen saber disso – eu ri.
Só foi falar nela para ela ir ao apartamento. Não era a primeira vez que a minha cunhada visitava o noivo, mas naquele dia ela ficou o dia todo ao lado dele.
- Eu já consigo ir sozinho, não precisa me carregar, Ellen.
- Eu fico preocupada, posso?
- Essas mulheres!
Ele pulou igual Saci-Pererê até o toalete e a namorada entrou logo em seguida. Era ela que ia ajudá-lo com o banho naquele dia.
- Como estão as coisas na sua casa?
- Do mesmo jeito de sempre. Encostei seu pai na parede e falei que quero a separação. Não aguento viver ao lado desse homem. Não com ele agindo desse jeito.
- É muito desgastante.
- A casa está com uma energia muito negativa e a culpa é dele. Ao invés do homem melhorar com o passar do tempo, parece que ele está regredindo!
- Deve ser o capiroto que está no corpo dele.
- SANGUE DE JESUS TEM PODER, FIQUEI TODA ARREPIADA!
- Vai saber. A essa altura do campeonato, eu não duvido de mais nada.
- Ficou pronto o risoto. Você quer agora?
- Ah, eu quero! Não vou esperar esses dois virem comer porque pelo jeito eles vão demorar.
Minha mãe ficou vermelha, mas eu nem me importei.
- Eu amo o seu risoto.
- Obrigada, filho.
Quando os noivos saíram, minha mãe fez questão de dar a comida na boca do meu irmão. Por ser destro, Cauã tinha muita dificuldade para fazer as coisas com o braço esquerdo.
- Pareço o David e o Davi desse jeito.
- Para mim é como se fosse mesmo.
- Aham, Cláudia, senta lá – falei.
- Oi, Caio?
- Nada, mãe. Nada.
- Miau.
- Que foi, gato? – Ellen fez carinho no meu menino.
- Miau.
- Deve ter acabado a ração.
Não deu outra. O potinho de comida do coitado estava vazio. Eu lavei o mesmo e enchi com a ração, mas ele só comeu os pasteizinhos e nada mais.
- Gato metido. Quero ver quando você vir seus sobrinhos se vai continuar sendo mal-educado desse jeito.
- Ela já pariu? – perguntou meu gêmeo.
- Que nada, parece que está de rosca. Daqui a pouco completa nove meses e não dá a luz.
- Você e seus exageros. Vou nessa, crianças. Meus bebês já devem ter chegado em casa e devem estar precisando de mim.
- Te levo.
- Não precisa, eu vou de ônibus.
- Te levo – falei com os dentes apertados.
- Ah, tá! Então vamos.
Fátima se despediu do filho, da nora e eu fui levá-la em casa. Eu faria isso de qualquer jeito, porém naquele dia juntei o útil ao agradável. Eu queria deixar o casal a sós para que eles namorassem um pouco.
- Nem me toquei.
- Mas eu sim. Eles estão necessitados.
- Para! Eu fico com ciúmes.
- Ciúmes de um marmanjo dessa idade? Por favor, né?
- Eu teria ciúmes mesmo que vocês estivessem com oitenta anos. São minhas crias!
- Crias que logo, logo estarão casadas e com filhos.
- Nem me fala, nem me fala! Isso está me deixando doida.
- Calma, vovó Fátima. Isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde.
- Vovó Fátima – ela bufou. – Essa foi boa!
Quando cheguei na casa dela, fiz questão de entrar porque queria ver os gêmeos. Naquela altura do campeonato, eles já estavam andando com mais fluidez e eu não podia perder isso por nada.
- Mas que perna torta é essa, Davi? Parece até o Quico!
- Quem é Quico?
- Aquele do “Chaves”.
- Credo – esse “credo” foi bem cumprido. – Meu filho é lindo, não fale que ele é feio daquele jeito porque ele não é.
- Ah, chegou – Edson apareceu no quarto dos meninos.
- Cheguei.
- Como o Cauã está?
- Bem. Daqui alguns dias ele tira os gessos.
- Se Deus quiser não vai precisar colocar mais.
- Esperemos que não precise colocar mesmo.
- Como vai, moleque?
Oi? Ele falou comigo?
- Bem e você?
- Também.
Ele deu meia volta, saiu e minha mãe e eu ficamos nos olhando com ar de incredulidade. Era o Edson mesmo?
- Estou preto passado na chapinha!
- Pois então somos dois.
- Mamãe, mamãe – David grudou nas pernas de nossa mãe.
- Que foi, meu amor? Está com fome?
- Fome – ele repetiu.
- Que lindo – eu dei risada. – Aprendeu mais uma palavra.
Não fiquei muito tempo, mas também não saí muito rápido. Fiquei tempo suficiente para Cauã e Ellen tirarem o atraso e só voltei para casa quando tive certeza que eles estavam recompostos.
- Ela já foi – ele falou.
- Será que demorei tanto assim?
- Demorou sim.
- Fiz de propósito.
- Eu sei. Valeu.
- Disponha.
- Desculpa, a gente precisava disso.
- Eu sei, relaxa. Eu não me importo.
- Não?
- Claro que não! Por que me importaria?
- Ah, sei lá! Usar seu apartamento para essas coisas...
- Somos irmãos ou não? Os irmãos servem para essas coisas.
- Te devo mais essa!
- Não me deve nada. Foi bom?
Ele sorriu, sem mostrar os dentes.
- Foi ótimo!
- Mas tipo, como rolou se você está com esses gessos aí?
- Digamos que demos um jeitinho. Usamos muito a boca.
- Safadinho!
- Só um pouco.
- Estavam há muito tempo sem?
- Desde quando fui atropelado.
- Eu não sei como você aguentou. Eu não aguentaria.
- Não? Então como fica sem ver o Bruno durante a semana?
- Porque sou obrigado, mas quando estamos juntos, a gente tira o atraso.
Ele sorriu de novo sem mostrar os dentes.
- Posso ser curioso e indiscreto?
- Pode sim.
- Com quantos anos você perdeu a virgindade?
- Dezessete.
- Foi com ele?
- Foi. Meu primeiro beijo com um carinha e minha primeira vez foram com o Bruno. Ele é meu primeiro tudo: primeiro namorado, primeira paixão, primeiro amor, primeira desilusão amorosa, primeiro ódio, primeiro homem...
- Então quer dizer que você só teve ele na sua vida inteira?
- Não, não. Eu tive outros. Nós ficamos um tempo separados.
- Posso saber o motivo?
- Pode sim. Acho que já está na hora de você saber de tudo o que aconteceu entre nós dois.
Aquela foi a oportunidade perfeita para meu irmão gêmeo saber como foi o meu relacionamento com o Bruno.
Eu contei tudo, tudo mesmo. Só não com detalhes. Ele me ouviu atentamente e também me contou como estavam as coisas com a Ellen e como eles tinham se conhecido.
Cauã e eu estávamos tão bem, mas tão bem, que estávamos ficando cada dia mais íntimos. Esse acidente que ele teve, só serviu para nos aproximar ainda mais. Pelo menos houve um aspecto positivo nisso tudo.
- SETE? – eu dei um berro por causa do choque.
- MÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃE...
- Sete o quê, criatura?
- SETE NETOS!!!
- NASCERAM? – ele correu e quase caiu porque tropeçou nas próprias pernas.
- Gertrudes!!!
- MÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃE...
- Nossa, filha – Bruno começou a rir e sentou no chão. – Como você é safada, amor! Logo sete?
- QUE LIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIINDOS!!!
Eu simplesmente me apaixonei pelos gatinhos. Eram seis clones da mãe e um pobre coitado na cor preto. Ele se destacava no meio dos demais.
- Esse é bastardo.
- Bruno! Pobrezinho! Não fale assim do meu netinho! Ô, que coisa mais linda! Parabéns, filha! Seus nenéns são lindos!
- MÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃE...
- Você é mãe mesmo, filha. Parabéns! Espero que sejam todos meninos para conseguirmos doar com facilidade.
- MÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃE...
- Sete o quê, criatura?
- SETE NETOS!!!
- NASCERAM? – ele correu e quase caiu porque tropeçou nas próprias pernas.
- Gertrudes!!!
- MÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃE...
- Nossa, filha – Bruno começou a rir e sentou no chão. – Como você é safada, amor! Logo sete?
- QUE LIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIINDOS!!!
Eu simplesmente me apaixonei pelos gatinhos. Eram seis clones da mãe e um pobre coitado na cor preto. Ele se destacava no meio dos demais.
- Esse é bastardo.
- Bruno! Pobrezinho! Não fale assim do meu netinho! Ô, que coisa mais linda! Parabéns, filha! Seus nenéns são lindos!
- MÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃE...
- Você é mãe mesmo, filha. Parabéns! Espero que sejam todos meninos para conseguirmos doar com facilidade.
NO FINAL DE SEMANA SEGUINTE...
Cauã, Rodrigo e eu estávamos empenhados em comprar um terreno em
sociedade e já estávamos correndo atrás disso há algum tempo. Foi quando o Cauã
tirou os gessos que isso se viabilizou.
- Como é bom te ver andando.
- Como é bom voltar a andar.
- Vamos ver o terreno?
- Só se for agora!
Não precisei andar muito. Achamos o que buscávamos lá na Vila Mariana mesmo. O local era perfeito e se enquadrava direitinho nas nossas necessidades.
- E aí?
- Por mim, perfeito.
- O que o Rodrigo disse?
- Que por ele podemos fechar negócio. Ele viu as fotos que mandei.
- Mas como faremos?
- Eu não tenho dinheiro suficiente para dar a minha parte. O Bruno vai ajudar, mas mesmo assim eu vou ter que fazer um empréstimo no banco.
- Comigo acontece a mesma coisa. A Ellen também vai ajudar.
Acabou que aquela aquisição foi minha, dos meus irmãos, do Bruno e das minhas cunhdas. Nós seis fizemos tudo dentro da lei e não houve nada que impedisse a concretização dos nossos sonhos.
Na semana seguinte, o Bruno já estava com o projeto das nossas casas pronto. Seria uma atrás da outra. Elas não seriam grandes, mas seria suficiente para as nossas necessidades.
- Agora só falta começar as obras – falou Rodrigo, que já estava averiguando isso de perto.
- E que isso ocorra o mais rápido possível.
- Acho que demorará pelo menos seis meses. Quero que fique tudo perfeito.
- É tempo suficiente para mim.
- Para nós também!
- Como é bom te ver andando.
- Como é bom voltar a andar.
- Vamos ver o terreno?
- Só se for agora!
Não precisei andar muito. Achamos o que buscávamos lá na Vila Mariana mesmo. O local era perfeito e se enquadrava direitinho nas nossas necessidades.
- E aí?
- Por mim, perfeito.
- O que o Rodrigo disse?
- Que por ele podemos fechar negócio. Ele viu as fotos que mandei.
- Mas como faremos?
- Eu não tenho dinheiro suficiente para dar a minha parte. O Bruno vai ajudar, mas mesmo assim eu vou ter que fazer um empréstimo no banco.
- Comigo acontece a mesma coisa. A Ellen também vai ajudar.
Acabou que aquela aquisição foi minha, dos meus irmãos, do Bruno e das minhas cunhdas. Nós seis fizemos tudo dentro da lei e não houve nada que impedisse a concretização dos nossos sonhos.
Na semana seguinte, o Bruno já estava com o projeto das nossas casas pronto. Seria uma atrás da outra. Elas não seriam grandes, mas seria suficiente para as nossas necessidades.
- Agora só falta começar as obras – falou Rodrigo, que já estava averiguando isso de perto.
- E que isso ocorra o mais rápido possível.
- Acho que demorará pelo menos seis meses. Quero que fique tudo perfeito.
- É tempo suficiente para mim.
- Para nós também!
- Para de fazer doce, vai? – ele mordeu a minha orelha.
- Não paro. Só na nossa noite de núpcias.
- Até amanhã eu enlouqueço – ele jogou o quadril para baixo e eu notei sua excitação.
- Que delícia – puxei o colarinho da camiseta dele. – Desse jeito eu não vou aguentar.
- É? – ele fez de novo. – Não é para aguentar mesmo.
- Só depois do casamento – mordi os lábios dele.
- Não mesmo – Bruno abriu o zíper da minha calça. – Precisamos ter a nossa última vez como solteiros. É a nossa despedida.
- Ah, é? Não poderia existir despedida de solteiro melhor do que essa!
Bruno e eu pegamos fogo na cama do apartamento do Recreio. Fizemos amor como nos velhos tempos e só paramos quando nos esgotamos fisicamente. Foi maravilhoso!
- Bom dia, futuro marido.
- Bom dia – dei um selinho nos lábios dele. – Dorme bem, noivo.
- Vamos descansar porque hoje o dia é nosso.
- Não paro. Só na nossa noite de núpcias.
- Até amanhã eu enlouqueço – ele jogou o quadril para baixo e eu notei sua excitação.
- Que delícia – puxei o colarinho da camiseta dele. – Desse jeito eu não vou aguentar.
- É? – ele fez de novo. – Não é para aguentar mesmo.
- Só depois do casamento – mordi os lábios dele.
- Não mesmo – Bruno abriu o zíper da minha calça. – Precisamos ter a nossa última vez como solteiros. É a nossa despedida.
- Ah, é? Não poderia existir despedida de solteiro melhor do que essa!
Bruno e eu pegamos fogo na cama do apartamento do Recreio. Fizemos amor como nos velhos tempos e só paramos quando nos esgotamos fisicamente. Foi maravilhoso!
