A minha reação foi voltar a minha perna para onde estava e não me mexer mais.
Se antes eu já estava sem ar e com o coração a mil por hora, daquele momento em diante eu fiquei roxo e com os batimentos a milhão... Eu não acreditei que ele estava naquele estado.
- De-desculpa – falei.
- Nã-não te-tem problema – ele também estava sem ar.
Se existia qualquer vestígio de sono, naquele momento em diante não existiu mais. Eu parei de me mexer e tentei ficar o mais parado possível para não fazer nada de errado e acho que o mesmo também aconteceu com o Rodrigo.
Engoli em seco. A cada segundo o meu pênis dava sinal de vida e isso já estava me deixando irritado. Eu estava com muito calor e já estava começando a suar devido a este fato.
- Q-quer mesmo que eu... Que eu durma aqui? – ele perguntou.
- Q-quero – confirmei baixinho.
Rodrigo se mexeu um pouco e aproximou a cabeça da minha. As nossas testas acabaram grudando.
Eu sentia que poderia explodir a qualquer momento. Acho que eu nunca fiquei tão tenso como naquela ocasião.
O ar quente que saía do nariz do Digão estava vindo direto pro meu próprio nariz. Isso significava que as nossas bocas estavam próximas, correto?
Como eu senti vontade de me aproximar mais um centímetro, um milímetro que fosse... Eu queria sentir aqueles lábios, queria sentir da mesma forma que senti no sonho, mas eu não sabia dizer se isso poderia ou não acontecer.
Demorou muito, muito mesmo, mas aos poucos eu fui relaxando o corpo e consegui ficar um pouco mais solto. Só o que não relaxou foi o meu pau. Ele continuou em estado de alerta e não abaixou um segundo sequer.
Fechei meus olhos e suspirei profundamente. Por mais que eu quisesse ficar com o Rodrigo, eu não queria acelerar as coisas e muito menos forçá-lo. Portanto, eu decidi que se fosse acontecer, seria no momento em que ele quisesse.
Mas que era fato que a situação não estava normal, ah isso era. Qual hetero teria coragem de fazer o que o Rodrigo estava fazendo? Qual hetero teria coragem de deitar em uma cama de solteiro com um gay e ficar abraçado com ele, semi-nu? Qual hetero ficaria excitado com um gay? A resposta é simples: NENHUM!
Então foi nesse momento que eu comecei a duvidar da heterossexualidade do Rodrigo. Talvez ele não fosse tão hetero como dizia ser e como aparentava...
Talvez no fundo, bem lá no fundo, ele fosse bi ou talvez ele simplesmente estivesse com vontade de experimentar...
E eu ia adorar ser a cobaia daquele experimento. Por mais que nós fossemos amigos, eu não tinha como negar para mim mesmo que o Digão era um baita partidão e se eu desperdiçasse uma oportunidade como aquela, talvez pudesse me arrepender pelo resto da minha vida.
Eu tive que me mexer. Meus braços já estavam começando a dormir por estarem muito tempo parados. O problema é que não tinha muito espaço na cama para eu me mexer. Qualquer movimento que eu fazia, acabava encostando nele e isso me deixava um pouco constrangido.
Repousei o meu braço direito em cima dele e ele não demonstrou nenhuma reação. Será que estava dormindo?
- Diguinho?
- Hum?
- E-está desconfortável?
- Não.
- Quer ir pra sua cama?
- Nã-não – mais uma vez o hálito dele invadiu meu nariz. – Eu quero ficar aqui... Eu quero ficar aqui com... Você!
O que aquilo significava? Será que eu tinha entendido certo?
Que vontade monstruosa de juntar os meus lábios aos dele... Que vontade imensa de experimentar um beijo, um beijo que fosse...
Mas eu tinha que me controlar. Ele não era gay e por mais que estivesse deitado na minha cama, abraçado comigo, não estava demonstrando nenhum interesse em ficar comigo.
