P
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arecia
até ser um karma. Eu tentava me livrar do Bruno de tudo que era jeito, mas
mesmo assim a gente se encontrava.
- Mas será o Benedito? – falei com a voz alta
Acho que eu estava ficando louco. Mesmo depois de tudo o que ele me fez, ainda fui capaz de achá-lo lindo? Onde eu estava com a cabeça?
Olhei pra frente e fingi que não os havia visto, mas eles atravessaram. Tudo aconteceu muito rapidamente. Neste momento eu comecei a torcer para o ônibus passar logo.


- Caio? – a voz grave dele entrou nos meus ouvidos, rodopiou em volta do meu cérebro e ficou ecoando dentro da minha cabeça. – Tudo bem?
- Não fala comigo! – eu exclamei, sem tirar os olhos do horizonte.
Não sei se foi azar ou casualidade do destino, mas o fato é que eu estava sozinho naquele ponto de ônibus. Eu não sabia dizer se isso era bom ou ruim.
- Como é bom ver você aqui – ele fingiu que não ouviu o que eu falei e continuou falando comigo normalmente.
- Não... Fala... Comigo... – eu tentei ser cuidadoso com as palavras, uma vez que eu estava em um local público.
- Oi, Caio – o Vítor abriu um sorriso enorme e aparentemente sincero. – Tudo bom?
- Não... Fala... Comigo!
- Credo, que antipatia – Vítor desfez o sorriso e abaixou a mão.
- Melhor ser antipático do ser cínico como você – falei de uma vez só.
- Cínico? Eu? O que eu fiz?
- Você ainda pergunta, garoto? VOCÊ AINDA PERGUNTA? MALDITA HORA QUE EU TE DEI MEU CELULAR, SEU FILHO DA PUTA!
Até parece que algo invadiu o meu corpo, porque de repente eu me senti um monstro e já parti pra cima dele.
- Ai, Caio – ele desviou dos meus tapas. – Não bate em mim!
- ARGH QUE ÓDIO – eu bufei.
E onde estava meu ônibus? Vários estavam passando, mas nenhum era o meu.
- Eu não podia falar nada – Vítor ainda estava atrás do Bruno e os dois me olhavam com a mesma fisionomia de espanto.
- É Caio, eu falei que não era pra ele falar nada – Bruno confirmou. – A culpa é minha.
- CLARO QUE A CULPA É SUA. A CULPA É SEMPRE SUA, SEU NOJENTO!
Bitch abaixou a cabeça e suspirou, mas isso não me deixou com pena.
- O que você fez com a foto que tirou comigo? – perguntei pro melhor amigo do meu ex-namorado. – Cadê aquela foto?
- Salva no meu celular.
- Que foto é essa? – perguntou Bruno.
- Uma que eu tirei com ele no dia do meu aniversário – explicou Vítor.
- E por que eu não estou sabendo dessa foto, Vítor? Quero ver essa foto!
- APAGA ESSA MERDA – eu mandei. – NÃO QUERO FOTO MINHA NO SEU CELULAR, SEU TROUXA!
- Deixa eu ver essa foto, Vítor – Bruno foi autoritário e estendeu a mão.
- Depois eu te mostro.
- Quero ver agora!
- CADÊ ESSE ÔNIBUS!
- Para onde você vai, Caio? – ele tocou no meu ombro.
- NÃO ENCOSTA EM MIM! – eu andei uns 5 passos e não olhei pra trás.
- Deixa eu te dar uma carona?
Era pra rir, né? Só podia ser...
- Só pode ser brincadeira, né? – falei mais pra mim do que pra ele.
- Me deixa falar com você, pelo amor de Deus... Eu tenho tanta coisa pra te contar...
- Foda-se. Não quero falar com você, não quero olhar pra você, não quero ouvir sua voz, não quero te ver nem pintado de ouro na minha frente. ME DEIXA EM PAZ!
- Calma, Caio – Vítor se aproximou. – Você está muito nervoso, dá uma chance pra ele se explicar...
- EXPLICAR O QUÊ? QUE ELE É UM CÍNICO QUE NEM VOCÊ? ISSO EU JÁ SEI, OBRIGADO. NÃO QUERO FALAR MAIS COM VOCÊS...
- Eu não sou cínico! – Vítor ficou ofendido.
- Imagina! Imagina que não é – eu dei risada. – Graças a Deus eu não fiquei com você no dia do seu aniversário. Teria me arrependido até a morte.
- Ficado? – Bruno perguntou. – Que história é essa de ficado?
Eu me virei e olhei no rosto dele.
- Não é nada, Bruno, não é nada – o Vítor pareceu ficar nervoso. – Vamos embora daqui, ele não quer falar com a gente, vamos embora...
- Que história é essa de ter ficado, Vítor? – Bruno se aproximou.
- Não é nada, não dê ouvidos a ele, vamos embora.
- Não falou pro seu amiguinho que você pediu pra ficar comigo, Vítor?
Essa foi a única parte boa de tê-los encontrado na rua. Pelo jeito o Bruno não sabia que o Vítor tinha feito aquele pedido pra mim. E o garoto ainda disse que não era cínico.
Bitch ficou transtornado. Ele segurou no colarinho da camiseta do Vítor e jogou o garoto contra o alambrado do ponto de ônibus.
- Bruno...
- QUE HISTÓRIA É ESSA, SEU IDIOTA?
Eu estava me tremendo todo, mas finalmente o ônibus apareceu. Quando eu avistei o número, tratei logo de esticar o braço e aos poucos o veículo foi reduzindo a velocidade.
As pessoas passavam e ficavam olhando pra gente, isso me deixou muito constrangido.
- Eu... Posso... Explicar... – Vítor gaguejou.
- SEU IDIOTA – Bruno deu um tapa na cabeça do melhor amigo. – QUEM VOCÊ PENSA QUE É PRA DAR EM CIMA DO MEU CAIO?
Meu Caio? MEU CAIO? Eu NÃO era de ninguém, muito menos dele!

Eu subi no ônibus sem olhar pra trás. Já estava ficando farto de ser protagonista daquelas brigas e desentendimentos. Se o Bruno não tivesse voltado ao Brasil, nada daquilo estaria acontecendo.
- Idiota – bufei e olhei pela janela do coletivo.
Como o Vítor era mentiroso. Primeiro, disse para mim que não tinha passado o meu número de celular pra ninguém e ainda por cima, não contou ao Bruno que ele pediu para ficar comigo.
E por que o Bruno fez aquela cena com o melhor amigo? Por que ele deu um tapa na cabeça do garoto? Tudo aquilo era raiva? Ou será que era ciúmes de mim?
Fiquei irritadíssimo com tudo o que tinha acontecido que por um segundo cogitei a possibilidade de sair do Rio de Janeiro.
Mas no segundo seguinte, tudo o que eu tinha conquistado falou mais alto. Lá eu estava trabalhando, ganhando razoavelmente bem, estava fazendo faculdade, academia, curso de inglês, tinha feito vários amigos e tinha uma condição de vida praticamente estável.
Se eu saísse do Rio e fosse para qualquer outra cidade, teria que lutar por tudo novamente. Seria um novo começo, seria passar por todo o sofrimento novamente e isso para mim não ia compensar.
Era apenas o Bruno e o Rio de Janeiro era grande demais para que a gente se encontrasse com tanta frequência. Aquele foi um encontro casual e isso porque eu estava fazendo curso no bairro onde ele morava.
Então, sendo por esse motivo, mais fácil seria mudar de unidade da Wizard. Isso minimizaria as chances de encontros como aquele. Sim, era isso que eu ia fazer.

