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S
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eria
cômico, se não fosse trágico.
Eu fiquei encurralado, sem saber o que fazer. Imediatamente, várias perguntas tomaram conta da minha mente e eu fiquei de fato perdido.
Eu não sabia se saía da sala, se ligava para o Roberto, se fingia que ele não era meu pai ou se dava continuidade ao processo seletivo como se nada estivesse acontecendo.
Tive que pensar rápido e o dever acabou falando mais alto. Eu preferi seguir com a minha função, fingi que ele não era meu pai e deixei o profissionalismo falar mais alto. Restava saber se ele faria a mesma coisa.
Eu fiquei encurralado, sem saber o que fazer. Imediatamente, várias perguntas tomaram conta da minha mente e eu fiquei de fato perdido.
Eu não sabia se saía da sala, se ligava para o Roberto, se fingia que ele não era meu pai ou se dava continuidade ao processo seletivo como se nada estivesse acontecendo.
Tive que pensar rápido e o dever acabou falando mais alto. Eu preferi seguir com a minha função, fingi que ele não era meu pai e deixei o profissionalismo falar mais alto. Restava saber se ele faria a mesma coisa.
- Boa tarde – falei, depois de alguns minutos. – Entre, fique à vontade. Será um bate-papo rápido.
Edson entendeu o recado, entrou e sentou. Eu não entendi por qual motivo ele
estava participando daquele processo seletivo, sendo que já tinha dois empregos.
Será que tinha sido mandado embora?
Como eu pude ser tão relaxado? Como eu pude ficar sem averiguar os nomes dos candidatos? Como eu não percebi o nome dele na ficha? Como eu deixei todos esses detalhes passarem desapercebidos?
Eu iniciei com os procedimentos. Existia uma tensão nítida entre nós dois. O clima estava pesado e eu estava vendo a hora dele começar a gritar comigo naquela sala de recrutamento.
- Vejo aqui que você trabalha em uma empresa e que é dono de uma agência de publicidade. Por qual motivo se interessou pela vaga?
- Por ter limite de término. Como serão apenas três meses de trabalho, eu consigo intercalar as três coisas sem maiores transtornos.
Então era isso. Ele só queria um complemento na renda da família. Eu não tirei a razão do meu pai. Os gêmeos davam gastos e a qualidade de vida estava – e está – cara. Ele tinha o direito de buscar uma graninha extra.
- Sua pretensão salarial?
- A base da categoria.
Esperto. Ele não ousou muito. Anotei essa informação.
- Qual o maior feito em sua carreira profissional?
Edson estava com a voz calma. Nossos olhos estavam unidos e pela primeira vez, eu não senti ódio por ele, muito menos rancor.
Como eu pude ser tão relaxado? Como eu pude ficar sem averiguar os nomes dos candidatos? Como eu não percebi o nome dele na ficha? Como eu deixei todos esses detalhes passarem desapercebidos?
Eu iniciei com os procedimentos. Existia uma tensão nítida entre nós dois. O clima estava pesado e eu estava vendo a hora dele começar a gritar comigo naquela sala de recrutamento.
- Vejo aqui que você trabalha em uma empresa e que é dono de uma agência de publicidade. Por qual motivo se interessou pela vaga?
- Por ter limite de término. Como serão apenas três meses de trabalho, eu consigo intercalar as três coisas sem maiores transtornos.
Então era isso. Ele só queria um complemento na renda da família. Eu não tirei a razão do meu pai. Os gêmeos davam gastos e a qualidade de vida estava – e está – cara. Ele tinha o direito de buscar uma graninha extra.
- Sua pretensão salarial?
- A base da categoria.
Esperto. Ele não ousou muito. Anotei essa informação.
- Qual o maior feito em sua carreira profissional?
Edson estava com a voz calma. Nossos olhos estavam unidos e pela primeira vez, eu não senti ódio por ele, muito menos rancor.
Como estava envelhecido! Já não era mais o mesmo homem de antes. Sua pele estava muito marcada e isso me deixava agoniado. Eu tinha a impressão que ele havia envelhecido pelo menos vinte anos naqueles últimos tempos. Isso me entristeceu.
Nossos olhos ficaram grudados como há muito não ficavam. É claro que existia nervosismo em nós dois, mas ao mesmo tempo, eu consegui lembrar de vários momentos que nós vivemos no passado. Isso me deixou balançado.
Eu queria que ele fosse calmo daquele jeito também na vida pessoal. Eu queria que nunca tivesse existido nenhuma rusga entre nós dois, mas infelizmente não foi assim que aconteceu.
Eu engoli em seco e anotei mais algumas coisas que ele me falou. A cada minuto que passava, eu tinha sensação que se passara uma eternidade. O tempo não estava correndo como corria em circunstâncias normais.
- Uma qualidade?
- Eu sou batalhador.
Era verdade. Desde que eu me entendia por gente, o cara batalhava em busca do pão de cada dia. Ele nunca nos deixou faltar nada, absolutamente nada.
Eu tive que dar o braço a torcer e reconhecer que ele falou a verdade. Edson era mesmo uma pessoa que lutava, que não desistia e que não tinha medo de enfrentar o trabalho.
- Um defeito?
Pausa. Eu olhei nos olhos dele e percebi que os mesmos estavam um pouco tristonhos. Seria impressão minha?
- Sou um pouco desconfiado.
Um pouco? Ele sempre foi desconfiado não só comigo, mas também com todos os que o cercavam.
No entanto, esse não era o seu maior defeito. Nós poderíamos colocar ali várias opções. Como por exemplo: intolerância, preconceito, desrespeito e falta de educação. Todas essas prevaleciam, mas tudo bem.
- Por que eu devo te contratar?
- Pelo meu conhecimento, pelos meus mais de vinte e cinco anos de experiência, porque tenho muito a agregar, porque tenho ótimas ideias e porque vou realizar a maior e melhor campanha publicitária que essa empresa já teve em toda a sua história.
Por essa eu não esperava. Não mesmo. Fiquei surpreso, positivamente falando. Mais um ponto para ele.
Ao contrário da candidata anterior, Edson se saiu bem na entrevista. Ele não teve erros graves, se manteve calmo e respondeu todas as perguntas com objetividade e clareza.
Isso me deixou mais nervoso do que eu já estava. Eu não pensei que ele se sairia tão bem assim, ainda mais comigo sendo o entrevistador.
Isso me fez crer que ele sabia diferenciar as coisas. Se ele estava ali e se ficou mesmo sabendo que eu o entrevistaria, era porque ele de fato precisava do emprego e eu teria que levar isso em consideração.
- Muito bem, acabamos.
Ele apenas me fitou, nada mais.
- Eu entro em contato ainda hoje para dar a resposta, seja ela positiva ou negativa.
- Eu fico no aguardo.
Silêncio. Não soube o que falar. Só depois de alguns segundos eu me levantei e fui até a porta.
- É só deixar o crachá na recepção, por gentileza.
- Sim. Hã – ele coçou a nuca. – Obrigado!
Ouvir esse agradecimento me deixou simplesmente incrédulo. Nunca na minha vida eu imaginei que meu pai me agradeceria por alguma coisa, fosse na situação que fosse!
Ele saiu e não me olhou mais, o que me deixou grato. Quando ele passou, eu fechei a porta e encostei na mesma. Eu não sabia o que fazer, o que pensar ou como reagir, essa é que era a verdade.
- O que foi isso, meu Deus do céu? O que foi isso?!
- Eu
posso?
- Claro, Caio! Entra aí. Então, como foi o processo?
- É sobre isso que eu queria falar com você, Roberto.
- Algum problema?
- Sim e daqueles bem cabeludos.
- O que aconteceu?
- Então, o meu pai estava no meio dos candidatos.
- Seu pai? E você só me fala isso agora, Caio?
- É que eu não sabia que ele estava participando!
- Não sabia? Como assim, não sabia?
- Eu não costumo acompanhar as escolhas dos meus liderados, Roberto. Eu só dou o suporte que eles necessitam.
- Você não leu o nome dele na ficha?
- Estava abreviado. Edson C. da Silva. Eu não imaginei que seria ele.
- Você precisa prestar mais atenção nisso, Caio. Você precisa acompanhar as escolhas que seus liderados fazem, você precisa fazer um acompanhamento efetivo em cima disso. Que falha, hein?
Eu senti minha pele esquentar.
- Desculpe.
- À partir de agora, quero que você preste mais atenção nessas coisas. Quero que você acompanhe de perto todos os processos seletivos para que não haja mais falhas como essa.
Que vergonha, meu Deus!
- Pode deixar. Eu vou fazer isso sim.
- E o que você fez com ele? Dispensou?
- Não, não. Eu fiz a entrevista e deixei o lado profissional falar mais alto.
- E ai?
- E aí que eu estou em dúvida se devo ou não passá-lo para a fase final. Interfere ele ser meu pai?
- Para a empresa não, não existe esse problema. Agora, o que não pode acontecer é você decidir por ele só porque ele é seu pai.
- Eu jamais faria isso – falei a verdade. – Até mesmo porque nós não nos damos bem, então eu não tenho motivos para optar por ele só porque sou filho dele. Isso não.
- Melhor assim. Faça as suas escolhas, encaminhe os nomes ao diretor da área e entre em contato com os selecionados. Faça isso até o final do expediente.
- Pode deixar.
- E eu não quero mais que aconteçam erros assim, entendido?
- Entendido, chefe. Desculpa novamente.
- Claro, Caio! Entra aí. Então, como foi o processo?
- É sobre isso que eu queria falar com você, Roberto.
- Algum problema?
- Sim e daqueles bem cabeludos.
- O que aconteceu?
- Então, o meu pai estava no meio dos candidatos.
- Seu pai? E você só me fala isso agora, Caio?
- É que eu não sabia que ele estava participando!
- Não sabia? Como assim, não sabia?
- Eu não costumo acompanhar as escolhas dos meus liderados, Roberto. Eu só dou o suporte que eles necessitam.
- Você não leu o nome dele na ficha?
- Estava abreviado. Edson C. da Silva. Eu não imaginei que seria ele.
- Você precisa prestar mais atenção nisso, Caio. Você precisa acompanhar as escolhas que seus liderados fazem, você precisa fazer um acompanhamento efetivo em cima disso. Que falha, hein?
Eu senti minha pele esquentar.
- Desculpe.
- À partir de agora, quero que você preste mais atenção nessas coisas. Quero que você acompanhe de perto todos os processos seletivos para que não haja mais falhas como essa.
Que vergonha, meu Deus!
- Pode deixar. Eu vou fazer isso sim.
- E o que você fez com ele? Dispensou?
- Não, não. Eu fiz a entrevista e deixei o lado profissional falar mais alto.
- E ai?
- E aí que eu estou em dúvida se devo ou não passá-lo para a fase final. Interfere ele ser meu pai?
- Para a empresa não, não existe esse problema. Agora, o que não pode acontecer é você decidir por ele só porque ele é seu pai.
- Eu jamais faria isso – falei a verdade. – Até mesmo porque nós não nos damos bem, então eu não tenho motivos para optar por ele só porque sou filho dele. Isso não.
- Melhor assim. Faça as suas escolhas, encaminhe os nomes ao diretor da área e entre em contato com os selecionados. Faça isso até o final do expediente.
- Pode deixar.
- E eu não quero mais que aconteçam erros assim, entendido?
- Entendido, chefe. Desculpa novamente.
Eu estava fechado na minha sala, pensando a respeito dos últimos acontecimentos.
Não sabia o que fazer. Eu me sentia péssimo por dentro por ter deixado aquela
situação passar desapercebida diante dos meus olhos.
Por mais de uma vez, li todas as minhas anotações e aos pouquinhos, fui descartando os candidatos que não me agradaram. O pior de tudo, era que Edson estava ficando para trás.
E então, só me restavam três. Edson, Geraldo e Thiago. Os três estavam muito parecidos e eram muito bons. Eu não sabia o que fazer.
- Nunca fiquei tão em dúvida como estou agora.
Analisei mais algumas vezes os currículos dos três, as informações que eu anotei e por fim, resolvi tomar a minha decisão. Deixei tudo nas mãos de Deus.
Não tive como deixar o meu pai de lado. De todos, ele era um dos melhores por causa de sua experiência e credibilidade. Se eu não o passasse por causa de nossas diferenças, seria injustiça de minha parte.
Portanto, fui obrigado a ligar para ele no final do expediente para deixá-lo ciente da posição da empresa. Esse foi outro momento tenso do meu dia:
- Alô?
- Edson?
- Cauã? É você?
Engoli em seco.
- Na verdade não. É o Caio.
Ele ficou em silêncio. Acho que estava planejando o que ia falar.
- O que você deseja?
- Eu ligo em nome da empresa. Nós já temos uma posição a respeito do processo seletivo.
- E qual é a posição?
Meu pai estava um pouco ríspido. Naquele momento ele tinha o direito de fazer isso. Não que fosse correto, mas sendo como ele era...
- Você foi aprovado para a próxima fase. A sua última entrevista será depois de amanhã, às 9 horas, algum inconveniente?
- Nenhum. Vai ser com você de novo?
- Não – falei de imediato. – Com o diretor da érea.
- Graças a Deus.
- Amém – eu não podia sair por baixo. – Passar bem.
- Passar mal.
Eu desliguei e bufei de raiva. Desgraçado! Só por causa disso eu senti vontade de excluí-lo daquela merda daquele processo. Só não fiz isso, porque o meu profissionalismo falou novamente mais alto. Que saco!
Por mais de uma vez, li todas as minhas anotações e aos pouquinhos, fui descartando os candidatos que não me agradaram. O pior de tudo, era que Edson estava ficando para trás.
E então, só me restavam três. Edson, Geraldo e Thiago. Os três estavam muito parecidos e eram muito bons. Eu não sabia o que fazer.
- Nunca fiquei tão em dúvida como estou agora.
Analisei mais algumas vezes os currículos dos três, as informações que eu anotei e por fim, resolvi tomar a minha decisão. Deixei tudo nas mãos de Deus.
Não tive como deixar o meu pai de lado. De todos, ele era um dos melhores por causa de sua experiência e credibilidade. Se eu não o passasse por causa de nossas diferenças, seria injustiça de minha parte.
Portanto, fui obrigado a ligar para ele no final do expediente para deixá-lo ciente da posição da empresa. Esse foi outro momento tenso do meu dia:
- Alô?
- Edson?
- Cauã? É você?
Engoli em seco.
- Na verdade não. É o Caio.
Ele ficou em silêncio. Acho que estava planejando o que ia falar.
- O que você deseja?
- Eu ligo em nome da empresa. Nós já temos uma posição a respeito do processo seletivo.
- E qual é a posição?
Meu pai estava um pouco ríspido. Naquele momento ele tinha o direito de fazer isso. Não que fosse correto, mas sendo como ele era...
- Você foi aprovado para a próxima fase. A sua última entrevista será depois de amanhã, às 9 horas, algum inconveniente?
- Nenhum. Vai ser com você de novo?
- Não – falei de imediato. – Com o diretor da érea.
- Graças a Deus.
- Amém – eu não podia sair por baixo. – Passar bem.
- Passar mal.
Eu desliguei e bufei de raiva. Desgraçado! Só por causa disso eu senti vontade de excluí-lo daquela merda daquele processo. Só não fiz isso, porque o meu profissionalismo falou novamente mais alto. Que saco!
- Como você está, meu amor? – ele perguntou.
- Precisando de uma massagem com urgência.
- Algum problema?
Contei o que tinha acontecido e Bruno levou um susto:
- Nossa! Por essa eu não esperava, Caio! Que bomba é essa?
- Nem me fala. Imagina a minha cara de idiota na hora?
- A cada dia que passa, sua família fica mais próxima de você, já percebeu?
- O Cauã, minha mãe e os gêmeos até que vai, mas ele não.
- Eu entendo o seu lado, bebê. Porém, se ele está aparecendo tanto no seu dia-a-dia é por algum motivo. Não acha?
- Não sei o que pensar, Bruno. Eu fico carregado demais quando fico perto dele. Ele é muito negativo.
- Eu sei que é, meu amor. Só que vocês sempre estão se encontrando. Primeiro foi naquele dia do assalto, há um tempo atrás. Agora foi na empresa. E ele sempre está dependendo de você, já notou?
Eu parei para pensar. O que Bruno falou fazia sentido. Meu pai estava dependendo de mim ultimamente.
- Talvez isso seja um recado de Deus para que ele abra os olhos. Talvez seja só isso.
- Eu não gosto de ficar perto dele, Bruno. Eu me sinto mal, de verdade.
- Eu sei, eu sei que se sente. Eu também me sinto, mas isso foge do seu controle. Não é porque você quer, simplesmente acontece.
Verdade. simplesmente acontecia.
- Eu não sei o que pensar – ele suspirou. – Só sinto que há algo por trás disso tudo.
- Será mesmo?
- É provável. Não pode ser apenas coincidência.
- Isso é verdade. Isso é verdade mesmo.
- O jeito é aguardar, vidinha.
- Uhum. Deixar as coisas acontecerem.
- Isso mesmo.
- Tudo bem aí no Rio?
- Tudo ótimo e por aí?
- Bem também, tirando esses contratempos, é claro.
- Gertrudes está no cio.
- Ah, é? Será que seremos vovôs dessa vez?
- Que nada! Deixei ela lá na casa do Vítor porque senão os vizinhos me xingam. Lá não tem gato não.
- Ô, dó! Pobrezinha da gata.
- Logo vai passar. Espero.
- Tem visto meus amigos?
- Vi a Jana e a Aninha hoje. Eu fui com meu sobrinho ao médico e ela estava lá com a neném.
- Com o Léo? Ele tem alguma coisa?
- Alergia íntima. Ele não quis falar para os pais porque ficou com vergonha, tadinho.
- Ele gosta muito de você.
- E eu dele. Nós conversamos muito e ele tirou várias dúvidas sobre a adolescência.
- Que fofo. E você nem curtiu a Aninha, né?
- Amor, ela está a coisa mais linda! Enorme de imensa de gigante.
Eu ri.
- E pesada também.
- Quero vê-la, meu Deus!
- Só você vir.
- Só no outro final de semana, né mocinho?
- Muita coisa do mestrado ai?
- Uma carrada. Eu nem sei por onde começo. E a facul?
- Bem, obrigado! Agora faltam só dois meses para eu me formar, né amor?
- Aham, dois mais doze. Espertinho.
- Você me odeia, né Caio? Vive cortando o meu barato.
- Jamais te odiarei, vida. Você é o meu amor, meu único e verdadeiro amor!
- Que lindo! Te amo.
- Também te amo.
- Ah, já ia esquecendo de te contar. Adivinha quem está namorando?
- O Maurício?
- Não. Minha sobrinha!
- Sério? Tão novinha assim?
- Novinha nada, Caio. Já está na hora.
- Sinto que alguém será tio-avô em breve – não me segurei.
- ESTOU PRETO PASSADO NA CHAPINHA! EU NÃO TINHA PENSADO NISSO!
