sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Capítulo 114

Admirador secreto? Que coisa mais cafona! Quem no século XXI brincava de admirador secreto? Só poderia ser uma brincadeira de algum amigo meu. Nem dei valor as mensagens e apaguei todas. Era só o que me faltava.
- Amanhã conversaremos sobre o assunto – Jonas estacionou o Fusca. – Caio, pode levantar para ela descer, por favor?
- Ah, claro.
Saí do Fusca e dei espaço para a Camila passar. Ela agradeceu a carona, pediu desculpas mais uma vez e em seguida entrou em casa.
- Eu mereço, Caio? Eu mereço uma coisa dessas?
- Meu... Coitado do Gabriel!
- Coitado porra nenhuma! Quem mandou não encapar o pau? Vai meter sem borracha, dá nisso. Eu acho é pouco, tomara que uma 3ª apareça grávida pra ele aprender a respeitar as mulheres e que elas estejam esperando trigêmeos cada uma.
Caraca! Que maldade!
- Nisso você tem razão.
- Cara burro! Só quer comer, comer, comer e não assume ninguém... Agora deu no que deu! Quero só ver no que isso vai dar.
Eu ainda estava perplexo. Por mais que o Gabriel tivesse sido um idiota, eu estava com dó dele. Ele ia ter que assumir 2 crianças que iam ter mais ou menos a mesma idade. Como será que ele ia reagir nessa situação?
Jonas e eu fomos trocando ideia até chegar na minha casa. O meu chefe estacionou e disse:
- Está entregue.
- Muito obrigado! Quer subir? Conhecer minha casa, meus amigos?
- Não fera, fica pra próxima. Eu preciso descansar que hoje o dia foi complicado.
- Imagino! Obrigado pela carona.
- Por nada. Agora que você é do meu horário, posso te trazer todos os dias se você quiser. Só não quando eu for sair com alguma gata – ele sorriu.
- Imagina, Jonas! Não vou te dar esse trabalho.
- Trabalho nada, é caminho. Eu já disse que moro aqui perto. Não me custa nada te trazer em casa.
- Não, de jeito nenhum. Eu não quero incomodar.
- Incomoda nada. A não ser que não goste da companhia...
- Claro que não é isso, Jonas. Só não quero incomodar.
- Já disse que não vai incomodar. Para de ser chato e aceita o convite.
- Bom... Já que você insiste – abri um sorriso sem graça.
- Isso aí! Assim que eu gosto. Então vai lá e até amanhã, jovem universitário. Boa sorte na sua 1ª aula!
- Obrigado, chefe. Obrigado por tudo e desculpa qualquer coisa.
- Não tem nada que se desculpar, boa noite!
.
Fiquei em dúvida sobre o que vestir. Estava tão ansioso que nem sequer consegui dormir direito. A neurose tomou conta de mim.
- Essa pólo ou essa regata? – perguntei.
- A pólo – falou Rodrigo. – Não está tão calor para ir de regata.
- Essa jeans ou essa sarja?
- A sarja branca. Vai ficar legal com a pólo preta.
- O sapatênis ou o tênis?
- O tênis é mais legal. Vai com ele que é melhor.
- Então eu vou pro banho e já volto.
- Não demora – Rodrigo bocejou e virou na cama.
Caprichei no banho e quando fui pentear os cabelos, dei um jeito de deixá-los arrepiados, o que custou a acontecer.
- Você vai demorar muito? Eu já estou quase me atrasando – disse Rodrigo.
- Pode entrar. O box é escuro, eu não vou te ver.
- Sai logo daí, inferno – ele me puxou.
- Não... Estou arrumando o cabelo!
- Puta merda, eu mereço – Rodrigo bufou e foi pro box comigo no banheiro.
- Não vou te ver pelado, relaxa.
- Assim espero!
Eu até tentei, mas nem deu. Só o que vi foi a silhueta do meu amigo e nada mais. Em um dito momento, até deu pra ver a sombra do pau dele, mas nem consegui ter uma dimensão do tamanho exato.