- Bom dia, futuro marido.
- Bom dia – dei um selinho nos lábios dele. – Dorme bem, noivo.
- Vamos descansar porque hoje o dia é nosso.
A NOSSA UNIÃO...
- Deixa eu dar um jeito nessa gravata – minha mãe me ajudou.
- Ei, está me enforcando.
- Não, não pode se enforcar. Não literalmente.
- Boba!
- Volta aqui, Davi!
Cauã estava correndo atrás dos gêmeos, que não paravam quietos um segundo sequer.
- SOLTA OS GATOS, DAVID!
Bruno só fazia rir.
- Ele vai ser daquele tipo de pai que estraga a criança.
- Com certeza, mãe. Com certeza.
- SOLTA OS GATOS, DAVID! NÃO PODE! NÃO PODE!
- Ele vai acabar matando os sobrinhos-netos – Bruno gargalhou.
- MÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃE...
- Olha a Gertrudes com ciúmes.
- Pronto, filho. Está lindo! Que emoção, meu Deus!!!
- Eu sei, mãe. Eu sei. Fica tranquila.
Era o tão esperado dia da nossa união civil. Bruno e eu iríamos dar um passo determinante para nosso crescimento e isso ajudaria e muito para a adoção do nosso filho.
- Vão ficar de castigo – Cauã entrou com os meninos debaixo dos braços, como se fossem guarda-chuvas.
- CAUÃ! NÃO FAZ ISSO COM ELES, FILHO!
- Eles estão impossíveis. Quase mataram os gatinhos da Gertrudes.
- Deixa eles – Bruno segurou um dos cunhados no colo. – Eles são crianças ainda.
- Estou pronto – falei. – Vamos, Bruno?
- Vamos! Que nervoso!!!
Eu não estava tão nervoso como meu noivo. Eu estava tranquilo porque sabia que não era nada demais. No entanto, ao mesmo tempo era algo que nos traria inúmeros benefícios.
- Como se sente? – perguntou Fabrício, quando nós já estávamos no cartório.
- Normal. Não estou nervoso não.
- E você, Bruno?
- Só estou feliz, Fabrício.
- E isso é o que importa.
- AI QUE BADAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAALO, ELE VAI SE CASAR!!!
- QUE SUSTO, SANTOS! COM OUTRA DESSAS EU VOU PARAR NO IML!!!
- AI QUE LOUCUUUUUUUUUUUUUURA! Estou preta passada na chapinha com a vossa elegância!
- Para de graça, senão eu fico envergonhado.
- MEU OVO! Sem vergonha do jeito que você é?!
- Para, hein? Para! Cadê minha sobrinha?
- Já falei que você foi rebaixado a mero conhecido. Ai que derrota. Ela está ótima. Logo você verá.
- Vou roubá-la para mim – Bruno brincou.
- Só por cima do meu cadáver e olhe lá! Eu que fiz, eu que fico com ela. Ai que loucura.
- O Vitinho está todo concentrado.
- Como é, Caio?
- Você está todo concentrado!
- Pensando na morte da bezerra.
- Caio Monteiro e Bruno Duarte? – anunciaram o nosso nome.
Só nesse momento eu senti um pouco de frio na barriga. Havia chegado a hora! A hora de me casar com o Bruno, o homem da minha vida.
- Ei, está me enforcando.
- Não, não pode se enforcar. Não literalmente.
- Boba!
- Volta aqui, Davi!
Cauã estava correndo atrás dos gêmeos, que não paravam quietos um segundo sequer.
- SOLTA OS GATOS, DAVID!
Bruno só fazia rir.
- Ele vai ser daquele tipo de pai que estraga a criança.
- Com certeza, mãe. Com certeza.
- SOLTA OS GATOS, DAVID! NÃO PODE! NÃO PODE!
- Ele vai acabar matando os sobrinhos-netos – Bruno gargalhou.
- MÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃE...
- Olha a Gertrudes com ciúmes.
- Pronto, filho. Está lindo! Que emoção, meu Deus!!!
- Eu sei, mãe. Eu sei. Fica tranquila.
Era o tão esperado dia da nossa união civil. Bruno e eu iríamos dar um passo determinante para nosso crescimento e isso ajudaria e muito para a adoção do nosso filho.
- Vão ficar de castigo – Cauã entrou com os meninos debaixo dos braços, como se fossem guarda-chuvas.
- CAUÃ! NÃO FAZ ISSO COM ELES, FILHO!
- Eles estão impossíveis. Quase mataram os gatinhos da Gertrudes.
- Deixa eles – Bruno segurou um dos cunhados no colo. – Eles são crianças ainda.
- Estou pronto – falei. – Vamos, Bruno?
- Vamos! Que nervoso!!!
Eu não estava tão nervoso como meu noivo. Eu estava tranquilo porque sabia que não era nada demais. No entanto, ao mesmo tempo era algo que nos traria inúmeros benefícios.
- Como se sente? – perguntou Fabrício, quando nós já estávamos no cartório.
- Normal. Não estou nervoso não.
- E você, Bruno?
- Só estou feliz, Fabrício.
- E isso é o que importa.
- AI QUE BADAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAALO, ELE VAI SE CASAR!!!
- QUE SUSTO, SANTOS! COM OUTRA DESSAS EU VOU PARAR NO IML!!!
- AI QUE LOUCUUUUUUUUUUUUUURA! Estou preta passada na chapinha com a vossa elegância!
- Para de graça, senão eu fico envergonhado.
- MEU OVO! Sem vergonha do jeito que você é?!
- Para, hein? Para! Cadê minha sobrinha?
- Já falei que você foi rebaixado a mero conhecido. Ai que derrota. Ela está ótima. Logo você verá.
- Vou roubá-la para mim – Bruno brincou.
- Só por cima do meu cadáver e olhe lá! Eu que fiz, eu que fico com ela. Ai que loucura.
- O Vitinho está todo concentrado.
- Como é, Caio?
- Você está todo concentrado!
- Pensando na morte da bezerra.
- Caio Monteiro e Bruno Duarte? – anunciaram o nosso nome.
Só nesse momento eu senti um pouco de frio na barriga. Havia chegado a hora! A hora de me casar com o Bruno, o homem da minha vida.
E quando os trabalhos foram iniciados, eu me remeti ao passado e me lembrei de tudo o que nós vivemos um ao lado do outro.
Eram quase 9 anos de convívio, nem sempre contínuo. Nesse tempo, Bruno e eu vivemos tudo o que um casal vive: momentos felizes, momentos infelizes, brigas, desentendimentos, separações, reconciliações, volta, amor, perdão...
Eram tantos sentimentos, eram tantas emoções, eram tantos momentos juntos, que ficou difícil segurar a emoção.
Ele foi meu primeiro homem, ele foi meu primeiro amor, o único amor verdadeiro da minha vida, foi minha primeira desilusão, minha primeira frustração, meu primeiro ódio...
Ele me despertou os melhores e os piores sentimentos que uma pessoa pode ter, ele me despertou a paixão e a raiva, o piedade e o rancor, o amor e o ódio e acima de tudo, o perdão.
O que teria sido de nós dois se não existisse perdão? O que teria sido de nós dois se não tivéssemos voltado em 2.009? Provavelmente estaríamos mergulhados em um mar de infelicidade.
Eu não estava arrependido. Eu só me arrependia de ter demorado tanto tempo para perdoá-lo. Fora isso, não havia outro arrependimento.
Não haviam mágoas, nem ressentimentos por causa do nosso passado turbulento. Só havia amor. Amor, amor e amor e nada além disso.
Eu não conseguia viver longe do Bruno e estar ali, casando com ele, foi um dos momentos mais felizes de toda a minha vida.
Era uma das coisas que faltava para a nossa felicidade ficar completa. Era o glacê do bolo. Não era a cereja, porque a cereja seria o nosso filho, nosso bebê que não demoraria a chegar no nosso lar.
Nosso casamento selou uma promessa que Bruno e eu fizemos no passado. A promessa que nunca mais nos separaríamos. A promessa que viveríamos um ao lado do outro até que a morte nos separasse. A promessa que o nosso amor duraria até além da eternidade. Eu tinha certeza que isso aconteceria.
Estar ali, em um cartório assinando a minha união com o Bruno, era um tapa na cara de todos aqueles que um dia falaram que nós não tínhamos futuro juntos. Era um tapa na cara de nossas famílias, que tanto nos recriminaram por causa de nossas orientações sexuais.
Mas acima disso, era um tapa na cara dos nossos parentes homofóbicos. No meu caso, Edson. No caso dele, Luciano. Eles sim estavam levando tapas com luvas de pelica.
Essa união, serviu para calar a boca daquelas pessoas que acham que os gays são promíscuos e que não pode existir uma união séria, firme e duradoura entre dois homens.
Sim, pode existir. Existe. Não é porque uma pessoa é homossexual, que ela não tem direito a felicidade. Não é porque uma pessoa é homossexual, que ela não pode se apaixonar, namorar, casar e ter filhos.
Bruno e eu estávamos fazendo a nossa família. Uma família que fugia dos padrões normais da sociedade, é verdade, mas que estava sendo construída na base do amor.
Nossa família, ainda que estivesse incompleta, fugia sim à regra, mas isso era o de menos. O que importava, o que importa, é a nossa felicidade.
Meu amor e eu pagamos preços muito caros por sermos quem somos. Fomos obrigados a sair do seio de nossas famílias, fomos obrigados a encarar a vida e o preconceito desde muito cedo, mas nós vencemos essa batalha.
Nós vencemos e a cartada final foi aquela assinatura, foi aquela união, foi aquele casamento, foi a oficialização do nosso relacionamento perante a sociedade. E não poderia existir cartada final melhor do que essa.
- Assine, por favor.
Eu peguei a caneta e rubriquei onde estava o meu nome.
- Agora é a sua vez.
Bruno fez a mesma coisa e depois olhou nos meus olhos.
Casados. Nós estávamos casados. Não dava para acreditar nisso. Finalmente, nós dois éramos um casal perante os homens.
Sentir a aliança na mão esquerda foi diferente, mas mais diferente ainda, foi sentir a mão direita pelada. Eu demoraria dias, semanas para me acostumar com isso.
- Vocês estão unidos civilmente...
Não tive como deixar de sorrir, não tive como deixar de abraçá-lo, não tive como deixar de beijá-lo. Bruno e eu finalmente estávamos casados e fim de papo. Agora ninguém poderia tirar os nossos direitos como seres humanos de bem que éramos. Ninguém!
- Eu te amo – falei, com a testa na testa dele.
- Eu também te amo, Caio Monteiro!
Por sermos dois homens, Bruno e eu não podíamos casar em nenhuma igreja.
No entanto, isso não nos impedia de pedirmos a bênção de Deus. Pensando nisso,
antes de seguirmos até o churrasco, resolvemos ir até uma paróquia para pedir
proteção para Deus.
- Vem – segurei na mão direita dele.
Ficamos em uma das primeiras fileiras. Nós ajoelhamos, fechamos os olhos e oramos de mãos dadas. Eu sabia que naquele momento nós teríamos a bênção de Deus. Eu sabia que naquele momento os anjos diriam amém a nossa união. Eu sabia que naquele momento nós receberíamos a proteção divina em nossa relação.
Eu tinha a impressão que podia tocar a minha felicidade. Eu tinha a impressão que nada, nem ninguém poderia acabar com a alegria que eu sentia naquele momento. E foi exatamente isso que aconteceu.
- Vem – segurei na mão direita dele.
Ficamos em uma das primeiras fileiras. Nós ajoelhamos, fechamos os olhos e oramos de mãos dadas. Eu sabia que naquele momento nós teríamos a bênção de Deus. Eu sabia que naquele momento os anjos diriam amém a nossa união. Eu sabia que naquele momento nós receberíamos a proteção divina em nossa relação.
Eu tinha a impressão que podia tocar a minha felicidade. Eu tinha a impressão que nada, nem ninguém poderia acabar com a alegria que eu sentia naquele momento. E foi exatamente isso que aconteceu.
Subir mais esse degrau com ele, foi maravilhoso e extremamente essencial para ganhos futuros. Como não ficar feliz com isso?
Como não ficar feliz com ele ao meu lado para o resto da vida? Como não ficar feliz por ter me unido civilmente com o homem da minha vida? Como não ficar feliz com todos aqueles acontecimentos? Como?
É claro que eu estava feliz, é claro que eu estava alegre, é claro que eu estava contente. E ele não ficava atrás.
Quando abri meus olhos, percebi que ele me olhava com aqueles olhos incrivelmente azuis que eu tanto amava. Deu vontade de beijá-lo, mas não fiz isso.
- Eu tenho certeza que Deus está nos abençoando nesse momento.
- Eu sei. Eu tenho essa certeza também – ele nem piscava.
- Eu quero ser feliz ao seu lado para sempre, Bruno.
- Eu também quero ser feliz ao seu lado para sempre, Caio.
Eu sabia que seria assim. Eu não tinha dúvidas que seria assim. Para sempre. Por toda a eternidade. Além da eternidade.
Uma vez na casa do Fabrício, meu marido e eu recebemos os cumprimentos
de todos os que estavam presentes. Até do Nícolas, o que nos deixou muito
felizes:
- “Pabaléns”, tio Caio. “Pabaléns”, tio “Buno”.
- SEU LINDO – Bruno abaixou e pegou o menino no colo. – Mas não é “pabaléns”, é parabéns!
- Foi o que eu disse, tio “Buno”: “pabaléns”!!!
