sábado, 28 de fevereiro de 2015

Capítulo 11


R
odrigo podia ter me preparado psicologicamente para me dar essa notícia.
Mesmo estando deitado, eu senti o meu corpo caindo. Era como se a cama tivesse rachado ao meio e eu tivesse mergulhado em um abismo sem fim. Não acreditei no que os meus ouvidos escutaram e fui obrigado a contestá-lo quando lembrei como se pronunciavam as palavras:

- Você está o quê, menino? – comecei a suar frio e uma montanha de gelo tomou conta da minha barriga.

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- Na-namorando – ele abriu um sorriso extremamente sem graça e se afastou um pouquinho de mim.
- Namorando? Namorando? Como assim você está namorando? E você me fala isso com a maior naturalidade do mundo? Seu cachorro – dei um tapa na cabeça do safado.
- Eu... Eu estava procurando as palavras certas...
- Quem é a vagabunda? – eu sentei na cama.
- Calma, Cacs...
- Quem é a vagabunda? Quem é a vadia? Quem é a vaca? Quem é essa piranha, essa ordinária, essa prostituta que está roubando você de mim, Rodrigo???
- Fica calmo – ele entortou o pescoço, arregalou os olhos, ergueu e abaixou as mãos no ar.
- Fala quem é essa requenguela, Rodrigo!!! – comecei a ficar nervoso.
- Primeiro fica calmo, mano – ele tentou me abraçar.
- Fala quem é essa galinha ou eu quebro a sua cara, moleque!
- É a Marcela, é a Marcela... Não bate em mim – ele protegeu a cabeça com o travesseiro e ficou todo encolhidinho.

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Como diz Janaína Santos, fiquei preto passado na chapinha. A Marcela? Como assim a Marcela? A minha amiga da faculdade? Era isso mesmo, produção?
- A Marcela? Minha amiga da faculdade? – eu tremeliquei.
- É... É a Marcela da sua sala sim...
- Seu cachorro, seu safado, seu ridículo – eu senti muito ciúmes do meu amigo. – Você não presta, Rodrigo! Você não presta!
-Eu sabia que você ia ficar bravo, mas não tanto assim. Calma.
Somente essa notícia me fez esquecer de todos os meus outros problemas. A minha amizade com o Digão era tão forte que só de pensar que ele tinha uma namorada eu me senti de escanteio.
- Vadia... Amanhã eu quebro a cara dessa piranha!
- Você não quebra nada – ele me abraçou muito carinhosamente. – Você não vai perder a minha amizade, seu bocó!
Fiquei calado. Perder a amizade dele era o que mais me preocupava. Eu não queria que isso acontecesse.
- Desde quando vocês estão juntos, hein? – eu comecei a ficar mais calmo.
- Acabei de pedí-la em namoro. Você é o primeiro a saber disso.
Me senti lisongeado.
- Ai que ódio – eu bufei duas vezes e senti vontade de tacar o Rodrigo longe. – Aqwuela filha da puta me pega!
- Seu bobo – ele deu risada e prendeu o corpo ao meu. – Eu continuo te amando, tá bom? Você sempre vai ser meu melhor amigo, sempre!
- Promete que não vai esquecer de mim por causa dela? Promete? – eu fiz bico.
- Claro que eu te prometo, seu bobo – Rodrigo beijou a minha bochecha e isso me deixou derretido. – Eu nunca vou te abandonar, rapaz.
Fiquei calado e depositei a minha cabeça no ombro dele. Rodrigo e eu ficamos abraçados e eu fiquei pensando sobre o assunto.
Então era por ele que aquela galinha de penas pretas estava apaixonada. Retardada. Senti vontade de colocar pó-de-mico na calcinha daquela ladra de amigos!


