M
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alditos
olhos azuis...

Se não fosse por eles eu não estaria daquele jeito, Aqueles malditos olhos azuis foram a primeira coisa que eu vi no Bruno e talvez se eles não existissem, eu não estaria passando por toda aquela situação.
Talvez se os olhos daquele garoto não fossem tão incrivelmente azuis, eu não teria me apaixonado. Talvez eu não teria sofrido, talvez eu não estaria sofrendo.
Eu queria entender por que as coisas tinham que ser daquele jeito. Por que eu tive que me apaixonar logo por ele? Por que não me apaixonei por qualquer outro? Pelo Víctor, pelo Rodrigo ou por qualquer outro, mas um outro que me pudesse fazer feliz?
O choro do Bruno era silencioso. Ele me olhou fixamente enquanto as lágrimas lavaram o seu rosto. Rosto pelo qual eu ainda sentia algo, mas que eu não queria admitir, mas que eu não queria acreditar...
- Vamos... Conversar – ele sussurrou e tentou segurar a minha mão direita.
- Não encosta em mim – eu estava com um nó imenso na minha garganta. – Não encosta em mim...
- Me perdoa, Caio... Me perdoa...
Talvez se ele não tivesse falado isso eu pudesse ceder, mas bastou ouvir esse “me perdoa” para o meu ódio tomar cada centímetro do meu corpo. Eu fiquei com vontade de bater na cara dele outra vez.

- Te perdoar? – senti vontade de rir. – NUNCA!
- Vamos pro meu apartamento... Vamos conversar, pelo amor de Deus...
- SOME DAQUI – eu me transtornei de novo. – DESAPARECE DA MINHA FRENTE SEU LIXO, SEU DESGRAÇADO, FILHO DA PUTA, SEU TRAÍRA, SAFADO... EU TE ODEIO, EU TE ODEIO, EU TE ODEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEIO, BRUNO SILVA DUARTE!!
- Caio... – o choro dele se intensificou.
- EU QUERO QUE VOCÊ MORRA... EU QUERO QUE VOCÊ DESAPAREÇA... SAI DAQUI, ME DEIXA EM PAZ, VAI EMBORA SEU INSETO!!!
- Caio...
- VAI EMBOOOOOOOOOOOOOOOOOORA BRUUUUUUNO!!!
Ele secou as lágrimas, abaixou a cabeça, virou e saiu andando. Eu me tremi todo e senti vontade de gritar de tanta raiva que estava sentindo.
Por outro lado, vê-lo indo embora daquele jeito, com a cabeça baixa, fez o meu coração sangrar mais do que já estava sangrando.
Uma parte de mim queria que ele sumisse, mas a outra queria que ele ficasse. E vê-lo daquele jeito me deixou abalado, embora eu estivesse com ódio.
- Caraca, que moleque bravo – ouvi uma mulher falar perto de mim.
Olhei pra um lado, olhei pro outro e percebi que algumas pessoas estavam me olhando. Senti minha pele do rosto esquentar e imediatamente comecei a caminhar pro ponto de ônibus, mas antes eu olhei novamente pro Bruno. Ele continuava caminhando pela areia com a cabeça baixa a passos muito lentos.

- Filho da puta – eu esbravejei e abandonei a areia da Praia da Barra.
Aos poucos o nó da minha garganta foi aumentando, até que chegou o ponto que eu não consegui mais respirar e me engasguei. Quando me dei conta, o meu rosto já estava molhado e o desespero já havia tomado conta de mim.
Era como se a ferida tivesse aumentado. Aquela ferida que estava adormecida novamente fora aberta e estava doendo mais do que nunca...
Até parecia que eu tinha voltado ao dia 24 de agosto de 2.006. Que dor... Que dor no peito... Que dor na alma... Que dor simplesmente insuportável.
Eu deixei as lágrimas caírem e molharem o colarinho da minha camiseta. Não sabia ao certo porque estava chorando. Não sabia se era pelo ódio, pela raiva ou pela dor que tinha voltado.
Provavelmente era pela última opção. Eu não queria estar daquele jeito e se estava, o único culpado era ele. O único culpado era o Bruno. Aquele desgraçado...
- Eu te odeio... Eu te odeio... EU TE ODEEEEEEEEEEEEEIOOOOO!!!
Cheguei a dar um chute no muro que ficava atrás do ponto do ônibus e isso fez todo o meu pé esquerdo doer e muito. Não deveria ter feito aquilo.
Sentei no banco do ponto e abracei os meus joelhos. Por que aquilo estava acontecendo comigo? Por quê???
Como a gente havia se encontrado sendo que o Rio de Janeiro era imenso? Seria destino ou mera coincidência? Não era a primeira vez que aquilo tinha acontecido e isso para mim estava muito estranho!

Se eu soubesse que ele estaria naquela praia, eu não teria nem saído da minha casa. Eu queria muito entender tudo o que estava acontecendo, mas por mais que eu tentasse enxergar respostas para as minhas perguntas, nada me ocorria, absolutamente nada.
Eu tinha tanta coisa com o que me preocupar, mas só consegui pensar nele. Nele, nele, nele e em mais nada. Isso fez a minha dor e consecultivamente o meu ódio aumentarem.
Respirei fundo e tentei me acalmar. Eu precisava voltar pra casa... Precisava da minha cama, precisava do meu lar, precisava de segurança e precisa acima de tudo, de um abraço do Rodrigo.
Entretanto ele não estava em casa. Com toda certeza do mundo estaria no estágio... Só naquele momento eu lembrei disso. E só naquele momento eu me perguntei por que ele queria ir à praia comigo se teria que ir ao estágio. Será que ele seria capaz de faltar no trabalho por minha causa?
Pensei em ligar para pedir socorro, mas não fiz isso. As minhas pernas – sobretudo o meu pé – estavam doendo muito e eu meio que não sabia como ia chegar em casa.
E não sabia também como eu podia sofrer tanto por aquele garoto. Será que o que nós tínhamos vivido fora tão intenso para eu ficar abalado daquele jeito?
Por que eu gostara tanto dele? Só por que ele foi o meu primeiro amor? Só por que ele foi o meu primeiro homem? O meu primeiro namorado?
Eu não podia deixar a minha vida acabar por aquele desgraçado. Eu não podia!!! Tinha que ter uma solução em algum lugar... Tinha que ter uma alternativa, um gancho para eu sair daquele sofrimento. Mas qual solução? Mas qual alternativa? Mal qual gancho?
Um ônibus parou na frente do ponto. Eu levantei a cabeça e por incrível que pareça vi que era o coletivo que ia me levar pra casa. Dei um pulo e entrei no exato momento em que a porta ia fechar.
- Cuidado aí, garoto – falou o motorista.
Não respondi, paguei a passagem e passei pro fundo do busão. Sentei, abaixei a cabeça e continuei pensando no Bruno, masmo não querendo fazer isso.
Ele também estava chorando. Ele também chorou. Por que ele chorou? Por que chorou tão compulsivamente?

