Ouvir aquilo da boca do Rodrigo me deixou tão feliz e aliviado!
Aos poucos a minha raiva e minha tristeza foem embora e a paz voltou ao meu coração. Pelo menos eu sabia que ia ter alguém pra ficar ao meu lado nos bons e maus momentos, mesmo esse alguém sendo apenas um melhor amigo.
- O-obrigado por você existir, Digow!
- Não fala nada e descansa agora! É disso que você está precisando.
- Melhor você ir pra sua cama. Daqui a pouco o Fabrício vai entrar no quarto e se ele vê a gente assim, com certeza vai achar suspeito.
- Não me importo, Caio. Somos amigos e eu quero cuidar de você hoje. Não só hoje como sempre.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAH, eu te amo!!!
Ele abriu um sorriso compreensivo e segurou no meu ombro.
- Eu também, Caiô!
Por que um peixe desses não caía na minha rede? Por que eu só atraía tranqueira e não atraía um príncipe daqueles?
Por que era isso que o Rodrigo era: um príncipe. E eu queria muito um namorado como ele. Será que um dia eu ia encontrar?
- Você vai trabalhar amanhã? – ele perguntou.
- Vou. Por quê?
- Vai encontrar o desgraçado lá, não vai?
Não tinha pensado nisso. Não mesmo. O que eu ia fazer?
- E agora? Estou lascado!
- Vai ter que encarar a realidade e enfrentá-lo com a cabeça erguida!
Ele tinha razão. Era isso mesmo que eu ia fazer: enfrentá-lo com a cabeça erguida; afinal, o errado da história era ele, não eu.
- Você é lindo, sabia?
- Eu sei, eu me olho no espelho!
- E modesto também. Vai pra sua cama, Digow! Eu estou preocupado com a reação do Fabrício...
- Qual é? Não está gostando do meu colo? Vai desprezar mesmo?
- Estou adorando, seu bobo! É tão quentinho, tão aconchegante... Eu estou me sentindo tão... Protegido!
- E então?
- E então que nosso amigo vai entrar, não vai entender nada e vai pensar coisa errada ao nosso respeito.
- E se eu te falar que eu não ligo? E se eu te falar que não me importo?
- Eu não vou acreditar. Você é heterossexual, tem uma imagem para zelar.
- Foda-se a imagem! O importante agora é você, Cacs!
- Você é demais, Digow! Eu não sei o que seria de mim sem você, juro.
- Você seria você mesmo, ué.
Por mais que eu estivesse me sentindo protegido com o abraço do Rodrigo, eu ainda não conseguia parar de pensar no idiota do Carlos.
Entretanto, o que estava me deixando mais preocupado era o que eu ia fazer para trabalhar na manhã seguinte. Qual a desculpa eu ia dar? O que poderia inventar? Alguma coisa teria que ser feita para eu não ficar na loja, pelo menos por alguns dias.
- Mais calmo?
- Mais ou menos. Às vezes acho que sim, às vezes acho que não.
- Tem que se animar, Caio!
- Falar é fácil, na prática é diferente. Você já passou por isso?
- Eu sei, mas tem que tirar forças de algum lugar. Você é novo, ainda vai encontrar a sua alma gêmea.
- Alma gêmea? Não acredito mais nessas coisas.
- Calma! Não é o fim do mundo. Você já bateu nele, já descarregou toda a raiva que sentiu... Agora é bola pra frente.
- Quem me dera fosse fácil assim.
- É fácil sim, Caio. É só você querer.
- Queria ser forte como você, Rodrigo.
- Eu não sou forte. Eu me faço de forte. Quantas vezes já caí nessa vida?
- Falando assim você passa uma imagem que tem 40 anos de idade.
- Não tenho tudo isso, mas eu já apanhei muito, Caio. Já sofri demais e isso me fez aprender a me valorizar em primeiro lugar.
Será que eu me valorizava? Será que eu pensava em mim assim como pensava nos outros?
- Eu já pensei tanto nisso, sabia? – falei.
- É? E não colocou em prática por quê?
- Quem disse que eu não coloquei em prática?
- Espero que tenha colocado mesmo. Lembre-se de tudo o que nós conversamos na época que você ficou com depressão. Você quer voltar a ter essa doença?
- É claro que não, você sabe que não.
- Então eu não quero te ver mais com essa carinha triste.
- Com uns dias passa. Eu prometo!
- Vou cobrar, hein?
- Posso te fazer uma pergunta?
- Lógico que pode – ele me fitou.
- Por que você faz tudo isso por mim? Por que acolhe com tanto carinho um cara como eu?
- O que tem de errado nisso?
- Sou gay, Rodrigo!
- E só pelo fato de você ser gay eu não posso gostar de você? Eu não posso te apoiar, te incentivar, ser seu amigo?
- É que às vezes eu acho que você faz coisas demais por mim.
