sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Capítulo 111

MEu rosto foi iluminado pela imensidão de cores que cortava o céu da cidade do Rio de Janeiro.
O barulho dos fogos de artifício juntamente com a gritaria dos milhões de milhares de pessoas que estavam ali era ensurdecedor.
Eu estava me sentindo em paz. Pedi à Deus todas as coisas que queria naquele ano e pedi também que todas as energias ruins que me acompanharam em 2.007 fossem embora.
Eu queria que 2.008 fosse um ano de mudanças. Queria voltar a estudar; queria conhecer pessoas novas; lugares novos; queria crescer espiritualmente falando; queria crescer profissionalmente; adquirir novos conhecimentos e explorar novos horizontes.
Para isso, eu teria que ser determinado. E era isso que eu seria naquele ano que tinha acabado de iniciar. Determinação seria a palavra de ordem!
Nada de tristeza; nada de rancor; nada de brigas; nada de choro; nada de ficar pensando no passado; nada de ficar pensando em quem não fazia mais parte da minha vida!
Adeus pai; adeus mãe; adeus irmão e adeus Bruno. Nenhum deles faria mais parte da minha vida e eu não ia ficar pensando em nenhum deles. Nenhum.
Eu estava confiante. Sabia que se eu lutasse para conseguir meus objetivos, eu ia alcançá-los.
Então era isso. Que viessem os desafios; que viessem as batalhas; que viessem os obstáculos; as pedras e os espinhos. Eu estava pronto! Proto e com muita força dentro de mim para passar por cima de quem quer que fosse que quisesse atrapalhar o meu caminho... Uma força incomum, uma força que eu nem sequer sabia que tinha...
Mas que também viessem as coisas boas. Que viessem novos amigos, novas pessoas; que viessem novas oportunidades; que viessem novos conhecimentos; viagens, passeios, baladas... E que viesse acima de tudo um novo amor.
Um amor que me completasse, que soubesse me aceitar com meus defeitos; um amor que me respeitasse, que cuidasse de mim...
Um amor que fosse verdadeiro e não platônico; um amor simples, mas real; um amor que fosse só meu e que eu não tivesse que dividir com mais ninguém...
Será que eu era merecedor desse amor? Será que eu tinha feito coisas boas para o universo me dar o que eu estava pedindo?
A lei do retorno é verdadeira e eu sabia que só iria receber o que estava pedindo se eu também desse algo em troca.
O que eu poderia oferecer? Eu não sabia responder essa pergunta... Talvez a minha bondade e benevolência...?
Talvez a minha amizade? Talvez o meu carinho para com as pessoas? Ou quem sabe a minha caridade?
No ano que tinha acabado de morrer, eu ajudara algumas pessoas que estavam passando fome. Não foram uma, nem duas vezes que eu dei comida a quem estava com fome. Será que isso voltaria pra mim de alguma forma? Eu ia ter que esperar pra ver.
O show pirotécnico durou cerca de 15 minutos e foi simplesmente maravilhoso.
A maioria das pessoas à minha volta estava se abraçando, se beijando, se cumprimentando e desejando feliz ano novo umas às outras. Eu não me abalei com isso. Estava sozinho, mas estava muito feliz. Estava sozinho fisicamente, mas acompanhado espiritualmente. Deus estava comigo, Deus estava ao meu lado.
O que me atrapalhou foi o cansaço e a dor nas costas. Por mais que eu fosse jovem, trabalhar em casa do jeito que eu trabalhei me esgotou fisicamente e deixou algumas partes do meu corpo doendo.
Mesmo já tendo passado quase 30 minutos da meia noite, eu resolvi pular as 7 ondas, como muitas pessoas estavam fazendo.
Custei a chegar na beira do mar devido ao número impressionante de pessoas que estavam ali, mas quando o fiz, fui logo tratando de pular as ondas que vieram ao meu encontro.
Não sei se tinha que fazer um pedido ou não, mas por via das dúvidas, resolvi fazer. Era melhor pecar pelo excesso do que pela falta.
Na 1ª onda, eu pedi saúde; na 2ª, paz; na 3ª, um love; na 4ª, dinheiro; na 5ª, prosperidade; na 6ª, sorte e na 7ª, sucesso em todos os sentidos da minha vida.
