sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Capítulo 113

Incrédulo. Assim eu me sentia.
- Você passou? – Vinícius perguntou.
Eu fiquei feito uma estátua. Não consegui tirar meus olhos daquela bolinha verde e mesmo depois do Rodrigo ter puxado o notebook do meu colo, meus olhos permaneceram imóveis.
- Putz... Ele passou mesmo – falou Fabrício. – E com bolsa integral ainda!
- VOCÊ PASSOU, CAIO – Rodrigo segurou nos meus dois ombros e me empurrou pra frente e pra trás. – VOCÊ PASSOU!
- Deixa eu ver isso aí – Vinícius também pegou o notebook para dar uma conferida. – E não é que passou mesmo?
- Caio, Caio, Caio... – Rodrigo não parou de me sacodir. – Você passou, mano! Você passou, deu tudo certo!
Meu melhor amigo não se conteve e me abraçou bem forte.
- Você passou – ele não parava de falar isso. Parecia até que estava mais feliz do que eu.
- Você está bem, Caio? – perguntou Vinícius.
- Hã? Aham...
- Meus parabéns, Caio – Fabrício bagunçou o meu cabelo. – Agora você é um de nós.
- Verdade, Caio – Vinícius também bagunçou o meu cabelo. – Meus mais sinceros parabéns.
- Aham...
- Que zona do caralho é essa? – Éverton entrou no nosso quarto.
- O Caio passou no ProUni!!! – Rodrigo estava radiante.
- Passou? Que bacana, Caio. Parabéns.
- Aham...
- Parabéns, Caio – disse Maicon.
- Aham...
Eu estava em estado de choque ainda. Tudo o que eles falavam entravam por um ouvido e saía pelo outro. A única coisa que eu conseguia pensar era naquela bolinha verde entre as vermelhas.
- Passou, Caio? – Miguel foi me cumprimentar.
- Ele passou, ele passou – Rodrigo era o que falava por mim.
- Mas por que ele está calado e parado desse jeito?
- Deve estar em estado de choque. Daqui a pouco a ficha cai – falou Vinícius.
- Parabéns, garoto – Miguel estendeu a mão.
Eu até segurei na mão dele, mas não fiz mais nada além disso. Meus lábios começaram a cair aos poucos. Será que era isso mesmo? Será que não era um truque? Uma farsa?
- Parabéns, Caio – Kléber também me cumprimentou. – Meu irmão me contou que você passou no ProUni. Que legal.
- É...
- Ele está desnorteado ainda, Kléber – disse Vinícius. – Daqui a pouco a ficha começa a cair.
E isso aconteceu mesmo. Sem mais nem menos eu comecei a pensar em como seria a minha vida daquele dia em diante.
Eu tinha passado. Desacreditei tanto que isso ia acontecer e mesmo assim deu certo. Eu só queria saber como seria a minha vida daquele momento em diante.
Eu ia ter que acordar cedo, ir pra faculdade e depois ainda teria que enfrentar um longo dia de trabalho. Pelo jeito a academia iria ficar em segundo plano. Como ia ficar o meu físico?
E o trabalho? Ia estudar de manhã, como ficaria na empresa? Seria necessário trocar meu horário para o período da tarde, será que ia ter algum problema?
A Eduarda estava de férias, o que ela ia falar a respeito disso quando voltasse ao trabalho no final de março?
- Caio? – Rodrigo passou a mão na frente do meu rosto. – Você está bem?
- Estou – falei.
- Reage, cara! Você passou, você passou!
- Eu passei... Eu passei... EU PASSEI, RODRIGO, EU PAASEI!
Ele me lembrou muito a Janaína, pois deu risada e me abraçou tão forte, mas tão forte que eu até caí deitado em cima da cama.
Rodrigo ficou por cima de mim e nossos olhos grudaram. Paramos de rir e ambos entreabimos os lábios. Senti o hálito fresco dele no meu rosto e isso me fez esquecer tudo o que estava acontecendo. Acho que só naquele momento eu percebi quão meu amigo era bonito de verdade.
- Hã... – o menino desviou os olhos. – Me desculpa por isso.
Rapidamente Rodrigo se levantou e arrumou a camiseta. Ele não olhou diretamente nos meus olhos e eu percebi que ele estava um tanto quanto vermelho.
- Não foi nada...
- Nós trouxemos cerveja – Vinícius e Fabrício entraram no quarto com várias latinhas de cerveja e também com alguns aperitivos.
Ainda bem que eles tinham saído e para falar a verdade, nem me dei conta que o Digow e eu estávamos sozinhos. Não sei o que os meninos teriam pensado se vissem eu e o meu melhor amigo deitados na cama.
- Que cara é essa, Rods? – perguntou Vinícius. – Você estava tão feliz, agora parece triste?
- Não é isso – ele sacodiu a cabeça. – Eu só estava pensando. Me dá uma latinha aqui, temos que comemorar.
- É verdade. Temos que comemorar mesmo – concordou Fabrício. – Não é qualquer um que consegue uma bolsa integral no ProUni.
Eu estava me sentindo muito, muito feliz. Feliz como não me sentia há muito tempo. Há meses e quiçá anos!
- Me dá uma linguiça – pedi.
Os outros componentes da república também foram comemorar conosco. Além de feliz, estava me sentindo também esquisito. Ainda não estava acreditando que eu ia pra faculdade e ia com uma bolsa de estudos integral. Era bom demais pra ser verdade!
- RH é legal – disse Maicon. – Só que vai ter muito cálculo.
- Essa é a parte ruim, mas tudo bem – bebi a minha cerveja até o fim e peguei mais uma.
- Deveria ter optado por medicina – disse Vinícius.
- Nossa Senhora me livre. Tenho nojo de sangue e passo mal com isso. Quando o Rodrigo desmaiou, eu quase desmaiei junto.
- Nem me lembra dessa época – ele me olhou sério. Nossos olhos ficaram grudados um tempinho a mais que o normal.
- É melhor deixar pra lá mesmo – falei.
- O importante é que você conseguiu, Caio – Fabrício bagunçou meu cabelo de novo.
- É, eu consegui – falei. – Ainda não consigo acreditar.
- Acredite – falou Vinícius. – Agora você é um de nós, finalmente. Ou melhor, será. Ainda não começou a estudar.
- Verdade – concordei. – Agora faz sentido eu morar em uma república.
- Quando vai fazer a sua matrícula? – perguntou Rodrigo.
- Nâo sei ainda...
- Tem que ser logo – ele me olhou de novo. – Tem prazo pra cumprir. Eu faria amanhã mesmo se fosse você.
- Amanhã eu tenho que trabalhar, Digow. Não posso simplesmente faltar para fazer a matricula na faculdade.
- Eu sei, mas você sai às 19:00, pode muito bem fazer a matrícula depois do seu expediente de trabalho.
- Posso? – eu não sabia disso. – Eu pensei que era em horário comercial.
- Pode sim, Caio – falou Fabrício. – A secretaria da faculdade funciona até às 22:00.
- Hum... Sendo assim fica muito mais fácil, mas eu nem sei o que eu vou precisar levar!
- A lista de documentos está no site – falou Rodrigo.
Eu peguei o lap, que ainda estava na página do ProUni e li todos os documentos que eu tinha que levar. Era bastante coisa.
- Mas será que eu vou conseguir preparar todos esses documentos amanhã?
