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rimo?
Eu tinha ouvido certo? Era isso mesmo que eu tinha entendido???
- Pri-primo? O Bruno é seu primo? – eu tive que encostar no portão senão teria desmaiado com o susto.
- Pri-primo? O Bruno é seu primo? – eu tive que encostar no portão senão teria desmaiado com o susto.
- Uhum. Mas de onde você conhece o Bruno?
Fiquei calado digerindo aquela história.
- Caio? Está tudo bem? Tu ficou pálido de repente.
- Hã?
- Qual é, moleque? O que tu tem?
- Nada. Só fiquei surpreso com o que ouvi. Eu não imaginava que você e o Bruno eram primos.
- Mas de onde você conhece o Bruno?
- É uma longa história e eu não quero falar sobre esse assunto. Onde fica a sorveteria? Eu quero ir pra lá.
- É na rua de baixo. Se quiser a gente vai e eu venho na minha avó depois.
- Não. Pode ir na sua avó. Eu procuro a sorveteria e você me encontra lá, pode ser?
- Pô boa ideia. Só toma cuidado pra não se perder.
- Isso não vai acontecer.
Eu nem falei mais nada e saí andando. Inacreditável, simplesmente inacreditável. Eles não podiam ser primos, isso não podia ser verdade.
Fiquei a ponto de explodir com toda aquela situação. Primeiro os beijos surpresa, segundo a história que o Bruno e o Murilo eram primos... Eu ia surtar. Essa era a sensação que eu tinha!
Não foi difícil encontrar a sorveteria. Eu entrei, sentei em uma mesa e em seguida uma moça foi me atender:
- Boa noite. Deseja ver o cardápio?
- Hã? Ah, o cardápio... É claro... Obrigado...
Eu peguei um cardápio muito bem elaborado e passei os olhos pelas opções de sorvete que a casa oferecia, mas nem prestei atenção nos títulos.
- Eu quero um de pistache, por favor.
- Uma ou duas bolas?
- Duas.
- Com cobertura de chocolate, caramelo ou morango?
- Caramelo.
- Perfeito. Eu já trago.
- Muito obrigado.
Bruno e Murilo primos. Aquilo estava me cheirando muito mal, muito mal mesmo.
Se bem que na época que eu namorei com o Bruno, eu não conheci a família dele. Só conheci os irmãos, a avó e o pai, sendo que a única pessoa que eu tive um contato maior foi a Dona Terezinha.
Não cheguei a conhecer a mãe nem o restante da família e se isso não aconteceu, o Murilo podia sim ser primo dele. Eu só queria saber por que as coisas tinham que ser daquele jeito. Por que eu fui logo me interessar pelo primo do meu ex-namorado?
- Seu sorvete – a garçonete trouxe um sorvete cuja casquinha tinha formato de flor.
- Obrigado.
Comecei a degustar a sobremesa, mas sem prestar atenção ao meu redor. Quando eu estava na terceira colherada o Murilo entrou e foi logo tratando de sentar na minha frente.
- Desculpa aí, moleque. Eu demorei, né?
- Não – continuei mergulhado na minha incredulidade. – Você não demorou.
- Minha avó queria que eu conectasse o novo DVD dela na televisão, maior tédio.
- Hum.
- Já pediu? Nem me esperou?
- Foi mal. Não consegui te esperar.
- Tem problema não. Vou ali pedir e já volto viu?
- Aham.
Enquanto ele foi eu continuei mergulhado nos meus pensamentos. O Bruno e o Murilo não tinham nada a ver um com o outro; não eram nada parecidos fisicamente e isso continuou me deixando encucado. Será que isso era mesmo verdade?
- Já voltei – o boy apareceu com um sorvete igual ao meu.
- Quer dizer que você e o Bruno são primos? – insisti no assunto.
- Sim e não.
- Como assim?
- Ele não é meu primo de verdade.
Bem que eu estava desconfiando daquela história...
- Ele é ou não é seu primo? Você me deixou confuso agora.
- Eu cresci achando que era, mas só recentemente eu descobri que não é.
- Me explica isso direito, por favor?
- Acontece que a minha mãe é irmã da mãe dele, mas ele na verdade não é filho da minha tia. Ele é adotado.
- Adotado?
- É. Foi um escândalo na família toda. A gente descobriu que ele na verdade é irmão do pai dele e filho do avô. Uma história meio louca, sacou?
