sábado, 7 de fevereiro de 2015

Capítulo 104

Nunca vi alguém ficar tão branco como aquele rapaz ficou.
- Ca-Ca-Ca-Caio? O q-que vo-você está fa-fazendo aqui?
- Amor? – a menina estranhou. – Que história é essa de amor, Carlos Henrique? O que está acontecendo aqui?
- E-eu posso explicar, Nina... Não é nada disso que você está pensando!
- Não, AMOR! Deixa que eu explico pra ela o que está acontecendo!
- NÃO – ele arregalou os olhos. – CALA A BOCA, CAIO!
- Cala a boca é o caralho, seu filho da puta!
- O que está acontecendo aqui, Henrique? – a tal da Nina ficou exaltada. – Por que diabos esse cara está te chamando de “amor”?
- Algum problema por aqui? – um segurança foi falar conosco. – Querem fazer o favor de parar de gritar? Vocês estão em um shopping!
- Desculpa – falou a menina. – Nós já estamos de saída!
- Vamos embora, Nina – Carlos começou a puxá-la, mas estava olhando pra mim com ódio na fisionomia. – Vamos embora para casa.
- Não – ela puxou o braço e largou das garras nojentas do garoto. – Eu quero saber o que está acontecendo aqui!
- Explica, Henrique – falei com os braços cruzados. – Explica o que está acontecendo! Eu também quero entender tudinho...
- Cala a boca, Caio – ele estava ficando muito vermelho. Não sei se era vergonha ou ódio. – Eu não tenho nada para te explicar. Vamos embora, Nina! Em casa a gente conversa.
- Não – ela se soltou dele de novo. – Eu quero uma explicação agora e se você não der, ele dá!
- Vai, AMOR – falei com a mão coçando para bater na cara dele. – Fala o que está acontecendo pra ela... Fala que nós também somos namorados!
- Namorados? – a menina arregalou os olhos. – Que história é essa de “namorados”, Carlos Henrique???
- Ni-nina, não dá ouvidos pra ele, anjinho... Ele é louco, ele é louco... Ele tem problema mental, amor... Não ouve o que ele está falando, por favor... Vamos embora daqui, Nina...
- Problema mental? – dei risada. – Problema mental? Talvez eu até tenha mesmo, sabe? Devo ser lesado por ter topado ficar com você durante tanto tempo!
- CALA A BOCA, INFELIZ!
- NÃO CALO NÃO! SEU TRAÍRA! DISSE QUE ESTAVA COM DORZINHA DE BARRIGA, MAS ESTAVA AQUI NOS BRAÇOS DESSA GAROTA, NÉ? MENTIROSO!
A mulher ficou chocada. Ela estava mais branca que uma folha de papel. Os olhos estavam meio esbugalhados, a boca estava literalmente aberta e ela parecia tremer na mesma intensidade que eu tremia, talvez um pouco mais.
- DESGRAÇADO – ele partiu pra cima de mim e tentou me bater, mas eu me abaixei e não deixei o soco vir para a minha cara. – EU TE MATO!
Dois seguranças se aproximaram. Muitas pessoas estavam olhando para mim. Eu fiquei extremamente envergonhado.
- Já pra fora – falou um dos seguranças. – Já pra fora ou eu levo vocês pra polícia.
Fui o primeiro a sair. As minhas pernas estavam tremendo de ódio e eu estava com muita, muita vontade de chorar de raiva por ter acreditado naquele cretino.
Outra vez traído, outra vez passado pra trás.
Não fiquei esperando para ver o que ia acontecer com eles. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde, eu teria oportunidade para conversar com ele e colocar tudo em pratos limpos.
Me arrependi de ter causado aquele barraco. Me arrependi de ter me precipitado e ter feito aquele escândalo no meio do shopping. O melhor a ter sido feito naquele momento, era ter calma e ter deixado para falar com ele em outra oportunidade.
Sentei em um banco da entrada do shopping, apoiei os cotovelos nas pernas e as mãos na cabeça e respirei fundo.
Eu estava nervoso, muito nervoso. Eu me descontrolei a tal ponto que senti vontade de chutar o primeiro que aparecesse na minha frente.