- Deixa ele, Bruh – beijei o menino. – Ele ainda é muito novinho.
- Não sou novo não, tio Caio! Eu já tenho quase “quatlo” anos!
Que danadinho! Ele era muito esperto, isso sim. Eu e todos os outros ficavam encantados com o menino.
No entanto, quem chamou mesmo a atenção naquele dia, foram os gêmeos. Todo mundo queria fazer uma selfie com eles e os meninos acabaram passando de colo em colo.
- Vem com o Rodrigo, vem.
- Está tudo bem, Babí? Preparada para seu casamento daqui a pouco?
- Preparadíssima, Caio! Mal posso esperar.
- Nem nós.
- Vou poder ir de bermuda e chinelo de dedo, né Babí?
- Só se quiser ser expulso aos gritos, Bruno. Social e não se fala mais nisso.
- Eu posso ir de bermuda e camisrta do Corinthians?
- Se quiser deixar o Bruno viúvo faça isso – ela me olhou, mas com ternura. – Você é Black tié e não se fala mais nisso!!!
- Estou lascado na hora do meio dia! Ai que loucura.
Notei que Víctor e Vítor não paravam de se falar. Era impressão minha ou estava rolando um clima?
- Se quiserem ficar, saiam de fininho – falei.
- Arrasou – Vitinho sorriu. – É assim que eu gosto.
- Desnecessário esse comentário. Fiquei sem graça!
- Fica não, Víctor. Eu te conheço, sei que isso é charme.
A felicidade estava por todos os lados, até mesmo com a Alexia e a Janaína, ambas recém-separadas.
- Não me conformo com vocês duas! Separadas logo agora que têm duas crianças tão pequenas.
- E o que isso tem a ver?
- É, e o que isso tem a ver? Ai que badalo!
- Sei lá! É tão estranho.
- Cale-se e cuide de seu casamento. AI QUE LOUCUUUUUUUUURA, ELE SE CASOU!!!
- É – ri. – Nem dá para acreditar!
- Onde vai ser a lua de mel?
- No nosso apartamento com nossos bisnetos miando.
- Ai que broxante. Não gostei.
- É zoeira – gargalhei. – Vamos para um motelzinho, mas isso é coisa nossa.
- AI QUE BADAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAALO!!!
Percebi que minha mãe não parava de conversar com o Vinícius. Eu queria saber o que eles tanto conversavam.
- “Pabaléns”, tio Caio. “Pabaléns”, tio “Buno”.
- SEU LINDO – Bruno abaixou e pegou o menino no colo. – Mas não é “pabaléns”, é parabéns!
- Foi o que eu disse, tio “Buno”: “pabaléns”!!!
- Deixa ele, Bruh – beijei o menino. – Ele ainda é muito novinho.
- Não sou novo não, tio Caio! Eu já tenho quase “quatlo” anos!
Que danadinho! Ele era muito esperto, isso sim. Eu e todos os outros ficavam encantados com o menino.
No entanto, quem chamou mesmo a atenção naquele dia, foram os gêmeos. Todo mundo queria fazer uma selfie com eles e os meninos acabaram passando de colo em colo.
- Vem com o Rodrigo, vem.
- Está tudo bem, Babí? Preparada para seu casamento daqui a pouco?
- Preparadíssima, Caio! Mal posso esperar.
- Nem nós.
- Vou poder ir de bermuda e chinelo de dedo, né Babí?
- Só se quiser ser expulso aos gritos, Bruno. Social e não se fala mais nisso.
- Eu posso ir de bermuda e camisrta do Corinthians?
- Se quiser deixar o Bruno viúvo faça isso – ela me olhou, mas com ternura. – Você é Black tié e não se fala mais nisso!!!
- Estou lascado na hora do meio dia! Ai que loucura.
Notei que Víctor e Vítor não paravam de se falar. Era impressão minha ou estava rolando um clima?
- Se quiserem ficar, saiam de fininho – falei.
- Arrasou – Vitinho sorriu. – É assim que eu gosto.
- Desnecessário esse comentário. Fiquei sem graça!
- Fica não, Víctor. Eu te conheço, sei que isso é charme.
A felicidade estava por todos os lados, até mesmo com a Alexia e a Janaína, ambas recém-separadas.
- Não me conformo com vocês duas! Separadas logo agora que têm duas crianças tão pequenas.
- E o que isso tem a ver?
- É, e o que isso tem a ver? Ai que badalo!
- Sei lá! É tão estranho.
- Cale-se e cuide de seu casamento. AI QUE LOUCUUUUUUUUURA, ELE SE CASOU!!!
- É – ri. – Nem dá para acreditar!
- Onde vai ser a lua de mel?
- No nosso apartamento com nossos bisnetos miando.
- Ai que broxante. Não gostei.
- É zoeira – gargalhei. – Vamos para um motelzinho, mas isso é coisa nossa.
- AI QUE BADAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAALO!!!
Percebi que minha mãe não parava de conversar com o Vinícius. Eu queria saber o que eles tanto conversavam.
- Ai que chatice, estou ficando enjoada.
- Se for vomitar, vomita no banheiro.
- Ai que loucura, dá licença que eu estou gestante?
- Sei. Já estou ouvindo isso há meses e nada dessa barriga crescer.
- Quer que eu faça o teste para te provar? Eu faço!
- Não seria má ideia.
O melhor de tudo, foi ver as crianças reunidas. Os únicos que não puderam brincar, foram o Guilherme e a Ana Vitória, que ainda eram muito pequenos.
- Que foi, Gui? Que foi, seu lindo?
- Meu genro, ai que loucura.
- Capaz – Alexia riu.
- Só se ele for rico. Eu mereço isso. Ai que badalo.
- Está tudo bem, Bruna?
- Um pouco cansada, Caio. Só isso.
- E essa neném linda? Que barrigão, hein Bruna?
- Estou imensa. E inchada.
- Ela já tem previsão para nascer?
- Finalzinho de maio. Lá pelo dia 30.
- Que linda! Outra geminiana na família.
- Pois é!
- Vini deve estar todo babão, não está?
- A primeira coisa que ele faz quando acorda é conversar com a barriga. Precisa de ver.
- Ele está feliz, tadinho. Ele sempre quis ser pai.
- Eu sei. Eu estou feliz também.
Se a criança iria nascer no final de maio, isso significava que a Bruna subiria ao altar no casamento do Digow com oito meses de gestação. Com certeza ela seria uma madrinha lindíssima e a mais chamativa entre todas.
- Que foi, cara de boi?
- Cansado, Caio. Nossos irmãos me deixam sem energia.
- Vai preparando porque logo, logo vem o seu.
- Tá doido? Eu não quero agora não! Por que está dizendo isso?
- Sabe que eu não sei? De repente pensei nisso.
- Nem vem. Antes do meu, vem o seu.
- Só falta a gente ser pai ao mesmo tempo. Já pensou?
- Não. Seria sacanagem demais do destino. Já não basta dividirmos tudo? Também temos que dividir a paternidade?
Ele tinha razão. Isso não iria acontecer. Eu esperava que não.
Quando sentimos que era hora de sair da festa, Bruno e eu fomos nos despedir de todos e agradecemos pela presença deles na nossa festa.
- Seja muito feliz, meu filho.
- Eu já sou mãe. Eu já sou.
- Se cuida, hein? – Fabrício bagunçou o meu cabelo.
- Pode deixar. A gente se vê no casamento do Rods.
- Estarei lá.
Vinicius e Fabrício também eram padrinhos do meu irmão. No casamento dele, seriam seis pares de padrinhos para cada noivo e todos tinham que estar de Black tié. Eu estava muito, muito ansioso para esse dia.
- Até mais ver, papai curandeiro.
- Curandeiro é o senhor seu avô, filho da mãe. Vai com Deus e parabéns pelo casório.
- Obrigado!
- Agora vai ter direito a várias coisas, hein?
- Só a algumas. Como dependência em convênio médico, no imposto de renda...
- E a adotar uma criança.
- Isso é o mais importante. Agora sai, em nome de Jesus!!!
- Não, não, não!
- Que foi? – ele estranhou.
- Do jeito tradicional.
Eu peguei o Bruno no colo e nós nos beijamos. Eu queria que aquela noite fosse perfeita, afinal, era a primeira depois do nosso casamento.
- Seu bobo! Me solta.
- Eu vou te soltar. Na cama.
Não soltei, joguei e já fui logo subindo em seu corpo. Nos beijamos e fomos nos despindo aos poucos.
- Meu amor...
- Minha vida...
Nosso beijo foi calmo, terno e demorado. Não tivemos pressa. Não havia necessidade disso.
Por mais que estivéssemos sedentos um pelo outro, Bruno e eu queríamos curtir aquele momento ao máximo. E foi exatamente isso que fizemos.
Rolamos na cama redonda várias e várias vezes e eu acabei ficando por cima dele. Como em nossa primeira vez, fiz o ativo e ele ficou me olhando nos olhos enquanto o ato acontecia.
- Que foi? – ele estranhou.
- Do jeito tradicional.
Eu peguei o Bruno no colo e nós nos beijamos. Eu queria que aquela noite fosse perfeita, afinal, era a primeira depois do nosso casamento.
- Seu bobo! Me solta.
- Eu vou te soltar. Na cama.
Não soltei, joguei e já fui logo subindo em seu corpo. Nos beijamos e fomos nos despindo aos poucos.
- Meu amor...
- Minha vida...
Nosso beijo foi calmo, terno e demorado. Não tivemos pressa. Não havia necessidade disso.
Por mais que estivéssemos sedentos um pelo outro, Bruno e eu queríamos curtir aquele momento ao máximo. E foi exatamente isso que fizemos.
Rolamos na cama redonda várias e várias vezes e eu acabei ficando por cima dele. Como em nossa primeira vez, fiz o ativo e ele ficou me olhando nos olhos enquanto o ato acontecia.
- Eu te amo – falei.
- Eu também te amo!
Não foi sexo, foi amor. Foi amor e foi um amor muito íntimo, muito profundo, cheio de sentimentos e significados. Não poderia existir nada melhor que isso.
- Eu vou gozar – anunciei o prazer.
- Na minha boca, amor! Eu quero sentir o gosto do seu prazer.
Ele sentiu. Bruno me chupou com maestria e sentiu o gosto do meu prazer, como ele mesmo disse.
Após o ápice, nós ficamos só no jogo de sedução. Ele colocou um morango na minha boca e mordeu a outra metade. Isso acabou degringolando em um beijo.
- Que delícia!
- Você não viu nada.
Depois disso, ele jogou chantilly sobre o meu corpo e me lambeu da cebaça aos pés. Isso me deixou alucinado.
- Ah, que delícia...
- Não fala nada – ele ordenou. – E curte o nosso momento.
Puxei os cabelos dele e nos beijamos novamente. Não dava para acreditar que depois de quase dez anos nós estávamos casados.
Eu nunca imaginei que isso fosse acontecer. Não no começo, não em dezembro de 2.005, quando nos apaixonamos.
Por mais que tenha sido amor à primeira vista, o Bruno era tão problemático que eu jamais pensei que a nossa relação fosse ficar como ficou.
É claro que eu sempre o amei e que eu sempre quis que aquilo acontecesse, mas querer era uma coisa e poder era outra.
No fim das contas, acabou que tudo aconteceu conforme os meus planos. Eu ainda estava com ele, apaixonado, feliz e naquele momento, casado.
- Diz que não é um sonho?
- Não, não é um sonho – ele cheirou o meu pescoço.
- Diz que essa felicidade vai durar para sempre?
- Ela vai durar para sempre. Ela já dura desde sempre. Nosso amor é eterno, Caio.
- É, Bruno! Nosso amor é eterno.
E era mesmo. Eu tinha certeza que esse amor não vinha de pouco tempo. Era um amor muito antigo, muito antigo mesmo. Secular; milenar, talvez. E eu sabia também que continuaria sendo para todo o sempre. Além da eternidade.
ALGUM TEMPO DEPOIS...
A mudança do Rodrigo para São Paulo só aconteceria em julho, porque ele
só começaria a dar aulas na faculdade no segundo semestre.
Todavia, todos os finais de semana ele e a noiva iam para São Paulo para acompanhar as obras da minha casa, da casa dele e da casa do Cauã, que aconteciam simultaneamente na Vila Mariana.
- Está ficando ótimo – comentei.
- Eu arrasei no projeto, não arrasei?
- Se sentindo a última bolacha do pacote.
- Cala a boca, cunhado.
- Ele arrasou mesmo, Cauã. Não tem como negar.
- E eu estou arrasando nas obras – falou Rodrigo.
- Como sempre – Bruna beijou o amado.
- A minha casa vai ser a última.
- Pode tirando o cavalinho da chuva, Cacs. A última é a minha!
- Então a minha é a do meio.
- Não, não. A do meio é a nossa – Ellen me encarou.
- Que saco! Vou ter que ficar no começo?
- Vai – os quatro falaram juntos.
- Me lasquei todinho!!!
Todavia, todos os finais de semana ele e a noiva iam para São Paulo para acompanhar as obras da minha casa, da casa dele e da casa do Cauã, que aconteciam simultaneamente na Vila Mariana.
- Está ficando ótimo – comentei.
- Eu arrasei no projeto, não arrasei?
- Se sentindo a última bolacha do pacote.
- Cala a boca, cunhado.
- Ele arrasou mesmo, Cauã. Não tem como negar.
- E eu estou arrasando nas obras – falou Rodrigo.
- Como sempre – Bruna beijou o amado.
