quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Capítulo 7


N
ão soube o que fazer naquele momento. Não sabia se correspondia ao beijo ou se empurrava o Kléber pra longe de mim.
Como eu não tinha pensado naquilo antes? Como eu não desconfiei que ele ia me atacar na primeira oportunidade?

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Aos poucos os meus olhos foram voltando ao normal e eu fui cedendo ao beijo do Kléber, porque eu precisava esquecer o Bruno. Só por isso eu resolvi ceder.
E até que foi um beijo bom. Passado o susto, eu fechei os olhos, coloquei a minha mão na nuca dele e comecei a brincar com a língua do garoto.
Me surpreendi com o beijo do Kléber. Ele sabia fazer aquilo muito bem e pelo visto tinha muita experiência no assunto. Fiquei até com “gostinho de quero mais” quando ele afastou os lábios dos meus.
Os nossos olhos cruzaram e ambos ficamos em silêncio. Acredito que só naquele momento eu enxerguei o Kléber com outros olhos. Ele estava bonitinho.
- É... – ele tentou falar alguma coisa, mas ficou em silêncio.
- Não precisa falar nada – eu disse.
Foi automático. Ele se aproximou de mim e eu me aproximei dele para mais um beijo. Não sei se era carência ou pura vontade de esquecer o Bruno, mas o fato é que eu cedi às investidas do garoto e nós passamos a madrugada toda grudados.
- Como você beija bem – ele falou.
- Digo o mesmo a seu respeito.
- Vamos pra casa?
- Estava esperando alguém falar essa frase mágica, não aguento mais ficar em pé.
- Vou falar com o Miguel, eu também quero ir pra casa.
- Então eu espero vocês aqui.
- Combinado.
Olhei pra um lado, olhei pro outro e só vi casais se pegando. Será que tudo aquilo se deu por conta da chegada do dia dos namorados?
- Já quer ir, Caio? – Miguel perguntou.
- Já. Podemos?
- Podemos, é claro. Pra mim isso aqui já deu por hoje.
- Então vamos? – fiz bico. – Minhas pernas estão moídas.
- Vamos sim – Miguel se espreguiçou e bocejou. – Eu também preciso da minha cama.

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Só quando coloquei os pés na rua é que fui olhar o relógio. Ainda era 3 e pouco da madrugada.
- Como vamos pra casa? – perguntou Kléber.
- De táxi – respondeu Miguel. – Me recuso a ir de ônibus uma hora dessas.
- Acho que nem tem ônibus nesse horário – falei.
- Se importa de rachar um táxi, Caio?
- Não, Miguel. Vamos embora logo que eu estou morrendo de sono!
- Então demorou.
Os meninos e eu andamos por uns minutinhos e logo encontramos um táxi vazio.
- Realengo, por favor – disse o irmão mais velho.



Enquanto o carro andava eu fiquei olhando pela janela. O Rio de Janeiro estava muito movimentado naquela madrugada.
- Movimentada a cidade hoje, né? – comentei.
- É – concordou Kléber. – Como você repara nas coisas.
- Sou um pouco detalhista. Coisas de virginianos.
- Entendo.
Como não tinha trânsito naquele horário, chegamos na nossa casa em pouco mais de 30 minutos. Dividimos a corrida por 3, cada um pagou a sua parte e enfim descemos do carro amarelo.
- Obrigado moço. Bom dia.

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Kléber abriu a porta e nós entramos. A casa estava absolutamente vazia e isso significava que os meninos ainda não haviam chegado da balada.
- Vou direto pra cama. Boa noite – falou Miguel.
- Boa noite – eu respondi. O Kléber ficou calado.
No fundo eu acho que o Miguel saiu de cena só para me deixar a sós com o irmão dele. Com toda certeza do mundo ele nos viu aos beijos e quis ser discreto com relação ao assunto.
- E então? – ele me olhou.
- E então? – eu repeti a pergunta.
- Posso te dar outro beijo?
- Pode – falei com sinceridade.
Kléber beijava bem e só por esse motivo eu quis repetir o que aconteceu na balada, mas se eu soubesse que ele ia me atacar do jeito que me atacou, eu teria pensado duas vezes antes de dizer que sim.
O menino tirou a minha camiseta, me jogou no tapete da sala, subiu em cima do meu corpo e começou a me lamber todo.
- Para seu louco – eu tentei me afastar e bati a lateral do meu corpo no sofá. – Os meninos podem chegar a qualquer momento!
- Ainda é cedo. Eles não vão voltar agora. Curte o movimento, cara!
- Não... – eu me sentei. – Aqui não é lugar pra isso!
- Onde então?
- No quarto, né?
- Então vamos logo, estou doidinho por você.
Não sei o que deu em mim. Se fosse em outro momento eu tenho certeza que não teria ficado com o Kléber. Será que eu estava fazendo aquilo só por causa do Bruno? Ou será que a carência estava falando mais alto?

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Quando a gente entrou no meu quarto, o garotão me jogou com força na cama e já foi logo subindo em cima de mim.
- Caraca, que pressa é essa? – eu perguntei.
- Eu não costumo perder tempo quando quero alguma coisa. E hoje eu quero você!
Rolou mais um beijo, mas esse foi um pouco mais intenso que os outros. Só nesse momento eu notei que não havia sentimento nenhum entre nós dois. Seria só sexo e nada mais que isso.
Como eu já estava sem camiseta, ele abriu o zíper da minha calça e a abaixou até os meus joelhos.
- Já ficou de pau duro, né safado? – ele abriu um sorrisinho.
- Lógico!
- Agora você vai me deixar vê-lo?
- Vou – fiquei vermelho.
Ele foi mais rápido do que eu pensei. Kléber abaixou também a minha cueca e em seguida começou a me chupar.
Fazia um tempão que eu não recebia sexo oral. Nem estava mais me lembrando quando tinha sido a última vez que alguém tinha me chupado...
Sentir aquela boca quente no meu pau me deixou alucinado. Aos poucos eu me livrei dos tênis, das meias, da calça e da cueca e bastou ficar pelado para ele se soltar de vez.
- Como você é gostoso, Caio!
- Cala a boca e me chupa – eu forcei a cabeça dele pra baixo e o obriguei a continuar o que já tinha começado.
Foi muito bom, mas não foi um dos melhores que já tinham me abocanhado. Se eu pudesse dar uma nota de 0 à 10, daria 7.5 no máximo 8.
- Ui – soltei um gemido quando ele segurou no meu saco.
- Que pau delicioso...
- Então chupa mais!
Nem precisava ter pedido isso. O Kléber continuou o trabalho até o fim. Pensei que fosse rolar penetração, mas me enganei. Ele não se contentou até arrancar o meu esperma.
- Para... Para... – eu já estava sem ar. – Vou gozar...
- É isso que eu quero! Goza, cachorro!!!
Fechei meus olhos e deixei ele me fazer gozar. Senti um alívio enorme quando o orgasmo chegou. Foi como tirar o mundo de cima das minhas costas.
- Ah... – eu gemi baixinho. – Que delícia...
- Safado!
- Você que é – mantive os olhos fechados.
Kléber subiu em mim e me beijou. Foi a hora dele ficar sem roupa e de inverter os papeis. Se ele tinha me proporcionado prazer, eu também faria isso a ele. Odiava deixar alguém “na mão”.
Quando eu tirei a cueca do moleque, me deparei com algo inusitado: o pau dele não era grande, mas era grosso. Confesso que fiquei com curiosidade pra saber quanto media!
Levantei o negócio, passei a língua por toda a extensão e aos poucos coloquei tudo na boca. E coube direitinho.
Ainda bem que ele estava cheirosinho, porque eu odiava homem fedido. O bom é o cheiro que rola na hora do sexo, mas fazer sexo oral em cara anti-higiênico não é nada legal. Por sorte o Kléber estava bem cuidado.
Isso me motivou a chupá-lo com vontade e foi isso que eu fiz. Do mesmo jeito que ele fez comigo, suguei o negócio até o orgasmos se aproximar, mas não deixei ele gozar na minha boca.
- Ah, ah, ah... – o garoto gemeu e colocou a cabeça pra trás. – Delícia, gatinho...
Sequei o esperma do Kléber com a camiseta dele e depois a gente se beijou.
- Você é muito delicioso, cara – ele me olhou.
- Valeu. Gostou?
- Seu pau é gostoso demais... E ele é lindo também.
- Ele é igual a todos os outros – eu sorri e fiquei sem jeito.
- Sei lá, ele é tão bonito! Aliás, você é todo bonito, né?
- Valeu. Você também é.
- Valeu. Isso fica só entre nós, correto?
- Com toda certeza do mundo.
- Então fechou. Vou tomar uma ducha. Boa noite.
- Boa noite, Kléber.
Antes dele sair nós demos um último beijo. Eu estava torcendo para ele não confudir as coisas, a última coisa que eu queria era ter mais um problema para ter que administrar na minha vida.

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Acordei no domingo ainda me sentindo sonolento. Mesmo tendo dormido bastante e sem ter nenhuma interrupção no sono, eu ainda estava necessitando de mais um tempinho na cama.
- Jana? – atendi o celular.
- Oi, seu lindo! Tudo bem?
- Tudo sim e você?
- Bem, obrigada. Seu lindo, você vai pra loja hoje?
- Sim. Já estou até me arrumando, por quê?
- Porque eu também vou, lembra? E como eu ainda estou aqui na casa da minha tia, eu queria saber se posso ir com você?
- Você ainda pergunta? Vai ser um prazer ter a sua companhia, amiga.
- Obrigada. Então podemos nos encontrar em 20 minutos no ponto de ônibus?
- Podemos sim. Combinadíssimo então.
- Perfeito.
A casa da tia da Janaína ficava na rua ao lado da minha casa, por isso ela ia pegar o ônibus no mesmo ponto que eu.
Quando abri a porta e vi a chuva que estava caindo, fiquei com mais vontade ainda de voltar pra minha cama. Da portinha da minha casa mesmo eu consegui avistar a Janaína.
Nós trocamos um olhar rápido e ambos sorrimos. Ela estava toda encapuzada e com a sombrinha rosa-berrante aberta.
- Por que será que a gente só pega ônibus juntos em dia que está chovendo? – perguntei.
- Verdade. Eu também queria saber isso.
Ainda bem que o busão chegou bem rapidinho. Nós entramos e daquela vez ela me deixou ficar ao lado da janelinha.