Será que ele ainda sentia alguma coisa por mim? Será que eu estava sendo duro demais com ele???
NÃO, EU NÃO ESTAVA! Todo e qualquer tipo de sofrimento que ele viesse a sentir para mim seria pouco. Aquele choro dele pra mim não poderia significar nada. Não, não e não. Eu não poderia ficar com pena dele e de forma alguma eu poderia afrochar na raiva que estava sentindo.
Por mim ele poderia chorar, gritar, espernear, pedir perdão um milhão de vezes que eu não ia voltar atrás. Eu não podia voltar atrás.
E não podia sequer dar oportunidade para ele se explicar. Ele teve a oportunidade e a desperdiçou. E essa oportunidade foi antes do dia 24 de agosto de 2.006.
Se ele quisesse dar qualquer tipo de explicação, que tivesse dado antes da partida. Fosse qual fosse o motivo da saída dele do país, provavelmente eu teria entendido. Claro que eu ia sofrer do mesmo jeito, mas eu teria entendido.
Mas não. Ele não se explicou. Ele não quis se explicar na ocasião, então por que estava querendo se explicar depois de tanto tempo?
Naquele momento era tarde demais e eu não ia voltar atrás na minha decisão. Nem que para isso eu continuasse sofrendo e sentindo dor.
Talvez o que ele merecesse fosse vingança. Nunca tinha parado pra pensar nessa possibilidade, mas era o que ele merecia.
Vingança pela dor que me fez sentir, vingança pelo sofrimento que me fez passar. Sim, era isso. Era isso que aquele garoto merecia: vingança. E era o que eu ia fazer. Era o que ele ia ter.
Por mim ele poderia me procurar um zilhão de vezes, eu não ia atendê-lo. Eu não ia olhar na cara dele e não ia falar com ele. Desprezo e vingança era o que o Bruno merecia e era o que o Bruno ia ter. Vingança e desprezo. Como eu nunca havia pensado naquilo???
Desprezo eu até já tinha pensado, mas não estava fazendo da forma certa. E a vingança? Como deveria ser? Eu deveria apenas ignorá-lo para ele sentir o mesmo que eu senti por ele? Ou deveria ir mais além?
Naquele momento, tudo o que eu mais ansiava era fazê-lo sentir a mesma dor que eu senti. Então qualquer tipo de vingança ainda seria pouco. Se eu apenas continuasse dizendo não seria pouco. Eu precisava de algo a mais... Eu precisava fazer aquele garoto sentir muita dor, muita dor mesmo...
Será que ele ainda gostava de mim? Lembrei que em uma das vezes que a gente se falou ele disse que me amava. E se fosse verdade?
E se ele me amasse mesmo? E se ainda sentisse alguma coisa por mim? O Bruno disse ainda que não era crime estar apaixonado. Apaixonado por mim? Será que ele estava apaixonado por mim?
Isso seria perfeito. Seria perfeito porque eu estava disposto a aparecer com alguém na frente dele. Eu iria ficar por cima, iria me sobressair e mostrar que a fila já tinha andado e que ele não significava nada pra mim. Nada!
Mas é claro que isso não era verdade. Infelizmente ele ainda significava alguma coisa e eu só pude perceber a intensidade disso naquele exato momento. No momento em que a minha ferida voltou à tona com força total.
Olhei pra rua e notei que o meu ponto estava se eproximando. Sequei as lágrimas, respirei fundo e levantei da cadeira onde estava sentado. Em seguida pedi parada.
Desci e foi bom sentir o vento no meu rosto. Os meus olhos estavam ardendo e eu estava tendo dificuldade para respirar por causa do excesso de choro.
As lágrimas não cessaram um segundo sequer. Uma caía e em seguida já vinha outra e a minha camiseta já estava praticamente molhada.

Entrei em casa e senti vontade de sair correndo pra minha cama. Provavelmente eu estava sozinho naquela tarde.
Engano meu. Quando cheguei na sala dei de cara com o Kléber. Ele estava todo arrumado e perfumado e foi logo falando comigo:
- Ai, Caio... Acabei de chegar da entrevista...
Não respondi e funguei duas vezes.
- O que houve, lindo? – ele se aproximou de mim. – Por que está chorando desse jeito? Aconteceu alguma coisa?
- Na-nada – a minha voz embargou. – Eu vou pro meu quarto, tá?
- O que houve, Caio? – Kléber pareceu preocupado. – Por que você está assim?
- Não é nada – eu sequei as lágrimas. – É coisa minha.
- Não confia em mim? Desabafa, quem sabe eu posso te ajudar?
- Não é nada mesmo – menti. – Já vai passar.
- Se não fosse nada você não estaria desse jeito – ele segurou na minha mão. – Nossa como a sua mão está fria!!!
Senti vontade de desabar ali mesmo. Ainda não estava entendendo qual o verdadeiro motivo daquela dor horrível...
Abaixei a cabeça e voltei a soluçar. O Kléber ficou mesmo preocupado e me puxou para um abraço apertado.
- Ei? O que é isso? Você está me deixando preocupado!
- AI, Kléber – eu solucei. – Está doendo tanto!
- Mas o que é, Caio? Eu estou preocupado!
- Meu ex... Meu ex...
- Seu ex? O que tem seu ex?
Fiquei calado e aos poucos consegui segurar o choro. Sequei mais uma vez as minhas lágrimas e consegui me acalmar um pouquinho.
- É uma história muito longa – percebi que a minha voz estava mais grave que o normal. – Outro dia eu te conto.
- Você quer alguma coisa? Uma água com açúcar?
- Não – balancei a cabeça negativamente e esbocei um sorriso amarelo. – Vai ficar tudo bem. Eu só preciso da minha cama, só isso.
- Quer que eu te leve até lá?
- Não, Kléber – eu suspirei e sequei outra lágrima. – Eu posso ir sozinho. Obrigado pela força.
- Você me deixou preocupado agora. Tem certeza que não quer conversar?
- Tenho. Eu só preciso ficar sozinho, tá bom?
- Como você quiser. Se precisar de mim eu estou por aqui, tá?
- Valeu. É bom saber que eu posso contar com você.
Abaixei a cabeça e andei até o banheiro. Antes de ir pra cama eu precisava de um banho porque estava com os meus pés imundos de areia.
Deixei a água lavar o meu corpo, mas eu queria que ela lavasse também a minha alma. Quem sabe assim aquela dor horrível amenizaria?