- Oi, Cacs? – Digow me atendeu prontamente.
- Preciso mudar de unidade da Wizard.
- Hãããã? Por quê?!
- Encontrei o idiota do Bruno enquanto estava esperando o ônibus.
- Brincou?
- Não. Encontrei com ele e o amigo dele.
- Putz... E aí?
- E aí que a gente brigou, né? Dei uns tapas no Vítor. Não consegui me segurar.
- Fez bem, mas o que rolou no fim das contas?
- Saí de lá e eles estavam se pegando.
- SE BEIJANDO?
- Não, o Bruno estava batendo no Vítor porque eu disse que o Vítor pediu pra ficar comigo.
- Sério? Então acho que ele gosta de você ainda, hein? Isso deve ser ciúmes.
- Problema é dele, ele que se lasque. Eu quero mudar de unidade, será que tem como?
- Não sei! Na segunda a gente vê isso.
- É sério, eu quero sair de lá. Não quero ficar encontrando esse filho da puta todo sábado não.
- A gente vê, de verdade. Eu sou o primeiro a concordar com você.
- Então tá bom. Segunda a gente vê. Agora eu vou descer do ônibus... Depois a gente se fala mais.
- E você está bem?
- Vou ficar. A raiva já está diminuindo. Beijo, amigo. Fica com Deus!
- Amém, você também. Qualquer coisa me liga.
- Pode deixar.
- Mas será o Benedito? – falei com a voz alta
Acho que eu estava ficando louco. Mesmo depois de tudo o que ele me fez, ainda fui capaz de achá-lo lindo? Onde eu estava com a cabeça?
Olhei pra frente e fingi que não os havia visto, mas eles atravessaram. Tudo aconteceu muito rapidamente. Neste momento eu comecei a torcer para o ônibus passar logo.
- Caio? – a voz grave dele entrou nos meus ouvidos, rodopiou em volta do meu cérebro e ficou ecoando dentro da minha cabeça. – Tudo bem?
- Não fala comigo! – eu exclamei, sem tirar os olhos do horizonte.
Não sei se foi azar ou casualidade do destino, mas o fato é que eu estava sozinho naquele ponto de ônibus. Eu não sabia dizer se isso era bom ou ruim.
- Como é bom ver você aqui – ele fingiu que não ouviu o que eu falei e continuou falando comigo normalmente.
- Não... Fala... Comigo... – eu tentei ser cuidadoso com as palavras, uma vez que eu estava em um local público.
- Oi, Caio – o Vítor abriu um sorriso enorme e aparentemente sincero. – Tudo bom?
- Não... Fala... Comigo!
- Credo, que antipatia – Vítor desfez o sorriso e abaixou a mão.
- Melhor ser antipático do ser cínico como você – falei de uma vez só.
- Cínico? Eu? O que eu fiz?
- Você ainda pergunta, garoto? VOCÊ AINDA PERGUNTA? MALDITA HORA QUE EU TE DEI MEU CELULAR, SEU FILHO DA PUTA!
Até parece que algo invadiu o meu corpo, porque de repente eu me senti um monstro e já parti pra cima dele.
- Ai, Caio – ele desviou dos meus tapas. – Não bate em mim!
- ARGH QUE ÓDIO – eu bufei.
E onde estava meu ônibus? Vários estavam passando, mas nenhum era o meu.
- Eu não podia falar nada – Vítor ainda estava atrás do Bruno e os dois me olhavam com a mesma fisionomia de espanto.
- É Caio, eu falei que não era pra ele falar nada – Bruno confirmou. – A culpa é minha.
- CLARO QUE A CULPA É SUA. A CULPA É SEMPRE SUA, SEU NOJENTO!
Bitch abaixou a cabeça e suspirou, mas isso não me deixou com pena.
- O que você fez com a foto que tirou comigo? – perguntei pro melhor amigo do meu ex-namorado. – Cadê aquela foto?
- Salva no meu celular.
- Que foto é essa? – perguntou Bruno.
- Uma que eu tirei com ele no dia do meu aniversário – explicou Vítor.
- E por que eu não estou sabendo dessa foto, Vítor? Quero ver essa foto!
- APAGA ESSA MERDA – eu mandei. – NÃO QUERO FOTO MINHA NO SEU CELULAR, SEU TROUXA!
- Deixa eu ver essa foto, Vítor – Bruno foi autoritário e estendeu a mão.
- Depois eu te mostro.
- Quero ver agora!
- CADÊ ESSE ÔNIBUS!
- Para onde você vai, Caio? – ele tocou no meu ombro.
- NÃO ENCOSTA EM MIM! – eu andei uns 5 passos e não olhei pra trás.
- Deixa eu te dar uma carona?
Era pra rir, né? Só podia ser...
- Só pode ser brincadeira, né? – falei mais pra mim do que pra ele.
- Me deixa falar com você, pelo amor de Deus... Eu tenho tanta coisa pra te contar...
- Foda-se. Não quero falar com você, não quero olhar pra você, não quero ouvir sua voz, não quero te ver nem pintado de ouro na minha frente. ME DEIXA EM PAZ!
- Calma, Caio – Vítor se aproximou. – Você está muito nervoso, dá uma chance pra ele se explicar...
- EXPLICAR O QUÊ? QUE ELE É UM CÍNICO QUE NEM VOCÊ? ISSO EU JÁ SEI, OBRIGADO. NÃO QUERO FALAR MAIS COM VOCÊS...
- Eu não sou cínico! – Vítor ficou ofendido.
- Imagina! Imagina que não é – eu dei risada. – Graças a Deus eu não fiquei com você no dia do seu aniversário. Teria me arrependido até a morte.
- Ficado? – Bruno perguntou. – Que história é essa de ficado?
Eu me virei e olhei no rosto dele.
- Não é nada, Bruno, não é nada – o Vítor pareceu ficar nervoso. – Vamos embora daqui, ele não quer falar com a gente, vamos embora...
- Que história é essa de ter ficado, Vítor? – Bruno se aproximou.
- Não é nada, não dê ouvidos a ele, vamos embora.
- Não falou pro seu amiguinho que você pediu pra ficar comigo, Vítor?
Essa foi a única parte boa de tê-los encontrado na rua. Pelo jeito o Bruno não sabia que o Vítor tinha feito aquele pedido pra mim. E o garoto ainda disse que não era cínico.
Bitch ficou transtornado. Ele segurou no colarinho da camiseta do Vítor e jogou o garoto contra o alambrado do ponto de ônibus.
- Bruno...
- QUE HISTÓRIA É ESSA, SEU IDIOTA?
Eu estava me tremendo todo, mas finalmente o ônibus apareceu. Quando eu avistei o número, tratei logo de esticar o braço e aos poucos o veículo foi reduzindo a velocidade.
As pessoas passavam e ficavam olhando pra gente, isso me deixou muito constrangido.
- Eu... Posso... Explicar... – Vítor gaguejou.
- SEU IDIOTA – Bruno deu um tapa na cabeça do melhor amigo. – QUEM VOCÊ PENSA QUE É PRA DAR EM CIMA DO MEU CAIO?
Meu Caio? MEU CAIO? Eu NÃO era de ninguém, muito menos dele!
Eu subi no ônibus sem olhar pra trás. Já estava ficando farto de ser protagonista daquelas brigas e desentendimentos. Se o Bruno não tivesse voltado ao Brasil, nada daquilo estaria acontecendo.
- Idiota – bufei e olhei pela janela do coletivo.
Como o Vítor era mentiroso. Primeiro, disse para mim que não tinha passado o meu número de celular pra ninguém e ainda por cima, não contou ao Bruno que ele pediu para ficar comigo.
E por que o Bruno fez aquela cena com o melhor amigo? Por que ele deu um tapa na cabeça do garoto? Tudo aquilo era raiva? Ou será que era ciúmes de mim?
Fiquei irritadíssimo com tudo o que tinha acontecido que por um segundo cogitei a possibilidade de sair do Rio de Janeiro.
Mas no segundo seguinte, tudo o que eu tinha conquistado falou mais alto. Lá eu estava trabalhando, ganhando razoavelmente bem, estava fazendo faculdade, academia, curso de inglês, tinha feito vários amigos e tinha uma condição de vida praticamente estável.
Se eu saísse do Rio e fosse para qualquer outra cidade, teria que lutar por tudo novamente. Seria um novo começo, seria passar por todo o sofrimento novamente e isso para mim não ia compensar.
Era apenas o Bruno e o Rio de Janeiro era grande demais para que a gente se encontrasse com tanta frequência. Aquele foi um encontro casual e isso porque eu estava fazendo curso no bairro onde ele morava.
Então, sendo por esse motivo, mais fácil seria mudar de unidade da Wizard. Isso minimizaria as chances de encontros como aquele. Sim, era isso que eu ia fazer.
- Oi, Cacs? – Digow me atendeu prontamente.
- Preciso mudar de unidade da Wizard.
- Hãããã? Por quê?!
- Encontrei o idiota do Bruno enquanto estava esperando o ônibus.
- Brincou?
- Não. Encontrei com ele e o amigo dele.
- Putz... E aí?
- E aí que a gente brigou, né? Dei uns tapas no Vítor. Não consegui me segurar.
- Fez bem, mas o que rolou no fim das contas?
- Saí de lá e eles estavam se pegando.
- SE BEIJANDO?
- Não, o Bruno estava batendo no Vítor porque eu disse que o Vítor pediu pra ficar comigo.
- Sério? Então acho que ele gosta de você ainda, hein? Isso deve ser ciúmes.
- Problema é dele, ele que se lasque. Eu quero mudar de unidade, será que tem como?
- Não sei! Na segunda a gente vê isso.
- É sério, eu quero sair de lá. Não quero ficar encontrando esse filho da puta todo sábado não.
- A gente vê, de verdade. Eu sou o primeiro a concordar com você.
- Então tá bom. Segunda a gente vê. Agora eu vou descer do ônibus... Depois a gente se fala mais.
- E você está bem?
- Vou ficar. A raiva já está diminuindo. Beijo, amigo. Fica com Deus!
- Amém, você também. Qualquer coisa me liga.
- Pode deixar.
Parecia
até que eu não estava sentindo as minhas pernas, de tão cansado que eu estava.

Não consegui nem chegar no quarto, quando vi o sofá disponível só pra mim na sala, foi ali mesmo que eu deitei para descansar os meus ossos.
- Ai – gemi de dor no corpo todo. – Que cansaço!
Não demorou nada para os meninos aparecerem aos poucos.
- Caio? Você já chegou! – exclamou Fabrício. – E aí, tudo bom?
- Tô não.
- O que houve, maninho?
- Fui atropelado por uma manada de elefantas grávidas de quadrigêmeos. Meu corpo dói todo.
- Ah, que susto! Pensei que você estava falando sério, seu besta – ele se aproximou e sentou no braço do sofá.
- Que cansaço, Fabrício!
- Vai tomar um banho e dormir então, pô.
- É isso mesmoq eu eu vou fazer, só vou descansar um pouquinho.
- Tem lasanha pra você no micro-ondas, viu?
- Ah, beleza. Eu já vou comer. Obrigado.
- O que é isso? Morreu aí? – perguntou Éverton.
- Praticamente.
- O que você tem, criatura? – Rodrigo me cutucou.
- Dor. Fui atropelado por 5 mil elefantas grávidas de quadrigêmeos.
- Como você é exagerado, meu. Vai, levanta e vai pra cama dormir.
- Nâo consigo. Deixa a dor das minhas pernas passar, por favor...
Talvez eu estivesse ficando doente, porque toda a minha musculatura doía muito. Acho que nem no dia que eu levei a surra do meu pai eu fiquei daquele jeito.
- Ai, Caio – Kléber também foi falar comigo. – Que bom que você chegou!
- Oi, Kléber.
- Vamos sair?
- Sair? – abri um sorriso amarelo. – Só se for daqui pra minha cama.
- Não, não – ele puxou meu braço. – Vamos sair pra noite, mesmo.
- Deus me livre – até bocejei. – Com o cansaço que estou sentindo eu só vou conseguir dormir.
- Para de ser mole, porra. Vamos pra night, vamos curtir!!!
- Sem chance.
- Caio, vamos logo. Levanta, toma um banho e vamos sair comigo e meu irmão...
- Hoje não rola.
Foi mais de meia hora de discussão. O Kléber me torrou tanto a paciência que eu já estava quase cedendo, só pra ele parar de me atrapalhar.
- Faz assim: deixa pro outro final de semana, pode ser? – eu bocejei. – De verdade, hoje eu não tô com cabeça pra balada. Preciso dormir.
- Como você é chato!
- Não é isso, Kléber. Eu estou pra lá de cansado, morrendo de dor no corpo... Trabalhei feito um louco hoje e amanhã ainda vai ter mais. Deixa pro outro final de semana porque nele eu vou estar tranquilo, entende?
- Então você promete que vai no outro sábado?
- Prometo!
- Então eu vou cobrar. Se você não for, vou ficar muito chateado com você.
- Prometo que irei sim, fica tranquilo. Obrigado pelo convite.
- Então tá, né? Já que você não vai, eu vou terminar de me arrumar. Boa noite e bom descanso.
- Obrigado. Boa balada.
Com muito custo eu me pus de pé. Talvez estivesse mesmo ficando doente, aquelas dores não eram normais. Abri a porta do meu quarto e encontrei Fabrício e Rodrigo apagados. E eu que esperava encontrar o Digão acordado pra gente trocar ideia!
Peguei uma cueca limpa, uma toalha seca e parti pro banho. Nem mesmo a água quente fez a minha musculatura relaxar.
Não consegui nem chegar no quarto, quando vi o sofá disponível só pra mim na sala, foi ali mesmo que eu deitei para descansar os meus ossos.
- Ai – gemi de dor no corpo todo. – Que cansaço!
Não demorou nada para os meninos aparecerem aos poucos.
- Caio? Você já chegou! – exclamou Fabrício. – E aí, tudo bom?
- Tô não.
- O que houve, maninho?
- Fui atropelado por uma manada de elefantas grávidas de quadrigêmeos. Meu corpo dói todo.
- Ah, que susto! Pensei que você estava falando sério, seu besta – ele se aproximou e sentou no braço do sofá.
- Que cansaço, Fabrício!
- Vai tomar um banho e dormir então, pô.
- É isso mesmoq eu eu vou fazer, só vou descansar um pouquinho.
- Tem lasanha pra você no micro-ondas, viu?
- Ah, beleza. Eu já vou comer. Obrigado.
- O que é isso? Morreu aí? – perguntou Éverton.
- Praticamente.
- O que você tem, criatura? – Rodrigo me cutucou.
- Dor. Fui atropelado por 5 mil elefantas grávidas de quadrigêmeos.
- Como você é exagerado, meu. Vai, levanta e vai pra cama dormir.
- Nâo consigo. Deixa a dor das minhas pernas passar, por favor...
Talvez eu estivesse ficando doente, porque toda a minha musculatura doía muito. Acho que nem no dia que eu levei a surra do meu pai eu fiquei daquele jeito.
- Ai, Caio – Kléber também foi falar comigo. – Que bom que você chegou!
- Oi, Kléber.
- Vamos sair?
- Sair? – abri um sorriso amarelo. – Só se for daqui pra minha cama.
- Não, não – ele puxou meu braço. – Vamos sair pra noite, mesmo.
- Deus me livre – até bocejei. – Com o cansaço que estou sentindo eu só vou conseguir dormir.
- Para de ser mole, porra. Vamos pra night, vamos curtir!!!
- Sem chance.
- Caio, vamos logo. Levanta, toma um banho e vamos sair comigo e meu irmão...
- Hoje não rola.
Foi mais de meia hora de discussão. O Kléber me torrou tanto a paciência que eu já estava quase cedendo, só pra ele parar de me atrapalhar.
- Faz assim: deixa pro outro final de semana, pode ser? – eu bocejei. – De verdade, hoje eu não tô com cabeça pra balada. Preciso dormir.
- Como você é chato!
- Não é isso, Kléber. Eu estou pra lá de cansado, morrendo de dor no corpo... Trabalhei feito um louco hoje e amanhã ainda vai ter mais. Deixa pro outro final de semana porque nele eu vou estar tranquilo, entende?
- Então você promete que vai no outro sábado?
- Prometo!
- Então eu vou cobrar. Se você não for, vou ficar muito chateado com você.
- Prometo que irei sim, fica tranquilo. Obrigado pelo convite.
- Então tá, né? Já que você não vai, eu vou terminar de me arrumar. Boa noite e bom descanso.
- Obrigado. Boa balada.
Com muito custo eu me pus de pé. Talvez estivesse mesmo ficando doente, aquelas dores não eram normais. Abri a porta do meu quarto e encontrei Fabrício e Rodrigo apagados. E eu que esperava encontrar o Digão acordado pra gente trocar ideia!
Peguei uma cueca limpa, uma toalha seca e parti pro banho. Nem mesmo a água quente fez a minha musculatura relaxar.
E
no fim das contas, era só cansaço mesmo. Na manhã do domingo acordei muito
melhor e bem disposto.