Então a sorte estava lançada. Determinei tudo o que eu queria naquele ano novo e tirei do meu coração todos os sentimsntos ruins e energias negativas que havia dentro dele.
Sim, aquele ano seria diferente de todos os outros da minha vida. Era o 20º ano da minha existência e eu ia fazer de tudo para ser o mais feliz possível. Será que eu ia conseguir?
Mesmo não tendo companhia, fiquei na praia até altas horas da madrugada. A felicidade alheia me contagiou e eu fiquei lá, vendo as famílias e os amigos felizes. Isso me deixou feliz também.
Só resolvi voltar para minha casa quando meu corpo não aguentou mais ficar em pé. Meus pés e minhas pernas estavam reclamando tanto que eu cheguei ao ponto de pensar em sentar na areia suja para descansar, mas não fiz isso.
Subi vagarosamente até o meu ponto de ônibus e quando cheguei lá, encostei em um dos ferros, fechei os olhos e suspirei profundamente. Que cansaço estava sentindo!
Não demorou muito para meu ônibus aparecer. Isso me deixou aliviado. Só de saber que eu ia poder deitar e dormir fiquei ainda mais feliz do que já estava.
Cheguei em casa quase 5 da manhã. Meu bairro, excepcionalmente a minha rua, estava muito barulhenta, mas eu tinha certeza que isso não ia atrapalhar meu sono. O cansaço estava falando mais alto.
E não é que acertei? No mesmo momento que fechei os olhos, mergulhei em um sono calmo e profundo. Só consegui acordar em definitivo por volta das 14:00 daquele 1º de janairo.
Quando peguei meu celular, vi várias ligações perdidas e muitas mensagens recebidas. Li todas, respondi uma por uma e esperei as pessoas me ligarem de volta.
Uma delas foi o Rodrigo. Claro que ele ia me ligar, eu não ia esperar menos dele. Fabrício também me telefonou e todos os outros me mandaram SMS.
A Amanda e o Víctor também me mandaram mensagem. Que bom que eles haviam lembrado de mim!
Levantei, fui tomar mais um banho – eu já tinha tomado quando cheguei de madrugada – e em seguida providenciei meu almoço de ano novo.
Estava morrendo de fome quase no sentido literal e não ia conseguir esperar por um rango mais sofisticado, mas não cheguei ao ponto de fazer macarrão instantâneo como no natal. Cozinhei carne moída e fiz meu velho macarrão. Era uma das poucas coisas que eu sabia fazer bem.
E foi o que me salvou. Eu comi dois pratos e ainda não me senti saciado. Só parei por causa do meu físico. Por incrível que pareça, eu já estava engordando um pouquinho.
Wellington ia me fuzilar na volta à academia. Eu já estava até vendo o sermão que ele ia me passar: “Agora vai ter que treinar em dobro para perder essa gordura que adquiriu! Quem mandou exagerar?”...
Pouco me importava. Quem é que não exagera no final de ano? Eu sou como todos os brasileiros, não resisto a um bom prato de comida.
Entrei na internet e responti todos os meus scraps de ano novo. Mandei alguns outros para umas pessoas que não tinham mandado pra mim e em seguida loguei no MSN.
Ninguém online. Que tristeza! Se já não bastasse ficar sozinho em casa, eu também estava sozinho na internet. Mas era de se esperar. 1º dia do ano, as pessoas estavam de ressaca ou dormindo.
Liguei a televisão e fiquei assistindo um programa na tevê à cabo. Estava falando as previsões para os famosos. Isso me interessou bastante.
Meia hora depois meu telefone tocou. Era o Digow e eu atendi muito rapidamente.
- Oi, Digow... FELIZ ANO NOVO!
- Não precisa gritar, meu. Sou surdo não – ele estava com a voz muito sonolenta. – Tudo bem aí?
- Maravilhosamente e você?
- Também! Feliz ano novo, viu?
- Obrigado, Digow. Pra ti também... Como foi a virada?
- Bonita e a sua?
- Linda, perfeita. Excepcional.
- Passou em Copa?
- Isso! E você?
- Aqui em Curitiba mesmo. Eu vi Copa pela televisão, muita gente, hein?
- Muita! Fiquei espremido lá, quase não consegui chegar no mar, mas foi bom.
- Foi com quem?
Dessa vez eu não ia mentir não.
- Eu e Deus.
- Você foi sozinho? – ele ficou chocado.