Foi como se eu tivesse ouvido um “click” na minha cabeça. Então quer dizer que toda aquela ladainha que ele me contou no passado era verdadeira?
- Não entendi? – me fiz de sonso.
- É que é assim: o Bruno foi criado pelo irmão e pela cunhada a vida toda e por isso pensava que era filho deles, mas de repente a verdade veio a tona e a gente descobriu que ele é filho do avô, pai daquele que a gente pensava que era pai dele, entendeu? É um rolo do caralho.
- Acho que entendi – continuei me fazendo de sonso.
- É meio louca essa história parece até coisa de novela, mas é verdade. Daí foi um bafafá do caramba na família toda. Quando eu fui ver ele já tinha até saído do país.
- Ah, é?
- É. Ele foi morar lá na Espanha. Voltou faz pouco tempo.
- E você sabe por qual motivo ele voltou?
- Não. Na verdade desde que ele foi embora eu não mantive mais contato com ele. Ele voltou, mas não procurou mais ninguém da família a não ser a minha avó.
- Como assim?
- Ele está morando sozinho agora. Pelo menos foi isso que eu fiquei sabendo.
- Por que ele está morando sozinho?
- Porque não está se dando bem com ninguém mais. E eu também dou razão pra ele. O cara cresceu achando que era parte da família e tudo era mentira. Zoado.
- Ele é parte da família – bufei.
- É, mas não é como ele imaginou que fosse. Imagina de repente você descobrir que seu pai é na verdade seu irmão, que seus irmãos são seus sobrinhos e que sua mãe é sua cunhada? Eu teria surtado. Acho que foi isso que aconteceu com ele.
- Vamos mudar de assunto? – aquilo começou a me incomodar. Eu já tinha descoberto o que queria e precisava mudar o rumo da prosa.
- Posso perguntar por qual motivo você quis saber disso tudo? Aliás, eu nem deveria ter te contado isso tudo.
- Desculpa. Eu só fiquei curioso. Prometo que não falarei disso com ninguém até mesmo porque eu não conheço a sua família.
- Eu queria saber como você conheceu o Bruno...
- Nós trabalhamos juntos há 2 anos atrás e eu não quero mais falar sobre isso, pode ser?
- Parece que ele te incomoda ou é impressão minha?
- Não – eu balancei a cabeça com meus olhos fechados. – Não é impressão sua. Ele me incomoda mesmo, eu não gosto dele.
- Por quê?
- Tenho lá os meus motivos. Podemos mudar de assunto? Não quero mais falar nele, OK?
- Demorou. E aí, já está de férias na faculdade?
- Graças a Deus já terminei as provas. Agora eu só preciso saber o resultado para saber se passei ou não. E você já está de férias?
- Que nada, só entro em julho. Ainda estou fazendo umas provas também.
- Mas ensino médio é tranquilo. Faculdade é uó.
- É? É tão ruim desse jeito?
- É bem complicadinho ainda mais quando você tem que trabalhar junto. Às vezes eu penso que vou enlouquecer com tanta coisa que tenho pra fazer.
- Pô, aí é zoado.
- Pois é, mas eu dou conta – suspirei.
- Hum...
Terminei o meu sorvete pensando em tudo o que ouvi. Quer dizer que era verdade... E eu cheguei a julgá-lo pensando que ele havia mentido pra mim...
Será que foi esse o motivo dele ter saído do Brasil? Será que o Murilo sabia? E se eu perguntasse? E se eu soubesse da verdade por outro que não fosse o Bruno?
Não. Eu não ia perguntar. Não tinha o direito de me intrometer no assunto da família do garoto. E se eu quisesse mesmo saber do motivo, eu tinha que perguntar direto pro Bruno.
Confesso que ao ouvir essa história, a curiosidade bateu dentro de mim. Naquele momento eu não estava sentindo ódio pelo Bruno e talvez até pudesse ouvir o que ele tanto queria me dizer. Mas será que aquele era o momento?
Será que eu estava preparado para ouvir a verdade? Será que eu ia conseguir suportar o que ele tinha pra me falar?
E se fosse algo ruim? E se ele foi embora porque não queria mais nada comigo? E se a verdade me fizesse sofrer?
Sofrer mais do que eu já tinha sofrido? Isso seria possível? Eu cheguei a conclusão que não!