- Bom dia! – exclamei quando cheguei na cozinha. – Que dia lindo hoje, não?
- Bom dia – Vínícius me olhou. – Qual o motivo de tanto bom-humor?
- Ah, dormi tão bem, Vini! Só isso me deixou feliz.
- Sei.
- É verdade. Ontem eu cheguei aqui um caco não foi, Fabrício?
- Verdade. Parecia um mulambo.
- E qual o motivo de tanto cansaço? – sondou o médico.
- Esgotamento físico. Esse é o motivo, mas hoje eu estou melhor. Tem café da manhã?
- Tem aquele bolo de cenoura que o Kléber fez. Ainda tem uns pedaços.
- Dá um aí. Eu tô com fome.
- Bem que você podia fazer aquele bolo de chocolate pra gente, né? – falou Maicon.
- Tem os ingredientes aí? Eu faço.
- Caraca, hoje ele está de bom-humor mesmo – comentou Rodrigo. – Vai chover!
Eles ficaram me enchendo os pacovás, mas a minha aura estava brilhando naquele domigo. Não me importei em fazer o bolo que eles tanto queriam, mesmo isso tendo me cansado um pouco.
- Prontinho – coloquei a última colher de prestígio. – Acabei.
Os caras pediram tanto o bolo e nenhum ficou em casa pra experimentar. Foram todos jogar bola, menos os irmãos.

- Olá, Caio – Miguel apareceu na hora que eu estava terminando de lavar a louça.
- Tudo bom, Miguel? Como foi a balada?
- Da hora. Me diverti demais. Pena que você não foi.
- Ah, ontem eu estava mortinho. Mas no outro sábado eu vou com vocês, pode apostar.
- Isso é o que a gente espera.
- Bom dia! – exclamei quando cheguei na cozinha. – Que dia lindo hoje, não?
- Bom dia – Vínícius me olhou. – Qual o motivo de tanto bom-humor?
- Ah, dormi tão bem, Vini! Só isso me deixou feliz.
- Sei.
- É verdade. Ontem eu cheguei aqui um caco não foi, Fabrício?
- Verdade. Parecia um mulambo.
- E qual o motivo de tanto cansaço? – sondou o médico.
- Esgotamento físico. Esse é o motivo, mas hoje eu estou melhor. Tem café da manhã?
- Tem aquele bolo de cenoura que o Kléber fez. Ainda tem uns pedaços.
- Dá um aí. Eu tô com fome.
- Bem que você podia fazer aquele bolo de chocolate pra gente, né? – falou Maicon.
- Tem os ingredientes aí? Eu faço.
- Caraca, hoje ele está de bom-humor mesmo – comentou Rodrigo. – Vai chover!
Eles ficaram me enchendo os pacovás, mas a minha aura estava brilhando naquele domigo. Não me importei em fazer o bolo que eles tanto queriam, mesmo isso tendo me cansado um pouco.
- Prontinho – coloquei a última colher de prestígio. – Acabei.
Os caras pediram tanto o bolo e nenhum ficou em casa pra experimentar. Foram todos jogar bola, menos os irmãos.
- Olá, Caio – Miguel apareceu na hora que eu estava terminando de lavar a louça.
- Tudo bom, Miguel? Como foi a balada?
- Da hora. Me diverti demais. Pena que você não foi.
- Ah, ontem eu estava mortinho. Mas no outro sábado eu vou com vocês, pode apostar.
- Isso é o que a gente espera.
QUARTA-FEIRA,
4 DE JUNHO DE 2.008
A
faculdade já estava novamente em ritmo de férias. A tensão pela chegada da P2
não estava consumindo somente a mim, mas como todos os alunos da minha sala.
- O balanço patrimonial...
- Caio? – Marcela me chamou.
- Hum?
- Seu celular está aceso!
- Ah, valeu.
Como o aparelho ficava no silencioso, eu nem prestei atenção quando o mesmo vibrou. Era uma mensagem do Rodrigo:
- O balanço patrimonial...
- Caio? – Marcela me chamou.
- Hum?
- Seu celular está aceso!
- Ah, valeu.
Como o aparelho ficava no silencioso, eu nem prestei atenção quando o mesmo vibrou. Era uma mensagem do Rodrigo:
“Não
esquece que hoje eu vou sair da faculdade mais cedo porque tenho médico. Não
espere por mim. Abraço.”.
Mas
eu já tinha esquecido. Ele falou tanto nesse médico e eu nem lembrei que o
coitado tinha consulta.
“Já
tinha esquecido. Não esqueça de ver se dá pra gente trocar de unidade na
Wizard, por favor. Já deveríamos ter visto isso na segunda. Bom médico,
qualquer coisa me liga.”.
Era
apenas uma consulta de rotina. Isso me fez lembrar que fazia um tempão que eu
não realizava um check-up na minha saúde. Estava na hora de marcar um médico.

-
Caio – Eduarda me puxou pelo braço. – Preciso da sua ajuda.
- Não é pra repor estoque não, é?
- Como você adivinhou? – ela abriu um sorriso.
- Minha Nossa Senhora dos Desesperados, me acode. O que eu vou ter que repor?
- O seu setor, oras bolas. Chegaram vários sofás novos e nós vamos colocar na exposição!!!
- Numa hora como essas eu adoraria ser uma menina, sabia? Pelo menos você não ia ficar me pedindo essas coisas.
Não fiz questão de disfarçar a minha insatisfação. Eu não estava sendo pago para ser burro de carga e sim para ser vendedor. Repor os produtos em exposição não era meu papel e a Eduarda tinha que entender isso.
- Só um pouquinho mais para a esquerda, Emerson – ela instruiu o cara que estava me ajudando. – Aí!!! Perfeito. Só faltam mais dois meninos...
- Louvado seja Deus – eu sequei uma gota da minha testa.
Só faltavam dois mesmo, mas eram os mais pesados. Eu tive que fazer um esforço físico descomunal para carregar aqueles estofados. Se soubesse que ia fazer isso, nem teria ido pra academia naquela quarta-feira.
- Não é pra repor estoque não, é?
- Como você adivinhou? – ela abriu um sorriso.
- Minha Nossa Senhora dos Desesperados, me acode. O que eu vou ter que repor?
- O seu setor, oras bolas. Chegaram vários sofás novos e nós vamos colocar na exposição!!!
- Numa hora como essas eu adoraria ser uma menina, sabia? Pelo menos você não ia ficar me pedindo essas coisas.
Não fiz questão de disfarçar a minha insatisfação. Eu não estava sendo pago para ser burro de carga e sim para ser vendedor. Repor os produtos em exposição não era meu papel e a Eduarda tinha que entender isso.
- Só um pouquinho mais para a esquerda, Emerson – ela instruiu o cara que estava me ajudando. – Aí!!! Perfeito. Só faltam mais dois meninos...
- Louvado seja Deus – eu sequei uma gota da minha testa.
Só faltavam dois mesmo, mas eram os mais pesados. Eu tive que fazer um esforço físico descomunal para carregar aqueles estofados. Se soubesse que ia fazer isso, nem teria ido pra academia naquela quarta-feira.
-
Hoje eu vou embora com você, Caio – informou Janaína.
- Por qual motivo?
- Vou dormir na casa da minha tia. Ela mora lá no seu bairro. Ela ganhou neném e eu vou ajudar.
- Nossa que legal. Eu sei que uma coisa não tem nada a ver com a outra, mas você sabe como está o tio da Alexia?
- Na mesma. Dizem que agora ele não acordará mais do coma.
- Sério? Então é só uma questão de tempo?
- Infelizmente sim.
- Vou rezar por ele. Por todos eles. Vai ser um momento de muita dor.
- Isso é verdade.
- Janaína, telefone pra você – falou uma das vendedoras de móveis.
- Quem é?
- Um cliente. E ele está virado no giraia.
- Deus me acuda nessa hora difícil – a negra colocou as duas mãos pro céu e saiu andando com elas pra cima.
- Que menina doida – caí na gargalhada.
Como o movimento estava razoavelmente tranquilo, eu tive oportunidade para trocar ideia com a Alexia. A notícia que a Janaína me deu não me deixou muito contente.
- Fiquei sabendo que o seu tio está na mesma. É verdade?
- Sim – Alexia confirmou. – Os médicos disseram que a doença já virou metástase. O câncer se espalhou por todo o corpo, agora é só uma questão de dias. Talvez horas.

- Eu sinto muito – abracei a minha amiga com todo o carinho do mundo. – Pode contar comigo se você precisar.
- Eu estou tranquila, Caio. Eu sei que isso vai ser muito melhor pra ele. Meu tio está sofrendo muito.
- Agora você falou uma verdade. Eu também penso desse jeito. E eu tenho pra mim que a vida continua.
- Eu tenho certeza disso. Certeza absoluta.
- E a sua família? Seus pais?
- Acho que todos já estão preparados pra isso. O que me deixa angustiada mesmo são os filhos, a esposa... Vai ser um momento muito duro.
- Mas Deus sabe de todas as coisas, amiga.
- Com toda certeza do mundo.