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- Pode ficar, não quero correr o risco de uma velha abrir a jenala para eu me molhar toda.
- Fica tranquila que agora o ônibus não vai nem lotar.
Engano meu. Em um ponto do bairro vizinho, mais de 20 pessoas subiram. Provavelmente elas estavam indo para o mesmo lugar, porque conversavam entre si.
- O que você disse mesmo, Caio?
- Se não fosse esses desconhecidos o ônibus estaria absolutamente normal – dei de ombros.
Só poderia estar acontecendo alguma coisa na cidade, porque mais uns pontos na frente entraram mais um monte de pessoas e aí sim, o transporte ficou abarrotado de passageiros.
- Só mais um passinho pra direita, pessoal? – pediu o cobrador.
- Só se for pra parar fora do ônibus – disse uma mulher.
Uma jovem senhora parou ao lado da Janaína. Eu olhei pra ela e vi uma sombrinha encharcada em sua mão. Algo me dizia que aquilo ia dar problema...

E não deu outra. A mulher segurou no ferro do ônibus com a sombrinha na mão e várias gotas começaram a cair em cima da Janaína.
- Senhora? – Janaína olhou para a mulher. – Você está me molhando.
- Ah, me perdoa, meu amor. Desculpa.
Pelo menos a mulher teve a decência de tirar a sombrinha da mão. O problema foi que ela colocou na outra e continuou molhando a Janaína.
- Senhora? Você continua me molhando!
- Ah, desculpa.
A mulher se mexeu, tentou deixar a sombrinha fora do alcance das pernas da Jana, mas como não conseguiu se segurar com uma mão só, ela voltou a colocar o objeto perto da minha amiga e como eu já esperava, essa perdeu as estribeiras:
- Senhora, quer que eu segure?
- Por favor? Ficaria muito grata!
A Jana pegou a sombrinha da mulher, abriu a janela e quando eu percebi ela já tinha jogado o objeto pra fora do ônibus.
- Pronto. Agora eu não me molho mais.
- VOCÊ É LOUCA? VAI BUSCAR JÁ A MINHA SOMBRINHA!
Nesse momento todo o burburinho que estava rolando dentro do ônibus parou. Elas foram o foco de todo mundo.
- Eu avisei duas vezes que você estava me molhando, na terceira vez eu resolvi o problema.
- SUA LOUCA... VAI BUSCAR JÁ A MINHA SOMBRINHA. MOTORISTA, PARA O ÔNIBUS PRA ESSA VACA PEGAR A MINHA SOMBRINHA!
- Vaca aqui é você e ninguém mandou você ficar me molhando. Agora quem vai se molhar é você!
Foi um bate-boca muito pior do que o outro. Eu quis me enfiar debaixo do banco para sair de perto da louca da minha amiga. Ela só me fazia pagar mico, meu Deus do céu...
- Sua desgraçada, sua desgraçada – a mulher até chorou.
- Obrigada! – Janaína continuou sentada durante todo o barraco e nem sequer alterou o tom de voz.
Metade do busão ficou do lado da minha amiga e a outra metade do lado da desconhecida. Quando chegou a hora da mulher descer, um passageiro ofereceu o guarda-chuva pra ela:
- Obrigada, moço – ela ainda chorava. – Essa desgraçada...
- Vai com Deus a senhora também – disse Janaína. – E pense duas vezes antes de molhar alguém viu? Bom dia!
- AÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ – uns moloqueiros gritaram no fundo do coletivo.
- Aonde eu fui amarrar o meu jeguinho? – suspirei olhando pro teto do ônibus. – Você só pode ser louca, Jana. Não sei como a mulher não enfiou a mão no meio da sua cara!
- Eu? Louca? Você não viu nada. Mexe comigo. Mexe!
Pode parecer até mentira, mas não é. Por incrível que pareça ela fez isso mesmo e eu não sabia onde enfiar a minha cara. Não sei como ela não provocou um acidente de carro jogando aquela sombrinha no meio da rua.
Na hora de descer do ônibus, eu fiz questão de saltar primeiro para não ser motivo de chacota dos passageiros, mas nem aconteceu nada com a Janaína.


- Me sinto tão leve hoje – ela suspirou.
- Já fez a sua maldade do dia, né? – brinquei.
- Ah, velha folgada do caramba. Fiquei com a minha calça toda molhada por culpa dela.
- Ela poderia ter colocado a sombrinha numa sacolinha – ponderei.
- É poderia. Evitaria esse transtorno todo.
- Mas que você foi má, ah você foi.

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No meu horário de almoço eu fiquei dando uma olhada no meu celular e percebi que já tinha um monte de mensagens do Bruno. Não li nenhuma. Apaguei-as sem nem ao menos abrí-las.
Mas de nada adiantou porque ele me ligou. Parecia até que ele estava sentindo que eu estava com o celular nas mãos.
Não atendi nenhuma chamada. Deixei o celular tocar, tocar, tocar e nem me importei com quem estava me olhando.
- Atende essa porra – Janaína jogou o garfo dentro do prato, pegou o celular e praticamente o esfregou na minha cara.
- Não – balancei a cabeça negaticamente. – Eu não vou atender.
- É o Bruno? Dá aqui que eu falo com ele...
- NÃO! – tentei puxar o celular da Janaína, mas era tarde demais.
- Alô? – ela atendeu.
- Me dá aqui...
- Tudo bom, Bruno? Eu sou a Janaína, melhor amiga do Caio.
- Me dá esse celular, Jana!
- Só um momento que ele já vai falar com você, querido. Um beijo.
Nesse momento ela me passou o aparelho. Eu não acreditei que ela fez aquilo comigo. Peguei o meu telefone, suspirei e fiquei com vontade de desligar.
- Você não vai desligar na cara do menino! Atende essa porra – ela me fitou com ferocidade.
- Alô? – coloquei o aparelho no ouvido. – O que você quer?
- Obrigado por me atender. Como você está?
- Eu estava bem até agora. Já não te falei mil vezes que não quero que você me ligue?
- Já, mas eu vou ligar mesmo assim.
- Será que eu vou ter que chamar a polícia?
- Chama. Não é crime nenhum eu estar apaixonado por você, é?
Tive que dar risada dessa. Apaixonado? Só se fosse pelas mentiras que ele contava, não por mim.
- Essa foi boa, Bruno.
- Não acredita que eu estou, aliás, que eu continuo apaixonado por você, não é?
- Não – fui firme. – Eu não acredito.
- Mas eu estou. Eu nunca deixei de gostar de você, Caio. Nunca.
- Aham, eu acredito – desdenhei.
- Posso me encontrar com você para explicar o que aconteceu?
- Não! – a minha resposta foi rápida e certeira.
- Por favor?
- Não!
- Deixa eu te contar tudo, pelo amor de Deus?
- Não!
- Eu preciso falar, isso está me matando...
- O problema é seu! Que morra!
- Por favor, Caio... Vamos conversar?
- Não!
- Eu te suplico – ele fez até voz de choro.
- Ene, a, ó, til: NÃO!
- Meu Deus do céu, como você está teimoso!
- Teimoso? – já comecei a me revoltar. – Teimoso? Você está me chamando de teimoso? O teimoso dessa história é você e não eu! Primeiro: não fui eu que saí do país do nada. Segundo: não fui eu que mandei o melhor amigo pegar meu número de telefone, não fui eu que passei pelo meu admirador secreto, não fui eu que contou um monte de mentiras, não fui eu que voltei depois de 1 ano, 8 meses e 18 dias e não fui eu que me fez sofrer do jeito que eu sofri. Agora você me chama de teimoso? Vai te catar, garoto! Me deixa em paz e some da minha vida. Passar bem!
E dizendo isso eu desliguei.
- Eu não acredito que você desligou – a Janaína estava me olhando.
- Qual é a sua? – eu fiquei bravo com ela. – Quem mandou você atender esse idiota? Agora eu fiquei com raiva e a culpa é sua!
- Eu acho que você tem que conversar com ele, Caio.
- Mas eu não acho isso; aliás, eu tenho certeza que a última coisa que eu quero é conversar com ele, Jana. Será que você entende isso?
- Entendo perfeitamente. E você entende o lado dele?
- O lado dele? Que lado? O que me abandonou? Na boa, não estou com vontade de saber do lado de ninguém.
- Mais uma vez você está sendo egoísta.
- Egoísta? Eu estou sendo egoísta? Pelo amor de Deus, Janaína!!! Você sabe o quanto eu sofri por causa desse imbecil?
- Você já me falou e eu entendi perfeitamente o que você passou. Acredite, eu estou do seu lado, mas...
- Não é o que parece – eu a interrompi.
- Mas isso não significa que eu não entenda o lado do Bruno. E só não entendo de verdade porque não sei da versão dele, mas com certeza alguma coisa deve ter acontecido para ele sair do país de uma hora pra outra. Ou será que eu estou enganada?
- Você está enganada! Ele sempre foi imaturo, sempre foi um idiota e só hoje eu consigo enxergar isso.
- Você está cego, Caio. Você diz que só agora consegue enxergar as coisas, mas não. Você está coberto de orgulho, coberto de egoísmo e isso vai acabar te fazendo mal. Pode até ser que você só tenha enxergado a imaturidade do Bruno nesse momento, mas e a sua imaturidade? Essa você não está enxergando.
- Egoismo, essa é boa – eu dei uma risada de raiva.
- Bom, eu já disse o que eu tenho que dizer. À partir de hoje não me meto mais nesse assunto. Faça o que você achar melhor, já que você não ouve os meus conselhos.
- Se conselhos fosse bom não se dava, se vendia. Obrigado, mas eu sei o que vou fazer.
- Como quiser. A minha parte eu já fiz. Vou pra loja, você vai ficar aí?
- Vou. Ainda tenho um tempo de almoço.
- Até mais tarde então.
Não falei nada e fiquei mergulhado nos meus pensamentos e no ódio que eu estava sentindo do Bruno. Egoísta, egoísta! Eu não estava sendo egoísta!
Eu só estava me defendendo. Me defendendo da minha agonia, do meu sofrimento, da minha dor.
Ninguém além de mim sabia o que eu senti; ninguém sentiu o que eu senti, ninguém viveu na pele o que eu vivi. Por mais que as pessoas que estavam ao meuredor soubessem do meu sofrimento, nenhuma delas sabia de fato o que eu estava passando; o que eu estava vivendo.
Cheguei a tentar suicídio para não sentir mais as dores que eu estava sentindo. E não eram quaisquer dores. Eram dores no fundo da minha alma, algo que eu não sabia e não sei mensurar com palavras.
Eu amei e amei muito aquele garoto. Por mais pouco tempo que nós tivéssemos ficado juntos, eu o amei com todo o meu coração. Eu só tive olhos pra ele e pra mais ninguém. A minha vida só girou em volta do Bruno e eu pensei que com ele também tinha acontecido o mesmo.
Esse foi o maior engano da minha vida. Ele foi embora, me deixou sem dar explicações, pediu pro Vítor entregar a aliança que era dele e desde então nós não nos falamos mais.
Tudo bem que ele me mandou inúmeros e-mails, me chamou no MSN, me mandou depoimentos no Orkut, mas eu não li nada... De que me adiantaria ler se eu queria saber da boca dele o que estava acontecendo?
A palavra foi certa: queria, mas não queria mais. Esperei muito por uma explicação, minha cabeça girou em volta de vários porquês – e ainda girava naquela época –, mas era tarde demais.
Havia passado quase 2 anos. 2 anos longe dele... Para que eu ia querer uma explicação naquela altura do campeonato? Naquele momento eu estava é com ódio dele e todos, todos tinham que respeitar o meu sentimento!
Não era questão de egoísmo e muito menos de falta de sensibilidade. Pode até ser que ele também tivesse sofrido, mas eu simplesmente não tinha como me colocar no lugar dele, porque o meu próprio lugar já me pesava demais, já me doía demais e eu não tinha mais espaço para explicações, simplesmente não tinha!!! Será que a Janaína não conseguia entender isso???
- Egoísta. Essa é boa...
- Ainda está bravo comigo? – ela apareceu quase no final do expediente.
- Não, Jana. Em nenhum momento eu fiquei bravo com você. Só com a situação.
- Que bom. Assim eu fico aliviada.
- Quero te pedir desculpas se em algum momento eu fui grosseiro com você. Me perdoa.
- Tudo bem, relaxa. Eu entendo.
- Desculpa mesmo, tá bom? Eu fui estúpido com você.
- Eu entendo, Caio. Fica tranquilo.
Nos abraçamos e eu me senti meio aliviado por não ter ficado nenhuma sombra entre nós dois. Ainda bem que ela me entendia.