- Eu estou tão apaixonado, Cacs...
Pra quê ele foi falar aquilo? Pra quê? Só pra me deixar irritado?
- Apaixonado é? – a raiva começou a voltar.
- Estou sim... Não tenho como negar.
- Tanta gente pra você se apaixonar você vai se apaixonar logo pela Marcela, Rodrigo? Cacete, viu?
- Ué o que ela tem de errado?
- Aquela quenga de esquina vai me pegar. Amanhã eu vou enfiar um prego na orelha dela. Cachorra!
O Diguinho deu risada e continuou me abraçando. Aos pouquinhos eu fui me acalmando e digerindo essa notícia.
No fundo, no fundo, eu sabia que isso ia acabar acontecendo e era questão de tempo. O Rodrigo já estava morando no Rio há um tempão e precisava de uma namorada, precisava de uma mulher bacana ao lado dele.
O cara era um verdadeiro tesouro e precisava de alguém que cuidasse dele, precisava de alguém para dividir as vitórias, as alegrias e também as tristezas.
É claro que eu queria ser essa pessoa, mas eu sabia que isso nunca iria acontecer. E era muito melhor ter a certeza da amizade dele do que a incerteza de um amor que talvez não vingasse.
Já até havíamos tentado ficar juntos, mas ele não conseguiu avançar muito o sinal. Isso era prova que se continuasse insistindo, poderia acabar com a nossa amizade e isso eu não queria.
Em toda a minha vida eu nunca tive um amigo como ele e não era por uma bobagem como aquela que eu ia jogar tudo pro alto, não é?
- Chato – eu falei.
- Sou nada. Mais calminho?
- Um pouquinho, mas ainda assim eu quero matá-la amanhã.
- Faz isso não, Cacs. Deixa a Marcela viver.
- Só vou fazer isso porque você me pediu. Aquela quenga dos infernos...
- Como você é bobo, Caio – Digão riu novamente. – E é por isso que eu te amo!
- Também te amo, seu idiota. E ai de você se mudar comigo. Eu coloco oó-de-mico dentro da sua cueca!
- Cruzes, quer me matar de coceira?
- Muda comigo pra você ver.
- Eu juro por Deus que não vou mudar contigo. Eu posso mudar com quem quer que seja, menos com você. Já te falei que você é o único homem que eu amo nessa vida, moleque. Com exceção do meu pai, é claro.
- Seu pai não conta. Pai é pai. Ainda bem que você gosta de mim, porque se não gostasse...
Ficamos quietos e eu continuei agarradinho com o Digão. Ele acariciou o meu cabelo e eu fiquei com vontade de dormir.
- Acho que vou dormir – comentei.
- Eu também estou com sono. Se importa se eu dormir aqui com você?
- Você ainda pergunta? Claro que não, né?
- Mas não vai me estuprar, vai? – ele perguntou baiaixnho.
- Adoraria fazer isso, mas eu prometo que me comporto.
- Sendo assim eu fico. Só vou tomar uma ducha rapidinho e já volto, pode ser?
- Eu te espero.
- Então tá bom.
Ele saiu e voltou e eu ainda estava pensando nesse namoro. Ainda queria quebrar meia dúzia de dentes daquela quenga velha.
- Chega mais pra lá – ele mandou.
Empurrei meu corpo contra a parede e ele me abraçou por trás. Meu amigo estava só de cueca novamente.

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- Vai dormir abraçadinho comigo? – perguntei. – E a sua namorada?
- Ela não precisa saber disso, precisa?
- Depende. Se você prometer que fará isso mais vezes eu não conto nada.
- Prometo que a gente dorme na mesma cama sempre que os meninos saírem. Pode ser assim?
- Então tá. Assim tudo bem.
- Seu bobão – ele me puxou pra trás e eu senti todo o corpo dele no meu.
Uma pena que ele não ficou excitado naquela noite. Fiquei me perguntando por qual motivo ele ficou das outras vezes e não ficou naquela. Será que o tesão estava sob controle?


Quando eu vi a cara da fulaninha na faculdade senti a maior gana de dar um tapa no focinho dela, mas me controlei.

