terça-feira, 5 de maio de 2015

Bruno, O Final | Parte 2

P
or uma fração de segundos, pensei que o pior aconteceria. No entanto, meu pai foi ágil ao passar a chave do carro e os demais pertences a dupla de criminosos e por sorte, por muita sorte, nada de grave aconteceu.

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Os bandidos pegaram tudo, entraram no carro e saíram voando pela avenida. O pior de tudo, foi perceber que ninguém ali fez nada para ajudar. Eu fiquei possesso com isso.
Ao mesmo tempo, era compreensível. Quem em sua sã consciência reagiria ou tentaria impedir um assalto? Só se a pessoa fosse louca ou estivesse procurando a morte.
Saí do carro com o corpo trêmulo. Edson estava pálido, muito pálido e parecia completamente sem reação.
- Edson, Edson, você está bem? – eu me aproximei, cheio de preocupação.
- VAGABUNDOS! BANDIDOS! CRIMINOSOS! BANDO DE FILHO DA PUTA! MEU CAAAAAAAAAAAAARRO – ele esbravejou, com lágrimas nos olhos.
- Calma, Edson, calma! Calma! Está tudo bem, está tudo bem!
- MEU CARRO! AQUELES VAGABUNDOS ROUBARAM O MEU CARRO!
Edson fez tanto escândalo, que chamou a atenção e uma pequena aglomeração se formou ao nosso redor. O negócio foi tão sério, que a polícia até apareceu para averiguar o que estava acontecendo.
- Você tem que fazer um Boletim de Ocorrência – disse o policial.
- Como? Como eu vou para a delegacia se eu não tenho um centavo no bolso e o meu carro foi levado por aqueles desgraçados?

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- Eu te levo – falei.
- CALA A BOCA! EU NÃO QUERO A SUA AJUDA.
- Acalme-se, senhor – disse o policial. – O que você é dele?
- Filho – quase soltei um “infelizmente”.
- Ele não é meu filho – meu pai bufou de raiva. – O que eu vou fazer agora?
- Se acalmar. Infelizmente nós não pegamos os ladrões em flagrante, mas de toda forma faremos uma ronda pela região. Como eram os indivíduos?
- Eu não sei. Fiquei tão assustado que não consegui ver nenhum detalhe.
- Eram dois – falei. – Eles eram brancos, aparentavam ter no máximo 20 anos e estavam ambos de jeans e camiseta. Eu vi porque estava no meu carro.
- É importante que você relate isso ao delegado quando forem fazer a abertura do Boletim de Ocorrência. Façam isso imediatamente.
- Mas eu não tenho como ir à delegacia – Edson ficou irredutível. – Eu preciso ligar para o meu filho, senão eu não sei o que vou fazer!
- Eu te levo, já falei. Entra no carro!
- Já disse que não quero a sua ajuda, fedelho.
- É? Então como você vai voltar para casa, hein? A pé? Boa sorte. Ir daqui até Higienópolis não vai ser nada fácil.
- Eu me viro! Quem pediu a sua ajuda aqui?
- Eu estou tentando te ajudar numa boa, Edson. Por que não deixa a porcaria do orgulho de lado e entra logo nesse carro?
- Faça isso – falou o policial. – Não é momento para essas coisas.
Até o policial percebeu que existia um clima tenso entre nós dois.
- Inferno! Espero que peguem esses desgraçados o mais rápido possível. Eu não posso ficar sem carro.
- Faça o B.O que a polícia vai agir da melhor forma possível. Iremos procurá-los pela região.
- Entra no carro – falei, já no lugar do motorista.
- Desgraça! Era só o que me faltava ter que depender logo de você.
- Pra você ver como é a vida. Melhor não falar nada, não estou a fim de ouvir sua voz.
- Como se eu estivesse com vontade de ouvir a sua.
- Não é momento para isso, tá legal? Vê se baixa essa bola.


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- O que estava fazendo ali? Estava me seguindo por acaso? Bateu saudade?
- Saudade de você? Não! Não costumo ter saudade do diabo. O que estava fazendo ali?
- Eu fiz essa pergunta primeiro.
- Estava em um barzinho com meus amigos – respondi, com má vontade.
- Deve ser um bando de macho, né...?
- VÊ LÁ O QUE VOCÊ VAI FALAR! ME RESPEITA PORQUE EU NÃO SOU MAIS O MESMO TROUXA DE ANTES NÃO!
Meu pai bufou e ficou resmungando consigo mesmo. Eu ainda estava bem nervoso pela cena que vira há poucos minutos.
Por pior que ele fosse, o cara ainda era meu pai e eu não queria que nada de ruim lhe acontecesse. Por esse motivo, fiquei como fiquei quando vi aqueles bandidos colocando a arma na cabeça dele.
Eu não sei o que aconteceria comigo se visse o Edson sendo assassinado a sangue frio por aqueles dois marginais. Com certeza eu ficaria traumatizado pelo resto da minha vida.
Por sorte, ele foi esperto e deixou os caras levarem tudo que era dele. Melhor ficar sem carro, sem carteira e sem celular e ficar vivo do que ficar com os bens materiais e acabar com a boca cheia de formiga.
- Ainda bem que você não reagiu ao assalto.
- A minha vontade era de socar a cara daqueles dois vagabundos! Só não fiz isso porque tenho dois filhos pequenos para criar e não posso morrer agora.
- Ainda bem que você pensou um pouco.
- Está me chamando de burro?
- Se a carapuça serviu, fica nela. É toda sua. O que fazia ali afinal de contas?
- Fui visitar um cliente da agência.
- Ainda bem que eu estava por perto. Pelo menos posso te levar pra casa.
- Preferia ir a pé!