Me sequei e saí com a toalha enrolada até o meu quarto. Chegando lá, coloquei uma cueca qualquer e fui logo para a minha cama. Deitei, abracei o travesseiro e fiquei pensando no Bruno.
Vingança. Era isso que ele ia ter. Eu ia conseguir alguém, eu ia conseguir um namorado e ia esfregar na cara dele. Eu ia ficar por cima e ia mostrar que não precisava dele pra mais nada. Eu o odiava com todas as minhas forças e não o amava mais. Não podia mais amá-lo, não podia!!!
Graças a Deus o choro já tinha passado. A dor ainda estava dentro do meu peito, mas o choro não ia voltar mais. Eu não ia mais permitir nenhuma lágrima pelo Bruno, NENHUMA!
Degraçado. Era isso que ele era, um desgraçado. Um desgraçado que acabou com a minha vida, mas que não ia mais fazer isso. Não ia!
Não sei quanto tempo fiquei pensando nisso tudo, só sei que de repente alguém entrou no quarto, mas eu não olhei pra trás pra ver quem era.
- Caio? – a voz do Vinícius invadiu os meus ouvidos. – Está dormindo?
- Não, Vini – grunhi. Minha voz estava horrível.
- Está tudo bem? – percebi que ele se aproximou de mim e de repente senti uma mão no meu ombro. – Sente-se mal?
Me virei e o encarei.
- Não, por quê?!
- Está aí todo encolhidinho. E que olhos vermelhos são esses? Andou chorando?
Suspirei.
- Uhum – voltei a olhar pra parede.
- Aconteceu alguma coisa?
- Nada demais. É só o Bruno.
- O que tem ele?
- Nada. A gente se encontrou e eu fiquei mal com isso. Só isso.
- Mas vocês brigaram? Foi isso?
- Uhum.
- Por que? Ele te tratou mal?
- Não. Eu que tratei ele assim.
- Então por que chora? Não estou entendendo nada...
- Eu também não – confessei. – Eu também não.
- Precisa de alguma coisa, irmão? – Vinícius sentou na minha cama. – Quer conversar sobre o assunto?
- Carece não – funguei. – Já estou um pouco melhor. Obrigado pela sua preocupação.
- Tem certeza que não precisa de nada, Caio?
- Absoluta, Vini. Você não deveria estar na faculdade?
- Sim, sim. Eu só vim buscar um livro que deixei em casa, já estou voltando pra lá. Você tem certeza mesmo que não precisa de nada?
- Tenho sim. Não se preocupe comigo. De verdade.
- Se precisar de mim é só me ligar, tá bom?
- Obrigado pela ajuda, Vini. Muito obrigado!!!
Ele pegou o que tinha que pegar, se despediu e saiu do quatto. Fechei os meus olhos, tentei relaxar e aos poucos, muito aos poucos, eu fui adormecendo.