Ou será que eu não estava sabendo ler nas entrelinhas? Talvez ele não estivesse com coragem de ter a iniciativa... E se eu tivesse a iniciativa? E se eu o beijasse? O que será que ia acontecer?
- Caio?
- Hum?
- Por que você disse que o sonho foi lindo? O que isso significa?
Eu fiquei calado por um momento. Precisava ter as palavras certas.
- Significa que foi lindo porque você é lindo – foi isso o que eu soube responder.
- O-obrigado.
Não sei quanto tempo tinha passado, mas eu já estava com metade do meu corpo dormente e o mesmo deveria estar acontecendo com o Rodrigo.
- Diguinho?
- Hum?
- Eu posso me mexer um pouquinho?
- Claro. Eu também preciso me mexer...
Eu medi milimetricamente os meus movimentos e consegui ficar de bruços sem encostar quadril ao dele. Meus músculos agradeceram quando eu finalmente pude relaxá-los um pouquinho.
O Rodrigo deitou de barriga pra cima e isso fez com que novamente os nossos corpos ficassem unidos. Ele estava todo quente e isso me deixou ainda mais alucinado.
Senti dois dedos nas minhas costas e prendi totalmente a minha respiração. Ele fez os dedos andarem pela minha pele até chegarem ao cós da minha cueca e lá eles ficaram.
Soltei o ar que estava preso aos poucos. O cheiro do ombro do Rodrigo me embriagou e eu não consegui mais segurar os meus instintos.
Beijei a pele dele muito suavemente e pelo que pude perceber, houve uma reação em cadeia no corpo dele quando isso aconteceu.
Primeiro, ele ficou com o corpo extremamente travado; depois, eu percebi que toda a pele dele que estava grudada à minha ficou arrepiada e por fim, percebi que ele relaxou totalmente.
Passei o meu braço direito por cima do corpo dele e ele travou novamente.
- Desculpa...
- Nã-não tem problema.
E depois de uns minutinhos, eu fiz o mesmo que ele fez comigo e desci os meus dedos até a cueca dele. Parei quando senti o tecido porque eu sabia que se continuasse, provavelmente ele iria travar totalmente e eu não queria que aquilo acontecesse.
Fiquei parado por um tempo, só sentindo a textura da cueca do meu melhor amigo. Com toda certeza era de algodão, do jeitinho que eu gostava...
Quando me senti preparado, desci os dedos alguns centímetros abaixo até sentir o pau dele. Ainda estava duro, mas pelo jeito não tão duro como antes.
Criei coragem, respirei fundo e perguntei:
- Rodrigo?
- Oi?
- Eu posso... Segurar?
- Se-segurar? – ele ficou feito estátua.
- É...? – engoli em seco. A minha boca já estava cheia de água.
- Nã-não.
Afastei a minha mão imediatamente, mas continuei abraçando o meu amigo.
- Me perdoa! – exclamei.
- Tu-tudo bem – Rodrigo estava gaguejando muito. – O que você acha da ge-gente dormir agora?
Eu não estava com sono, mas ele tinha razão. Em poucas horas nós iríamos ter que levantar e eu mal tinha pregado os olhos naquela madrugada de segunda-feira.
- Vou tentar – falei baixinho.
- Eu também, Caio. Dorme bem, tá bom?
- Você também, Diguinho!
Acho que fui vencido pelo cansaço, porque quanto mais eu tentava pensar, mais eu sentia os meus pensamentos longínquios e desfocados. Isso me deixou um pouco frustrado.
Tive um sono inquieto e acho que isso aconteceu por causa da falta de espaço na minha cama. Será que com ele também foi assim?
Em determinado momento da madrugada eu acordei e tive uma das maiores surpresas da minha vida: Rodrigo e eu estávamos dormindo de “conchinha”.