- Verdade – concordou Éverton. – Pode demorar um pouquinho até você juntar todos os documentos.
- Pois é... Enfim, amanhã eu vejo isso!
Ainda estava com a adrenalina do impacto de ter visto aquela bolinha verde no meio das vermelhas. A sensação que eu tinha era que estava vivendo um sonho e que poderia acordar a qualquer momento.
- Caio, nós vamos nos formar juntos – Rodrigo falou isso do nada.
- Vamos?
- Vamos sim... A faculdade de RH é tecnólogo, dura apenas 2 anos. Você vai terminar o curso final do ano que vem e eu também!
- Ah, que bom – eu abri um sorriso. – Isso me deixou animado. – É pouco tempo, vai passar rápido.
- Passa rápido mesmo – disse Vinícius. – Parece que foi ontem que eu passei no vestibular e já estou quase me formando.
- Verdade – falou Fabrício. – Digo a mesma coisa. Que chegue logo o final do ano para acabar essa vida de estudante.
- O Caio vai começar a faculdade depois de mim e vai se formar primeiro – pensou Maicon. – Isso não é justo!
- É super justo – dei risada. – Estou adorando essa ideia, só espero me dar bem com as contas.
- O Fabrício e eu te ajudaremos nisso, pode deixar – falou Rodrigo.
- Serei muito grato se fizerem isso. Odeio a matemática+
Foi a maior algazarra até altas horas da madrugada. Mesmo depois dos meninos que dormiam no quarto ao lado irem embora, eu não consegui pegar no sono. Estava muito elétrico e não conseguia pensar em mais nada a não ser na faculdade.
Contudo, à partir do momento que o sono bateu, ele não me abandonou mais. Para acordar na manhã seguinte foi um sacrifício. Como perdi a hora, naquela manhã não tive tempo de fazer a barba, o que me deixou irritado.
- Hum – Fabrício gemeu. – Está virando hominho, gente.
- Calado! – abri um sorriso. – Nada de comentários a esse respeito, por favor.
- Ficou legal, Caio – falou Vinícius. – Agora você pode apagar a luz e deixar a gente dormir, por favor?
- Já estou saindo, já estou saindo.
- Esse papel que está aí embaixo do DVD é seu – falou Fabrício. – O Rodrigo que deixou.
- Ah, é? Valeu por ter avisado, mano.
Era um bilhete onde ele anotou todos os documentos que eu ia precisar para fazer a matrícula no campus da universidade. Meu amigo disse ainda que ia se informar para ver se precisava de mais alguma coisa e informou ainda que iria me buscar na loja na hora que eu fosse sair da empresa para ver se nós conseguiríamos realizar a matricula naquela noite mesmo.
Achei o gesto do garoto um mimo. Ele era muito preocupado comigo e isso só me deixava ainda mais “apaixonado” por ele.
Lembrei do que tinha acontecido na madrugada. Ele caiu por cima de mim e ficou tão constrangido, tadinho... O que será que ele ficou pensando sobre esse assunto?
- Caiô? A luz? – falou Vinícius.
- Você não tem que ir pra faculdade? – perguntei.
- Só mais tarde, quero dormir! Você pode desligar a luz ou está difícil?
- Já estou saindo – falei isso, dobrei o bilhete, guardei no bolso da calça e em seguida passei perfume. Ainda bem que a minha barba estava pequena e uniforme.
- Bom dia para vocês – falei.
- Bom dia, bom trabalho – falou Fabrício.
Saí correndo de casa. Desci as escadas que levavam até a rua de dois em dois degraus e quase caí de cara no chão em um determinado momento. Tive uma leve sensação que fui empurrado. Uma coisa muito esquisita.
Atravessei a rua correndo porque meu ônibus estava parada no ponto. Se eu tivesse demorado 1 segundo a mais, não teria conseguido entrar.
- Valeu por esperar – agradeci ao motorista.
Caí sentado em uma cadeira e arfei de cansaço. Já estava todo suado, mesmo a manhã não estando nada quente como era de costume.
Eu ia pra faculdade! Provavelmente aquele seria o último dia – ou um dos – que eu ia entrar às 10:00 na loja.
Queria saber como seria a minha rotina dali em diante. Queria saber se eu ia conseguir me adaptar, se eu iria fazer novos amigos...
Como era de se esperar, as dúvidas tomaram conta da minha mente e novamente eu não fiz nada a não ser pensar em como seria a minha vida daquele dia em diante...
Cheguei na loja com mais de 10 minutos de atraso. Assim que entrei, alguns olhos voltaram-se contra mim e eu me perguntei por qual motivo aquilo estava acontecendo.
- Nossa – Janaína me olhou seriamente. – Que homem delicioso é esse?
- Hã?! – me espantei.
- Ah, vem cá – ela me puxou, me abraçou e me deu dois beijos na bochecha. – Adoro sentir barba na minha pele... Fiquei toda arrepiada!
- AI, cala a boca! – então era isso? – Se fecha, girassol. Eu, hein?
- Ficou lindo – ela estava falando sério, pelo que eu estava entendendo. – Adorei!
- Só estou assim porque não tive tempo de fazer a barba hoje cedo, senão teria arrancado tudo.
- Uma delícia, ainda mais com esse corpinho que você tem...
- Se fecha, Jana! – eu ri. – Tenho uma coisa muito importante para te contar.
- Você está grávida, amiga? – ela me abraçou rindo.
Eu não sabia se batia na Janaína ou se ria das idiotices dela.
- Ainda não – encorporei a brincadeira. – É algo muito importante, muito sério que já mudou a minha vida.
- Ai... O que é? Não me diga que você voltou com o Bruno?
- Está amarrado em nome de Jesus – eu me benzi. – Isso é impossível porque ele morreu e está super enterrado pra mim. É algo muito melhor que isso!
- O que é? Conta logo que eu estou curiosa...
- Adivinha? – meus olhos brilharam e eu sorri.
- Fala, inferno. Odeio suspense.
- Eu... Passei... No... ProUni!!!
- OI? – ela ficou perplexa.
Repeti a mesma frase.
Pronto. A festa foi decretada. Ela me abraçou com tanta força e deu tanta risada que foi praticamente impossível da gente se controlar.
- Parabéns – ela ria e me parabenizava. – Que lindo, que lindo...
- Obrigado, obrigado...
- Está acontecendo alguma coisa aqui? – Jonas se aproximou. – Vocês podem parar com essa agarração, por gentileza?
- É por uma boa causa – Janaína estava feliz.
- É, chefe. É por uma boa causa. Eu preciso conversar com você.
- Ih... Já vi que vem coisa por aí. O que é?
- Vamos pra sua mesa? Eu preciso falar seriamente contigo.
- Não vai pedir as contas não, né? – Jonas me analisou.
- Claro que não. Eu vou precisar da sua ajuda.
- Então vamos pra mesa. Assim eu aproveito e vejo como anda o mês de vendas pra você.
- Fechado.
Segui o magricela pela loja e sentei na cadeira que era destinada aos funcionários e/ou clientes. O meu gerente abriu a tela e fez uma análise rápida de como eu estava me saindo naquele ,mês de fevereiro.
- Um índice maior que janeiro, meus parabéns. Está indo bem. Mantenha, por favor.
- Vou manter. Podemos conversar agora?
- Sim! O que houve? – ele me olhou nos olhos.
- Eu irei direto ao ponto: passei no ProUni e preciso mudar de horário.