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- É? Então vai a pé, mal-agradecido. Eu estou aqui numa boa te ajudando e mesmo assim você fica com essa frescura? Quando vai amadurecer?
- Ah, não vem me dar liçãozinha de moral porque você não é ninguém para isso.
- Longe de mim querer te dar lição. Eu tenho mais o que fazer. Onde fica a delegacia desse bairro?
- Vai reto. Ainda está longe. Já esqueceu, donzela?
- Donzela é a puta que te pariu, infeliz. E sim, já esqueci. Morei muitos anos fora daqui e não sou obrigado a me lembrar de tudo.
- Pena que voltou. Estava muito bem sem você por perto.
- Voltei, mas não voltei por sua causa. Aliás, se tivesse que voltar por sua causa, jamais teria saído do Rio de Janeiro.
- Volta pra lá então! O que te impede?
- Muita coisa me impede e nenhuma delas é da sua conta.
- Como se eu estivesse interessado nos seus assuntos.
Nós dois bufamos ao mesmo tempo e eu parei em um farol vermelho.
- Bando de vagabundos.
- Xingá-los não trará seu carro de volta.
- Vê se me erra, moleque. Me deixa em paz, tá legal?
- Eu falo o que eu quiser, quando eu quiser. Estou no meu carro.
- Grande porcaria esse carro.
- Melhor do que o seu ele é.
- Grande bosta. Carro comprado com dinheiro de seus machos.
- Carro comprado com MEU dinheiro, com MEU suor, com CINCO anos de economia. Deu pra entender ou quer que eu desenhe?
- Cinco anos de economia? E você trabalhava em quê mesmo? Faxineiro?
- Não, não. Eu não precisei fazer isso, mas se precisasse, faria com o maior prazer. Qualquer trabalho é trabalho e dá dignidade ao homem.
- Pena que não te colocaram para lavar banheiro com a língua.
- De novo esse assunto? Não tem capacidade para procurar outro?
- Moleque nojento.
- Nojento aqui é você que é homofóbico, racista e preconceituoso. Eu tenho dó de você.
- Não estou nem aí para a sua opinião ao meu respeito, infeliz.
- É? Olha a minha cara de preocupado. É essa a delegacia?
- Não está vendo o nome ali, idiota? É claro que é essa, débil mental.
- Débil mental é você que não sabe respeitar as pessoas e que vive preso no seu mundo cheio de preconceito.
- Ah, vai pra merda.

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Ele saiu, eu desliguei o motor e saí atrás dele. Eu tinha que dar o meu depoimento, isso seria útil nas investigações.
Pouco tempo depois que eu estava na delegacia, meu irmão me ligou. Ele estava preocupado com alguma coisa.
- Eu senti uma angústia dentro do meu peito, está tudo bem?
- O Edson foi assaltado, Cauã.
- O QUÊ?! – ele deu um berro do outro lado do telefone. – COMO VOCÊ SABE DISSO?
Eu expliquei tudo o que tinha acontecido e meu gêmeo ficou louco da vida. Ele queria porque queria ir até a delegacia, mas eu falei que de nada adiantaria a presença dele naquele lugar.
- Quando a gente sair daqui eu levo ele para a casa de vocês, fica em paz.
- Meu Deus do céu, estou apreensivo. Está tudo bem mesmo com ele?
- Bem, bem. Só foi o susto. Tranquiliza a Fátima aí.
- Pode deixar. Obrigado por tudo.
- Não tem nada que agradecer. Até já.
- Até!
Ele ficou sentado em um canto e eu fiquei no outro lado da sala. De onde eu estava, conseguia ouvi-lo xingando os assaltantes.
Conhecendo o Edson como eu conhecia, ele faria isso pelo menos por um mês. Por sorte, eu não acompanharia nada disso. Graças a Deus.
- Próximo – falou o policial.
Era a vez dele e eu tive que entrar junto. Eu precisava falar as características físicas dos assaltantes.
- Eram dois jovens, devem ter por volta de 20 anos. Um estava com uma calça jeans azul, camiseta marrom e o outro de calça jeans preta e camiseta azul.
- E os rostos?
- Os dois estavam com aquelas meias que eles colocam na cabeça. Não consegui ver nada, mas sei que estavam armados.
- Sabe informar a altura mais ou menos?
- Eles eram do tamanho dele – apontei para meu pai. – Aproximadamente da mesma altura.
- Não viu mais nenhum detalhe? Relógio, tatuagem ou qualquer coisa do tipo?
- Sei que estavam de chinelos. Só isso. Eu não me lembro de mais nada.
- Certo.
Demoramos duas horas para finalizar o Boletim de Ocorrência e quando isso aconteceu, fomos direto para a casa dos meus pais.
- Desgraçados! Agora eu vou ter que tirar todos os meus documentos.
- Melhor fazer isso e ficar vivo do que perder a vida.
- Cala a boca, porra. Não quero ouvir essa voz ridícula que você tem.
- Então quando o Cauã falar alguma coisa, manda ele calar a boca também porque a voz dele é igualzinha a minha.
- Ele não tem culpa disso.
- Você é ridículo demais, fala sério.
- E você é podre.
- O único podre aqui é você. Podre de sentimentos.
- Você não tem nada a ver com isso.
- Não mesmo, graças a Deus.
- Dá pra dirigir mais rápido? Ou não sabe fazer isso? Quer que eu te dê umas aulinhas?
- Não precisa, eu sei dirigir muito bem e se não vou mais rápido é porque estou no limite da velocidade. Ou será que você não viu as placas de sinalização?
- Vai querer dar uma de bom samaritano pra cima de mim agora?
- Quer que eu vá mais rápido? Então tá, eu vou mais rápido, mas quando chegar a multa lá em casa, eu vou levar para você pagar.
- Eu pagando conta sua? Não mesmo! Não tenho essa obrigação há anos, graças a Deus.
- Eu que o diga, graças a Deus mesmo! Não quero depender de você para nada.
- Nem ouse fazer uma coisa dessas. Você não vai ver um centavo meu nunca mais.
- Eu não preciso, Edson, eu não preciso. Dispenso esse dinheiro sujo, eu tenho o meu. Fica tranquilo.
- O único sujo aqui é você, imbecil.
- Aham, Cláudia, senta lá.
- Cláudia? Quem é Cláudia?
- Nada, nada. Além de burro é sonso.
Nós dois ficamos calados por um tempo e bufamos novamente juntos. Estava sendo bem difícil ficar com meu pai no mesmo carro que eu.
- Desgraçados!!!
- Até quando vai ficar apertando a mesma tecla? O seguro do carro está em dia?
- Claro, jumento! Você acha o quê? Que eu não pago as minhas contas?
- O jumento aqui é você, não eu. Bom, pelo que sei, quem ficou falido aqui há alguns anos atrás foi você, não eu.
- Isso foi só um momento passageiro, já estou recuperado.
- Graças a Fátima e ao Cauã que assumiram as rédeas da coisa. Se fosse por você, ainda estariam devendo até os cabelos.
- Falou o administrador, o sabichão!
- Quem é que subiu na vida sem a ajuda de vocês mesmo, Edson? Ah, acho que foi eu!
- Se acha só porque conseguiu um carro horroroso como esse.
- Horroroso, mas que está te levando de volta para casa, né?
- Infelizmente. Chegando lá vou tomar um banho de criolina para tirar os germes que estão no meu corpo.
- Isso, faz isso. Quem sabe você tira esse vírus do preconceito do seu corpo.
- Melhor ser preconceituoso do que ser gay como você!
- Sou gay sim e com muito orgulho.
- Claro que você tem orgulho. Eu não vou nem perder meu tempo com você.
- Quem está perdendo tempo aqui sou eu, não você. Já era para eu estar em casa.
- E por que não foi? Por que cismou em me ajudar?
- Porque eu não sou orgulhoso como você é, Edson. Porque me vi na obrigação de fazer isso. Deus sabe que estou fazendo com boa vontade.
Ele ficou resmungando algo incompreensível e não falou mais nada até chegarmos na casa dele.
- Graças a Deus, vou me livrar desse encosto.
- Encosto que te ajudou, né? Mas de boa. Vai com Deus.
Meu pai saiu do carro e foi abrir o portão. Ele entrou, fechou o mesmo e saiu bufando e resmungando como sempre fazia.
Eu suspirei, toquei a campainha e fiquei esperando alguém aparecer. Eu queria ver os gêmeos.
- Oi, Caio.
- Oi, Cauã.