- Tio-avô – gargalhei.
- Vou ter que proibir esse namoro! Eu não tenho idade para ser avô no auge dos meus 23 anos, não tenho mesmo!!!
- Precisando de uma massagem com urgência.
- Algum problema?
Contei o que tinha acontecido e Bruno levou um susto:
- Nossa! Por essa eu não esperava, Caio! Que bomba é essa?
- Nem me fala. Imagina a minha cara de idiota na hora?
- A cada dia que passa, sua família fica mais próxima de você, já percebeu?
- O Cauã, minha mãe e os gêmeos até que vai, mas ele não.
- Eu entendo o seu lado, bebê. Porém, se ele está aparecendo tanto no seu dia-a-dia é por algum motivo. Não acha?
- Não sei o que pensar, Bruno. Eu fico carregado demais quando fico perto dele. Ele é muito negativo.
- Eu sei que é, meu amor. Só que vocês sempre estão se encontrando. Primeiro foi naquele dia do assalto, há um tempo atrás. Agora foi na empresa. E ele sempre está dependendo de você, já notou?
Eu parei para pensar. O que Bruno falou fazia sentido. Meu pai estava dependendo de mim ultimamente.
- Talvez isso seja um recado de Deus para que ele abra os olhos. Talvez seja só isso.
- Eu não gosto de ficar perto dele, Bruno. Eu me sinto mal, de verdade.
- Eu sei, eu sei que se sente. Eu também me sinto, mas isso foge do seu controle. Não é porque você quer, simplesmente acontece.
Verdade. simplesmente acontecia.
- Eu não sei o que pensar – ele suspirou. – Só sinto que há algo por trás disso tudo.
- Será mesmo?
- É provável. Não pode ser apenas coincidência.
- Isso é verdade. Isso é verdade mesmo.
- O jeito é aguardar, vidinha.
- Uhum. Deixar as coisas acontecerem.
- Isso mesmo.
- Tudo bem aí no Rio?
- Tudo ótimo e por aí?
- Bem também, tirando esses contratempos, é claro.
- Gertrudes está no cio.
- Ah, é? Será que seremos vovôs dessa vez?
- Que nada! Deixei ela lá na casa do Vítor porque senão os vizinhos me xingam. Lá não tem gato não.
- Ô, dó! Pobrezinha da gata.
- Logo vai passar. Espero.
- Tem visto meus amigos?
- Vi a Jana e a Aninha hoje. Eu fui com meu sobrinho ao médico e ela estava lá com a neném.
- Com o Léo? Ele tem alguma coisa?
- Alergia íntima. Ele não quis falar para os pais porque ficou com vergonha, tadinho.
- Ele gosta muito de você.
- E eu dele. Nós conversamos muito e ele tirou várias dúvidas sobre a adolescência.
- Que fofo. E você nem curtiu a Aninha, né?
- Amor, ela está a coisa mais linda! Enorme de imensa de gigante.
Eu ri.
- E pesada também.
- Quero vê-la, meu Deus!
- Só você vir.
- Só no outro final de semana, né mocinho?
- Muita coisa do mestrado ai?
- Uma carrada. Eu nem sei por onde começo. E a facul?
- Bem, obrigado! Agora faltam só dois meses para eu me formar, né amor?
- Aham, dois mais doze. Espertinho.
- Você me odeia, né Caio? Vive cortando o meu barato.
- Jamais te odiarei, vida. Você é o meu amor, meu único e verdadeiro amor!
- Que lindo! Te amo.
- Também te amo.
- Ah, já ia esquecendo de te contar. Adivinha quem está namorando?
- O Maurício?
- Não. Minha sobrinha!
- Sério? Tão novinha assim?
- Novinha nada, Caio. Já está na hora.
- Sinto que alguém será tio-avô em breve – não me segurei.
- ESTOU PRETO PASSADO NA CHAPINHA! EU NÃO TINHA PENSADO NISSO!
- Tio-avô – gargalhei.
- Vou ter que proibir esse namoro! Eu não tenho idade para ser avô no auge dos meus 23 anos, não tenho mesmo!!!
ALGUNS DIAS DEPOIS...
Eu estava no Facebook, olhando as atualizações dos meus amigos quando de
repente vejo uma publicação nova da Bruna.
Era uma foto de uma folha de sulfite. Eu achei estranho. Para que ela tinha postado aquilo?
Abri a imagem e então entendi do que se tratava. Era um exame de gravidez e pelo que pude ler, o mesmo tinha dado positivo.
- Não pode ser!!!
Eu ia ser tio de novo? Era isso? Sem pensar duas vezes, peguei o meu celular, disquei o número do Vini e esperei que o mesmo me atendesse. Isso demorou a acontecer.
- Oi, moleque?!
- Você vai ser papai? É isso mesmo, produção?
Ele riu.
- Quem te contou?
- A Bruna postou o exame no Face. É isso? Você vai ser pai, curandeiro?
- É! – Vini riu. – Eu vou ser papai, Caio!!!
Eu gritei um parabéns daqueles bem cumpridos.
- Obrigado – meu ex-peguete gargalhou.
- Que lindo, que lindo! Eu vou ser tio de novo! Que venha com muita saúde e que seja uma linda menina para você virar fornecedor!
- Porra, deseja isso pra mim não, cara! Vai ser homem que nem o paizão aqui!
- Sua família já sabe?
- Já sim!
- E seus pais?
- Minha mãe está radiante e meu pai me xingou, falou que demorou muito. Que fui lerdo.
- Danou-se! E a família dela?
- Estão todos muito felizes.
- Você então nem se fala, né?
- Eu estou nas nuvens, cara. É muito bom receber essa notícia.
- Eu imagino! Espero recebê-la em breve também.
- Você receberá. Tenha paciência porque as coisas só acontecem no tempo de Deus.
- Verdade. Dá um beijo na Bruna por mim, tá?
- Pode deixar, eu dou sim.
- Felicidades ao casal e a neném que vem por aí.
- A não, o neném. Vai ser homem!
- Vai ser menina, Vini. Vai por mim.
- Não roga praga, por favor. Vai ser homem para ir ao futebol comigo!
- Fabrício dois. Vai ser menina. Quer apostar?
- O quê?
- Sei lá. Qualquer coisa.
- Dez reais?
- Pode ser. Dez reais. Apostado.
- Eu vou ganhar essa, você vai ver. O Júnior vem por aí.
- Vamos ver. O tempo dirá quem está certo.
Era uma foto de uma folha de sulfite. Eu achei estranho. Para que ela tinha postado aquilo?
Abri a imagem e então entendi do que se tratava. Era um exame de gravidez e pelo que pude ler, o mesmo tinha dado positivo.
- Não pode ser!!!
Eu ia ser tio de novo? Era isso? Sem pensar duas vezes, peguei o meu celular, disquei o número do Vini e esperei que o mesmo me atendesse. Isso demorou a acontecer.
- Oi, moleque?!
- Você vai ser papai? É isso mesmo, produção?
Ele riu.
- Quem te contou?
- A Bruna postou o exame no Face. É isso? Você vai ser pai, curandeiro?
- É! – Vini riu. – Eu vou ser papai, Caio!!!
Eu gritei um parabéns daqueles bem cumpridos.
- Obrigado – meu ex-peguete gargalhou.
- Que lindo, que lindo! Eu vou ser tio de novo! Que venha com muita saúde e que seja uma linda menina para você virar fornecedor!
- Porra, deseja isso pra mim não, cara! Vai ser homem que nem o paizão aqui!
- Sua família já sabe?
- Já sim!
- E seus pais?
- Minha mãe está radiante e meu pai me xingou, falou que demorou muito. Que fui lerdo.
- Danou-se! E a família dela?
- Estão todos muito felizes.
- Você então nem se fala, né?
- Eu estou nas nuvens, cara. É muito bom receber essa notícia.
- Eu imagino! Espero recebê-la em breve também.
- Você receberá. Tenha paciência porque as coisas só acontecem no tempo de Deus.
- Verdade. Dá um beijo na Bruna por mim, tá?
- Pode deixar, eu dou sim.
- Felicidades ao casal e a neném que vem por aí.
- A não, o neném. Vai ser homem!
- Vai ser menina, Vini. Vai por mim.
- Não roga praga, por favor. Vai ser homem para ir ao futebol comigo!
- Fabrício dois. Vai ser menina. Quer apostar?
- O quê?
- Sei lá. Qualquer coisa.
- Dez reais?
- Pode ser. Dez reais. Apostado.
- Eu vou ganhar essa, você vai ver. O Júnior vem por aí.
- Vamos ver. O tempo dirá quem está certo.
- Enzo! – Dona Maria tratou de agarrar o meu filho assim que o viu.
- Miau?
- Vovó estava com saudade!!!
- Vim deixá-lo com a senhora um pouco, Dona Maria.
- Que ótimo, Caio! Eu estava com saudades do bichinho.
- Cadê o Víctor?
- Não está, meu lindo. Saiu com o pai.
- Ah, tudo bem. Eu volto mais tarde.
- Não quer esperar um pouco?
- Eu volto mais tarde. Vou ver meus irmãozinhos então. Posso deixar o carro aqui na frente?
- Pode! Ninguém vai mexer.
- Só vou deixar do outro lado porque senão o Roberto não consegue entrar.
- É, isso. Faça isso. Vem, Enzo. Vovó vai fazer sua comida.
- Volto depois para buscá-lo.
- Ela fingiu que não me ouviu e entrou com o gato no colo. A mulher gostava tanto do meu filho que estava vendo a hora ela sequestrá-lo.
Fui a pé até a minha antiga casa e aproveitei para rever alguns vizinhos.
- Como vai, Cauã?
- Sou o Caio, Tânia. Bem e você?
- Caio? Você voltou?
- Nossa, há mais de um ano. Só que não estou mais aqui em Higienópolis.
- Ah, sim. Por isso confundi você com seu irmão. Sempre idênticos.
- Somos gêmeos. Até mais!
Ao chegar na casa dos meus pais, toquei a campainha e quem me atendeu foi a Ellen. Ela estava com os cabelos cortados.
- Ficou gata.
- Obrigada – ela me beijou.
Entrei, cumprimentei os presentes e fui logo atrás dos gêmeos.
- Onde eles estão?
- Aí atrás do sofá – Cauã riu.
- Como assim?
Dei a volta na sala e vi os dois no chão. O que eles estariam fazendo ali?
- Mas que marmota é essa? O que vocês estão fazendo aí? Hum?
Dei um jeitinho e peguei logo os dois no colo. Eles estavam pesadíssimos.
- Miau?
- Vovó estava com saudade!!!
- Vim deixá-lo com a senhora um pouco, Dona Maria.
- Que ótimo, Caio! Eu estava com saudades do bichinho.
- Cadê o Víctor?
- Não está, meu lindo. Saiu com o pai.
- Ah, tudo bem. Eu volto mais tarde.
- Não quer esperar um pouco?
- Eu volto mais tarde. Vou ver meus irmãozinhos então. Posso deixar o carro aqui na frente?
- Pode! Ninguém vai mexer.
- Só vou deixar do outro lado porque senão o Roberto não consegue entrar.
- É, isso. Faça isso. Vem, Enzo. Vovó vai fazer sua comida.
- Volto depois para buscá-lo.
- Ela fingiu que não me ouviu e entrou com o gato no colo. A mulher gostava tanto do meu filho que estava vendo a hora ela sequestrá-lo.
Fui a pé até a minha antiga casa e aproveitei para rever alguns vizinhos.
- Como vai, Cauã?
- Sou o Caio, Tânia. Bem e você?
- Caio? Você voltou?
- Nossa, há mais de um ano. Só que não estou mais aqui em Higienópolis.
- Ah, sim. Por isso confundi você com seu irmão. Sempre idênticos.
- Somos gêmeos. Até mais!
Ao chegar na casa dos meus pais, toquei a campainha e quem me atendeu foi a Ellen. Ela estava com os cabelos cortados.
- Ficou gata.
- Obrigada – ela me beijou.
Entrei, cumprimentei os presentes e fui logo atrás dos gêmeos.
- Onde eles estão?
- Aí atrás do sofá – Cauã riu.
- Como assim?
Dei a volta na sala e vi os dois no chão. O que eles estariam fazendo ali?
- Mas que marmota é essa? O que vocês estão fazendo aí? Hum?
Dei um jeitinho e peguei logo os dois no colo. Eles estavam pesadíssimos.
- Como consegue?
- É fácil, mãe: só colocar um e depois o outro.
- Se eu fizer isso, fico com a coluna travada.
- E a academia, mãe?
- Me deixando morta de cansaço, mas vai bem.
- Como está se sentindo?
- Para ser sincera, ótima. Não tenho sentido mais nada da pressão e o colesterol está abaixando.
- Viu só? Eu disse, não disse?
- É, filho. Você estava certo.
Nesse momento, eu senti uma mão veloz na minha cara. David estava me batendo.
- Ei, o que é isso? Está me batendo, rapaz? Não pode!
Ele ficou esperneando e choramingando.
- Ele quer ir pro chão.
- É? Então vai, safado. Não pode bater, hein?
- Ele está com essa mania – Cauã reclamou.
- Bom cortar desde já. Onde já se viu? Com nove meses e já está batendo assim? Não, não!
Fiquei com Davi no colo. Ele era mais calminho, mais tranquilo. O outro era mais birrento e um pouco mal-criado.
- MÃE, MÃE CORRE AQUI – Cauã berrou.
- Que foi, menino? Que gritaria é essa?
- ELE VAI ENGATINHAR!!!
Nós paramos para ver essa cena. E não é que ele engatinhou mesmo? Nós ficamos alvoroçados com isso!
- Que lindo – minha mãe caiu no choro.
- Mãe boba – eu ri.
- Filma isso, Cauã – Ellen mandou.
Meu irmão filmou e eu coloquei o Davi ao lado do irmãozinho. Aos poucos, ele imitou os gestos do outro e também começou a se arrastar no chão.
- O Bruno precisa ver isso.
Peguei o celular e fiz um vídeo dos dois no chão. Eles não souberam muito o que fazer e teve um momento que acabaram se trombando.
- Não, meninos – meu irmão riu. – Tem que ir para lados diferentes. Assim, olha.
Tiramos a tarde para isso. As crianças estavam cada dia mais espertas e eu tinha certeza que não demoraria nadinha para eles começarem a andar.
- Bom, vou nessa.
- Espera o jantar, filho.
- Não, mãe. Eu vim só ver esses príncipes mesmo. Já tenho que ir. Outro dia eu volto com mais calma.
- Então está certo.
Me despedi de todos e quando ia saindo da garagem, o Edson chegou com o carro novo.
- Está virando zona isso daqui.
- Vai pro inferno – só falei isso e saí andando.
Eu não estava a fim de ouvir provocações naquela noite. Eu tinha mais o que fazer, isso sim.
- Ele chegou, Dona Maria?
- Ainda não, filho. Por que não entra e espera?
- Não, não. Eu volto outro dia então. Cadê meu filhote?
- Ah, deixa ele aqui comigo, vai?
- Não, Dona Maria! Ele iria estranhar.
- Que estranhar que nada, ele me adora.
Eu ri.
- Eu deixo, mas amanhã eu volto para buscá-lo, hein?
- Combinado então. Até amanhã dá tempo eu me mudar com meu netinho!!!
- São quantas horas de viagem daqui até o “Hopi Hari”?
- Umas duas horas, Bruno – respondeu Ellen.
- E lá é legal?
- É vida, hein? Altas montanhas russas e brinquedos bem altos.
- Do jeito que eu gosto – ele sorriu.
- Sai fora! Eu não ando nem por um bilhão de reais.
- Por que estão calados, gêmeos?
- Sono – respondemos.
- Mal-humorados!
- Não torra – Cauã respondeu ao cunhado.
- Olha o respeito!
Era a primeira vez que Cauã, Ellen, Bruno e eu saíamos juntos. Seria um programa de casais, mas ao mesmo tempo a gente se divertiria horrores.
- Aqui é o parque?
- Isso – falei. – Enorme, não é?
- Que da hora! Eu quero ir na montanha russa, hein?
- Nós vamos!
Logo de cara, optamos por ir no brinquedo da água porque fazia um calor infernal naquele domingo. Saímos de lá até com a alma molhada.
- Molhou até meu útero!!!
- Não exagera, amor – Cauã abraçou a noiva por trás.
Bruno e eu ficamos foi de vela. Eles se beijaram várias vezes e nós dois não pudemos fazer o mesmo. Isso me irritou.
- Que cara é essa?
- Frustração.
- Já sei o que é. Dá um jeito, pô.
- Como, Cauã? Só se colocarmos sacolas na cabeça.
- Complicado isso, né?
- Você não imagina o quanto.
- Calma! Não fica grilado não.
Nós ficamos duas horas na fila da montanha russa, mas valeu a pena. Foi o melhor brinquedo de todos.
- Umas duas horas, Bruno – respondeu Ellen.
- E lá é legal?
- É vida, hein? Altas montanhas russas e brinquedos bem altos.
- Do jeito que eu gosto – ele sorriu.
- Sai fora! Eu não ando nem por um bilhão de reais.
- Por que estão calados, gêmeos?
- Sono – respondemos.
- Mal-humorados!
- Não torra – Cauã respondeu ao cunhado.
- Olha o respeito!
Era a primeira vez que Cauã, Ellen, Bruno e eu saíamos juntos. Seria um programa de casais, mas ao mesmo tempo a gente se divertiria horrores.
- Aqui é o parque?
- Isso – falei. – Enorme, não é?
- Que da hora! Eu quero ir na montanha russa, hein?
- Nós vamos!
Logo de cara, optamos por ir no brinquedo da água porque fazia um calor infernal naquele domingo. Saímos de lá até com a alma molhada.
- Molhou até meu útero!!!
- Não exagera, amor – Cauã abraçou a noiva por trás.
Bruno e eu ficamos foi de vela. Eles se beijaram várias vezes e nós dois não pudemos fazer o mesmo. Isso me irritou.
- Que cara é essa?
- Frustração.
- Já sei o que é. Dá um jeito, pô.
- Como, Cauã? Só se colocarmos sacolas na cabeça.
- Complicado isso, né?
- Você não imagina o quanto.
- Calma! Não fica grilado não.
Nós ficamos duas horas na fila da montanha russa, mas valeu a pena. Foi o melhor brinquedo de todos.
- AI MINHA MÃE – ouvi a voz do Cauã.
- UHUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUL – Bruno se divertiu.
- QUE DELÍCIA – eu caí na gargalhada.
A Ellen só fez gritar. Ela gritou muito, muito mesmo. Ela tinha pavor dessas coisas. No fim das contas, eu ri mais dela do que da adrenalina que sentia.
- EU QUERO IR DE NOVO!
- Eu também – concordei com o Bruno.
- Deus me livre! – Ellen estava da cor de um fantasma. – De jeito nenum!
Ficamos falando sobre o assunto e acabou que resolvemos ir novamente. A minha cunhada foi convencida com um jeitinho.