- Não, já disse que estava com Deus.
- Filho da puta... Por que não disse que ia ficar sozinho? Eu acreditei em você... Eu teria ido ficar aí com você...
- Você acha que eu ia fazer você perder o ano novo ao lado da sua família? Até parece. Não estava sozinho, Rodrigo. Havia milhões de milhares de pessoas ao meu redor. Eu estou feliz demais.
- Mas é foda passar a virada de ano sozinho, Caio! Não gostei disso não.
- E você tem que gostar? Não foi ruim, foi ótimo. Eu fiz minhas orações, tracei minhas metas, meus objetivos... E eu estou tão bem!
- De verdade mesmo?
- Claro, Digow. Acredita em mim, eu estou muito bem.
- Coitadinho de você, Cacs. Eu estou com o coração partido, na moral.
- Não fique, de verdade. Está tudo bem.
- Se você está dizendo – ele bocejou. – O que está fazendo?
- Vendo televisão e você?
- Acabei de acordar, vou levantar pra almoçar.
- Delícia. Muita gente aí?
- Aqui, aqui, aqui ou aqui em casa?
- As duas coisas.
- Aqui, aqui, aqui não. Estou no meu quarto, dormi sozinho. Aqui em casa tem gente pra caralho. Toda a minha família está aqui.
- Pegou alguém já? – perguntei.
- Opa! Várias. Catei duas primas e várias gatinhas da minha rua.
- Rodrigo, Rodrigo, Rodrigo... – eu ri. – Daqui 9 meses você vai ver o resultado. Vários Rodriguinhos por aí em Curitiba.
- Você é doido? Eu sei fazer as coisas, moleque. Pra isso existe camisinha.
- Mas já fez esse ano? – eu me espantei.
- Não. Esse ano ainda não, mas daqui a pouco eu faço – ele deu uma risadinha safada.
- Falou aí, garanhão!
- Fazer o quê, né? Tenho muito mel.
- Cala a boca, idiota – ri. – Você se acha demais.
- Fala se não sou gato? Fala se não sou gostoso? Fala se não sou cheiroso?
- Gatinho você é e cheiroso também. Gostoso já não sei te responder, nunca experimentei pra saber!
- E nem vai experimentar, nem em sonhos – ele deu outro bocejo. – E você? Já pegou alguém?
- Que nada. Estou tranquilo. Ontem eu peguei a vassoura e o rodo e mais nada.
- Fez faxina sozinho?
- Fiz sim. Na verdade eu lavei a casa inteira.
- Lavou?
- Meti água em tudo que foi canto.
- Por que? A casa não estava tão suja assim, estava?
- Um pouquinho. Tinha pó por tudo que era canto e eu senti uma necessidade de lavar a casa todinha.
- Como assim, doido?
- Sei lá, Digow. Parece que tinha alguma coisa me falando para lavar a casa toda. A energia agora está tão leve, sabe?
- Da hora. Pena que fez isso sozinho.
- Confesso que fiquei um pouco morto, mas acordei agora há pouco e já me recuperei fisicamente.
- Eu estou preocupado com você, Caio. Como está se virando aí sozinho? Ainda nem acredito que você passou a virada sozinho em Copacabana...
- Você fala como se eu fosse um garotinho indefeso, Rodrigo – fiquei irritado. – Eu sei me cuidar muito bem.
- Pra mim você é mesmo, sabe? Um menino indefeso que precisa de mim para te fazer companhia...
- Que lindo, Digow – me derreti. – Obrigado pela sua amizade, mas eu estou ótimo. Acredite.
- Tem certeza? Não está mentindo pra mim não?
- Não – sorri. – Lindo, eu já disse que te amo?
- Muito obrigado pela parte que me toca, mas você não faz meu tipo.
- Mas você faz o meu... E se continuar lindinho desse jeito, a primeira coisa que vou fazer quando você chegar aqui é te agarrar.
- Cruzes. Não, muito obrigado. Eu, hein?
- Besta! É brincadeira, né?
- Toda brincadeira tem um fundo de verdade. Quando eu voltar vou começar a dormir com um facão embaixo do travesseiro.
- Vai me matar enquanto eu durmo?
- Não. Só perfurar o seu fígado se você vier com gracinha pra cima de mim.