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Enquanto estava sentado no ônibus, mais uma vez fiquei mexendo no meu celular. Abri a agenda de contatos e como não tinha nada pra fazer, fiquei olhando número por número e quando cheguei na letra M me deparei com o celular do Murilo.
Que garoto doidinho. Me passou o celular sem nem ao menos me conhecer direito. Abri o contato dele e vi o número do celular e na hora me deu vontade de mandar uma mensagem. Será que era certo?
- Por que não? Foda-se!
“Oi. Lembra de mim? Sou o Caio, nós trocamos ideia na praia há umas semanas atrás. Está tudo bem com você? Um abraço.”.

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Era só esperar para ver se ele ia responder. Fiquei com o aparelho na mão e de 5 em 5 minutos eu olhava, mas nada da resposta chegar.
E foi assim durante boa parte da noite. A todo momento eu pegava meu aparelho, mas não tinha nenhuma resposta do Murilo. Isso me deixou frustrado.
- O que tanto você vê nesse celular, hein? – Rodrigo perguntou.
- Esperando uma mensagem.
- De quem?
- De um menino que eu conheci na praia.
- Ah, safado. E nem me falou nada, né?
- É porque não foi importante. Só hoje eu mandei mensagem pra ele, mas ele não me responde.
- Vai ver ele está sem créditos. Não seja ansioso demais. Espera.
- É você tem razão. Já vai dormir?
- Já. A semana de provas vai começar e eu preciso me preparar psicologicamente.
- É só na outra samana, Digão – lembrei.
- Sei disso, mas já quero começar a descansar desde já. Você deveria fazer o mesmo.
- É, você tem razão. Eu vou fazer isso sim. Boa noite.
- Boa noite, Cacs.


ALGUNS DIAS DEPOIS...Resultado de imagem para dias depois


Já tinha até desencanado da mensagem do Murilo, mas na quarta-feira ele me respondeu:
“E aí? Foi mal a demora, eu tava sem crédito. Tudo em ordem? Quando você vai na praia de novo? Abraço.”.
Não respondi na hora, mas não respondi porque eu estava no meio do expediente, se eu fizesse isso a Duda poderia ficar no meu pé e eu não estava a fim de arrumar encrenca com a minha chefa.

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- Olá? Você trabalha aqui? – perguntou um homem.
“ÓBVIO! SE EU ESTOU DE UNIFORME...” – fiquei com vontade de responder isso.
- Sim. Posso ajudar?
- Quem é a vendedora Selma?
- A Selma é do setor de móveis, por favor me acompanhe.
- Isso é de móveis mesmo. Eu quero falar com ela.
O cara não estava sozinho, ele estava acompanhado por duas mulheres, duas crianças e um adolescente.
- Selminha? Esse senhor quer falar com você.
- Obrigada, Caio. Pois não? Posso ajudar?
- É essa, querida? – ele se voltou para uma das mulheres.
- É essa vagabunda mesmo.
- ESCUTA AQUI, SUA PIRANHA – o homem começou a gritar. – MINHA ESPOSA COMPROU UMA CAMA, TU PROMETEU A MONTAGEM PRA ONTEM E NINGUÉM FOI MONTAR. QUE PORRA É ESSA?

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Saí quase que correndo. O cara parecia estar com o diabo no corpo. Fiquei na outra ponta da loja para não sobrar pra mim.
- EU QUERO O MONTADOR HOJE, TÁ ENTENDENDO? EU QUERO ELE AGORA SENÃO EU QUEBRO ESSA LOJA TODA!
Nem a Eduarda conseguiu controlar o cara. Ela foi obrigada a chamar um segurança do shopping.
- NÃO COLOCA A MÃO EM MIM – ele deu um soco no ar. – EU QUERO O MONTADOR E QUERO AGORA!
Eu já estava trabalhando naquela loja há mais de um ano e nunca tinha visto um barraco como aquele. O homem estava encapetado, só podia.
- Deus me livre, até saí de perto. Já estava ficando surda – falou Janaína.
- Ainda bem que eu não sou de móveis. Isso sempre acontece – Alexia suspirou.
- É pra lá eu não quero ir não – opinei. – Deus me livre de segurar um B.O desses. Se fosse comigo eu já estaria chorando.
- A Selminha está chorando – falou Janaína. – Coitada.
A loja parou por causa desse cliente. Ele causou tanto, mas causou tanto que os seguranças chamaram até os guardas que ficavam no shopping.
- Se o senhor não se acalmar nós seremos obrigados a tirá-lo daqui à força – disse um dos guardas.
- ENCOSTA EM MIM E EU TE PROCESSO, FILHO DA PUTA!
Esse cara fez todos os outros clientes da loja irem embora. Eu não vendi mais nada durante o resto do dia.
A Eduarda chamou o Tácio e depois de muita negociação, depois de muita conversa o cara ficou calmo. O gerente regional prometeu o montador para o dia seguinte no primeiro horário. Eu estava até com medo se o funcionário não comparecesse na casa daquele troglodita.

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Já estava acostumado a passar o dia dos namorados sozinho, mas particularmente no ano de 2.008, eu me senti incomodado.
Me senti incomodado só pelo fato do Vini e de alguns amigos da faculdade estarem namorando. Confesso que fiquei com uma dor de cotovelo lascada, mas num bom sentido, é claro.
- Que carinha é essa? – Rodrigo se aproximou de mim antes da gente sair pra faculdade.
- Hoje é dia dos namorados.
- E daí?
- E daí que eu estou sozinho. Queria estar com alguém.
- Já ouviu aquele ditado: antes só do que mal-acompanhado?
- Já sim, mas é complicado né, Digão?
- Está carente? – ele me puxou.
- Estou – encostei o meu queixo no ombro dele.
- Eu cuido de você, tá bom?
- Uhum.
- Agora vamos pra faculdade, as provas estão se aproximando e não podemos perder aula.
- É, vamos sim.


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As provas estavam próximas mesmo. Eu já tinha começado a estudar e a minha noite de sono que já era curta, foi reduzida a quase nada.
Pelo que os meus colegas falavam, a P2 era bem pior que a P1 e só de ouvir isso, já fiquei preocupado.
- A P2 é muito difícil, é? – perguntei ao Digão quando a gente entrou no ônibus.
- Depende do ponto de vista – ele passou na roleta e foi pro fundão.
- Milagre a gente conseguir dois bancos vazios juntos.
- É mesmo. Então, é um pouco mais complicada, mas não é para morrer também. Você vai se dar bem, você vai ver.
- Assim espero. Estou preocupado com TGA, Matemática e Direito Empresarial. O resto acho que tiro de letra.
- Eu estou preocupado é com todas – ele riu.
- Aí é complicado!
- Abram o livro no capítulo 1 – mandou o Profº Álvaro. – Nós iremos fazer uma revisão para a prova da semana que vem.
- Ainda bem – falei. – Tomara que todos façam isso.
- Verdade – concordou Fernanda.
- Cadê o Nando, Fê?
- Ele foi ao médico.
- Está tudo bem? – quis mostrar solidariedade.
- Uhum. É só uma consulta de rotina.
- Ah. Mas logo no dia dos namorados?
- Pois é, mas fazer o quê, né?
- Verdade.
Isso me fez lembrar que eu ainda não tinha marcado o meu check-up. Ia fazer aquilo ainda naquele dia, antes que esquecesse de novo.
Não sei o que a Marcela tinha. Ela não saiu do celular um segundo sequer e não parou de suspirar.
- O que você tem, hein? – perguntei.
- Nada por quê?
- Não para de suspirar.
- Ah... – a menina ficou vermelha. – Eu acho que estou apaixonada!
- Apaixonada? Por quem? É daqui da facul?
- É sim, mas você só vai saber na hora certa.
- Vai me deixar na curiosidade mesmo?
- Com toda certeza – ela sorriu e suspirou em seguida.
- Vaca!
- Posso saber para quem o senhor está ligando? – Digão apareceu repentinamente atrás de mim, mas eu não me assustei.
- Pro convênio. Eu quero marcar um check-up.
- Boa! Gostei da atitude.
- Alô? – a ligação saiu da musiquinha e uma mulher se apresentou. – Bom dia, eu quero marcar uma consulta com o clínico.
- É no Rio mesmo?
- Lógico – pra onde mais seria? Pra Manaus?
- Qual o melhor horário?
- Período da manhã, por gentileza.
- Pro período da manhã eu vou ter só no dia 8 de julho às 10 horas. Pode ser?
- Longe assim?
- No período matinal é a data mais próxima, mas se o senhor quiser no período da tarde eu terei na semana que vem.
- Não, não posso. Pode marcar nessa data mesmo.
- Informa o número da carteirinha.
- Só estou com o CPF, pode ser?
- Pode sim.
- 352...
- Então esta marcado para o dia 8 de julho com o doutor Celso. Chegue com antecedência para fazer a ficha.
- Tudo bem. Muito obrigado.
- Por nada. Bom dia.
- Bom dia.
- Marcou pra quando? – sondou Rodrigo.
- Dia 8 de julho ainda. Que absurdo.
- Ultimamente os convênios estão piores que o atendimento público, eu hein?
- Verdade. Vou marcar um lembrete no meu celular senão eu vou acabar esquecendo que tenho médico nessa data.
- Boa ideia.