Se não fosse por eles eu não estaria daquele jeito, Aqueles malditos olhos azuis foram a primeira coisa que eu vi no Bruno e talvez se eles não existissem, eu não estaria passando por toda aquela situação.
Talvez se os olhos daquele garoto não fossem tão incrivelmente azuis, eu não teria me apaixonado. Talvez eu não teria sofrido, talvez eu não estaria sofrendo.
Eu queria entender por que as coisas tinham que ser daquele jeito. Por que eu tive que me apaixonar logo por ele? Por que não me apaixonei por qualquer outro? Pelo Víctor, pelo Rodrigo ou por qualquer outro, mas um outro que me pudesse fazer feliz?
O choro do Bruno era silencioso. Ele me olhou fixamente enquanto as lágrimas lavaram o seu rosto. Rosto pelo qual eu ainda sentia algo, mas que eu não queria admitir, mas que eu não queria acreditar...
- Vamos... Conversar – ele sussurrou e tentou segurar a minha mão direita.
- Não encosta em mim – eu estava com um nó imenso na minha garganta. – Não encosta em mim...
- Me perdoa, Caio... Me perdoa...
Talvez se ele não tivesse falado isso eu pudesse ceder, mas bastou ouvir esse “me perdoa” para o meu ódio tomar cada centímetro do meu corpo. Eu fiquei com vontade de bater na cara dele outra vez.
- Te perdoar? – senti vontade de rir. – NUNCA!
- Vamos pro meu apartamento... Vamos conversar, pelo amor de Deus...
- SOME DAQUI – eu me transtornei de novo. – DESAPARECE DA MINHA FRENTE SEU LIXO, SEU DESGRAÇADO, FILHO DA PUTA, SEU TRAÍRA, SAFADO... EU TE ODEIO, EU TE ODEIO, EU TE ODEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEIO, BRUNO SILVA DUARTE!!
- Caio... – o choro dele se intensificou.
- EU QUERO QUE VOCÊ MORRA... EU QUERO QUE VOCÊ DESAPAREÇA... SAI DAQUI, ME DEIXA EM PAZ, VAI EMBORA SEU INSETO!!!
- Caio...
- VAI EMBOOOOOOOOOOOOOOOOOORA BRUUUUUUNO!!!
Ele secou as lágrimas, abaixou a cabeça, virou e saiu andando. Eu me tremi todo e senti vontade de gritar de tanta raiva que estava sentindo.
Por outro lado, vê-lo indo embora daquele jeito, com a cabeça baixa, fez o meu coração sangrar mais do que já estava sangrando.
Uma parte de mim queria que ele sumisse, mas a outra queria que ele ficasse. E vê-lo daquele jeito me deixou abalado, embora eu estivesse com ódio.
- Caraca, que moleque bravo – ouvi uma mulher falar perto de mim.
Olhei pra um lado, olhei pro outro e percebi que algumas pessoas estavam me olhando. Senti minha pele do rosto esquentar e imediatamente comecei a caminhar pro ponto de ônibus, mas antes eu olhei novamente pro Bruno. Ele continuava caminhando pela areia com a cabeça baixa a passos muito lentos.
- Filho da puta – eu esbravejei e abandonei a areia da Praia da Barra.
Aos poucos o nó da minha garganta foi aumentando, até que chegou o ponto que eu não consegui mais respirar e me engasguei. Quando me dei conta, o meu rosto já estava molhado e o desespero já havia tomado conta de mim.
Era como se a ferida tivesse aumentado. Aquela ferida que estava adormecida novamente fora aberta e estava doendo mais do que nunca...
Até parecia que eu tinha voltado ao dia 24 de agosto de 2.006. Que dor... Que dor no peito... Que dor na alma... Que dor simplesmente insuportável.
Eu deixei as lágrimas caírem e molharem o colarinho da minha camiseta. Não sabia ao certo porque estava chorando. Não sabia se era pelo ódio, pela raiva ou pela dor que tinha voltado.
Provavelmente era pela última opção. Eu não queria estar daquele jeito e se estava, o único culpado era ele. O único culpado era o Bruno. Aquele desgraçado...
- Eu te odeio... Eu te odeio... EU TE ODEEEEEEEEEEEEEIOOOOO!!!
Cheguei a dar um chute no muro que ficava atrás do ponto do ônibus e isso fez todo o meu pé esquerdo doer e muito. Não deveria ter feito aquilo.
Sentei no banco do ponto e abracei os meus joelhos. Por que aquilo estava acontecendo comigo? Por quê???
Como a gente havia se encontrado sendo que o Rio de Janeiro era imenso? Seria destino ou mera coincidência? Não era a primeira vez que aquilo tinha acontecido e isso para mim estava muito estranho!
Se eu soubesse que ele estaria naquela praia, eu não teria nem saído da minha casa. Eu queria muito entender tudo o que estava acontecendo, mas por mais que eu tentasse enxergar respostas para as minhas perguntas, nada me ocorria, absolutamente nada.
Eu tinha tanta coisa com o que me preocupar, mas só consegui pensar nele. Nele, nele, nele e em mais nada. Isso fez a minha dor e consecultivamente o meu ódio aumentarem.
Respirei fundo e tentei me acalmar. Eu precisava voltar pra casa... Precisava da minha cama, precisava do meu lar, precisava de segurança e precisa acima de tudo, de um abraço do Rodrigo.
Entretanto ele não estava em casa. Com toda certeza do mundo estaria no estágio... Só naquele momento eu lembrei disso. E só naquele momento eu me perguntei por que ele queria ir à praia comigo se teria que ir ao estágio. Será que ele seria capaz de faltar no trabalho por minha causa?
Pensei em ligar para pedir socorro, mas não fiz isso. As minhas pernas – sobretudo o meu pé – estavam doendo muito e eu meio que não sabia como ia chegar em casa.
E não sabia também como eu podia sofrer tanto por aquele garoto. Será que o que nós tínhamos vivido fora tão intenso para eu ficar abalado daquele jeito?
Por que eu gostara tanto dele? Só por que ele foi o meu primeiro amor? Só por que ele foi o meu primeiro homem? O meu primeiro namorado?
Eu não podia deixar a minha vida acabar por aquele desgraçado. Eu não podia!!! Tinha que ter uma solução em algum lugar... Tinha que ter uma alternativa, um gancho para eu sair daquele sofrimento. Mas qual solução? Mas qual alternativa? Mal qual gancho?
Um ônibus parou na frente do ponto. Eu levantei a cabeça e por incrível que pareça vi que era o coletivo que ia me levar pra casa. Dei um pulo e entrei no exato momento em que a porta ia fechar.
- Cuidado aí, garoto – falou o motorista.
Não respondi, paguei a passagem e passei pro fundo do busão. Sentei, abaixei a cabeça e continuei pensando no Bruno, masmo não querendo fazer isso.
Ele também estava chorando. Ele também chorou. Por que ele chorou? Por que chorou tão compulsivamente?
Será que ele ainda sentia alguma coisa por mim? Será que eu estava sendo duro demais com ele???
NÃO, EU NÃO ESTAVA! Todo e qualquer tipo de sofrimento que ele viesse a sentir para mim seria pouco. Aquele choro dele pra mim não poderia significar nada. Não, não e não. Eu não poderia ficar com pena dele e de forma alguma eu poderia afrochar na raiva que estava sentindo.
Por mim ele poderia chorar, gritar, espernear, pedir perdão um milhão de vezes que eu não ia voltar atrás. Eu não podia voltar atrás.
E não podia sequer dar oportunidade para ele se explicar. Ele teve a oportunidade e a desperdiçou. E essa oportunidade foi antes do dia 24 de agosto de 2.006.
Se ele quisesse dar qualquer tipo de explicação, que tivesse dado antes da partida. Fosse qual fosse o motivo da saída dele do país, provavelmente eu teria entendido. Claro que eu ia sofrer do mesmo jeito, mas eu teria entendido.
Mas não. Ele não se explicou. Ele não quis se explicar na ocasião, então por que estava querendo se explicar depois de tanto tempo?
Naquele momento era tarde demais e eu não ia voltar atrás na minha decisão. Nem que para isso eu continuasse sofrendo e sentindo dor.
Talvez o que ele merecesse fosse vingança. Nunca tinha parado pra pensar nessa possibilidade, mas era o que ele merecia.
Vingança pela dor que me fez sentir, vingança pelo sofrimento que me fez passar. Sim, era isso. Era isso que aquele garoto merecia: vingança. E era o que eu ia fazer. Era o que ele ia ter.
Por mim ele poderia me procurar um zilhão de vezes, eu não ia atendê-lo. Eu não ia olhar na cara dele e não ia falar com ele. Desprezo e vingança era o que o Bruno merecia e era o que o Bruno ia ter. Vingança e desprezo. Como eu nunca havia pensado naquilo???
Desprezo eu até já tinha pensado, mas não estava fazendo da forma certa. E a vingança? Como deveria ser? Eu deveria apenas ignorá-lo para ele sentir o mesmo que eu senti por ele? Ou deveria ir mais além?
Naquele momento, tudo o que eu mais ansiava era fazê-lo sentir a mesma dor que eu senti. Então qualquer tipo de vingança ainda seria pouco. Se eu apenas continuasse dizendo não seria pouco. Eu precisava de algo a mais... Eu precisava fazer aquele garoto sentir muita dor, muita dor mesmo...
Será que ele ainda gostava de mim? Lembrei que em uma das vezes que a gente se falou ele disse que me amava. E se fosse verdade?
E se ele me amasse mesmo? E se ainda sentisse alguma coisa por mim? O Bruno disse ainda que não era crime estar apaixonado. Apaixonado por mim? Será que ele estava apaixonado por mim?
Isso seria perfeito. Seria perfeito porque eu estava disposto a aparecer com alguém na frente dele. Eu iria ficar por cima, iria me sobressair e mostrar que a fila já tinha andado e que ele não significava nada pra mim. Nada!
Mas é claro que isso não era verdade. Infelizmente ele ainda significava alguma coisa e eu só pude perceber a intensidade disso naquele exato momento. No momento em que a minha ferida voltou à tona com força total.
Olhei pra rua e notei que o meu ponto estava se eproximando. Sequei as lágrimas, respirei fundo e levantei da cadeira onde estava sentado. Em seguida pedi parada.
Desci e foi bom sentir o vento no meu rosto. Os meus olhos estavam ardendo e eu estava tendo dificuldade para respirar por causa do excesso de choro.
As lágrimas não cessaram um segundo sequer. Uma caía e em seguida já vinha outra e a minha camiseta já estava praticamente molhada.
Entrei em casa e senti vontade de sair correndo pra minha cama. Provavelmente eu estava sozinho naquela tarde.
Engano meu. Quando cheguei na sala dei de cara com o Kléber. Ele estava todo arrumado e perfumado e foi logo falando comigo:
- Ai, Caio... Acabei de chegar da entrevista...
Não respondi e funguei duas vezes.
- O que houve, lindo? – ele se aproximou de mim. – Por que está chorando desse jeito? Aconteceu alguma coisa?
- Na-nada – a minha voz embargou. – Eu vou pro meu quarto, tá?
- O que houve, Caio? – Kléber pareceu preocupado. – Por que você está assim?
- Não é nada – eu sequei as lágrimas. – É coisa minha.
- Não confia em mim? Desabafa, quem sabe eu posso te ajudar?
- Não é nada mesmo – menti. – Já vai passar.
- Se não fosse nada você não estaria desse jeito – ele segurou na minha mão. – Nossa como a sua mão está fria!!!
Senti vontade de desabar ali mesmo. Ainda não estava entendendo qual o verdadeiro motivo daquela dor horrível...
Abaixei a cabeça e voltei a soluçar. O Kléber ficou mesmo preocupado e me puxou para um abraço apertado.
- Ei? O que é isso? Você está me deixando preocupado!
- AI, Kléber – eu solucei. – Está doendo tanto!
- Mas o que é, Caio? Eu estou preocupado!
- Meu ex... Meu ex...
- Seu ex? O que tem seu ex?
Fiquei calado e aos poucos consegui segurar o choro. Sequei mais uma vez as minhas lágrimas e consegui me acalmar um pouquinho.
- É uma história muito longa – percebi que a minha voz estava mais grave que o normal. – Outro dia eu te conto.
- Você quer alguma coisa? Uma água com açúcar?
- Não – balancei a cabeça negativamente e esbocei um sorriso amarelo. – Vai ficar tudo bem. Eu só preciso da minha cama, só isso.
- Quer que eu te leve até lá?
- Não, Kléber – eu suspirei e sequei outra lágrima. – Eu posso ir sozinho. Obrigado pela força.
- Você me deixou preocupado agora. Tem certeza que não quer conversar?
- Tenho. Eu só preciso ficar sozinho, tá bom?
- Como você quiser. Se precisar de mim eu estou por aqui, tá?
- Valeu. É bom saber que eu posso contar com você.
Abaixei a cabeça e andei até o banheiro. Antes de ir pra cama eu precisava de um banho porque estava com os meus pés imundos de areia.
Deixei a água lavar o meu corpo, mas eu queria que ela lavasse também a minha alma. Quem sabe assim aquela dor horrível amenizaria?
Me sequei e saí com a toalha enrolada até o meu quarto. Chegando lá, coloquei uma cueca qualquer e fui logo para a minha cama. Deitei, abracei o travesseiro e fiquei pensando no Bruno.
Vingança. Era isso que ele ia ter. Eu ia conseguir alguém, eu ia conseguir um namorado e ia esfregar na cara dele. Eu ia ficar por cima e ia mostrar que não precisava dele pra mais nada. Eu o odiava com todas as minhas forças e não o amava mais. Não podia mais amá-lo, não podia!!!
Graças a Deus o choro já tinha passado. A dor ainda estava dentro do meu peito, mas o choro não ia voltar mais. Eu não ia mais permitir nenhuma lágrima pelo Bruno, NENHUMA!
Degraçado. Era isso que ele era, um desgraçado. Um desgraçado que acabou com a minha vida, mas que não ia mais fazer isso. Não ia!
Não sei quanto tempo fiquei pensando nisso tudo, só sei que de repente alguém entrou no quarto, mas eu não olhei pra trás pra ver quem era.
- Caio? – a voz do Vinícius invadiu os meus ouvidos. – Está dormindo?
- Não, Vini – grunhi. Minha voz estava horrível.
- Está tudo bem? – percebi que ele se aproximou de mim e de repente senti uma mão no meu ombro. – Sente-se mal?
Me virei e o encarei.
- Não, por quê?!
- Está aí todo encolhidinho. E que olhos vermelhos são esses? Andou chorando?
Suspirei.
- Uhum – voltei a olhar pra parede.
- Aconteceu alguma coisa?
- Nada demais. É só o Bruno.
- O que tem ele?
- Nada. A gente se encontrou e eu fiquei mal com isso. Só isso.
- Mas vocês brigaram? Foi isso?
- Uhum.
- Por que? Ele te tratou mal?
- Não. Eu que tratei ele assim.
- Então por que chora? Não estou entendendo nada...
- Eu também não – confessei. – Eu também não.
- Precisa de alguma coisa, irmão? – Vinícius sentou na minha cama. – Quer conversar sobre o assunto?
- Carece não – funguei. – Já estou um pouco melhor. Obrigado pela sua preocupação.
- Tem certeza que não precisa de nada, Caio?
- Absoluta, Vini. Você não deveria estar na faculdade?
- Sim, sim. Eu só vim buscar um livro que deixei em casa, já estou voltando pra lá. Você tem certeza mesmo que não precisa de nada?
- Tenho sim. Não se preocupe comigo. De verdade.
- Se precisar de mim é só me ligar, tá bom?
- Obrigado pela ajuda, Vini. Muito obrigado!!!
Ele pegou o que tinha que pegar, se despediu e saiu do quatto. Fechei os meus olhos, tentei relaxar e aos poucos, muito aos poucos, eu fui adormecendo.
-
Acorda, Caio – Rodrigo me cutucou.
- Hã? – eu me assustei. – Que horas são?
- Hora de acordar, já é cedo!
- Que horas são? – eu sentei na cama e vi o meu amigo em pé ao meu lado. Fabrício estava dormindo pelado e de costas pra mim.
- Jà passa das 6. Você vai pra faculdade?
- 6 da manhã? – eu estava atordoado. – Eu dormi tanto assim?
- Quando eu cheguei do estágio você já estava dormindo. Está tudo bem? O Vini disse que você estava chorando ontem...
Vinícius linguarudo!
- Sim – confessei. – Por causa do Bruno.
- De novo? O que aconteceu?
- A gente se encontrou na praia...
- Outra vez? Que história é essa?
- Melhor eu te explicar depois senão vamos acordar os meninos. Eu vou mais tarde pra faculdade, a minha prova é às 10 horas.
- A minha é agora no 1º horário. A gente vai se desencontrar.
- Eu vou com você. Assim pelo menos eu estudo um pouco na biblioteca.
- Então eu vou tomar banho e no caminho você me conta tudo.
- Uhum.
Antes mesmo de sair de casa eu já comecei a falar o que tinha acontecido pro Rodrigo, mas só finalizei o papo quando a gente estava dentro do ônibus:

- E foi isso – suspirei.
- Queria ter ido com você – ele bufou. – Bem que eu queria ter ido com você!
- E seu estágio?
- Pois é, na hora eu nem lembrei dele.
- Ainda bem que você não foi comigo então.
- Ainda bem nada. Eu preferia ter perdido o estágio e ter te protegido ao invés de ver você sofrendo assim. Só queria entender por que você chorou tanto como disse ter chorado.
- A minha ferida abriu numas condições que só eu sei...
- Você amou mesmo esse cara, né?
- Acho que até demais, viu? Nunca senti e acho que nunca vou sentir algo tão forte por alguém como eu sinto por ele.
- Nem por mim? – Rodrigo ficou vermelho.
Fiquei calado, pensando numa resposta.
- Nem por mim você sentiria isso? – meu melhor amigo refez a pergunta.
- Acho que... Não!
Ficamos calados. Eu tinha que ser verdadeiro e essa era a verdade. Eu amava e muito o Rodrigo, mas não era nada comparado ao amor que eu senti pelo Bruno. Eram amores totalmente diferentes. Acho que ali eu percebi que com o Digão seria somente amizade. Eternamente amizade.
Rodrigo e eu continuamos falando sobre outras coisas e com isso eu parei de pensar no falecido, mas bastou ficar sozinho para ele tomar conta da minha mente novamente.