- VOCÊ ME EXPÔS AO RIDÍCULO – ela gritou.
- Deixa eu explicar, Nina...
- ME DEIXA EM PAZ, SEU RIDÍCULO!
Eu olhei pro ledo. Eles estavam se aproximando cada vez mais de mim. A Nina estava chorando e ele, continuava com aquela cara de falso anjo que tinha.
- Nina, por favor...
- ME LARGA!
- ME DEIXA EXPLICAR, POR FAVOR...
Eu fiquei assistindo tudo de camarote. Ela virou e acertou a cara dele em cheio. Foi um tapa simplesmente perfeito.
- É isso aqui que você merece, seu nojento! Duas caras, infeliz... Some da minha vida, me deixa em paz!
- Nina, Nina... Por favor...
- SEU NOJENTO! EU TENHO NOJO DE VOCÊ – ela ficou totalmente possuída!
Nunca vi alguém apanhar tanto como ele apanhou daquela garota. E o pior é que o dito cujo não se defendeu!
Me senti vingado. Aqueles tapas era tudo o que ele merecia! E ainda foi pouco no meu ponto de vista.
- Se você vier atrás de mim eu chamo a polícia!
- NINAAAAAAAAAAAAA – ele começou a chorar.
As pessoas passavam e olhavam. Eles ainda não tinham notado a minha presença. A mulher passou por mim correndo e soluçando. Eu me senti culpado por ter feito o namoro dela terminar.
Nossos olhos se cruzaram e ele virou um bicho. Carlos foi pra cima de mim com toda a força que tinha. Ainda bem que eu consegui desviar e me protegi atrás do banco onde estava sentado, senão ele teria me batido em cheio.
- VOCÊ ME PEGA! – ele gritou.
- Está me ameaçando? Quer que eu faça um B.O contra você? – não sei de onde tirei essa ideia.
- SEU VIADO DO CARALHO! EU TE ODEIO, CAIO! EU TE ODEIO!
- EU te odeio – corrigi. – Seu mentiroso, duas caras! E eu é que sou viado? Mas bem que você deu bem direitinho pra mim, né?
- CALA A BOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOCA – ele partiu pra cima de mim, mas eu fui mais rápido.
Com o primeiro tapa, a palma da minha mão ficou ardendo, mas do segundo em diante eu não senti mais nada.
- Seu falso! – foi impressionante como eu consegui me controlar e não gritar. – Mentiroso, nojento, filho da puta, traíra, seu infeliz!
Se ele não tivesse dado um jeito de segurar os meus braços, eu teria continuado os tabefes e socos. Fiquei tão enraivado, mas tão enraivado, que definitivamente não medi as consequências dos meus atos.
- DESGRAÇAAAAAAAAAAAAAAAAAAADO – ele tentou me acertar de novo, mas novamente não conseguiu. – ISSO NÃO VAI FICAR ASSIM, ENTENDEU?
- Não vai, ´é? – a minha vontade era de gritar de tanto ódio que eu estava sentindo, mas resolvi me segurar. – Vai fazer o quê? Vai me matar? Ah, vai pro inferno!!!
Eu dei às costas ao desgraçado e saí andando, mas é claro que ele foi atrás de mim. Henrique tentou fazer de tudo pra me socar, mas eu não deixei que isso acontecesse.
- SE VIER ATRÁS DE MIM EU CHAMO A POLÍCIA! – me revoltei de vez. – VAI ATRÁS DA SUA NAMORADINHA E ME DEIXA EM PAZ, CHEGA DE ENCOSTO NA MINHA VIDA!!!
- VOCÊ ME PAGA, CAIO MONTEIRO! VOCÊ ME PAGA!
- Vai ver se eu estou plantando mandioca no Oceano ìndico!
Ódio. Era isso que eu estava sentindo naquele momento. Parecia que eu estava enxergando tudo vermelho de tão enfurecido que eu estava!
Mais uma vez traído, mais uma vez passado pra trás. Por que as coisas só aconteciam comigo, meu Deus? Por quê?!