- Por qual motivo?
- Vou dormir na casa da minha tia. Ela mora lá no seu bairro. Ela ganhou neném e eu vou ajudar.
- Nossa que legal. Eu sei que uma coisa não tem nada a ver com a outra, mas você sabe como está o tio da Alexia?
- Na mesma. Dizem que agora ele não acordará mais do coma.
- Sério? Então é só uma questão de tempo?
- Infelizmente sim.
- Vou rezar por ele. Por todos eles. Vai ser um momento de muita dor.
- Isso é verdade.
- Janaína, telefone pra você – falou uma das vendedoras de móveis.
- Quem é?
- Um cliente. E ele está virado no giraia.
- Deus me acuda nessa hora difícil – a negra colocou as duas mãos pro céu e saiu andando com elas pra cima.
- Que menina doida – caí na gargalhada.
Como o movimento estava razoavelmente tranquilo, eu tive oportunidade para trocar ideia com a Alexia. A notícia que a Janaína me deu não me deixou muito contente.
- Fiquei sabendo que o seu tio está na mesma. É verdade?
- Sim – Alexia confirmou. – Os médicos disseram que a doença já virou metástase. O câncer se espalhou por todo o corpo, agora é só uma questão de dias. Talvez horas.
- Eu sinto muito – abracei a minha amiga com todo o carinho do mundo. – Pode contar comigo se você precisar.
- Eu estou tranquila, Caio. Eu sei que isso vai ser muito melhor pra ele. Meu tio está sofrendo muito.
- Agora você falou uma verdade. Eu também penso desse jeito. E eu tenho pra mim que a vida continua.
- Eu tenho certeza disso. Certeza absoluta.
- E a sua família? Seus pais?
- Acho que todos já estão preparados pra isso. O que me deixa angustiada mesmo são os filhos, a esposa... Vai ser um momento muito duro.
- Mas Deus sabe de todas as coisas, amiga.
- Com toda certeza do mundo.
-
Ai minha mãe – a Janaína suspirou. – Não acredito que está chovendo!
- Nem eu – me surpreendi. – Não imaginava isso. Agora é encarar a realidade e pegar o nosso busão.
- Não quer esperar um pouco não?
- Deus me livre! Já fiquei tempo demais nesse shopping, eu quero é a minha casa!
- Mas e o meu cabelo? Então espera aí que vai ter todo um preparamento para esse momento.
- Você quis dizer preparatório, correto?
- Não, é preparamento mesmo. É pra rimar com momento.
- Idiota – falei.
- ME RESPEITA, HEIN? Ai, Jesus... Cadê a minha touca de banho?
Eu suspirei. Mulheres! Ainda bem que eu nasci homem e nunca me preocupei com esse lance de cabelo em dia de chuva.
Fiquei olhando pra minha amiga. Ela abriu a bolsa, pegou uma touca de banho e colocou no cabelo.
- Eu não acredito...
- Calma – ela me olhou. – Isso é só o começo. Segura a minha bolsa, por favor.
- Meu Deus...
Em seguida, ela pegou uma blusa com capuz e por fim uma sombrinha rosa-choque. Janaína vestiu a blusa, colocou o capuz e enfim abriu a sombrinha.
- Agora eu estou pronta. Vamos?
- Minha nossa, Jana. Isso tudo é medo de estragar a chapinha?
- Chapinha não! Escova. Escova, entendeu? Você nunca mais ouse falar que eu uso chapinha!
- Dá na mesma. É tudo igual.
- Igual uma ova. Eu não sou desse tipo de gente que fica passando o ferro no cabelo. Sou uma lady, eu faço escova uma vez por semana senão não consigo domar a juba. Vamos ou vai ficar me olhando desse jeito? Olha que eu te pego, hein?
- Deus me livre. Vamos embora.
Abri meu guarda-chuva e encarei a tempestade. Não era bem uma tempestade, mas também não era uma garoa. Estava chovendo meio forte.
- AI vou molhar meus dedos, Caio – ela reclamou quando viu uma poça.
- Que tal você pular a poça de água?
- Ai, Jesus... Me acode... AAAAH...
- Janaína, quer parar? Já estou ficando com vergonha!
- Olha lá, hein? Se falar isso de novo eu esfrego a sua cara no asfalto.
- Mulher doida, eu hein?
O ponto estava lotado e é claro que todo mundo queria ficar embaixo da parte coberta, mas como eu estava de guarda-chuva, não me importei com isso. O importante mesmo era chegar logo em casa.
- Vem, Jana. Nosso ônibus chegou.
- Aleluia... Licença, Dona Maria – a mulher tentou sair do ponto. – Licença, Dona Maria... Licença, Seu Zé... Obrigada...
Pedi parada e para a minha sorte, notei que o transporte público estava vazio. Isso deveria ter ocorrido por conta da chuva.
- Eu vou na janelinha, eu vou na janelinha – ela saiu correndo na minha frente e pegou o lugar na janela.
- Quantos anos você tem? 6?
- Mais ou menos isso daí.
- 6 vezes 10 né?
- Me respeita, hein? Me respeita senão eu te processo por bullying.
- Ai, Senhor.
Pensei que o ônibus ia ficar vazio até a minha casa, mas isso não aconteceu. Ele ficou lotado e bem lotado.
Em um determinado momento, uma mulher um pouco gordinha ficou em pé ao lado da minha cadeira. Ela não tinha uma cara muito agradável e sem pensar duas vezes, abriu a janela que ficava próximo à Janaína.
Como ainda estava chovendo, umas gotas de água entraram no ônibus e molharam a Janaína e é claro que a minha amiga fechou a janela, mas quem disse que a mulher deixou? A gordinha voltou a abrir o vidro e a Janaína novamente foi molhada.


- Eu mereço – ela falou no meu ouvido e fechou o vidro de novo.
Porém, a mulher abriu pela terceira vez e nesse momento a Janaína perdeu a paciência:
- Minha senhora, a senhora não está vendo que está chovendo e eu estou ficando molhada?
Os ombros da Jana estavam visivelmente molhados.
- E isso é chuva? – perguntou a mulher.
- Nâo... É cuspe! – Janaína fechou a Janela com ferocidade. – FRANCAMENTE!
- Mas eu estou com calor, garota! – a mulher reclamou.
- Problema é seu! Não tenho culpa que você está na menopausa, agora eu não sou obrigada a me molhar por sua causa. Procura outro lugar pra abrir a janela.
Eu não sabia se ria ou se chorava. Foi o maior bate-boca, até o motorista se meteu:
- Querem parar com essa gritaria? Eu vou parar o ônibus, hein?
- A culpa é dela – falou a mulher.
- Minha? – Janaína alterou o tom de voz. – Não é você que está ficando ensopada sua velha...
A desconhecida falou alguns palavrões e foi pro fundo do busão. A maioria dos passageiros ficou rindo da cena da Janaína e eu fiquei morrendo de vergonha.
- Mulher folgada! – ela bufou.
- Já chega – eu falei. – Já me fez pagar mico demais por hoje.
- Mas não é? Vê se eu mereço uma coisa dessas...
Fiquei preto passado na chapinha com esse barraco da Janaína. Eu já sabia que ela era meio louca, mas não a esse ponto.
- Me ajuda aqui, por obséquio – ela colocou a bolsa nas minhas mãos. – Eu preciso repetir todo o processo.
- Só Cristo na causa.
Mais uma vez ela colocou a touca de banho, a blusa com o capuz e abriu a sombrinha rosa-choque.
- Minha sombrinha não é linda? – ela ficou toda encantada com a cor do objeto.

- Lindamente horrorosa. Se você estiver no Equador a gente consegue te achar com isso daí.
- Olha a minha cara de preocupada. Eu não estou nem aí!!!
- É você mesmo que usa – dei de ombros. – Sua louca, quase me fez morrer de vergonha.
- Vergonha? Vergonha por que? O que eu fiz de errado? A mulher era muito folgada!
- Você poderia pelo menos ter sido um pouco mais discreta, né?
- Ah, você não me conhece, garoto. Não mexe comigo não...
- Boa dica. Boa noite, querida. Beijo.
- Boa noite, amado. Obrigada pela companhia.
- Dez reais.

Eu quase corri até a minha casa. A rua estava esquisita demais e estava com um clima tenso no ar. Será que tinha acontecido alguma coisa ou era apenas por causa da chuva?
Abri a portinha, entrei, girei a chave duas vezes na fechadura e subi as escadas com o máximo de cuidado possível, já que os degraus estavam meio molhados e escorregadios. Ainda bem que alguém colocou um tapete na entrada da sala.
- Boa noite, molecada – falei.
- E aí, Caio? – Éverton falou comigo. – Molhou muito aí?
- Só um pouco.
Não troquei muitas palavras com os meninos devido o meu cansaço. Eu queria muito poder dormir, mas ainda tinha um trabalho da faculdade pra finalizar.
- Pode devolver o notebook, meu filho – me dirigi ao Rodrigo. – Tenho um trabalho da faculdade pra finalizar.
- Só mais 5 minutinhos, estou terminando de responder uns e-mails.
- Beleza. Enquanto isso eu vou pro banho. Tem janta?
- Não.
- Affe. O jeito vai ser tomar o suplemento da academia.
- Eu fiz isso também. A propósito, o dinheiro já está na conta, viu?
- Eu disse que não tinha pressa, né?
- Mas eu já depositei. Odeio ficar devendo, mesmo que seja pro meu irmão.
Que bonitinho! Eu adorava quando ele me chamava de irmão.
- O Vini foi pra Bruna?
- Aham.
- Ele vai acabar morando com ela daqui uns tempos.
- Não duvido nada.
Peguei minha roupa limpa e fui direto pro chuveiro, mas o banheiro estava ocupado.
- Quem é? – era o Kléber.
- Sou eu. Vai demorar muito aí?
- Mais 5 minutinhos, Caio.
- Eu espero! Valeu.
Enquanto o menino não saiu do sanitário, eu fui até a cozinha e preparei o meu shake. Foi ele que me salvou naquela noite chuvosa.