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- Vou mudar seu treino, Caio – informou Felipe.
- De novo?
- De novo sim. Está pensando que é moleza ficar com o corpo em forma?
- Mas você mudou tem só algumas semanas...
- Eu mudei o seu treino no dia 12 de maio. Hoje completa 30 dias, já está na hora de mudar de novo.
- Caramba, meu. Como você guarda as coisas, hein?
- Eu anoto tudo, rapaz. Eu tenho que ter controle, né? Esse é um dos meus papeis. Então vai alongar que eu já vou trazer sua ficha nova.
- Beleza. Por onde eu começo?
- Começa pelo tríceps. Fica ali perto das barras que eu já vou te auxiliar.
- Combinado.
Durante todo o treino eu não vi o Rodrigo. Será que ele tinha ido embora?
- Onde está o Rodrigo? – perguntou Felipe.
- Não faço ideia, estou me perguntando a mesma coisa. Vou mandar uma mensagem, espera aí...
“Onde você está, mano?”.
- Agora é só esperar ele responder. O que eu faço agora?
- Agora é costas. Vem comigo.
Acompanhei o meu personal e ele me mostrou qual era a máquina que eu ia usar.
- Já usei com o Wellington.
- Beleza. Então você já sabe como funciona. Quanto você pegava com o Well?
- Acho que 7.
- Vou colocar 8, vamos ver se você aguenta.
- Moleza!
Quando eu estava no meio da 1ª série, o meu celular vibrou. Era a resposta do Digão:
“Eu estou com dor de barriga. Já vou aí.”.
- Coitadinho... – fiquei com dó.
- O que foi?
- O Rodrigo está com dor de barriga. Eu vou lá ver se está tudo bem.
- Termina a série primeiro.
- Mas...
- Termina a série, Caio!
Bufei e terminei a sessão de 20 repetições.
- Satisfeito?
- Agora sim. Vai lá.
- Eu já vou embora, viu? Está completando meus 40 minutos.
- Beleza. Amanhã então a gente finaliza. Bom trampo.
- Valeu, pra você também. Manda um salve pro Well.
- Pode deixar.
Antes mesmo de entrar no vestiário encontrei o Rodrigo. Ele estava um pouco pálido demais.
- Você está bem? – fiquei todo preocupado.
- Mais ou menos – ele me fitou. – Acho que nem vou treinar hoje.
- Quer ir ao médico? Eu te levo.
- Não precisa. Você tem que trabalhar. Não se preocupe comigo.
- Claro que eu me preocupo, Digow. Você é meu irmão mais velho!
- Eu sei, mas vai ficar tudo bem. Vou falar com o Felipe, tomar banho e ir pra casa. Lá eu tomo um sorinho e fica tudo bem.
- Tem certeza?
- Absoluta.
- Então tá. Qualquer coisa você me liga?
- Ligo sim, Cacs. Obrigado pela sua preocupação.