Eu prendi a minha respiração e fiquei com meus olhos arregalados de susto. Não acreditei que aquilo estava acontecendo.
Rodrigo estava com o braço esquerdo por cima de mim e o nosso corpo estava muito colado. Nós estávamos juntos no sentido literal da palavra e isso me deixou atormentado.
Não senti nenhum vestígio de excitação, muito pelo contrário: naquele momento o meu amigo estava totalmente relaxado. Senti uma espécie de “maria mole” encostada nas minhas nádegas.
Mas eu estava totalmente adverso ao Rodrigo. Se nele faltou excitação, em mim tinha até de sobra. Meu pênis estava tão ereto, mas tão ereto que além de estar doendo, eu também estava com vontade de fazer xixi.
Mas obviamente que eu não ia estragar aquele momento de carinho entre nós dois. Se fosse preciso, eu ficaria ali até não aguentar mais só para aproveitar aquele momento ao máximo. E foi isso que aconteceu.
Consegui voltar a dormir depois de um tempo e só voltei a acordar pela manhã, quando a claridade já tinha invadido completamente o nosso quarto.
- Caio? – a voz dele soou dentro do meu ouvido. – Acorda, Caio.
Eu já estava acordado. Por incrível que pareça, Digão e eu ainda estávamos totalmente agarradinhos.
- Caio? – ele sussurrou no meu ouvido.
Nesse momento a minha pele ficou totalmente arrepiada. Que voz gostosa ele tinha, meu Deus...
- Acorda, Caio – ele falou de novo e acariciou os meus cabelos.
- Já acordei, Diguinho – falei ainda com os olhos fechados.
- Bom dia – ele falou no meu ouvido. – Você dormiu bem?
- Muito bem – falei. - E você?
- Muito bem também. Vamos levantar? A gente tem que ir pra faculdade.
- Não queria acordar desse sonho, Diguinho – falei baixinho. – Está tão bom aqui...
- Está bom, mas nós temos que estudar, lembra? – ele acariciou o meu rosto.
- Não quero ir pra faculdade hoje – falei.
- Mas você precisa. Lembra que você tem que entregar o caderno da Mariana?
Mariana? Era Marcela, não Mariana!
Maldita responsabilidade! Eu abri os meus olhos e a claridade me incomodou demais.
- Droga – entreabri meus lábios e suspirei.
- Não fica assim – ele continuou acariciando o meu rosto.
Eu virei lentamente a cabeça e nossos olhos grudaram. Rodrigo estava com os olhinhos brilhando, com a cara amassada e com o cabelo todo bagunçado. Como ele estava lindo!
Engoli em seco porque fiquei com muita vontade de dar um beijo na boca dele, mas tive que me controlar.
- Isso está mesmo acontecendo? – eu perguntei.
- Não sei – ele estava sério e não tirou os olhos dos meus. – E tenho medo de descobrir a verdade...
Silêncio. Eu me virei por completo e nós ficamos um de frente pro outro. Eu estava excitado ainda, mas acho que naquele momento era mais por vontade de ir ao banheiro do que por qualquer outro motivo.
- Eu também tenho medo de saber a resposta – falei depois de um tempo.
Foi a minha vez de acariciar o rosto dele e quando o fiz, o garoto fechou os olhos.
- Eu acho que é tudo verdade – ele falou com os olhos fechados.
- Eu também acho...
- Isso torna as coisas piores pra mim...
- Por que diz isso? – perguntei enquanto acariciei a face dele.
- Porque eu nunca me imaginei nessa situação e não posso acreditar que isso esteja acontecendo.
- Está arrependido?
- Não é isso – ele abriu os olhos e me fitou. – Eu nem sei o que pensar, Caio.
- Eu também não, Diguinho. Eu também não.
- Vamos pra aula? A gente precisa levantar – ele me encarou.
- Vamos, se não tem jeito...