- Bom dia, Caio – ela estava toda serelepe. – Tudo bom, lindo?
- Não tão bem quanto você. Aconteceu alguma coisa? – me fiz de desentendido.
- Ai, eu estou tããããããããããããããããão feliz – Marcela suspirou. – O Rodrigo não falou com você?
- Uhum – murmurei. – Parabéns pelo namoro, CUNHADA.
- Ai, obrigada – a vaca continuou suspirando. – Ele é tão lindo!
“EU SEI QUE ELE ERA LINDO SUA PROSTITUTA!”.
- É? Que bom.
- O que foi? Parece irritado com alguma coisa...
“COM VOCÊ SUA VACA!”.
- É impressão sua. Vou te pedir uma coisa: cuide muito bem do Diguinho, viu? Ele é MEU irmão e eu não quero que ele sofra. Cuide dele.
- Eu vou cuidar muito bem do meu bebê, cunhado. Ele é lindo, ele é muito perfeito...
“EU SEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEI DISSO, PUTA VELHA!”.
- Bom dia, turma – o professor Élcio entrou na sala. – Como estão todos?
Tentei prestar atenção na aula, mas quem disse que eu consegui? A cada suspiro que a Marcela dava, a minha vontade de dar um murro na cara dela aumentava.
Na hora do intervalo ela saiu primeiro que eu e quando eu coloquei os pés pra fora da sala e vi os dois se beijando quase tive um troço de tanto ódio.
- ARGH!
Aquela Marcela ia me pagar... Ela ia me pagar bem caro... Que garotinha insuportável!!!
Fiquei só esperando o beijo acabar e quando isso aconteceu, o Rodrigo me fitou e ficou com a cara mais vermelha que um caqui.
- Oi, Caio – a voz dele quase não saiu.
- Oi, DIGOW!
- Vamos pra cantina? Eu estou morrendo de fome! – falou Marcela.
- Vamos sim, linda – ele concordou, mas continuou me fitando.
A menina puxou o Rodrigo pela mão direita e eles começaram a andar. Eu os segui bem de perto e quando chegou na escada, senti uma vontade insuportável de empurrá-la para baixo com toda a força que eu tinha.
- Acho que vou dar uma de Nazaré Tedesco – falei comigo mesmo.
- Falou alguma coisa, Caio? – a garota virou e me olhou nos olhos.
- Eu? Que nada. Só estava pensando alto, CUNHADA!
Rodrigo abriu um sorriso e eles começaram a descer os degraus praticamente correndo. Eu fiquei pra trás e literalmente de escanteio durante todo o intervalo, porque eles não se largaram um segundo sequer.
- Sinta-se morto quando eu chegar em casa hoje à noite – falei baixinho no ouvido dele na hora da saída.
- QUE SUSTO, MOLEQUE – Rodrigo deu um pulo porque ele estava de costas e não viu quando eu cheguei. – Quase enfartei agora!
- Pois seria melhor que tivesse enfartado mesmo. Só quero que saiba que se essa idiota continuar falando de você pra mim a toda hora, você vai ficar viúvo antes do casamento. Ficou claro?!
- Ela falou de mim, foi? – o tonto abriu um sorriso.
- O dia todo – eu bufei.
- E o que ela falou?
- “Ai como ele é lindo... Ai como ele é perfeito... Ai como ele é isso, ai como ele é aquilo...” – eu tentei imitar a voz de taquara rachada da Marcela.
- Ai que linda – ele se derreteu todinho.
- Linda é a marca da minha mão na cara dela. Fica esperto, se ela morrer você já sabe que fui eu.
- Bobo – ele suspirou.
- Vamos pra academia?
- Não, eu vou só mais tarde. Vou ficar um pouco com ela agora.
- Hã? – eu tinha entendido certo. – Como é que é?
- Eu vou ficar um pouco com ela e depois vou pra academia. Por que está com essa cara?
- Não – eu suspirei. – Por nada. Eu vou indo então.
- Firmeza. A gente se vê daqui a pouco.
Será? Será que a gente ia se ver mesmo? Ou será que ele não ia mais pra academia pra ficar com aquela infeliz?
A segunda opção foi a vencedora. Eu treinei os meus 40 minutos e ele não apareceu. Isso só me fez crer que eu seria mesmo trocado pela Marcela. Acabei ficando entristecido.

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- Caio!!! – Jonas apareceu com um sorriso enorme nos beiços. – Como você está, rapaz?
- Caralho, Jonas. Até que enfim você voltou, hein? Tirou férias de 800 dias, foi?
- Que nada – meu gerente riu. – Foram apenas 37 dias.
- Quem pode, pode não é?
- Como você está? Já fiquei sabendo da sua migração para móveis. Fiquei satisfeito com isso.
- Ficou é? Mas eu não – confessei. – Só aceitei porque foi um pedido muito especial da Duda.
- Vai ser bom pra você. E aí como foi esse mês longe de mim? Sentiu a minha falta?
- Não – brinquei. – Brincadeira, senti sim, chefe.
- Acho bom. Já ia te mandar pra casa. Brincadeira.
- Como foi de férias? Descansou bastante?
- Descansei horrores, cara. Viajei muito, curti bastante as praias, peguei muita mulher... Foi foda. Pena que tive que voltar, mas tudo bem.
- Essa é a parte ruim, né?
- Essa é a parte ruim. Falando em férias, as suas já venceram e nós temos que conversar sobre isso. Quando o senhor vai querer tirá-las?
- Não quero férias agora.
- Mas já venceu. Você precisa tirar!
- E se eu não quiser, como fica?
- Bom aí a gente tem opção de comprar suas férias e você continua trabalhando.
- Como assim? Comprar?
- É. Funciona assim: a empresa te paga as suas férias e você continua trabalhando normalmente como se nada tivesse acontecido. Vai receber duas vezes no mês.
- Ah, meu filho... Qual a chance de eu não fazer isso? Quero vender sim...
- Está certo disso? – Jonas me encarou.
- Inconfundivelmente sim. Eu não quero férias agora.
- Mas você precisa descansar, garoto. Afinal, você trabalha, estuda, faz academia... Não sei como não fica esgotado fisicamente.
 - Já ouviu falar em energético? Pois é, eu tomo.
- Ah, então está explicado. Quer vender mesmo? Olha que depois não tem como voltar atrás, hein?
- Quero. Já disse que quero.
- Então tá. Eu vou mandar um e-mail pro RH pra providenciar tudo.
- Fechou.
- Deixa eu ir lá, Caio. Tenho muito e-mail pra ler. Mais de 2 mil.
- Sangue de Jesus tem poder – me espantei.
Eu leria 2 mil e-mails em uns 2 meses. Se eu já tinha resistência pra ser gerente, daquele momento em diante fiquei mais resistente ainda.
- Que carinha de velório é essa? – perguntou Alexia.
- Nada – fechei os olhos e suspirei. – Pensando em algo que me deixou triste.
- Quer falar sobre o assunto?
- Quero não, linda. Não vale a pena.
- Como quiser.
- E o seu tio, como está?
Foi a vez dela suspirar.
- Muito mal. Ele voltou pro coma e agora não tem mais jeito. Os remédios nem estão mais fazendo efeito. Eu acho que ele saiu do coma só pra se despedir da gente mesmo.
- Deus do céu...
- A gente sabe que agora ele vai embora. Não tem mais jeito, todos os médicos falaram isso. O câncer já tomou conta de praticamente todos os órgãos dele.
- Meu Deus... Que horror – fiquei com meu coração partido.
- Sabe de uma coisa, Caio? Eu prefiro que ele parta do que ficar vendo ele sofrer aqui na Terra. É muito melhor ele ir e descansar do que ficar nesse sofrimento.
- Nisso você tem razão. Sem contar que vocês devem estar gastando horrores, né?
- Nossa, demais. O hospital que ele está é particular e ainda tem remédio, tem um monte de coisa. Eu estou até negativada no banco por causa disso.
- Se precisar eu posso te emprestar algum, viu?
- Obrigada, amigo, mas acho que não vou precisar. Pelo menos por enquanto.
- Não precisa ficar acanhada. Eu tenho uma reserva no banco e posso te emprestar sem o menor problema.
- Te agradeço muitíssimo. Eu te falo se precisar.
- Promete?
- Prometo sim, amor. Obrigada! Eu te adoro.
- Eu te adoro também, Alexia.
Quando eu cheguei em casa e entrei no quarto, percebi que o Rodrigo já estava dormindo e isso me deixou frustrado. Nem sequer a gente ia ter a chance de conversar.
- Tudo bom, Caio? – perguntou Fabrício. – Como vai você?
- Irritado com uma coisa aí.
- Que coisa?
- Nada. É coisa da minha cabeça.
- Doido – o jovem riu.
- E seu TCC?
- Me deixando maluco. Sérião, nunca fiquei tão doido como estou hoje em dia.
- Besta – eu ri. – E Vini?
- No banheiro com piriri.
Caí na gargalhada e nem isso fez o Rodrigo acordar. Guardei as minhas coisas, peguei uma roupa e fui pra porta do banheiro. O Vini só saiu de lá muito tempo depois.
- Está passando mal?
- Uhum.
- Quer ir ao médico?
- Precisa não. Eu já tomei remédio.
- Mas tem que ir, Vinícius.
- Não precisa – ele estava pálido. – Já passou.
- Tem certeza?
- Aham. Valeu pela preocupação. Vai demorar no banho?
- Não.
- Eu quero tomar um também.
- Vai ser rapidinho, eu prometo.