- Opa...- Miguel apareceu. – Bom dia, Caio.
- Bom dia, Miguel.
- Já vai pra facul também?
- É! – sorri. – Eu vou sim.
- Da hora. Cara, posso mijar aí?
- Pode, meu. Quer que eu saia?
- Não, relaxa. Pode ficar. Quem está no banho?
- Sou eu – respondeu Rodrigo.
- E aí, Rodrigo? Beleza?
- Na paz!
- Vai demorar, mano?
- Só mais 5 minutinhos.
- Ah, beleza. É que eu ainda não tomei o meu e o Kléber também não.
Claro que o Miguel ficou de costas pra mim e eu não consegui ver nada. Só deu pra ouvir o barulho do xixi caindo na água do vaso sanitário.
- Valeu, Caio. Eu estava apertado.
- Disponha!
Miguel saiu e não lavou as mãos, mas como ele ia pro banho eu nem fiquei pensando nisso.
Rodrigo saiu do chuveiro só de cueca e eu ainda estava na frente do espelho.
- Ainda aí?
- Já estou terminando. Ficou legal?
- Vai ficar mais legal se você arrepiar atrás também.
- Será?
- Deixa eu te ajudar com isso.
Ele ficou atrás de mim e mexeu no meu cabelo todo. Pelo espelho eu fiquei olhando pro rosto do meu amigo. Ele estava tão lindo com os cabelos molhados!
- Pronto.
- Obrigado, Digow. Por mim a gente já pode ir.
- Não vai tomar café?
- Estou sem fome.
- E depois eu que sou ansioso, né?
.
Quando eu entrei pelo portão da universidade, o meu coração bateu mais forte e a minha barriga gelou. Rodrigo e eu passamos pelas catracas e ele me ensinou como eu fazia para chegar na minha sala.
- Sala 432 – respondi a pergunta dele.
- Vem comigo que eu vou te levar, você vai se perder se eu te ensinar.
- Não, não! Pode ensinar, eu não vou me perder.
- Tem certeza?
- Absoluta!
Rodrigo me deu todas as coordenadas e eu guardei tudo mentalmente.
- Guardou?
- Guardei – falei.
- Então boa sorte – ele me deu um abraço e sorriu. – Vai com Deus e seja bem-vindo ao meu mundo!
- Obrigado, Digow. Fica com Deus.
- Amém!
Ele e eu seguimos por caminhos diferentes. Ainda bem que eu gravei tudo o que ele me disse. Não foi difícil achar a minha sala.
Havia um 432 imenso em cima da porta. Eu me aproximei, olhei no interior do local e vi vários alunos sentados. Ai meu Deus... Que frio na barriga!
Não tinha nenhum professor dentro da sala. Olhei no meu celular: 7:54. Será que eu já deveria entrar ou não?
Claro que sim, né Caio? Até que horas eu ia ficar naquele corredor? Aproveitei que uma moça de óculos entrou e a segui. Eu só queria saber onde deveria sentar.
No fundão. Sempre gostei do fundão. Nunca gostei de sentar na frente ou no meio da sala... Procurei um lugar vazio no fundo da sala e me dirigi até ele. Quando cheguei, olhei para todos os lados e por fim perguntei a uma moça:
- Com licença? Tem alguém sentado aqui?
- Não.
- Será que eu posso sentar aqui?
- Pode.
- Obrigado.
Fui um idiota! Se não havia ninguém no local é claro que eu podia me sentar, né?
Fiquei perdido em pensamentos. Não colocava meus pés em uma sala de aula há mais de um ano. Já não estava acostumado com aquela rotina de estudos e até me adaptar novamente, poderia levar alguns dias.
Aos poucos a sala foi enchendo e foi em um momento de distração que eu ouvi a porta sendo batida e vi um senhor muito mal-encarado, usando um terno não muito bonito subindo numa espécie de degrau que havia no começo da sala e dizendo:
- BOM DIA?

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