- Jura? – ele parecia surpreso.
- Sim – abri um sorriso largo. – Estou muito, muito feliz!
- Porra – ele levantou e foi ao meu encontro. – Parabéns, garoto!
- Obrigado – abracei meu chefe e senti um perfume bom no cangote dele. – Obrigado.
- Que maravilha, hein? Bolsa parcial ou integral?
- 100%!
- Puta... Sensacional! Meus parabéns, “Caiô”!
- Muito obrigado, “Jonás”.
- E vai estudar de manhã então?
- Isso. De manhã. Precisarei entrar aqui no período da tarde.
- E vai começar as aulas quando?
- Então, ainda não sei nada sobre isso. Só vou saber isso quando fizer a matrícula.
- E quando você vai se matricular?
- Se possível ainda hoje ou no mais tardar amanhã.
- Não perde o prazo, hein? ProUni é cheio de regras, prazos e tudo mais.
- Não vou perder o prazo! Não posso perder essa oportunidade, ela é única!
- Verdade. E qual curso?
- Gestão de Recursos Humanos.
- Ah, bacana! Muito bacana... Pô... Parabéns, cara. De verdade. Valeu a pena o teu amigo ter te inscrito no Enem, né?
- Demais. Valeu a pena demais! Serei grato pelo resto da minha vida ao Rodrigo – suspirei.
- Foi o mesmo que teve o apêndice?
- Sim!
- Um grande amigo então, hein?
- Já disse: ele é meu irmão!
Era isso mesmo que eu sentia. Como eu desejaria ter tido o Rodrigo como irmão gêmeo ao invés do Cauã!
- Bacana. Então, vê lá quando você vai começar e a gente muda seu horário sim, sem problema nenhum.
- Não vai ter problemas com o Tácio?
- Não! Ele não tem que se meter nos horários dos meus funcionários, só me faltava essa! – Jonas riu.
- Adorei a revolta – ri. – E amanhã eu posso vir às 13:00?
- Já?
- Lembra que eu disse que ia tentar fazer a matrícula hoje? Se eu não conseguir, eu vou fazer amanhã de manhã...
- Ah, saquei. Pô, então vamos precisar de uma troca casada.
- Hã? Quem é casada?
- Eu até posso fazer você entrar à tarde, desde que alguém da tarde cubra seu buraco no período da manhã. Não posso deixar nenhuma equipe desfalcada, entendeu?
- Aham. Eu posso ver se a Alexia troca comigo...
- Então vê e me avisa, qualquer coisa eu dou um jeito.
- Poxa, muito obrigado! Eu ficarei grato se puder me ajudar.
- Conta comigo, cara. Isso também faz parte do meu papel de líder, ajudar os meus subordinados.
- E você é um excelente líder.
- Muito obrigado. É só isso ou tem mais alguma coisa que você queira me falar?
- Não, não. É só isso mesmo. Obrigado!
- Por nada, agora vou pedir para você ir pra linha branca que está bombando o movimento.
Olhei pra trás e me espantei com a quantidade de clientes no meu setor. Isso era anormal, porque a loja havia acabado de abrir e o movimento maior sempre acontecia no período da tarde.
- Pelo jeito isso daqui vai ferver hoje – falei mais para mim mesmo. – Valeu, Jonas! Muito obrigado pela sua parceria.
- Conte comigo sempre que você precisar.
.
- Como assim você passou no ProUni? – a Alexia ficou mais branca do que já era. – Isso é sério?
- Seríssimo. Com bolsa de 100% se é que você quer saber.
- Puta merda, PARABÉNS! – ela me prensou e eu quase caí de costas. – Ui... Que barbinha deliciosa...
- Você para, hein? Você para! Já não me basta a Jana me cantando o dia todo por conta dessa barba. E ela nem está tão aparente assim.
- É que ela está arranhando a pele, entendeu? E isso me deixa toda arrepiada.
- Foco, foco – eu estalei os dedos. – Você pode trocar de horário comigo amanhã para eu fazer minha matrícula?
- Óbvio que posso, amado. Vou adorar sair mais cedo dessa loja!
- Ah, obrigado, sua linda! – abracei minha amiga e passei meu queixo no pescoço dela de propósito.
- Ui – percebi que ela arrepiou de verdade. – Para, para senão eu fico excitada!
- CREDO EM CRUZ – eu quase saí correndo de perto da Alexia. – QUE NOJO!
Há muito eu não via alguém ter uma crise de riso como a Alexia teve. Ela teve até que sentar no sofá para se recuperar. A menina ficou muito vermelha.
- Vai beber uma água – aconselhou uma das vendedoras do setor dela. – Se o Jonas souber disso ele vai ficar uma fera.
- Já vou, Edileusa – Alexia secou as lágrimas. Os olhos dela estavam borrados. – Obrigada.
- Nunca mais fale uma coisa dessas pra mim – eu também ri, mas não tanto como ela.
- Bocó – ela me deu um tapa no braço. – Você é um idiota!
- Você que fica falando asneiras.
- Mas que eu quase fiquei, eu quase fiquei!
- Credo... Nunca mais eu venho de barba!
- Delícia! Eu já volto, mas fechou. Amanhã pode vir no meu lugar e eu venho no seu.
- Combinado.
Na mesma hora eu dei a notícia ao Jonas.
- Ah, então tudo bem. Eu vou mandar um e-mail ao RH informando que você vai trocar com a Alexia.
- Tudo beom. Obrigado, Jonas!
.
A notícia que eu ia começar a estudar virou fofoca na loja. Durante todo o dia, eu recebi vários e vários “parabéns” de todos os meus colegas e também daqueles que eu não gostava muito.
No meio da tarde aconteceu outro incidente dentro da filial. Outa menina começou a passar mal. Da mesma forma que aconteceu com a Patrícia, aconteceu com ela. A garota bateu a cabeça no chão e custou a acordar.
- Chamem uma ambulância – mandou Jonas.
Mas em seguida a garota abriu os olhos, recobrou os sentidos e não houve mais a necessidade de chamar uma equipe médica.
- Eu já estou melhor, Jonas. Não precisa se preocupar.
- Você almoçou, Camila?
- Almocei sim, mas vomitei tudo. Estou um pouco enjoada ultimamente...
Ih... Será que também estava grávida?
- Não quer ir ao médico? – perguntou Jonas. – A gente te acompanha.
- Amanhã eu vou. Já estou com consulta marcada, não precisa se preocupar.
- Se você colocou o almoço pra fora, é melhor comer alguma coisa. Vou liberar 1 hora de janta pra você.
- Não precisa...
- Faço questão! Alexia? Acompanha ela no jantar, por favor?
- Claro, chefe!
- E vocês, dispersem. Os clientes estão esperando por atendimento – mandou o gerente. – Andem!
Janaína e eu ficamos confabulando um pouco. O que será que essa menina tinha?
- Pra mim isso daí é gravidez – disse a Janaína. – Com a Paty foi a mesma coisa.
- E ela disse que anda enjoada, você ouviu?
- Ouvi! Sabe o que é mais engraçado?
- Hã?
- Que essa daí também deu uns pegas no Gabriel.
Fiquei perplexo.
- Será que ela...?
- Pois é... Coitado dele se isso se concretizar...
- Eu não quero estar na pele dele. Ainda bem que isso nunca vai acontecer comigo.