Enquanto estávamos na fila, notei que havia algo de errado com a roupa da noiva do meu irmão. ou eu muito me enganava, ou ela tinha menstruado.
- Elle? – sussurrei no ouvido dela.
- Oi, Caio?
- Posso falar uma coisa chata?
- Pode!
- Eu acho que você menstruou.
Ela ficou da cor de um tomate.
- Ai, não acredito que vazou? Sério, Caio?
- Acho que sim! Não tem uma blusa para amarrar na cintura?
- Ficou no carro! O que eu faço agora?
- Cauã? Cauã?!
- Hein?
- Tira a camisa e empresta pra sua noiva.
- Ué! Por quê?
A única menina do grupo explicou o acontecido ao amado e mais do que rapidamente ele tirou a camiseta e passou para a amada.
- UUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUI – algumas mulheres gritaram na fila.
- ERA SÓ O QUE ME FALTAVA! – Ellen ficou possessa com isso.
- Calma, amor – ele riu. – Não é nada demais!
- Não é nada demais é o caralho! Se eu ver você dando trela para alguma vagabunda eu corto seu negócio fora mais tarde!
- Obrigado por ter vindo me buscar, mano.
- E eu lá deixaria você perdido em São Paulo? Claro que não, né?
- Tem certeza que eu posso ficar hospedado no seu apartamento?
- Claro que pode, né Rodrigo? Qual a dificuldade?
- Eu não vou atrapalhar?
- Eu vou dar um nó nas suas tripas se você falar isso de novo. Tonto!
- Quanto amor nesse coração peludo, hein?
- Eu fico imaginando como seria um coração peludo. Que nojo!
- Trouxa – meu postiço riu.
- Serão quantos dias de treinamento?
- Duas semanas. Você vai se encher de mim!
- Ai, cala a boca! Queria eu que fossem dois meses.
- Saudade de você.
- E eu de você. Vai ser bom relembrar os velhos tempos.
- Que não voltam mais.
- Mas que ficarão para sempre em nossas memórias e nossos corações.
- Frase clichê, né?
- Nem me importo.
- O Bruno está todo cheio de coisas da faculdade, não está?
- Mais do que nunca. Final de semestre é bem complicado para ele. Ele nem vai poder vir nesse tempo.
- E você vai pra lá?
- Não também porque estou quase atolado de coisas do mestrado.
- E como fica?
- Fica a saudade, só isso. Nós entendemos um ao outro.
- Casal maduro é outra coisa.
- E a Bárbara?
- Estamos terminando a reforma da casa de sucos dela. Em um mês vai haver a inauguração. Vá se você puder.
- Será um prazer.
Rodrigo e eu chegamos no meu apartamento por volta do meio dia. Era domingo e por causa disso eu não precisei me preocupar com nada, tive todo o tempo do mundo para ficar ao lado dele.
- O que você vai fazer de bom para nós? – ele me fitou.
- Uma bela salada. Só.
- Credo, Caio. Que muquirana! Pois eu vou é comer fora.
- Estou brincando, tonto – ri. – Estou fazendo uma comidinha simples mesmo. Só um arrozinho, feijão, carne assada e salada de maionese.
- Hum – os olhos dele até brilharam. – Só porque eu amo salada de maionese, né?
- Especialmente para você.
Pouquíssimo tempo depois, meu celular tocou. Era a minha mãe. Ela queria saber se podia me visitar.
- Que pergunta é essa? Claro que você pode!
- Não vou causar incômodo?
- Claro que não, mãe! Assim você me entristece. Venha, venha. Você ainda nem conhece o meu apartamento.
- E qual o endereço?
Passei o endereço para a minha mãe e fiquei no aguardo dela. Ainda bem que eu estava fazendo bastante comida.
- Então hoje eu vou conhecer a cobra?
- Vai. Agora ela não é mais cobra não.
- Já não era sem tempo, não é mesmo?
- Antes tarde do que nunca.
- Vocês estão mesmo numa boa?
- Numa boa! Eu perdoei minha mãe. Ela recebeu o Bruno com os braços abertos e isso me deixou feliz da vida. Eu não tive como não perdoá-la.
- Sinal que ela cresceu como pessoa e como espírito.
- É sim. Olha quem está aí perto de você.
- E eu lá deixaria você perdido em São Paulo? Claro que não, né?
- Tem certeza que eu posso ficar hospedado no seu apartamento?
- Claro que pode, né Rodrigo? Qual a dificuldade?
- Eu não vou atrapalhar?
- Eu vou dar um nó nas suas tripas se você falar isso de novo. Tonto!
- Quanto amor nesse coração peludo, hein?
- Eu fico imaginando como seria um coração peludo. Que nojo!
- Trouxa – meu postiço riu.
- Serão quantos dias de treinamento?
- Duas semanas. Você vai se encher de mim!
- Ai, cala a boca! Queria eu que fossem dois meses.
- Saudade de você.
- E eu de você. Vai ser bom relembrar os velhos tempos.
- Que não voltam mais.
- Mas que ficarão para sempre em nossas memórias e nossos corações.
- Frase clichê, né?
- Nem me importo.
- O Bruno está todo cheio de coisas da faculdade, não está?
- Mais do que nunca. Final de semestre é bem complicado para ele. Ele nem vai poder vir nesse tempo.
- E você vai pra lá?
- Não também porque estou quase atolado de coisas do mestrado.
- E como fica?
- Fica a saudade, só isso. Nós entendemos um ao outro.
- Casal maduro é outra coisa.
- E a Bárbara?
- Estamos terminando a reforma da casa de sucos dela. Em um mês vai haver a inauguração. Vá se você puder.
- Será um prazer.
Rodrigo e eu chegamos no meu apartamento por volta do meio dia. Era domingo e por causa disso eu não precisei me preocupar com nada, tive todo o tempo do mundo para ficar ao lado dele.
- O que você vai fazer de bom para nós? – ele me fitou.
- Uma bela salada. Só.
- Credo, Caio. Que muquirana! Pois eu vou é comer fora.
- Estou brincando, tonto – ri. – Estou fazendo uma comidinha simples mesmo. Só um arrozinho, feijão, carne assada e salada de maionese.
- Hum – os olhos dele até brilharam. – Só porque eu amo salada de maionese, né?
- Especialmente para você.
Pouquíssimo tempo depois, meu celular tocou. Era a minha mãe. Ela queria saber se podia me visitar.
- Que pergunta é essa? Claro que você pode!
- Não vou causar incômodo?
- Claro que não, mãe! Assim você me entristece. Venha, venha. Você ainda nem conhece o meu apartamento.
- E qual o endereço?
Passei o endereço para a minha mãe e fiquei no aguardo dela. Ainda bem que eu estava fazendo bastante comida.
- Então hoje eu vou conhecer a cobra?
- Vai. Agora ela não é mais cobra não.
- Já não era sem tempo, não é mesmo?
- Antes tarde do que nunca.
- Vocês estão mesmo numa boa?
- Numa boa! Eu perdoei minha mãe. Ela recebeu o Bruno com os braços abertos e isso me deixou feliz da vida. Eu não tive como não perdoá-la.
- Sinal que ela cresceu como pessoa e como espírito.
- É sim. Olha quem está aí perto de você.
- SAI DE RETO, FILHO DO CAPETA – Rodrigo fez cruz com os dedos.
- Pobrezinho do Enzo. Ele não faz mal a uma mosca.
- Inútil. Nem para isso ele serve.
- Deixe meu filho em paz. Ele é seu sobrinho e afilhado.
- Vai nessa! Vai nessa!
- Nosso pai conseguiu se aposentar com sucesso?
- Com sucesso e com louvor. Semana que vem ele vai levar a minha mãe para um tour no nordeste.
- Espero que eles cheguem a tempo do meu mestrado.
- Chegarão. Não se preocupe. Eles não perderiam por nada.
- Assim espero.
Houve um momento de silêncio, que só foi quebrado pelo barulho da panela de pressão e pelos utensílios domésticos que eu estava utilizando.
Quando a comida estava quase pronta, o interfone tocou. A Fátima havia chegado.
- Pode deixar subir.
- Será que ela trouxe os gêmeos?
- Com certeza. Eles não se desgrudam.
- E como ela trouxe?
- No colo, oras. Espero que depois a coitada não fique com dor nas costas.
No entanto, minha mãe só levou um dos meninos. Isso me deixou triste. Eu gostava de ver os dois juntos, não separados.
- Onde está o Davi? Por que não trouxe ele?
- O Cauã sequestrou. Levou para a casa da Ellen.
- Que pena! Mas tudo bem.
Nos abraçamos.
- Finalmente veio me visitar.
- É, finalmente. Eu atrapalho algo?
- Claro que não. Vem, deixa eu te apresentar ao meu irmão postiço.
Minha mãe e Rodrigo se olharam e aparentemente ficaram sem reação. Eu senti um clima tenso no ar por parte do rapaz.
- Rodrigo, Fátima, Fátima, Rodrigo.
- Olá! – ele levantou e a cumprimentou. – Tudo bem com a senhora?
- Bem, meu filho e você?
- Bem também, obrigado.
- O Rodrigo é como um irmão, mãe. Aliás, ele é meu irmão.
- Com certeza sou.
- Que bom. Eu fico feliz com isso.
- Vem conhecer o meu apartamento. Não é lá grande coisa, mas é o que eu posso pagar.
Ela ficou encantada e emocionada. Fátima ficou feliz da vida com a minha conquista, com a minha independência e isso também me deixou feliz.
- Olha o Enzo aí. Não é lindo?
- Meu Deus!!! Ele está imenso!
- Pois é. Uma graça, pena que às vezes me trate como lixo e não mata baratas, mas tudo bem.
- Segura o David aqui, filho. Eu quero segurá-lo. Posso?
- Claro! É seu neto, oras bolas.
Segurei o bebê. Ele estava sentadinho com uma chupeta na boca e prestava atenção em tudo.
- Seu lindo – beijei o rostinho dele.
- E está pesado também! Que lindo que ele é, filho!
- Dá oi pra vovó, filho.
- Não.
Minha mãe riu.
- Mal-educado.
- Não fale assim dele. Eu estou apaixonada. Ele é lindo!
- Claro que é lindo. Né, meu filho?
- Não!
- Lindo, inútil e burro. Esse é o Enzo.
Voltamos para a sala. Rodrigo estava assistindo televisão e a minha mãe ficou sentada ao lado dele.
- Quem é ele?
- Esse é o David – respondeu a minha progenitora.
- Que fofo! Posso?
- Claro!
Pela primeira vez, vi meu irmão mais velho com meu irmão mais novo. Rodrigo também adorava crianças e a cada dia que passava deixava isso mais claro.
- Ele vai fazer um aninho, não vai?
- Completou dez meses.
- O tempo voa! Né, Caio?
- Com certeza, Digow.
Quando o almoço ficou pronto, nós três comemos juntos e a minha mãe ficou alucinada com a minha comida.
- Eu nunca imaginei que você cozinhasse tão bem assim, Caio. Parabéns, parabéns!
- Obrigado, mãe. Foi questão de sobrevivência, né Digow?
- É. Ou a gente aprendia, ou a gente morria de fome.
- Vocês moraram juntos?
- Isso. Naquela república que eu te falei.
- Ah, é verdade.
Naquele domingo, minha mãe ficou sabendo de toda a nossa história. Rodrigo e eu contamos tudo, ou melhor, quase tudo para Fátima e ela ficou ciente de como tinha sido difícil a minha vida lá no Rio de Janeiro.
- Não foi fácil, mas eu consegui dar a volta por cima.
- E eu sou prova disso.
- Verdade, mano. Eu devo tudo à você e você sabe disso.
- Não me deve nada. A sua amizade já me paga tudo.
- Obrigada por ter ajudado o meu filho, Rodrigo.
- Que nada, Dona Fátima. Eu fiz porque ele é meu irmãozinho do coração. Eu gosto muito dele.
- E eu de você, seu cachorro!
David estava engatinhando pelo chão e acabou dando de cara com o gato.
Enzo sentou, olhou para o menino, piscou e aparentemente ficou sem entender o que estava acontecendo.
- É seu tio, Enzo. Não mexa com ele.
A criança deu um tabefe na cabeça do bichano e este saiu andando com o rabo erguido no ar. O animal bufou de raiva e o meu irmãozinho caiu na gargalhada.
- Boa, garoto!!! – Rodrigo se divertiu. – É assim que se faz, esse é dos meus!
- Não é pra bater no titio, David! – tirei ele do chão. – Não pode!
Ele ficou resmungando e tentou balbuciar alguma coisa, mas não conseguiu. Ainda era cedo para isso.
- Tem que estimulá-lo a falar, mãe. Daqui a pouco ele já consegue.
- Eu estimulo. Ainda é cedo, Caio.
- Qual a sensação de ser mãe novamente depois de vinte e cinco anos, Dona Fátima?
- Maravilhosa, Rodrigo. Maravilhosa. Eu estou aprendendo muito com eles.
- Isso é bom.
- Me trouxe a vida de volta porque foi graças a essa gravidez que eu vi novamente o meu pequeno.
- É verdade – concordei. – Foi graças a isso que nós nos reencontramos.
Ela me abraçou.
- Te amo, filho.
- Também te amo, mãe.
- O papo está ótimo, mas eu tenho que ir. Já estou fora há muito tempo e a qualquer momento seu irmão pode voltar com o Davi e eu tenho que dar de mamar a ele.
- Eles ainda estão no peito?
- Sim, estão! Eu só vou tirar daqui um tempo ainda. É saudável.
- É verdade. Eu levo você.
Começou uma pequena discussão. Eu queria levá-la, mas ela não queria ir. No fim das contas, eu acabei vencendo.
- Não me custa nada te levar até em casa.
- Eu não quero te dar trabalho.
- Não é trabalho algum, é um prazer.
- Que bairro é esse, Caio?
- Aclimação, Digow.
- Cada nome!
- Não começa a falar mal de São Paulo, hein?
- Você não é daqui não é, Rodrigo?
- Sou de Curitiba, Dona Fátima. Estou aqui de passagem.
- Percebi pelo sotaque.
- Sotaque de curitibano – imitei o meu irmão.
- Engraçadinho.
Nós chegamos em Higienópolis ao mesmo tempo que o Cauã. Ele estava andando a pé com o irmão nos braços.
- Oi, cara de boi.
- Tranquilo, cara de grilo?
- Bem! Quer entrar?
- Ah, cala a boca! Eu já estou na rua de casa.
- Então vá a pé, mal-agradecido.
Minha mãe riu.
- Vocês dois e essas brigas que nunca acabam.
- Acho que a gente briga desde a sua barriga, mãe.
- Não duvido, porque de vez em quando vocês me chutavam muito. Deveria ser briga mesmo.
- Desculpa aí. Doía?
- Às vezes sim.
- Foi mal, hein? – eu ri e estacionei o carro na frente da minha antiga casa.
- Muito obrigada pela carona, amor.
- Não tem nada que agradecer.
- Prazer em conhecê-lo, Rodrigo. Obrigada por cuidar do meu menino.
- Prazer foi todo meu, Dona Fátima. Passar bem.
- Igualmente.
Ela desceu e foi abrir o portão. Eu fiquei tentado a entrar, mas achei melhor não fazê-lo.
- Não vai entrar não, peste?
- Não, peste – olhei para o Cauã. – Já vi os gêmeos mesmo.
- E aí, Rodrigo? Tudo bom?
- Bem, cara e você? Esse é o Davi, certo?
- Isso – nós dois falamos juntos.
- É a cara do David! Curioso!!!
- Imbecil – eu ri.
- Entrem um pouco!
- Não, Cauã. A gente vai dar uma volta pela cidade. Depois eu venho com mais calma. Cola lá no apartamento.
- Eu vou sim, pode deixar. Bom te ver.
- Bom te ver também.
Rodrigo e eu conseguimos matar a saudade que sentíamos um do outro
naquelas duas semanas que ele ficou hospedado no meu apartamento.
Era ótimo chegar do trabalho e ter com quem conversar. Às vezes eu me sentia sozinho demais naquele lugar.
- Como foi seu treinamento?
- Bacana. Pena que está acabando e eu já tenha que voltar.
- É – me lamentei. – É uma pena mesmo.
- Mas logo eu volto porque haverão outros.
- Você poderia se mudar para cá, isso sim.
- Sabia que eu já pensei a respeito disso?
- Jura? E por que não vem? Seria um prazer para mim.
- Aqui em São Paulo seria melhor porque eu tenho mais chances de crescimento na minha carreira.
- Então vem, Digow! Nossa, seria o máximo!
Era ótimo chegar do trabalho e ter com quem conversar. Às vezes eu me sentia sozinho demais naquele lugar.
- Como foi seu treinamento?
- Bacana. Pena que está acabando e eu já tenha que voltar.
- É – me lamentei. – É uma pena mesmo.
- Mas logo eu volto porque haverão outros.
- Você poderia se mudar para cá, isso sim.
- Sabia que eu já pensei a respeito disso?
- Jura? E por que não vem? Seria um prazer para mim.
- Aqui em São Paulo seria melhor porque eu tenho mais chances de crescimento na minha carreira.
- Então vem, Digow! Nossa, seria o máximo!
- Eu vou conversar com a Babí.
- Converse. Ela não vai se opor.
- Mas é tenso ter que mudar tudo de novo, Caio. Sair do Paraná e vir pra cá, trazer mudança, trazer tudo.
- Eu sei, mas isso é o de menos.
- Sem contar que vai ter uma hora que você vai voltar pro Rio. Aí eu me lasco aqui sozinho.
- Se isso acontecer, vai ser daqui três, quatro anos. Não vai ser agora. Eu ainda tenho muito o que fazer aqui.
- Três ou quatro anos passam voando, sabia disso?
- Sabia! Aí quando esse momento chegar, eu te levo comigo.
Ele riu.
- Se você for pro Chile eu vou junto também?
- Vai sim – puxei o chato para um abraço. – Eu não quero me separar de você. Esse ano que nós estamos morando longe um do outro foi muito chato.
- Foi mesmo. Eu vou pensar a respeito. Quem sabe?
- Quem sabe nada, você vem. Por favor, faça isso. Seus pais estão ótimos sem você por lá.
- Quer dizer que é assim? Eu sou simplesmente descartado?
- Claro que não – beijei o rosto dele. – Ninguém nunca te descartaria.
- Te amo, tá? Eu vou pensar.
- Eu também te amo, Digow. Pense direitinho e venha logo para cá iluminar a minha vida.
SEMANAS DEPOIS...
- Que coisa mais antiga ficar mandando cartas.
- É antigo mesmo, Víctor. Mas é o único jeito que eu tenho de mandar os convites aos meus amigos.
- E quantos convites são?
Mais de dez. Eu ia chamar todas as pessoas que fizeram parte da minha vida no Rio de Janeiro e estava na torcida para que ninguém faltasse, mas eu sabia que nem todos poderiam ir.
- Quem é Inês?
- Minha mãe de consideração. A mãe do Rodrigo.
- E por que você não manda o dele no mesmo envelope?