Sentei em uma mesa da biblioteca e tentei me concentrar ao máximo nos estudos, mas não consegui fazer isso. Pelo menos não por completo.
Acho que li a 1ª linha do capítulo do livro umas 50 vezes. Eu só conseguia pensar nele mesmo, não tinha jeito.
Fechei o livro e o caderno e repousei a cabeça nos braços. Fechei os olhos e o rosto dele invadiu os meus pensamentos. Como era lindo, meu Deus. Como era lindo...
- Caio? – ouvi uma voz masculina atrás de mim.
- Hum? – ergui a cabeça. – Oi, Nando. Senta aí...
- Está tudo bem?
- Uhum. Só estou com sono. Cadê a Fê?
- Fazendo a prova. Ela é agora nesse horário. Tem certezz que está tudo bem?
Será que eu estava tão ruim assim?
- Sim. È só cansaço.
- Hum. Vou dar uma lida na matéria. Ainda não entendi muito bem, acho que não vou tirar nota nessa prova, viu?
- Digo o mesmo – suspirei e abri o livro novamente. Dessa vez eu consegui ler o capítulo todo duas vezes seguidas.
- Hã? – eu me assustei. – Que horas são?
- Hora de acordar, já é cedo!
- Que horas são? – eu sentei na cama e vi o meu amigo em pé ao meu lado. Fabrício estava dormindo pelado e de costas pra mim.
- Jà passa das 6. Você vai pra faculdade?
- 6 da manhã? – eu estava atordoado. – Eu dormi tanto assim?
- Quando eu cheguei do estágio você já estava dormindo. Está tudo bem? O Vini disse que você estava chorando ontem...
Vinícius linguarudo!
- Sim – confessei. – Por causa do Bruno.
- De novo? O que aconteceu?
- A gente se encontrou na praia...
- Outra vez? Que história é essa?
- Melhor eu te explicar depois senão vamos acordar os meninos. Eu vou mais tarde pra faculdade, a minha prova é às 10 horas.
- A minha é agora no 1º horário. A gente vai se desencontrar.
- Eu vou com você. Assim pelo menos eu estudo um pouco na biblioteca.
- Então eu vou tomar banho e no caminho você me conta tudo.
- Uhum.
Antes mesmo de sair de casa eu já comecei a falar o que tinha acontecido pro Rodrigo, mas só finalizei o papo quando a gente estava dentro do ônibus:
- E foi isso – suspirei.
- Queria ter ido com você – ele bufou. – Bem que eu queria ter ido com você!
- E seu estágio?
- Pois é, na hora eu nem lembrei dele.
- Ainda bem que você não foi comigo então.
- Ainda bem nada. Eu preferia ter perdido o estágio e ter te protegido ao invés de ver você sofrendo assim. Só queria entender por que você chorou tanto como disse ter chorado.
- A minha ferida abriu numas condições que só eu sei...
- Você amou mesmo esse cara, né?
- Acho que até demais, viu? Nunca senti e acho que nunca vou sentir algo tão forte por alguém como eu sinto por ele.
- Nem por mim? – Rodrigo ficou vermelho.
Fiquei calado, pensando numa resposta.
- Nem por mim você sentiria isso? – meu melhor amigo refez a pergunta.
- Acho que... Não!
Ficamos calados. Eu tinha que ser verdadeiro e essa era a verdade. Eu amava e muito o Rodrigo, mas não era nada comparado ao amor que eu senti pelo Bruno. Eram amores totalmente diferentes. Acho que ali eu percebi que com o Digão seria somente amizade. Eternamente amizade.
Rodrigo e eu continuamos falando sobre outras coisas e com isso eu parei de pensar no falecido, mas bastou ficar sozinho para ele tomar conta da minha mente novamente.
Sentei em uma mesa da biblioteca e tentei me concentrar ao máximo nos estudos, mas não consegui fazer isso. Pelo menos não por completo.
Acho que li a 1ª linha do capítulo do livro umas 50 vezes. Eu só conseguia pensar nele mesmo, não tinha jeito.
Fechei o livro e o caderno e repousei a cabeça nos braços. Fechei os olhos e o rosto dele invadiu os meus pensamentos. Como era lindo, meu Deus. Como era lindo...
- Caio? – ouvi uma voz masculina atrás de mim.
- Hum? – ergui a cabeça. – Oi, Nando. Senta aí...
- Está tudo bem?
- Uhum. Só estou com sono. Cadê a Fê?
- Fazendo a prova. Ela é agora nesse horário. Tem certezz que está tudo bem?
Será que eu estava tão ruim assim?
- Sim. È só cansaço.
- Hum. Vou dar uma lida na matéria. Ainda não entendi muito bem, acho que não vou tirar nota nessa prova, viu?
- Digo o mesmo – suspirei e abri o livro novamente. Dessa vez eu consegui ler o capítulo todo duas vezes seguidas.
ALGUNS
DIAS DEPOIS...
Minha
semana de provas foi turbulenta. Mesmo estando de folga no trabalho, eu acabei
me sentindo bem cansado. Nem parecia que eu estava em casa sem trabalhar.
- Que olheiras são essas? – perguntou Fabrício.
- Olha quem fala – retruquei. – Você também está com olheiras.
- Penúltimo semestre, semana de provas, TCC... Estou ficando louco, Caio!
- Eu imagino. Eu que sou eu que estou no 1º semestre estou ficando louco, que dirá você e o Vini que vão finalizar agora.
- É. Imagino o Vinícius como deva estar. Medicina é punk.
- Mas ele tem o dom pra coisa, então acaba ficando mais fácil.
- Verdade. Eu nunca vi alguém amar tanto a medicina como o Vinícius ama. Só pode ser vocação mesmo. É coisa de Deus isso daí.
- E que Deus aumente a vocação dele cada vez mais. Que o Vini salve muitas vidas nessa profissão linda que ele escolheu.
- Verdade, Caio. Você falou tudo agora. Está melhor, mano?
- Uhum – falei a verdade. – Nada melhor que o tempo, né?
- Sim. O tempo é o senhor da vida. Aprendi isso.
- Estou aprendendo a mesma coisa.
- Bom, vou deixar você estudando e vou tentar me concentrar nos estudos também. Até mais ver.
- Até.
A minha última prova era TGA e pelo jeito ela seria a pior de todas. Eu estava torcendo e esperando uma boa nota em todas as matérias, principalmente nessa e em Matemática.
Pior que não deu outra: a prova do Profº Álvaro foi mesmo uma das mais complicadas e para finalizar com chave de ouro, todas as perguntas eram dissertativas.
Eu entreguei o resultado nas mãos de Deus. Suspirei, coloquei o ponto final e fui entregar a avaliação ao meu mestre:
- Seja o que Deus quiser – falei baixinho.
- Obrigado, Caio – o professor pegou o sulfite. – Boa sorte e está dispensado.
- Obrigado, professor.