- Sua janta vai ser essa? – perguntou Fabrício.
- Sim. Não tem comida feita.
- É, acabou tudo. A gente precisa fazer compras.
- Verdade. Vou deixar a minha parte com você, pode ser?
- Claro. Obrigado pela confiança.
Depois que saí do banho e fui pra lavanderia deixar a minha roupa suja, me deparei com um balde abarrotado de roupas íntimas. Fui obrigado a lavá-las.
- Dai-me coragem – suspirei.
- Falando sozinho? – o Kléber apareceu atrás de mim.
- Com Deus na verdade.
- Ah... Quer ajuda aí nas roupas?
- Não. Eu só vou lavar as minhas cuecas.
- Eu te ajudo!
- Não, obrigado. Pode deixar que eu mesmo lavo.
- Mal-agradecido! – ele fingiu ficar ofendido.
- Não é questão disso, mas enfim. Quais as novas?
- Nenhuma e você?
- Menos.
- Nossa balada está de pé no sábado, não?
- Com certeza sim. Vou trabalhar no domingo, mas mesmo assim eu vou com vocês.
- Você não ia folgar?
- Ia, mas um colega desistiu da hora extra e me colocaram no lugar.
- Todos os domingos que você trabalha é em caráter de hora extra?
- Isso.
- Então você deve ganhar bem, hein Caio?
- Não posso reclamar não.
- Me arruma um emprego nessa loja?
- Está falando sério?
- Seríssimo. Preciso de dinheiro...
- Ah, posso ver com a minha gerente se ainda tem alguma vaga em aberto. Pelo que sei, vai abrir contratação agora em julho.
- Então me ajuda? Eu quero muito ganhar bem.
- Mas pra ganhar bem, você vai ter que se matar de trabalhar. Vai ter que fazer um monte de extras que nem eu, vai ter que vender muito para ganhar comissão...
- Eu não tenho medo do trabalho, Caio. Estou falando sério, se puder me ajudar eu ficarei eternamente agradecido.
- Amanhã mesmo eu falo com a Eduarda.
- Quem é Eduarda?
- Minha gerente.
- Nome bonito.
- Verdade. Eu concordo com você. Passa o amaciante pra mim, por favor?
- Caramba, você já terminou?
- Quase. Só vou enxaguar e colocar no amaciante e já eras.
- Que rápido!
- Eu lavo tudo de uma vez, tô nem aí.
- É isso aí. Tempo é dinheiro.
Quando voltei pro quarto o meu computador estava em cima da minha cama.
- Obrigado por ser pontual – falei.
- Disponha – ele bocejou e virou pro lado.
- Já vai dormir?
- Já.
- Também vou – Fabrício bocejou.
- Queria fazer isso também. Que droga.
- Vai fazer o seu trabalho – falou Fabrício. – Boa noite.
Era a minha única opção. Desligueia luz do quarto, abri o notebook e fui logo fazendo o que tinha que fazer.
- Nem eu – me surpreendi. – Não imaginava isso. Agora é encarar a realidade e pegar o nosso busão.
- Não quer esperar um pouco não?
- Deus me livre! Já fiquei tempo demais nesse shopping, eu quero é a minha casa!
- Mas e o meu cabelo? Então espera aí que vai ter todo um preparamento para esse momento.
- Você quis dizer preparatório, correto?
- Não, é preparamento mesmo. É pra rimar com momento.
- Idiota – falei.
- ME RESPEITA, HEIN? Ai, Jesus... Cadê a minha touca de banho?
Eu suspirei. Mulheres! Ainda bem que eu nasci homem e nunca me preocupei com esse lance de cabelo em dia de chuva.
Fiquei olhando pra minha amiga. Ela abriu a bolsa, pegou uma touca de banho e colocou no cabelo.
- Eu não acredito...
- Calma – ela me olhou. – Isso é só o começo. Segura a minha bolsa, por favor.
- Meu Deus...
Em seguida, ela pegou uma blusa com capuz e por fim uma sombrinha rosa-choque. Janaína vestiu a blusa, colocou o capuz e enfim abriu a sombrinha.
- Agora eu estou pronta. Vamos?
- Minha nossa, Jana. Isso tudo é medo de estragar a chapinha?
- Chapinha não! Escova. Escova, entendeu? Você nunca mais ouse falar que eu uso chapinha!
- Dá na mesma. É tudo igual.
- Igual uma ova. Eu não sou desse tipo de gente que fica passando o ferro no cabelo. Sou uma lady, eu faço escova uma vez por semana senão não consigo domar a juba. Vamos ou vai ficar me olhando desse jeito? Olha que eu te pego, hein?
- Deus me livre. Vamos embora.
Abri meu guarda-chuva e encarei a tempestade. Não era bem uma tempestade, mas também não era uma garoa. Estava chovendo meio forte.
- AI vou molhar meus dedos, Caio – ela reclamou quando viu uma poça.
- Que tal você pular a poça de água?
- Ai, Jesus... Me acode... AAAAH...
- Janaína, quer parar? Já estou ficando com vergonha!
- Olha lá, hein? Se falar isso de novo eu esfrego a sua cara no asfalto.
- Mulher doida, eu hein?
O ponto estava lotado e é claro que todo mundo queria ficar embaixo da parte coberta, mas como eu estava de guarda-chuva, não me importei com isso. O importante mesmo era chegar logo em casa.
- Vem, Jana. Nosso ônibus chegou.
- Aleluia... Licença, Dona Maria – a mulher tentou sair do ponto. – Licença, Dona Maria... Licença, Seu Zé... Obrigada...
Pedi parada e para a minha sorte, notei que o transporte público estava vazio. Isso deveria ter ocorrido por conta da chuva.
- Eu vou na janelinha, eu vou na janelinha – ela saiu correndo na minha frente e pegou o lugar na janela.
- Quantos anos você tem? 6?
- Mais ou menos isso daí.
- 6 vezes 10 né?
- Me respeita, hein? Me respeita senão eu te processo por bullying.
- Ai, Senhor.
Pensei que o ônibus ia ficar vazio até a minha casa, mas isso não aconteceu. Ele ficou lotado e bem lotado.
Em um determinado momento, uma mulher um pouco gordinha ficou em pé ao lado da minha cadeira. Ela não tinha uma cara muito agradável e sem pensar duas vezes, abriu a janela que ficava próximo à Janaína.
Como ainda estava chovendo, umas gotas de água entraram no ônibus e molharam a Janaína e é claro que a minha amiga fechou a janela, mas quem disse que a mulher deixou? A gordinha voltou a abrir o vidro e a Janaína novamente foi molhada.
- Eu mereço – ela falou no meu ouvido e fechou o vidro de novo.
Porém, a mulher abriu pela terceira vez e nesse momento a Janaína perdeu a paciência:
- Minha senhora, a senhora não está vendo que está chovendo e eu estou ficando molhada?
Os ombros da Jana estavam visivelmente molhados.
- E isso é chuva? – perguntou a mulher.
- Nâo... É cuspe! – Janaína fechou a Janela com ferocidade. – FRANCAMENTE!
- Mas eu estou com calor, garota! – a mulher reclamou.
- Problema é seu! Não tenho culpa que você está na menopausa, agora eu não sou obrigada a me molhar por sua causa. Procura outro lugar pra abrir a janela.
Eu não sabia se ria ou se chorava. Foi o maior bate-boca, até o motorista se meteu:
- Querem parar com essa gritaria? Eu vou parar o ônibus, hein?
- A culpa é dela – falou a mulher.
- Minha? – Janaína alterou o tom de voz. – Não é você que está ficando ensopada sua velha...
A desconhecida falou alguns palavrões e foi pro fundo do busão. A maioria dos passageiros ficou rindo da cena da Janaína e eu fiquei morrendo de vergonha.
- Mulher folgada! – ela bufou.
- Já chega – eu falei. – Já me fez pagar mico demais por hoje.
- Mas não é? Vê se eu mereço uma coisa dessas...
Fiquei preto passado na chapinha com esse barraco da Janaína. Eu já sabia que ela era meio louca, mas não a esse ponto.
- Me ajuda aqui, por obséquio – ela colocou a bolsa nas minhas mãos. – Eu preciso repetir todo o processo.
- Só Cristo na causa.
Mais uma vez ela colocou a touca de banho, a blusa com o capuz e abriu a sombrinha rosa-choque.
- Minha sombrinha não é linda? – ela ficou toda encantada com a cor do objeto.
- Lindamente horrorosa. Se você estiver no Equador a gente consegue te achar com isso daí.
- Olha a minha cara de preocupada. Eu não estou nem aí!!!
- É você mesmo que usa – dei de ombros. – Sua louca, quase me fez morrer de vergonha.
- Vergonha? Vergonha por que? O que eu fiz de errado? A mulher era muito folgada!
- Você poderia pelo menos ter sido um pouco mais discreta, né?
- Ah, você não me conhece, garoto. Não mexe comigo não...
- Boa dica. Boa noite, querida. Beijo.
- Boa noite, amado. Obrigada pela companhia.
- Dez reais.
Eu quase corri até a minha casa. A rua estava esquisita demais e estava com um clima tenso no ar. Será que tinha acontecido alguma coisa ou era apenas por causa da chuva?
Abri a portinha, entrei, girei a chave duas vezes na fechadura e subi as escadas com o máximo de cuidado possível, já que os degraus estavam meio molhados e escorregadios. Ainda bem que alguém colocou um tapete na entrada da sala.
- Boa noite, molecada – falei.
- E aí, Caio? – Éverton falou comigo. – Molhou muito aí?
- Só um pouco.
Não troquei muitas palavras com os meninos devido o meu cansaço. Eu queria muito poder dormir, mas ainda tinha um trabalho da faculdade pra finalizar.