- Nem comigo! Eu, hein?
- Sorte a nossa, amiga.
- Verdade. Diz pra mim que você não vai tirar essa barbicha, diz?
- Claro que vou. Isso pinica muito, meu. Não gosto.
- Ah, que pena! Está uma delícia com essa barbinha rala...
- Rala nada. isso aqui é como espinho. Me incomoda muito.
- Mas é porque você tira todo dia, não?
- Faço todos os dias, exceto quando estou de folga. Odeio barba.
- Fresco! Fica tão lindo.
- Nunca gostei de pelos pelo corpo. Sou chato pra essa coisas.
- Então você é todo lisinho? – ela abriu um sorrisinho safado.
- Curiosa... – eu cocei o queixo. – Essa pergunta eu vou deixar no ar. Tchau, vou atender.
- Sem graça!
Eu não era todo lisinho como ela imaginou. Não gostava de pelos, mas isso não significava que eu me depilava todo até mesmo porque eu sou homem e acho que homem liso demais é feio. Enfim...
.
- Finalmente você saiu – Rodrigo parecia impaciente.
- Eu saí no horário – apertei a mão dele e nos olhamos profundamente.
- Já estava irritado de ficar te esperando aqui.
- Você é ansioso demais, precisa de tratamento médico. Isso é doença!
- Doença é o caralho, eu sou normal. Sempre fui acelerado desse jeito e não é agora que eu vou mudar.
- Pois no que depender de mim essa ansiedade vai ser curada. E aí, tudo bem?
- Sim senhor e o senhor?
- Tudo também.
- Ansioso para fazer a matrícula?
- Um pouquinho, mas não tanto como você.
- Sem graça – ele fez bico. – Eu tanho uma novidade para você.
- Que novidade? Ganhou na Mega Sena?
- Ainda não, mas eu joguei. Para ganhar mesmo só faltou acertar os 6 números.
- Não acertou nenhum?
- Não.
- Caramba! Que pé frio, hein?
- E você? Você fala de mim, mas não joga. Não arrisca a sorte.
- Não tenho tempo nem pra soltar flatos, que dirá para ir na Lotérica jogar na loteria.
- É só deixar o cartãozinho comigo, mas não é sobre isso que eu quero conversar com você.
- E é sobre o quê?
- Eu finalmente consegui o meu estágio!
- Sério?! – parei e abri um sorriso.
- É! – ele retribuiu o sorriso.
Foi a minha vez de parabenizá-lo. Eu o abracei e senti um perfume delicioso invadir o meu nariz. Ao mesmo tempo, um arrepio percorreu todo o meu corpo.
- Valeu, parceiro. Finalmente eu consegui.
- As coisas só acontecem na hora certa, Rodrigo – falei. – Não adianta porque só Deus sabe quando as coisas vão dar certo.
- Isso é uma grande verdade. E essa barba, aí?
- Eu não tive tempo de me barbear hoje pela manhã. Você curtiu?
- E desde quando eu curto macho? – ele me olhou.
- Que bobagem, fala logo se curtiu ou não!
- Ah... Não sei. Alguém gostou?
- As meninas piraram. A Alexia até disse que quase ficou excitada.
Ele gargalhou.
- Você não ia dar conta dela, ela é muito safada, ela dá um trabalho lascado!
- Como assim eu não ia dar conta? – fiquei bravo. – Acha que eu sou de negar fogo por acaso?
- E por acaso você ia conseguir comer a Alexia?
- Não é só porque sou gay que não conseguiria transar com ela, Digow!
- Você não ia dar conta! Ela é ninfomaníaca.
- É? Tentei arrancar detalhes sobre isso várias vezes e você nunca me deu brecha pro assunto.
- Não costumo ficar falando detalhes sobre a minha vida sexual, garoto!
- Pelo que parece então você não deu conta da gatinha. E fica falando de mim?
- Quem disse que eu não dei conta? Eu só disse que ela deu trabalho, mas eu dou conta do recado, filhote!
- Não sei... Não sei se você dá conta, nunca acompanhei a sua performance!
- Da próxima vez que eu for pros finalmentes com alguém, eu gravo pra você assistir, beleza?
- Ia AMAR – falei rindo.
- Não sonha – ele também riu. – Mas que a Alexia é boa de cama, ah ela é.
- Se ela é tão boa assim, por que não namoraram?
- Porque só rolou química na cama. Ela é linda, é gente boa, mas não rolou paixão, não rolou amor. Não vou namorar com a menina só porque ela fode bem, né? Seria muita cafajestagem da minha parte.
- Você é PERFEITO, garoto! – exclamei.
- Obrigado – as bochechas dele coraram. – E aí, vamos na faculdade?
- Você trouxe a relação de documentos que eu preciso?
- É aquela mesma que eu deixei embaixo do DVD, você não viu?
- Vi sim. Eu acho que tenho tudo aqui...
- Tem? Comprovante de residência também? O histórico escolar?
- Opa... Esqueci de separar o histórico...
- Ah! Da hora, Caio! Muito bom mesmo – ele bufou. – ENTÃO PARA QUE EU ESTOU AQUI?
- Calma...
- Você é foda... Eu ainda deixei lá escrito: não esquece o histórico!
- Eu estava atrasado, não ia conseguir separar...
- Por que não me ligou? Eu teria trago...
- Esqueci e não tive tempo... Desculpa, Digow!
- E agora? Como faremos? Será que vai dar tempo de voltar pra casa pra depois ir pra facul?
- Será que dá?
- Bem improvável – ele bufou de novo. – Não acredito que você fez isso, Caio!
- Ah, acontece... Não tenho culpa!
- Claro que tem, você é muito distraído...
- Distraído? Eu já disse que acordei atrasado, não tive como pegar o histórico...
- Você leu o que escrevi?
- Li, Rodrigo... Qual foi a parte do “eu acordei atrasado” que você não entendeu?
- Está me chamando de tapado?
- Não exatamente, mas se a carapuça serviu...
- Olha, você faz favor de me respeitar!
- Quem me desrespeitou primeiro foi você!
- A gente vai brigar mesmo por causa disso? – ele suspirou.
- Quem começou foi você – fiquei chateado.
- OK, desculpa. Eu me exaltei um pouquinho. É a falta de sexo.
- Bate uma que isso se resolve. Agora, você fica descontando em mim?
- Me perdoa. Eu fui um ogro.
- Foi mesmo – exagerei e fiz bico.
- Você pode ir amanhã pela manhã na faculdade?
- Posso sim.
- Então iremos amanhã pela manhã.
- Combinado. Não brigue mais comigo!
- Não brigarei, desde que você faça as coisas de forma correta.
Isso não chegou a ser uma briga. Na verdade, não passou de uma discussão, um desentendimento. Rodrigo e eu fizemos as pazes rapidamente. A felicidade por ter passado no ProUni com bolsa integral falou muito mais alto e tanto eu, quanto ele, deixamos a desavença de lado e curtimos o clima gostoso que estava à nossa volta.
.
- Alô? – atendi.
- E aí, garoto?
- Quem é?
- O Well, não reconhece a minha voz?
- Ah! Oi, Well – me surpreendi. – Tudo bom?
- Bem sim e você?
- Muito bem. Onde conseguiu o meu número?
- Na sua ficha, ué. Por que não veio treinar hoje? Está doente?
- Não, Well... Eu tive um imprevisto. Preciso falar mesmo com você.