- A minha casa vai ser a última.
- Pode tirando o cavalinho da chuva, Cacs. A última é a minha!
- Então a minha é a do meio.
- Não, não. A do meio é a nossa – Ellen me encarou.
- Que saco! Vou ter que ficar no começo?
- Vai – os quatro falaram juntos.
- Me lasquei todinho!!!
- Alô? – atendi ao celular enquanto dirigia.
- Caio?
- Quem fala?
Eu conhecia aquela voz de algum lugar.
- É a Duda! Não reconhece mais a minha voz?
- Duda!!! Quanto tempo, querida.
- É, Caio! Você está bem?
- Estou ótimo e você?
- Estou bem, obrigada.
- A que devo a honra de sua ligação?
- Queria conversar com você. Está ocupado?
- No trânsito, mas estou no fone e parado em um engarrafamento. Diga, querida.
Ela queria pedir desculpas pelos últimos meses em que trabalhamos juntos. Tudo bem que o pedido de perdão veio muito tardiamente, mas mesmo assim eu resolvi perdoá-la.
- Caio?
- Quem fala?
Eu conhecia aquela voz de algum lugar.
- É a Duda! Não reconhece mais a minha voz?
- Duda!!! Quanto tempo, querida.
- É, Caio! Você está bem?
- Estou ótimo e você?
- Estou bem, obrigada.
- A que devo a honra de sua ligação?
- Queria conversar com você. Está ocupado?
- No trânsito, mas estou no fone e parado em um engarrafamento. Diga, querida.
Ela queria pedir desculpas pelos últimos meses em que trabalhamos juntos. Tudo bem que o pedido de perdão veio muito tardiamente, mas mesmo assim eu resolvi perdoá-la.
- Não esquenta a cabeça. Eu nem me lembrava mais disso.
- Mas eu sim! Eu fui muito idiota com você, me perdoe.
- Eu entendo. Era a cobrança do vagabundo do Antony.
- É! Mas já passou. Amigos de novo?
- Claro, Duda – sorri com sinceridade. – Eu sinto a sua falta!
- Eu também sinto a sua.
Era verdade. Eu sentia mesmo a falta da Eduarda. Ela foi uma das minhas melhores líderes. Só perdeu para o Jonas mesmo.
- A Dani está bem?
- Sim, graças a Deus! Muito esperta, muito faladeira...
- Se puxar para a mãe, ela vai falar mesmo.
- Vai mesmo, porque eu falo pelos cotovelos. Lindo, obrigada por ter me perdoado.
- Imagina. Foi bom falar com você.
- Foi bom falar com você também. Até logo!
- Até. Fique com Deus.
- Amém, você também.
Desliguei o celular e entrei na avenida que dava acesso a casa dos meus pais. Consegui chegar lá antes da hora prevista.
Saí, toquei a campainha e fiquei esperando alguém me atender. Quem saiu foi o Edson.
- Bom dia – ele falou.
- Bom dia, Edson. Minha mãe está?
- Já saiu para a faculdade. Entra.
- Licença.
Meu relacionamento com ele estava um pouco melhor. Ele já não me ofendia mais.
- Onde estão as crianças?
- Aqui no térreo fazendo bagunça.
Eu ia levar os gêmeos para uma consulta de rotina com o pediatra. Ninguém mais conseguiu fazer isso. Minha mãe estava na faculdade, meu irmão resolvendo problemas do casamento e meu pai tinha que trabalhar.
- Eu preciso das cadeirinhas deles, Edson.
- Eu vou pegar. Só um momento.
Nós não éramos pai e filho. Nós éramos meros conhecidos que se toleravam. Ou ele fazia isso, ou a Fátima colocava ele para fora de casa.
- Vem cá, mocinho!
- Não!
- Vem sim senhor! Hum, esta cheiroso!
Coloquei os moleques no carro e peguei os cartões da assistência médica dos mesmos. Meu pai parecia cansado.
- Devo deixá-los na creche depois?
- Isso. Seu irmão só volta à noite.
- Beleza. Você está bem, Edson? Parece um pouco cansado!
- Eu estou mesmo. Trabalhando demais.
- Precisa tirar férias.
- É, eu vou fazer isso. Vou ver se levo sua mãe para viajar comigo e as crianças.
- Não, só vocês dois.
- E eles? Ficam sozinhos?
- Comigo e com o Cauã!
- Pode ser. Vou ver.
Não falei nada, só fiquei encarando os olhos dele. Ele estava mais calmo mesmo. Bem mais calmo.
- Até logo.
- Até. Não esquece de perguntar dessa alergia do Davi.
- Pode deixar. Qualquer coisa eu ligo.
- O celular está ligado.
Saí sem me despedir, mas com vontade de fazê-lo. Eu sentia, no fundo do meu coração, que ele estava se tornando um ser humano melhor.
- É, Edson! Está na hora de amadurecer mesmo, meu pai!
David e Davi passavam com o mesmo pediatra que eu e Cauã quando tínhamos a idade deles. Por incrível que pareça, isso não foi proposital e sim uma mera coincidência.
- David Monteiro e Davi Monteiro.
- Venham seus arteiros. É a vez de vocês.
Levei os meninos andando e eles pareceram gente grande. Deu até gosto!
- Olá – entrei na sala. – Bom dia, Dr. Adão!
- Bom dia. Como tem passado?
- Bem e o senhor?
- Bem! E esses pimpolhos? Como estão?
- Cada dia mais traquinos.
Foi uma consulta demorada porque o médico olhou o corpo todo dos meninos. Ele estava bem envelhecido.
- Essa alergia na virilha é só uma dermatite e deve ser por causa do xixi. Eu vou passar uma pomada.
- Eles estão bem de um modo geral?
- Muito bem. Saudáveis, no peso e na altura corretos para a idade deles.
- Que bom!
- É só marcar retorno daqui 90 dias.
- Sim senhor! Muito obrigado, Dr. Adão.
- De nada, rapaz. Bom revê-lo.
- Acho que a última vez que nos vimos eu tinha uns 10 anos. Faz tempo, hein?
- Pois é! Daqui a pouco vai trazer seus filhos para passarem comigo.
- Não tenha dúvidas disso!
- Adoro a comida da minha sogra.
- Adora, é? – beijei o rosto dele.
- Muito! Eu viro aqui, é?
- Já está esperto, hein? Gostei de ver!
- Venho tanto a essa cidade que estou ficando até acostumado.
Bruno e eu descemos do carro e ele tocou a campainha. Minha mãe não tardou a abrir o portão para nós.
- Boa tarde – a cumprimentei.
- Boa tarde, lindo.
- Boa tarde, sogra.
- Como tem passado, meu filho?
- Bem e a senhora?
- Estou ótima!
- Cada vez mais magra, hein mãe?
- É a academia! Estou amando.
- Viu só? E você ficava com aquele medo.
- Alguém me ensinou que o medo bloqueia a nossa vida.
- É mesmo? Quem te ensinou isso?
- Um tal de Caio Monteiro. Conhece?
- Caio Monteiro? Quem é esse?
- O anjo mais lindo que existe na face dessa Terra – Bruno beijou meu rosto.
- Assim eu fico sem graça!
Seria um almoço em família. Até os gêmeos estavam na mesa.
- Sai do WhatsApp, Cauã!
- Conversando com seu outro irmão.
- O que aquele filho da puta está fazendo agora?
- Adivinha?
- Deitado, com certeza.
- Acertou!
- Quando o Rodrigo se muda mesmo?
- Julho. Não tem data certa ainda.
- Mas ele não foi promovido?
- Foi, Bruh, mas ele está exercendo a função lá no Paraná mesmo. Pelo menos por enquanto.
- Esse Rodrigo é mais enrolado do que papel higiênico.
- O que vai ter de almoço, Dona Fátima?
- Muqueca de peixe...
- CRUZES – eu fiz cara de nojo.
- E bife à rolet para quem não gosta de peixe.
- Ai que susto – respirei aliviado. – Odeio peixe!
- Dois – Cauã continuava no celular.
- Três – falou Bruno.
- “Doisi” – falou Davi.
- Que lindo – Bruno riu. – Vem com o cunhado, vem?
Meus irmãos estavam com um ano e três meses e estavam cada dia mais lindinhos. Os dois dariam jovens muito bonitos.
Pouco tempo depois, meu pai entrou na cozinha carregado de sacolas. Bruno e eu levantamos para sair, mas ele não permitiu que isso acontecesse:
- Fiquem, fiquem. Não precisam sair por minha causa.
- Como é? – não me segurei.
- Não ouviu? Falei que não precisam sair por minha causa! Eu não vou falar nada. Fiquem à vontade.
Bruno e eu nos olhamos com a boca aberta. Ele era o mesmo Edson de antes? Será?
Quando ele saiu, eu não me controlei e abri logo o bico:
- O que ele tem? Trocou de cérebro?
- Não – minha mãe suspirou. – São as minhas broncas que estão surtindo efeito.
- O que você fez nele? Uma lavagem cerebral?
- Praticamente.
- Estou preto passado na chapinha!!!
Ele estava mudado, um pouco mudado, mas não por completo. De vez em quando ele ainda tinha uns rompantes de estresse e intolerância, mas estavam mais espaçados uns dos outros.
- Aceita uma muquequinha de peixe, Bruno?
- Não, obrigado. Eu não gosto de peixe, sogra.
- Mais um para a turma – Cauã se acabou no arroz de forno.
- Ainda vou fazer você aprender a comer peixe – Ellen comentou.
- Nem a pau, Juvenal!
Meu pai comeu na mesa conosco, mas não dirigiu o olhar a nós. Acho que ele ainda estava aprendendo a lidar com aquela situação.
- Rodrigo me convidou para o casamento dele, Caio.
- Eu sei. Ele me contou que mandou o convite.
- Saco. Não dá nem para fazer suspense – Cauã bufou.
- Você vai?
- Não dá. É muito longe. Bem que eu queria ir.
- Faz um esforço, mano. Vai ser ótimo!
- Vocês vão? – perguntou Fátima.
- Sim, eu sou padrinho.
- Ai, que lindo! Quero ver as fotos depois.
- Beleza.
- Falando em casamento, vocês precisam marcar a data do de vocês, hein?
- Nós vamos marcar, mãe.
- Já sabem mais ou menos para quando?
- Março, Fátima – respondeu Ellen.
- Não está nada longe. Vai dar tempo organizar tudo?
- Com certeza. Já temos quase tudo definido.
- Não vão me obrigar a ir de smoking também não, né?
- Não, mas não dispenso um bom terno e uma boa gravata.
- Pô, cunhada! Deixa eu ir com a camisa do Corinthians, vai?
- Atreva-se. Eu mato você!
- Adora, é? – beijei o rosto dele.
- Muito! Eu viro aqui, é?
- Já está esperto, hein? Gostei de ver!
- Venho tanto a essa cidade que estou ficando até acostumado.
Bruno e eu descemos do carro e ele tocou a campainha. Minha mãe não tardou a abrir o portão para nós.
- Boa tarde – a cumprimentei.
- Boa tarde, lindo.
- Boa tarde, sogra.
- Como tem passado, meu filho?
- Bem e a senhora?
- Estou ótima!
- Cada vez mais magra, hein mãe?
- É a academia! Estou amando.
- Viu só? E você ficava com aquele medo.
- Alguém me ensinou que o medo bloqueia a nossa vida.
- É mesmo? Quem te ensinou isso?
- Um tal de Caio Monteiro. Conhece?
- Caio Monteiro? Quem é esse?
- O anjo mais lindo que existe na face dessa Terra – Bruno beijou meu rosto.
- Assim eu fico sem graça!
Seria um almoço em família. Até os gêmeos estavam na mesa.
- Sai do WhatsApp, Cauã!
- Conversando com seu outro irmão.
- O que aquele filho da puta está fazendo agora?
- Adivinha?
- Deitado, com certeza.
- Acertou!
- Quando o Rodrigo se muda mesmo?
- Julho. Não tem data certa ainda.
- Mas ele não foi promovido?
- Foi, Bruh, mas ele está exercendo a função lá no Paraná mesmo. Pelo menos por enquanto.
- Esse Rodrigo é mais enrolado do que papel higiênico.
- O que vai ter de almoço, Dona Fátima?
- Muqueca de peixe...
- CRUZES – eu fiz cara de nojo.
- E bife à rolet para quem não gosta de peixe.
- Ai que susto – respirei aliviado. – Odeio peixe!
- Dois – Cauã continuava no celular.
- Três – falou Bruno.
- “Doisi” – falou Davi.
- Que lindo – Bruno riu. – Vem com o cunhado, vem?
Meus irmãos estavam com um ano e três meses e estavam cada dia mais lindinhos. Os dois dariam jovens muito bonitos.
Pouco tempo depois, meu pai entrou na cozinha carregado de sacolas. Bruno e eu levantamos para sair, mas ele não permitiu que isso acontecesse:
- Fiquem, fiquem. Não precisam sair por minha causa.
- Como é? – não me segurei.
- Não ouviu? Falei que não precisam sair por minha causa! Eu não vou falar nada. Fiquem à vontade.
Bruno e eu nos olhamos com a boca aberta. Ele era o mesmo Edson de antes? Será?
Quando ele saiu, eu não me controlei e abri logo o bico:
- O que ele tem? Trocou de cérebro?
- Não – minha mãe suspirou. – São as minhas broncas que estão surtindo efeito.
- O que você fez nele? Uma lavagem cerebral?
- Praticamente.