- Porque ele não mora com a mãe, oras.
- Ah, é. O endereço é diferente.
- Tapado.
- Será que todos vêm?
- Certeza que não. Alguns como a Alexia, a Janaína e a Bruna eu sei que não virão.
- Por quê?
- Alexia e Janaína têm bebês pequenos e a Bruna está grávida.
- E isso impede?
- Não, mas ao mesmo tempo é complicado sair do Rio com um bebezinho de três meses.
- Isso é.
- Adoraria que todos viessem.
- Quem é Bárbara?
- Minha cunhadinha linda. A noiva do Digow.
- Que legal.
- Agora só falta o Fabrício.
- Aquele delícia que ficava pelado na república? Ai que calor!
- Ele mesmo – ri. – Lembrou, foi?
- Como eu posso esquecer daquela cena, Caio? Impossível!
- Vi tantas vezes que que até me acostumei.
- Sortudo! Você nasceu com a estrela na testa mesmo. Queria eu ter essa sorte!
- É antigo mesmo, Víctor. Mas é o único jeito que eu tenho de mandar os convites aos meus amigos.
- E quantos convites são?
Mais de dez. Eu ia chamar todas as pessoas que fizeram parte da minha vida no Rio de Janeiro e estava na torcida para que ninguém faltasse, mas eu sabia que nem todos poderiam ir.
- Quem é Inês?
- Minha mãe de consideração. A mãe do Rodrigo.
- E por que você não manda o dele no mesmo envelope?
- Porque ele não mora com a mãe, oras.
- Ah, é. O endereço é diferente.
- Tapado.
- Será que todos vêm?
- Certeza que não. Alguns como a Alexia, a Janaína e a Bruna eu sei que não virão.
- Por quê?
- Alexia e Janaína têm bebês pequenos e a Bruna está grávida.
- E isso impede?
- Não, mas ao mesmo tempo é complicado sair do Rio com um bebezinho de três meses.
- Isso é.
- Adoraria que todos viessem.
- Quem é Bárbara?
- Minha cunhadinha linda. A noiva do Digow.
- Que legal.
- Agora só falta o Fabrício.
- Aquele delícia que ficava pelado na república? Ai que calor!
- Ele mesmo – ri. – Lembrou, foi?
- Como eu posso esquecer daquela cena, Caio? Impossível!
- Vi tantas vezes que que até me acostumei.
- Sortudo! Você nasceu com a estrela na testa mesmo. Queria eu ter essa sorte!
Eu abri a porta do apartamento e vi Vinícius, Fabrício e Nícolas parados
no hall de entrada. Eu fiquei feliz.
- Não creio que vocês vieram!
- Claro que viemos – quem falou foi o futuro papai da turma. – E nós perderíamos o mestrado do caçulinha?
- Assim eu vou pensar que me pareço com aquele tio que tocava no Faustão!
- Pensando bem, você parece mesmo.
- Cala a boca, Fabrício. Dá o Nícolas aqui. Entrem, fiquem à vontade.
Era a primeira vez que os caras iam me visitar. Em um ano, eles não tiveram como fazê-lo. Pelo menos os mesmos deram um jeito de acompanhar o meu mestrado.
- Que pesado!
- Dá oi pro tio Caio, filho.
- Oi, tio.
- Que foi, moço? Está tristinho?
- É que eu não deixei ele trazer o boneco dele.
- Fabrício! – eu fiquei com dó do menino. – Pobrezinho!
- Ele tem que aprender a ficar sem o boneco.
- Não – o menino fez um bico enorme e ficou com os olhos cheios de lágrimas.
- Ô – meu coração apertou. – Tio Caio vai te dar um boneco, tá?
- Vai? Quando? Eu “quelo” o meu!
- Amanhã! Você quer brincar com o Enzo?
- Quem é esse?
- O gato do tio Caio. Lembra dele?
- Ah, é!
Levei o menino para ver o Enzo e em seguida fui apresentar o apê aos meus amigos.
- Esse daqui vai ser o quarto do bebê.
- Pensou em tudo, hein?
- Pensei, Vini. A cada dia a vontade aumenta mais.
- Calma, vai dar certo.
- Uma pena que vocês não possam ficar aqui. Desculpem não ter onde acomodá-los.
- Não fica grilado com isso – Fabrício me fitou. – A gente fica em um hotelzinho numa boa! Serão só três dias, relaxa.
- Eu fico envergonhado.
- Pô, que vista bacana – Vini estava na varanda do quarto. – Mas aqui é frio, hein? Deus me livre.
- Você não viu em julho. Na Paulista fez – 1º C na madrugada.
- Caralho! – ele voltou e fechou a porta. – Que friaca do cacete.
- Eu gosto. E a Bruna, como está?
- Linda, maravilhosa e gostosa como sempre. Te mandou um beijo e te felicitou pelo mestrado.
- Obrigado! E a bebê?
- Crescendo, crescendo – ele sorriu. – A barriguinha dela está linda!
- Eu vi as fotos. Está linda mesmo.
- Não vejo a hora da minha nora nascer.
- Ah, cala a boca, hein químico de meia tigela! Sua nora é o caralho!!!
- Minha nora sim! Vou ensinar meu filho a dar em cima dela quando ela fizer treze anos.
- Se ele fizer isso, eu arranco as bolas dos dois a ponto cru!
Que maldade!
- Falando nisso, cadê meu dinheiro, Vinícius?
- Dinheiro? – ele desconversou. – Que dinheiro?
O interfone tocou.
- O da aposta espertinho.
- Que aposta? – Fabrício perguntou ao amigo enquanto eu saía para ver o que o porteiro queria.
- Pronto?
- Caio, tem outra visita para você.
- Quem é, Seu Zé?
- Como é seu nome mesmo? – pausa. – É o Rodrigo.
- Deixa subir, Seu Zé! – sorri.
- Sim, Caio.
A turma estava completa novamente. Eu fiquei muito feliz em saber que os três estavam ali por minha causa. Muito feliz mesmo.
- Cara pálida! – eu o abracei.
- Como vai, quase mestre?
- Vou bem! Entra, Vinícius, Fabrício e Nícolas estão aqui.
- Jura? E cadê meu sobrinho?
- Ali na lavanderia brincando com o Enzo.
- Vou ver primeiro ele, é claro.
Digow foi até a área de lavar e pegou o menino no colo. Meu postiço daria um excelente pai!
- Oi, tio.
- Você está bem?
A criança falou o que Fabrício tinha feito com ele.
- Não liga pro seu pai não. Eu vou te dar dinheiro para você comprar outro boneco, tá?
- Eu “quelo” o meu, tio.
- Mesmo assim o tio vai te dar dinheiro.
- Então dá logo!
Eu ri.
- Espera aí, eu já vou te dar.
- Olha quem chegou! – Vinícius deu o ar da graça. – O doutor Rods.
- Como está, doutor Vini?
Eles se abraçaram.
- Bem e você?
- Bem. Olha, Nícolas! É tudo seu!
Rodrigo deu dez reais para o menino.
- Dando dinheiro para meu filho, Rods?
- Para ele ficar feliz. Quem manda você tirar o boneco do pobrezinho? É seu, viu, Nico?
- “Bigado”, tio “Rodigo". Olha, pai! É meu!
- Vai colocar no seu cofrinho, filho?
Ele estava tristinho e eu fiquei com raiva do Fabrício por causa disso. Não era a primeira vez que o cara fazia isso com o filho.
- Judiação – peguei ele no colo. – Eu vou cuidar de você, tá bebê?
- Tá! – o moleque deitou a cabeça no meu ombro.
- Logo passa – Fabrício acariciou a cabeça do Enzo.
- Seu malvado! Não era para você fazer isso com ele.
- Não mesmo – Rods e Vini apoiaram.
- Ele tem que se desapegar.[
- Não creio que vocês vieram!
- Claro que viemos – quem falou foi o futuro papai da turma. – E nós perderíamos o mestrado do caçulinha?
- Assim eu vou pensar que me pareço com aquele tio que tocava no Faustão!
- Pensando bem, você parece mesmo.
- Cala a boca, Fabrício. Dá o Nícolas aqui. Entrem, fiquem à vontade.
Era a primeira vez que os caras iam me visitar. Em um ano, eles não tiveram como fazê-lo. Pelo menos os mesmos deram um jeito de acompanhar o meu mestrado.
- Que pesado!
- Dá oi pro tio Caio, filho.
- Oi, tio.
- Que foi, moço? Está tristinho?
- É que eu não deixei ele trazer o boneco dele.
- Fabrício! – eu fiquei com dó do menino. – Pobrezinho!
- Ele tem que aprender a ficar sem o boneco.
- Não – o menino fez um bico enorme e ficou com os olhos cheios de lágrimas.
- Ô – meu coração apertou. – Tio Caio vai te dar um boneco, tá?
- Vai? Quando? Eu “quelo” o meu!
- Amanhã! Você quer brincar com o Enzo?
- Quem é esse?
- O gato do tio Caio. Lembra dele?
- Ah, é!
Levei o menino para ver o Enzo e em seguida fui apresentar o apê aos meus amigos.
- Esse daqui vai ser o quarto do bebê.
- Pensou em tudo, hein?
- Pensei, Vini. A cada dia a vontade aumenta mais.
- Calma, vai dar certo.
- Uma pena que vocês não possam ficar aqui. Desculpem não ter onde acomodá-los.
- Não fica grilado com isso – Fabrício me fitou. – A gente fica em um hotelzinho numa boa! Serão só três dias, relaxa.
- Eu fico envergonhado.
- Pô, que vista bacana – Vini estava na varanda do quarto. – Mas aqui é frio, hein? Deus me livre.
- Você não viu em julho. Na Paulista fez – 1º C na madrugada.
- Caralho! – ele voltou e fechou a porta. – Que friaca do cacete.
- Eu gosto. E a Bruna, como está?
- Linda, maravilhosa e gostosa como sempre. Te mandou um beijo e te felicitou pelo mestrado.
- Obrigado! E a bebê?
- Crescendo, crescendo – ele sorriu. – A barriguinha dela está linda!
- Eu vi as fotos. Está linda mesmo.
- Não vejo a hora da minha nora nascer.
- Ah, cala a boca, hein químico de meia tigela! Sua nora é o caralho!!!
- Minha nora sim! Vou ensinar meu filho a dar em cima dela quando ela fizer treze anos.
- Se ele fizer isso, eu arranco as bolas dos dois a ponto cru!
Que maldade!
- Falando nisso, cadê meu dinheiro, Vinícius?
- Dinheiro? – ele desconversou. – Que dinheiro?
O interfone tocou.
- O da aposta espertinho.
- Que aposta? – Fabrício perguntou ao amigo enquanto eu saía para ver o que o porteiro queria.
- Pronto?
- Caio, tem outra visita para você.
- Quem é, Seu Zé?
- Como é seu nome mesmo? – pausa. – É o Rodrigo.
- Deixa subir, Seu Zé! – sorri.
- Sim, Caio.
A turma estava completa novamente. Eu fiquei muito feliz em saber que os três estavam ali por minha causa. Muito feliz mesmo.
- Cara pálida! – eu o abracei.
- Como vai, quase mestre?
- Vou bem! Entra, Vinícius, Fabrício e Nícolas estão aqui.
- Jura? E cadê meu sobrinho?
- Ali na lavanderia brincando com o Enzo.
- Vou ver primeiro ele, é claro.
Digow foi até a área de lavar e pegou o menino no colo. Meu postiço daria um excelente pai!
- Oi, tio.
- Você está bem?
A criança falou o que Fabrício tinha feito com ele.
- Não liga pro seu pai não. Eu vou te dar dinheiro para você comprar outro boneco, tá?
- Eu “quelo” o meu, tio.
- Mesmo assim o tio vai te dar dinheiro.
- Então dá logo!
Eu ri.
- Espera aí, eu já vou te dar.
- Olha quem chegou! – Vinícius deu o ar da graça. – O doutor Rods.
- Como está, doutor Vini?
Eles se abraçaram.
- Bem e você?
- Bem. Olha, Nícolas! É tudo seu!
Rodrigo deu dez reais para o menino.
- Dando dinheiro para meu filho, Rods?
- Para ele ficar feliz. Quem manda você tirar o boneco do pobrezinho? É seu, viu, Nico?
- “Bigado”, tio “Rodigo". Olha, pai! É meu!
- Vai colocar no seu cofrinho, filho?
Ele estava tristinho e eu fiquei com raiva do Fabrício por causa disso. Não era a primeira vez que o cara fazia isso com o filho.
- Judiação – peguei ele no colo. – Eu vou cuidar de você, tá bebê?
- Tá! – o moleque deitou a cabeça no meu ombro.
- Logo passa – Fabrício acariciou a cabeça do Enzo.
- Seu malvado! Não era para você fazer isso com ele.
- Não mesmo – Rods e Vini apoiaram.
- Ele tem que se desapegar.[
- Ele é só uma criança de três anos!!!
- “Teizi” e cinco meses.
Nós três rimos. Que inteligente!
- E o casamento, Rods?
- Só em abril, Fabrício. Longe.
- Eu sei, anta. Como estão os preparativos?
- Estão bem. Já temos quase tudo definido.
- Já decidiram quantos convidados?
- Duzentos. As nossas famílias são imensas.
- Eu sei. Eu lembro dos seus oitocentos primos quando fui lá no Paraná te visitar.
- Oitocentos nada. Não seja exagerado, Cacs. Pela última contagem são só sessenta e três primos. Contanto primeiro, segundo e terceiro grau, é claro!
- Caralho! – Vinícius se surpreendeu. – E vão todos?
- Não. Só os mais íntimos.
- E o seu, Caio?
- Fevereiro. Nada certo ainda.
- Me avisa com antecedência, hein? – Fabrício ainda estava acariciando o gato.
- Pode deixar, padrinho. Eu aviso sim.
- Bom dia ao mestre mais lindo que existe na face da Terra!
- Bom dia, meu amor – eu beijei o Bruno e nós nos abraçamos.
- Como está se sentindo?
- Um pouco esquisito. E com medo também.
- Não fique com medo, meu amor. Vai dar tudo certo.
- Eu sei que vai, mas mesmo assim estou apreensivo. E esse café da manhã? Para que tanta coisa?
- Para o meu amor ficar forte! Hoje vai ser um dia turbulento.
Ele levou o café na cama para mim, do mesmo jeito que fazia quando morávamos no Rio.
- Saudades desses mimos.
- Enquanto eu estiver por aqui, você terá todos os dias.
- Seu lindo! Te amo.
Nos beijamos.
- Eu também te amo.
- Adoro geleia de laranja.
- Eu também.
O café foi daqueles bem reforçados. Eu me empanturrei de tanto que comi, mas foi bom porque me deu energia até o horário do almoço.
- Quem será? – perguntei, quando o interfone tocou. – Atende pra mim, amor?
- Atendo sim. Já volto.
Ele saiu e eu acabei com a salada de frutas. Estava realmente delicioso.
- É seu irmão com sua mãe e os gêmeos. Eu deixei eles subirem.
- Que cedo! Não são nem dez da manhã. Mas tudo bem.
Quando a campainha tocou, Bruno foi abrir a porta e eu continuei no meu café. Nem me preocupei em levantar da minha cama.
- Licença – Cauã entrou no quarto. – Bom dia, mano!
- Bom dia, Cauã! Senta aí. Desculpa a bagunça.
- Que nada, relaxa. Café na cama? Aí sim, hein?
- Coisas do Bruno. Servido?
- Não, valeu. Já comi. Adoro fazer isso para minha noiva.
- Tem que fazer mesmo!
Eu estava só de cueca, mas coberto da cintura para baixo. Quando a minha mãe entrou, eu fiquei um pouco sem graça, mas depois relaxei.
- Tudo bem, mãe?
- Bem, minha vida e você? Que lindo, com carinha de sono!!!
- Estou bem! E esse meninão?
- Está ótimo. Ganhou mais dois dentinhos.
- Depois eu quero ver. Né, Davi?
Bruno estava com o David. Quando ele via uma criança, ele se esquecia de tudo que o cercava.
- Preparado para mais tarde? – perguntou Cauã.
- Mais ou menos. Estou um pouco nervoso.
- Eu imagino.
- Vou chorar tanto! – Fátima suspirou.
- Eu sei que vai. Vocês vieram de ônibus?
- Carro – respondeu Cauã. – Nosso pai teve que viajar à trabalho.
- Bom dia, meu amor – eu beijei o Bruno e nós nos abraçamos.
- Como está se sentindo?
- Um pouco esquisito. E com medo também.
- Não fique com medo, meu amor. Vai dar tudo certo.
- Eu sei que vai, mas mesmo assim estou apreensivo. E esse café da manhã? Para que tanta coisa?
- Para o meu amor ficar forte! Hoje vai ser um dia turbulento.
Ele levou o café na cama para mim, do mesmo jeito que fazia quando morávamos no Rio.
- Saudades desses mimos.
- Enquanto eu estiver por aqui, você terá todos os dias.
- Seu lindo! Te amo.
Nos beijamos.
- Eu também te amo.
- Adoro geleia de laranja.
- Eu também.
O café foi daqueles bem reforçados. Eu me empanturrei de tanto que comi, mas foi bom porque me deu energia até o horário do almoço.
- Quem será? – perguntei, quando o interfone tocou. – Atende pra mim, amor?
- Atendo sim. Já volto.
Ele saiu e eu acabei com a salada de frutas. Estava realmente delicioso.
- É seu irmão com sua mãe e os gêmeos. Eu deixei eles subirem.
- Que cedo! Não são nem dez da manhã. Mas tudo bem.
Quando a campainha tocou, Bruno foi abrir a porta e eu continuei no meu café. Nem me preocupei em levantar da minha cama.
- Licença – Cauã entrou no quarto. – Bom dia, mano!
- Bom dia, Cauã! Senta aí. Desculpa a bagunça.
- Que nada, relaxa. Café na cama? Aí sim, hein?
- Coisas do Bruno. Servido?
- Não, valeu. Já comi. Adoro fazer isso para minha noiva.
- Tem que fazer mesmo!
Eu estava só de cueca, mas coberto da cintura para baixo. Quando a minha mãe entrou, eu fiquei um pouco sem graça, mas depois relaxei.
- Tudo bem, mãe?
- Bem, minha vida e você? Que lindo, com carinha de sono!!!
- Estou bem! E esse meninão?
- Está ótimo. Ganhou mais dois dentinhos.
- Depois eu quero ver. Né, Davi?
Bruno estava com o David. Quando ele via uma criança, ele se esquecia de tudo que o cercava.
- Preparado para mais tarde? – perguntou Cauã.
- Mais ou menos. Estou um pouco nervoso.
- Eu imagino.
- Vou chorar tanto! – Fátima suspirou.
- Eu sei que vai. Vocês vieram de ônibus?
- Carro – respondeu Cauã. – Nosso pai teve que viajar à trabalho.
- E com quem os gêmeos vão ficar hoje à noite?
- Com minha sogra.
- Ah, sim! No fim das contas vai dar tudo certo.