Eu cheguei a pensar que estava na hora de colocar os pingos nos is. Estava na hora de saber a verdade e estava na hora de deixar o Bruno falar...
- Pensando? – ele me encarou.
- É.
- Em quê?
- No passado. Pensando no passado.
- No passado? Mas o próprio nome diz: passado. E se é passado tem que ficar pra trás. Não é melhor você pensar no presente e no futuro?
- Até seria se eu tivesse um passado que não tivesse me deixado marcas tão profundas.
- Pô até pareceu um poeta agora.
- Só falei a verdade.
- Caio eu preciso ir agora. Ainda tenho que fazer lição de casa, maior saco.
- Eu também tenho que ir. Vou pagar a conta e partir pra casa.
- É eu também. Amanhã é dia.
- Amanhã é dia – eu concordei.
Murilo e eu dividimos a conta. Cada um pagou o seu e em seguida nós saímos da sorveteria.
- Prazer te encontrar – o novinho me encarou.
- O prazer foi todo meu. Por favor, não fale pra ninguém que a gente está saindo, tá bom?
- Pra quem eu falaria? Ninguém sabe de mim, porra.
- Melhor assim. Não comente com o Bruno que você me conhece. Promete?
- Ainda vou querer entender o que você tem contra o Bruno. Isso está muito esquisito.
- Promete ou não?
- Prometo, prometo. Se te faz feliz...
- Obrigado. Qualquer coisa a gente vai se falando pelo celular.
- Fechou. Até mais então.
- Até, Murilo.
Cheguei
em casa, não falei com ninguém e fui direto pro meu quarto. Para a minha
surpresa, nenhum dos meninos estava lá e isso me deixou encafifado.
Mas bastou pensar um pouco que eu consegui encaixar as coisas. Vinícius provavelmente estava na casa da namorada e o Fabrício deveria estar adiantando o TCC na casa de algum colega. Só precisava saber onde estava o Rodrigo.
Ligar ou não ligar, era a questão. Se eu ligasse poderia atrapalhar algum encontro ou qualquer coisa do tipo e isso eu não queria fazer. Por mais que eu amasse o meu amigo, atrapalhar eu não iria, né?
O jeito seria esperar. Ainda estava um pouco cedo e provavelmente ele iria aparecer logo, mas isso não aconteceu.
Quando o relógio marcou 23 horas eu comecei a ficar preocupado e cheguei sim a cogitar um telefonema, mas não precisou. Quando eu peguei o aparelho e comecei a discar o número dele, o garoto apareceu no nosso quarto.
Mas bastou pensar um pouco que eu consegui encaixar as coisas. Vinícius provavelmente estava na casa da namorada e o Fabrício deveria estar adiantando o TCC na casa de algum colega. Só precisava saber onde estava o Rodrigo.
Ligar ou não ligar, era a questão. Se eu ligasse poderia atrapalhar algum encontro ou qualquer coisa do tipo e isso eu não queria fazer. Por mais que eu amasse o meu amigo, atrapalhar eu não iria, né?
O jeito seria esperar. Ainda estava um pouco cedo e provavelmente ele iria aparecer logo, mas isso não aconteceu.
Quando o relógio marcou 23 horas eu comecei a ficar preocupado e cheguei sim a cogitar um telefonema, mas não precisou. Quando eu peguei o aparelho e comecei a discar o número dele, o garoto apareceu no nosso quarto.
- Onde você estava? – fui direto ao ponto.
- Eu saí. Por quê?
- Não me disse aonde ia, eu fiquei preocupado!
- Ah, desculpa. Você saiu sem mais nem menos e eu não tive como te avisar, mas já estou aqui. Está tudo bem?
- Mais ou menos.
- O que foi dessa vez?
- Nada não – eu suspirei.
- Você não me engana! – Rodrigo sentou na minha cama. – O que houve? Por que está com essa carinha?
Fiquei calado. O menino deitou ao meu lado e me empurrou para perto da parede. Quando menos esperei ele já estava me abraçando.
- O que você tem? Fala pra mim? Foi o Bruno de novo?
- Não.
- O que foi então?
- Eu te contei do Murilo, né?
- Sim. O que tem ele?
- A gente ficou.
- Ah, é? Que bom. Sinal que está esquecendo o Bruno de novo!
- E eu descobri que ele é primo do Bruno.
- PRIMO? – Rodrigo não disfarçou o choque. – Não acredito!
- Pois é. Eu também não.