- Pode devolver o notebook, meu filho – me dirigi ao Rodrigo. – Tenho um trabalho da faculdade pra finalizar.
- Só mais 5 minutinhos, estou terminando de responder uns e-mails.
- Beleza. Enquanto isso eu vou pro banho. Tem janta?
- Não.
- Affe. O jeito vai ser tomar o suplemento da academia.
- Eu fiz isso também. A propósito, o dinheiro já está na conta, viu?
- Eu disse que não tinha pressa, né?
- Mas eu já depositei. Odeio ficar devendo, mesmo que seja pro meu irmão.
Que bonitinho! Eu adorava quando ele me chamava de irmão.
- O Vini foi pra Bruna?
- Aham.
- Ele vai acabar morando com ela daqui uns tempos.
- Não duvido nada.
Peguei minha roupa limpa e fui direto pro chuveiro, mas o banheiro estava ocupado.
- Quem é? – era o Kléber.
- Sou eu. Vai demorar muito aí?
- Mais 5 minutinhos, Caio.
- Eu espero! Valeu.
Enquanto o menino não saiu do sanitário, eu fui até a cozinha e preparei o meu shake. Foi ele que me salvou naquela noite chuvosa.
- Sua janta vai ser essa? – perguntou Fabrício.
- Sim. Não tem comida feita.
- É, acabou tudo. A gente precisa fazer compras.
- Verdade. Vou deixar a minha parte com você, pode ser?
- Claro. Obrigado pela confiança.
Depois que saí do banho e fui pra lavanderia deixar a minha roupa suja, me deparei com um balde abarrotado de roupas íntimas. Fui obrigado a lavá-las.
- Dai-me coragem – suspirei.
- Falando sozinho? – o Kléber apareceu atrás de mim.
- Com Deus na verdade.
- Ah... Quer ajuda aí nas roupas?
- Não. Eu só vou lavar as minhas cuecas.
- Eu te ajudo!
- Não, obrigado. Pode deixar que eu mesmo lavo.
- Mal-agradecido! – ele fingiu ficar ofendido.
- Não é questão disso, mas enfim. Quais as novas?
- Nenhuma e você?
- Menos.
- Nossa balada está de pé no sábado, não?
- Com certeza sim. Vou trabalhar no domingo, mas mesmo assim eu vou com vocês.
- Você não ia folgar?
- Ia, mas um colega desistiu da hora extra e me colocaram no lugar.
- Todos os domingos que você trabalha é em caráter de hora extra?
- Isso.
- Então você deve ganhar bem, hein Caio?
- Não posso reclamar não.
- Me arruma um emprego nessa loja?
- Está falando sério?
- Seríssimo. Preciso de dinheiro...
- Ah, posso ver com a minha gerente se ainda tem alguma vaga em aberto. Pelo que sei, vai abrir contratação agora em julho.
- Então me ajuda? Eu quero muito ganhar bem.
- Mas pra ganhar bem, você vai ter que se matar de trabalhar. Vai ter que fazer um monte de extras que nem eu, vai ter que vender muito para ganhar comissão...
- Eu não tenho medo do trabalho, Caio. Estou falando sério, se puder me ajudar eu ficarei eternamente agradecido.
- Amanhã mesmo eu falo com a Eduarda.
- Quem é Eduarda?
- Minha gerente.
- Nome bonito.
- Verdade. Eu concordo com você. Passa o amaciante pra mim, por favor?
- Caramba, você já terminou?
- Quase. Só vou enxaguar e colocar no amaciante e já eras.
- Que rápido!
- Eu lavo tudo de uma vez, tô nem aí.
- É isso aí. Tempo é dinheiro.
Quando voltei pro quarto o meu computador estava em cima da minha cama.
- Obrigado por ser pontual – falei.
- Disponha – ele bocejou e virou pro lado.
- Já vai dormir?
- Já.
- Também vou – Fabrício bocejou.
- Queria fazer isso também. Que droga.
- Vai fazer o seu trabalho – falou Fabrício. – Boa noite.
Era a minha única opção. Desligueia luz do quarto, abri o notebook e fui logo fazendo o que tinha que fazer.
-
Esqueci de te falar – Rodrigo me olhou nos olhos. – Não dá pra trocar de
unidade.
- Por que?! – fiquei chateado.
- Por causa que a gente entrou em uma turma de sábado e as outras unidades não têm nenhuma turma no início, entendeu?
- E agora?
- Agora ou você cancela ou encara a realidade e continua estudando. Não deve parar por causa dele, né?
- Mas eu não quero vê-lo de novo!
- E quem disse que isso vai acontecer? O Rio é imenso, Caio. Considere esse encontro como um acaso ou uma coincidência.
- Será mesmo? E se eu vê-lo de novo?
- Você finge que não conhece, continua andando e nem olha pra trás. E tem mais: prometo que à partir deste sábado eu vou te acompanhar todos os dias até o ponto. Se a gente encontrar com ele, eu quebro o focinho dele. Pode ser assim?
Que lindinho que o Rodrigo era, meu Deus.
- Como você é lindo, Digão!
- Eu sei, obrigado. Papai e mamãe capricharam na dose, fala a verdade? – ele abriu um sorriso.
- Eles só não capricharam na sua modéstia, mas tudo bem.
- Por que?! – fiquei chateado.
- Por causa que a gente entrou em uma turma de sábado e as outras unidades não têm nenhuma turma no início, entendeu?
- E agora?
- Agora ou você cancela ou encara a realidade e continua estudando. Não deve parar por causa dele, né?
- Mas eu não quero vê-lo de novo!
- E quem disse que isso vai acontecer? O Rio é imenso, Caio. Considere esse encontro como um acaso ou uma coincidência.
- Será mesmo? E se eu vê-lo de novo?
- Você finge que não conhece, continua andando e nem olha pra trás. E tem mais: prometo que à partir deste sábado eu vou te acompanhar todos os dias até o ponto. Se a gente encontrar com ele, eu quebro o focinho dele. Pode ser assim?
Que lindinho que o Rodrigo era, meu Deus.
- Como você é lindo, Digão!
- Eu sei, obrigado. Papai e mamãe capricharam na dose, fala a verdade? – ele abriu um sorriso.
- Eles só não capricharam na sua modéstia, mas tudo bem.
SÁBADO,
7 DE JUNHO DE 2.008
-
Good morning, class – será que a Profª Júlia era sempre bem-humorada daquele
jeito no sábado pela manhã?
- Bom dia – eu respondi em português.
- Hoje nós daremos continuidade ao verbo to be, abram a apostila na página 4, por gentileza.
Eu abri foi a boca. Bocejei vagarosamente. Como eu estava com sono.
O único animado era o Rodrigo. De duas uma: ou ele estava de bom-humor, ou gostava de inglês. Eu não estava com nenhuma das duas opções naquele dia.
As 2 horas de aula voaram. Quando eu menos esperei a teacher nos dispensou e eu me senti 1 tonelada mais leve. A única coisa que me deixou insatisfeito foi o fato dela ter passado lição de casa.
- Precisava passar lição de casa? – reclamei.
- Papel dela, né Caio?
- Ainda nem comprei o meu caderno!
- Quer que eu compre um pra você, mano?
- Faria isso por mim?
- O que você não me pede chorando que eu não faço rindo?
- AI QUE LINDO! – agarrei aquele cachorro na rua e nem me importei.
- De qual você quer?
- Pode ser igual ao seu. Eu adorei.
- Invejoso!
- Nem me abalo. Onde você vai? Não tem que descer pra praia não?
- Esqueceu que eu prometi que ia te levar todos os sábados até o ponto de ônibus?
- Rodrigo?
- O que foi, Cacs?
- Casa comigo? – eu me derreti todinho. Que homem era aquele?
- HEIN?
Rodrigo fez uma cara de horror muitíssimo engraçada. Acho que depois dessa ele esqueceu como fazia para andar, porque ficou parado um tempão.
- É brincadeira – eu o puxei pelo pulso. – Vamos embora, poxa!
- Nossa com outra dessa você me mata, viu? Não estava esperando por um pedido desse, até me deu calor agora.
Meu amigo começou a se abanar feito um desesperado. O coitadinho estava mais vermelho que um tomate maduro.
- É brincadeira. Eu só falei isso porque você é um carinha perfeito.
- Não sou perfeito. Eu tenho defeitos demais.
- Todos nós temos, Digão. Porém as suas qualidades superam e muito os seus defeitos e eles quase não aparecem para mim.
- Sou chato, sou impaciente, sou apressado, sou ranzinza, sou ciumentíssimo, sou controlador...
- Você é lindo, você é fofo, você é carinhoso, é cavalheiro, é preocupado com os outros, tem bons sentimentos, você defende os seus amigos, abraça na hora certa, você dá carinho, fala palavras de consolo... Você é o cara!
- Para. Você está me deixando sem graça de novo.
- Lindo! Se você fosse gay eu me casaria com você.
- Se você fosse mulher eu me casaria com você também.
- Droga! Por que tive que nascer no sexo errado?
- Não fala assim, seu bobo. Seu ponto é aqui?
- É sim. Pertinho da escola né?
- Mais ou menos.
- Larga a mão de ser preguiçoso, menino – dei risada. – Caraca, já é meu busão!
- Sério? Viu só? Nem encontrou com o Bruno!
- Amém – estendi o braço. – Obrigado por me acompanhar, viu? Até mais tarde.
- Ah, hoje você vai pra balada com os irmãos, né?
- Aham.
- Então eu vou sair com os meninos, tá?
- Sem crise. Até depois então. Qualquer coisa me liga.
- Idem. Abraço.
- Outro.