- Vai sim!
- Mãe, posso te pedir uma coisa? – fiquei sem graça.
- Claro, filho!
- Poderia sair um pouco do quarto para eu me trocar? Estou só de cueca.
- Claro que posso – ela riu e se levantou. – Mas que bobagem é essa? Eu já vi você pelado várias vezes.
- Mas não vai ver mais, né mãe? Eu não sou mais criança.
- Seu irmão fala a mesma coisa! Quanta besteira, viu?
- Besteira nada – Cauã olhou para nossa mãe. – Não tem necessidade de você ver essas coisas.
- Não mesmo.
- Eu vou ver meu netinho lindo. É hoje que eu roubo ele para mim!
- É para eu sair também?
- Você pode ficar. Você não tem problema. Eu não estou pelado mesmo.
A vergonha era da minha mãe, não do meu irmão. Com ele eu tinha intimidade para isso. A nossa amizade estava melhor do que nunca, graças a Deus.
- Quantas pessoas vêm para o mestrado, Caio?
- Contando com você, a Ellen, nossa mãe, o Bruno, o Víctor e os pais dele, são dezesseis.
- Nossa, bastante gente.
- É! Eu estou muito feliz com isso.
- Você é muito querido.
- Graças a Deus – eu senti até vontade de chorar. – Graças a Deus!!!
Decidi tomar banho e enquanto fazia isso, o meu celular tocou. Quem deu a notícia foi o Cauã.
- Quem é?
- Dona Elvira.
- Atende pra mim? Vê o que ela quer?
Ela tinha chegado na cidade e estava perguntando como fazia para ir até meu apartamento. Tive que pedir para o Bruno buscá-la na rodoviária.
- Em qual ela está?
- Barra Funda. Você pode ir?
- Lógico. Dá a chave do carro.
Joguei a chave e ele pegou no ar.
- Não demoro.
Antes de sair, ele me deu um beijo. Minha mãe estava por perto e isso me deixou constrangido.
- Vai com cuidado – falei baixinho.
- Tchau.
Ele só fez sair e o interfone tocou. Era o Rodrigo. Ele estava com os pais e a futura esposa.
- Hoje você vai conhecer minhas duas mães postiças, mãe.
- Que bom, filho! Assim eu posso falar com elas e agradecer pela ajuda que elas te deram.
- Agora é a Dona Inês. O Bruno foi buscar a Dona Elvira.
- CREDO! – Cauã gritou do banheiro.
- Que foi? – fui averiguar o que estava acontecendo.
- Seu gato está usando a privada!!!
- Como é? – minha mãe desacreditou.
Eu ri.
- Ele faz xixi e cocô no vaso sanitário, gente. Não se espantem.
- Nossa! Eu vou levar esse gato na televisão, vou ficar rico!!!
- Vai nessa – entrei e dei a descarga. – Quem vai ficar rico sou eu.
- Como você fez para ensinar isso a ele, filho?
- Quando ele era bem pequenininho, eu colocava a bacia com a areia no vaso e colocava ele dentro. Daí ele foi acostumando e aprendeu a fazer sozinho.
- Isso é muito bom. Muito bom mesmo!
A campainha tocou.
- Posso abrir a porta, Caio?
- Pode, Cauã, fica à vontade.
- Eu quero o Enzo pra mim, filho!
- Vai ter que entrar na fila, mãe. Tem umas vinte pessoas querendo o coitado.
- Caio!!! – ouvi a voz da Dona Inês. – Que saudade de você, meu lindo!!!
Eu saí no corredor e vi minha mãe postiça abraçada com meu irmão gêmeo. Eu não aguentei e caí na gargalhada.
- Oi, Dona Inês! O Caio sou eu!!!
- JESUS AMADO! – ela arregalou os olhos e ficou roxa de vergonha. – Desculpa, moço! Me perdoa! Eu não sabia que você não era você, que você era o outro!!! Ai que vergonha!
- Não tem problema – meu irmão se divertiu. – Fica tranquila.
- Não se preocupa não, Dona Inês – eu a abracei. – Está tudo certo. Ele é o Cauã, deu pra notar, né?
- Nossa, estou envergonhada! Não sabia, de verdade.
- Não se preocupe. Oi, Babí!
- Oi, cunhado. Tudo bem? Ansioso?
- Um pouco. Oi, Seu Renato!
- E aí, campeão? – ele me abraçou com força. – Como está, rapaz?
- Feliz da vida por vocês estarem aqui. Obrigado por terem vindo.
- E aí? – Rodrigo me olhou.
- Oi, moço. Entra aí, fica à vontade.
- Eu suponho que ela seja a sua mãe, correto?
- Exato, Dona Inês. Ela é a minha mãe biológica, a Fátima. Mãe, ela é a Dona Inês, minha mãe postiça; ela é a Bárbara, noiva do Rodrigo e ele é o Renato, meu pai postiço.
- Com muito orgulho – ele me abraçou de novo.
- Como vai? – Dona Inês beijou a minha mãe. – É um prazer imenso conhecer a senhora.
- O prazer é todo meu. Eu sempre quis conhecer a senhora.
- Melhor pararmos com essa formalidade. Pode me chamar de você.
- Você também pode me chamar de você.
- Que bom, começamos bem então.
- Como vai? – Babí beijou minha mãe.
- Bem! Eu te conheço de algum lugar.
A moça ficou sem graça.
- Ela era modelo – falei.
- Que chique! Será que eu já te vi em algum comercial?
- Talvez em alguma revista. Eu fiz poucos comerciais.
- Cadê os gêmeos?
- Dormindo na minha cama, Digow.
- Posso vê-los?
- Lógico!
Acabou que todos foram. Dona Inês ficou apaixonada pelos meninos e a Bárbara então nem se fala.
- Caiô?
- Que foi, Cauã?
- Cara, essa Bárbara é um tesão, hein?
- Cauã! – eu fiquei incrédulo.
- Desculpa, mas eu tinha que falar. O Rodrigo é muito sortudo, puta que pariu!
- Eu vou falar pra Ellen!
- Ah, qual é? Papo de irmãos, porra. Morre aqui.
- Safado!
- Ela é modelo mesmo?
- Era. já se aposentou.
- Ela não chegou a posar nua não, né?
- PARA DE GRAÇA – eu dei uma porrada nele. – Seu tarado!!!
- Caralho, fiquei até de pau duro!
- CAUÃ!
- Só estou sendo sincero. Ela é muito linda!
- Ela é sim, mas já tem dono. Cachorro!
- Sou mesmo, não sou de ferro e não estou morto. Ela é uma delícia, puta merda. Inveja do Rodrigo.
- Vou bater um papo com sua noiva. Deixa estar.
- Vai nada, para de graça!
- Só não faço isso porque não quero perder contato com você nunca mais. Tenta se controlar aí. Abaixa essa barraca!
- Já abaixou, idiota. Essa gata pelada na minha cama seria o máximo!
- Cauã Monteiro, dá pra parar com isso? Ela é comprometida e você também é.
- Eu sei que sou, só estou pensando. Não faz mal a ninguém.
- Se o Rods fica sabendo disso, ele corta seu negócio fora.
- Eu sei que você não vai falar nada, Caio. Nós já somos parceiros de novo. Já somos cúmplices como éramos na época em que fazíamos travessuras. Lembra?
- Claro que lembro, mano! Nunca esqueci disso.
Pouco tempo depois, Bruno voltou com a Dona Elvira e aí sim minhas três mães puderam se conhecer. Eu fiquei feliz com isso.
- Ela é a Dona Inês, a senhora já conhece, e ela é a Fátima, minha mãe biológica. Esta é a Dona Elvira, minha mãezinha do coração também!
- É um prazer conhecê-la, Dona Fátima.
- Dona Elvira, eu queria muito falar com a senhora. Na verdade ,com as duas. Será que é possível?
- Claro que sim, Dona Fátima – Dona Elvira se prontificou. – Eu também sempre quis conversar com a senhora.
- Com minha sogra.
- Ah, sim! No fim das contas vai dar tudo certo.
- Vai sim!
- Mãe, posso te pedir uma coisa? – fiquei sem graça.
- Claro, filho!
- Poderia sair um pouco do quarto para eu me trocar? Estou só de cueca.
- Claro que posso – ela riu e se levantou. – Mas que bobagem é essa? Eu já vi você pelado várias vezes.
- Mas não vai ver mais, né mãe? Eu não sou mais criança.
- Seu irmão fala a mesma coisa! Quanta besteira, viu?
- Besteira nada – Cauã olhou para nossa mãe. – Não tem necessidade de você ver essas coisas.
- Não mesmo.
- Eu vou ver meu netinho lindo. É hoje que eu roubo ele para mim!
- É para eu sair também?
- Você pode ficar. Você não tem problema. Eu não estou pelado mesmo.
A vergonha era da minha mãe, não do meu irmão. Com ele eu tinha intimidade para isso. A nossa amizade estava melhor do que nunca, graças a Deus.
- Quantas pessoas vêm para o mestrado, Caio?
- Contando com você, a Ellen, nossa mãe, o Bruno, o Víctor e os pais dele, são dezesseis.
- Nossa, bastante gente.
- É! Eu estou muito feliz com isso.
- Você é muito querido.
- Graças a Deus – eu senti até vontade de chorar. – Graças a Deus!!!
Decidi tomar banho e enquanto fazia isso, o meu celular tocou. Quem deu a notícia foi o Cauã.
- Quem é?
- Dona Elvira.
- Atende pra mim? Vê o que ela quer?
Ela tinha chegado na cidade e estava perguntando como fazia para ir até meu apartamento. Tive que pedir para o Bruno buscá-la na rodoviária.
- Em qual ela está?
- Barra Funda. Você pode ir?
- Lógico. Dá a chave do carro.
Joguei a chave e ele pegou no ar.
- Não demoro.
Antes de sair, ele me deu um beijo. Minha mãe estava por perto e isso me deixou constrangido.
- Vai com cuidado – falei baixinho.
- Tchau.
Ele só fez sair e o interfone tocou. Era o Rodrigo. Ele estava com os pais e a futura esposa.
- Hoje você vai conhecer minhas duas mães postiças, mãe.
- Que bom, filho! Assim eu posso falar com elas e agradecer pela ajuda que elas te deram.
- Agora é a Dona Inês. O Bruno foi buscar a Dona Elvira.
- CREDO! – Cauã gritou do banheiro.
- Que foi? – fui averiguar o que estava acontecendo.
- Seu gato está usando a privada!!!
- Como é? – minha mãe desacreditou.
Eu ri.
- Ele faz xixi e cocô no vaso sanitário, gente. Não se espantem.
- Nossa! Eu vou levar esse gato na televisão, vou ficar rico!!!
- Vai nessa – entrei e dei a descarga. – Quem vai ficar rico sou eu.
- Como você fez para ensinar isso a ele, filho?
- Quando ele era bem pequenininho, eu colocava a bacia com a areia no vaso e colocava ele dentro. Daí ele foi acostumando e aprendeu a fazer sozinho.
- Isso é muito bom. Muito bom mesmo!
A campainha tocou.
- Posso abrir a porta, Caio?
- Pode, Cauã, fica à vontade.
- Eu quero o Enzo pra mim, filho!
- Vai ter que entrar na fila, mãe. Tem umas vinte pessoas querendo o coitado.
- Caio!!! – ouvi a voz da Dona Inês. – Que saudade de você, meu lindo!!!
Eu saí no corredor e vi minha mãe postiça abraçada com meu irmão gêmeo. Eu não aguentei e caí na gargalhada.
- Oi, Dona Inês! O Caio sou eu!!!
- JESUS AMADO! – ela arregalou os olhos e ficou roxa de vergonha. – Desculpa, moço! Me perdoa! Eu não sabia que você não era você, que você era o outro!!! Ai que vergonha!
- Não tem problema – meu irmão se divertiu. – Fica tranquila.
- Não se preocupa não, Dona Inês – eu a abracei. – Está tudo certo. Ele é o Cauã, deu pra notar, né?
- Nossa, estou envergonhada! Não sabia, de verdade.
- Não se preocupe. Oi, Babí!
- Oi, cunhado. Tudo bem? Ansioso?
- Um pouco. Oi, Seu Renato!
- E aí, campeão? – ele me abraçou com força. – Como está, rapaz?
- Feliz da vida por vocês estarem aqui. Obrigado por terem vindo.
- E aí? – Rodrigo me olhou.
- Oi, moço. Entra aí, fica à vontade.
- Eu suponho que ela seja a sua mãe, correto?
- Exato, Dona Inês. Ela é a minha mãe biológica, a Fátima. Mãe, ela é a Dona Inês, minha mãe postiça; ela é a Bárbara, noiva do Rodrigo e ele é o Renato, meu pai postiço.
- Com muito orgulho – ele me abraçou de novo.
- Como vai? – Dona Inês beijou a minha mãe. – É um prazer imenso conhecer a senhora.
- O prazer é todo meu. Eu sempre quis conhecer a senhora.
- Melhor pararmos com essa formalidade. Pode me chamar de você.
- Você também pode me chamar de você.
- Que bom, começamos bem então.
- Como vai? – Babí beijou minha mãe.
- Bem! Eu te conheço de algum lugar.
A moça ficou sem graça.
- Ela era modelo – falei.
- Que chique! Será que eu já te vi em algum comercial?
- Talvez em alguma revista. Eu fiz poucos comerciais.
- Cadê os gêmeos?
- Dormindo na minha cama, Digow.
- Posso vê-los?
- Lógico!
Acabou que todos foram. Dona Inês ficou apaixonada pelos meninos e a Bárbara então nem se fala.
- Caiô?
- Que foi, Cauã?
- Cara, essa Bárbara é um tesão, hein?
- Cauã! – eu fiquei incrédulo.
- Desculpa, mas eu tinha que falar. O Rodrigo é muito sortudo, puta que pariu!
- Eu vou falar pra Ellen!
- Ah, qual é? Papo de irmãos, porra. Morre aqui.
- Safado!
- Ela é modelo mesmo?
- Era. já se aposentou.
- Ela não chegou a posar nua não, né?
- PARA DE GRAÇA – eu dei uma porrada nele. – Seu tarado!!!
- Caralho, fiquei até de pau duro!
- CAUÃ!
- Só estou sendo sincero. Ela é muito linda!
- Ela é sim, mas já tem dono. Cachorro!
- Sou mesmo, não sou de ferro e não estou morto. Ela é uma delícia, puta merda. Inveja do Rodrigo.
- Vou bater um papo com sua noiva. Deixa estar.
- Vai nada, para de graça!
- Só não faço isso porque não quero perder contato com você nunca mais. Tenta se controlar aí. Abaixa essa barraca!
- Já abaixou, idiota. Essa gata pelada na minha cama seria o máximo!
- Cauã Monteiro, dá pra parar com isso? Ela é comprometida e você também é.
- Eu sei que sou, só estou pensando. Não faz mal a ninguém.
- Se o Rods fica sabendo disso, ele corta seu negócio fora.
- Eu sei que você não vai falar nada, Caio. Nós já somos parceiros de novo. Já somos cúmplices como éramos na época em que fazíamos travessuras. Lembra?
- Claro que lembro, mano! Nunca esqueci disso.
Pouco tempo depois, Bruno voltou com a Dona Elvira e aí sim minhas três mães puderam se conhecer. Eu fiquei feliz com isso.
- Ela é a Dona Inês, a senhora já conhece, e ela é a Fátima, minha mãe biológica. Esta é a Dona Elvira, minha mãezinha do coração também!
- É um prazer conhecê-la, Dona Fátima.
- Dona Elvira, eu queria muito falar com a senhora. Na verdade ,com as duas. Será que é possível?
- Claro que sim, Dona Fátima – Dona Elvira se prontificou. – Eu também sempre quis conversar com a senhora.
- Acho melhor nós sairmos – falei. – Vamos deixá-las a sós.
- Obrigada, filho.
- Eu vou ficar com ele, sogra.
- Pode levar, Bruno. Daqui a pouco ele vai acordar para comer.
Bruno pegou o David e Bárbara o Davi. Nós ficamos lá na sala enquanto as três conversavam, com a porta fechada. Eu queria saber o que elas falavam.
- E aí, como se sente prestes a fazer sua defesa?
- Estou um pouco nervoso, pai. Mas ao mesmo tempo me sentindo feliz da vida por ter chegado até aqui.
- Eu imagino. Seu apê é lindo, viu?
- Ah, obrigado! Eu já estou querendo me mudar para uma casa.
- Não acha aqui mais seguro, Caio?
- Em termos sim, mas a viver em condomínio tem as suas desvantagens.
- Isso é verdade. Mudando de assunto, Rodrigo disse que você e Bruno pretendem ter filhos. É verdade?
- Sim, pai. É verdade sim. Nós já estamos na fila da adoção há algum tempo.
- Isso é muito bacana da parte de vocês. Parabéns!
- Obrigado. Não vai ser muito fácil, mas a gente se vira.
- Sabe que pode contar, não sabe?
- Sei sim! Eu fico grato por isso. E como está a vida de aposentado?
- Está ótima, graças a Deus. Só viajando com a velha mesmo e curtindo a vida.
- Deixa ela ouvir você falando isso! Ela te mata.
- Acho que agora nós só nos veremos no casamento do seu irmão, não?
- Sim! Já está perto, hein? Preparado?
- Mal posso esperar. Quando a gente tem filhos, os nossos sonhos são vê-los formados e vê-los casados. Eu estou ansioso para essa data.
- Está perto.
- O seu é em fevereiro?
- É sim. Já definimos a data. Vai ser lá no Rio.
- Se der, eu vou.
- Por favor!!! Será um prazer muito grande, mas não vai ser nada demais. Só vamos assinar a união civil estável e depois fazer um churrasco. Só isso.
- O importante é vocês ficarem bem juntos.
- Nós estamos. Graças a Deus estamos ótimos.
- Que bom! Eu fico feliz com isso.
- Caio? – Dona Inês me chamou. – Vem aqui um minuto?
- Vou sim! Licença, pai.
- Vai lá, filho.
Entrei no quarto, fechei a porta e me uni as três mulheres. Eu não sabia o que elas iam falar, mas estava preparado para ouvir o que quer que fosse.
Quam começou falando foi a Dona Elvira:
- Caio, nós conversamos muito e nos entendemos. Nós chegamos a uma conclusão.
- Que conclusão?
- Que não falaremos sobre o passado – explicou Dona Inês. – E que à partir de hoje não falaremos mais em mágoas, em ressentimentos e nem nada disso. Nós duas entendemos a sua mãe e não temos mais nada a pensar a respeito dela. Está tudo em pratos limpos.
- Elas me contaram como você era carente de mãe lá no Rio, filho. Isso me deixou péssima e me fez perceber o quanto eu estava errada. Ouvir de você, é uma coisa, mas ouvir de terceiros, é outra completamente diferente.
- Uhum.
- Há muitos anos eu estou arrependida do que fiz, por muitos anos eu me martirizei, eu me lamentei, me crucifiquei por não ter lutado por você, mas só hoje eu percebi como de fato você sofreu por minha causa.