ALGUNS DIAS DEPOIS...Resultado de imagem para dias depois



- Você vai pra academia? – perguntei.
- Não – respondeu Rodrigo. – A gente se vê mais tarde.
- Beleza então – eu suspirei e saí andando.
A gente não ia se ver mais tarde. Todos os dias eu estava chegando do trabalho e ele já estava dormindo. O namoro do Rodrigo me deixou mesmo um pouco de escanteio. Eu não conseguia me acostumar com aquilo.
- Está tudo bem, Caio? – questionou Felipe. – Parece triste.
- E estou mesmo, mas é coisa minha. Não quero falar sobre.
- Entendo. Então foca no treino porque aí você descarrega a raiva.
Como ele sabia que eu estava sentindo raiva? Segui o conselho do meu instrutor e isso acabou me acalmando um pouco.
- Agora mantém o corpo erguido, Caio – Felipe me instruiu.
- No meio do ar? – eu estranhei.
- Isso. Mantém o abdômen contraído.
Sangue de Cristo tem poder, eu nunca senti tanta dor no músculo da minha barriga como naquele momento.
Felipe me obrigou a ficar nos abdominais praticamente durante todo o treino.
- Relaxa agora – ele falou.
- Ufa – soltei todo o ar pela boca. – Como dói!
- Quer ter barriga tanquinho não quer? Isso dá trabalho.
- Percebi. Estou quase desistindo.
- Desiste e eu quebro a sua cara no meio.