- Estou preto passado na chapinha!!!
Ele estava mudado, um pouco mudado, mas não por completo. De vez em quando ele ainda tinha uns rompantes de estresse e intolerância, mas estavam mais espaçados uns dos outros.
- Aceita uma muquequinha de peixe, Bruno?
- Não, obrigado. Eu não gosto de peixe, sogra.
- Mais um para a turma – Cauã se acabou no arroz de forno.
- Ainda vou fazer você aprender a comer peixe – Ellen comentou.
- Nem a pau, Juvenal!
Meu pai comeu na mesa conosco, mas não dirigiu o olhar a nós. Acho que ele ainda estava aprendendo a lidar com aquela situação.
- Rodrigo me convidou para o casamento dele, Caio.
- Eu sei. Ele me contou que mandou o convite.
- Saco. Não dá nem para fazer suspense – Cauã bufou.
- Você vai?
- Não dá. É muito longe. Bem que eu queria ir.
- Faz um esforço, mano. Vai ser ótimo!
- Vocês vão? – perguntou Fátima.
- Sim, eu sou padrinho.
- Ai, que lindo! Quero ver as fotos depois.
- Beleza.
- Falando em casamento, vocês precisam marcar a data do de vocês, hein?
- Nós vamos marcar, mãe.
- Já sabem mais ou menos para quando?
- Março, Fátima – respondeu Ellen.
- Não está nada longe. Vai dar tempo organizar tudo?
- Com certeza. Já temos quase tudo definido.
- Não vão me obrigar a ir de smoking também não, né?
- Não, mas não dispenso um bom terno e uma boa gravata.
- Pô, cunhada! Deixa eu ir com a camisa do Corinthians, vai?
- Atreva-se. Eu mato você!
- Ultimamente essas noivas estão ficando violentas demais! Eu, hein?! Coitados
dos meus irmãos!!!
- Mandou me chamar, Roberto?
- Sim, Caio. Sente-se.
Eu sentei e fiquei esperando alguma orientação. Com certeza ele ia me pedir alguma coisa.
- Pois não?
- Preciso que você abra um processo seletivo para Gerente de Recursos Humanos.
Eu arregalei meus olhos. Para a minha vaga? Será que eu...
- Eu vou ser demitido?
- Calma, rapaz – o cara sorriu. – Não disse isso, disse?
- Não, mas se é para abrir um processo para o meu cargo...
- Ou você vai ser demitido, ou promovido. Como não pretendo te demitir...
- Espera! Você está me dizendo que...
- Você está sendo promovido, Caio!
Ainda bem que eu estava sentado.
- Promovido? Para qual cargo?
- À partir desse momento, você é nosso novo Gestor, Caio! Meus parabéns.
Eu fiquei boquiaberto.
- Gestor? Nossa, Roberto...
- Você fez um excelente trabalho em todos os departamentos que comandou e por isso está sendo promovido. Meus parabéns!
- Sim, Caio. Sente-se.
Eu sentei e fiquei esperando alguma orientação. Com certeza ele ia me pedir alguma coisa.
- Pois não?
- Preciso que você abra um processo seletivo para Gerente de Recursos Humanos.
Eu arregalei meus olhos. Para a minha vaga? Será que eu...
- Eu vou ser demitido?
- Calma, rapaz – o cara sorriu. – Não disse isso, disse?
- Não, mas se é para abrir um processo para o meu cargo...
- Ou você vai ser demitido, ou promovido. Como não pretendo te demitir...
- Espera! Você está me dizendo que...
- Você está sendo promovido, Caio!
Ainda bem que eu estava sentado.
- Promovido? Para qual cargo?
- À partir desse momento, você é nosso novo Gestor, Caio! Meus parabéns.
Eu fiquei boquiaberto.
- Gestor? Nossa, Roberto...
- Você fez um excelente trabalho em todos os departamentos que comandou e por isso está sendo promovido. Meus parabéns!
- Obrigado! Eu nem sei o que te falar.
- Não precisa falar nada. Você fez por onde merecer isso.
- Mesmo assim, estou surpreso.
- Sabe como vai ser agora, não sabe?
- Mais ou menos! Se puder me explicar, ficarei grato.
- À partir desse momento, você será o superior de todos os gerentes, menos o do RH, porque ele responde direto para mim. Você comandará uma equipe de doze pessoas e terá que acompanhar os resultados e metas de cada departamento.
- Uau! Isso vai ser o máximo!
- Vai sim. Eu tenho certeza que você vai gostar.
- E quando eu começo?
- Assim que o novo Gerente de Recursos Humanos assumir a vaga.
- E para quando seria isso?
- Começo de maio. O resto do mês de abril você continua com eles.
- O processo será interno, correto?
- Exatamente e será apenas para a sua equipe.
- O Víctor pode participar?
- Pode, mas só se ele quiser. Não o obrigue a nada.
- Pode deixar, chefe!
- Parabéns novamente.
- Muito, muito obrigado mesmo!
- Não me agradeça. O mérito é todo e exclusivo seu.
- No que está pensando? – beijei o rosto dele.
- Em como estou feliz ao seu lado.
- Eu também estou, amor.
- Sabe, eu estive pensando.
- Em quê?
- No nome do nosso bebê!
Eu sorri.
- Eu também estive pensando nisso.
- Quais nomes você gosta?
- Fala primeiro os seus!
- Bom, se for menino, eu gosto muito de Agenor.
Desfiz o meu sorriso aos pouquinhos.
- Está repreendido no sangue de Jesus!
- Por que? Qual o problema?
- Que nome mais feio!
- Não é feio – ele fechou a cara. – É bonito!
- Não gostei. Pula.
- Se não for Agenor, eu gosto de Leopoldo.
- Nossa, Bruno! Quero não. Que nome de velho!
- Credo! Você não gosta de nada que eu escolho.
Abracei o meu bebê.
- Para de graça! Se for menina, você gosta de quais nomes?
- Romilda, Juraci, Serafina, Dionísia, Perpétua...
Foi como receber uma facada no peito a cada nome que ele falava.
- Puquéria...
- Para...
- Romoalda...
- Para, Bruno...
- Alaora...
- Bruno, para!
- Lucivância...
- PAROU! Se eu levar outra facada dessas eu morro!
Ele fez um biquinho lindo e enorme.
- Seu bobo! Fala a verdade!
- Mas é verdade! Você sabe que eu tenho apreço por nomes exóticos.
- Então melhor deixar que eu escolha o nome!
- E quais você quer?
- Para menina: Stephanie, Giovanna, Bianca, Brenda, Beatriz...
- Gostei do Giovanna.
- É um dos meus favoritos.
- E para menino?
- Mateus, Mateus, Mateus e Mateus!
- Só por causa do Mateus, né?
- Pior que não. Eu sempre amei esse nome. Se não for Mateus, quero Lucas.
- Que tal a gente fazer a junção dos nossos nomes?
- Ai credo, Bruno! Ficaria “Bruio”, “Bruca”...
- “Cabru” ou “Cano”.
- Ah, nossa! Que lindo, vou chamar meu filho de Cano. Daí ele vira encanador quando grande. Que lindo!
- Em como estou feliz ao seu lado.
- Eu também estou, amor.
- Sabe, eu estive pensando.
- Em quê?
- No nome do nosso bebê!
Eu sorri.
- Eu também estive pensando nisso.
- Quais nomes você gosta?
- Fala primeiro os seus!
- Bom, se for menino, eu gosto muito de Agenor.
Desfiz o meu sorriso aos pouquinhos.
- Está repreendido no sangue de Jesus!
- Por que? Qual o problema?
- Que nome mais feio!
- Não é feio – ele fechou a cara. – É bonito!
- Não gostei. Pula.
- Se não for Agenor, eu gosto de Leopoldo.
- Nossa, Bruno! Quero não. Que nome de velho!
- Credo! Você não gosta de nada que eu escolho.
Abracei o meu bebê.
- Para de graça! Se for menina, você gosta de quais nomes?
- Romilda, Juraci, Serafina, Dionísia, Perpétua...
Foi como receber uma facada no peito a cada nome que ele falava.
- Puquéria...
- Para...
- Romoalda...
- Para, Bruno...
- Alaora...
- Bruno, para!
- Lucivância...
- PAROU! Se eu levar outra facada dessas eu morro!
Ele fez um biquinho lindo e enorme.
- Seu bobo! Fala a verdade!
- Mas é verdade! Você sabe que eu tenho apreço por nomes exóticos.
- Então melhor deixar que eu escolha o nome!
- E quais você quer?
- Para menina: Stephanie, Giovanna, Bianca, Brenda, Beatriz...
- Gostei do Giovanna.
- É um dos meus favoritos.
- E para menino?
- Mateus, Mateus, Mateus e Mateus!
- Só por causa do Mateus, né?
- Pior que não. Eu sempre amei esse nome. Se não for Mateus, quero Lucas.
- Que tal a gente fazer a junção dos nossos nomes?
- Ai credo, Bruno! Ficaria “Bruio”, “Bruca”...
- “Cabru” ou “Cano”.
- Ah, nossa! Que lindo, vou chamar meu filho de Cano. Daí ele vira encanador quando grande. Que lindo!
Ele riu alto.
- Melhor não mesmo. Melhor a gente pensar nisso depois.
- Eu também acho. Eu tenho algo muito melhor para fazermos agora.
- É? O quê?!
- Isso aqui.
Começamos a nos beijar.
O CASAMENTO DO RODRIGO...
A temperatura estava amena em Curitiba naquele sábado. Eu estava
ansioso, extremamente ansioso para o casamento do meu irmão postiço.
- Chegou o grande dia!!!
- É – ele me abraçou. – Que saudades de você!
- Também! Como está?
- Nervoso, não nego!
- Calma que vai dar tudo certo. Oi, Dona Inês! Como se sente?
- Parece que estou indo para o meu primeiro dia de aula. Estou suando frio!
- Calma que hoje não pode dar nada errado. Fique tranquila.
- Como vai, Bruno?
- Muito bem, Dona Inês, obrigado.
- Lamento não ter podido ir no casamento de vocês. Me perdoem mesmo.
- A gente entende, Dona Inês.
- Anda, Caio – Rodrigo me puxou. – Me acompanha no meu dia de noivo porque eu não quero ficar sozinho.
- Ai que folgado!
- Vem você também, olhos de bola de gude. Alguém precisa filmar.
- E é para isso que eu sirvo?
- Exatamente!
Se o Bruno serviu de câmera-man, eu servi de chofer. Rodrigo estava tão nervoso, que não conseguiu pegar no volante.
- Agora vira nessa avenida.
- Deus do céu...
- Onde vai ser a lua de mel, Digow?
- Fernando de Noronha, Bruno.
- Ai que badalo – meu namorado falou.
- Esse bordão da Jana pegou, hein?
- Verdade. E no fim vocês nem viajaram, né?
- Não deu. Muita conta para pagar.
- Eu sei. Nem me fala! Só vou porque foi presente do meu pai mesmo, senão nem ia.
Eu acompanhei todo o dia do noivo do Rodrigo. Ele cortou o cabelo, fez a barba nanavalha, sobrancelha, as unhas dos pés e das mãos e ainda ousou em uma limpeza de pele.
- Se seu rosto ficar marcado eu não me responsabilizo.
- Ele não vai ficar. Eu só quero que você tire os cravos. Só isso!
- Então tá!
Depois do salão de beleza, nós fomos para uma clínica de estética e lá ele teve direito a massagem e a depilação. Eu não perdi isso por nada.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAI...
A cada grito que ele dava, era uma risada que eu soltava. O Bruno então nem se fala.
- Já acabou, já acabou.
- Louvado seja Deus!
- Não quer mesmo fazer na região íntima?
- FICOU LOUCA? NÃO MESMO!
- Pô, tem que fazer – falei, quando estávamos a sós.
- Não, não vou. Deixa do jeito que está mesmo.
- Está muito peludo?
- Natural.
- Para, vai? Dá um trato nisso, é sua noite de núpcias.
- Chegando em casa eu corto. Cera eu não coloco nem para salvar a humanidade dos pecados.
Depois disso, nós fomos para a casa dele e almoçamos. Toda a família estava reunida lá, até a moça que entraria comigo na igreja.
- Então você é o famoso Caio?
- E você a famosa Jéssica?
- Isso! Muito prazer.
- O prazer é meu.
- Meu primo me arrumou um belo par. Pena que já é casado.
Eu fiquei vermelho de vergonha e o Bruno roxo, mas de raiva.
- Ele me arrumou uma bela par também.
Enquanto nós comíamos, meu celular tocou. Vinícius, Bruna, Fabrício e Nícolas haviam chegado.
- Eu busco eles.
- Obrigado, pai!
- Disponha, filho. Eu não demoro.
- O Cauã não vem mesmo, né?
- Não, Digow. Ele está muito apertado.
- Eu entendo. Pena que ele não venha.
- Pena mesmo.
Como a casa estava muito cheia e o espaço não computou todo mundo, na hora de me ajeitar, fui obrigado a dividir o banheiro com o noivo. Ainda bem que nós já tínhamos intimidade.
- Vira de costas – ele falou.
- Por quê?
- Porque vou ficar pelado, porra.
- Ah, para de graça. Como se eu não soubesse o que você tem aí no meio das suas pernas.
- Ainda nem aparei.
- Vai dar tempo. Se eu não fosse casado, eu te ajudava nisso.
- Você para, hein? Você para! Anda, vira de costas.
Eu suspirei e me virei. Eu estava com dificuldade para colocar o meu smoking.