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Meu irmão estava só de bermuda e pela primeira vez, eu vi seu corpo com um olhar mais analítico. Ele estava todo trabalhado nos músculos.
- Ele não te deixou entrar?
- Não, mas eu não me importo. Está melhor?
- Bem mais calmo agora que vi que ele está bem. O que houve afinal de contas?
- Aquilo que eu te contei pelo celular. Pensei que ele seria morto, na boa.
- Deus me livre, vira essa boca pra lá, cara! Entra.
Nos abraçamos rapidamente.
- Onde estão os gêmeos? A Fátima está bem?
- Mais ou menos. Ela ficou muito preocupada com nosso pai e a pressão subiu. Tive que dar água com açúcar para ela se acalmar.
- Onde ela está?
- Lá em cima. Vai lá, ela vai curtir ver você.
Eu entrei e notei que minha cunhada estava lá na casa. Ellen estava sentada no sofá, com um dos gêmeos no colo.
- Tudo bem, Ellen?
- Olá, Caio! Bem sim e você?
- Bem. Oi, Davi, oi meu amor... Posso?
- Claro!
Segurei meu irmãozinho no colo e notei que ele estava maior e mais pesado. Cada dia mais lindo!
- Meu bebê está crescendo tão rápido! – beijei o rostinho dele.
- Está mesmo – concordou Cauã.
- Cadê o David?
- Sua mãe estava dando o peito pra ele lá em cima – explicou  a namorada de Cauã.
- Vou lá falar com ela. Licença.
Eu subi e encontrei com a Fátima no corredor. Ela estava toda nervosa.
- Caio! Meu filho! Deus te colocou no caminho do seu pai hoje!
Nos abraçamos e ela quase me matou de tanto que me apertou.
- Calma, calma. Está tudo bem agora! Não aconteceu nada.
- Eu fiquei tão apavorada, Caio! Como foi isso, meu filho?
Contei tudo para a minha mãe e ela ficou agradecida por eu ter ajudado o meu pai. Pelo menos ela soube me agradecer, uma vez que o marido não fez nada disso.
- Não foi nada, eu fiz de coração limpo.
- Eu sei disso, eu sei.
- Está melhor? Cauã falou que sua pressão subiu?
- Sim, mas foi por causa do medo. Eu já estou melhor, não se preocupe.
- Que bom, eu fico feliz. Já conseguiu a creche dos gêmeos?
- Até agora não, mas ainda tem um mês pela frente, filho. Não se precipite.
- Um mês não é muito tempo não. Daqui a pouco eles fazem seis meses e eu quero te ver na academia.
- Fique tranquilo que eu vou. Já decidi e vou, mesmo que seu pai não aceite nada disso.
- É isso mesmo! Estou gostando de ver. É assim que se fala.
- Dorme aqui hoje, meu filho?
- Não, Fátima! Não coloca a carroça na frente dos bois.
- Está certo, está certo. Eu compreendo.
- FÁTIMA? CADÊ A MINHA ROUPA?
- Vai lá cuidar dele. O David está no berço?
- Sim, acabou de dormir. Vai lá vê-lo, meu amor.
Eu fui mesmo. Ver o Davi e não ver o David seria injusto da minha parte. Ele estava dormindo mesmo. Eu só fiz carinho no rostinho dele, dei-lhe um beijo e saí. Já estava tarde e eu tinha que ir para a minha casa.