Caí na risada. Rodrigo e eu trocamos ideia por mais alguns minutos, mas pouco tempo depois a ligação caiu.
- Deve ter ficado sem crédito – suspirei.
Eu não podia ligar porque ele estava em roaming e ia gastar mais créditos se atendesse ligação. Fiquei me perguntando por qual motivo ele não tinha um número de telefone do Paraná. Seria muito mais fácil falar com ele caso ele tivesse esse número.
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Foi complicado voltar ao trabalho na manhã seguinte. Se dependesse de mim, eu teria ficado em casa mais uns 2 ou 3 dias para arejar a minha cabeça.
- Lindo – Janaína me espremeu enquanto ria. – Que saudade!
- Eu também, amor. Como foi seu final de ano?
- Perfeito e o seu?
- Incrível. Onde passou?
- Em Copa e você?
- Eu também. Acho que a gente e o resto do mundo passou lá, né?
- Verdade – ela riu de novo. – Pulou as 7 ondas?
- Claro! Fiz muitos pedidos e promessas para esse ano.
- Eu também fiz. Triste voltar à realidade depois de dois dias de folga, né? Eu sei bem o que é isso aí.
- Horrível. Como foi aqui ontem?
- Literalmente vazio. Não tinha ninguém nessa loja, não vendi quase nada.
- Complicado. E o tal do Laerte?
- Um gerente muito simpático, mas um pouco rude.
- Simpático e rude? Se ele é simpático não pode ser rude e se ele é rude não é simpático!
- Fiquei confusa, cara. Quer dar um nó no meu cérebro? Calma! Ele é simpático, mas é meio ignorante. Ah, sei lá! Ele ou é 8, ou é 80!
- Ah, Jana! Só você mesmo. Deixa eu falar com a Duda e ir trabalhar...
- Vai lá, mais tarde a gente conversa no almoço.
Eduarda me saldou com um grande abraço. Eu contei como tinha sido a minha virada, ela contou a dela e em seguida eu fui pro meu setor. Todos os meus colegas foram falar comigo naquela manhã de quarta-feira.
Quando o Jonas e a Alexia chegaram eu tive que repetir tudo o que já havia falado durante toda a manhã.
- E foi isso – finalizei.
- O meu também foi legal – disse Alexia. – Esse ano promete. Adoro anos bissextos.
- Eu também adoro, nasci em um. Eu acho que me traz sorte, sei lá.
- É eu também tenho essa sensação. Bobagem, né?
- Vai ver que não! Às vezes não é bobagem, às vezes é verdade. Eu acredito muito nisso e não acredito nessas coisas de “não existe isso”, “não existe aquilo”.
- Também penso como você.
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SÁBADO, 05 DE JANEIRO DE
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Quando eu cheguei na porta da academia, li um panfleto que informava que a abertura seria somente no dia 7.
Ou o Wellington confundiu a data, ou eu comi bola, ou a academia mudou de ideia.
- Bom, pelo menos vai abrir na segunda, né? – falei sozinho. – Ninguém merece malhar no sábado!
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SEGUNDA-FEIRA, 07 DE JANEIRO DE 2.008
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Saí da loja pensando como seria a minha volta à academia. Será que o Wellington ia mesmo brigar comigo?
Não deu outra:
- Vem comigo, Caio Monteiro.
- Para onde?
- Vou fazer uma nova ficha pra você e preciso saber como anda seu peso, sua altura...
- Ah, entendi.
Nós entramos na mesma sala que eu fiz meu exame médico. Meu personal trancou a porta com a chave quando eu passei e foi logo ao ponto:
- Tira a roupa e sobe na balança.
- Hã? – arregalei meus olhos. – É pra ficar pelado???
- O certo seria, mas poupe-me dessa visão do inferno, por favor. Pode ficar de cueca. Minhas retinas agradecem.
Que vergonha! Eu fiz o que ele me pediu e rapidamente ele fez o que tinha que fazer.
- Deixa a coluna ereta, Caio...
Estiquei minha coluna e ele mediu a minha altura. Percebi que havia engordado quase 10 quilos desde que começara a malhar naquela academia.
- 1m80 – ele anotou na fichinha. – E 73 quilos.
- Eu cresci! – me espantei.
- Cresceu? Quantos centímetros?
- 1. Eu estava com 1m79. E engordei 8 quilos, eu acho.
- É, mas exagerou nesse final de ano, né?