- Como coloca esse trem?
- Meu pai saberia te ajudar com isso.
- Eu chamo ele?
- NÃO! Espera eu me vestir.
- Então eu vou sair daqui, senão não vai dar tempo.
- Isso, saia. Eu fico mais à vontade se você fizer isso.
- Nunca vi um cara tão tímido como você, fala sério!
- Sou mesmo.
Saú e meu pai postiço me ajudou com a vestimenta à rigor. Usar Black tié foi uma exigência da noiva. Deu preguiça.
- E está pronto, filho.
- Obrigado! Como eu estou?
- Lindo demais – Bruno suspirou.
- Vem, vamos tirar uma foto.
Tirei a selfie com o Bruno e já coloquei de cara no Facebook. Ainda fiz questão de mandar para o Cauã pelo WhatsApp para que ele mostrasse a minha mãe. Ela adorou.
- Vai demorar aí, Rodrigo? – perguntou Renato.
- Já vou, já vou!
- Será que deu caganeira nele, gente?
- Não, pai. Ele está cortando os cabelos.
- Que história é essa?
- De lá de baixo, sacou?
- Ah, mas que hora mais imprópria para isso!
Quando Renato saiu, Bruno me puxou e me deu um beijo. Isso me deixou feliz.
- Você está lindo com essa roupa.
- Você também – falei a verdade.
- Vai fazer moicano?
- Vou. O que acha?
- Perfeito.
Quando vi a Bruna pronta, levei um susto. Ela estava uma gata!
- Nossa! Que linda!
- Obrigada, Caio!
- Nossa, que barrigão, hein? Ficou mais evidente ainda nesse vestido.
- Eu tive que usar mais meio metro de tecido por causa dessa barriga, senão meus pés ficariam aparecendo. Não pode!
Vinícius, o médico gostosão, ficou um pitel com smoking preto. Nós, os padrinhos, estávamos parecendo um monte de pinguins.
- Olha o charme do Nícolas!
- Você está lindo, rapazinho.
- Eu sei, tio Caio! Eu “pucei” ao meu papai!
Eu sempre ria dessa frase dele.
- Safado!
- Pai? Por que a dinda está tão barriguda?
- Porque ela está esperando um neném.
- Que nem eu?
- Que nem você, mas menor.
- Mas pai, como ele vai sair de lá?
Fabrício abriu a boca, mas não falou nada.
- Toma, manézão – Vini riu. – Saia dessa agora.
- O padrinho vai cortar a barriga dela e vai tirar o neném, filho!
- É verdade, “padim”?
- É sim, Nico!
- E como você colocou o neném lá?
Bruno caiu na gargalhada.
- Depois o padrinho te explica, quando você tiver com uns nove anos. Tá bom?
- “Clalo” que não, né “padim”. Vai “demolar” muito ainda.
- Pois você terá que esperar.
Quando Rodrigo saiu do banheiro, ele já estava pronto. O smoking dele era com um corte totalmente diferente do nosso e era bem bonito.
- Estou gatão, não estou?
Pior que ele estava. O filho da puta ficou lindo.
- Ai, meu filho...
Dona Inês chorou que soluçou quando viu Rodrigo pronto. Ela borrou toda a maquiagem.
- Lá vamos nós fazer tudo de novo – Marcelle suspirou.
Por causa disso, nos atrasamos. Tivemos que ir de van para a igreja, visto o número de pessoas que estavam naquela casa. Os únicos que foram de carro foram os pais do noivo e o próprio noivo.
- Uau – assoviei. – Que igreja linda!!!
Fui um dos últimos a descer da van. Bruno e eu tiramos outra selfie, dessa vez com a igreja ao fundo.
- Essa eu posto.
- Posta aí, amor.
O pobre do Bruno acabou ficando sozinho, porque todos nós seríamos padrinhos e entraríamos depois. Ele teve que entrar sozinho na paróquia.
- Boa sorte.
- Obrigado – dei um selinho nele. – Te amo.
- Eu também!
- Que foi, Bruna?
- A bebê chutou, Vini. Ela está agitada hoje.
- Pelo amor de Deus, não me inventa de parir hoje, hein?
- Não, não. Não está na hora ainda. Falta um mês!
- Vai que ela é apressadinha que nem o Nícolas e o Caio.
- Já pensou se ela nasce hoje?
- Minha nora já quer nascer?
- Sua nora é o...
- Olha a boca! – Bruna o repreendeu.
- Caramba. Não, ela não vai nascer.
Seriam dois acontecimentos únicos de uma vez só. Eu ficaria feliz se isso acontecesse.
Quando tudo estava pronto e todos os convidados entraram, a gente começou a se preparar porque a qualquer momento, a cerimônia ia começar.
Quando o Renato entrou com a mãe da noiva, eu já comecei a me preparar psicologicamente porque há qualquer momento chegaria a minha vez.
E chegou mesmo, porque Jéssica e eu fomos o primeiro casal de padrinhos do noivo a pisar no tapete vermelho.
Apenas ao som de violinos, nós dois começamos a andar com um sorriso nos lábios. A luz da câmera me cegou em alguns momentos. Nós estávamos sendo filmados e fotografados, como não poderia deixar de ser.
Foi um trajeto longo e torturante. Eu fiquei com medo de pisar na barra do vestido da prima do Rodrigo. Este, era verde e extremamente elegante. Eu não podia me dar ao luxo de cometer nenhuma gafe.
Quando vi o Bruno, olhei para ele e ele bateu uma foto com o celular. Com certeza aquela também ia para as redes sociais instantaneamente.
Ao subir as escadas, tomei mais cuidado ainda. Eu não queria pagar nenhum mico e por sorte, nada disso aconteceu.
Como eram seis pares de padrinhos para cada noivo, a entrada do Rodrigo tardou a acontecer. Eu estava na expectativa para isso.
Quando Bruna e Vinícius começaram a caminhar, eu ouvi vários burburinhos pela igreja. Com certeza o pessoal estava falando da gravidez da minha amiga.
Fabrício e a outra prima do Digow foram os últimos a entrar e quando eles se posicionaram, eu prendi a minha respiração. Era a vez dele!
Quando meu irmão surgiu no meu campo de visão, eu senti a maior vontade de chorar. Como estava lindo ao lado da mãe! Como estava feliz naquele momento! Como ele merecia aquele casamento!
Ao toque dos violinos, nós ouvimos “Per Amore” da Laura Pausini. Rodrigo e a mãe caminhavam lentamente. Ele sorria, mas ela segurava o choro e isso era nítido de longe.
E então ele chegou ao altar. O rapaz deu um beijo na mãe, ela retribuiu beijando sua testa e em seguida colocou-se ao lado do esposo, até então solitário.
O Engenheiro Civil virou-se para a porta da igreja, novamente fechada, e nós ficamos no aguardo da pessoa mais importante da noite: a Bárbara.
Como ela estaria vestida? Será que o vestido seria daqueles tradicionais? Ou será que ela ia ousar como a Bruna ousou?
Conhecendo a Bárbara como eu conhecia, eu tinha certeza que ela tinha separado um modelito daqueles de parar o trânsito e que chocaria a todos nós. Ela não era mulher para usar algo tradicional, não era mesmo.
E não deu outra. Quando os músicos começaram a tocar a Marcha Nupcial e as portas se abriram, nos deparamos com uma Bárbara extremamente sexy e ousada.
A mulher usava um vestido mais justo que o normal. Com um decote profundo e com transparência em alguns locais. Além disso, o tecido era bordado e a calda simplesmente imensa. Ela já estava no meio da igreja e a calda ainda estava lá atrás.
Não havia dama de honra. Só ela e o pai. Não houve necessidade de mais nada. E como estava linda a minha cunhada!
Ao chegar no altar, Rodrigo desceu os degraus e foi receber a amada dos braços do sogro. Eles se abraçaram, ele beijou a mão da quase mulher e eles subiram os degraus de braços dados. Nesse minuto a cerimônia foi iniciada.
- Chegou o grande dia!!!
- É – ele me abraçou. – Que saudades de você!
- Também! Como está?
- Nervoso, não nego!
- Calma que vai dar tudo certo. Oi, Dona Inês! Como se sente?
- Parece que estou indo para o meu primeiro dia de aula. Estou suando frio!
- Calma que hoje não pode dar nada errado. Fique tranquila.
- Como vai, Bruno?
- Muito bem, Dona Inês, obrigado.
- Lamento não ter podido ir no casamento de vocês. Me perdoem mesmo.
- A gente entende, Dona Inês.
- Anda, Caio – Rodrigo me puxou. – Me acompanha no meu dia de noivo porque eu não quero ficar sozinho.
- Ai que folgado!
- Vem você também, olhos de bola de gude. Alguém precisa filmar.
- E é para isso que eu sirvo?
- Exatamente!
Se o Bruno serviu de câmera-man, eu servi de chofer. Rodrigo estava tão nervoso, que não conseguiu pegar no volante.
- Agora vira nessa avenida.
- Deus do céu...
- Onde vai ser a lua de mel, Digow?
- Fernando de Noronha, Bruno.
- Ai que badalo – meu namorado falou.
- Esse bordão da Jana pegou, hein?
- Verdade. E no fim vocês nem viajaram, né?
- Não deu. Muita conta para pagar.
- Eu sei. Nem me fala! Só vou porque foi presente do meu pai mesmo, senão nem ia.
Eu acompanhei todo o dia do noivo do Rodrigo. Ele cortou o cabelo, fez a barba nanavalha, sobrancelha, as unhas dos pés e das mãos e ainda ousou em uma limpeza de pele.
- Se seu rosto ficar marcado eu não me responsabilizo.
- Ele não vai ficar. Eu só quero que você tire os cravos. Só isso!
- Então tá!
Depois do salão de beleza, nós fomos para uma clínica de estética e lá ele teve direito a massagem e a depilação. Eu não perdi isso por nada.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAI...
A cada grito que ele dava, era uma risada que eu soltava. O Bruno então nem se fala.
- Já acabou, já acabou.
- Louvado seja Deus!
- Não quer mesmo fazer na região íntima?
- FICOU LOUCA? NÃO MESMO!
- Pô, tem que fazer – falei, quando estávamos a sós.
- Não, não vou. Deixa do jeito que está mesmo.
- Está muito peludo?
- Natural.
- Para, vai? Dá um trato nisso, é sua noite de núpcias.
- Chegando em casa eu corto. Cera eu não coloco nem para salvar a humanidade dos pecados.
Depois disso, nós fomos para a casa dele e almoçamos. Toda a família estava reunida lá, até a moça que entraria comigo na igreja.
- Então você é o famoso Caio?
- E você a famosa Jéssica?
- Isso! Muito prazer.
- O prazer é meu.
- Meu primo me arrumou um belo par. Pena que já é casado.
Eu fiquei vermelho de vergonha e o Bruno roxo, mas de raiva.
- Ele me arrumou uma bela par também.
Enquanto nós comíamos, meu celular tocou. Vinícius, Bruna, Fabrício e Nícolas haviam chegado.
- Eu busco eles.
- Obrigado, pai!
- Disponha, filho. Eu não demoro.
- O Cauã não vem mesmo, né?
- Não, Digow. Ele está muito apertado.
- Eu entendo. Pena que ele não venha.
- Pena mesmo.
Como a casa estava muito cheia e o espaço não computou todo mundo, na hora de me ajeitar, fui obrigado a dividir o banheiro com o noivo. Ainda bem que nós já tínhamos intimidade.
- Vira de costas – ele falou.
- Por quê?
- Porque vou ficar pelado, porra.
- Ah, para de graça. Como se eu não soubesse o que você tem aí no meio das suas pernas.
- Ainda nem aparei.
- Vai dar tempo. Se eu não fosse casado, eu te ajudava nisso.
- Você para, hein? Você para! Anda, vira de costas.
Eu suspirei e me virei. Eu estava com dificuldade para colocar o meu smoking.
- Como coloca esse trem?
- Meu pai saberia te ajudar com isso.
- Eu chamo ele?
- NÃO! Espera eu me vestir.
- Então eu vou sair daqui, senão não vai dar tempo.
- Isso, saia. Eu fico mais à vontade se você fizer isso.
- Nunca vi um cara tão tímido como você, fala sério!
- Sou mesmo.
Saú e meu pai postiço me ajudou com a vestimenta à rigor. Usar Black tié foi uma exigência da noiva. Deu preguiça.
- E está pronto, filho.
- Obrigado! Como eu estou?
- Lindo demais – Bruno suspirou.
- Vem, vamos tirar uma foto.
Tirei a selfie com o Bruno e já coloquei de cara no Facebook. Ainda fiz questão de mandar para o Cauã pelo WhatsApp para que ele mostrasse a minha mãe. Ela adorou.
- Vai demorar aí, Rodrigo? – perguntou Renato.
- Já vou, já vou!
- Será que deu caganeira nele, gente?
- Não, pai. Ele está cortando os cabelos.
- Que história é essa?
- De lá de baixo, sacou?
- Ah, mas que hora mais imprópria para isso!
Quando Renato saiu, Bruno me puxou e me deu um beijo. Isso me deixou feliz.
- Você está lindo com essa roupa.
- Você também – falei a verdade.
- Vai fazer moicano?
- Vou. O que acha?
- Perfeito.
Quando vi a Bruna pronta, levei um susto. Ela estava uma gata!
- Nossa! Que linda!
- Obrigada, Caio!
- Nossa, que barrigão, hein? Ficou mais evidente ainda nesse vestido.