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Uma das desvantagens de trabalhar em shopping center é o dia dos namorados. Logo quando eu entrei, já notei a presença de vários casais. Isso porque ainda era meio dia, imagina à noite!
Fui ao banheiro, me troquei, arrumei o meu cabelo e em seguida parti direto pra loja. Entrei no vestiário, guardei minhas coisas no meu armário, dei uma conferida no meu visual e consegui enxergar muita mudança no meu corpo.
Meu braço estava cada vez mais definido e a manga da minha camisa social já estava praticamente grudada no músculo. O tórax já estava começando a ficar aparente e isso me deixou imensamente feliz. Eu estava conseguindo o meu objetivo. Só faltava definir a barriga...
- Se admirando? – perguntou um colega de trabalho.
- Pensando na vida – respondi.
Eu não estava feio. Por que estava solteiro? Por que ninguém namorava comigo? Por que eu só escolhia caras ruins? Será que eu tinha um dedo podre?
Saí e fui ao encontro do ponto eletrônico. Ainda faltava 2 minutos para o início da minha jornada de trabalho.
- Oi, delícia – Alexia me abraçou por trás. – Como você está cheiroso!
- Acabei de tomar banho, delícia. Tudo bem?
- Hum... Gostoso... Eu estou bem e você?
- Também. E seu tio?
- Ele deu uma melhoradinha. Saiu do coma.
- Ah, que bom! Ficarei na torcida para que ele melhore cada vez mais.
- Seja o que Deus quiser. Ei, ficou sabendo?
- Não. O que houve?
- A Eduarda mandou alguns funcionários embora hoje cedo.
- Mentira? – me interessei pelo assunto. – Quem? Me conta esse babado!
- Mandou a Ingrid, mandou a Márcia, mandou o Geraldo, mandou o Renato e mandou a Sandra do crediário.
- Nossa que babado fortíssimo, amiga – me espantei. – Mas por que ela mandou tanta gente?
- Redução de custos, querido. E vai mais gente hoje à tarde.
- Será que eu tô no meio? – me preocupei.
- Que nada. Você é um dos melhores vendedores da loja.
- Ah, não exagera, Alexia!
- Verdade. Lembra no final de ano?
- Mas é porque foi final de ano. Nunca mais eu atingi aqueles números.
- Quem sabe você volta pra linha branca agora? Vai que ela manda alguém de lá.
- Deus queira, Deus te ouça, assim seja!
A linha branca era meu xodó. Eu me identificava muito com aquele setor e sabia resolver os problemas de lá de cabo à rabo.
- Nossa, que delicinha você está hoje – a Janaína também me abraçou.
- Obrigado, Jana. Tudo bom?
- Tudo e você?
- Indo. Dia dos namorados hoje.
- Ah, nem me preocupo mais. Nasci pra ser titia.
- Boba.
- Menino do céu, já ficou sabendo dos babados?
- Já. Chegou atrasada, amiga.
- Estou preta passada na chapinha e com o rabinho na mão. Não posso sair agora, tenho que pagar muita coisa.
- Acho que você não sai não, mas eu... Eu estou com medo!
- Cala a boca, garoto. A Duda não vai te mandar. Ela te adora!
- Ela adora você também.
- Isso que me deixa um pouco aliviada, mas mesmo assim eu tenho medo.
- Normal. Não pensei que os cortes seriam agora.
- Agora é só o começo.
- Sério? Tem mais?
- Pelo jeito tem. Certeza que tem hoje de tarde. Se acontecer depois da minha saída você me liga falando, hein?
- Pode deixar.
- Caio, quando terminar essa venda vem na minha mesa – a Eduarda estava muito séria.
Senti um frio imenso na espinha. Eu ia ser mandado embora! Tinha certeza disso.
- Pode deixar, Duda.
Acelerei a venda ao máximo. Quando entreguei o papel ao cliente, notei que as minhas mãos estavam tremendo.
- Agora é só passar no crediário, lá eles finalizarão a compra e o senhor fará o seu carnê.
- Tudo bem.
- Sua entrega será realizada no dia 17, próxima terça-feira em horário comercial.
- Perfeito. Muito obrigado!
- Eu é que agradeço, boa tarde e volte sempre.
- Boa tarde!
Fiz logoff no sistema, engoli em seco, respirei fundo e levantei da minha mesa. Olhei pra Alexia com os olhos apreensivos. A tensão estava no ar.
- A Duda te chamou? – perguntou uma colega do meu setor.
- Chamou sim. Será que eu vou?
- Boa sorte – ela se restringiu a falar isso.
Tentei me preparar psicologicamente. Eu sabia que a minha hora havia chegado e mentalmente já estava pensando qual seria a próxima empresa onde eu ia trabalhar.
- Me chamou? – eu perguntei.
- Senta aí.
Vi um monte de envelopes amarelos em cima da mesa dela. Com certeza ali eram os papeis das demissões.
Nos olhamos, ela suspirou e disse:
- Caio...
- Onde eu assino? – fui logo ao ponto.
- Oi? – Eduarda ficou sem graça.
- Onde eu assino?
- Onde você assina o quê? – ela ergueu as sobrancelhas muito finas.
- A minha demissão!
- E quem disse que você vai ser demitido? – ela caiu na gargalhada.
- Não? Não vou? – meu coração bateu aliviado.
- Claro que não, garoto, se liga! – ela se divertiu.
- Então o que você quer, chefinha? – que alívio eu senti.
- Eu quero saber se você quer trocar de setor!
- CLARO QUE QUERO! – meus olhos brilharam. – Para onde? Para onde?
- Então, eu estou pensando em te mandar para móveis.
- Móveis? – me decepcionei totalmente. – Logo pra móveis?
- Sim! Algo me diz que você se dará muito bem lá.
- Ai, Duda... Pensei que você ia me remanejar pra linha branca!
- Não. Linha branca não tem vaga. Eu até vou mandar umas pessoas de lá embora, mas você não volta pelo menos por enquanto.
- E por que eu não volto? – fiquei muito triste.
- Porque você já foi de lá e porque eu preciso mandar outras pessoas para esse setor. Você já ficou lá um tempinho, Caio e os outros vendedores não. Eles também merecem, você não acha?
- É eu sei, mas eu gosto tanto de lá...
- Sei disso, querido. Lamento muitíssimo te decepcionar, mas linha branca agora não vai rolar. Você aceita ir para móveis?
- Ai eu tenho medo!
- Medo de quê?
- Dos clientes, né? Você viu o que aconteceu com a Selminha...
- Não foi culpa dela. Isso vai acontecer em qualquer lugar. Onde está a sua maturidade, Caio?
Fiquei calado e sem saber o que responder.
- Eu preciso testar suas argumentações em móveis. Na verdade eu não estou pensando em ouvir um não. E mesmo que você diga não, você vai do mesmo jeito.
- Quer dizer que não tenho direito de escolha?
- Não – ela foi sincera. – A empresa precisa de você nos móveis e é pra lá que você vai à partir de agora.
- Mas já? Tão rápido assim?
- Rápido assim. Preciso que você entenda todos os departamentos.
- E pra que você precisa disso?
- Porque no futuro você vai estar aqui no meu lugar, Caio!
- E quem disse que eu quero virar gerente, Eduarda?
- Não quer agora, mas com o tempo as coisas vão acontecer naturalmente. Ou você acha que vai ser vendedor pro resto da vida?
- Não.
- Então qual o seu medo? Nesse momento você não está preparado. É muito jovem, ainda é muito imaturo, mostra-se receoso em alguns aspectos, mas no futuro você vai ser um excelente líder. Eu tenho certeza disso e o Jonas também.
- O Jonas já me falou isso algumas vezes.
- Eu sei. Nós dois já conversamos sobre esse assunto. O Jonas e eu não ficaremos aqui para sempre e um dos nossos papéis é desenvolver vocês para ocuparem o nosso lugar. E acredite: você tem potencial.
- Obrigado pelo incentivo, mas mesmo assim eu não quero chegar na gerência.
- Morrer nas vendas é que você não vai.
- Espero encontrar algo na minha área mais pra frente.
- Bacana, mas você acha mesmo que vai ganhar o que ganha aqui trabalhando na área de RH?
- Depende...
- Por mais que seja estressante, por mais que seja cansativo, isso daqui dá dinheiro. Vai dizer que não?
- Dá sim, mas...
- E por mais que a gente fale que dinheiro não é tudo, Caio, na verdade você sabe que não é assim. Você teve que ser independente muito cedo, você tem que fazer um futuro, tem que criar alicerces e sem dinheiro você não vai conseguir fazer isso.
- Por que está me falando tudo isso?
- Porque eu sou sua amiga e me sinto no dever de te ajudar profissionalmente. Meu lindo, você só tem 19 anos, ainda é um bebê! Você precisa de direcionamento, precisa de orientação!
- Eu sei disso, Duda.
- Então não pense duas vezes quando alguém te der uma oportunidade. Ela pode ser única.
- Eu entendo, mas eu não consigo deixar de gostar da linha branca. E móveis me assusta muito.
- Isso daí é um bloqueio que você criou dentro de si. Não importa o setor, Caio! Importa a sua competência, a sua força de vontade, a sua determinação. E isso eu sei que você tem de sobra.
- Eduarda, desculpa – uma menina do crediário apareceu atrás de mim.
- Diga, Lídia?
- Telefone pra você.
- Quem é?
- O Tácio. Ele disse que não está conseguindo ligar no seu ramal.
- Faz um favor, Lídia? Fala pra ele que eu estou no meio de um feedback importante e que ligo pra ele em 10 minutos? Pode ser?
- Pode deixar, Duda.
- Obrigada! Então, Caio... Não fica pensando só na linha branca. Foi bom? Foi, mas agora o seu momento é outro. Você foi muito bem no colchões e estofados e eu tenho certeza que será muito melhor em móveis.
Fiquei calado. Não esperava ouvir tudo aquilo da minha chefe.
- Quer falar alguma coisa? Eu estou aqui pra te ouvir também, viu?
- Não – balancei a cabeça negativamente. – Eu entendi o que você quis dizer. E eu aceito a proposta.
- Eu sei que você aceita, você não tem escolha – ela riu. – É brincadeira. Eu estava brincando quando disse que você não tinha escolha.
- Então você me convenceu, porque pareceu bem real.
- É que eu estou treinando meu lado atriz, sabe? Um dia eu quero trabalhar na Globo.
A gente deu risada.
- Boba.
- Brincadeiras à parte, você entendeu mesmo o que eu quis dizer?
- Sim.
- Acredite em si mesmo, garoto! Você tem um futuro brilhante aqui na empresa. E eu não quero que você saia de jeito nenhum, portanto pode tirando o cavalinho da chuva que você não vai pedir as contas tão cedo.
- Mas eu não pretendo trabalhar aqui pra sempre, desculpa – falei a verdade. – A empresa é boa, eu gosto muito de vocês, mas eu não vou morrer aqui. Eu quero outros ares, quero outras oportunidades.
- Eu disse que você ia morrer aqui? Eu disse apenas que nesse momento você deve ficar. Isso é um conselho de amiga, tá?
- Uhum.
- Voltando ao assunto, você foi obrigado a sair de casa e só agora está se consolidando na empresa. Acredito eu que você esteja se estabilizando agora, ou estou enganada?
- Não. Você está certa.
- Então para que vai trocar o certo pelo duvidoso? Trabalhar na nossa área de formação é muito bom, mas quando a área nos dá suporte e chances de criarmos pilares na nossa vida. Ainda é cedo demais para você sair daqui. Essa é a minha opinião.
- Mas Duda, mais cedo ou mais tarde eu vou ter que fazer estágio. Como fica?
- Sem problema algum. Eu dou um jeito de te colocar no RH da loja.
- E desde quando o RH da gente é aqui no Rio? Que eu saiba é em São Paulo.
- Quem sabe eu consigo te deixar lá em São Paulo algum tempo?
- Deus me livre!
- Não quer?
- Quero não, obrigado. A minha vida é aqui no Rio agora. E tem mais: como eu vou estagiar em São Paulo se eu faço faculdade aqui?
- Eu dou um jeito. Já fizemos isso com uma funcionária no ano passado e faremos novamente. Conversarei com o Tácio sobre isso.
- Sendo assim eu fico mais tranquilo.
- É só você me dizer quando precisa estagiar que eu dou os meus pulos. Eu só não vou te deixar sair daqui. Isso não!
- Linda – eu abri um sorriso. – Assim eu vou ficar me sentindo a última bolacha do pacote!
- Essa é a intenção. Então é isso. Você tem alguma dúvida? Quer falar algo?
- Não, nenhuma dúvida. Eu entendi o que você quis dizer e te agradeço muito pelas dicas e pelo feedback.
- Gosto muito de você, garoto. Você é nota 10 e merece tudo de bom. Agora vai lá pro seu novo setor, cola na Jana e aprende tudo o que você tiver que aprender.
- Você manda – eu suspirei. – Obrigado pela oportunidade.
- Por nada. Me faz um favor?
- Diga?
- Aproveita que você vai pra lá e chama a Marluce pra mim, por favor.
- OK. Ah, antes que eu me esqueça... Por acaso vai ter contratação?
- Sim. Na semana que vem. Por quê?!
- Eu tenho um amigo que quer trabalhar aqui. Posso trazer um currículo?
- Pode. Traz o currículo com ele junto. Pode ser na segunda?
- Acho que pode, não sei. Vejo com ele e te aviso.
- Beleza. As entrevistas começarão na segunda. Se tiver mais alguém pra trazer pode trazer. A gente vai contratar 10 vendedores. 5 para cada período.
- Beleza então. Eu falo com ele. Valeu, Duda.
- Falou, Caio. Não esquece de chamar a Marluce.
- Pode deixar.
As palavras da Duda ficaram ecoando na minha mente. Ela encheu a minha bola, mas ao mesmo tempo tirou as minhas esperanças de voltar pra linha branca.
- Marluce? A Eduarda chama na mesa dela.
- Ah, obrigada, Caio.
- Que carinha é essa? – perguntou Janaína.
- Acabei de ser demitido. Vim me despedir de você.
A negra ficou pálida. Eu fiquei com vontade de dar risada.
- Você está falando sério? – ela me olhou com os olhos esbugalhados.
- Sim – quase não segurei a risada.
- O que aconteceu com a Eduarda? Espera aí que eu vou tirar satisfação. Ela é louca? Só pode estar louca...
Minha amiga saiu andando e nesse momento eu soltei a risada.
- Espera, Jana, é brincadeira!
- Como assim? Você está me achando com cara de quê?
- Eu sou do móveis agora, sabia?
- Mentira? – a negra parou de andar. – Quer dizer que agora você é do meu setor? É isso mesmo, assistente de palco?
- Isso mesmo. Não vai me dar as boas-vindas?
Como de praxe, a mulher me abraçou rindo. O abraço dela foi tão forte que me senti relaxado.
- Que delícia – ela riu. – Adorei.
- Eu não gostei muito, mas aceitei. A Duda pediu para eu colar em você e pra você me ensinar tudo o que eu preciso saber.
- Vem comigo que é sucesso! Me acompanha, vamos abordar aquele cliente.
Não tinha segredo nenhum. A única coisa que eu precisava relembrar era como eu fazia para abrir as solicitações de montagem.
- Não tem segredo – ela falou. – O próximo cliente que ligar é você que abre, beleza? Se prepara porque o telefone não para aqui no meu departamento.
- E eu não sei? Às vezes toca tudo de uma vez só.
- Faço questão de dividir meu ramal e a minha mesa com você.
- Muito agradecido, amor.
Ver os meus colegas de trabalho serem demitidos me deixou entristecido. Principalmente quando alguns mais próximos de mim foram obrigados a sair da loja.
- Boa sorte, Carla. Deus te ilumine nessa nova etapa.
- Obrigada, Caio. Arrepia aí, hein?
- Pode deixar.
Só no período da tarde ela desligou 8 pessoas. E pelo que nós ficamos sabendo, não ia parar por aí.
- Caio, meu lindo; eu vou embora – Janaína se aproximou. – Agora é com você. Arrepia aí.
- Ai, Deus... Dai-me coragem...
- Relaxa que é tudo de bom. Só perde pra linha branca e pode apostar que vende muito.
- Vende é? Essa eu pago pra ver.
- Pode apostar. Estou indo, até amanhã. Beijo!
- Outro.