- Nós já conversamos sobre isso.
- Sim, mas eu me sinto no dever, na obrigação de te pedir perdão novamente. Acho que eu deveria fazer isso todos os dias da minha vida, todos os minutos, todos os segundos, porque mãe que é mãe, não causa sofrimento a um filho.
- Eu já te perdoei, mãe. Você sabe disso. Não existem mais mágoas, não existem mais ressentimentos de minha parte também! Eu te amo, te amo mesmo. Não tem necessidade de me pedir perdão.
- Obrigada, meu amor! Obrigada por me perdoar de coração.
- De coração mesmo! Não existem mais mágoas.
- Que bom, Caio – Dona Elvira estava séria. – Isso é maravilhoso. Eu sempre te falei isso, não foi?
- É, Dona Elvira. Falou mesmo.
- Eu quero que saiba, Caio – Dona Inês começou a falar –, que à partir desse momento, você tem três mães.
Eu fiquei prestando a atenção.
- Você tem três mulheres na sua vida que te amam, que te respeitam, que te admiram e que sentem orgulho do que você está se tornando na vida.
- É, filho – Dona Elvira tomou a palavra. – Saiba que nós colhemos tudo aquilo que plantamos. E você plantou amor, Caio. Você plantou bons sentimentos e hoje a vida está te dando de volta tudo aquilo que você semeou no passado.
- Saiba também – minha mãe biológica já estava chorando –, que de hoje em diante, você não ficará mais sozinho nunca mais. Que nós estamos aqui por você e para você. Que sempre pode contar com a gente e que agora são três colos para você deitar nos momentos de tristeza, de angústia e de aflição.
- Nós estamos orgulhosas – falou Dona Inês – por você ter conseguido chegar até aqui com seus próprios esforços. Você não teve medo da Vida, meu lindo. Agora Deus está te dando tudo aquilo que você merece.
- Independentemente de qualquer coisa – Dona Elvira também chorou –, saiba que você tem o nosso apoio. Nós queremos apenas o seu bem, queremos que você seja feliz e que tenha sucesso na sua vida.
- Sabe, filho – Fátima secou as lágrimas. – Eu cresci muito por sua causa. Eu me tornei um ser humano melhor e aprendi que a nossa sexualidade não nos torna melhores e nem piores do que ninguém.
Eu senti vontade de chorar nesse momento.
- Eu aprendi que não existe diferença entre brancos e negros, entre homens e mulheres, entre gays e heteros, entre gordos e magros. Existe diferença do bem e do mal, diferença de caráter e de sentimentos.
- Não é porque você é gay - Dona Inês caiu nas lágrimas junto comigo. – que nós vamos deixar de te amar. Ao contrário! Nós te amaremos muito mais por causa disso. Sabe por que, filho?
- Não – a minha voz quase não saiu.
- Porque você tem coragem para lutar! – Dons Elvira foi firme.
- Porque você tem audácia de enfrentar a sociedade! – minha mãe estava muito emocionada.
- Porque você nos ensina a viver – Dona Inês também foi firme com as palavras.
- Você conquistou o nosso respeito, a nossa admiração e o nosso amor.
- Dona Elvira...
- E isso será eterno, está cravado em nossos corações.
- Dona Inês...
- Sua sexualidade não é mais problema para mim, filho. Eu amadureci por sua causa e te agradeço por causa disso.
- Mãe...
- Nós estamos na torcida para que você e o Bruno consigam logo adotar o filho de vocês – falou Dona Elvira.
- A gente sabe o quanto isso vai ser difícil – Dona Inês engoliu em seco –, mas tenha certeza que nós estaremos aqui.
- Para ajudar vocês dois – minha mãe suspirou profundamente –, para cuidar de vocês e para amar muito esse netinho.
- Mesmo que ele sofra lá na frente por causa da sociedade – continuou Dona Inês –, nós estaremos aqui sempre. Em todos os momentos.
- Dando amor, carinho e ensinando que não é porque ele ou ela tem dois pais – Dona Elvira estava serena – que ele não existe família.
- A família está aqui – Fátima prosseguiu –, de braços abertos para educar seus filhos. Nós vamos te ajudar, meu amor.
Eu solucei muito.
- Nós não vamos te desamparar nesse momento – afirmou Dona Inês.
- Você tem o nosso apoio incondicional – finalizou Dona Elvira.
- Eu te amo, filho! – elas falaram ao mesmo tempo.
Eu deixei o choro sair sem limites e abracei as três. Que felicidade, meu Deus! Que felicidade!
- Eu também amo vocês, minhas mães! Obrigado por tudo! Muito, muito, muito obrigado!!!
NAQUELE MESMO DIA, À NOITE...
Eu me senti a pessoa mais importante do mundo por ter mobilizado todos
os meus amigos em prol do meu mestrado.
A última que chegou naquele dia foi a Janaína e isso me deixou lisongeado.
- AI CREDO! – ela deu um passo para trás quando me viu ao lado do meu irmão gêmeo. – ESTOU PRETA PASSADA NA CHAPINHA!!!
Nós dois sorrimos ao mesmo tempo. Nessa altura do campeonato, Cauã também já estava sem aparelho nos dentes e isso não nos diferenciava mais.
- Quem é quem no jogo do bicho? Ai que loucura!
- Olá, olá – nós dois falamos juntos.
Janaína piscou duas vezes.
- Esse é meu irmão Tíbio – falei.
- E esse é meu irmão Perônio – Cauã completou.
Bruno gargalhou.
- Estou confusa. Ai que badalo, quem são vocês no mapa mundi?
- Qual é, não reconhece seu amigo, Jana?
- Eles são iguais demais, olhos de bola de gude. Como faz?
- Não tem uma desconfiança?
- Eu acho – ela se aproximou e olhou bem na nossa cara. – Que você é o Caio e que você é o Cauã!
- Acertou – falei. – Ele é o Caio e eu sou o Cauã.
- Ai que badalo, acertei em cheio. Sou boa nisso!
Janaína abraçou meu irmão daquele jeito que só ela sabia fazer e ficou balançando o coitado para um lado e para o outro.
- Ai que loucura, ele é sua cara. Estou preta passada na chapinha de 220!!!
Quando ela soltou o garoto, me olhou, piscou e me deu dois beijos no rosto.
- Jesus me amarrota porque estou passada, como pode duas pessoas serem tão iguais assim?
- Somos univetelinos.
- Tudo bem, gente?
Bruno estava rindo sem parar.
- Do que ri, olhos de bola de gude?
- Da sua cara, olhos de não sei o quê!
- Está escrito palhaça na minha testa para você ficar rindo de mim por um acaso?
- Palhaça não, está escrito lesada mesmo.
- EU VOU TE DAR MEIA HORA DE TAPA NA CARA, CABRUNCO DA PESTE!
- Cadê a minha sobrinha? – não aguentei e abri o bico.
- Sua sobrinha? – ela olhou com cara de curiosidade. – ESPERA AÍ, VOCÊS ESTAVAM ME ENGANANDO?!
- 1º de abril, Jana!!!
- ESTOU PRETA PASSADA NA CHURRASQUEIRA DE TIJOLOS!!! EU DEVO TER TRANSADO NA MESA DA SANTA CEIA PARA MERECER UMA COISA DESSAS!!!
Por causa dessa brincadeira, Cauã e eu levamos meia hora de tapa no corpo. Janaína ficou possessa e deu o showzinho particular dela. Meu irmão riu muito disso.
- Depois dessa eu deveria dar meia volta e regressar para a minha casa para cuidar da minha filha!
- Não faz isso não – a abracei. – Estou tão feliz que você veio! Pena que não trouxe minha sobrinha!
- Pode esquecer. Foi rebaixado, não é mais tio da minha filha. Agora é no máximo um conhecido.
- Sou tio e ponto. E como está a linda?
- Linda que nem a mãe, meu filho. Qual a dúvida?
- Linda igual ao pai, você quis dizer. Ela é a cara do Well, não sua.
- Qual a chance dela ter a cara do pai? Nenhuma! Agora ela já está ficando parecida comigo. Ai que badalo.
A última que chegou naquele dia foi a Janaína e isso me deixou lisongeado.
- AI CREDO! – ela deu um passo para trás quando me viu ao lado do meu irmão gêmeo. – ESTOU PRETA PASSADA NA CHAPINHA!!!
Nós dois sorrimos ao mesmo tempo. Nessa altura do campeonato, Cauã também já estava sem aparelho nos dentes e isso não nos diferenciava mais.
- Quem é quem no jogo do bicho? Ai que loucura!
- Olá, olá – nós dois falamos juntos.
Janaína piscou duas vezes.
- Esse é meu irmão Tíbio – falei.
- E esse é meu irmão Perônio – Cauã completou.
Bruno gargalhou.
- Estou confusa. Ai que badalo, quem são vocês no mapa mundi?
- Qual é, não reconhece seu amigo, Jana?
- Eles são iguais demais, olhos de bola de gude. Como faz?
- Não tem uma desconfiança?
- Eu acho – ela se aproximou e olhou bem na nossa cara. – Que você é o Caio e que você é o Cauã!
- Acertou – falei. – Ele é o Caio e eu sou o Cauã.
- Ai que badalo, acertei em cheio. Sou boa nisso!
Janaína abraçou meu irmão daquele jeito que só ela sabia fazer e ficou balançando o coitado para um lado e para o outro.
- Ai que loucura, ele é sua cara. Estou preta passada na chapinha de 220!!!
Quando ela soltou o garoto, me olhou, piscou e me deu dois beijos no rosto.
- Jesus me amarrota porque estou passada, como pode duas pessoas serem tão iguais assim?
- Somos univetelinos.
- Tudo bem, gente?
Bruno estava rindo sem parar.
- Do que ri, olhos de bola de gude?
- Da sua cara, olhos de não sei o quê!
- Está escrito palhaça na minha testa para você ficar rindo de mim por um acaso?
- Palhaça não, está escrito lesada mesmo.
- EU VOU TE DAR MEIA HORA DE TAPA NA CARA, CABRUNCO DA PESTE!
- Cadê a minha sobrinha? – não aguentei e abri o bico.
- Sua sobrinha? – ela olhou com cara de curiosidade. – ESPERA AÍ, VOCÊS ESTAVAM ME ENGANANDO?!
- 1º de abril, Jana!!!
- ESTOU PRETA PASSADA NA CHURRASQUEIRA DE TIJOLOS!!! EU DEVO TER TRANSADO NA MESA DA SANTA CEIA PARA MERECER UMA COISA DESSAS!!!
Por causa dessa brincadeira, Cauã e eu levamos meia hora de tapa no corpo. Janaína ficou possessa e deu o showzinho particular dela. Meu irmão riu muito disso.
- Depois dessa eu deveria dar meia volta e regressar para a minha casa para cuidar da minha filha!
- Não faz isso não – a abracei. – Estou tão feliz que você veio! Pena que não trouxe minha sobrinha!
- Pode esquecer. Foi rebaixado, não é mais tio da minha filha. Agora é no máximo um conhecido.
- Sou tio e ponto. E como está a linda?
- Linda que nem a mãe, meu filho. Qual a dúvida?
- Linda igual ao pai, você quis dizer. Ela é a cara do Well, não sua.
- Qual a chance dela ter a cara do pai? Nenhuma! Agora ela já está ficando parecida comigo. Ai que badalo.
- Pobrezinha, não deseje esse mal a sua filha. Ela não merece.
- ESCUTA AQUI, OLHOS DE BOLA DE GUDE: EU VOU CORTAR SUAS BOLAS E JOGAR PARA OS CACHORROS SE VOCÊ FALAR ISSO DE NOVO, HEIN?
- Porra, ela é má!
- Fique calado você também, clone do Caio. Ninguém perguntou a sua opinião. Parecem um par de vasos siameses.
- Não torra.
- Já está pronto, amor?
- Quase, Bruh. Só falta ajeitar esse cabelo e nada mais.
- Sua gravata está torta. Deixa eu arrumar para você.
Ele me ajudou com isso enquanto a Jana e o Cauã conversavam alguma coisa. Acho que ela queria conhecer melhor o rapaz.
- Miau – Enzo deu o ar da graça.
- AI QUE BADAAAAAAAAAAAAAALO, ELE ESTÁ LINDO!!!
- Ele não está, ele é lindo.
- Oi, menino. Jesus, que cara de mau-humor. Eu, hein?
- É que ele deve ter acabado de acordar. Ele deve estar querendo fazer número um ou número dois.
- E por que não faz?
- Porque estamos no banheiro e ele tem vergonha.
- Ah, vá!
- É sério. Quer apostar? Venham comigo.
Nós saímos do banheiro e fomos para a sala. O gato disfarçou, depois entrou, fez as necessidades e por fim saiu com o rabo erguido no ar e com cara de poucos amigos.
- Viram só? Ele estava tímido.
- Cabrunco da peste da gota serena do raio da saia furada, por essa eu não esperava!!!
- Meu filho é muito inteligente.
- Ai que badalo!
Terminei de me arrumar e nós saímos do apartamento. Janaína ficou reclamando que na cidade estava fazendo frio, mas era só charme da parte dela.
- Frio, Jana? Com um calor desses?
- Claro que está fazendo frio, cacete. Eu deveria ter trazido o meu casaco de pele. Pena que me esqueci, ai que horror.
- Isso porque ela não viu o frio de julho, hein Bruno?
- Está amarrado na saia de Nossa Senhora das Graças!!!
- Se ela tivesse visto, ela teria morrido – Bruno parou o carro no hotel onde meus amigos estavam hospedados.
- É aqui que eu desço?
- É, Jana! Eu vou levar os meninos no bairro deles e volto para buscar vocês. Eu não demoro.
- Espero que não demore mesmo. Estou preta passada na chapinha com o frio que está fazendo. Ai que loucura.
Ela saiu e Bruno seguiu com o carro até Higienópolis. Nós chegamos lá com pouco mais de meia hora.
- Oi – Ellen beijou o amado.
- Oi!
- Eu vou voltar com o carro, viu? A gente se vê lá. Espero que eu não me perca.
- Não vai se perder. É só programar o GPS e qualquer coisa me liga.
- Acho que não vou me perder. Até daqui a pouco.
Não beijei meu amor. Fiquei meio constrangido com a presença da minha mãe e da Dona Elvira. Não era legal fazer isso na frente delas.
- Eu vou buscar o Rodrigo – disse Cauã. – Nos vemos lá.
- Beleza.
Eu tinha duas opções naquela noite: ou ia com a Ellen no carro do pai dela, ou ia com o Víctor no carro do pai dele. Optei pela segunda alternativa.
- Está gatão, hein?
- Você também! Adorei a gravata cor de pêssego.
- Eu também gostei.
- Pena que seus pais não vão.
- Minha mãe está indisposta. Eles lamentaram muito.
- Eu compreendo, não tem problema.
- Está muito ansioso?
- Bastante. Não estava muito não, mas agora eu estou.
- Eu imagino. Vai dar tudo certo.
- Se Deus quiser.
- Pena que seu pai não vai também.
- Prefiro não opinar sobre isso.
Eu estava um pouco sem opinião a esse respeito. Por um lado, eu queria o Edson lá comigo; por outro, preferia que ele não fosse. Era um pouco complicado.
- Bruno vai conseguir chegar lá?
- Vai sim. Espero, pelo menos.
- Não quer ligar para ele e falar para ele seguir a gente?
- Não tinha pensado nisso, Víctor! Como você é inteligente!
- Obrigado pela parte que me toca.
- Oi, amor? – ele atendeu.
- Onde vocês estão?
- Saindo daqui agora.
- Você acha melhor que o Vìctor passe por aí para você seguir a gente?
- Acho! Mas vai dar tempo?
- Dá sim, ainda é cedo. A gente chega aí daqui a pouco.
Se não tivéssemos feito isso, eles teriam se perdido porque o GPS do meu carro não informou o trajeto correto, graças a um erro de digitação por parte da Janaína.
- Mas é lesada mesmo.
- Eu devo ter sambado na Arca de Noé para ouvir uma coisa dessas a essa hora e no frio que está fazendo! Ai que loucura!
- Todos aqui?
- Quer fazer a chamada? – Rodrigo brincou.
- Engraçadinho! Eu vejo vocês daqui a pouco. Não riam da minha cara!
- Não fica nervoso – Digow segurou no meu ombro. – Tente se tranquilizar e não fale muito rapidamente.
- Isso mesmo – Fabrício apoiou. – Fala devagar e da forma correta.
- Se ficar muito nervoso – Vinícius continuou –, faça aqueles exercícios de respiração que eu te ensinei mais cedo.
- Valeu, gente. Eu vou me lembrar disso.
- Boa sorte – eles falaram em uníssono.
- Obrigado!
- Vai com Deus – Bruno me abraçou. – E boa sorte.
- Ore por mim.
- Sempre!
- Te amo.
- Eu também te amo. Vai dar certo.
- Assim seja.
Quando chegou a hora da defesa, eu tremi na base. Não foi nada fácil defender uma tese e muito menos falar em público, sabendo que toda a minha família biológica e não biológica estavam me olhando. Eu fiquei morrendo de vergonha.
Por mais de uma vez eu esqueci o que tinha que falar, mas por sorte, as palavras rapidamente voltaram a minha mente. Era como se alguém as tivesse soprando na minha orelha.
- No entanto...
Não foi uma tarefa fácil. Eu fiquei de fato nervoso, suei frio, minhas mãos tremeram e minha voz falhou em alguns momentos, mas no fim das contas, deu tudo certo.
Eu me senti extremamente feliz quando tudo acabou. Fiquei realizado pessoalmente falando e isso me deixou leve como uma brisa.
Deu vontade de gritar de tanta adrenalina que eu estava sentindo, mas só pude fazer isso quando estava na rua. Os meus amigos riram.
- UHUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUL!!!
- AÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ – Víctor, Rodrigo, Vinícius, Fabrício e Bruno me cercaram, me abraçaram e nós começamos a pular como idiotas!
- PARTIU, CHURRASCARIA – gritei, com uma euforia imensa dentro do meu peito.
Como de praxe, a comemoração daquele feito se deu em uma churrascaria. Já era mais do que rotina festejar mestrados e doutorados em churrascarias e comigo não foi nada diferente.
Chegando lá, fui abraçado, beijado, parabenizado e elogiado por todos eles, mas principalmente pelo Cauã, pelo Bruno e pelas minhas três mães:
- Estou orgulhosa de você!
- Obrigado, Dona Elvira.
- Nem parece aquele menininho que chegou no meu mercado me pedindo um emprego.
- É porque ele ficou no passado. Agora eu sou uma versão melhorada daquele Caio de outrora.
- Graças a Deus! Que orgulho de você, que orgulho saber que você chegou aqui. Parabéns!
- Obrigado!!!
- Me dê um abraço, rapaz!
- Com muito prazer, Dona Inês!
- Felicidades, lindo da mãe! Estou orgulhosa de você!