- Eu tive que usar mais meio metro de tecido por causa dessa barriga, senão meus pés ficariam aparecendo. Não pode!
Vinícius, o médico gostosão, ficou um pitel com smoking preto. Nós, os padrinhos, estávamos parecendo um monte de pinguins.
- Olha o charme do Nícolas!
- Você está lindo, rapazinho.
- Eu sei, tio Caio! Eu “pucei” ao meu papai!
Eu sempre ria dessa frase dele.
- Safado!
- Pai? Por que a dinda está tão barriguda?
- Porque ela está esperando um neném.
- Que nem eu?
- Que nem você, mas menor.
- Mas pai, como ele vai sair de lá?
Fabrício abriu a boca, mas não falou nada.
- Toma, manézão – Vini riu. – Saia dessa agora.
- O padrinho vai cortar a barriga dela e vai tirar o neném, filho!
- É verdade, “padim”?
- É sim, Nico!
- E como você colocou o neném lá?
Bruno caiu na gargalhada.
- Depois o padrinho te explica, quando você tiver com uns nove anos. Tá bom?
- “Clalo” que não, né “padim”. Vai “demolar” muito ainda.
- Pois você terá que esperar.
Quando Rodrigo saiu do banheiro, ele já estava pronto. O smoking dele era com um corte totalmente diferente do nosso e era bem bonito.
- Estou gatão, não estou?
Pior que ele estava. O filho da puta ficou lindo.
- Ai, meu filho...
Dona Inês chorou que soluçou quando viu Rodrigo pronto. Ela borrou toda a maquiagem.
- Lá vamos nós fazer tudo de novo – Marcelle suspirou.
Por causa disso, nos atrasamos. Tivemos que ir de van para a igreja, visto o número de pessoas que estavam naquela casa. Os únicos que foram de carro foram os pais do noivo e o próprio noivo.
- Uau – assoviei. – Que igreja linda!!!
Fui um dos últimos a descer da van. Bruno e eu tiramos outra selfie, dessa vez com a igreja ao fundo.
- Essa eu posto.
- Posta aí, amor.
O pobre do Bruno acabou ficando sozinho, porque todos nós seríamos padrinhos e entraríamos depois. Ele teve que entrar sozinho na paróquia.
- Boa sorte.
- Obrigado – dei um selinho nele. – Te amo.
- Eu também!
- Que foi, Bruna?
- A bebê chutou, Vini. Ela está agitada hoje.
- Pelo amor de Deus, não me inventa de parir hoje, hein?
- Não, não. Não está na hora ainda. Falta um mês!
- Vai que ela é apressadinha que nem o Nícolas e o Caio.
- Já pensou se ela nasce hoje?
- Minha nora já quer nascer?
- Sua nora é o...
- Olha a boca! – Bruna o repreendeu.
- Caramba. Não, ela não vai nascer.
Seriam dois acontecimentos únicos de uma vez só. Eu ficaria feliz se isso acontecesse.
Quando tudo estava pronto e todos os convidados entraram, a gente começou a se preparar porque a qualquer momento, a cerimônia ia começar.
Quando o Renato entrou com a mãe da noiva, eu já comecei a me preparar psicologicamente porque há qualquer momento chegaria a minha vez.
E chegou mesmo, porque Jéssica e eu fomos o primeiro casal de padrinhos do noivo a pisar no tapete vermelho.
Apenas ao som de violinos, nós dois começamos a andar com um sorriso nos lábios. A luz da câmera me cegou em alguns momentos. Nós estávamos sendo filmados e fotografados, como não poderia deixar de ser.
Foi um trajeto longo e torturante. Eu fiquei com medo de pisar na barra do vestido da prima do Rodrigo. Este, era verde e extremamente elegante. Eu não podia me dar ao luxo de cometer nenhuma gafe.
Quando vi o Bruno, olhei para ele e ele bateu uma foto com o celular. Com certeza aquela também ia para as redes sociais instantaneamente.
Ao subir as escadas, tomei mais cuidado ainda. Eu não queria pagar nenhum mico e por sorte, nada disso aconteceu.
Como eram seis pares de padrinhos para cada noivo, a entrada do Rodrigo tardou a acontecer. Eu estava na expectativa para isso.
Quando Bruna e Vinícius começaram a caminhar, eu ouvi vários burburinhos pela igreja. Com certeza o pessoal estava falando da gravidez da minha amiga.
Fabrício e a outra prima do Digow foram os últimos a entrar e quando eles se posicionaram, eu prendi a minha respiração. Era a vez dele!
Quando meu irmão surgiu no meu campo de visão, eu senti a maior vontade de chorar. Como estava lindo ao lado da mãe! Como estava feliz naquele momento! Como ele merecia aquele casamento!
Ao toque dos violinos, nós ouvimos “Per Amore” da Laura Pausini. Rodrigo e a mãe caminhavam lentamente. Ele sorria, mas ela segurava o choro e isso era nítido de longe.
E então ele chegou ao altar. O rapaz deu um beijo na mãe, ela retribuiu beijando sua testa e em seguida colocou-se ao lado do esposo, até então solitário.
O Engenheiro Civil virou-se para a porta da igreja, novamente fechada, e nós ficamos no aguardo da pessoa mais importante da noite: a Bárbara.
Como ela estaria vestida? Será que o vestido seria daqueles tradicionais? Ou será que ela ia ousar como a Bruna ousou?
Conhecendo a Bárbara como eu conhecia, eu tinha certeza que ela tinha separado um modelito daqueles de parar o trânsito e que chocaria a todos nós. Ela não era mulher para usar algo tradicional, não era mesmo.
E não deu outra. Quando os músicos começaram a tocar a Marcha Nupcial e as portas se abriram, nos deparamos com uma Bárbara extremamente sexy e ousada.
A mulher usava um vestido mais justo que o normal. Com um decote profundo e com transparência em alguns locais. Além disso, o tecido era bordado e a calda simplesmente imensa. Ela já estava no meio da igreja e a calda ainda estava lá atrás.
Não havia dama de honra. Só ela e o pai. Não houve necessidade de mais nada. E como estava linda a minha cunhada!
Ao chegar no altar, Rodrigo desceu os degraus e foi receber a amada dos braços do sogro. Eles se abraçaram, ele beijou a mão da quase mulher e eles subiram os degraus de braços dados. Nesse minuto a cerimônia foi iniciada.
- Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo...
- AMÉM!
- Meus queridos irmãos, minhas queridas irmãs, estamos hoje aqui reunidos para celebrar o sagrado sacramento do matrimônio de Bárbara e Rodrigo...
É claro que eu tive vontade de chorar, é claro que eu pensei em várias coisas e é claro que eu voltei no passado e me lembrei daquele garoto que eu tanto amava.
Longos oito anos e quatro meses haviam se passado. O mesmo tempo que Bruno e eu nos conhecemos, foi o tempo que Rodrigo e eu nos conhecemos.
Como éramos jovens! Eu com dezessete, ele com vinte. Naquele momento, eu tinha vinte e cinco e ele vinte e oito. É, o tempo de fato tinha voado.
Era chover no molhado pensar em tudo o que ele tinha feito por mim. Era chover no molhado lembrar dos vários momentos que passamos juntos.
Foram tantos que eu nem consegui pensar em todos, mas pensei nos mais importantes.
O primeiro dele, com certeza o dia em que falei ao Digow que eu era gay. Foi em um domingo, quando ele tinha saído com os caras da república para jogar futebol. Ele voltou para pegar a bombinha de ar e escutou a minha conversa com o Víctor.
Pensei que ele não me aceitaria, mas me enganei. Ele me aceitou e me deu um abraço. O abraço que eu mais necessitava naquele momento.
A segunda lembrança, foi a do dia em que ele salvou a minha vida.
Desesperado por ter sido largado pelo Bruno que fora morar em Madrid, tentei me jogar na frente de um ônibus. Não deu certo. Ele me salvou.
Me salvou e me deu várias e várias broncas. Abriu meus olhos, me ajudou financeiramente, me ajudou com palavras, me levou para Curitiba, aquela mesma Curitiba onde eu estava naquele momento, e me tirou do fundo do poço.
A terceira lembrança marcante foi o dia em que ele me informou que tinha me inscrito no Enem. Como eu fiquei com raiva! Como eu fiquei com raiva dele! Mas foi graças a isso, que eu cresci na vida. Foi graças a isso que eu fiz faculdade. Foi graças a isso que eu era quem era.
A outra lembrança foi quando eu salvei a sua vida, ainda na república do Catete. Entrei no quarto e o vi caído, desmaiado por causa da dor. Foi a maior correria. Tive que acompanhá-lo ao hospital e me desesperei quando soube que era peritonite. Foi impossível não lembrar da infecção generalizada que quase o tirou dessa vida.
E para finalizar, recordei-me dos vários e vários momentos em que dividimos a mesma cama no Realengo. Das nossas brincadeiras, das nossas intimidades, dos nossos medos e anseios, das nossas angústias e frustrações. Dos vários e vários abraços, dos beijos molhados no rosto, das lágrimas de separação no da que me mudei para o apartamento do Bruno e das noites em que dormíamos abraçados.
Bons tempos! Ótimos tempos! Maravilhosos tempos! Tempos esses que não voltariam mais. Tempos esses que ficariam apenas no passado, mas que nunca sairiam de nossa memória.
Ele estava casando e ele merecia esse momento. Rodrigo sofreu muito no amor, assim como eu.
Primeiro com a Marcela. Ela engravidou, perdeu o bebê e terminou com ele. Foi difícil essa época. E depois veio a Larissa, que era um tanto quanto infantil e caseira, o que lhe agradou.
Vieram as gêmeas e todas as outras peguetes que lhe satisfazeram sexualmente, mas não agregaram nada a sua vida, mas então, veio a Bárbara.
A mesma namorada de adolescência que tinha se mudado do Brasil porque foi tentar a carreira de modelo. O mesmo amor da juventude, aquele amor que marcou e que nunca saiu do peito, do mesmo jeito que acontecia comigo e com o Bruno.
Eles estavam ali, lado a lado no altar daquela igreja. Depois de vários anos, enfim estavam se casando. Seria coisa do destino? Desígnios de Deus? Ou mera coincidência?
Eu não sabia. Não sabia e não sei até os dias de hoje. A única coisa que eu sabia e que sei até os dias de hoje, é que eles mereciam ser felizes um ao lado do outro.
Eles se amavam e isso para mim era o que mais importava. Eles se respeitavam e isso para mim já era suficiente.
No entanto, ainda sentia um pouco de ciúmes dele. Ele era meu irmão e de certa forma, eu o estava perdendo para aquela mulher.
Porém, eu sabia que era para o bem dele. Como me opor? Eu nunca faria uma coisa dessas. Não seria do meu feitio. Não seria da minha índole.
E então, o Nícolas entrou, outra vez com as alianças. Nesta ocasião, ele estava com uma garota que era um pouco mais crescida que ele, mas isso não diminuiu o charme do casalzinho. Que lindos! Que charmosos! Que inteligentes.
- Eu, Bárbara, te recebo, Rodrigo, por meu esposo. E te prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, por todos os dias de nossas vidas.
Pausa.
- Eu, Rodrigo, te recebo, Bárbara, por minha esposa. E te prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, por todos os dias de nossas vidas.
Eu sabia que seria assim. Eu sabia que eles seriam felizes juntos. E que fosse assim. Que Deus os abençoasse muito.
Quando chegou a hora dos pais e padrinhos cumprimentarem os noivos, casal a casal foi ao encontro dos mesmos. Quando a Dona Inês abraçou o filho, eu pensei que ela fosse desmaiar de tanta emoção.
Seu Renato também estava emocionado. O abraço de pai e filho foi tocante. Eu fiquei feliz com isso. Eles se amavam muito.
Quando chegou a minha vez, agarrei a minha cunhada oficial e a parabenizei pelo casamento:
- Meus parabéns! Que Deus te abençoe muito, que abençoe vocês dois e que essa união seja eterna!
- Amém, Caio! Amém!
- Você está maravilhosa!
- Obrigada – ela caiu na risada.
A soltei e fui ao encontro dele: MEU irmão, MEU Rodrigo, MEU Digow, MEU eterno postiço favorito, o noivo mais lindo daquele ano de 2.014!
- Seu cachorro! – minha voz embargou.
Ele latiu no meu ouvido, bem baixinho.
- Eu estou muito, muito, muito feliz por você!
- Você sabe que eu também estou por você!
- Que Deus abençoe vocês dois e que essa união seja eterna.
- Amém, meu Cacs!
- Meu Digow!
- Você sabe que eu te amo para sempre, não sabe?
- Sei!
- Você sabe que você é o único homem além do meu pai que eu amo, não sabe?
- Sei!
- Então nunca esqueça que você sempre será único para mim. Te amo!
- Eu também. Seja feliz!
- Amém, mano. Amém!
Voltei para o meu lugar com o rosto molhado. Foi impossível segurar a emoção.
- E que o que Deus uniu, o homem não separe. Pode beijar a noiva!
Assim como aconteceu com Vinícius e Bruna, eles foram aplaudidos de pé por todos da igreja. Que momento lindo, que momento maravilhoso! Isso sempre, sempre, sempre ficará guardado na minha memória. Eu nunca vou esquecer desse casamento, o casamento do meu postiço favorito, o casamento do segundo grande amor da minha vida.
Voltei para o meu lugar com o rosto molhado. Foi impossível segurar a emoção.
- E que o que Deus uniu, o homem não separe. Pode beijar a noiva!