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Quando eu terminei de amarrar o cadarço do meu sapato social o meu celular começou a tocar e eu fui logo tratando em atender:
- Alô? – não cheguei a ver o identificador.
- Caio? – era o Bruno.
- Você de novo, falecido? Já não falei pra você não me procurar mais?
- Desculpa... Eu não consigo resistir mais... Eu queria tentar uma última conversa com você...
- Nem pensar.
- Você trabalha no Shopping da Barra não é?
- Quem te falou isso?
- Eu te vi lá uma vez... Te vi de longe...
- Anda me seguindo ou é impressão minha?
- Não, não – ele foi firme. – Não, prometo que não. Eu estava passando de ônibus e te vi entrando no shopping. Juro que foi isso, juro.
- Ah, sei.
Só se ele fosse uma águia pra me ver de tão longe. Aquilo estava muito esquisito.
- Eu posso passar aí pra gente conversar? Só um pouquinho?
- Pode não. Não quero falar com você, falecido.
- Mas eu vou mesmo assim. Eu estou avisando só pra você não ser pego de surpresa.
- Não fale comigo. Não ouse se aproximar de mim, entendeu?
- Você não pode me proibir de ir ao shopping, Caio. O shopping é livre e eu entro aí a hora que eu quiser.
DESGRAÇADO!
- Problema é seu, moleque. Por mim você faz o que você quiser, eu não vou falar contigo e ponto final.
- Eu sei que mais cedo ou mais tarde você vai acabar falando comigo. Você não pode ser resistente desse jeito pro resto da vida.
- Até parece que eu vou ceder – dei risada.
- Eu já disse que eu não vou desistir. Você pode me xingar, pode me bater, pode me humilhar, pode fazer o que você quiser que eu vou continuar insistindo.
- Insiste. Eu não vou mudar de ideia. Quem vai quebrar o nariz vai ser você e não eu.
- Isso é o que a gente vai ver. Até mais tarde. Um beijo.
Dessa vez foi ele que desligou e eu fiquei lá, olhando pra porta do banheiro como um verdadeiro idiota.
- Desgraçado – bufei e guardei o celular no bolso da minha calça. – Eu te odeio, Bruno. Eu te odeio!
- Morreu alguém, Caio? – perguntou Eduarda. – Ultimamente você está tão esquisito.
- Problemas, Eduarda. Problemas.
- Posso te ajudar em alguma coisa?
- Pode não, amor. Obrigado pela intenção.
- Se precisar de mim você sabe onde me encontrar.
- OK. Muito obrigado.
Tive um dia turbulento e praticamente fiquei só resolvendo problemas de montagem. Se eu já estava estressado por causa das ameaças do Bruno, fiquei duas vezes mais no final do meu expediente.
- Louvado seja Deus, um dia a menos – eu suspirei e repousei a minha cabeça na mesa.
- Tudo bem, Caio? – perguntou Jonas.
- Tudo, chefe. Tudo bem – menti. – Só estou respirando um pouco.
- Quer carona?
- Hoje eu aceito. Estou cansado pra caramba.
- Então eu vou adiantar uns e-mails e a gente já vai, beleza?
- Fechou. Vou me trocar e te espero lá fora.
- Combinado.
Eu me troquei muito rapidinho e saí da loja. Nem lembrava que ele disse que iria falar comigo, mas quando o vi parado na entrada da loja, quase tive um troço.


- Não acredito – bufei.
- Eu disse que ia te procurar, não disse? – Bruno estava magicamente lindo. – Tudo bem com você?
- Como você descobriu a loja que eu trabalho?
- Simplesmente te vi aí dentro. E você fica lindo com esse uniforme, sabia?
- Faça-me o favor – saí andando.
- Espera – ele me puxou pelo braço. – Hoje você não vai escapar de mim.
Bastou sentir a pele dele na minha para o meu coração disparar. Eu me virei, nossos olhos trombaram e imediatamente as minhas pernas ficaram bambas.
- Conversa comigo? – ele deixou os lábios entreabertos. – Por favor?
Meu coração disparou e um frio descomunal invadiu o meu estômago. Eu não sabia o que fazer, nem o que responder.
Muitas coisas passaram pela minha cabeça naquele momento. Ele estava tão mudado, tão diferente... Estava alto, com o corpo mudado, com o rosto mais másculo... Ele estava agindo diferente também. Não era mais afeminado, não tinha mais jeito de bichinha pão com ovo... Como ele estava diferente!
Um filme passou na minha cabeça. Lembrei dos nossos beijos, lembrei das nossas carícias, lembrei das nossas noites de amor... lembrei também das brigas, dos desentendimentos, da traição e da ida dele pra Europa.
As coisas tinham mudado muito. Ele mudou, mas será que eu também tinha mudado? Será que eu também estava diferente???
- Por favor, Caio – os olhos do Bruno estavam expressivos. – Conversa um pouco comigo. Não me maltrata mais...
Engoli em seco. De verdade, eu não sabia mais o que fazer. Por um lado queria sair correndo, mas por outro, queria cair nos braços daquele garoto lindo. Eu estava em dúvida. Mas será que era certo?
Não, não era certo. Não era certo porque eu não era mais o mesmo Caio de antes. Eu não era mais o Caio que cedia tão facilmente como antes. Eu tinha crescido, amadurecido, mudado de ideia com relação ao Bruno e eu não podia cair em tentação. Eu não podia...
Eu não era mais o Caio pelo qual o Bruno tinha se apaixonado. Eu não pensava mais as mesmas coisas a respeito dele e por mais que eu tivesse em dúvida, eu sabia que eu tinha que seguir o lado da minha razão e não do meu coração.
Naquele momento eu não era mais o garotinho de 17 anos que ele havia humilhado, não era aquele adolescente que chorou toda vez que ele me enganou. Eu era o homem que tinha passado por cima de tudo o que ele tinha feito, que tinha dado a volta por cima e que já não sofria mais por ele, mas que mesmo não sofrendo, ainda o amava. Ainda sentia frio na barriga toda vez que olhava para aqueles olhos azuis. Que ainda sentia as pernas bambas quando ouvia a voz dele... A verdade é que eu não sabia o que fazer. Minha cabeça pedia para eu me vingar, mas meu coração pedia para eu tentar uma reconciliação. Mas e se ele me enganasse de novo? E se ele me humilhasse como havia feito no passado? Fiquei sem saber o que fazer, mas algo teria que ser feito. Mas o quê???