- Que olheiras são essas? – perguntou Fabrício.
- Olha quem fala – retruquei. – Você também está com olheiras.
- Penúltimo semestre, semana de provas, TCC... Estou ficando louco, Caio!
- Eu imagino. Eu que sou eu que estou no 1º semestre estou ficando louco, que dirá você e o Vini que vão finalizar agora.
- É. Imagino o Vinícius como deva estar. Medicina é punk.
- Mas ele tem o dom pra coisa, então acaba ficando mais fácil.
- Verdade. Eu nunca vi alguém amar tanto a medicina como o Vinícius ama. Só pode ser vocação mesmo. É coisa de Deus isso daí.
- E que Deus aumente a vocação dele cada vez mais. Que o Vini salve muitas vidas nessa profissão linda que ele escolheu.
- Verdade, Caio. Você falou tudo agora. Está melhor, mano?
- Uhum – falei a verdade. – Nada melhor que o tempo, né?
- Sim. O tempo é o senhor da vida. Aprendi isso.
- Estou aprendendo a mesma coisa.
- Bom, vou deixar você estudando e vou tentar me concentrar nos estudos também. Até mais ver.
- Até.
A minha última prova era TGA e pelo jeito ela seria a pior de todas. Eu estava torcendo e esperando uma boa nota em todas as matérias, principalmente nessa e em Matemática.
Pior que não deu outra: a prova do Profº Álvaro foi mesmo uma das mais complicadas e para finalizar com chave de ouro, todas as perguntas eram dissertativas.
Eu entreguei o resultado nas mãos de Deus. Suspirei, coloquei o ponto final e fui entregar a avaliação ao meu mestre:
- Seja o que Deus quiser – falei baixinho.
- Obrigado, Caio – o professor pegou o sulfite. – Boa sorte e está dispensado.
- Obrigado, professor.
-
Até a próxima aula, queridos – disse a Profª Júlia ao abrir a porta da sala
para nós irmos embora. – Bom dia!
- Bom dia, professora – os alunos iam saindo e cumprimentando a mulher.
- Tchau, professora – falou Rodrigo.
- Good bye, Rodrigo. Good bye, Caio – ela sorriu.
- Bye – eu respondi e suspirei de alívio quando saí no corredor.
Estava odiando aquelas aulas de inglês. Eram chatas e sem graça, mas absolutamente necessárias.
- Ainda bem que as provas na facul acabaram – Rodrigo colocou as duas mãos na nuca. – Agora eu posso me dedicar um pouco ao inglês.
- Verdade. Mal vejo a hora para ver as minhas notas.
- Somos dois.

- Bom dia, professora – os alunos iam saindo e cumprimentando a mulher.
- Tchau, professora – falou Rodrigo.
- Good bye, Rodrigo. Good bye, Caio – ela sorriu.
- Bye – eu respondi e suspirei de alívio quando saí no corredor.
Estava odiando aquelas aulas de inglês. Eram chatas e sem graça, mas absolutamente necessárias.
- Ainda bem que as provas na facul acabaram – Rodrigo colocou as duas mãos na nuca. – Agora eu posso me dedicar um pouco ao inglês.
- Verdade. Mal vejo a hora para ver as minhas notas.
- Somos dois.
Voltar pra loja em pleno
sábado me deixou desmotivado. Ainda mais quando eu lembrei que fazia parte da
equipe de móveis.
- Que saudade – Janaína me espremeu. – Como foram as suas provas?
- Acho que bem. Na verdade eu não sei. Como está tudo por aqui?
- O clima já voltou ao normal. Já pararam os cortes.
- Mais alguém saiu?
- Mais 6 de cada período.
- Uau – eu assoviei. – Quantos foram no total e quem foi desligado?
- Acho que foram no total mais de 20 hein?
- Será? Mas me conta, quem ela mandou?
Janaína disse os nomes e eu fiquei passado.
- Não acredito que mandaram a Selma! – me revoltei.
- Ordem do Tácio – Jana suspirou.
- Que filho da puta! Coitada...
- Pois é. Manda quem pode, obedece quem tem juízo.
- E o Jonas? Cadê? Já era pra ter voltado, não?
- Ele volta segunda. A Eduarda disse que ele pegou vários dias de banco de horas.
- Ah, é? E eles têm banco de horas, né?
- Banco de horas e hora extra também. Eles escolhem o que vão receber.
- Aí é vida – fiquei com inveja. – Que inveja boa...
- Né?
- A Duda também pegou vários dias de banco quando saiu de férias.
- Um dia a gente chega lá, Caio Monteiro!
- Assim seja!
Passei o dia todo entretido nas minhas vendas e graças a isso não tive tempo para pensar no Bruno. Isso me deixou aliviado.
- Sua entrega será no dia 25 em horário comercial – informei ao cliente. – Por favor, compareça ao crediário para finalizar a sua compra.
- Tudo bem. E a montagem?
- A montagem ocorrerá de 3 à 5 dias úteis após a entrega. Se o senhor quiser pode ligar para agendar, mas só depois que entregar.
- Para quem eu ligo?
- Pode ligar no SAC ou ligar aqui na loja mesmo. Eu vou entregar o meu cartão.
Abri a minha gaveta, peguei um dos meus cartões e entreguei ao meu cliente.
- Esse é o meu ramal e esse é o meu celular. Pode ligar quando quiser.
- Beleza então, Caio. Muito obrigado, hein?
- Imagina Seu José. Eu é que agradeço e volte sempre.
- Obrigado.
Foi só colocar os pés pra fora do shopping que o celular começou a tocar. Me surpreendi quando vi que se tratava do Murilo:
- E aí, tudo bom? – ele perguntou.
- Sim e você?
- Bem. Vai estar sossegado amanhã?
- Vou trabalhar, por quê?
- Queria ver se você quer fazer alguma coisa...
- Depende. Que horas?
- Que horas você vai sair do trabalho?
- 19 horas – naquele domingo eu ia entrar às 10.
- Ah... A gente pode ir tomar um sorvete. O que acha?
- Por mim tudo bem... – seria bom espairecer um pouco.
- Então fechou. Você passa aqui em casa pra gente ir?
- Aham. Só me diz o número da sua casa.
Murilo informou o número e eu guardei mentalmente.
- Então eu passo lá por volta das 20 horas, pode ser?
- Combinado então, Caio! Até amanhã então.
- Até amanhã.
- Que saudade – Janaína me espremeu. – Como foram as suas provas?
- Acho que bem. Na verdade eu não sei. Como está tudo por aqui?
- O clima já voltou ao normal. Já pararam os cortes.
- Mais alguém saiu?
- Mais 6 de cada período.
- Uau – eu assoviei. – Quantos foram no total e quem foi desligado?
- Acho que foram no total mais de 20 hein?
- Será? Mas me conta, quem ela mandou?
Janaína disse os nomes e eu fiquei passado.
- Não acredito que mandaram a Selma! – me revoltei.
- Ordem do Tácio – Jana suspirou.
- Que filho da puta! Coitada...
- Pois é. Manda quem pode, obedece quem tem juízo.
- E o Jonas? Cadê? Já era pra ter voltado, não?
- Ele volta segunda. A Eduarda disse que ele pegou vários dias de banco de horas.
- Ah, é? E eles têm banco de horas, né?
- Banco de horas e hora extra também. Eles escolhem o que vão receber.
- Aí é vida – fiquei com inveja. – Que inveja boa...
- Né?
- A Duda também pegou vários dias de banco quando saiu de férias.
- Um dia a gente chega lá, Caio Monteiro!
- Assim seja!
Passei o dia todo entretido nas minhas vendas e graças a isso não tive tempo para pensar no Bruno. Isso me deixou aliviado.
- Sua entrega será no dia 25 em horário comercial – informei ao cliente. – Por favor, compareça ao crediário para finalizar a sua compra.
- Tudo bem. E a montagem?
- A montagem ocorrerá de 3 à 5 dias úteis após a entrega. Se o senhor quiser pode ligar para agendar, mas só depois que entregar.
- Para quem eu ligo?
- Pode ligar no SAC ou ligar aqui na loja mesmo. Eu vou entregar o meu cartão.
Abri a minha gaveta, peguei um dos meus cartões e entreguei ao meu cliente.
- Esse é o meu ramal e esse é o meu celular. Pode ligar quando quiser.
- Beleza então, Caio. Muito obrigado, hein?
- Imagina Seu José. Eu é que agradeço e volte sempre.
- Obrigado.
Foi só colocar os pés pra fora do shopping que o celular começou a tocar. Me surpreendi quando vi que se tratava do Murilo:
- E aí, tudo bom? – ele perguntou.
- Sim e você?
- Bem. Vai estar sossegado amanhã?
- Vou trabalhar, por quê?
- Queria ver se você quer fazer alguma coisa...
- Depende. Que horas?
- Que horas você vai sair do trabalho?
- 19 horas – naquele domingo eu ia entrar às 10.
- Ah... A gente pode ir tomar um sorvete. O que acha?
- Por mim tudo bem... – seria bom espairecer um pouco.
- Então fechou. Você passa aqui em casa pra gente ir?
- Aham. Só me diz o número da sua casa.
Murilo informou o número e eu guardei mentalmente.
- Então eu passo lá por volta das 20 horas, pode ser?
- Combinado então, Caio! Até amanhã então.
- Até amanhã.
NO
DOMINGO...
Voltar
a rua do Bruno sempre me deixava angustiado. Eu estava com medo de encontrá-lo,
mas isso não aconteceu.
- Ufa – respirei aliviado quando toquei a campanhia do Murilo>
Não tardou pra ele aparecer na garagem.
- E aí, beleza? – ele estendeu a mão direita.
- Beleza e você? – apertei a mão do moço.
- Beleza. Entra aí. Eu estou terminando de me arrumar.
- É melhor eu esperar aqui...
- Que nada, entra aí. Não tem ninguém em casa.
Comecei a desconfiar daquele moleque. Por que nunca tinha ninguém na casa dele?
- Licença então.
- Vem, vamos lá pro meu quarto.
Pro quarto? Por que pro quarto? Eu não podia esperar na sala? Será que ele pensou que eu ia roubar alguma coisa?
Dei de ombros e segui o menino. A casa dele era muito bem-organizada.
- Eu só vou terminar de me arrumar rapidinho – ele falou novamente. – Senta aí, fica à vontade.
- Não eu estou bem assim. Obrigado.
- Como quiser.
Percebi que o Murilo fechou a porta com a chave e isso me deixou muito grilado.