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Só no fim do expediente eu vi as várias mensagens no meu celular. A maioria era do Bruno:
“Feliz dia dos namorados...”.
Para que ele tinha me mandado aquilo?
“Como eu queria estar ao seu lado nessa data...”.
Mas eu não. Eu não queria estar ao lado dele nem naquela data e nem em nenhuma outra. Não respondi nenhum dos torpedos, mas de repente lembrei que não tinha mandado mais notícias ao Murilo. Para ele sim eu escrevi:
“E aí? Tudo em ordem? Acho que vou colar na praia no domingo. Abraço.”.
Eu estava contando os minutos para os meus próximos 5 dias de folga. Seria na semana seguinte para unir com a semana de provas na faculdade. Ainda bem que só faltava mais alguns dias para eu poder descansar um pouco.
- Boa noite, Duda – falei. – Até amanhã.
- E aí? Me conta como foi seu primeiro dia no móveis?
- Absolutamente tranquilo. Só vendi uma cadeira de escritório e nada mais.
- Só? Que moleza é essa? Amanhã eu quero no mínimo 15 vendas, hein?
- Prometo que vou tentar, mas não sei se vou conseguir. Beijo. Boa noite.
- Vai lá. Até amanhã, Caio.


A primeira coisa que eu fiz quando cheguei em casa foi falar com o Kléber. Ainda bem que ele estava no sofá:
- Kléber?
- Oi, gato? – ele me olhou.
- Você pode ir na loja na segunda fazer uma entrevista?
- Sério? Tão rápido assim?
- Pois é! Pode ir ou não?
- Posso, lógico. Mas qual horário?
- Você só pode de tarde, né?
- Isso.
- Amanhã eu vou ver com a Duda qual horário você pode ir e te falo, beleza?
- Demorou. Valeu aí, cara.
- Só que segunda eu não vou estar lá. Estarei de folga. Sabe ir sozinho, né?
- É na Barra não é?
- Aham.
- Claro que sei. Pode deixar que eu me viro.
- Beleza então. Até amanhã.
- Até, gostoso. E obrigado pela força.
- Disponha.
Digão estava deitado de papo pra ar com a mão em cima da barriga. Só naquele momento eu me recordei que ele havia passado mal.
- Digow?
- Hum?
- Você está bem? – eu me aproximei.
- Estou. Já melhorei, Caio.
- Desculpa não ter te ligado, viu? Tive um dia de cão na loja!
- Imagina, não tem problema algum. Eu cheguei, fiz um sorinho caseiro e a dor de barriga foi embora.

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- Ai que bom, mas se acontecer de novo fala pra gente ir ao médico, tá?
- Pode deixar – ele sorriu. – Obrigado pela preocupação.
- Quer dizer que você só fala com o Digão, né? – Vinícius deu um chute nas minhas costelas. Ele estava deitado na cama dele.
- Calma, já ia falar com vocês. Como estão os senhores? Tudo em ordem?
- Ah, lembrou da gente agora? – Vinícius jogou um travesseiro em cima de mim. – Seu mal-educado!
- Posso ficar preocupado com meu amigo, Vini? – me defendi de outra travesseirada.
- Mas fala com a gente também, palhaço. E se a gente estivesse morrendo?
- Menos, “Viníciôs” – Fabrício nem se importou.
- Benfeito – dei risada e fui pegar uma roupa.
- Por que teve um dia de cão, Caio? – perguntou Fabrício.
- Ah... Hoje foi dia de corte. Maior galera foi mandada embora e eu fiquei apreensivo, mas graças a Deus não me mandaram. Só me trocaram de setor.
- Ah, é? E onde você está agora? – perguntou o médico.
- Estou nos móveis.
- Ah, bacana – ele bocejou. – Apaga a luz aí, moleque.
- Já apago. Só deixa eu arrumar aqui rapidinho.
Minha gaveta de cuecas estava uma zona. Eu as arrumei rapidamente e em seguida saí para tomar banho e jantar.



SEXTA-FEIRA, 13 DE JUNHO DE 2.008
Se um dia antes o shopping estava com clima de dia dos namorados, naquela tarde todos os ambientes estavam era com clima de sexta-feira 13.
- Queria um gato preto hoje – falou Maicon.
- CRUZES – Rodrigo bufou. – Odeio gatos, ainda mais pretos.
- Um dia eu ainda vou trazer um pra cá – falei.
- Traz e eu saio daqui – Digão falou sério.
- Por que você odeia tanto os bichanos?
- Porque são inúteis. Eles te olham com cara de desprezo.
- Não é verdade – eu defendi os animais. – Eles são muito dóceis, são lindos e fofinhos.
- Verdade – concordou Maicon. – Eu apoio o Caio.
- Cruzes – Rodrigo bufou de novo. – Vamos pra faculdade, Caio?
- Vamos!
- Por que acordou tão cedo, Maicon? – perguntou Kléber.
- Porque hoje eu tenho que resolver umas paradas aí.
- Ah...
- Bom dia pessoal – falei. – Até mais tarde.
Vi várias pessoas de preto na faculdade e me senti desolado. Eu não havia pensado em aderir a essa moda naquela sexta-feira 13.
- Poderia ter vindo de preto também – comentei com o Digão.
- Verdade. Eu nem pensei nisso. Boa aula.
- Pra você também.
99% da minha sala estava com roupa negra. Eu me senti um peixinho fora d’água naquele momento.
- Bom dia – cumprimentei os meus amigos. Os meus olhos estavam ardendo.
- Bom dia – responderam as meninas.
Sentei, abri o livro e comecei a estudar. Faltava apenas 3 dias para o início das provas.
Na hora que eu fui almoçar notei que o Murilo tinha me mandado mais uma mensagem:
“Que horas você vai pra praia? A gente pode se encontrar lá?”.
Será que ele estava tão interessado em mim a ponto de querer marcar um encontro na praia?
“Acho que de noite. Ainda não sei. Podemos sim, eu te aviso. Abraço.”.
Por que não? A gente podia sim se encontrar na praia, não tinha problema nenhum nisso. Eu ia tirar a noite para descansar mesmo...
Só queria entender qual era o interesse que ele tinha em mim. Aquilo não estava me parecendo normal, ou será que era paranoia da minha cabeça?



NO DOMINGO...
Naquele domingo eu estava de folga, mas trabalhei em dobro na minha casa. Tive que acordar cedo para lavar roupa e para limpar o meu quarto. Os meninos estavam reclamando que fazia tempo que a gente não fazia faxina. E eles estavam certos.
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Depois de deixar tudo arrumado, eu caí de cara nos livros. Abri um por um e estudei até o anoitecer.
- Ainda estudando? – perguntou Fabrício.
- Pois é, mano. As provas estão aí.
- Você precisa descansar um pouco, Caio!
- Vou fazer isso agora. Vou colar na praia porque preciso ver o mar. Ele me relaxa e amanhã eu vou precisar estar relaxado.
- Verdade. Faz isso sim.
- O Rodrigo já chegou?
- Ainda não.
Digão disse que ia encontrar com uma ficante e isso me deixou mega estressado. Era inevitável não sentir ciúmes do meu melhor amigo.
- Hum... Vou pro banho. Você leva uma toalha pra mim, por favor? Já estou atrasado...
- Levo sim, fica tranquilo.


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Cheguei em Ipanema por volta das 21 horas. A praia estava absolutamente vazia e o mar estava muitíssimo lindo naquela noite, Pena que eu não tinha coragem para entrar naquele horário.
Procurei um lugar e sentei. Não demorou muito para uma mensagem chegar no meu celular:
“Onde você está?”.
Era o Murilo. Eu respondi, dei as coordenadas e em pouquinho tempo ele apareceu atrás de mim:
- E aí?
- Tudo bom? – eu estendi a mão e ele apertou.

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- Beleza e você? – o moleque sentou ao meu lado.
- Em ordem. Vendo o mar aqui.
- Lindão, né?
- Demais.
- Você deve me achar um louco. A gente nem se conhece direito e eu fico te chamando pra ir lá em casa, fico marcando encontro na praia...
- Na verdade eu achei isso meio inusitado mesmo.
- Eu nem sei te explicar, mas fui com a sua cara. Você me parece ser um cara bem legal e quero fazer amizade com você.
- Ah, valeu. Você também parece ser um cara legal.
- Valeu.
Olhei pro mar e fiquei pensando na vida. O Bruno invadiu os meus pensamentos e eu acabei suspirando.