- Um pouquinho – senti minha bochecha queimar.
- Dá pra perceber.
- Como? Tão facilmente desse jeito?
- Olha essas gordurinhas aqui – ele pegou nos meus pneus. – E aqui – e também na minha barriga.
- Ah, Well... Foi impossível resistir.
- E o cardápio? Está seguindo agora?
- Agora eu estou! – falei a verdade.
- Vou marcar outra consulta com a nutricionista. Vou pedir para ela mudar sua alimentação. Já está na hora.
- É?
- Agora você vai precisar ingerir mais proteína que carboidrato.
- Ainda não cheguei ao peso que eu quero, Well.
- Quanto você quer pesar?
- Quanto seria necessário para eu ficar com um corpo realmente bacana?
- Depende do corpo que você quer, cara.
- Mais ou menos como o seu – senti minha bochecha queimar de novo.
- Ah... Uns 76 mais ou menos.
- Então eu quero chegar nisso aí.
- Não vai ser tão fácil assim. Não é do dia pra noite.
- Mas eu engordei esses 2 quilos muito rapidamente.
- Isso é, na verdade vai depender do seu metabolismo. Pode se vestir, já cansei de te ver de cueca. Visão do inferno.
Sorri. Eu é que queria vê-lo daquela forma, ou melhor, queria vê-lo sem nada. Totalmente nu e de preferência com o negócio duro.
- Senta aí que vou fazer sua ficha nova.
- Beleza. Não judie muito de mim.
- Não vou judiar. Vou te passar outros abdominais, beleza?
- Tranquilo.
A série foi praticamente a mesma. Ele só aumentou a intensidade de repetições e o peso que eu ia pegar. Acrescentou alguns novos aparelhos e modificou os exercícios para a barriga.
O pior de todos foi trabalhar o tórax. Eu não queria ficar com o tórax muito definido, preferia a barriga, mas se não trabalhasse essa parte do corpo, ela ia ficar desproporcional com as demais.
- Força, Caio – Gabriel me incentivou.
- Estou tentando. É impressão minha ou você diminuiu de tamanho?
- Eu diminuí um pouco as séries. Estava ficando bombado demais.
- Posso ser sincero?
- Claro!
- Estava mesmo. Já estava ficando feio.
- Como a academia fechou esse final de ano, eu acho que emagreci um pouco.
- Parece que sim. Se perder mais um pouco de massa, vai ficar bem legal.
- É eu vou ver o que faço.
- E eu vou criar coragem para terminar esse tórax.
- Vai fundo.
Só saí da academia depois das 22:00. Nunca tive sorte de pegar um gatinho pelado no vestiário. Eu tinha que dar um jeito disso acontecer.
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DIAS DEPOIS...
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Cheguei em casa e não tive tempo de fazer mais nada. fui obrigado a ir direto pro notebook.
- Você já chegou em casa? – Rodrigo me ligou pela 3ª ou 4ª vez.
- Calma, Digow – já estava ficando irritado. – Eu acabei de chegar, estou abrindo o notebook.
- Anda logo, eu estou impaciente já!
- Calma! Quem nasceu de 7 meses aqui fui eu.
- Já abriu o site?
- Quer fazer o favor de esperar? O note está carregando ainda.
- Que demora! Já pedi seus dados, eu vejo aqui, mas você não passa!
- Eu quero ver, Rodrigo – suspirei. – Para de ser chato!
- Eu tenho certeza que você passou. Dessa vez você passou!
- Como pode ter tanta certeza assim? Você também tinha certeza que eu ia passar na 1ª chamada e isso não aconteceu.
- Mas agora vai acontecer. Sua nota do Enem foi boa, você vai conseguir essa bolsa do ProUni, você vai ver...
- Calma, não se desespera. Vou logar na internet.
- Ainda não fez isso?
- Você é agoniado demais, Deus me livre...
Abri a página do MEC e fui verificar se tinha ou não sido selecionado para o ProUni, mas a resposta foi mais uma vez negativa.
- E aí? E aí? Você passou, não passou? – perguntou Rodrigo.
Eu poderia jurar que ele estava pulando e roendo as unhas. Nunca havia visto o meu amigo tão ansioso como naquele momento.
- Adivinha? – fiz suspense.