- Não é para chorar, senão eu choro junto!
- Impossível não chorar em um momento como esse! Impossível. Eu sei o quanto foi difícil chegar até aqui.
- Eu sei que sabe.
- Saiba que estou muito feliz pela sua vitória, meu amor.
- Obrigado! Muito obrigado.
- Parabéns, viu? Que Deus o abençoe.
- Amém! Você também.
No começo, Fátima não conseguiu falar nada. Ela só me abraçou, chorou, soluçou e se desesperou.
- Calma!
Eu sabia o que ela estava sentindo. Para ela, a emoção era muito maior porque ela não acompanhou passo a passo do meu desenvolvimento acadêmico. Quando voltamos a nos relacionar, eu já estava pós-graduado, ela não conseguiu ver nada disso e deveria estar felicíssima por ver o meu mestrado.
- Desse jeito você vai passar mal!
- É muita emoção para esse coração tão judiado!
- Não fala nada, tá bom?
- Ai que felicidade, meu Deus do céu!
- Não fala nada – me afastei e sequei as lágrimas dela.
- Meu filho... Meu filho...
- É, sou eu. Eu sei, eu sei. Não precisa falar nada. Eu sei o que você está sentindo.
Ela me abraçou de novo, continuou a chorar e não parou por um bom tempo.
- Que felicidade...
- Eu também estou feliz. Para de chorar, tá bom?
- Parabéns, meu amor!
- Obrigado, mãe. Obrigado por estar aqui.
- Que Deus te ilumine hoje e sempre e que você seja muito feliz na sua carreira. Que lindo, meu Deus!
- Para, mãe – eu ri. – Já disse isso mil vezes.
- É que é muito orgulho, é muita emoção, é muita felicidade!
- Eu sei, eu sei. Mas fica calma, senão sua pressão sobe e daí já viu.
- Obrigada, meu Deus! Obrigada por ter dado esse presente para mim.
- Sua linda! Te amo, tá?
- Eu também, meu filho.
Nos abraçamos de novo e depois ela deixou o Cauã me parabenizar:
- Não sou muito bom com palavras não – ele riu –, então só vou te dizer uma coisa: PARABÉNS!
- Quer me deixar surdo, miserável?
- Não, imbecil! Só estou feliz por você. Posso ou não tenho esse direito?
- Tem esse e todos os outros, você sabe disso.
Nos afastamos.
- Queria te agradecer por ter me convidado – os olhos dele estavam marejados.
- E eu por você ter vindo.
- Eu não perderia isso por nada.
- E eu deixaria de te convidar por nada.
Silêncio.
- Eu – nós dois falamos juntos e depois paramos.
Eu queria falar algo que nunca tinha dito a ele em todos aqueles 25 anos de vida que nós tínhamos. Era algo que estava preso na garganta há muito tempo, mas que não saía de lá por pura vergonha.
- Fala – voltamos a falar ao mesmo tempo.
Novamente silêncio. Eu respirei fundo. Eu tinha facilidade de falar “eu te amo” aos meus amigos, aos meus familiares, ao Bruno, mas não ao Cauã. Por que será?!
- Ai, que saco – eu comecei a rir.
- É, eu sei! – ele ficou todo vermelho.
- Você sabe, não sabe?
- Você sabe também?
- Sei – falamos juntos de novo!
Silêncio. Bruno nos fitava. Os outros já estavam sentados.
- Eu – Cauã começou, mas travou.
- Eu...
Parecia que ele ia chorar. Eu também senti vontade.
- Fala.
- Fala você!
- Se você falar eu falo!
- Se você falar eu também falo, oras.
- Então fala, meu!
- Fala você primeiro, pombas!
- Eu – nós falamos outra vez ao mesmo tempo e novamente ficamos calados.
O Bruno riu. Era difícil soltar esse “eu te amo” e eu não sei exatamente o porque dessa dificuldade.
Engoli em seco e criei coragem. Puxei o Cauã para outro abraço e nesse momento a emoção e o carinho que nós sentíamos um pelo outro acabaram falando mais alto:
- Eu amo você! – falamos baixinho, de modo que só nós conseguimos ouvir.
Eu travei totalmente e em seguida caí no choro. Por que essa declaração demorou tanto tempo para ser feita?
- Ah, mano...
Ele também chorou. A gente entendia o que estava acontecendo. Foram anos de separação e uma separação que não tinha motivos. Só por causa do orgulho, só por causa da maldita homofobia nós perdemos 7 preciosos anos um ao lado do outro!
- Obrigado, tá?
- Não precisa agradecer – ele falou. – Eu é que agradeço!
- Não precisa também. Eu sei o que você sente.
- E eu sei o que você sente.
- Me promete uma coisa? – me afastei.
- O quê?
- Que nunca mais vamos nos separar e que vamos ficar unidos para sempre?
- Para sempre!!! É claro que eu prometo, eu nunca mais quero ficar longe de você, rapaz!
- Nem eu de você!
- Te amo – falamos de novo e em seguida rimos.
- Ai que dificuldade!
- Nem me fala – ele secou as lágrimas. – Foi difícil mesmo, isso estava preso há meses na minha garganta. Anos, na verdade.
- Na minha idem.
- Chega, Cauã. Deixa ele pra mim agora. vai sentar com os outros que agora ele é meu.
- Nossa, Bruno, não precisa me expulsar desse jeito.
- Precisa sim, senão você fica aí até a quarta-feira de cinzas.
- Depois dessa eu vou até me retirar. Com licença!
- Idiota.
Bruno me abraçou com um carinho, com uma ternura, que só ele teve naquela noite.
- Parabéns – a voz dele soou como voz de anjo no meu ouvido.
- Obrigado!
- Eu estou feliz, orgulhoso e emocionado com a sua defesa!
- Obrigado, amor da minha vida.
- Que Deus te abençoe hoje, amanhã e sempre, meu amor!
- A nós dois.
- Você falou muito bem, parabéns!
- Que nada! Eu tremi na base.
- Estava lindo, estava perfeito, estava delicioso, maravilhoso e gostoso como sempre!
- Seu bobo!
- Eu estou feliz da vida com essa sua conquista.
- Eu sei, amor. Eu sei!
- Parabéns, tá anjo?
- Obrigado, vida.
- Queria te beijar – ele falou baixinho e mordeu a minha orelha.
Só por causa disso eu fiquei excitado.
- O que está esperando?
- Será que devemos?
- Desde que seja rápido...
Foi rápido, muito rápido, mas valeu. Eu não podia ficar sem aquele contato com ele, não podia mesmo!
- Eu te amo – falei.
- Não mais do que eu, meu mestre.
- Para de graça!
- AI QUE BADAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAALO – ouvi a voz esganiçada da Janaína.
- Melhor a gente sentar. Estamos perdendo muita coisa.
- Me aguarde hoje à noite, mestre.
- Ah, é? – sorri. – O que devo aguardar?
- Você sabe muito bem, mocinho!
Bruno e eu fomos para os nossos lugares e aí sim a comilança começou de vez. eu estava faminto e me acabei com a carne assada. Estava uma delícia.
- Me dá mais, pai.
- Calma, Nícolas! Não seja apressado.
- Ele nasceu de sete meses que nem eu. Né Nico?
- Não sei, tio Caio! É, pai?
- É, filho!
- Que legal!
Minha mãe e Dona Elvira estavam encantadas com o menino, mas não era para menos. Naquele dia Nícolas estava um charme!
- Papai?
- Oi, filho?
Nesse momento, a criança indagou por qual motivo o Rodrigo ficava olhando para os peitos da Bárbara. Ele falou a frase com vários erros de pronunciação, mas a gente entendeu direitinho!
- NÍCOLAS! – meu postiço ficou da cor de tomate maduro.
Já a Bárbara, ficou da cor de suco de beterraba. Eu nunca ri tanto em toda a minha vida. Janaína então nem se fala!
- AI QUE LOUCUUUUUUUUUUUUUURA!!!
- Esse Nícolas – Vinícius limpou os lábios.
- Melhor mudramos de assunto – Fabrício estava constrangido.
Dona Inês fuzilou o primogênito com os olhos.
- Quantos anos você tem agora, Nícolas? – perguntou Bruno, na intenção de reverter a saia justa.
- “Teizi” e cinco meses, tio “Buno”. Já esqueceu?
- AI QUE LOUCUUUUUUUUUUUUUUUUUURA – Janaína caiu na gargalhada.
- Sabia que você é um mocinho muito esperto? – Ellen se pronunciou.
- “Clalo” que eu sabia! Eu “pucei” ao meu papai!!!
- AI QUE BADAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAALO, VOU ENSINAR A MINHA FILHA A FALAR ISSO TAMBÉM!!!
Nós caímos na gargalhada. Sempre era muito bom ter o Nícolas por perto porque ele animava a nossa noite e alegrava as nossas vidas.
- O que você fez com o dinheiro que te dei? – indagou Rodrigo.
- Tá aqui, ó! – ele tirou o dinheiro do bolso.
- Dá pra mim? – perguntou o padrinho.
- “Clalo” que não, “padim”, você tem o seu! Esse é do Nícolas!
Ele foi a sansacao da noite, como sempre. Eu queria saber se os outros bebês ficariam como ele.
- De novo, Janaína? – perguntou Rodrigo. – Já é o oitavo prato que você come!
- Ai que desnecessário! Por que não cuida da sua vida ao invés de olhar o que eu como? Ai que chatice.
- Quem manda você comer muito?
- Eu estou comendo por dois! Dá licença que eu estou gestante?!
- O QUÊ?! – eu dei um berro que ecoou no restaurante.
- Misericórdia, meu filho!
O pobre do Bruno se chocou tanto com essa novidade que até se engasgou. Vinícius teve que ajudá-lo a voltar a respirar.
- Isso é sério?! – ele perguntou, todo vermelho e com os olhos lacrimejando.
- Não, olhos de bola de gude. Era brincadeira!
- Por que se espantaram tanto com essa notícia? – perguntou Rodrigo.
- Porque ela acabou de parir! – falei a verdade.
- E o que tem nisso?
- É muito cedo! Só estranhei, posso?
- Pode, ué!
- Pessoal, vamos fazer um brinde – Renato levantou. – Ao sucesso profissional do Caio.
- Adoro brindes – Bárbara também levantou. – Acho chique!
Nos levantamos, pegamos os copos.
- Que você tenha uma carreira profissional brilhante – meu pai me fitou. – E que esse passo que você deu hoje seja determinante para o seu progresso profissional.
- Assim seja!
- Saúde!
- SAÚDE!!!
- Só você para me fazer ficar com os gêmeos em plenA segunda à noite,
Cauã!
- Valeu por quebrar essa, Caio! Eu preciso sair com a patroa, estou em débito com ela!
- Então vai logo, antes que eu me arrependa.
- Tem tudo aqui, viu? Eu não esqueci de nada.
- Acho bom. Vai logo antes que eu mude de ideia e toma cuidado com meu carro.
- Pode deixar – ele sorriu. – Eu volto amanhã cedo para pegá-los.
- Você tem certeza que o Edson e a nossa mãe só voltam amanhã à noite?
- Absoluta. Eles foram para Campos do Jordão tentar apimentar a relação. Eles merecem.
- Coitada dela, mas tudo bem. Não usa meu carro como motel, hein Cauã?
- Vou fazer um sexo gostoso, mas não no seu carro. Relaxa.
- Assim espero! Boa foda.
- Valeu, boa sorte com eles.
Boa sorte? Por que ele desejou boa sorte? Eu não entendi essa colocação do cara.
Dei de ombros, fechei a porta e olhei para as crianças, que já tinham completado um aninho e já estavam quase andando.
- O que estão olhando?
Os dois estavam sentadinhos no chão e me olhavam sem piscar.
- Mama – falou Davi.
- Mamãe? Ela não está! Foi viajar com o pai de vocês.
- Mama – o outro também falou.
- Não está, seus lindos! Hoje vocês são mesus e só meus!
Eles se olharam e saíram engatinhando pelo chão. Um foi para um lado e o outro para o outro, fazendo barulho e gritando aqui e acolá.
- Ei, Davi, não mexe aí não!
Meu irmãozinho estava na lavanderia e pegou o pote de ração do Enzo. Ele jogou o mesmo para cima e este caiu longe, espalhando toda a comida do bichano para todos os lados.
- Davi! Não era para ter feito isso, menino!
Peguei a criança do chão e ouvi algo caindo no meu quarto. Fui ver o que estava acontecendo e notei que o David tinha aberto uma gaveta do criado mudo e jogado alguns livros no chão.
- Ei, que bagunça é essa? Quem mandou você mexer aí?
Coloquei o que estava no colo no chão e peguei o outro. Algo me dizia que eu ia sofrer naquela noite.
Em questão de segundos, ouvi mais alguma coisa caindo na sala e notei que meu irmãozinho jogou o controle da televisão longe.
- Davi! – reclamei de novo. – Não pode! Que arte é essa?
Soltei o David e esse foi até o banheiro. A criança pegou o rolo de papel higiênico e o desenrolou pelo chão. Quando voltou a engatinhar, o papel ficou enroscado em suas pernas e o acompanhou por todos os lados.
- Ai meu Deus do céu, tira isso das suas pernas, criança!
Enquanto eu soltava o papel das pernas dele, Davi segurou no sofá, ficou de pé e jogou as minhas almofadas pelos ares. Uma delas acertou a minha cabeça em cheio.
- DAVI! Hoje você está impossível! Sossega o facho!
Menos de cinco minutos depois, David já estava na cozinha, abrindo a porta do gabinete da pia. Ele pegou uma panela e ficou arrastando a mesma no chão.
- DAVID, PARA COM ISSO!
O outro gêmeo engatinhou até o meu quarto e abriu o meu guarda-roupa. Quando fui ver, ele estava no meio das minhas roupas e todas elas estavam no chão.
- Ai não – deu vontade de chorar. – Isso não é verdade não!
- Valeu por quebrar essa, Caio! Eu preciso sair com a patroa, estou em débito com ela!
- Então vai logo, antes que eu me arrependa.
- Tem tudo aqui, viu? Eu não esqueci de nada.
- Acho bom. Vai logo antes que eu mude de ideia e toma cuidado com meu carro.
- Pode deixar – ele sorriu. – Eu volto amanhã cedo para pegá-los.
- Você tem certeza que o Edson e a nossa mãe só voltam amanhã à noite?
- Absoluta. Eles foram para Campos do Jordão tentar apimentar a relação. Eles merecem.
- Coitada dela, mas tudo bem. Não usa meu carro como motel, hein Cauã?
- Vou fazer um sexo gostoso, mas não no seu carro. Relaxa.
- Assim espero! Boa foda.
- Valeu, boa sorte com eles.
Boa sorte? Por que ele desejou boa sorte? Eu não entendi essa colocação do cara.
Dei de ombros, fechei a porta e olhei para as crianças, que já tinham completado um aninho e já estavam quase andando.
- O que estão olhando?
Os dois estavam sentadinhos no chão e me olhavam sem piscar.
- Mama – falou Davi.
- Mamãe? Ela não está! Foi viajar com o pai de vocês.
- Mama – o outro também falou.
- Não está, seus lindos! Hoje vocês são mesus e só meus!
Eles se olharam e saíram engatinhando pelo chão. Um foi para um lado e o outro para o outro, fazendo barulho e gritando aqui e acolá.
- Ei, Davi, não mexe aí não!
Meu irmãozinho estava na lavanderia e pegou o pote de ração do Enzo. Ele jogou o mesmo para cima e este caiu longe, espalhando toda a comida do bichano para todos os lados.
- Davi! Não era para ter feito isso, menino!
Peguei a criança do chão e ouvi algo caindo no meu quarto. Fui ver o que estava acontecendo e notei que o David tinha aberto uma gaveta do criado mudo e jogado alguns livros no chão.
- Ei, que bagunça é essa? Quem mandou você mexer aí?
Coloquei o que estava no colo no chão e peguei o outro. Algo me dizia que eu ia sofrer naquela noite.
Em questão de segundos, ouvi mais alguma coisa caindo na sala e notei que meu irmãozinho jogou o controle da televisão longe.
- Davi! – reclamei de novo. – Não pode! Que arte é essa?
Soltei o David e esse foi até o banheiro. A criança pegou o rolo de papel higiênico e o desenrolou pelo chão. Quando voltou a engatinhar, o papel ficou enroscado em suas pernas e o acompanhou por todos os lados.
- Ai meu Deus do céu, tira isso das suas pernas, criança!
Enquanto eu soltava o papel das pernas dele, Davi segurou no sofá, ficou de pé e jogou as minhas almofadas pelos ares. Uma delas acertou a minha cabeça em cheio.
- DAVI! Hoje você está impossível! Sossega o facho!
Menos de cinco minutos depois, David já estava na cozinha, abrindo a porta do gabinete da pia. Ele pegou uma panela e ficou arrastando a mesma no chão.
- DAVID, PARA COM ISSO!
O outro gêmeo engatinhou até o meu quarto e abriu o meu guarda-roupa. Quando fui ver, ele estava no meio das minhas roupas e todas elas estavam no chão.
- Ai não – deu vontade de chorar. – Isso não é verdade não!
NO DIA SEGUINTE...
- Bom dia, Caio!
- Bom dia é o cacete!
- Que foi, mano? – ele franziu o cenho.
- Segura isso daqui – coloquei a bolsa dos gêmeos no ombro dele, em seguida passei uma das crianças e depois a outra. – E isso daqui também. Dê meia volta e suma do meu apartamento com essas pestes!
Cauã riu.
- O que eles aprontaram?
- QUASE ME DEIXARAM LOUCOS!
- Não fala assim, pobrezinhos!
- POBRE DE MIM! Sobrou até pro coitado do Enzo! Eles prenderam um prendedor de roupa no rabo dele!
- Eles estão ficando arteiros.
- Eles estão ficando impossíveis! Acho bom você educar esses dois enquanto é tempo, porque senão daqui a pouco eles vão querer derrubar a lua!!!
- Bom dia é o cacete!
- Que foi, mano? – ele franziu o cenho.
- Segura isso daqui – coloquei a bolsa dos gêmeos no ombro dele, em seguida passei uma das crianças e depois a outra. – E isso daqui também. Dê meia volta e suma do meu apartamento com essas pestes!
Cauã riu.
- O que eles aprontaram?
- QUASE ME DEIXARAM LOUCOS!
- Não fala assim, pobrezinhos!
- POBRE DE MIM! Sobrou até pro coitado do Enzo! Eles prenderam um prendedor de roupa no rabo dele!
- Eles estão ficando arteiros.
- Eles estão ficando impossíveis! Acho bom você educar esses dois enquanto é tempo, porque senão daqui a pouco eles vão querer derrubar a lua!!!
JÁ EM 2.014...
- Calma, Alexia! – eu a abracei. – Vai ficar tudo bem!
- Ai que ódio, Caio! Ai que ódio!
- Calma, meu amor – beijei o rosto dela. – Não fica assim.
- Como você quer que eu fique? Peguei aquele filho da puta com outra!