Entrei no ônibus, passei na roleta e escolhi um local no fundão para me sentar. Por que o ônibus não tinha passado cedo assim no sábado anterior?
Não sei se foi de propósito, mas rapidamente o meu celular começou a tocar. Era outra vez o número desconhecido. Era outra vez o Bruno:
- Eu não acredito...
De tanto ele mandar SMS e só pelo fato de ter me ligado algumas vezes, eu decorei o número dele. Como o filho da mãe estava fazendo para conseguir o meu celular?

Atender ou não? NÃO! Deixei o aparelho chamar até cansar. Pensei que ele ia parar, mas não parou. Mesmo não atendendo a primeira chamada, o menino ligou de novo e isso me deixou irritado.

- ALÔ? – falei com voz estúpida.
- Caio?
- O que é que você quer, Bruno? Como você está conseguindo o meu número de telefone?
- Eu quero conversar com você!
- Mas eu já disse que não quero falar com você, não disse? Me diz uma coisa, como você conseguiu meu telefone? Me diz?
- Eu liguei no seu telefone fixo, eles me passaram o novo e um dos meninos que mora com você me passou o número...
- QUEM TE PASSOU? – eu comecei a tremer de raiva.
- Não sei... Ele não disse o nome...
- Bruno, vamos ser objetivos: eu NÃO quero falar com você, você entendeu? Eu já mudei o número 2 vezes por sua causa e não vou mudar de novo. Me esquece, vê se me erra, some da minha vida, me deixa em paz. Vai viver a sua vida que eu vou viver a minha, não quero saber de você, você entendeu?
- Eu não vou desistir enquanto eu não falar com você. Eu tive motivos para sair daquela forma...
- Seus motivos não me importam, você entendeu ou quer que eu desenhe? Não quero saber de nada! A minha vida está muito bem sem você, estava até você voltar. Nem lembrava que você existia, Bruno! Não acaba com a minha vida de novo, pelo amor de Deus... Eu quero viver, viver longe de você!
- Eu disse que eu não vou desistir enquanto eu não falar a verdade, enquanto eu não falar o que houve... Você precisa saber o que aconteceu!
- Eu precisava mesmo. Precisava do verbo NÃO PRECISO MAIS. A minha vida mudou e agora você faz parte do pretérito, entendeu? Não quero saber de você. Me deixa em paz, por favor.
- Mas, Caio...
- Qual foi a parte do NÃO QUERO SABER DE VOCÊ que você não entendeu?
- Vamos nos encontrar, vamos jantar... Eu te conto tudo, eu prometo que você vai entender, Caio...
- Não quero jantar com você, não quero falar com você, não quero ouvir sua voz, não quero te ver na minha frente, não quero nem pensar em você, entendeu?
- Eu te amo, Caio... Me dá uma oportunidade de te mostrar o que aconteceu, por favor...
- Você ama é o caralho!!! Você não ama ninguém, você só ama você mesmo!!! Se você me amasse, não teria feito o que fez comigo! E eu NÃO VOU MAIS PERDER O MEU TEMPO COM VOCÊ. BOM DIA!
E dizendo isso eu desliguei.
Bufei uma, duas, três vezes. Quem ele pensava que era pra me incomodar daquele jeito? E quem tinha sido o filho da mãe que deu meu número pro Bruno?
Troquei de chip 2 vezes e as 2 vezes foram em vão. A minha vontade era de jogar o chip pela janela de novo, mas eu não ia mais fazer aquilo.
A minha vida não podia, não devia e não ia parar por causa do Bruno, muito pelo contrário. Aquele era o momento para dar a volta por cima, para mostrar para todos e principalmente para mim mesmo que eu poderia ser feliz com outro cara. E eu ia ser feliz com quem quer que fosse, menos com ele.
Bruno não desistiu e me ligou de novo, mas eu não atendi. O telefone celular tocou 1, 2, 3, 4, 5 vezes e eu não atendi. Só na 6ª ligação eu não consegui me segurar mais:
- Você vai parar de me ligar ou eu vou ter que fazer um boletim de ocorrência na polícia?
- Você não seria capaz de fazer isso comigo. E eu disse que não vou desistir enquanto eu não falar o que aconteceu!
- Não seria é? Tenta me ligar mais uma vez. Uma vezinha sequer pra você ver se eu não vou na delegacia! Já disse que não quero falar com você, qual a sua dificuldade cognitiva?
- Quem está com dificuldade para entender as coisas aqui é você. Você pode mudar de telefone 1, 2, 500 vezes que eu vou descobrir o número e vou tentar falar com você. Nem que eu tenha que descobrir o seu endereço novo para te fazer uma visita surpresa...
- Faz isso. Faz isso e eu chamo a polícia. Coloco seu nome na boca do sapo e enterro em um cemitério. Não ouse mexer comigo, Bruno. Eu estou muito bem sem você!
- Mas eu não estou bem sem você, Caio! Eu mereço ser ouvido... E você merece uma explicação...
- Poupe-me do seu teatrinho, garoto. Estou falando com você na maior educação. Não quero falar mais contigo, pelo amor de Deus vê se entende, vê se cresce, vê se amadurece e vê se me esquece. Adeus!!!
Desliguei novamente, mas dessa vez desliguei o aparelho inteiro. Fiquei nervoso com aquela situação. Será que ele era burro? Será que ainda não tinha percebido o estrago que tinha feito na minha vida? Será que ele não enxergava que eu não queria mais saber dele?
- Bom dia – eu respondi em português.
- Hoje nós daremos continuidade ao verbo to be, abram a apostila na página 4, por gentileza.
Eu abri foi a boca. Bocejei vagarosamente. Como eu estava com sono.
O único animado era o Rodrigo. De duas uma: ou ele estava de bom-humor, ou gostava de inglês. Eu não estava com nenhuma das duas opções naquele dia.
As 2 horas de aula voaram. Quando eu menos esperei a teacher nos dispensou e eu me senti 1 tonelada mais leve. A única coisa que me deixou insatisfeito foi o fato dela ter passado lição de casa.
- Precisava passar lição de casa? – reclamei.
- Papel dela, né Caio?
- Ainda nem comprei o meu caderno!
- Quer que eu compre um pra você, mano?
- Faria isso por mim?
- O que você não me pede chorando que eu não faço rindo?
- AI QUE LINDO! – agarrei aquele cachorro na rua e nem me importei.
- De qual você quer?
- Pode ser igual ao seu. Eu adorei.
- Invejoso!
- Nem me abalo. Onde você vai? Não tem que descer pra praia não?
- Esqueceu que eu prometi que ia te levar todos os sábados até o ponto de ônibus?
- Rodrigo?
- O que foi, Cacs?
- Casa comigo? – eu me derreti todinho. Que homem era aquele?
- HEIN?
Rodrigo fez uma cara de horror muitíssimo engraçada. Acho que depois dessa ele esqueceu como fazia para andar, porque ficou parado um tempão.
- É brincadeira – eu o puxei pelo pulso. – Vamos embora, poxa!
- Nossa com outra dessa você me mata, viu? Não estava esperando por um pedido desse, até me deu calor agora.
Meu amigo começou a se abanar feito um desesperado. O coitadinho estava mais vermelho que um tomate maduro.
- É brincadeira. Eu só falei isso porque você é um carinha perfeito.
- Não sou perfeito. Eu tenho defeitos demais.
- Todos nós temos, Digão. Porém as suas qualidades superam e muito os seus defeitos e eles quase não aparecem para mim.
- Sou chato, sou impaciente, sou apressado, sou ranzinza, sou ciumentíssimo, sou controlador...
- Você é lindo, você é fofo, você é carinhoso, é cavalheiro, é preocupado com os outros, tem bons sentimentos, você defende os seus amigos, abraça na hora certa, você dá carinho, fala palavras de consolo... Você é o cara!
- Para. Você está me deixando sem graça de novo.
- Lindo! Se você fosse gay eu me casaria com você.
- Se você fosse mulher eu me casaria com você também.
- Droga! Por que tive que nascer no sexo errado?
- Não fala assim, seu bobo. Seu ponto é aqui?
- É sim. Pertinho da escola né?
- Mais ou menos.
- Larga a mão de ser preguiçoso, menino – dei risada. – Caraca, já é meu busão!
- Sério? Viu só? Nem encontrou com o Bruno!
- Amém – estendi o braço. – Obrigado por me acompanhar, viu? Até mais tarde.
- Ah, hoje você vai pra balada com os irmãos, né?
- Aham.
- Então eu vou sair com os meninos, tá?
- Sem crise. Até depois então. Qualquer coisa me liga.
- Idem. Abraço.
- Outro.
Entrei no ônibus, passei na roleta e escolhi um local no fundão para me sentar. Por que o ônibus não tinha passado cedo assim no sábado anterior?
Não sei se foi de propósito, mas rapidamente o meu celular começou a tocar. Era outra vez o número desconhecido. Era outra vez o Bruno:
- Eu não acredito...
De tanto ele mandar SMS e só pelo fato de ter me ligado algumas vezes, eu decorei o número dele. Como o filho da mãe estava fazendo para conseguir o meu celular?
Atender ou não? NÃO! Deixei o aparelho chamar até cansar. Pensei que ele ia parar, mas não parou. Mesmo não atendendo a primeira chamada, o menino ligou de novo e isso me deixou irritado.
- ALÔ? – falei com voz estúpida.
- Caio?
- O que é que você quer, Bruno? Como você está conseguindo o meu número de telefone?
- Eu quero conversar com você!
- Mas eu já disse que não quero falar com você, não disse? Me diz uma coisa, como você conseguiu meu telefone? Me diz?
- Eu liguei no seu telefone fixo, eles me passaram o novo e um dos meninos que mora com você me passou o número...
- QUEM TE PASSOU? – eu comecei a tremer de raiva.
- Não sei... Ele não disse o nome...
- Bruno, vamos ser objetivos: eu NÃO quero falar com você, você entendeu? Eu já mudei o número 2 vezes por sua causa e não vou mudar de novo. Me esquece, vê se me erra, some da minha vida, me deixa em paz. Vai viver a sua vida que eu vou viver a minha, não quero saber de você, você entendeu?
- Eu não vou desistir enquanto eu não falar com você. Eu tive motivos para sair daquela forma...
- Seus motivos não me importam, você entendeu ou quer que eu desenhe? Não quero saber de nada! A minha vida está muito bem sem você, estava até você voltar. Nem lembrava que você existia, Bruno! Não acaba com a minha vida de novo, pelo amor de Deus... Eu quero viver, viver longe de você!
- Eu disse que eu não vou desistir enquanto eu não falar a verdade, enquanto eu não falar o que houve... Você precisa saber o que aconteceu!
- Eu precisava mesmo. Precisava do verbo NÃO PRECISO MAIS. A minha vida mudou e agora você faz parte do pretérito, entendeu? Não quero saber de você. Me deixa em paz, por favor.
- Mas, Caio...
- Qual foi a parte do NÃO QUERO SABER DE VOCÊ que você não entendeu?
- Vamos nos encontrar, vamos jantar... Eu te conto tudo, eu prometo que você vai entender, Caio...
- Não quero jantar com você, não quero falar com você, não quero ouvir sua voz, não quero te ver na minha frente, não quero nem pensar em você, entendeu?
- Eu te amo, Caio... Me dá uma oportunidade de te mostrar o que aconteceu, por favor...
- Você ama é o caralho!!! Você não ama ninguém, você só ama você mesmo!!! Se você me amasse, não teria feito o que fez comigo! E eu NÃO VOU MAIS PERDER O MEU TEMPO COM VOCÊ. BOM DIA!
E dizendo isso eu desliguei.
Bufei uma, duas, três vezes. Quem ele pensava que era pra me incomodar daquele jeito? E quem tinha sido o filho da mãe que deu meu número pro Bruno?
Troquei de chip 2 vezes e as 2 vezes foram em vão. A minha vontade era de jogar o chip pela janela de novo, mas eu não ia mais fazer aquilo.
A minha vida não podia, não devia e não ia parar por causa do Bruno, muito pelo contrário. Aquele era o momento para dar a volta por cima, para mostrar para todos e principalmente para mim mesmo que eu poderia ser feliz com outro cara. E eu ia ser feliz com quem quer que fosse, menos com ele.
Bruno não desistiu e me ligou de novo, mas eu não atendi. O telefone celular tocou 1, 2, 3, 4, 5 vezes e eu não atendi. Só na 6ª ligação eu não consegui me segurar mais:
- Você vai parar de me ligar ou eu vou ter que fazer um boletim de ocorrência na polícia?
- Você não seria capaz de fazer isso comigo. E eu disse que não vou desistir enquanto eu não falar o que aconteceu!
- Não seria é? Tenta me ligar mais uma vez. Uma vezinha sequer pra você ver se eu não vou na delegacia! Já disse que não quero falar com você, qual a sua dificuldade cognitiva?
- Quem está com dificuldade para entender as coisas aqui é você. Você pode mudar de telefone 1, 2, 500 vezes que eu vou descobrir o número e vou tentar falar com você. Nem que eu tenha que descobrir o seu endereço novo para te fazer uma visita surpresa...
- Faz isso. Faz isso e eu chamo a polícia. Coloco seu nome na boca do sapo e enterro em um cemitério. Não ouse mexer comigo, Bruno. Eu estou muito bem sem você!
- Mas eu não estou bem sem você, Caio! Eu mereço ser ouvido... E você merece uma explicação...
- Poupe-me do seu teatrinho, garoto. Estou falando com você na maior educação. Não quero falar mais contigo, pelo amor de Deus vê se entende, vê se cresce, vê se amadurece e vê se me esquece. Adeus!!!
Desliguei novamente, mas dessa vez desliguei o aparelho inteiro. Fiquei nervoso com aquela situação. Será que ele era burro? Será que ainda não tinha percebido o estrago que tinha feito na minha vida? Será que ele não enxergava que eu não queria mais saber dele?
-
Me ajuda, Janaína pelo amor de Deus – grudei nos braços da minha amiga.
- O que foi, menino? O que aconteceu?
- O Bruno descobriu o meu níumero de novo. Ele está me ligando, me falando um monte de coisas... Eu estou entrando em colapso nervoso, Jana... O que eu faço, amiga?
- Primeiro de tudo você se acalma. Segundo, você fala com ele e resolve tudo e ponto final.
- Nãããããão – eu balancei a cabeça negativamente. – Eu não quero falar com ele, não quero!!!
- E não quer por que? Por que tem medo da verdade?
- Não quero porque estou com ódio dele. Só por isso.
- Será que é ódio mesmo?
- Claro que é, Janaína!!! Esse menino me fez muito mal, muito mal mesmo. Eu quase morri por causa dele... Não quero nem lembrar o que ele me fez passar.
- Beleza, ele te fez mal, mas o seu coração ainda está apaixonado por ele, Caio. Simples e fácil assim.
- Por que diz isso?
- Porque todas as vezes que você fala o nome Bruno, os seus olhinhos brilham. E pelo jeito quando você ouve o nome dele também.
- Está ficando louca? A última coisa que eu quero nessa vida é me apaixonar de novo por ele! Eu não estou apaixonado, não estou!
- A negação é a primeira prova, mas tudo bem. Se você está dizendo, eu acredito.
- Não duvida de mim. Não duvida! Eu odeio o Bruno, eu odeio!!!
- Então o que você pensa fazer, já que disse que não vai falar com ele?
- Eu não sei!!! Por isso eu pedi a sua ajuda!!!
- Se você não quer falar, não quer saber dele, a única saída é parar de atender as ligações, não ler mais os torpedos e fingir que não o conhece mais. Já tentou fazer isso?
- Já, mas eu me irrito com o telefone tocando. Não consigo fingir que não o conheço porque me sobe uma coisa, uma vontade de gritar, uma vontade de bater na cara dele...
- Nossa como você é bravo!
- Sou mesmo... Percebi isso há pouco tempo. Já perdi as contas de quantas vezes eu saí no tapa por aí...
- Já pode ser até um lutador, hein?
- Boba! É sério, o assunto é sério.
- A única saída que vejo é essa, Caio. Não me ocorre mais nada nesse momento. Se eu pensar em alguma coisa, prometo que te falo.
- Me ajuda... Me ajuda, por favor. Eu não aguento mais ele no meu pé.
- Eu vou tentar te ajudar. Prometo que farei o possível para você se livrar dele.