- Caramba, Caio! Você só pega povo dessa família, hein? Daqui a pouco vai catar o avô dele.
- Besta – eu dei risada. – Na verdade eles não são primos de verdade.
- Como assim? Eles são ou não são primos?
- Não. Você lembra aquela história que o Bruno é adotado?
- Acho que lembro. Refresca a minha memória.
- Então, lá no passado ele disse que descobriu que era filho do avô dele, você lembra?
- Ah, é. Lembro sim. O que tem isso?
- O Murilo confirmou. É verdade mesmo.
- E o que tem isso?
- Tem que na época eu não acreditei muito no assunto.
- Mas na boa? Qualquer um em sua sã consciência desconfiaria de um papo desses, né?
- Pois é, mas é verdade. Eu julguei em vão o cara.
- E agora você está com peso na consciência por causa disso?
- Não. Continuo querendo que ele se foda.
- Então ótimo. Mas por que está com essa carinha triste então?
Nesse momento ele deu um beijinho no meu rosto.
- Porque sei lá. Eu meio que fiquei curioso de novo pra saber porquê ele saiu do país. Você acha que eu devo procurá-lo pra entender o assunto?
- Não – a resposta dele foi imediata. – Não deve porque ele te fez sofrer demais. Agora ele que pague por isso. Dá um gelo e já era.
- Era isso que eu precisava ouvir – desviei os olhos do Digow e fiquei olhando pra parede.
- Não vai ficar pensando nele, vai?
- Vou tentar pensar em outra coisa.
- Eu tenho algo pra te contar, Caio – Rodrigo intensificou o abraço e colocou o queixo no meu ombro.
- Tem é? E o que é?
- Primeiro eu preciso que você prometa uma coisa.
- Que coisa?
- Eu preciso que você prometa que você não vai me matar.
- Ai, Deus... O que você aprontou? – eu voltei a olhá-lo.
- Sabe o que é? – Digão engoliu em seco e mordeu o lábio.
- Hum?
- É que eu estou...
- Você está o quê, Rodrigo?
- Eu estou... Namorando...
2 comentários:
Hey Caiô!!!
Firmão?
Acho que o Murilo foi esta conecção para você cogitar a ouvir o Bruno. Não sei o porquê, mas não me sinto bem quando leio algo relacionado ao Murilo. Me perdoa, tá, mas é sério, não me sinto mesmo. Uma intuição que nunca gostei de ter a respeito de ninguém, mesmo que eu convivesse. Acho que está ligação sua com o Murilo ainda dure algum tempo. Mas ainda acho que o destino fez você se aproximar e se interessar pelo Murilo para haver está conecção com o Bruno. Estou errado? Não precisa responder, sei que mais para frente todos descobriremos. Mas pelo menos, uma história que próprio Bruno contou e que você ficou em dúvida se era verdade se confirmou, apesar de que esta história pode deixar qualquer um maluco. Não sei como o Bruno enfrentou isso na época, mas tô começando a compreender mais o lado dele, mesmo não sabendo da história, pois na cabeça dele, naquela época de 2006, ele deveria estar muito confuso.
Agora eu quero ver como você vai reagir a esta revelação do Rodrigo. Ele é carinhoso contigo, mas acho que este relacionamento não passa de amigos com benefícios. Eu torcia muito para acontecer algo a mais, mas já nem sei o que pensar. Acho que você me entende, pensamos em diversas coisas ao mesmo tempo, e de uma hora para outra, mudamos de opinião se a mesma for bem defendida, e argumentado. Eu acho que você é assim, não sei. Coisa de virginiano. Estou com saudade de conversar contigo.
Rafinha, meu maninho querido não sei como você me aguenta todo dia querendo falar contigo. Eu sei que sou um chato se galocha, mas te amo mesmo assim, e sei que podemos contar um com o outro. Já disse que você é meu irmão de alma, irmãos de outra mãe que quero sempre mima-lo maninho, como um "bebezão". Abraços mano, seu trabalho está divino. Cada dia encontro uma palavra nova para elogiar seu trabalho mano.
Dann Oliver
Caio, que capítulo, hein?! Por que o Rodrigo não deixa você seguir em frente e falar com o Bruno ?... Que chato, ele não te quer e nem deixa você falar com o Bruno... Sei que ele te magoou, mas ele quer explicar... Voltando a ser #teambruno
By: Keven
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