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- Um dia eles me pagam, um dia eles me pagam – Edson ia falando. – O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI DENTRO?
- Ai que preguiça de você, Edson – suspirei. – Nem vou perder o meu tempo discutindo. Boa noite!
- VAI EMBORA MESMO, NOJENTO!
- CALE JÁ A SUA BOCA – Fátima esbravejou. – SE GRITAR COM ELE DE NOVO, VAI SUMIR DO QUARTO E VAI DORMIR NA RUA! ENTENDEU?
- VAI DEFENDER ESSE...
- VOU DEFENDÊ-LO SIM PORQUE ELE É MEU FILHO! NOSSO FILHO!
- NOSSO VÍRGULA, ELE É SEU! MEU ELE NÃO É.
- Não mesmo – falei em alto e bom som. – A vida me deu um pai maravilhoso e o nome dele é Renato. Você só fecundou o óvulo mesmo, porque pai você não é. Boa noite!
E dizendo isso eu desci as escadas. Pelo que percebi, eles continuaram brigando e isso chamou a atenção do meu irmão.
- Eles estão brigando de novo? Isso vai aumentar a pressão da mãe, meu Deus do céu!
- Vai lá cuidar dela, mano. Eu vou embora.
- Posso te ver amanhã?
- Claro. Cola lá em casa, o Bruno vai estar lá e vocês podem se conhecer.
- Beleza. Eu te ligo então.
- Falou.
Quem abriu o portão para mim foi a Ellen. Pelo que constava, ela já era parte da família.
- Obrigado, cunhada.
- Por nada, cunhado. Espero que fique tudo bem um dia entre você e seu pai.
- Difícil, viu? Muito difícil. Ele é muito orgulhoso.
- Tenha paciência, Caio. Paciência cozinha pedra.
- Eu sei. Eu tento me controlar ao máximo, mas às vezes é difícil.
- Quero te ver no meu noivado, hein?
- Sim, estarei lá.
- Se puder, leva meu concunhado porque eu tenho vontade de conhecê-lo.
- Isso não depende unicamente de mim. Existem muitas coisas ao redor disso, Ellen.
- Eu sei, mas Cauã e eu fazemos questão. Pense a respeito.
- Eu vou pensar. Eu fico feliz que meu irmão tenha encontrado uma pessoa tão bacana como você.
- Obrigada – ela ficou vermelha.
- Você parece ser gente fina. Aposto que foi você que mudou muita coisa nele.
- Que nada. Quando eu conheci seu irmão, ele já era assim. Ele amadureceu um pouco nesses últimos meses.
- Eu fico feliz. De verdade.
- Ele sentia a sua falta.
- É?
- Sim. Dava para perceber isso.
- Ele falava de mim?
- Muito pouco, mas quando falava, dava para notar que ele sentia sua falta.
- Eu também sentia a dele.
- Sem contar as vezes em que ele sentia alguma dor, alguma coisa assim que vinha do nada. Na hora ele sempre pensava em você.
- E vice-versa. Nós temos essa ligação desde pequenos.
- Isso é muito comum entre irmãos gêmeos.
- É sim. E é bem curioso também.
- Verdade. Eu gosto de você, Caio. Você parece ser gente fina também.
- A recíproca é verdadeira, Ellen. A gente vai se falando pelo Facebook?
- Com certeza. Não suma, tá?
- Pode deixar. Você também não.
Nos despedimos com um beijo e eu entrei no meu carro. Era a primeira vez que eu falava com minha cunhada com mais profundidade. Todas as outras não passavam de “oi” e “tchau”.
- Graças a Deus não aconteceu nada de grave. Obrigado, Senhor.
Dirigi em paz e com tranquilidade até a minha casa. Eu estava feliz. Claro que houve um prejuízo com aquele assalto, mas nada significativo se levássemos em consideração a vida do Edson que saiu intacta. Era nisso que tínhamos que pensar e era por causa disso que tínhamos que ser gratos. Deus fez um milagre naquela noite e eu tive o privilégio de presenciá-lo.

NO DIA SEGUINTE...

- Como foi seu mestrado?
- Chato e cansativo, Cauã. O Edson está mais calmo?
- Sim, sim. Já ligou na seguradora, já ligou no banco e bloqueou todos os cartões e já bloqueou também a linha e o aparelho celular.
- Que bom. Ainda bem que ele se acalmou.

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- É! Quer dizer que hoje eu conheço o famoso Bruno?
- Sim – eu sorri, só de pensar que ele estava me esperando em casa.
- Espero me dar bem com ele.
- Vocês se curtirão. Eu sinto isso.
- Que bom. Ele é legal?
- Um amor de pessoa. Muito humano, muito sensível.
- Que legal. Eu vi as fotos de vocês juntos.
- Estranho, né?
- No começo era sim, não nego. Porém eu já me acostumei.
- Que bom. Ele é lindo.
- Isso daí já não é algo que eu entenda, Caio.
- Idiota – eu ri e entrei no estacionamento do meu prédio.
- Será que ele vai nos confundir?
- Certeza que não.
- Será? Ah, duvido!
- Quer apostar que ele vai me reconhecer de cara?
- Só se for por causa das alianças. Eu vou até tirar a minha. Faz isso também.
- Eu faço, mas mesmo assim ele vai me reconhecer.
- Como você sabe? Nós somos iguais!
- Eu sei que vai.
Bruno não seria louco de não me reconhecer. Eu o mataria!
- Silêncio – comentei. – Ele deve estar dormindo. Vem!
Cauã e eu fomos até meu quarto e encontramos o Bruno deitado, lendo “A Cabana”, livro que eu tinha deixado em cima do criado mudo.
Meu noivo me fitou, fitou o meu irmão, levantou e rapidamente disse:
- Vocês são iguaizinhos, mas eu sei que o Caio é você.
Bruno se aproximou de mim, segurou meu queixo e beijou meu lábios.
- EI, O CAIO SOU EU! – Cauã fez teatro e puxou meu namorado pelo braço.
- Nem aqui, nem na China. Eu reconheceria o seu irmão de olhos fechados no meio de um milhão de pessoas.
- Ah, isso não vale – meu gêmeo ficou decepcionado.
- Viu só? Eu disse que ele me reconheceria.
- Fàcil – Bruno me abraçou. – Que saudade! Você está bem?
- Bem melhor agora e você?
- Bem! Então você é o Cauã? Muito prazer – Bruno estendeu a mão na direção do meu irmão.