- Diga lá!
- Não vou mais treinar à noite.
- Não? Por quê?
- Eu vou começar a estudar. Terei que mudar meu horário de trabalho, sairei às 22:00...
- E que horas você vem?
- Acho que nem vou mais treinar. Não sei se vai dar tempo.
- Tem que treinar, cara. Vai perder tudo o que conquistou?
- O problema vai ser o tempo...
- Você pode fazer aos finais de semana. A academia abre de sábado e domingo, lembra?
- Lembro, mas e o cansaço? Onde fica?
- Você dá conta. Eu confio em você!
Foi mais de 30 minutos de bate-papo. Wellington tentou me convencer de tudo quanto foi jeito que eu precisava continuar a academia, mas o fato era que eu ainda não tinha ideia de como ia ficar a minha agenda. Eu só ia poder dar uma resposta definitiva após o início das minhas aulas.
.
Eu estava tão confiante que ia começar a estudar que nem sequer pensei que poderia dar algum problema na matrícula. Eu ainda não tinha certeza se tudo ia dar certo.
Passar no ProUni foi um passo super importante, mas não era o único para conseguir começar a estudar.
- Pegou tudo? Não esqueceu de nada? – perguntou Rodrigo.
- Tudo aqui – falei.
- Pegou a foto 3x4?
- Sim.
- E o histórico? – ele me olhou fixamente.
- Também.
- Pegou o comprovante de residência?
- Tudo aqui, Digow. Podemos ir logo? Se demorar mais 1 minuto eu volto pra cama!
- Bebeu? Você tem que fazer essa matrícula hoje!
- Então vamos embora logo?
- Vamos. Só deixa eu beber um copo de leite e escovar meus dentes. E rapidinho!
Esperei impacientemente o cara fazer tudo o que ele falou e quando finalmente acabou, nós começamos a descer as escadas.
- Sabe de uma coisa? – comentei. – Ontem eu desci essas escadas correndo e quase caí de cara no chão.
- Cuidado! Quer quebrar o nariz?
- Só que eu quase caí porque tive a sensação que alguém me empurrou. Maior loucura.
- CRUZES – Rodrigo se benzeu. – Será que essa casa é mal-assombrada? Caio, nós precisamos nos mudar...
- Ai que exagero, Rodrigo. Só foi uma sensação boba. Essa casa não é mal-assombrada.
- Como você sabe? Você vê gente morta? SAI DE PERTO DE MIM, CAIO!
- Como você é besta – eu ri. – Não acho que seja, senão já teríamos ouvido alguma coisa, sei lá.
- Deus está na causa. Vou começar a rezar todos os dias. Eu, hein? Sai fora.
- Você tem medo?
- Morro de medo. Deus me livre e guarde.
- Bobo. Ah, deixa eu te perguntar: onde fica a faculdade mesmo?
- Là na Barra da Tijuca. Já esqueceu?
- Ah, é mesmo! É no mesmo bairro que trabalho... Havia me esquecido desse detalhe.
- Que bom, pertinho vai dar pra você ir direto pra loja sem se atrasar.
- Verdade. Acho que até vou conseguir fazer academia.
- Também acho. Se der tempo, eu vou com você.
- Vai mesmo? Vou adorar ver a sua cara de sofrimento de novo.
- Só por causa disso eu não faço mais também.
- Besta!
Rodrigo e eu chegamos na faculdade por volta das 8:00 da manhã. Fazia um dia cinzento e frio, eu estava com a sensação que o céu ia desabar a qualquer momento naquele dia.
- A secretaria é ali na frente, tá vendo?
- Onde ficam aquelas cadeiras? – perguntei.
- Isso mesmo – Rodrigo assentiu. – Eu só não fico com você porque tenho aula agora e é importante, senão eu ficaria.
- Relaxa! Eu me viro sozinho agora.
- Quando você sair, me liga?
- Ligo sim. Pode deixar. Boa aula, mano!
- Obrigado – ele me abraçou bem rapidamente. Senti de novo o perfume dele e mais uma vez fiquei arrepiado. – Boa sorte!
- Obrigado.
Rodrigo entrou e eu fui ao meu destino. Peguei uma senha, sentei em uma das cadeiras e fiquei aguardando a minha senha aparecer no guichê.
Só fui chamado em uma das mesas depois de 1 hora de espera. Confesso que fiquei tão entediado que o sono tomou conta de mim e eu senti até vontade de voltar pra minha casa.
- Bom dia – eu disse.
- Bom dia – disse o atendente. – Pois não?
- Eu vim fazer a minha matrícula.
- Ah, sim. Você fez vestibular?
- Não. Consegui uma bolsa no ProUni.
- Perfeito. Trouxe a relação de documentos?
- Sim.
- Empresta pra mim o RG e o CPF, por favor.
- Só um momento...
Nunca respondi tantas perguntas em toda a minha vida. O funcionário só não perguntou a cor da minha cueca, porque de resto...
- Preciso que você assine em todas as folhas, por gentileza – disse o cara.
- OK.
Até que o moço era bonitinho. Ele tinha um rostinho bonito, um jeitinho calmo. Fazia o meu tipo. Será que era do babado?
- Aqui está.
- Agora preciso que assine todas essas vias também.
- Uhum.
Senti o meu celular vibrar, mas não peguei para ver o que era. Provavelmente deveria ser o Rodrigo perguntando se eu já tinha saído da secretaria da faculdade.
- Pronto – passei as folhas e a caneta.
- Sua carteirinha fica pronta em 5 dias úteis. As aulas vão começar amanhã às 8:00.
- AMANHÃ?
- Sim, amanhã. Você já perdeu 3 semanas de aula, está atrasado. Importante que compareça sem falta.
- Eu vou vir, eu vou vir...
- Esse aqui é o seu número de identificação. Sua sala é a 432.
- 432 – anotei em um papel que levei. – 8:00.
- Isso. Alguma dúvida?
- Sim! Eu preciso comprar algum livro, sei lá?
- Precisa, mas isso é com o coordenador do curso. Amanhã você conversa com os professores.
- Ah, está bem.
- Lembrando que para você passar de um semestre para o outro terá que fechar com no mínino 7 em cada matéria.
- No mínimo 7 – o cara ia falando e eu ia anotando.
- Isso. Alguma dúvida a mais?
- Não, nenhuma!
- Então seja muito bem-vindo, Caio, e bons estudos!
- Muito, muito obrigado – abri um sorriso. – É só isso?
- É só isso!
- Ah, beleza. Valeu, cara.
- Eu é que agradeço – o moço sorriu.
Que maravilha! Deu certo! Eu estava matriculado. O Rodrigo precisava saber disso... Peguei meu celular e desfiz o meu sorriso quando vi um número desconhecido no visor do meu aparelho. Era uma mensagem. Abri e li:
.
“Oi, Caio! Tudo bem?”
.
Quem seria? Eu lembrei que aquele era o mesmo número que tinha me mandado um SMS com a palavra “olá” dias antes. Pensei que era engano, mas não era. Daquela vez a pessoa colocou o meu nome... Mas quem seria?
Não respondi. Quem quer que fosse deveria ter assinado o torpedo. Eu não ia trocar ideia com um desconhecido ou uma desconhecida. Se a pessoa me conhecia, o mínimo que podia fazer era se apresentar, se identificar.
Liguei pro Digow e ele me atendeu bem rapidinho:
- E aí?