Assim como aconteceu com Vinícius e Bruna, eles foram aplaudidos de pé por todos da igreja. Que momento lindo, que momento maravilhoso! Isso sempre, sempre, sempre ficará guardado na minha memória. Eu nunca vou esquecer desse casamento, o casamento do meu postiço favorito, o casamento do segundo grande amor da minha vida.
ALGUNS MESES DEPOIS...
Eu abri a porta do apartamento e ele entrou, com todo cuidado do mundo.
Sem fazer barulho, fechei a porta com a chave e nós fomos para o nosso quarto.
Eu ainda não conseguia acreditar que aquilo estivesse acontecendo.

- Pronto, pronto – falei baixinho. – Nós já estamos em casa.
- É – ele me olhou com os olhos azuis brilhando.
- Está feliz?
- Claro que estou feliz. Você tem dúvidas disso?
- Não, eu não tenho!
Nos beijamos, mas muito suavemente.
- Cuidado – falei baixinho. – Senão ele vai acordar.
Nos deitamos, um ao lado do outro.
- Finalmente, né amor?
- É – Bruno colocou o embrulho cuidadosamente no meio de nós dois. – Finalmente a nossa felicidade está completa.

Era verdade. Naquele momento, já não faltava mais nada. Eu tinha tudo o que queria.
Eu tinha amigos que me aceitavam, eu tinha uma parte da minha família ao meu lado, eu tinha uma casa, um bom emprego, um carro só meu, saúde, um amor que se chamava Bruno e à partir daquele momento um outro amor, um amor que eu já chamava de filho.
É, nós éramos pais! Bruno e eu enfim tínhamos a nossa criança. Nosso filho, nosso menino. E era um menino lindo, muito, muito lindo!
Era minúsculo, tinha só quarenta e nove centímetros e três quilos e meio. Era branco, tinha os cabelos castanhos e o rosto igual ao de um anjo. Tão pequenino! Tão inofensivo! Tão frágil! E nosso! Nosso, nosso e de mais ninguém. Nosso filho, NOSSO! Bruno e eu éramos pais, finalmente!
Finalmente o desejo do meu amor foi realizado. finalmente ele tinha uma criança, uma criança de verdade, junto ao nosso lar. Não poderia existir felicidade maior do que aquela. Não poderia!

- Sabe, amor...
- Que foi, minha vida?
- Eu estou realizado.
- Eu também estou, príncipe!
- É a realização de um sonho.
- Eu sei, eu sei que é. E não poderia ser melhor que isso, não é?
- Não, não poderia.
Nós dois olhamos para o neném. Ele dormia. O sono parecia bem pesado.
- Papai te ama, meu amor – Bruno beijou o rosto da criança.
Como foi bom ver isso. Como foi gratificante acompanhar essa cena, esse momento. Eu tinha a impressão que a felicidade ia explodir o meu peito.
Mas isso não aconteceu. E nem poderia. Eu não poderia me dar ao luxo de morrer naquele momento. Não. Não mesmo. Eu tinha que cuidar dos meus amores.
O primeiro deles, o Bruno, eu cuidaria como já estava cuidando há anos. Eu sabia que o nosso amor só aumentaria à partir daquele momento.
O meu outro amor, meu filho, eu cuidaria com extremo zelo, com extremo cuidado, com muito carinho, muito respeito e muito amor.
Eu já queria, ainda que ele fosse recém-nascido, a sua felicidade. Eu queria que ele crescesse com saúde, que crescesse forte, que crescesse da forma correta e que fosse feliz.
Eu queria que ele tivesse amigos, que ele tivesse avós, que tivesse tios, primos e talvez irmãos.
Eu queria que ele tivesse entendimento para entender aforma como ele veio a esse mundo, para entender que ele era filho de dois pais e não de um pai e de uma mãe e que ele era muito especial por causa disso.
Eu queria que ele tivesse paciência para enfrentar as gozações, para enfrentar o preconceito, para enfrentar a realidade da vida.
Eu queria que ele tivesse calma para aprender a passar por esses momentos, para aprender que tudo na vida é passageiro, para entender que a gente não morre por causa disso.
Eu queria que ele tivesse força como eu e Bruno tivemos para enfrentar a vida, para enfrentar as adversidades, para não abaixar a cabeça e para vencer batalha por batalha e sair vencedor dessa luta tão horrorosa.
Mas, acima de tudo isso, eu queria que meu filho, que nosso filho, tivesse a certeza que, independentemente de qualquer coisa, ele era muito amado.
Porque sim, ele era amado! E sempre seria, sempre! Mesmo se fizesse escolha erradas, mesmo se errasse, mesmo se caísse, mesmo se não fosse o que nós quiséssemos que ele fosse.
Ele seria amado, independente de religião, independente de time de futebol, independente de gosto musical, independente de orientação sexual.
Ele seria amado sendo hétero, bi ou homossexual. Ele seria amado sendo quem ele era ou transcedendo o lado da masculinidade. Ele seria amado e respeitado, independente de suas escolhas.
Nosso anjinho. Nosso menino. Nosso filho. Nosso Luan Luan Rafael Duarte Monteiro da Silva, ou simplesmente Luan. Nosso garotinho que ainda iria aprender muito naquela vida, mas que já era extremamente amado. Amado com toda a força do nosso coração, com toda a força de nossa alma.
Eu não tinha mais um amor. Eu tinha dois amores. Meu Bruno e meu Luan. Os meus príncipes, meus anjinhos, meus presentes de Deus. Eles eram e sempre seriam, os dois homens da minha vida.
- Eu amo vocês – falei baixinho.
- Nós também te amamos, meu amor!
- Os dois homens da minha vida!
- O homem da nossa vida.
- Eu vou amar vocês para sempre.
Ele me beijou.

Que felicidade! Finalmente eu estava completo. Eu merecia isso. Eu merecia, porque eu sofri muito nessa vida. Passei por poucas e boas, mas nunca abaixei a minha cabeça. Nunca desisti. E consegui chegar onde eu queria chegar.
Eu não precisava de mais nada. Nada mesmo. Eu já tinha o que precisava. Mru Bruno e meu Luan. Meu amor e meu filho. Os meus dois amores, os meus dois homens, as minhas duas metades.
- Eu vou te amar até além da eternidade – ele grudou a testa na minha.
- É! Até além da eternidade...
- Pronto, pronto – falei baixinho. – Nós já estamos em casa.
- É – ele me olhou com os olhos azuis brilhando.
- Está feliz?
- Claro que estou feliz. Você tem dúvidas disso?
- Não, eu não tenho!
Nos beijamos, mas muito suavemente.
- Cuidado – falei baixinho. – Senão ele vai acordar.
Nos deitamos, um ao lado do outro.
- Finalmente, né amor?
- É – Bruno colocou o embrulho cuidadosamente no meio de nós dois. – Finalmente a nossa felicidade está completa.
Era verdade. Naquele momento, já não faltava mais nada. Eu tinha tudo o que queria.
Eu tinha amigos que me aceitavam, eu tinha uma parte da minha família ao meu lado, eu tinha uma casa, um bom emprego, um carro só meu, saúde, um amor que se chamava Bruno e à partir daquele momento um outro amor, um amor que eu já chamava de filho.
É, nós éramos pais! Bruno e eu enfim tínhamos a nossa criança. Nosso filho, nosso menino. E era um menino lindo, muito, muito lindo!
Era minúsculo, tinha só quarenta e nove centímetros e três quilos e meio. Era branco, tinha os cabelos castanhos e o rosto igual ao de um anjo. Tão pequenino! Tão inofensivo! Tão frágil! E nosso! Nosso, nosso e de mais ninguém. Nosso filho, NOSSO! Bruno e eu éramos pais, finalmente!
Finalmente o desejo do meu amor foi realizado. finalmente ele tinha uma criança, uma criança de verdade, junto ao nosso lar. Não poderia existir felicidade maior do que aquela. Não poderia!
- Sabe, amor...
- Que foi, minha vida?
- Eu estou realizado.
- Eu também estou, príncipe!
- É a realização de um sonho.
- Eu sei, eu sei que é. E não poderia ser melhor que isso, não é?
- Não, não poderia.
Nós dois olhamos para o neném. Ele dormia. O sono parecia bem pesado.
- Papai te ama, meu amor – Bruno beijou o rosto da criança.
Como foi bom ver isso. Como foi gratificante acompanhar essa cena, esse momento. Eu tinha a impressão que a felicidade ia explodir o meu peito.
Mas isso não aconteceu. E nem poderia. Eu não poderia me dar ao luxo de morrer naquele momento. Não. Não mesmo. Eu tinha que cuidar dos meus amores.
O primeiro deles, o Bruno, eu cuidaria como já estava cuidando há anos. Eu sabia que o nosso amor só aumentaria à partir daquele momento.
O meu outro amor, meu filho, eu cuidaria com extremo zelo, com extremo cuidado, com muito carinho, muito respeito e muito amor.
Eu já queria, ainda que ele fosse recém-nascido, a sua felicidade. Eu queria que ele crescesse com saúde, que crescesse forte, que crescesse da forma correta e que fosse feliz.
Eu queria que ele tivesse amigos, que ele tivesse avós, que tivesse tios, primos e talvez irmãos.
Eu queria que ele tivesse entendimento para entender aforma como ele veio a esse mundo, para entender que ele era filho de dois pais e não de um pai e de uma mãe e que ele era muito especial por causa disso.
Eu queria que ele tivesse paciência para enfrentar as gozações, para enfrentar o preconceito, para enfrentar a realidade da vida.
Eu queria que ele tivesse calma para aprender a passar por esses momentos, para aprender que tudo na vida é passageiro, para entender que a gente não morre por causa disso.
Eu queria que ele tivesse força como eu e Bruno tivemos para enfrentar a vida, para enfrentar as adversidades, para não abaixar a cabeça e para vencer batalha por batalha e sair vencedor dessa luta tão horrorosa.
Mas, acima de tudo isso, eu queria que meu filho, que nosso filho, tivesse a certeza que, independentemente de qualquer coisa, ele era muito amado.
Porque sim, ele era amado! E sempre seria, sempre! Mesmo se fizesse escolha erradas, mesmo se errasse, mesmo se caísse, mesmo se não fosse o que nós quiséssemos que ele fosse.
Ele seria amado, independente de religião, independente de time de futebol, independente de gosto musical, independente de orientação sexual.
Ele seria amado sendo hétero, bi ou homossexual. Ele seria amado sendo quem ele era ou transcedendo o lado da masculinidade. Ele seria amado e respeitado, independente de suas escolhas.
Meu Deus, nós éramos pais! Não dava para acreditar numa coisa dessas. Não dava.
Era felicidade demais para que fosse realidade.
Mas era. Era e é realidade. Bruno e eu temos o nosso filho. Nosso pimpolho como gostamos de chamá-lo. E ele é só nosso, ninguém vai tirá-lo de nós dois.
Ele não é mais meu do que do Bruno, do mesmo jeito que não é mais do Bruno do que de mim. Ele é de nós dois. É nosso filho. E é o amor das nossas vidas. O presente de deus que faltava para completar a nossa felicidade.
- Te amo, Bruno da Silva Duarte.
- Eu também te amo, Caio C. Monteiro da Silva.
Nos beijamos. Foi um beijo calmo, que não demorou muito tempo. Nós dois queríamos ver o nosso neném. Nós não cansávamos de olhar o rostinho delicado daquele anjinho.
Mas era. Era e é realidade. Bruno e eu temos o nosso filho. Nosso pimpolho como gostamos de chamá-lo. E ele é só nosso, ninguém vai tirá-lo de nós dois.
Ele não é mais meu do que do Bruno, do mesmo jeito que não é mais do Bruno do que de mim. Ele é de nós dois. É nosso filho. E é o amor das nossas vidas. O presente de deus que faltava para completar a nossa felicidade.
- Te amo, Bruno da Silva Duarte.
- Eu também te amo, Caio C. Monteiro da Silva.
Nos beijamos. Foi um beijo calmo, que não demorou muito tempo. Nós dois queríamos ver o nosso neném. Nós não cansávamos de olhar o rostinho delicado daquele anjinho.
Nosso anjinho. Nosso menino. Nosso filho. Nosso Luan Luan Rafael Duarte Monteiro da Silva, ou simplesmente Luan. Nosso garotinho que ainda iria aprender muito naquela vida, mas que já era extremamente amado. Amado com toda a força do nosso coração, com toda a força de nossa alma.
Eu não tinha mais um amor. Eu tinha dois amores. Meu Bruno e meu Luan. Os meus príncipes, meus anjinhos, meus presentes de Deus. Eles eram e sempre seriam, os dois homens da minha vida.
- Eu amo vocês – falei baixinho.
- Nós também te amamos, meu amor!
- Os dois homens da minha vida!
- O homem da nossa vida.
- Eu vou amar vocês para sempre.
Ele me beijou.
Que felicidade! Finalmente eu estava completo. Eu merecia isso. Eu merecia, porque eu sofri muito nessa vida. Passei por poucas e boas, mas nunca abaixei a minha cabeça. Nunca desisti. E consegui chegar onde eu queria chegar.
Eu não precisava de mais nada. Nada mesmo. Eu já tinha o que precisava. Mru Bruno e meu Luan. Meu amor e meu filho. Os meus dois amores, os meus dois homens, as minhas duas metades.
- Eu vou te amar até além da eternidade – ele grudou a testa na minha.
- É! Até além da eternidade...
¿ ... ?
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