- Eu sei o quanto isso é ruim, Alexia, mas fica calma, tá?
- Eu não consigo me acalmar. Não consigo! Estou furiosa!
- Eu sei, meu amor, mas logo isso passa! Vai dar tudo certo, você vai ver.
- Vai dar tudo certo é o caralho, eu não quero saber daquele desgraçado nunca mais!
- Você está com a cabeça quente, Alexia. Daqui a pouco isso passa e você reconsidera a sua opinião.
- Reconsiderar? Uma ova! Eu quero o divórcio e não se fala mais nisso!
Alexia pegou Diego com outra e expulsou o cara de sua casa. Ela estava arrasada e só fazia chorar. Não era para menos. Eu entendia o que ela estava passando.
- Fica tranquila – beijei o rosto dela novamente. – Na hora certa as coisas se ajeitam.
- Ah, se ajeitam sim! No juiz. Divórcio e pensão alimentícia para meu filhos. Na minha casa ele não põe mais os pés!
- Ai que ódio, Caio! Ai que ódio!
- Calma, meu amor – beijei o rosto dela. – Não fica assim.
- Como você quer que eu fique? Peguei aquele filho da puta com outra!
- Eu sei o quanto isso é ruim, Alexia, mas fica calma, tá?
- Eu não consigo me acalmar. Não consigo! Estou furiosa!
- Eu sei, meu amor, mas logo isso passa! Vai dar tudo certo, você vai ver.
- Vai dar tudo certo é o caralho, eu não quero saber daquele desgraçado nunca mais!
- Você está com a cabeça quente, Alexia. Daqui a pouco isso passa e você reconsidera a sua opinião.
- Reconsiderar? Uma ova! Eu quero o divórcio e não se fala mais nisso!
Alexia pegou Diego com outra e expulsou o cara de sua casa. Ela estava arrasada e só fazia chorar. Não era para menos. Eu entendia o que ela estava passando.
- Fica tranquila – beijei o rosto dela novamente. – Na hora certa as coisas se ajeitam.
- Ah, se ajeitam sim! No juiz. Divórcio e pensão alimentícia para meu filhos. Na minha casa ele não põe mais os pés!
Era feriado e eu aproveitei que estava ocioso para levar os gêmeos ao
Ibirapuera pela primeira vez. Eu já estava adiando esse passeio há semanas.
- Será que eles vão correr?
- Improvável, filho. Eles ainda não estão se sentindo seguros para isso.
- Que pena! Eu adoraria ver isso.
- Não faltará oportunidade.
As crianças estavam cada dia maiores e ficando mais espertas a cada minuto. Os dois já sabiam falar “mamãe” e “papai”, mas nada além disso. As outras palavras eles ainda tinham dificuldade.
- Vou soltá-los – falei.
- Pode soltar.
Coloquei as crianças no chão e elas ficaram de pé, mas não se mexeram. David e Davi se olharam, olharam para mim, para a minha mãe e aparentemente não entenderam o que tinham que fazer.
- Venham, meus amores – Fátima agachou no chão e chamou pelos meninos.
- Vão com a mamãe – incentivei.
Davi deu o primeiro passo e olhou para o irmãozinho. Eu ri da cara de dúvida que eles fizeram. Os dois ficaram naquele dialeto que só os bebês entendem e depois de algum tempo, começaram a caminhar.
- Isso, meus amores! Venham com a mamãe, venham!
- Isso, meninos! Estão indo muito bem!
Algumas pessoas até pararam para assistir a cena. Eu ria quando um deles parava e olhava para a minha cara.
- Vai, David! Vai com a mamãe!
Este era o menos confiante. Davi já estava quase alcançando os braços da mãe, enquanto David ainda estava na metade do caminho. Foi nesse momento que ele caiu de bunda no chão e começou a chorar.
Quando isso aconteceu, Davi também abriu o berreiro, mesmo estando de pé. Eu entendi direitinho o que estava acontecendo.
- Pronto, pronto – peguei o que caiu no colo. – Já passou, já passou.
- Será que o Davi também sentiu dor?
- Com certeza, mãe. Até hoje eu sinto isso com o Cauã!
- É mesmo?
- Hoje em dia é mais raro, mas às vezes ainda acontece. No Rio era comum.
- Essa conexão é algo que a ciência nunca vai conseguir explicar.
- É um mistério de Deus.
- Verdade.
- Pronto, seu manhoso, para de chorar. Já passou!
- Mamãe – ele falou.
- Eu estou aqui, meu filho. Não precisa ficar com medo, mamãe está aqui.
- Papai – Davi estendeu os bracinhos para mim.
- Eu não sou seu pai não, rapaz. Sou seu irmão mais velho. Fala: irmão mais velho!
Ele só fez uma cara de interrogação e não falou nada.
- Ele ainda é novo para entender, não force a cabeça do pobrezinho.
- Vou te soltar de novo, David. Você tem que perder esse medo!
Soltei o menino no chão e mais uma vez nós dois o incentivamos a caminhar. Dessa vez deu certo. Ele conseguiu ir até os meus braços e quando isso aconteceu, eu ergui a criança no ar e a girei bem rápido.
- Está dando risada, seu safado? É, seu safado?
- Caio! Ele vai ficar tonto!
- Quem está tonto sou eu, isso sim. Ai que loucura!
Baixou a Janaína em mim. Só depois eu me toquei que falei um dos bordões da minha Irmã postiça.
- Vamos tomar um açaí, mãe?
- Vamos sim, filho. Só que depois nós vamos embora porque já está ficando tarde e eu ainda tenho que fazer o almoço.
- Nós vamos, nós vamos.
Fátima, os gêmeos e eu fomos até uma lanchonete que ficava nos arredores do Ibirapuera e lá nos acabamos no açaí.
- Eu amo essa delícia – falei.
- É muito bom mesmo, mas é gelado demais.
- A graça é essa! Que foi, Davi? Quer um pouco?
Ele resmungou alguma coisa e eu coloquei uma pitadinha da guloseima na boca dele. O menino fez a maior careta e os olhos dele lacrimejaram.
- É muito gelado, Caio! – minha mãe ficou toda preocupada. – Eles vão adoecer!
- Que nada! Está fazendo um calor danado.
Fiz a mesma coisa com o David e ele imitou a careta que o irmão fez. Acho que eles acharam um pouco azedo, sei lá.
- Quando chegar na casa de vocês, vou dar limão com sal para eles.
- Ai credo, Caio! É assim que você fala que ama seus irmãos?
- Mas eu amo essas coisas lindas, mãe! Eles são meus tesouros, embora estejam se tornando muito bagunceiros.
- Estão mesmo, só Deus na causa. Vamos?
- Vamos. Já está na hora.
Naquele dia eu estava sem carro porque o mesmo estava na oficina. Sendo assim, Fátima e eu fomos obrigados a voltar para Higienópolis de ônibus, mas não pensamos que o coletivo estaria tão lotado do jeito que estava.
- Com licença, com licença.
Para a minha total surpresa, ninguém saiu para que minha mãe e eu nos sentássemos. Isso me deixou possesso de raiva e me obrigou a pedir assento para dois jovens, que ocupavam as poltronas destinadas a deficientes, idosos, gestantes e pessoas com crianças de colo.
- Obrigado – falei, sem ligar para a cara de poucos amigos que eles fizeram.
- É o cúmulo da falta de respeito.
- Normal, mãe. As pessoas hoje em dia não ligam mais para os outros.
- Onde é que nós vamos parar, meu Deus?
- Eu me faço essa pergunta de vez em quando.
Fiquei perdido em pensamentos e só me toquei que minha mãe e eu precisávamos descer do ônibus quando ela se levantou e chamou a minha atenção:
- Vai ficar até o ponto final, menino?
- Ah, é!
Nós descemos e caminhamos até a casa da Fátima. Chegando lá, coloquei o menino no chão e me despedi. Eu ainda queria fazer algumas coisas naquele dia.
- Não quer mesmo entrar?
- Não, mãe. Eu tenho que fazer uma faxina lá no apartamento. Depois eu volto.
- Está certo. Se cuide, viu?
- Pode deixar, você também.
- Vá com Deus.
- Fique com Ele e não se esqueça que daqui alguns dias as suas aulas começam.
- Nem me fala! Estou super nervosa.
- Vai dar tudo certo.
Depois de muita conversa, depois de muito bate-papo, depois de muitos conselhos, minha mãe enfim decidiu fazer o tão sonhado curso de pedagogia. Ela já tinha feito o vestibular e a matricula na universidade. As aulas começariam em menos de duas semanas.
Eu estava feliz com isso. Finalmente ela teria uma independência. Era melhor ela começar a pensar no futuro, ainda que tardiamente. Eu fiquei orgulhoso dessa decisão.
Resolvi voltar para a Vila Mariana de metrô. Por conta disso, tive que caminhar por algum tempo até encontrar a estação mais próxima.
No entanto, no meio do caminho, senti uma dor insuportável em todo o meu corpo e isso me fez parar de caminhar.
- Ai – gemi. – Nossa! Ai...
Não havia uma parte do meu tronco que não estivesse doendo, mas o que se sobressaía naquele instante eram os dois braços e a cabeça. Eu fiquei preocupado com isso.
- Aconteceu alguma coisa com o Cauã!!!
Já recuperado, voltei a caminhar e em seguida o meu celular tocou. Era o meu irmão e isso me deixou um pouco mais aliviado. Sinal que não tinha acontecido nada de grave com ele.
- Fala, mano?
- Caio – reconheci a voz da Ellen e ela chorava muito.
- Ellen? Aconteceu alguma coisa?
- Aconteceu uma desgraça!
Meu coração foi parar na boca.
- O que foi, Ellen? Por que você está chorando? O que aconteceu com o Cauã???
Minha cunhada estava simplesmente desesperada. Ela não conseguia parar de chorar e isso estava me deixando louco de tanta angústia.
- Fala, Ellen! O que aconteceu com o meu irmão?
- Ele...
- FALA, ELLEN, FALA PELO AMOR DE DEUS!!!
Silêncio. Eu ouvi barulho de sirene do outro lado da linha e isso me deixou ainda mais preocupado. Eu sabia que algo tinha acontecido com o Cauã, eu sabia!
- Fala, pelo amor de Deus – já caí logo no choro.
- Ele foi atropelado...
- ATROPELADO?!
Eu tive que segurar em um poste, senão teria caído no chão. Como aquilo pôde acontecer?
- É! – Ellen continuava chorando.
- Ai meu Deus do céu, mas como foi isso? Como ele está?
- Eu não sei, Caio, eu não sei como ele está! Ele está caído no meio da rua e...
- E o que, Ellen? – eu já estava morto de tanto medo.
- E não está... Se mexendo!
- Será que eles vão correr?
- Improvável, filho. Eles ainda não estão se sentindo seguros para isso.
- Que pena! Eu adoraria ver isso.
- Não faltará oportunidade.
As crianças estavam cada dia maiores e ficando mais espertas a cada minuto. Os dois já sabiam falar “mamãe” e “papai”, mas nada além disso. As outras palavras eles ainda tinham dificuldade.
- Vou soltá-los – falei.
- Pode soltar.
Coloquei as crianças no chão e elas ficaram de pé, mas não se mexeram. David e Davi se olharam, olharam para mim, para a minha mãe e aparentemente não entenderam o que tinham que fazer.
- Venham, meus amores – Fátima agachou no chão e chamou pelos meninos.
- Vão com a mamãe – incentivei.
Davi deu o primeiro passo e olhou para o irmãozinho. Eu ri da cara de dúvida que eles fizeram. Os dois ficaram naquele dialeto que só os bebês entendem e depois de algum tempo, começaram a caminhar.
- Isso, meus amores! Venham com a mamãe, venham!
- Isso, meninos! Estão indo muito bem!
Algumas pessoas até pararam para assistir a cena. Eu ria quando um deles parava e olhava para a minha cara.
- Vai, David! Vai com a mamãe!
Este era o menos confiante. Davi já estava quase alcançando os braços da mãe, enquanto David ainda estava na metade do caminho. Foi nesse momento que ele caiu de bunda no chão e começou a chorar.
Quando isso aconteceu, Davi também abriu o berreiro, mesmo estando de pé. Eu entendi direitinho o que estava acontecendo.
- Pronto, pronto – peguei o que caiu no colo. – Já passou, já passou.
- Será que o Davi também sentiu dor?
- Com certeza, mãe. Até hoje eu sinto isso com o Cauã!
- É mesmo?
- Hoje em dia é mais raro, mas às vezes ainda acontece. No Rio era comum.
- Essa conexão é algo que a ciência nunca vai conseguir explicar.
- É um mistério de Deus.
- Verdade.
- Pronto, seu manhoso, para de chorar. Já passou!
- Mamãe – ele falou.
- Eu estou aqui, meu filho. Não precisa ficar com medo, mamãe está aqui.
- Papai – Davi estendeu os bracinhos para mim.
- Eu não sou seu pai não, rapaz. Sou seu irmão mais velho. Fala: irmão mais velho!
Ele só fez uma cara de interrogação e não falou nada.
- Ele ainda é novo para entender, não force a cabeça do pobrezinho.
- Vou te soltar de novo, David. Você tem que perder esse medo!
Soltei o menino no chão e mais uma vez nós dois o incentivamos a caminhar. Dessa vez deu certo. Ele conseguiu ir até os meus braços e quando isso aconteceu, eu ergui a criança no ar e a girei bem rápido.
- Está dando risada, seu safado? É, seu safado?
- Caio! Ele vai ficar tonto!
- Quem está tonto sou eu, isso sim. Ai que loucura!
Baixou a Janaína em mim. Só depois eu me toquei que falei um dos bordões da minha Irmã postiça.
- Vamos tomar um açaí, mãe?
- Vamos sim, filho. Só que depois nós vamos embora porque já está ficando tarde e eu ainda tenho que fazer o almoço.
- Nós vamos, nós vamos.
Fátima, os gêmeos e eu fomos até uma lanchonete que ficava nos arredores do Ibirapuera e lá nos acabamos no açaí.
- Eu amo essa delícia – falei.
- É muito bom mesmo, mas é gelado demais.
- A graça é essa! Que foi, Davi? Quer um pouco?
Ele resmungou alguma coisa e eu coloquei uma pitadinha da guloseima na boca dele. O menino fez a maior careta e os olhos dele lacrimejaram.
- É muito gelado, Caio! – minha mãe ficou toda preocupada. – Eles vão adoecer!
- Que nada! Está fazendo um calor danado.
Fiz a mesma coisa com o David e ele imitou a careta que o irmão fez. Acho que eles acharam um pouco azedo, sei lá.
- Quando chegar na casa de vocês, vou dar limão com sal para eles.
- Ai credo, Caio! É assim que você fala que ama seus irmãos?
- Mas eu amo essas coisas lindas, mãe! Eles são meus tesouros, embora estejam se tornando muito bagunceiros.
- Estão mesmo, só Deus na causa. Vamos?
- Vamos. Já está na hora.
Naquele dia eu estava sem carro porque o mesmo estava na oficina. Sendo assim, Fátima e eu fomos obrigados a voltar para Higienópolis de ônibus, mas não pensamos que o coletivo estaria tão lotado do jeito que estava.
- Com licença, com licença.
Para a minha total surpresa, ninguém saiu para que minha mãe e eu nos sentássemos. Isso me deixou possesso de raiva e me obrigou a pedir assento para dois jovens, que ocupavam as poltronas destinadas a deficientes, idosos, gestantes e pessoas com crianças de colo.
- Obrigado – falei, sem ligar para a cara de poucos amigos que eles fizeram.
- É o cúmulo da falta de respeito.
- Normal, mãe. As pessoas hoje em dia não ligam mais para os outros.
- Onde é que nós vamos parar, meu Deus?
- Eu me faço essa pergunta de vez em quando.
Fiquei perdido em pensamentos e só me toquei que minha mãe e eu precisávamos descer do ônibus quando ela se levantou e chamou a minha atenção:
- Vai ficar até o ponto final, menino?
- Ah, é!
Nós descemos e caminhamos até a casa da Fátima. Chegando lá, coloquei o menino no chão e me despedi. Eu ainda queria fazer algumas coisas naquele dia.
- Não quer mesmo entrar?
- Não, mãe. Eu tenho que fazer uma faxina lá no apartamento. Depois eu volto.
- Está certo. Se cuide, viu?
- Pode deixar, você também.
- Vá com Deus.
- Fique com Ele e não se esqueça que daqui alguns dias as suas aulas começam.
- Nem me fala! Estou super nervosa.
- Vai dar tudo certo.
Depois de muita conversa, depois de muito bate-papo, depois de muitos conselhos, minha mãe enfim decidiu fazer o tão sonhado curso de pedagogia. Ela já tinha feito o vestibular e a matricula na universidade. As aulas começariam em menos de duas semanas.
Eu estava feliz com isso. Finalmente ela teria uma independência. Era melhor ela começar a pensar no futuro, ainda que tardiamente. Eu fiquei orgulhoso dessa decisão.
Resolvi voltar para a Vila Mariana de metrô. Por conta disso, tive que caminhar por algum tempo até encontrar a estação mais próxima.
No entanto, no meio do caminho, senti uma dor insuportável em todo o meu corpo e isso me fez parar de caminhar.
- Ai – gemi. – Nossa! Ai...
Não havia uma parte do meu tronco que não estivesse doendo, mas o que se sobressaía naquele instante eram os dois braços e a cabeça. Eu fiquei preocupado com isso.
- Aconteceu alguma coisa com o Cauã!!!
Já recuperado, voltei a caminhar e em seguida o meu celular tocou. Era o meu irmão e isso me deixou um pouco mais aliviado. Sinal que não tinha acontecido nada de grave com ele.
- Fala, mano?
- Caio – reconheci a voz da Ellen e ela chorava muito.
- Ellen? Aconteceu alguma coisa?
- Aconteceu uma desgraça!
Meu coração foi parar na boca.
- O que foi, Ellen? Por que você está chorando? O que aconteceu com o Cauã???
Minha cunhada estava simplesmente desesperada. Ela não conseguia parar de chorar e isso estava me deixando louco de tanta angústia.
- Fala, Ellen! O que aconteceu com o meu irmão?
- Ele...
- FALA, ELLEN, FALA PELO AMOR DE DEUS!!!
Silêncio. Eu ouvi barulho de sirene do outro lado da linha e isso me deixou ainda mais preocupado. Eu sabia que algo tinha acontecido com o Cauã, eu sabia!
- Fala, pelo amor de Deus – já caí logo no choro.
- Ele foi atropelado...
- ATROPELADO?!
Eu tive que segurar em um poste, senão teria caído no chão. Como aquilo pôde acontecer?
- É! – Ellen continuava chorando.
- Ai meu Deus do céu, mas como foi isso? Como ele está?
- Eu não sei, Caio, eu não sei como ele está! Ele está caído no meio da rua e...
- E o que, Ellen? – eu já estava morto de tanto medo.
- E não está... Se mexendo!
Um comentário:
podia explica melhor a historia do filho
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