- Estou matriculado – sorri.
- AEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE!!! – ele meio que gritou.
- Você é doido de gritar no meio da aula?
- Eu saí para te atender!
- Como assim você saiu tão rápido assim?
- Eu sento na fileira da porta, entendeu?
- Bem perto da porta pelo jeito, né?
- Só hoje porque sabia que você ia me ligar. Normalmente eu fico na última cadeira. Sou do fundão, entendeu?
- Então você é um dos meus. Mas eu liguei só para dar a notícia que começo amanhã!
- Já? Que da hora... E aí, o que achou?
- Parece ser ótimo. O cara disse que a média é 7?
- Isso mesmo. Vai ter que estudar muito. Por isso que eu e os meninos não largamos os livros de vez em quando.
- Agora eu entendi. Mas é isso! Estou matriculado.
- Meus mais sinceros parabéns, mano! Você merece...
- Eu te devo muito, sabia?
- Como assim?
- Se não tivesse sido você me incentivando a fazer o Enem, eu não teria feito, não teria passado no ProUni e não começaria a estudar.
- Viu só como valeu a pena?
- Valeu sim, Digow! Obrigado por tudo, meu irmãzinho...
- Foi um prazer ficar no seu pé! Estou feliz demais por você estar aqui comigo, sabia?
- Eu também, Digow. Eu também! Agora eu vou desligar porque não quero atrapalhar a sua aula.
- Beleza mano! Se cuida então.
- Você também! Ah, antes de desligar, você conhece esse número aqui...? – eu disse o número do telefone que me mandou mensagem.
- Não, por quê?
- Estou recebendo mensagens, mas a pessoa não se identifica.
- Que estranho. Eu preciso voltar, amigo.
- Vai lá! Boa aula e mais uma vez, obrigado.
.
Saí da “Kalunga” com um caderno de 10 matérias, um estojo básico preto, várias canetas de várias cores, um pacote de folha de sulfite e uma régua de 30 centímetros.
Voltar a estudar estava me deixando extremamente animado. Eu estava contando os segundos para chegar o outro dia e para pisar logo na sala de aula... Será que eu ia me dar bem?
Essa era a pergunta que estava rondando a minha cabeça. A incerteza de ter escolhido esse curso me deixou doido. Talvez eu não tivesse feito a escolha certa... Mas estava nas mãos de Deus e a sorte estava lançada.
Como ainda estava mega cedo para ir trabalhar e eu ainda tinha mais de 2 horas livres, resolvi ir pra academia. Quem sabe o Wellington já estivesse lá?
Ele não estava. Todos os professores presentes eram desconhecidos para mim. Fiquei me perguntando que horas o Well entrava na empresa.
- Pois não? – um cara chegou na recepção porque eu ainda não tinha passado a catraca. – Posso ajudar?
- Ah... Não, obrigado. Na verdade eu só estava procurando o Wellington.
- O professor?
- Isso.
- Ele só entra ás 15:00. Por quê?
- Sou aluno dele. Eu venho treinar à noite, mas vou ter que mudar de horário.
- Ah, entendi. Se quiser, eu posso ver se tem algum personal livre para te ajudar...
- Não, na verdade não precisa. Obrigado. Eu vou treinar sozinho mesmo.
- Já sabe a sua ficha?
- Sim, eu sei de cor. Obrigado!
Entrei e fui direto pro vestiário masculino. Era um paraíso naquele horário. Não havia um homem pelado, mas sim VÁRIOS!
Meus olhos se perderam no meio de tantas bundas e paus. Se eu soubesse que o negócio era bom daquele jeito, teria me mudado para o período da manhã há muito mais tempo!
Foi complicado tirar a calça pra colocar a bermuda porque no meio de tantos homens pelados o meu pau ficou muito duro, mas dei um jeitinho e me troquei sem maiores constrangimentos.
Procurei a minha ficha e anotei a minha presença. Percebi que o Well colocou falta no dia anterior. Ele não deixava passar nenhum detalhe desapercebido...
Comecei com o primeiro exercício como de costume, mas foi tudo muito chato sem o incentivo do meu personal trainer.
Eu estava concentrado com o meu exercício para o bíceps quando alguém trombou em mim sem querer.
- Desculpa – o cara falou.
- Não foi nada – eu olhei pro rosto do homem e levei um baita susto. – Felipe?
- A gente se conhece?
- Não lembra de mim?
Ele me olhou com um olhar um pouco mais atento.
- Caio?
- Isso! Nossa, que coincidência! Tudo bem?
- Caraca, Caio! O que está fazendo aqui?
- Treinando? – eu ergui as sobrancelhas.
- Puxa, que mundinho pequeno, hein?
- Não sabia que você trabalha aqui...
- Trabalho sim! Eu trabalho aqui e naquela outra que você frequentava... Caraca, como você está diferente, garoto.
- Você acha?
- Pra cacete! Está muito mais alto, mais encorpado... Treina aqui há quanto tempo?
- Nem sei mais, Felipe. Já faz um tempo.
- Dá pra perceber porque você está ficando todo definido. É isso aí, foco no objetivo.
- É... Eu coloquei na cabeça que ia ficar bem e estou ficando mesmo. Não está sendo fácil, principalmente na alimentação, mas acho que está dando certo.
- Quando a gente quer, a gente consegue. Mas me diz, quem é seu professor?
- O Wellington.
- Ah, então você treina no período da noite?
- Isso, mas eu vou começar a estudar amanhã então vou ter que mudar pra manhã.
- Quer ser meu aluno de novo? – o gostosão abriu um sorriso.
- Lógico que quero!
Com ele eu seria capaz de aprender qualquer coisa. Não sabia quem era mais gostoso: ele ou o Well, o Well ou ele...
- Então eu vou reservar um horário pra você na minha agenda. Qual o melhor horário?
- Então, Felipe, eu ainda não sei. Só vou saber amanhã porque ainda não sei que horas as aulas terminam.
- Ah, entendi. Você vem amanhã?
- Provavelmente sim.
- Então amanhã me procura que a gente define tudo certinho, beleza?
- Combinadíssimo!
- Então fechou. Vai ser muito bom treinar você de novo, garoto.
- Valeu!
Eu queria entender porquê os treinadores daquela academia tinham que ser tão lindos! Felipe tinha olhos incrivelmente verdes, o cabelo arrepiadinho e um corpo de fazer inveja a qualquer reles mortal. Wellington tinha olhos azuis, um rosto másculo e um corpo que não ficava atrás do corpo do outro personal. Era tentação demais, Jesus! Assim ficava difícil...
.
Chegar na loja no horário da tarde foi super esquisito. Eu tinha certeza que ia ter dificuldade para me acostumar com aquela nova rotina.
- E aí? – Jonas apertou a minha mão. – Deu tudo certo?
- Deu tudo certo! Minhas aulas começam amanhã.
- Amanhã? Puta que pariu...
- Amanhã... – abri um sorriso amarelo. – Vai dar problema?
- Vai e não vai. Seria melhor se eu achasse uma troca casada em definitivo pra você, Caio. Não vou poder te tirar da manhã assim do nada sem colocar alguém bom no seu lugar.
- Mas você ia fazer isso de qualquer jeito, não ia?
- Ia, mas eu ia contratar alguém novo, entendeu?
- Ah... Será que a Alexia não troca comigo?
- Quer conversar com ela?