- O que foi, menino? O que aconteceu?
- O Bruno descobriu o meu níumero de novo. Ele está me ligando, me falando um monte de coisas... Eu estou entrando em colapso nervoso, Jana... O que eu faço, amiga?
- Primeiro de tudo você se acalma. Segundo, você fala com ele e resolve tudo e ponto final.
- Nãããããão – eu balancei a cabeça negativamente. – Eu não quero falar com ele, não quero!!!
- E não quer por que? Por que tem medo da verdade?
- Não quero porque estou com ódio dele. Só por isso.
- Será que é ódio mesmo?
- Claro que é, Janaína!!! Esse menino me fez muito mal, muito mal mesmo. Eu quase morri por causa dele... Não quero nem lembrar o que ele me fez passar.
- Beleza, ele te fez mal, mas o seu coração ainda está apaixonado por ele, Caio. Simples e fácil assim.
- Por que diz isso?
- Porque todas as vezes que você fala o nome Bruno, os seus olhinhos brilham. E pelo jeito quando você ouve o nome dele também.
- Está ficando louca? A última coisa que eu quero nessa vida é me apaixonar de novo por ele! Eu não estou apaixonado, não estou!
- A negação é a primeira prova, mas tudo bem. Se você está dizendo, eu acredito.
- Não duvida de mim. Não duvida! Eu odeio o Bruno, eu odeio!!!
- Então o que você pensa fazer, já que disse que não vai falar com ele?
- Eu não sei!!! Por isso eu pedi a sua ajuda!!!
- Se você não quer falar, não quer saber dele, a única saída é parar de atender as ligações, não ler mais os torpedos e fingir que não o conhece mais. Já tentou fazer isso?
- Já, mas eu me irrito com o telefone tocando. Não consigo fingir que não o conheço porque me sobe uma coisa, uma vontade de gritar, uma vontade de bater na cara dele...
- Nossa como você é bravo!
- Sou mesmo... Percebi isso há pouco tempo. Já perdi as contas de quantas vezes eu saí no tapa por aí...
- Já pode ser até um lutador, hein?
- Boba! É sério, o assunto é sério.
- A única saída que vejo é essa, Caio. Não me ocorre mais nada nesse momento. Se eu pensar em alguma coisa, prometo que te falo.
- Me ajuda... Me ajuda, por favor. Eu não aguento mais ele no meu pé.
- Eu vou tentar te ajudar. Prometo que farei o possível para você se livrar dele.
Cheguei
em casa, caí na beliche e fiquei olhando pro estrado da cama do Rodrigo.
Não havia ninguém em casa, provavelmente todos já tinham saído. A minha única solução naquele sábado à noite era mesmo sair com os irmãos para ver se parava de pensar um pouco no Bruno.
- Já chegou, Caio? – Kléber entrou no meu quarto.
- Não, estou dançando cancan em um cassino de Las Vegas.
- Credo! Que mau-humor.
- Não é mau-humor! Olha a pergunta que você me faz, Kléber!
- O que foi? O que você tem, gatinho?
- Nada, Kléber. Eu só estou pensando.
- Vai sair com a gente, não vai?
Eu estava exausto de novo, mas promessa é dívida.
- Vou – suspirei. – Só me dá um time* para eu me arrumar, tudo bem?
- Beleza. O Miguel e eu também vamos nos arrumar ainda.
- Fechou. Prometo que fico pronto em meia hora.
*time – leia a palavra em inglês.
Não havia ninguém em casa, provavelmente todos já tinham saído. A minha única solução naquele sábado à noite era mesmo sair com os irmãos para ver se parava de pensar um pouco no Bruno.
- Já chegou, Caio? – Kléber entrou no meu quarto.
- Não, estou dançando cancan em um cassino de Las Vegas.
- Credo! Que mau-humor.
- Não é mau-humor! Olha a pergunta que você me faz, Kléber!
- O que foi? O que você tem, gatinho?
- Nada, Kléber. Eu só estou pensando.
- Vai sair com a gente, não vai?
Eu estava exausto de novo, mas promessa é dívida.
- Vou – suspirei. – Só me dá um time* para eu me arrumar, tudo bem?
- Beleza. O Miguel e eu também vamos nos arrumar ainda.
- Fechou. Prometo que fico pronto em meia hora.
*time – leia a palavra em inglês.
A
torcida para esquecer do idiota naquela noite era pra lá de grande, era imensa.
A última coisa que eu precisava naquele dia era ficar pensando no Bruno, ficar
pensando nas justificativas que ele queria dar... Só o que eu queria e talvez
necessitasse era esquecê-lo. Esquecê-lo em definitivo.
Os meninos me levaram para a “The Week” e eu confesso que fiquei admirado com a presença do Miguel naquele ambiente. Será que ele também era do babado?
A resposta é sim! Quase caí para trás quando o vi aos beijos com um bofe lindo. Demorei até um tempinho para me recuperar do susto.
- O que foi? – Kléber passou a mão na frente dos meus olhos. – Você está bem?
- O seu irmão... Ele é...
- Ele é bi. Você não sabia?
- Não!!! Ninguém nunca me falou isso!
- Pensei que você soubesse.
- Os meninos sabem? – estranhei.
- Não, né? O Éverton e o Maicon são super preconveituosos.
- E então?
- Eu pensei que ele tinha te contado isso.
- Não. E pelo jeito você falou pra ele que eu sou do babado, né?
- Não falei, ele meio que desconfiou. Eu só confirmei, me desculpa.
- Sabia que você não ia guardar segredo com ele. Agora já era.
- Me perdoa, mas eu não tenho segredos com o meu irmão.
- Agora já era. Não tem mais como voltar atrás mesmo – dei de ombros.
O problema é que eu só me toquei que a gente estava em uma balada GLS quando já tínhamos entrado. Eu me auto-dedurei para o Miguel, mas naquele momento não tinha mais como voltar atrás,
Tentei me divertir como pude. Dancei, bebi, beijei alguns carinhas, tentei espairecer, mas mesmo assim pensei no Bruno.


Quais seriam as explicações dele? Seria uma boa ouví-lo?
NÃO, NÃO E NÃO! Eu não podia ceder. Ele não ia falar comigo, eu não queria explicações e tudo ia permanecer como estava.
- Sai dessa mente que não te pertence – eu suspirei.
- O que foi? – Kléber estava ao meu lado e me olhou. – Pensando em algo ruim?
- Aham.
- Então tira esse pensamento ruim da sua cabeça e vem se divertir – o menino me puxou pra pista.
- É o que eu estou tentando fazer.
- Eu sei de uma forma para você esquecer o que você está pensando.
- Que forma? – me interessei. Eu poderia tentar qualquer coisa, desde que desse certo.
- Fecha os olhos.
- Pra quê?!
- Fecha logo os olhos, Caio.
Eu obedeci, ingenuamente, mas obedeci.
- É essa forma aqui...
Eu estava com meus olhos fechados, mas quando senti os lábios do Kléber envolverem os meus, automaticamente eu os abri e os deixei esbugalhados.

Os meninos me levaram para a “The Week” e eu confesso que fiquei admirado com a presença do Miguel naquele ambiente. Será que ele também era do babado?
A resposta é sim! Quase caí para trás quando o vi aos beijos com um bofe lindo. Demorei até um tempinho para me recuperar do susto.
- O que foi? – Kléber passou a mão na frente dos meus olhos. – Você está bem?
- O seu irmão... Ele é...
- Ele é bi. Você não sabia?
- Não!!! Ninguém nunca me falou isso!
- Pensei que você soubesse.
- Os meninos sabem? – estranhei.
- Não, né? O Éverton e o Maicon são super preconveituosos.
- E então?
- Eu pensei que ele tinha te contado isso.
- Não. E pelo jeito você falou pra ele que eu sou do babado, né?
- Não falei, ele meio que desconfiou. Eu só confirmei, me desculpa.
- Sabia que você não ia guardar segredo com ele. Agora já era.
- Me perdoa, mas eu não tenho segredos com o meu irmão.
- Agora já era. Não tem mais como voltar atrás mesmo – dei de ombros.
O problema é que eu só me toquei que a gente estava em uma balada GLS quando já tínhamos entrado. Eu me auto-dedurei para o Miguel, mas naquele momento não tinha mais como voltar atrás,
Tentei me divertir como pude. Dancei, bebi, beijei alguns carinhas, tentei espairecer, mas mesmo assim pensei no Bruno.
Quais seriam as explicações dele? Seria uma boa ouví-lo?
NÃO, NÃO E NÃO! Eu não podia ceder. Ele não ia falar comigo, eu não queria explicações e tudo ia permanecer como estava.
- Sai dessa mente que não te pertence – eu suspirei.
- O que foi? – Kléber estava ao meu lado e me olhou. – Pensando em algo ruim?
- Aham.
- Então tira esse pensamento ruim da sua cabeça e vem se divertir – o menino me puxou pra pista.
- É o que eu estou tentando fazer.
- Eu sei de uma forma para você esquecer o que você está pensando.
- Que forma? – me interessei. Eu poderia tentar qualquer coisa, desde que desse certo.
- Fecha os olhos.
- Pra quê?!
- Fecha logo os olhos, Caio.
Eu obedeci, ingenuamente, mas obedeci.
- É essa forma aqui...
Eu estava com meus olhos fechados, mas quando senti os lábios do Kléber envolverem os meus, automaticamente eu os abri e os deixei esbugalhados.
Um comentário:
Caio, já sei que você vai acabar voltando pro Bruno.
Só tá fazendo cu doce.
É assim, várias pessoas passam por isso também, não da mesma forma, semelhante, no final o amor impera.
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