- VOCÊ PASSOU? AEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE!!! PARABÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉNS, CAIÔÔÔÔÔÔÔ!
- Ele passou? – eu ouvi a voz da mãe dele ao fundo. – Eu quero falar com ele!
- Nem acredito, mano! Parabéns, eu sabia que você ia passar...
- Rodrigo, quer fazer o favor de me ouvir?
- Que da hora, que da hora! Nós vamos estudar na mesma faculdade... Qual vai ser seu turno? De manhã ou à noite? E qual o curso? Puta, você passou, Caio! Eu sabia...
- RODRIGO, CALA A BOCA! EU NÃO PASSEI!
- Ah – a desmotivação dele foi nítida. – Ah, não?
- Não! Calma! Você está muito afoito, nem deixou eu falar nada!
- Sério mesmo? Não acredito nisso...
- Sério, Rodrigo. 5 bolinhas vermelhas aqui na minha frente. Infelizmente não foi dessa vez.
- Ah – ele ficou sem graça. – Que droga! Mas vai ter outra chamada. Talvez você ainda possa passar.
- Se Deus quiser. Ainda não perdi as esperanças.
- A minha mãe quer falar com você. Vou passar pra ela, tá?
- Beleza!
- Alô? Caio?
- Olá, Dona Inês! Tudo bom?
- Bem, querido e você?
- Bem também, obrigado!
- E aí? Você passou no ProUni?
- Passei ainda não, Dona Inês. Mas ainda terá uma chamada, ainda posso ser selecionado. Quem sabe, né?
- Ah, é! Tenha fé em Deus que tudo dará certo. Meu marido e eu estamos te esperando aqui em casa qualquer dia desses, hein?
- Pode deixar. Eu irei assim que tiver uma oportunidade. E o Digow? Se comportando bem aí?
- Esse danado está aprontando todas. Saindo cada dia com uma menina diferente, vê se pode.
- Ah, normal. Ele é assim mesmo.
- Você o conhece bem, né? Nem preciso falar nada.
- Conheço sim – dei risada. – E a senhora? Está bem mesmo?
- Graças a Deus, filho. Na medida do possível está tudo em ordem. Foi tudo bem aí na virada do ano?
- Sim. Nada de anormal. E por aí?
- Aqui também. Então tá bom, Caio. Eu vou desligar que a panela de feijão está no fogo, viu? Depois a gente se fala melhor.
- Tudo bem, Dona Inês. Fica com Deus. Boa noite!
- Amém, fique com Deus você também.
Só a mãe do Rodrigo para cozinhar feijão aquela hora da noite. Já era quase 00:00, isso não era mais horário para fazer comida, mas cada um com as suas maninas, não é mesmo?
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Quando eu cheguei em casa em na segunda-feira da última semana de janeiro, fiquei extremamente amedrontado.
Eu abri a portinha que dava acesso às escadas e ouvi um barulho dentro da casa. Havia 3 opções: ou era um ladrão, ou uma alma penada, ou alguém tinha voltado de viagem...
Subi as escadas o mais silenciosamente possível. Será que era um ladrão? E se fosse? O que eu ia fazer?
O barulho vinha da cozinha. Eu andei lentamente até o cômodo e quando vi o Kléber lavando a louça, o meu coração bateu aliviado.
- Que susto, Klé...
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH – ele deu um pulo, gritou e soltou o copo que estava lavando no chão. – Que susto, Caio! Quer me matar do coração?
Caí na gargalhada. Eu nunca tinha visto alguém tão branco como ele ficou. O garoto sentou em uma das cadeiras e colocou a mão no coração.
- Com outra dessa eu vou conhecer Jesus – ele respirou fundo. – Que susto!
- Susto tive eu. Pensei que era um ladrão.
- E eu pensei que era um espírito! Deus me livre.
- Tem medo?
- Morro de medo!
- O que está acontecendo aqui? – Miguel apareceu na cozinha de supetão. – Que grito foi esse?
- O Caio que quase me matou do coração – disse Kléber.
- Quem me assustou foram vocês. Não sabia que iam voltar hoje e fiquei com medo quando ouvi um barulho aqui em cima.
- É Caio, o erro foi nosso – Miguel sentou ao meu lado. – Nós deveríamos ter avisado, desculpa.
- Imagina! Não tem problema não. E aí, como foram de viagem?