Capítulo 10



P
rimo? Eu tinha ouvido certo? Era isso mesmo que eu tinha entendido???
- Pri-primo? O Bruno é seu primo? – eu tive que encostar no portão senão teria desmaiado com o susto.

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- Uhum. Mas de onde você conhece o Bruno?
Fiquei calado digerindo aquela história.
- Caio? Está tudo bem? Tu ficou pálido de repente.
- Hã?
- Qual é, moleque? O que tu tem?
- Nada. Só fiquei surpreso com o que ouvi. Eu não imaginava que você e o Bruno eram primos.
- Mas de onde você conhece o Bruno?
- É uma longa história e eu não quero falar sobre esse assunto. Onde fica a sorveteria? Eu quero ir pra lá.
- É na rua de baixo. Se quiser a gente vai e eu venho na minha avó depois.

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- Não. Pode ir na sua avó. Eu procuro a sorveteria e você me encontra lá, pode ser?
- Pô boa ideia. Só toma cuidado pra não se perder.
- Isso não vai acontecer.

Eu nem falei mais nada e saí andando. Inacreditável, simplesmente inacreditável. Eles não podiam ser primos, isso não podia ser verdade.
Fiquei a ponto de explodir com toda aquela situação. Primeiro os beijos surpresa, segundo a história que o Bruno e o Murilo eram primos... Eu ia surtar. Essa era a sensação que eu tinha!
Não foi difícil encontrar a sorveteria. Eu entrei, sentei em uma mesa e em seguida uma moça foi me atender:

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- Boa noite. Deseja ver o cardápio?
- Hã? Ah, o cardápio... É claro... Obrigado...
Eu peguei um cardápio muito bem elaborado e passei os olhos pelas opções de sorvete que a casa oferecia, mas nem prestei atenção nos títulos.
- Eu quero um de pistache, por favor.
- Uma ou duas bolas?
- Duas.
- Com cobertura de chocolate, caramelo ou morango?
- Caramelo.
- Perfeito. Eu já trago.
- Muito obrigado.
Bruno e Murilo primos. Aquilo estava me cheirando muito mal, muito mal mesmo.
Se bem que na época que eu namorei com o Bruno, eu não conheci a família dele. Só conheci os irmãos, a avó e o pai, sendo que a única pessoa que eu tive um contato maior foi a Dona Terezinha.
Não cheguei a conhecer a mãe nem o restante da família e se isso não aconteceu, o Murilo podia sim ser primo dele. Eu só queria saber por que as coisas tinham que ser daquele jeito. Por que eu fui logo me interessar pelo primo do meu ex-namorado?
- Seu sorvete – a garçonete trouxe um sorvete cuja casquinha tinha formato de flor.

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- Obrigado.
Comecei a degustar a sobremesa, mas sem prestar atenção ao meu redor. Quando eu estava na terceira colherada o Murilo entrou e foi logo tratando de sentar na minha frente.
- Desculpa aí, moleque. Eu demorei, né?

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- Não – continuei mergulhado na minha incredulidade. – Você não demorou.
- Minha avó queria que eu conectasse o novo DVD dela na televisão, maior tédio.
- Hum.
- Já pediu? Nem me esperou?
- Foi mal. Não consegui te esperar.
- Tem problema não. Vou ali pedir e já volto viu?
- Aham.
Enquanto ele foi eu continuei mergulhado nos meus pensamentos. O Bruno e o Murilo não tinham nada a ver um com o outro; não eram nada parecidos fisicamente e isso continuou me deixando encucado. Será que isso era mesmo verdade?
- Já voltei – o boy apareceu com um sorvete igual ao meu.

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- Quer dizer que você e o Bruno são primos? – insisti no assunto.
- Sim e não.
- Como assim?
- Ele não é meu primo de verdade.
Bem que eu estava desconfiando daquela história...

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- Ele é ou não é seu primo? Você me deixou confuso agora.
- Eu cresci achando que era, mas só recentemente eu descobri que não é.
- Me explica isso direito, por favor?
- Acontece que a minha mãe é irmã da mãe dele, mas ele na verdade não é filho da minha tia. Ele é adotado.
- Adotado?
- É. Foi um escândalo na família toda. A gente descobriu que ele na verdade é irmão do pai dele e filho do avô. Uma história meio louca, sacou?
Foi como se eu tivesse ouvido um “click” na minha cabeça. Então quer dizer que toda aquela ladainha que ele me contou no passado era verdadeira?