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- O prazer é meu, Bruno. Finalmente estou te conhecendo pessoalmente.
- Pois é! Nossa, vocês são mesmo gêmeos, hein? Só que você é muito mais bonito que ele, Caio.
- Como assim? – Cauã se revoltou. – Nem vem que não tem, nós somos iguaizinhos! A beleza de um, é a beleza do outro!!!
- São iguais, mas ao mesmo tempo são diferentes. O meu Caio é mais lindo que você e isso é fato. Aceita que dói menos.
Eu ri.
- Isso não é verdade! Eu sou mais lindo que o Caio!
Pronto. Essa briga se instaurou entre os dois. Eu fiquei só rindo. Eles iam se dar muito bem.
- Deixa estar. Eu vou provar que sou mais bonito que o Caio. Cadê meu sobrinho?
- Com certeza dormindo dentro da bacia de lavar roupa.
- Eu vou lá buscá-lo.
Quando o meu irmão saiu, Bruno e eu nos beijamos, mas muito rapidamente.
- Te amo.
- Também – falei. – Que bom que você está aqui.
- É! Ele é sua cara.
- Lógico. Somos univetelinos.
- Mas você é mesmo mais bonito que ele.
- Bobo! Você fala isso porque é meu noivo.
- Eu falaria isso mesmo que nós não fôssemos nada.
- É?! Sei.
- É sim!
- Caio do céu! Cada dia mais lindo o meu sobrinho. Dá ele pra mim?
- Ah, pode levar. Eu nem quero mais mesmo.
- Por que, amor?
- Ah, ele é inútil, não mata baratas!
- Pobrezinho – Bruno acariciou o gato.
- Enzo? Olha pro tio! O seu pai é mais bonito que o tio?
- Não – o gato respondeu imediatamente, mas porque Cauã apertou a pata dele.
- ENZO MONTEIRO! É ASSIM QUE VOCÊ ME TRATA, FILHO DA PUTA?
- Não!
Bruno e Cauã ficaram rindo. Eu fiquei foi com raiva.
- Não disse que eu provaria que sou mais bonito que você?
- Gato insuportável. É por isso que eu gosto mais da sua irmã, infeliz. Depois dessa eu vou até preparar o almoço.
Saí e deixei os cunhados conversando. Eles precisavam se conhecer um pouco melhor e isso faria muito bem aos dois. Eu sabia que eles se dariam muito bem.
- Miau?
Enzo apareceu na cozinha quando eu comecei a cortar a carne.
- Que é? – olhei para baixo.
Ele me olhou com os olhos pidões.
- Miau?
Agora é miau, né? Filho da puta!
- Miau?!
- O que é que você quer? É carne?
Ele se lambeu.
- Pois vai ficar querendo! Eu não vou te dar nada.
- Miau? – os olhos do Enzo estavam muito pidões.
- Não vou te dar nada, gato chato.
- Miau?
- Pare de miar, peste!
- Miau!!!
- Na hora de matar baratas você me deixa na mão, né? Agora quer carne? Vai ficar querendo.
- Miau, miau, miau...
- Não ouço nada, não ouço nada!
- MIAAAAAAAAAAAAAAAAAU – ele ficou se enroscando nas minhas pernas.
- Quer carne?
- Miau!!!
Ele se lambeu de novo.
- Então me pede desculpas por ter chamado seu tio de bonito e eu de feio.
- Miau?
- Pede de novo.
- Miau?!
- Agora me pede desculpas por não ter matado a barata naquele dia.
- Miau?
- Não ouvi?
- Miau?!
- Hum... Não sei se você merece não.
Ele ficou calado, sentado e me olhando com os olhos pidões.
- Filho da puta. Precisava fazer essa cara linda? Agora eu vou te dar porque você partiu o meu coração. Mas me promete que vai matar as baratas?
- Miau!!!
- Então vai lá comer.
Joguei um pedacinho de carne na lavanderia e ele saiu correndo com o rabo erguido no ar. Eu merecia uma coisa dessas? É claro que não!
- Gato folgado da porra!!!