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- Pensando na vida? – perguntou o adolescente.
- Pensando na vida – respondi, sem virar para encará-lo.
- Você gosta de vídeo-game?
- Aham.
- Quer jogar lá em casa?
- Na sua casa? – fiquei receoso.
Por que ele estava me convidando para ir na casa dele de novo? O que ele queria comigo afinal de contas?
- É. Não tem ninguém lá e mesmo se tivesse. Não tem nada demais nisso.
- Ah, sei lá. Eu fico meio sem graça.
- Por quê?
- Porque a gente ainda nem se conhece direito, cara.
- Hum... Então eu não vou insistir.
- Como quiser – abri um sorriso amarelo.
- Mas se você mudar de ideia é só me falar, beleza?
- Combinado.
- Aí, o que você faz da vida?
- Eu estudo e trabalho e você?
- Eu só estudo só. Estou terminando o ensino médio.
- Já? Com 15 anos?!
- É eu sou adiantado.
- Bacana.
- E eu já fiz 16 anos.
- Já? Então parabéns!
- Obrigado!
- De nada!
- Você estuda o quê?
- Faço Gestão de Recursos Humanos.
- Da hora. E trabalha com o quê?
- Com vendas.
- Da hora. Mora onde mesmo?
- No Realengo.
- Pô... Lonjão daqui.
- Um pouco – abri outro sorriso amarelo.
- Da hora.
Será que ele só sabia falar “da hora”?
- Você disse que é de São Paulo, né?
- Isso – confirmei.
- Mora aqui faz tempo?
Parei pra pensar. Já estava completando 3 anos. Era isso mesmo ou era impressão minha?
Não, não era impressão! Já ia completado 3 anos da minha mudança para o Rio de Janeiro!!!
- Moro aqui já tem 3 anos...
- Ah, legal. Mora com a sua família?
- Não – balancei a cabeça negativamente. – Moro com uns amigos.
- Pô e a sua família deixou?
- Eles não foram nada contra – suspirei.
Pelo contrário. Se eu estava ali era por causa deles.
- Da hora. Você tem irmãos?
- Dois – eu não ia deixar o Digow de fora da conta. – Um gêmeo e outro mais velho. E você?
- Sério? Da hora! Eu sou filho único.
- Legal. É legal?
- Eu me amarro. É tudo pra mim, tá ligado? Não tenho que dividir nada com ninguém.
- Exclusividade, né?
- Isso aí.
Às vezes eu tive vontade de ser filho único. Talvez se não tivesse o Cauã o meu pai gostasse um pouco mais de mim...
- Deve ser maneiro ter um irmão gêmeo – Murilo não tirou os olhos do mar.
- Depende do ponto de vista. Às vezes é legal, às vezes não.
- Saquei. Tem 19 anos, né?
- É.
- Quando você completa 20?
- Finalzinho de agosto.
- Hum... Eu fiz 16 dia 13.
- Entendi.
13 de junho. Ele era geminiano, assim como o Digow..
- Você disse que não sabe surfar direito?
- É eu não sei – assenti. – Nunca tive muito equilíbrio em cima de uma prancha.
- Isso porque você não nasceu aqui no Rio, cara. Todo carioca sabe surfar.
Achei que ele generalizou demais. Não é porque as pessoas nascem no Rio de Janeiro que elas são surfistas desde crianças.
- Hum.
- Lá em São Paulo não tem praia não, né?
- Na cidade de São Paulo não, mas no Estado sim.
- Mas é longe?
- Umas 2, 3 horas de viagem. Depende.
- Pô então é longe. Eu não ia saber viver sem praia.
- Hoje em dia eu acho que não sobrevivo sem o mar também.
- Me amarro nisso tudo aí. É lindo demais.
- Isso é verdade. É muito lindo mesmo.
- Tem a moral de cair na água?
- Agora? Nem a pau. Está tarde demais e eu não quero me molhar. Como vou voltar pra casa todo ensopado?
- Como tu é mole, Caio – ele deu risada.
- Sou nada é que já está tarde pra entrar no mar. A essa hora pode ser meio perigoso.
- Eu deveria ter trazido a minha prancha pra pegar umas ondas.
- Você é doido. Eu, hein?
- Sou nada. Sou apenas um peixinho. Adoro água.
- Percebi.
Murilo e eu trocamos muita ideia e quando eu olhei no relógio do meu celular acabei me surpreendendo. Já era bem tarde e eu precisava ir embora.
- Preciso ir, Murilo.
- Já?
- Sim. Já está um pouco tarde e amanhã eu tenho que acordar cedo pra ir pra faculdade.
- Que droga. O papo está tão bom.
- Verdade, mas não faltará oportunidade pra gente se encontrar de novo.
- Posso te considerar meu amigo já?
Abri um sorriso sincero.
- Pode sim. Amigo!
Ele abriu um sorriso em resposta. O garotinho era muito bonitinho.
- Então eu já vou nessa – falei.
- Beleza. A gente marca outro dia então pra trocar mais ideia.
- A gente marca sim. Foi bom ter te conhecido, você é muito legal.
- Você é legal também, Caio.
- Até mais então, Murilo.
- Até!
Saí andando e deixei o garoto lá sentado em frente ao mar. Enquanto caminhei pela areia fiquei mais uma vez pensando na vida.
Eu não sabia dizer se o Murilo se aproximou de mim por algum motivo específico ou só para fazer amizade. O fato é que aquela aproximação foi meio repentina e equisita demais.
O Vítor disse que ele era bi. Que pegava mais mulher do que homem, mas que curtia a parada. Será que ele estava interessado em mim?
Essa pergunta ficou rondando a minha mente por vários minutos, mas eu tinha certeza que essa resposta eu só ia ter com o tempo, tempo esse que eu teria que esperar pacientemente.



NA SEGUNDA-FEIRA...


Já acordei sentindo frio no estõmago. Mesmo sem admitir, eu estava com bastante medo em encarar aquelas provas de final de semestre. Será que eu ia me sair bem?
Quando a professora entregou a folha de sulfite eu me deparei com várias perguntas imensas. O teste era dissertativo e logo na primeira pergunta eu fiquei em dúvida sobre a resposta certa. Eu estava ferrado.
Tentei me lembrar das explicações e da matéria do livro e depois de muito forçar a memória, a resposta apareceu.
Comecei a escrever e quando peguei o gancho não parei mais. Respondi uma atrás da outra e quando menos esperei, já tinha terminado a prova.
É claro que eu não sabia o que estava certo ou o que estava errado, mas no fim das contas eu me senti confiante e satisfeito.
- Professora – eu entreguei a prova.
- Obrigada, Caio. Boa sorte.
- Obrigado.
- Está dispensado. Até a próxima aula.
- Até.


Voltei pra minha carteira, peguei a minha mochila e saí da sala. Mandei um torpedo ao Rodrigo e disse que não ficaria esperando por ele porque não sabia quanto tempo ele ia demorar.
Mas para a minha surpresa, ele também já tinha terminado o exame e já estava à caminho da academia. A gente se encontrou no meio do caminho porque ele resolveu me esperar.
- E aí, como foi? – meu amigo me encarou com tranquilidade.
- A primeira pergunta foi a mais tensa de todas, mas depois eu lembrei e acho que respondi certo. E com você?
- A minha não foi fácil não, mas seja o que Deus quiser. Só não posso ficar em DP.
- Nem eu. Vai treinar até que horas?
- Acho que vou ficar umas 2 horas e você?
- Hoje eu estou de folga... Acho que vou ficar só 1 horinha mesmo.
- Então eu te faço companhia. Na hora que você for pra casa eu vou com você.
- Demorou então.
- 5, 4, 3, 2, 1 – falou Felipe. – Relaxa, Caio!
- Já vou nessa, Felipe – anunciei.
- Já? E os abdominais?
- Ah, pode crer. Esqueci deles. Mas vou fazer só isso e depois vou embora, beleza?
- Fechou. Pega lá o colchonete então.
Eu peguei o colchonete preto e fui para perto dos espelhos. Estiquei o objeto no chão, deitei, apoiei os pés no chão e comecei a levantar o meu tronco.
- Não vai tão alto assim – pediu meu instrutor.
- Assim?
- Perfeito.
Fiz as 3 séries de 50 e descansei por um tempo. Ainda faltava a última sessão e essa era a pior de todas.
Deitei novamente no colchonete, coloquei os braços ao lado do meu corpo e comecei a levantar as minhas pernas.
- Estica essas pernas, Caio – Felipe puxou os meus pés. – Assim.
- Esse é foda, dói tudo...
- É pra doer mesmo. Vai lá... 47, 46, 45...
300 abdominais. Eu estava evoluindo porque quando cheguei naquela academia, eu só fazia 90 no total.
Bastou colocar o celular no carregador para ele começar a tocar. Era um número desconhecido e eu atendi sem pestanejar:
- Alô?
- Caio?
Eu não acreditei que se tratava do Bruno!
- Ai Deus, dai-me paciência – eu choraminguei. – O que você quer, garoto?
- Conversar com você.
- Mas eu não quero falar com você, Bruno! Eu não quero...
- Por favor, Caio. Eu estou te pedindo... Pelo amor de Deus, por tudo o que você mais ama nessa vida, vamos nos encontrar...
- Não. Por que você não me deixa em paz de uma vez por todas?
- Porque eu te amo, porque eu te adoro, porque eu preciso conversar com você, eu preciso falar o que aconteceu, sabe?
- Não quero mais saber o que aconteceu. Entende isso de uma vez!
- Por favor, Caio, por favor... Por favor, eu te suplico!
- Não adianta você suplicar nada. Eu não quero te encontrar, entendeu? Me deixa em paz, por favor!
- Eu sei que você quer me ver, eu sei... Vamos nos ver, por favor...
- Nâo quero te ver não. Acho que você já entendeu isso e só está complicando as coisas. Segue a sua vida, me deixa seguir a minha e assim vai ficar tudo bem.
- Por que você está sendo tão duro comigo, Caio?
- Você ainda pergunta?
- Eu posso explicar porquê eu tive que sair do Brasil, eu posso explicar...
- Foda-se a sua explicação. Agora é tarde demais, você não pensou em mim naquela época, por que está pensando agora?
- Pensei sim, eu pensei muito!!!
- Eu não acredito em você.
- Acredite, é a mais pura verdade.
- Essa é a mais pura mentira, isso sim. Por favor, eu vou falar a última vez: ME DEIXA EM PAZ!
- Não desliga, Caio... Pelo amor de Deus, fala comigo...
- Não quero falar com você, qual a parte que você não entendeu? Você é burro por acaso? Some da minha vida seu nojento!
- Deixa pelo menos eu te dar um presente...?
- Não quero nada que venha de você. Vou desligar. Até nunca.
- NÃO...
Mas eu desliguei. Desliguei, mas ele ligou de novo. Eu fiquei tão irritado que não consegui nem prestar atenção nos meus estudos e fui obrigado a desligar o celular.
- Com quem você estava falando? – perguntou Rodrigo.
- Com o idiota do Bruno – eu bufei. – Ele me ligou sem identificação e eu atendi porque não sabia que era ele.
- Ele ainda está no seu pé?
- Está sim e eu não sei mais o que fazer.
- Será que eu vou ter que dar outro soco na cara dele?
- Não. Deixa isso pra lá. Mais cedo ou mais tarde ele vai acabar desistindo.
- Assim espero, né? Que carinha idiota!!!
- Demais. Vou pra praia, tá bom?
- Pra praia? – ele achou estranho. – E os estudos?
- Depois desse telefonema eu não vou conseguir me concentrar. Eu vou pra praia pra relaxar um pouco e depois eu volto pra estudar.
- Você é doido, menino? Amanhã tem prova...
- Eu sei que tem, mas eu não vou me concentrar, Digão! Toda vez que falo com ele, eu fico muito nervoso. Preciso ver o mar, é sério.
- Você que sabe! Que praia você vai?
- Qualquer uma. Só não posso ficar em casa.
- Então eu vou com você.
- Não precisa – balancei a cabeça negativamente. – Pode ficar estudando. Eu vou sozinho.
- Então é você que sabe!