- Por que fechou a porta? – fiquei inclusive amedrontado.
- Pra isso aqui acontecer, ó – o molecão me puxou pela cintura, grudou o meu corpo ao dele e com muita rapidez, começou a me beijar.


- Ufa – respirei aliviado quando toquei a campanhia do Murilo>
Não tardou pra ele aparecer na garagem.
- E aí, beleza? – ele estendeu a mão direita.
- Beleza e você? – apertei a mão do moço.
- Beleza. Entra aí. Eu estou terminando de me arrumar.
- É melhor eu esperar aqui...
- Que nada, entra aí. Não tem ninguém em casa.
Comecei a desconfiar daquele moleque. Por que nunca tinha ninguém na casa dele?
- Licença então.
- Vem, vamos lá pro meu quarto.
Pro quarto? Por que pro quarto? Eu não podia esperar na sala? Será que ele pensou que eu ia roubar alguma coisa?
Dei de ombros e segui o menino. A casa dele era muito bem-organizada.
- Eu só vou terminar de me arrumar rapidinho – ele falou novamente. – Senta aí, fica à vontade.
- Não eu estou bem assim. Obrigado.
- Como quiser.
Percebi que o Murilo fechou a porta com a chave e isso me deixou muito grilado.
- Por que fechou a porta? – fiquei inclusive amedrontado.
- Pra isso aqui acontecer, ó – o molecão me puxou pela cintura, grudou o meu corpo ao dele e com muita rapidez, começou a me beijar.

2 comentários:
Mais uma vez volta a dar o ar de minha graça, nem tanto!
Quase uma recaída hein?! Não há como negar que você ainda morria de amores por aquele cara de olhos safira, não? Não adiantava você negar, ele mexeu contigo de uma forma que nem você acreditaria que alguém pudesse mexer. Mesmo depois de meses longe, o simples fato de vê-lo te tocou de uma forma e te deu a certeza que mesmo odiando tudo que você já tinha passado com ele, nada mudaria o fato de que ainda era apaixonado por ele (ou ainda é, não sei).
Todo este ódio não foi carregado em suas lagrimas, mas sim o amor que sentia por ele meio que renasceu após tanto tempo, não foi? E este amor, por mais que tenha te machucado, te feito uma ferida em seu coração, você ainda o amava tão profundamente que não compreendia como que ainda sentia isso por ele, e o odiava por ter feito o que fez. Um verdadeiro paradoxo de sentimento.
Apesar de ser uma pessoa que gosta de revidar na mesma moeda, não acho que uma vingança ele mereça, pois a indiferença é a pior vingança que se pode realizar contra com nos machucou e queira nosso perdão. Olha lá o que você fez com ele, apesar de ser #TeamRodrigo, já estou ressentido com o que esta acontecendo com o Bruno. Mais uma vez dê uma chance ao Bruno. Quanto mais tempo adiar isso, mais este ódio te corromperá e te destruirá por dentro. É um sentimento que tem via de mão dupla, você gera o ódio para a pessoa e para ti mesmo.
Acho que o amor vivido entre vocês, apesar de ter sido “curto”, e cheio de acontecimentos não tão felizes, foi profundo demais. Fato esse que você acabou percebendo que não conseguiria amar o Rodrigo da mesma forma que ama o Bruno. Acho que até o Rodrigo queria saber se caso ele quisesse mais disso, você conseguiria amá-lo tão profundamente como ama ele. Tô vendo uma queda dela para ti. Envergonhado pela pergunta. Mas pelo menos você foi honesto com ele. Tô com o coração aos prantos por ter lido isso, mas fazer o que, ninguém manda no coração mesmo, mas só quero que você seja feliz não importa com quem seja no final. Mais que #TeamRodrigo, sou #TeamCaio, e torço pela felicidade sua, não importa quem esteja ao seu lado.
Este Murilo estava querendo desde o dia que você foi visitar o Vitor para saber se ele era o admirador secreto. Aquele moleque é safado mesmo, sempre tentando uma forma de te levar para o covil dele para te pegar de jeito. Só observando o que este moleque vai dar conta como você já comentou.
Obs.: E sobre a resposta que me enviou do meu comentário, obrigado, sempre tento fazer o melhor para as melhores pessoas, como você sempre diz que quer uma analise dos fatos, acho que consegui fazê-la pelo que me escreveu, apesar de ser gigantesca, mas virginianos se entendem né?!
Esperando ansioso pelo próximo mais a noite.
Saudade de vc meu anjo... Que Deus lhe proteja e q vc ... Te gosto ... Vc eh especial... Nao vou lhe julgar... Vc eh humano... E cada um eh cada um... ... Espero que não tenha feito nada que pudesse se arrepender ... Bjuhs
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