- Quero sim.
Jonas nos levou até a mesa dele e nós três conversamos em particular.
- Alexia, você topa vir pra manhã em definitivo no lugar do Caio?
- Lógico que sim.
- Obrigado, amiga – eu a abracei de leve. – Você é um máximo!
- Conta comigo, lindo.
- Calma aí, meninos. Teremos um problema.
- Que problema? – perguntamos juntos.
- O Caio vem pra tarde e ele é da linha branca. A Alexia vem pra manhã e ela é de colchões e estofados. Ambas as esquipes desses setores estão completas nos dois turnos...
- Não entendi? – falei.
- O que eu quero dizer é que a equipe de linha branca da tarde já está completa e a equipe de colchões e estofados da manhã também.
- E o que é que tem? – perguntei.
- Tem que eu não vou poder te deixar na linha branca e não vou poder deixar a Alexia no colchões e estofados. Vocês vão ter que mudar de setor.
Não gostei nada, nada, nada disso.
- Quer dizer que eu vou pra tarde, mas vou ficar no setor dela e ela vem pra manhã pra ficar no meu?
- Exatamente – disse Jonas.
- Não gostei – fechei a cara e cruzei os braços.
- Pois eu amei – Alexia riu.
- É, né bonita? Por causa da comissão.
- Claro que sim!
- Qual a insatisfação, Caio? – perguntou Jonas.
- A comissão, Jonas! Vou perder uma boa graninha com essa mudança.
- Infelizmente vai mesmo – ele concordou. – Mas eu não tenho como te jogar na linha branca à tarde. Sinto muito.
- E se você trocar um vendedor de lá? Se colocar alguém da linha branca no estofados e me deixar onde estou?
- Seria injusto – o Jonas me fitou. – Concorda que a pessoa ia questionar porque eu fiz isso?
- E você teria que dar satisfações?
- Lógico, Caio! Sou líder, mas sou transparente.
- Não estou de acordo. Eu não quero sair da linha branca!
- Então você não vem pra tarde. Você é que sabe. Você vai ter que priorizar o que é melhor pra você. A faculdade ou a comissão.
- As duas coisas.
- É, mas as duas coisas não dá. Você tem que ser maduro, Caio.
- Mas eu amo a linha branca, Jonas!
- Entendo, mas não dá mesmo. Se vier pra tarde você vai pro departamento dela.
- Putz... Quebrou as minhas pernas isso – fiquei realmente chateado.
- É que nem eu te falei, você é que vai priorizar o que é melhor pra você.
- E se eu conseguir uma troca com alguém da linha branca? – perguntei. – Posso tentar?
- Poder você pode, mas não acho justo com a Alexia. Nós já conversamos, ela já aceitou. Seria deslealdade com ela se você fizesse isso.
Olhei pra minha amiga. Ela estava super séria e não esboçou nenhuma reação.
- E agora? – fiquei entre a cruz e a espada.
- Você quer pensar? – perguntou Jonas.
- Pensar?
- Pensa no que é melhor para você e me dá uma resposta ainda hoje, pode ser?
- Pode... – eu suspirei. – Pode ser.
- Pense bem no assunto. Eu estou aguardando a sua resposta.
.
E eu pensei. Pensei tanto que a minha cabeça até doeu. Me senti horrível naquela situação. Horrível mesmo. Me comprometi com a minha amiga e depois mudei de ideia...
Eu não queria sair do meu setor. Não queria mudar para o colchões e estofados... A minha comissão ia cair muito se isso acontecesse...
Por outro lado, eu não podia perder a faculdade. Seria como me jogar de um precipício. Se eu desistisse da faculdade só por um capricho profissional, eu tinha certeza que o Rodrigo iria me odiar pelo resto da vida...
E se eu pedisse para alguém da linha branca trocar comigo, a Alexia provavelmente iria ficar chateada... O que fazer?
- Se você quiser – ela foi falar comigo –, pode trocar com alguém da linha branca, eu vou entender...
- Não... – eu ia deixá-la chateada e não queria que isso acontecesse. – Eu não quero te aborrecer...
- Não vou ficar aborrecida! – mas ela estava mentindo. É claro que ela ia ficar chateada.
Pensei, pensei e pensei mais um pouco. Perder um pouco de dinheiro, perder a faculdade ou ferir uma amiga? Quantas coisas difíceis para resolver, meu Deus!
Dentre todas essas hipóteses, a que me prejudicaria menos era a 1ª. Perder um pouco de dinheiro não ia me fazer nenhuma falta, mas eu ainda estava em dúvida e por esse motivo fui falar com a Janaína.
- Eu no seu lugar trocaria com a Alexia – ela falou séria.
- Por quê?
- Porque foi com ela que você falou primeiro e ela aceitou.
- Mas eu não quero sair da linha branca, Jana!
- Sei que não, mas você vai ter que decidir. Ou é a linha branca ou é a faculdade. O que é mais importante?
- A faculdade, é claro.
- Então? O que está esperando para trocar com ela?
- Mas e a minha comissão?
- Caio, você está sendo muito egoísta.
- Egoísta? Eu? – fiquei chocado e boquiaberto.
- Egoísta sim. Você só está pensando em você! Onde fica a Alexia nessa história? Você sabe se ela passa por dificuldade? Você sabe como é o dia-a-dia dela? Você sabe se ela precisa de dinheiro?
- Nâo... Nunca falei com ela sobre isso.
- Vou te contar um segredinho, meu querido: para a sua informação, é ela que praticamente sustenta a casa, sabia?
- Hã? Como assim?
- A família da Alexia está passando por um momento muito delicado. O tio dela está em estado terminal de câncer e é praticamente ela que ajuda com os remédios e os tratamentos dele. Você sabia disso?
- Acho que ela comentou algo a respeito comigo...
- Pois você não deu a devida atenção, porque se tivesse lembrado disso, teria trocado com ela na hora. Por isso eu falo que você está sendo egoísta e está pensando só em você.
- Eu não sou egoísta – me ofendi.
- Se não é então faça a coisa certa e ajude a sua amiga.
A Janaína me deixou sozinho e foi atender um cliente. Eu fiquei muito chateado por ela ter me chamado de egoísta.
Mas ela estava certa. Eu estava mesmo só pensando em mim. E a Alexia? Onde ela ficava nessa história?
O que a Jana me disse ficou martelando na minha cabeça e só de pensar em não trocar mais com a Alexia e trocar com qualquer outra pessoa do meu departamento, fiquei com o coração cheio de culpa.
- Jonas? – cutuquei meu chefe.
- Só um segundo, Caio.
Esperei ele falar com uma menina do crediário e em seguida sentei na mesa dele.
- E aí? Decidiu?
- Uhum...
- Qual a sua decisão?
Suspirei.
- Eu vou... Eu vou trocar com a Alexia sim.
- Vai mesmo? Tem certeza?
Fiquei em silêncio.
- Tem certeza? – ele me olhou com as sobrancelhas erguidas.
- Absoluta.
- Então tá. Eu vou mandar o e-mail ao RH formalizando a sua troca.
- Uhum...
- Caio, eu sei que você quer ficar na linha branca, mas não vai ser possível nesse momento. Queria que você entendesse isso.
- Eu entendo.
- Você vai super bem nesse setor, super bem mesmo. É um cara jovem, comprometido, é um bom vendedor e sabe vender seu peixe. Eu tenho certeza que em qualquer setor você vai ser bom, cara.