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Pouco tempo depois, Cauã, Bruno e eu nos reunimos e almoçamos juntos. Era a primeira vez que meu irmão provava a minha comida.
- Se eu sair vivo, já estou no lucro.
- Cala a boca, hein? Eu cozinho bem. Não é, Bruno?
- Hoje em dia sim, né? Há uns anos atrás só por Cristo.
- BRUNO!
- É brincadeira, é brincadeira. Você sempre cozinhou muito bem!
- Está bom, mano. Me surpreendeu positivamente.
- Que bom. Agora eu tenho que provar a sua.
- Só falar o dia que eu faço uma lasanha pra gente.
- Só porque você sabe que lasanha é um dos meus pratos preferidos, né?
- Seu e da família inteira, né Caio?
- Verdade – eu ri.
- Estou apaixonado pelo Enzo. Ele é lindo demais.
- É porque você ainda não viu a Gertrudes – Bruno interveio.
- Verdade. A Gertrudes Filomena é uma coisa de louco.
- Eu vi as fotos. Ela parece com a Pantera Cor-de-Rosa.
- Verdade – concordei. – Parece mesmo. Só falta andar com as duas patas traseiras.
- Inteligente do jeito que ela é, não duvido que faça isso um dia – Bruno analisou.
- Verdade.
Nós almoçamos e ficamos jogando conversa fora. Após o almoço, Cauã se despediu de nós dois e resolveu nos deixar a sós.
- É cedo – falei.
- É nada e eu sei que vocês estão loucos para namorar. Outra hora eu volto.
- Prazer em te conhecer, Cauã.
- O prazer foi todo meu, Bruno. Cuida bem dele.
- Com a minha vida se preciso for.
- Juízo – abracei o cara.
- Você também! Ah, quero ver vocês no meu noivado.
- Nós iremos – garanti.
- Eu vou cobrar. Até mais. Se cuidem.
- Até. Você também.
Só fiz fechar a porta para ele me puxar pela cintura.
- Agora somos você e eu e mais ninguém.
- Tem o Enzo ali, amor.
- É?! Mas ele não vai nos atrapalhar.
- Atrapalhar em quê? – me fiz de sonso.
- Nisso!
Bruno me jogou contra a parede e me beijou com ferocidade. Fazia uma semana que nós não nos víamos e isso já estava nos matando.
- Delícia! – falei, completamente sem ar.
- Vem pra cama, vem? Eu preciso de você!
- Precisa? Então me pega de jeito, filho da puta! Eu estou morrendo de saudade de você!!!
- Alexia, do céu! Mas ele é a coisinha mais fofa que existe nesse mundo!!!
- Não é? – a mamãe de segunda viagem se derreteu toda.
- Eu posso? – Bruno perguntou.
- Claro, Bruh!
Meu namorado segurou o Guilherme no colo com a mesma proteção de sempre. Eu lembrei do dia em que nós dois fomos conhecer a Camila.
- Gente, ele é lindo – ele falou, bem baixinho.
- Muito lindo – concordei. – Que grandão que ele está!
- Já fiz um mês, tio Caio – ela falou, fazendo carinho na cabeça do filho.
- Como o tempo voa, né?
- Nem me fala! Nem me fala.
- E a MIla? Está com ciúmes?
- Nossa, demais! Nem comer ela quer. Virou uma birrenta.
- Pobrezinha!
- Está passando uns dias na casa de minha mãe. Ela está com muito ciúme do Gui.
- Não é pra menos, a pobrezinha é muito pequenina ainda.
- É verdade. Ela terá que se acostumar.
- Dá ele pra gente?
- Não mesmo, senhor Bruno! Logo, logo vocês terão o de vocês. Ele é meu, só meu e de mais ninguém.
- Seu e do Diego, né?
- Ah, sim. Claro.
- Ele está todo babão, não está não?
- Demais. Não faz outra coisa a não ser paparicar o bebê.
- É o primeiro filho homem dele, Alexia. É normal.
- Já está querendo ir ao futebol com o menino. Vê se pode.
- Homem é assim mesmo.
- Você falou agora como se fosse uma mulher.
- Você entendeu o que eu quis dizer.
- Daqui a pouco a Ana está aí, né?
- Nem fala. Mal posso esperar para ver a filha da Janaína. Será que ela vai ser parecida com a mãe?
- Sei não. Vamos ter que esperar para vê-la.
- Ela já veio ver o Gui?
- Já. Está imensa. Muito maior do que eu poderia imaginar. Engordou quase trinta quilos.
- Senhor! Eu quero vê-la.
- Ela está linda. Ficou tão barriguda! E só está de sete meses.
- Dá ele aqui – pedi ao Bruno. – Você já ficou tempo demais.
- Cuidado com a cabecinha.
- Eu sei, Bruh. Eu tenho experiência no assunto.
- Seus irmãozinhos estão lindos, Caio!
- Estão, Alexia. Eles estão imensos. Vão fazer seis meses já!
- Nossa!!! São umas graças.
- Eu li os comentários que você deixou na foto deles. São umas gracinhas mesmo.
- Essa é a melhor fase do bebê.
Guilherme estava pesado. O menino já tinha quase cinco quilos, mesmo tendo tão pouco tempo de vida.