- Bem – respondeu Miguel. – E por aqui, como foi? Você estava sozinho mesmo?
- Como soube?
- Você falou por MSN, não lembra? – perguntou Kléber.
- Ah, é verdade! Esqueci. É, fiquei. Todos foram viajar e eu fiquei, mas não tem problema não. Foi tranquilo.
- Ah, que bom...
Fiquei feliz pelos irmãos terem voltado pro Rio. Eu não ia mais ficar sozinho e ia ter com quem conversar. Isso me deixou realmente muito alegre.
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Mas tudo melhorou e melhorou muito quando o Vinícius apareceu em casa, dois dias depois da volta dos irmãos.
- Que saudade – falei quando eu o abracei.
- Eu também estava. E aí, me conta que históra é essa do senhor ter ficado aqui sozinho?
- É, fiquei sim. Mais de um mês na verdade. Eu pensei que você ia voltar antes, sabia?
- Ia mesm, mas não deu. Fui ficando, fui ficando, fui ficando e quando vi já estava no final de janeiro. Desculpa, eu deveria ter voltado no começo do mês pra te fazer companhia.
- Imagina, Vini! Não perca a oportunidade de ficar com a sua família não. Isso é sagrado. Eu fiquei bem sozinho. Até já tinha me acostumado.
- E os meninos voltaram quando?
- Anteontem. Acho que os outros também estão pra vir, né?
- Falei com o Éverton hoje, ele e o Maicon voltam amanhã já. Rodrigo volta na semana que vem e o Fabrício eu não sei. Nem sabia que ele tinha viajado!
- Isso porque vocês são melhores amigos, né?
- Verdade – ele abriu aquele sorriso lindo que me fascinava. – Imagina se a gente não fosse, hein?
- Pois é! E aí, muita saudade da Bruna?
- Que nada, ela foi pra lá agora no começo do ano. Nós ficamos juntos, ela conheceu toda a minha família. Foi muito bom!
- Ah, bacana. Que bom que o namoro está indo bem então.
- Está sim, graças a Deus.
Coloquei todo o papo em dia com o Vini. Ter um dos meus amigos verdadeiros de volta em casa era bom demais. Bom demais pra ser verdade.
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Levantei primeiro que o Vinícius na manhã seguinte. Ele estava dormindo de bruços e usava epenas uma cueca branca. Ele e aquelas cuecas benditas. Melhor que aquilo só ele estando pelado mesmo.
Me espreguicei, cocei os olhos, peguei uma roupa limpa, uma toalha seca e fui direto pro banho. A água estava quente demais. Será que a água da caixa estava acabando?
Por via das dúvidas, não demorei muito no chuveiro. Até chequei se a temperatura estava correta, vai que algum dos rapazes tinha trocado, mas estava tudo certo. A temperatura continuava no morno. Que coisa mais estranha!
Me sequei, coloquei a minha roupa, escovei os dentes e dei uma arrepiada de leve nos meus cabelos. Eu queria mudar o meu visual. Queria fazer alguma coisa diferente nas madeixas, mas o quê?
Peguei toda a minha roupa suja e caminhei até a lavanderia. Quando cheguei perto de lá, ouvi um barulho e diminuí a minha velocidade. Quem quer que fosse ia se assustar com a minha presença.
Era o Kléber. Eu fiz menção de me aproximar um passo a mais para dar um novo susto no menino, mas quando eu vi o que ele estava fazendo, parei imediatamente.
Fiquei espantado quando o garoto pegou uma cueca branca de dentro do baldinho do Vinícius. Eu tinha certeza que a peça era do meu amigo porque já o havia visto com ela várias vezes. Várias vezes mesmo. Era inconfundível não só pelo tecido, mas também pelo Kléber a ter tirado de dentro do balde do Vini...
Se antes eu já tinha certeza que ele era gay, naquele momento então nem precisei de mais nada... Eu só queria saber para que o Kléber tinha pegado aquela peça de roupa.
O jovem abriu todo o tecido e ficou alisando a parte da frente. Claro que ele era gay! Óbvio que era... Que hetero ia fazer isso com a cueca alheia? Acho que nem com a própria cueca um hetero faria isso...
Que safado! Então ele estava de olho no Vini... Que safado e que esperto ao mesmo tempo. Pelo menos ele tinha bom gosto.
- Bom dia, Kléber, tudo bem aí?
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