Demoramos mais uns 2 ou 3 minutos para levantar e assim que ele saiu da cama e eu olhei para baixo, percebi que a minha cueca estava toda melada.
Que vergonha! Passei a noite toda ao lado dele e o meu tesão não cessou um segundo sequer... O que ele ia pensar de mim?
- Quer ir pro banho primeiro? – ele me olhou de cima à baixo e sorriu.
- Uhum – concordei, já totalmente sem graça, - Você leva as coisas pra mim?
- O que você vai precisar?
- Uma toalha limpa, uma cueca e acho que só...
- Levo sim, pode deixar.
Saí quase que correndo pro banheiro e foi extremamente complicado fazer xixi com toda aquela excitação. Me senti muito aliviado quando esvaziei a minha bexiga. O meu corpo ficou até mais leve quando isso aconteceu.
Deixei a porta do banheiro totalmente aberta porque eu sabia que ele ia chegar a qualquer momento. Arranquei minha cueca e parti pra ducha em seguida. Eu queria saber quanto tempo faltava para ter que sair de casa, porque dependendo do tempo livre, eu queria aproveitar um pouco mais daquele banho.
- Estou entrando, hein? – ele falou.
- Pode entrar e fecha a porta, por favor.
Ouvi o barulho da porta articulada sendo fechada. O meu pênis ficou em estado de alerta novamente, mas daquela vez não era por vontade de ir ao banheiro.
- Suas coisas, Cacs...
Abri um sorriso quando ouvi o Rodrigo me chamar pelo meu apelido que ele mesmo inventou. Cacs é a abreviação do meu nome completo, com exceção do Monteiro. Caio C. Silva, ou seja, Cacs.
Abri de leve a porta e coloquei a mão pra fora do box. Ele me entregou as coisas, mas as nossas mãos ficaram grudadas além do tempo necessário para eu pegar a toalha e a cueca limpa.
- Você vai demorar? – ele perguntou.
- Depende. Temos muito ou pouco tempo?
- Pouquíssimo tempo, acho que o Kléber e o Miguel já até saíram de casa.
- Isso é sério?
- É sim, cara. Estamos atrasados! Se puder se adiantar aí eu agradeço.
Nem falei mais nada e desliguei o chuveiro. Mais uma vez não tive como fazer a barba e novamente fiquei irritado por isso acontecer.
Enquanto eu me sequei, ouvi o Digão fazendo xixi e fiquei louco de vontade para pegá-lo no flagra, mas optei por ser educado e não fui curiar o meu melhor amigo. Coloquei a minha roupa íntima, dei uma secada nos meus cabelos e por fim saí do box.
Rodrigo estava cobrindo o pau com a toalha e a cueca e eu fiquei pra lá de surpreso quando percebi que ele estava totalmente pelado.
Meus olhos bateram nas laterais do quadril dele e custaram a acreditar que aquilo estava acontecendo.
- Posso entrar? – ele estava me olhando.
- Hã? Aham...
Dei um passo pra direita e ele entrou, mas entrou de lado só para não me deixar ver nada além da lateral do quadril.
Que raiva que fiquei dele! Se não queria que eu o visse pelado, por que tirou a cueca? Dei um soco no ar e saí do banheiro o mais rápido que pude, senão seria capaz de invadir aquele box e cometer um crime.
Coloquei a primeira roupa que encontrei. Não tive tempo de arrepiar os cabelos e nem senti vontade de penteá-los. Deixei tudo como estava, coloquei meu tênis, passei perfume e por último fui escovar os dentes.
- Já? – ele me olhou de novo.
- Já sim, Diguinho – eu já estava com a escova dentro da boca.
- Já vou me arrumar e a gente já sai, tá bom?
- Beleza.
Pelo menos as coisas entre nós dois estavam normais. Se o meu amigo fosse outro, nem na minha cara ele olharia.