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- E quando vem o terceiro?
- Sai fora! A fábrica fechou. Já tenho um casal, está mais do que perfeito.
- Tinha que ter um terceiro. Mais uma menininha.
- Não, obrigada. Hoje em dia não dá para criar muitos filhos não. As coisas não estão nada fáceis ultimamente.
- É impressão minha ou você está meio pálido? É anemia? – Fabrício me fitou.
- Mais um! Não é anemia, é a minha cor natural. Seu chato!
- E meu abraço, cadê?
Abracei meu amigo.
- Saudade. Você está bem?
- Bem, Caio. E você? Oi, Brunão!
- OI, Fabrício. Cadê o Nico?
- Jogando bola lá no quintal. Corre lá.
- Eu vou mesmo. Licença.
- Quanto tempo, hein?
- Pois é! Esqueceu dos pobres agora que foi morar lá no sudeste.
- Você fala como se morasse no norte, idiota.
- É como se fosse. Entra, Vini e Bruna estão na cozinha fazendo o almoço.
- E é assim? Eles fazem o almoço na sua casa?
- Compadres bons os meus, né?
- Até demais.
Entrei e cumprimentei o casal. Vinícius e Bruna pareciam bem felizes.
- Oi, menino! – Bruna me abraçou. – Quanto tempo!
- Pois é, linda. Está bem?
- Muito bem e você? Cadê o bronzeado?
- É mesmo, cara pálida – Vinícius concordou. – Cadê o bronzeado.
- Desnecessário esses comentários – suspirei. – O bronzeado ficou aqui no Rio.
- Percebemos – Fabrício bagunçou meu cabelo.
- Só falta o Digow e a Babí para a turma ficar completa.
- Verdade – concordou Vini. – Morrendo de saudade dele.
- Eu também.
Fiquei com vontade de perguntar pela ex-namorada do Fabrício, a Carol, mas fiquei com vergonha porque eles tinham terminado há pouco tempo. Achei melhor não tocar nesse assunto.
- Nico? – chamei pelo meu sobrinho mais velho. – Vem dar um abraço no tio!
- Tio Caio, tio Caio!!!
O menino, que ia completar três anos, me abraçou e deu um beijo no meu rosto.
- Estava aprontando, né mocinho?
- “Clalo” que não, tio Caio! Nícolas estava jogando futebol!
- Ah, seu safado! Sabia que você é lindo?
- “Clalo”, né tio Caio? Eu “pucei” ao meu papai!
- AAAAAAAAAAAAH, QUE FOFO! – Bruno se derreteu todo.
- Sabia que você é muito modesto?
- O que é isso, tio Caio?
- Hã... Pergunta pro seu pai!
Eu não soube como explicar o que era modéstia ao garotinho.]
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- Papai, papai?
- Que foi, filho?
- O que é modesto?
O menino não falou a frase corretamente, mas Fabrício entendeu do que se tratava.
- Modesto? Ai, filho! Que pergunta difícil de ser explicada. Pergunta pro seu padrinho.
- “Padim”, “padim”?
- Oi, rapazinho?
- O que é modesto?
- Melhor você perguntar pra sua madrinha.
- Dinda, dinda? O que é modesto?
- Ai, coitadinho, gente – Bruna pegou o menino no colo. – Vocês ficam jogando ele de um para o outro e ninguém explica nada. Eu vou te explicar, amor da dinda.
- Então “estica”, dinda!
Ele era um poço de charme aquele menino!
Bruna explicou o que era modéstia e o Nícolas pareceu não entender nada.
- Entendeu?
- “Clalo” que não, dinda!!! Você não “esticou dileito”. “estica” de novo!!!
- É que você é muito novo para entender isso, mocinho!
- Nìcolas não é novo, Nícolas já tem “teizi” anos!
- Mentiroso – eu ri. – Você vai fazer 3 em junho.
- Já, já, tio Caio! Já, já!
Ele foi o centro das atenções naquele dia. A todo momento ele falava alguma coisa engraçada, fazia algum charme ou fazia alguma pergunta. Isso só aumentou mais e mais a vontade que Bruno e eu tínhamos de nos tornar pais.
- Nada ainda?
- Nada, Vini. Mas eu acho que não vai demorar muito mais tempo.
- Tomara.
- Vocês estão tentando, né?
- Muito – ele falou.
- Só praticando, né safado? – Fabrício sorriu.
- Pelo menos quatro vezes ao dia – Vinicius abriu um sorriso safado.
- E ela aguenta? – eu ri.
- Adora.
Não era pra menos, não é?
- E você nem acha ruim, né?
- Opa, claro que não. Eu acho é ótimo. Por mim seria mais vezes.
- Logo, logo ela engravida.
- Se Deus quiser.
- Tomara que seja uma menina – falou o melhor amigo do oncologista e ortopedista. – Pro Nico pegar ela de jeito quando tiver idade.
Vinícius só não fez dar um murro no nariz do nosso amigo. O cara ficou com ciúmes da filha que nem ao menos estava concebida e que ele sequer sabia se seria menina ou não.
- Respeita a minha futura filha, filho da puta! Ela só vai casar depois dos 40!!!
- Ah, vá. Só porque você quer.
MEADOS DE JUNHO DE 2.013...