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- Não entendi? – me fiz de sonso.
- É que é assim: o Bruno foi criado pelo irmão e pela cunhada a vida toda e por isso pensava que era filho deles, mas de repente a verdade veio a tona e a gente descobriu que ele é filho do avô, pai daquele que a gente pensava que era pai dele, entendeu? É um rolo do caralho.
- Acho que entendi – continuei me fazendo de sonso.
- É meio louca essa história parece até coisa de novela, mas é verdade. Daí foi um bafafá do caramba na família toda. Quando eu fui ver ele já tinha até saído do país.

- Ah, é?
- É. Ele foi morar lá na Espanha. Voltou faz pouco tempo.
- E você sabe por qual motivo ele voltou?
- Não. Na verdade desde que ele foi embora eu não mantive mais contato com ele. Ele voltou, mas não procurou mais ninguém da família a não ser a minha avó.
- Como assim?
- Ele está morando sozinho agora. Pelo menos foi isso que eu fiquei sabendo.
- Por que ele está morando sozinho?
- Porque não está se dando bem com ninguém mais. E eu também dou razão pra ele. O cara cresceu achando que era parte da família e tudo era mentira. Zoado.
- Ele é parte da família – bufei.
- É, mas não é como ele imaginou que fosse. Imagina de repente você descobrir que seu pai é na verdade seu irmão, que seus irmãos são seus sobrinhos e que sua mãe é sua cunhada? Eu teria surtado. Acho que foi isso que aconteceu com ele.
- Vamos mudar de assunto? – aquilo começou a me incomodar. Eu já tinha descoberto o que queria e precisava mudar o rumo da prosa.
- Posso perguntar por qual motivo você quis saber disso tudo? Aliás, eu nem deveria ter te contado isso tudo.
- Desculpa. Eu só fiquei curioso. Prometo que não falarei disso com ninguém até mesmo porque eu não conheço a sua família.
- Eu queria saber como você conheceu o Bruno...
- Nós trabalhamos juntos há 2 anos atrás e eu não quero mais falar sobre isso, pode ser?
- Parece que ele te incomoda ou é impressão minha?
- Não – eu balancei a cabeça com meus olhos fechados. – Não é impressão sua. Ele me incomoda mesmo, eu não gosto dele.
- Por quê?
- Tenho lá os meus motivos. Podemos mudar de assunto? Não quero mais falar nele, OK?
- Demorou. E aí, já está de férias na faculdade?
- Graças a Deus já terminei as provas. Agora eu só preciso saber o resultado para saber se passei ou não. E você já está de férias?
- Que nada, só entro em julho. Ainda estou fazendo umas provas também.
- Mas ensino médio é tranquilo. Faculdade é uó.
- É? É tão ruim desse jeito?
- É bem complicadinho ainda mais quando você tem que trabalhar junto. Às vezes eu penso que vou enlouquecer com tanta coisa que tenho pra fazer.
- Pô, aí é zoado.
- Pois é, mas eu dou conta – suspirei.
- Hum...
Terminei o meu sorvete pensando em tudo o que ouvi. Quer dizer que era verdade... E eu cheguei a julgá-lo pensando que ele havia mentido pra mim...
Será que foi esse o motivo dele ter saído do Brasil? Será que o Murilo sabia? E se eu perguntasse? E se eu soubesse da verdade por outro que não fosse o Bruno?

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Não. Eu não ia perguntar. Não tinha o direito de me intrometer no assunto da família do garoto. E se eu quisesse mesmo saber do motivo, eu tinha que perguntar direto pro Bruno.
Confesso que ao ouvir essa história, a curiosidade bateu dentro de mim. Naquele momento eu não estava sentindo ódio pelo Bruno e talvez até pudesse ouvir o que ele tanto queria me dizer. Mas será que aquele era o momento?
Será que eu estava preparado para ouvir a verdade? Será que eu ia conseguir suportar o que ele tinha pra me falar?
E se fosse algo ruim? E se ele foi embora porque não queria mais nada comigo? E se a verdade me fizesse sofrer?
Sofrer mais do que eu já tinha sofrido? Isso seria possível? Eu cheguei a conclusão que não!
Eu cheguei a pensar que estava na hora de colocar os pingos nos is. Estava na hora de saber a verdade e estava na hora de deixar o Bruno falar...
- Pensando? – ele me encarou.