- Obrigado pelo elogio.
- Então pensa nisso. É algo provisório. Prometo que assim que tiver uma chance, eu volto você pro seu setor.
- Promete mesmo? – isso me animou um pouco.
- Prometo, mas assim... Você vai pro colchões e estofados e vai ter que dar o seu melhor lá do mesmo jeito que você dá o seu melhor na linha branca! Se eu ou a Eduarda vermos você fazendo corpo mole, o bicho vai pegar!
- Eu não ia fazer corpo mole – fiquei ofendido com ele também.
- Espero que não faça mesmo. A oportunidade que eu estou te dando é única, tem várias pessoas querendo trocar de horário e eu não permiti. Você é um caso à parte.
- Puxa, obrigado pela compreensão.
- Falando nisso, eu preciso que você traga uma declaração da faculdade informando qual o horário que você está estudando. Gosto de deixar tudo formalizado.
- Eu trago quando?
- O mais rápido possível.
- Beleza. Amanhã mesmo eu já vejo isso. Então já está tudo certo?
- Sim. Agora vai dar a notícia pra sua amiga e aproveita e fica meia hora ao lado dela para você aprender tudo sobre o setor que ela trabalha. Depois ela fica no seu para aprender tudo sobre o seu setor.
- Combinado! Obrigado, Jonas. Desculpa qualquer coisa.
- Não esquenta. Boa sorte nessa nova etapa e eu adorei você ser da minha equipe agora!
- Ah, valeu.
Ele sorriu e deu um tapinha amigável no meu ombro. Fiquei sentado por uns 5 minutos, eu precisava digerir aquela situação.
- Alexia? – a chamei.
- Sim?
- Preciso que você me ensine tudo sobre o seu setor...
- Por que? – ela não ligou uma coisa com a outra.
- Porque à partir de amanhã eu sou daqui, oras!
- Você trocou comigo? – ela não deixou de abrir um sorriso.
- Troquei – abri um sorriso tímido e em seguida ela me abraçou.
- Obrigada, obrigada, obrigada! Você não sabe o quanto está me ajudando!
- Eu sei sim. Queria te pedir desculpas por ter pensado duas vezes no assunto. Eu me esqueci do seu tio, me perdoa?!
- Não se preocupa – ela me olhou com a face muito serena. – Eu te entendo perfeitamente.
- Me desculpa, de verdade. Eu fui egoísta demais.
- Eu no seu lugar também teria reagido assim. Agora cola no meu mocotó e vem aprender tudo o que você puder...
.
- Eu sabia que você não ia me decepcionar – Janaína me deu um beijo enorme na bochecha. – Você é um lindo!
- Obrigado, Jana! Obrigado por abrir os meus olhos.
- Sabia que você ia agir da forma correta. Te admiro muito por isso. Agora eu tenho que ir. Boa sorte amanhã e parabéns pela faculdade!
- Obrigado, amiga.
- Caio? Obrigada por ter trocado comigo – Alexia me deu um beijo da mesma forma que a Janaína fez. – Você foi um amor.
- Imagina, Alexia. Eu te peço desculpas por ter demorado a pensar, tá bom?
- Não esquenta a sua cabeça! Boa sorte amanhã.
- Obrigado, amor!
Dei graças a Deus quando o dia acabou, mas ao mesmo tempo fiquei triste pois aquele era o último dia que eu ficaria na linha branca.
Entretanto, eu sabia que a vida era feita de ciclos. Eu ia começar um ciclo novo e as coisas só iam dar certo pra mim se eu quisesse. Estando ou não estando na linha branca eu ia dar o meu melhor e não seria por dinheiro que eu ia me abalar.
Quanto tempo eu fiquei sem ganhar 1 centavo? Eu tinha que dar graças a Deus por estar trabalhando, isso sim.
- Boa noite, boa noite – as pessoas iam passando e se despedindo.
- Boa noite – falei. – Vamos, Jonas?
- Quer uma carona?
- Se não for pedir muito...
- Sem problemas, mas hoje eu estou de Fusca!
- Sem crise – sorri. – Desde que o carro pegue...
Sem mais nem menos eu comecei a ouvir uma gritaria fora do shopping e eu me perguntei o que estava acontecendo. Jonas e eu saímos da loja como uma faísca e tivemos a maior surpresa quando pisamos fora da loja: a Patrícia e a Camila estavam brigando.
- SUA VACA, VOCÊ ME PAGA – a Patrícia partiu pra cima da menina.
- QUEM ME PAGA É VOCÊ, SUA VADIA!
Todos os funcionários estavam assistindo a briga das duas, mas ninguém fez nada para separá-las. Elas começaram a se bater e uma a puxar o cabelo da outra.
- PIRANHAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA – gritou Camila.
- PIRANHA É VOCÊ, DESGRAÇADA! – Patrícia tentou montar em cima da outra, mas não conseguiu.
- VOCÊ ME PAGA, VADIAAAAAAAAAAAAAAAAA...
- SUA QUENGAAAAAAAAAAAAAAAA. EU QUEBRO A SUA CARA!
- JÁ CHEGA – Jonas puxou Camila pela cintura e afastou da Patrícia. – O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI?
Foi o maior zunzunzum. Todo mundo falou ao mesmo tempo e as duas não pararam de gritar um segundo sequer. Até os seguranças do shopping apareceram. Lembrei do fato lamentável de ter brigado com o Carlos e a Nina no shopping meses antes.
- ESSA PIRANHA ENGRAVIDOU DO MEU NAMORADO – gritou Patrícia, já chorando.
- QUEM ENGRAVIDOU DO MEU NAMORADO FOI VOCÊ, SUA PUTA! EU FIQUEI COM ELE PRIMEIRO!
Eu fiquei sem reação! As duas estavam grávidas do Gabriel... Fiquei pra lá de chocado, pra lá de perplexo. Até o último fio do meu cabelo ficou incrédulo! Coitado do Gabo...
- Amanhã conversaremos sobre isso – Jonas estava muito irritado. – As duas já pra casa!
- Eu quero falar com o Gabo – Patrícia chorava feito uma criança.
- Quem vai falar com ele sou eu, sua puta – disse Camila.
- Camila, vem já comigo – Jonas puxou a menina pela mão. – Vou te levar pra casa.
- Mas, Jonas...
- VEM COMIGO, CAMILA!
A mulher foi obrigada a seguir o nosso chefe. Ele passou por mim, olhou nos meus olhos e disse:
- Vamos, Caio. Vamos embora daqui. E vocês, todos vocês – ele virou para os outros funcionários. – Todos já para casa! Não quero ver ninguém aqui mais.
- Circulando, circulando – mandou um dos seguranças.
Eu só conseguia pensar no Gabriel. Ia ser pai duas vezes e com duas mulheres diferentes. Como ele foi burro em não ter usado camisinha!
- Lamentável, lamentável – Jonas falou no caminho. – Eu não esperava isso de você.
- Desculpa, Jonas... Foi ela que começou, foi ela que começou...
Eu não me meti e só ouvi a conversa. Em determinado momento eu peguei o meu celular e percebi que havia mais 2 mensagens do número desconhecido. Estava cada vez mais curioso para saber quem era.
.
“Caio? Como você está?”
.
Nem me dei ao trabalho de responder.
.
“Quer saber quem sou eu? Sou seu admirador secreto!!!”

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