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Escolhi a Praia da Barra porque não queria encontrar com meu ex-namorado. Eu sabia que se fosse em Ipanema poderia correr o risco de trombar com ele e eu não queria que isso acontecesse.
Caminhei à beira mar por mais de meia hora. Deixei as ondas baterem nas minhas pernas, respirei fundo várias vezes e fiquei pensando no filho da puta.
Por que ele queria me encontrar? Por que ele queria falar comigo? Por que ele estava sendo tão teimoso?
Escolhi um lugar na areia e fiquei sentado de frente pro mar. O oceano tinha o poder milagroso de me acalmar e ele ia me ajudar a colocar a minha mente e as minhas ideias no lugar.
Eu ia ser firme e não ia aceitar os convites do Bruno. Eu não podia aceitar. Não podia falar com ele, não podia!!!
Era tarde demais. Ele tinha me perdido e não ia me ter de volta. Não mais, nunca mais.
O Bruno poderia ligar mil vezes se quisesse que eu não ia aceitar nenhum convite, disso eu tinha certeza.
Não sei explicar o que aconteceu, mas do nada eu senti uma vontade enorme de olhar para a minha esquerda e eu NÃO ACREDITEI no que eu vi.
- Ai eu não acredito – senti a areia sumir debaixo do meu corpo. Parecia que eu estava flutuando.
Pode até parecer mentira da minha parte, mas não é. Quando eu olhei pra esquerda, dei de cara com o desgraçado.
Ele estava sentado há alguns metros de distância e também estava olhando pro mar. Eu só não entendi por qual motivo ele estava naquela praia.
Por que a gente estava se encontrando tanto? Já era a terceira vez que isso acontecia. A primeira foi um encontro marcado e eu não sabia que ele era meu admirador secreto... Na segunda eu o encontrei na rua em Ipanema e naquele momento na praia... Até quando esses encontros iam acontecer?
O Rio de Janeiro era imenso, IMENSO! Como aquilo poderia estar acontecendo? Eu queria uma explicação, eu queria entender por qual motivo a gente estava se encontrando tanto!
Não sei quanto tempo eu fiquei olhando pra ele, só sei que de repente ele percebeu a minha presença e pareceu ficar tão surpreso quanto eu.
Nós nos olhamos e rapidamente eu levantei e saí andando. Não queria que ele tivesse me visto, NÃO QUERIA TER ME ENCONTRADO COM ELE!!!
- CAIO... – ouvi aquela maldita voz entrar nos meus ouvidos.
Comecei a correr. Se eu já estava com ódio, naquele momento então fiquei tomado ainda mais por esse sentimento.

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- CAIO, ME ESPERA...
Como eu estava correndo na areia, esporadicamente enterrei os meus pés e isso fez com que ele me alcançasse:
- CAIO... CAIO... – Bruno segurou no meu braço. – Me espera...
- ME SOLTA, BRUNO!
- Que coincidência te encontrar aqui... É Deus... É Deus que está me ajudando...
- ME SOLTA, DESGRAÇADO! – eu puxei o meu braço e o fuzilei com os olhos.
- O que você está fazendo aqui, Caio?
- NÃO É DA SUA CONTA! – eu voltei a andar e deixei o menino para trás.
- Espera... Vamos conversar... – ele segurou no meu braço de novo.
- NÃO! ME SOLTA, IDIOTA!
- Não fica nervoso desse jeito, Caio... – Bruno parecia feliz em ter me encontrado. – A gente não precisa brigar desse jeito...
- Não pedi a sua opinião, garoto. Eu vou embora, me deixa em paz!
- Por que você não quer conversar comigo? Qual o seu medo? Eu não vou te fazer nada, eu prometo!
Dei risada.
- Você já fez demais, não é?
- Sei disso, mas tem explicação.
- Já falei mil vezes que eu não quero saber de nada!
- Vamos pro meu apartamento, Caio? Eu estou morando aqui perto... Vamos lá, lá a gente vai poder conversar melhor.
- Não. Não quero ficar a sós com você de jeito nenhum!
- Por favor, me deixa explicar tudo, me ouve...
- NÃO! ME DEIXA EM PAZ...
- Caio... – Bruno segurou de novo no meu braço.
- EU JÁ FALEI PRA VOCÊ ME DEIXAR EM PAZ, QUE SACO! – dei um empurrão no garoto e ele cambaleou na areia.
Eu queria continuar andando, mas as minhas pernas pararam e começaram a tremer. Eu queria gritar, queria esbofeteá-lo, queria xingá-lo, mas nada saiu da minha garganta.
Nossos olhos grudaram e eu vi as lágrimas escorrendo pelo rosto do meu ex. Os olhos azuis ficaram ainda mais azuis quando molhados e isso me deixou com um frio imenso na barriga. Que olhos lindos...
- Por favor – ele choramingou. – Vamos conversar, por favor...
Minhas pernas começaram a tremer quando eu ouvi aquela voz linda que ele tinha. Por que ele tinha que ser tão bonito? Tão lindo daquele jeito?
- Não – eu senti vontade de chorar. – Eu não quero falar com você. Eu não quero!
- Me perdoa... Me perdoa, pelo amor de Deus...
Aquilo foi como uma flecha no meio do meu peito. Eu esperava qualquer coisa da boca dele, menos aquele “me perdoa”...
Engoli em seco e senti o meu coração voar dentro do meu peito. Já não lembrava onde estava, já não sentia mais a areia debaixo dos meus pés, já não ouvia mais o barulho dos carros na avenida, nem o baralho das ondas beijando a areia da praia. Só o que eu conseguia olhar era pra ele. Só o que eu conseguia ouvir era o choro dele, o barulho da nossa respiração e o barulho do meu coração na minha cabeça.
Isso não era pra acontecer, mas naquele momento era como se só existíssemos nós dois. Eu, o Bruno e o meu ódio. O ódio que envolvia o meu coração, o ódio que tomava conta do meu ser... Mas por que aquilo estava acontecendo? Por que o meu coração estava batendo tão forte daquele jeito e por que eu estava com vontade de chorar? Por que eu estava com vontade de urrar? Era como se o meu coração estivesse sangrando... Era como se... Se aquela velha ferida que estava no meu peito estivesse novamente aberta... Era como se... Se tudo tivesse acontecido naquele dia, naquele exato momento... Era como se o Bruno tivesse acabado de me abandonar...

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5 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Adorei, ta nota 1000 :3
Hainn... De uma chance a o Bruno, que ate eu senti pena dele, eu to começando a achar q ele teve realmente um bom motivo para ter ido embora, mas enfim... *-*
Mas sabe de uma coisa Caio, sinceramente eu faria a mesma coisa que vc :/

Anônimo disse...

Hey Caiô, Mas uma vez aqui, presente neste conto. Este Kléber é safado mesmo. Acho que desde que você o pegou com a cueca do Vinicius, e se revelou para ele, ele ficou em cima de ti para ver se rolava alguma coisa. Já que ele descobriu que embaixo do mesmo teto tinha alguém que curtia o que ele curtia e estava disponível, e que não fosse o irmão dele. Acho que isso abriu uma oportunidade para o Kléber tentar algo contigo, já que pelo que você já conta, na época você deveria estar um gato e muito gostoso, Caiô, com todo o respeito. O Miguel sacou bem que vocês queriam se curtir mais, já que tinham a casa apenas para vocês, e principalmente o seu quarto. Tô vendo que esta amizade será parecida com o do Vinicius, apenas sexo, nada mais.
Quanto a fazer por carência ou para esquecer o Bruno, opino eu foi pelos dois. O fato é que sinto que você está bem carente há muito tempo, só teve a brincadeira com o Rodrigo, mas já estava carente faz um tempo, além de querer muito tentar ocupar sua cabeça para não pensar no Bruno. Mas só ficou na chupação. Bom, se era grosso o do Kléber, iria fazer estrago contigo. Brincadeira, tá!!!
Não tinha percebido isto antes, mas é verdade, toda vez que você e a Janaina pegavam transporte publica, estava chovendo, em São Paulo, no Rio. Parece carma de vocês. Mas dizem que chuva é abençoada, então a amizade de vocês também é. Morro de amores pela Jana, esta negra delícia. Se manter contato com ela Caiô, pode dizer que já amei ela desde o primeiro momento que você a descreveu. Ela é toda para cima, sempre de bem com a vida, e também muito barraqueira. Mas ela estava certa. Onde já se viu alguém entrar num ônibus, ou em qualquer transporte publico carregando o guarda-chuva molhado e não o guardando em uma sacola, ou qualquer proteção para não gerar confusão. Mas eu teria agido que nem você, vergonha alheia. Mas que depois eu riria da situação. Só faltava mesmo ocorrer um acidente de carro pelo guarda-chuva. Ela é mesmo desbocada, mas me parece uma pessoa Ótima. Outro motivo que AMO a negra, é por que além de ser muito desbocada, e barraqueira, e engraçada, ela é sábia. Tudo bem que você estava com raiva do Bruno no momento, mas ela estava certa, não existe apenas uma verdade, como não existe um lado da história, você deveria pelo menos ouvi-lo. Depois você mataria ele. Brincadeira!!! Mas sempre uma história tem mais de um lado, e dependendo um lado não teve escolha, simplesmente foi obrigado a fazer o que fez. A atitude da Jana em atender ao Bruno, foi a melhor possível, pois assim você colocaria um ponto final nesta história. Ou quem sabe uma reticências???

Dann Oliver

[Fim da Primeira Parte]

Anônimo disse...

Parece que é força do destino, sempre que percebemos que estamos nos dias dos namorados sem ninguém, todos ao nosso redor estão namorando, ou em seus rolos. E como você mesmo disse, você estava gostoso, como não arrumar alguém para namorar??? Tomara que o Tio de Alexia tenha saído desta e ainda esteja vivo, sem nenhuma doença. Sabe, desde o começo daqui, todas suas atitudes, suas iniciativas, não duvido nada que você tenha se tornado gerente da loja que trabalha. Admiro muito sua trajetória, cara, e sei que, pelo pouco que você compartilha para nós, e que já é muito, você tem potencial para liderança. Mas como você, eu compartilho este medo de liderar. Mas tudo que a Eduarda falou para ti é a mais pura verdade, não podemos negar uma oportunidade, mesmo que ela não seja a que desejamos, mas a que dá certo para nós. Às vezes temos que sair de nossa zona de conforto para nos aventurarmos em algo melhor. E como você era novo na época, precisava ser moldado para ser um líder, que tenho certeza que é hoje. O encontro repentino entre você e o Bruno é algo a mais que coincidência, se chama destino. Como havia comentado mais a cima, você deveria lhe dar uma chance de se explicar. Apenas isso. Depois você pensaria a respeito. Ódio e Rancor são duas coisas que não podemos ter em nossos corações, pois nos infectamos com ele ao passar do tempo. Só espero que você tenha lhe dado uma chance. Mas só este "me perdoa", te derreteu o coração, não foi??? Você custava em negar que ainda era apaixonado por ele, mas não suporta a ideia vê-lo como estava, seu coração ainda batia por aquele cara, e por aquele olhos.
Bem me prolonguei de mais, mas que manda postar um capítulo longo como este.

Beijão Caiô

Dann Oliver

[Fim da Segunda Parte]

Luís Lima disse...

O destino é tão sádico.
Continua tecendo essa manta de ouro com letras como sempre. Abraço