- Você vem mesmo passar as férias de julho aqui comigo? – eu perguntei, depois do prazer.
- Claro que venho. Você duvida?
- Não! Eu vou ser o homem mais feliz do mundo quando isso acontecer.
- É? Então me dá mais um beijo!
Nos beijamos.
- Ei, precisamos falar sobre o nosso casamento.
- Eu sei. A gente tem que ver todas essas burocracias.
- Exatamente. Vai ser lá no Rio ou aqui em São Paulo?
- Onde for mais cômodo. Acho que lá no Rio, porque todo mundo está lá.
- Mas e o Cauã? Ele não disse que queria participar?
- Ele pode ir pra lá, oras. É só ele e a namorada mesmo!
- Sua mãe não?
- Não. Não acho que ela queira isso.
- Ainda está resistente, não é?
- Não é isso. A gente está se dando bem, mas eu não sei se ela teria coragem para tal.
- Será que ela vai reagir bem ao me conhecer mais tarde?
- Se ela te respeitar, pra mim já está valendo.
- Uhum.
Nos beijamos de novo e dessa vez, degringolou em mais prazer.
- Isso – falei baixinho.
- Você gosta?
- Adoro – mordi os lábios dele.
- Te amo!
- Também te amo, meu amor!
Depois do ápice, Bruno e eu fomos tomar nosso banho. Dentro de algumas horas, meu irmão estaria noivando e eu queria estar presente nesse momento, mesmo contra a vontade do meu pai.
- Vamos no Víctor primeiro, tá?
- Ele vai também?
- Não, não. Eu só quero vê-lo e dar um abraço nele. Ele está com uma gripe muito forte, coitado.
- Então vamos, oras bolas.
Chegamos em Higienópolis ao cair da noite. Víctor estava muito gripado e isso me preocupou.
- Não melhorou ainda, cara de grilo?
- Não – ele quase não teve coragem para falar.
- Qual a dificuldade para ir ao médico?
- Já fui. É só uma gripe forte.
- Deus do céu – Bruno resmungou. – Deve ser o frio que faz nessa cidade!
- Mês que vem eu quero ver você suportar o frio.
- Qualquer coisa eu puxo a minha carroça de volta pro Rio. Eu, hein?
- Ah, fica quieto – Víctor suspirou e espirrou. – Você aguentou o frio da Espanha, o de São Paulo não é nada!
- Nisso ele tem razão – concordei.
- Um bolinho pra vocês – Dona Maria entrou no quarto do neto com várias fatias de bolo de milho com cobertura de chocolate.
- Obrigado, Dona Maria! Não tinha que ter se incomodado.
- E meu neto, como está?
- Na mesma vó – Víctor respondeu.
- Não é você, menino! É o Enzo!
Eu ri.
- Ele está bem, Dona Maria. Logo eu trago ele para ver a senhora.
- Eu vou ligar cobrando. Morro de saudade dele.
- Quando a Gertrudes tiver neném a gente traz um para a senhora.
- Isso, isso. Eu quero uma menininha. Vai se chamar Bilú.
- Nome feio, vó.
- Cale-se e cuide da sua gripe. Deixe que o nome da minha gata em paz.
- Ela é sempre divertida desse jeito? – Bruno comeu um pedaço de bolo.
- Sempre – falou Víctor. – Onde vocês vão tão arrumados desse jeito?
- No noivado do meu clone – falei.
- Cauã vai noivar hoje? Nossa, que progresso!
- Vai sim. Ele nos convidou.
- E o Edson vai estar lá?
- Sim.
- Com o Bruno junto? Essa eu pagaria para ver.
- Ele não vai ser louco de se meter a engraçadinho com a gente, né Bruh?
- Não mesmo.
Meu noivo e eu ficamos no Víctor por um tempinho. Só saímos de lá quando a hora do jantar se aproximou.
Primeiramente, a festa seria na casa da Ellen, mas depois eles decidiram fazer na casa do Cauã porque lá era mais espaçoso. Seria um jantar só para as duas famílias e os amigos mais próximos.
- Essa era a sua casa?
- Isso!
- Que casarão!
- É – fiquei meio sem graça. – Meu pai levou dez anos para finalizar tudo, sabia?
- Nossa, dez anos?
- Ele foi construindo aos poucos. Primeiro fez a parte de baixo, depois fez em  cima.
- Que massa. Ele mesmo que fez?
- Ah, não! Ele pagou pedreiro e tal. Eu lembro bem de tudo isso.
- Caramba. Eu gostei dessa cor laranja.
- Eles pintaram recentemente.
- Que bom. Valoriza o imóvel.
- É! Vou deixar o carro aqui mesmo, espero que não arranhem. Vem.
- Será que não vai ter problema?
- Claro que não. E se tiver, a gente resolve.
- De toda forma, não quero demorar muito.
- Nem eu. É só o tempo dele pedir ela em casamento e a gente vai embora.
- Fechou. Eu só vim para conhecer a sua mãe mesmo. E os gêmeos, é claro.
Toquei a campainha. Quem saiu, mais uma vez, foi o Cauã. Ele estava bonitão naquela noite.
- E aí? – ele me abraçou.
- Como está? Ansioso?
- Não muito. Beleza, Bruno?
- Tranquilo e você?
- Bem!
- E esse cabelo moicano?
- Não ficou bom?
- Ficou. Ainda bem que eu não fiz no meu. Quem está aí?
- Por enquanto, só a minha sogra, meu cunhado e duas primas dele.
- Ah, sim. Seu sogro não vem?
- Ele foi buscar a Ellen em casa.
- Ah, sim! Edson está aí?
- Ainda não. Ele foi no mercado comprar algumas coisas que estão faltando.
- E a Fátima?
- No banho. Entrem.
- Licença – Bruno e eu falamos ao mesmo tempo.
Quando entramos na sala, nos deparamos com uma senhorinha, um rapaz que aparentava ter no máximo 18 anos de idade e duas moças, essas um pouco mais velhas que ele.
- Creio em Deus Pai!!! – a mulher se espantou quando me viu ao lado do meu irmão.
- Somos idênticos, não somos, sogra?
- A cara de um, é o focinho do outro!
- Caio, Hilda, Hilda, Caio.
- Prazer – falei.
- Todo meu.
- E ele é o Bruno, meu cunhado.
- Olá!
- Ele é o Ícaro, irmão da Ellen, também meu cunhado. Nossa, quanto cunhado!
- Tudo bem? – apertei a mão do rapaz.
- Tudo ótimo e você?
- Bem!
- E elas são Kelly e Sandy, primas da Ellen.
- Olá, olá!
- Olá, olá – elas falaram ao mesmo tempo.
Bruno e eu nos olhamos. Meu “gaydar” começou a apitar loucamente nesse momento. Algo me dizia que aquelas meninas eram do babado.
- Cadê os gêmeos, mano?
- Lá no berço. Subam lá!
- Já voltamos. Vem, Bruh.
Meu amor e eu subimos as escadas e eu fui direto para o quarto dos meus irmãozinhos. Eles estavam no berço, mas não dormiam. Estavam acordados.
- Ô, meu Deus – Bruno já foi logo se derretendo pelos dois. – Mas são as coisinhas mais lindas que existem nesse mundo!!!
- Eles são umas graças. O da direita é o Davi e o da esquerda é o David.
- Será que eu posso segurá-los um minutinho?
- Lógico que pode, meu amor. Que pergunta!
Bruno pegou um dos gêmeos e ficou balançando a criança para um lado e para o outro. O menino pareceu curtir e começou a rir.
- Que foi, mocinho? Você está gostando?
- É seu cunhado, David – falei. – É seu cunhado!
- Não dá nem para acreditar numa coisa dessas, Caio! Eles não têm idade para serem meus cunhados!
- Coisas de Deus, amor. Coisas de Deus.
- E você? – ele trocou de bebê. – Você é o Davi? É isso?
- Isso – eu sorri.
- Oi, Davi! Que lindo, meu Deus do céu!
- Eles são lindos mesmo.
- Mal posso esparar para o nosso, amor!
- Nem me fala – suspirei. – Existem tantos nenéns ao meu redor ultimamente que a minha vontade de ter um só faz aumentar.
- Nem me fala! Nem me fala!!!
Nesse momento, Fátima entrou no quarto e deu de cara com o Bruno. Era a primeira vez que eles se viam pessoalmente e eu não fazia ideia de como seria a reação da minha mãe.
Do mesmo jeito que acontecia com o Edson quando ele ficava com raiva, o rosto da minha mãe deixou de ser branco e passou a ser vermelho gradativamente.
Por que isso estava acontecendo? Será que ela não queria o meu amor na casa dela? Será que ela ia reagir como o esposo homofóbico? Será que ela ia expulsar o garoto dos olhos azuis do noivado do Cauã???

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