Entrei no ônibus, paguei a passagem e sentei em uma das cadeiras que estavam vagas. As minhas mãos tremiam, as minhas pernas estavam moles. Por que as coisas tinham que ser daquele jeito?
Eu não entendia, eu juro que eu não entendia! O que eu tinha feito de errado para todas as pessoas me passarem pra trás ou darem um jeito de me ferir de alguma forma?
Por que eu vim a esse mundo com essa cruz? Por que eu sempre tinha que ser rejeitado por quem eu amava?
Não dava pra entender. Não havia explicação! Simplesmente não havia explicação!
Chorei, mas não de tristeza. Chorei de raiva por ter acreditado em mais um cretino. Chorei de raiva por mais uma vez ter sido traído, por mais uma vez ter sido enganado. Eu não estava triste, eu estava decepcionado, eu estava zangado, eu estava me sentindo péssimo por ter pego o Henrique no flagra.
Pelo menos eu tive como dar uns bons tabefes naquele filho da puta. Pelo menos eu pude descontar um pouco da raiva que ele me fizera passar. Pelo menos eu tive a oportunidade de dar o que ele merecia!
Não me arrependi pelos tapas que dei naquele traíra e sim pelo fato de ter feito isso em um local totalmente inapropriado. Eu fui sim muito imprudente e irracional.
Mas quem no meu lugar faria diferente? Eu agi por impulso e com a cabeça quente. Talvez não tivesse como reagir de outra forma...
Reuni toda a coragem que tive dentro de mim e tentei enfrentar a minha realidade. Corno. Era assim que eu me sentia. Essa é que era a verdade.
Ainda bem que o meu ônibus passou rápido. Eu não sei o que seria de mim se ele demorasse a chegar. Talvez eu estivesse perambulando pelas ruas do Rio de Janeiro pra tentar esfriar a cabeça, mas aquilo não era o melhor a ser feito naquele momento.
Pensando melhor, talvez eu pudesse ter sido só um pouquinho mais responsável. Deveria ter conversado com o Carlos para poder bater nele em outro momento apropriado.
E se esse momento apropriado não existisse nunca? Eu ia perder a oportunidade de descarregar a minha raiva?
- Quer saber? FODA-SE!
Já estava feito. Não tinha como voltar atrás e corrigir o passado. A única coisa que me restava naquele momento, era esperar as consequências dos meus atos impensados.
Queria ver o mar. Ouvir o barulho das ondas. Só isso ia fazer com que eu me acalmasse, mas já estava tarde e no dia seguinte eu teria que trabalhar... O jeito era ir pro meu novo lar mesmo e tentar me acalmar com a companhia do meu travesseiro.
Pensei tanto em tudo o que estava acontecendo que a minha cabeça começou a doer intantaneamente. Duas vezes traído, duas vezes enganado. Será que haveria outras vezes? Por quantas vezes aquilo se repetiria?
Primeiro o Bruno, depois o Henrique. Bruno me traiu com o sonso do Leonardo, Henrique me traiu com uma desconhecida. Será que eu era tão ruim assim pros dois quererem outras pessoas enquanto estavam comigo?
O que eu tinha de errado? Qual era o meu defeito? Por que ninguém me respeitava?
Naquele momento eu cheguei a conclusão que eu não tinha vez com o amor.
O amor não era pra mim. Não, não era pra mim mesmo!
Nunca consegui manter um relacionamento sólido com uma pessoa. Todas as vezes em que me envolvi, acabei me ferrando quase no sentido literal da palavra. A pior das situações foi com o Bruno. Me apaixonei completamente por ele e primeiro levei um belo de um chifre e depois fui abandonado.
Me envolvi com o Henrique e também ganhei dois enfeites na testa... O que me faltava?
Tive um lance com o Vinícius, mas ele nunca quis nada mais sério comigo. Com o Rogério não foi nada diferente e também não passou de uma noite...Nem precisava contar todos os outros, que nem a quantidade eu lembrava mais. Me relacionei com vários caras e nenhum me completou.
Como eu podia acreditar que tinha chances com o amor? Era impossível acreditar nisso. Essa possibilidade estava totalmente descartada no meu leque de opções.