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- É.
- Em quê?
- No passado. Pensando no passado.
- No passado? Mas o próprio nome diz: passado. E se é passado tem que ficar pra trás. Não é melhor você pensar no presente e no futuro?
- Até seria se eu tivesse um passado que não tivesse me deixado marcas tão profundas.
- Pô até pareceu um poeta agora.
- Só falei a verdade.
- Caio eu preciso ir agora. Ainda tenho que fazer lição de casa, maior saco.
- Eu também tenho que ir. Vou pagar a conta e partir pra casa.
- É eu também. Amanhã é dia.
- Amanhã é dia – eu concordei.
Murilo e eu dividimos a conta. Cada um pagou o seu e em seguida nós saímos da sorveteria.
- Prazer te encontrar – o novinho me encarou.
- O prazer foi todo meu. Por favor, não fale pra ninguém que a gente está saindo, tá bom?
- Pra quem eu falaria? Ninguém sabe de mim, porra.
- Melhor assim. Não comente com o Bruno que você me conhece. Promete?
- Ainda vou querer entender o que você tem contra o Bruno. Isso está muito esquisito.
- Promete ou não?
- Prometo, prometo. Se te faz feliz...
- Obrigado. Qualquer coisa a gente vai se falando pelo celular.
- Fechou. Até mais então.
- Até, Murilo.

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Cheguei em casa, não falei com ninguém e fui direto pro meu quarto. Para a minha surpresa, nenhum dos meninos estava lá e isso me deixou encafifado.
Mas bastou pensar um pouco que eu consegui encaixar as coisas. Vinícius provavelmente estava na casa da namorada e o Fabrício deveria estar adiantando o TCC na casa de algum colega. Só precisava saber onde estava o Rodrigo.
Ligar ou não ligar, era a questão. Se eu ligasse poderia atrapalhar algum encontro ou qualquer coisa do tipo e isso eu não queria fazer. Por mais que eu amasse o meu amigo, atrapalhar eu não iria, né?
O jeito seria esperar. Ainda estava um pouco cedo e provavelmente ele iria aparecer logo, mas isso não aconteceu.
Quando o relógio marcou 23 horas eu comecei a ficar preocupado e cheguei sim a cogitar um telefonema, mas não precisou. Quando eu peguei o aparelho e comecei a discar o número dele, o garoto apareceu no nosso quarto.
- Onde você estava? – fui direto ao ponto.
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- Eu saí. Por quê?

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- Não me disse aonde ia, eu fiquei preocupado!
- Ah, desculpa. Você saiu sem mais nem menos e eu não tive como te avisar, mas já estou aqui. Está tudo bem?
- Mais ou menos.
- O que foi dessa vez?
- Nada não – eu suspirei.
- Você não me engana! – Rodrigo sentou na minha cama. – O que houve? Por que está com essa carinha?
Fiquei calado. O menino deitou ao meu lado e me empurrou para perto da parede. Quando menos esperei ele já estava me abraçando.
- O que você tem? Fala pra mim? Foi o Bruno de novo?
- Não.
- O que foi então?
- Eu te contei do Murilo, né?
- Sim. O que tem ele?
- A gente ficou.
- Ah, é? Que bom. Sinal que está esquecendo o Bruno de novo!
- E eu descobri que ele é primo do Bruno.
- PRIMO? – Rodrigo não disfarçou o choque. – Não acredito!
- Pois é. Eu também não.
- Caramba, Caio! Você só pega povo dessa família, hein? Daqui a pouco vai catar o avô dele.
- Besta – eu dei risada. – Na verdade eles não são primos de verdade.
- Como assim? Eles são ou não são primos?
- Não. Você lembra aquela história que o Bruno é adotado?
- Acho que lembro. Refresca a minha memória.
- Então, lá no passado ele disse que descobriu que era filho do avô dele, você lembra?
- Ah, é. Lembro sim. O que tem isso?
- O Murilo confirmou. É verdade mesmo.
- E o que tem isso?
- Tem que na época eu não acreditei muito no assunto.
- Mas na boa? Qualquer um em sua sã consciência desconfiaria de um papo desses, né?
- Pois é, mas é verdade. Eu julguei em vão o cara.
- E agora você está com peso na consciência por causa disso?
- Não. Continuo querendo que ele se foda.
- Então ótimo. Mas por que está com essa carinha triste então?
Nesse momento ele deu um beijinho no meu rosto.
- Porque sei lá. Eu meio que fiquei curioso de novo pra saber porquê ele saiu do país. Você acha que eu devo procurá-lo pra entender o assunto?
- Não – a resposta dele foi imediata. – Não deve porque ele te fez sofrer demais. Agora ele que pague por isso. Dá um gelo e já era.
- Era isso que eu precisava ouvir – desviei os olhos do Digow e fiquei olhando pra parede.
- Não vai ficar pensando nele, vai?
- Vou tentar pensar em outra coisa.
- Eu tenho algo pra te contar, Caio – Rodrigo intensificou o abraço e colocou o queixo no meu ombro.
- Tem é? E o que é?
- Primeiro eu preciso que você prometa uma coisa.
- Que coisa?
- Eu preciso que você prometa que você não vai me matar.
- Ai, Deus... O que você aprontou? – eu voltei a olhá-lo.
- Sabe o que é? – Digão engoliu em seco e mordeu o lábio.
- Hum?
- É que eu estou...
- Você está o quê, Rodrigo?
- Eu estou... Namorando...

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