Assim que pus os meus pés no quarto, notei que ele já estava mesmo pronto. Digão também não teve tempo de arrepiar os cabelos e isso o deixou com ar de desleixado, porque além de cabeludo, naquele dia ele estava um pouco barbado. Ele estava com cara de cafajeste!
- Podemos ir? – perguntei.
- Podemos – ele suspirou. – Mas antes eu quero te pedir uma coisa.
- Que coisa?
- Não comenta com ninguém o que houve, tá bom? Por favor...
- Pode deixar, eu não vou falar nada para ninguém – eu fiquei sério. – Podemos ir?
- Podemos!
Conferi se não estava esquecendo nada, peguei a minha chave e nós saímos de casa. Rodrigo e eu ficamos calados a maior parte do tempo, acho que tanto ele, quanto eu estávamos com vergonha por termos passado a noite juntos.
Mais uma vez não ficamos no mesmo banco no ônibus. Eu sentei mais pro fundo e ele foi obrigado a ficar mais pra frente e acho que isso foi bom para a gente digerir toda aquela situação.
O que tinha acontecido? Definitivamente não foi algo “normal”. Quando dois amigos iam ficar do jeito que nós dois ficamos?
Será que o Rodrigo tinha feito tudo aquilo por pura carência ou será que as minhas dúvidas tinham um pouco de fundamento? Será que ele estava mesmo interessado em mim?
E por qual razão ele ficou excitado? Pelo que eu saiba, um homem não fica excitado com outro homem a não ser que ele seja homo ou bissexual.
E foi com essa dúvida que eu fiquei. Dúvida em questão da sexualidade do meu melhor amigo. Não sabia mais se ele era hetero ou bi, mas eu tinha claro na mente que a única coisa que ele não era, era gay.
Não, não. Gay o Digão não era porque ele gostava e gostava muito de mulheres. Só pela cara de safado que ele fez quando falou da Gaby naquele dia na faculdade eu tinha certeza que gay ele não era.
Mas indepente do que ele fosse, eu tinha pra mim que a nossa amizade permaneceria a mesma. Pelo menos eu esperava que ela permanecesse...
Fiquei tão concentrado em meus pensamentos que quando senti o meu celular vibrar no bolso da minha calça acabei levando um baita susto e quase derrubei todos os cadernos no chão.
Peguei o aparelho e percebi a chegada de mais uma mensagem do meu admirador secreto:
.
“Você está cada dia mais lindo. Te adoro demais...”.
.
Quem era, meu Deus? Quem era? Se aquele mistério não se resolvesse em breve, eu estava disposto a mudar o número do meu celular para não ser mais incomodado.
Fiquei dividido entre esses dois pensamentos: primeiro o Diguinho e segundo o tal do admirador.
No fundo do meu coração e da minha mente, eu ainda tinha as minhas dúvidas se o Rodrigo e o admirador não eram as mesmas pessoas, mas por mais que eu pensasse em algo para revelar aquela misteriosa identidade, nenhuma ideia passava pela minha cabeça...
- Caio C. Silva? Cacs? Caiô? Vai ficar aí, menino? – Rodrigo me chamou.
- Hã?
Olhei para todos os lados e percebi que era hora de descer. Fiquei absolutamente distraído e nem me dei conta de onde estava.
- Eu estava distraído – falei.
- Percebi.
Rodrigo deu um salto do busão e começou a andar muito rapidamente. Tudo bem que nós estávamos atrasados, mas ele não precisava correr daquele jeito.
- Me espera, Diguinho!
- Vamos logo, meu... A gente tá atrasado!
Corremos pelas calçadas da Barra da Tijuca. Meu amigo e eu chegamos na universidade com quase 30 minutos de atraso.
- A gente se vê no intervalo – ele falou.
- A gente se vê – concordei.
Suspirei. Que noite perfeita nós dois tivemos... Só ficaria mais perfeita ainda se ele tivesse ficado comigo, mas como disse lá em cima, não ia obrigá-lo a nada.