Que ódio eu estava senfindo! Por que aquilo teve que acontecer? Por que logo comigo?
Será que ele tinha feito de propósito? Será que marcou com essa tal de Nina no mesmo shopping justamente para armar um flagrante?
Mas por que ele faria isso? Será que ele não tinha pensado que provavelmente eu iria partir pra agressão?
Não! Acho que ele não fez de propósito, a não ser que tenha sido realmente burro. E até foi mesmo. Marcou com essa Nina no mesmo shopping que marcou comigo. Qualquer pessoa sã das ideias marcaria em locais diferentes...
- Você é um idiota, Caio Monteiro - falei para mim mesmo>
Senti vontade de tomar um porre. Como se isso fosse mudar alguma coisa. Na manhã seguinte, eu ia lembrar de tudo. E pior: ia ter que conviver com o acontecido de qualquer jeito!
De que adiantava ficar mascarando a situação? Eu estava sendo covarde. Covarde por não enfrentar a realidade de frente, covarde por não encarar mais aquela traição!
Não tinha sido a primeira... Quem poderia me garantir que seria a última?
É como diz aquele ditado: "Quem nunca foi corno que atire a primeira pedra". E eu tinha teto de vidro nesse assunto.
Ah, Caio! Como você estava sendo burro e imaturo... Uma crise existencial bateu dentro da minha cachola e me fez perceber que eu estava sendo imaturo.
Eu estava me fazendo de forte sem ser forte. Eu estava tentando passar uma imagem que não era compatível com a realidade.
Eu não tinha superado a ida do Bruno, tinha tentado engatar um relacionamento com um cara que eu não amava de verdade e olha só no que deu.
Adiantou de alguma coisa? A resposta é NÃO!
Eu mergulhei de uma tal forma nos meus pensamentos que nem sequer percebi quando o meu ponto chegou.
- MOTORIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIISTA – gritei. – PARA AÍ MOTORISTA, POR FAVOR...
- Existe algo chamado campainha – falou o cobrador.
- Eu sei, desculpa! Eu perdi a noção de onde estava... Para aí, por favor...
Ainda bem que ele parou. Eu me senti aliviado, porque se o ônibus continuasse o percurso por muito mais tempo, eu não ia saber voltar pra minha casa.
- OBRIGADO!
Alguns passageiros ficaram dando risada de mim, mas eu não me importei. Peguei a rua da minha casa e acelerei o passo. Tudo o que eu precisava naquele momento era de um banho. De um banho e da minha cama.
Passei a chave na portinha que dava acesso a escada e ela logo abriu. Eu subi de dois em dois degraus e infelizmente, me deparei com praticamente todos no sofá da sala.
- Oi, Caio! – Kléber me cumprimentou, mas eu não senti vontade de responder e fui direto pro meu quarto.
- O que ele tem? – ouvi a voz do Maicon.
- Deve estar irritado – falou Fabrício. – Deixem ele quieto.
Que bom que o Fabrício me conhecia. Pelo menos ele saberia respeitar o meu limite naquele momento.
Entrei no quarto e vi Rodrigo mexendo no meu computador. Ele estava concentrado, mas mesmo assim notou a minha presença e disse:
- Oi, Cacs! Onde você estava?
Não falei nada novamente. Apenas me limitei a pegar as minhas roupas e uma toalha seca pra poder tomar um banho e em seguida saí do quarto, sem dar nenhuma satisfação ao meu melhor amigo.
Ainda estava sentindo muita raiva. Em nenhum momento eu fiquei triste por ter perdido o namorado, mas sim por ter sido novamente traído. Era isso que estava me incomodando, apenas isso e nada além disso.
Percebi que o Henrique nunca despertou nenhum sentimento no meu coração. Talvez apenas afeto, talvez apenas carinho, mas nada além disso.
Mas já estava feito e eu não tinha que ficar mais pensando naquele assunto. Mas como parar de pensar?
Deixei a água cair, lavei o corpo com intenção de lavar a alma, no entanto, isso não me fez me sentir um pouco melhor como eu imaginara que aconteceria.