Entrei na sala e fui direto pro meu lugar. Ainda bem que ninguém tinha se apossado dele.
- Desculpa a demora – entreguei o caderno da Marcela. – E obrigado por ter me emprestado.
- Por nada, Caio! Disponha.
.
Como já havia passado uns poucos dias, eu já estava meio que acostumado com a minha nova rotina e estava acostumado também com as aulas da faculdade – só não conseguia me acostumar com a matemática, mas isso é um detalhe à parte.
Pela primeira vez a Marcela e eu saímos juntos pro intervalo. Com o passar dos dias, a nossa amizade foi se consolidando e nós fomos criando um vínculo afetivo um pouco mais forte.
Abri um sorriso imenso quando o vi me esperando fora da sala. Pelo menos ele não tinha mudado o comportamento pelo que tinha acontecido na noite anterior, ou melhor, naquela madrugada.
- Digão!
- Oi, C. – ele ,me chamou pelo meu primeiro sobrenome.
- Deixa eu te apresentar... Essa é a Marcela...
Percebi que o Digão e a Marcela se olharam profundamente.
- Marcela, esse é meu irmão, o Rodrigo.
- Seu irmão?
- Isso – Rodrigo assentiu. – Tudo bem?
- Tudo e você? – eles se beijaram duas vezes.
- Bem também.
- Não somos irmãos de sangue – comentei. – Na verdade, somos melhores amigos.
- Já falei que você é meu irmão – ele deu um soco no meu ombro.
Doeu, mas eu não revidei. Eu sabia que aquele soco não tinha passado de uma brincadeira e levei na esportiva.
.
As aulas de TGA eram as mais chatas de todas. Os temas que o Profº Álvaro abordava me deixava com sono.
- Acorda – Marcela deu um beliscão no meu braço.
Tive que me controlar para não gritar de dor. A unha da menina era simplesmente imensa e eu senti uma dor insuportável quando ela me beliscou.
- Ai – reclamei. – Doeu.
- Então não dorme, essa aula é importante!
Coloquei o cotovelo direito em cima da carteira e apoiei meu queixo na mão. Fiz de tudo para prestar atenção na aula, mas eu só tinha cabeça pro Rodrigo.
Peguei o meu celular e resolvi mandar uma mensagem pra ele, mas antes fui obrigado a ler mais um torpedo do desconhecido:
.
“Estou com muita vontade de encontrar você. Como faço?”.
.
Finalmente uma atitude, eu só não sabia se aquela atitude era certa. Como eu poderia me encontrar com um desconhecido? E se fosse alguém querendo me matar?
Nem sequer respondi. Abri o menu de mensagens, selecionei a opção para escrever um novo SMS e digitei:
.
“Não consigo parar de pensar em você. Te adoro demais...”.
.
Inseri o número do Rodrigo e cliquei em “OK” para enviar. Em menos de um minuto ele respondeu:
.
“Eu também não consigo parar de pensar em você, Cacs. Te adoro também.”.
.
Que lindo! Ele estava correspondendo aos meus pensamentos. Suspirei e senti algo muito esquisito dentro da minha barriga. Algo que eu não sentia desde a época que o Bruno e eu nos olhávamos profundamente.
- Será? – perguntei para mim mesmo.
- Será o quê? – indagou Marcela.
- Não, nada. Estou pensando alto...
Será que eu estava apaixonado por ele? Será que ele estava apaixonado por mim? Será que ia rolar? Será que era paranoia da minha cabeça? Será que eu estava vendo coisas onde não existia nada? Será que estávamos confundindo os sentimentos? Será que era só carência e nada além de carência? Ou será que no lugar da amizade, estava nascendo outro sentimento? Uma paixão, talvez? Um amor que não fosse de irmãos e sim de homens? Será que ele estava apaixonado por mim e eu apaixonado por ele? Será que era isso de fato?!
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