Suspirei e quando me senti pelo menos um pouco mais relaxado, desliguei a ducha, me sequei, me vesti e fui encarar as perguntas do Rodrigo. Eu tinha certeza que ele me faria um interrogatório devido ao meu silêncio de momentos atrás:
- O que é que o senhor tem? Posso saber?
Suspirei de novo. Ia adiantar esconder alguma coisa?
- Terminei o meu namoro – foi a resposta que eu dei a ele.
Silêncio. Eu passei desodorante e em seguida caí na minha cama. Fiquei olhando pra cama do Rodrigo. Era esquisito fitar aquele monte de madeiras e não o teto.
- Por que? – ele colocou a cabeça pra baixo e ficou me olhando com curiosidade.
- Porque ele me traiu!
Não precisei falar mais nada pra ele descer da cama e ficar ao meu lado.
- É sério isso?
- É sério sim, Digow! Acha que eu ia brincar com uma coisa dessas?
- EU MATO AQUELE FILHO DA PUTA! – ele berrou, sentou na minha cama e me puxou para um abraço. – Você está bem, Cacs?
- Péssimo – falei a verdade.
Ele não falou nada e deitou a minha cabeça no ombro dele. Senti vontade de chorar de novo, mas novamente de raiva e não de tristeza.
- Não fica assim, mano – ele falou baixinho. – Eu estou aqui, tá bom?
- Vai ficar tudo bem, Digow. Eu só estou sentindo um pouco de raiva, só isso.
- Me conta essa história direito?
Falei o que tinha acontecido e ele ficou transtornad. Eu não pensei que ele fosse reagir daquela forma.
- Se eu ver esse desgraçado na minha frente, eu juro que eu quero o focinho dele em duas partes!
- Eu já dei umas bifas nele, Digow – falei baixinho.
- Deita aqui no meu colo, deita – ele se ajeitou na cama e pediu pra eu deitar nas pernas dele.
Achei aquilo estranho, mas estava me sentindo tão carente, tão sozinho, tão abandonado que não pensei duas vezes. Deitei, fechei os olhos e deixei a raiva tomar conta de mim.
Eu precisava viver aquele sentimento. Era melhor deixar tudo tomar conta de mim e depois me sentir melhor do que fingir que nada estava acontecendo e continuar me sentindo péssimo por vários dias.
Eu queria saber por qual motivo isso sempre acontecia comigo e mais do que isso, eu queria saber o que estava fazendo de errado para as pessoas me tratarem daquele jeito.
Essa era a pergunta chave: o que eu estava fazendo de errado para merecer tantos sopapos da vida daquele jeito?
Primeiro a expulsão de casa, depois a traição do Leonardo, a traição do Bruno, a mudança dele pra Espanha... Tanta coisa tinha acontecido naqueles últimos 2 anos...
2 anos já haviam passado e eu nem tinha lembrado da data em que mudei pro Rio de Janeiro.
Fiz um balanço de tudo o que aconteceu comigo depois da saída da casa dos meus pais e cheguei a conclusão que não tinha conquistado quase nada.
As únicas coisas que eu podia tirar de bom daquela mudança era o Rodrigo, o Fabrício, o Vinícius, a Janaína e a Alexia. Amigos que eu sabia que levaria pro resto da vida, mas só isso.
E o resto? O que ganhei? Um emprego? OK, ganhei um bom emprego. Só isso de material. Nada além disso, porque até as roupas que eu usava eram as mesmas da época de São Paulo.
Claro que algumas eram novas, mas não todas.
Fiquei confuso, fiquei cansado, fiquei irritado. O Nunca pensei que Rodrigo fosse me deixar ficar ali, deitado em seu colo. Ele não parou de me consolar de me dar apoio um segundo sequer. E era só isso que eu precisava naquele momento.
- Cuida de mim, Drigo? Cuida de mim, por favor?
- Olha pra mim, Caio – ele pediu.
Eu sequei as minhas lágrimas e com muita vergonha encarei os olhos dele.
- Eu sempre, SEMPRE vou cuidar de você. Deixa eu cuidar de você, Caio?

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