- Se faço é porque gosto de você. Nunca tive uma amizade tão bacana como tenho com você e não é por causa da sua orientação sexual que eu vou me afastar de você.
Eu suspirei. Ele estava sendo perfeitinho demais.
- Tem certeza que você não é gay? – olhei seriamente nos olhos dele.
- Putz, claro que tenho! Por que essa pergunta, moleque?
- Porque você seria perfeito pra mim.
- Desculpa, nisso daí eu não vou poder te ajudar.
- Que droga, hein? Um dia ainda vou te convencer.
- Não vai não, palhaço – ele socou o meu ombro.
- Obrigado pelo seu carinho, pela sua ajuda. Fico te devendo mais essa. Agora se quiser já pode ir pra sua cama, eu vou tentar dormir um pouco.
- Se precisar de mim é só me chamar, tá bom?
- Obrigado, Digow. Eu te amo, mano.
- Também te amo, meu pestinha!
Ele saiu e eu me arrumei no meio do meu colchão. Estava sentindo um vazio imenso dentro do meu peito. Era como um abismo, eu tinha a sensação que nunca iria conseguir preencher esse espaço imenso dentro do meu peito.
O Fabrício só apareceu meia hora depois. Ele não falou nada, tirou a roupa e foi direto pra cama. Eu queria saber o que o Vinícius ia falar quando soubesse dop fim do meu relacionamento.
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- Você bateu nele? – o médico perguntou.
- Bati – falei.
- Então isso é o que importa. Olha, Caio, sei que é difícil tudo isso que você está passando, mas tenha certeza que você vai dar a volta por cima.
- Gostaria muito – suspirei.
- Vai sim, fica tranquilo! Isso passa.
- Eu sei que passa, já passei por coisas muito piores que essas no passado. Só o que fica agora é a raiva.
- Eu sei. Isso é muito complicado. Já passei por isso também e sei o que você está sentindo.
- Já passou? – perguntei. – Lindo assim? Quem teve coragem de te trair, Vinícius? Eu acho que as mulheres têm vontade de trair os namorados com você, não de trair você com outros!
Ele jogou um travesseiro em cima de mim. O bonitão estava todo avermelhado de vergonha.
- Quem vê pensa que eu sou um galã da novela das 8, Caio!
- Mais ou menos isso! Você é lindo sim, não se faça de bobo porque sei que você sabe muito bem o quanto você é lindo, gostoso, cheiroso, tesudo...
- Ei, ei – ele riu. – Para de encher a minha bola!
- É verdade! Não estou mentindo não!
- Para de graça. Eu não sou nada disso. Sou um ser humano como outro qualquer. Tenho muitos defeitos, se é que você quer saber. Não sou nenhum príncipe encantado não.
- Hum...
- E tem mais: quem disse que beleza se põe na mesa? A beleza é o de menos, Caio! O que importa de verdade é o que a pessoa tem por dentro. Beleza passa, o resto fica. Pense nisso.
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Quando voltei do almoço naquele dia, a primeira coisa que fiz foi procurar pelo desgraçado do Carlos Henrique, mas eu não o encontrei. Será que tinha faltado?
- Pelo visto faltou sim – disse Jonas. – Vou ligar pra ele daqui a pouco. Por quê?
- Não, por nada – falei. – Apenas curiosidade.
- Ah, tá. Vários clientes no seu setor. Você atende pra mim, por favor?
- Claro! Obrigado pela informação, patrão.
Saí andando e agradeci a Deus em pensamento por aquele desgraçado não ter ido trabalhar. Seria melhor que ele não fosse mesmo, pelo menos assim eu já me livrava dele de uma vez por todas.
Após atender três clientes consecultivamente, fui conversar um pouco com a Janaína. Ela ainda estava com a maior cara de acabada:
- Meus ossinhos estão todos doendo, Caio Monteiro – ela suspirou.
- Quem manda você ser toda enferrujada?
- O que você quis dizer com isso? QUE EU SOU VELHA?
- Não – eu sorri –, apenas que você é sedentária! Está na hora de fazer academia comigo!
- Vou pensar no seu caso. Um dia eu te dou a resposta!
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DIAS DEPOIS...
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- Caramba, que cheirinho bom de limpeza – Rodrigo apreciou a minha faxina.
- Não tinha nada pra fazer, deixei a casa em ordem.
- Matou o serviço hoje?
- Não, não! Consegui folga.
- Ah, que bom. E aí? Já esqueceu o que aconteceu?
- Já sim! Já estou calmo.
- Que bom!
- Está com fome?
- Muita! Tem comida?
- Acabei de fazer.
- Não acredito que você fez!
- Fiz sim – falei.
- Não sabia que você sabia cozinhar carne...
- Saber, saber, saber eu não sei, mas sei.
- Hã?
- Nada não. Nem sei se ficou bom.
- Vamos experimentar e já saberemos. Só vou tomar uma ducha antes.
- Impressão minha ou lá fora está chovendo?
- Impressão não, está chovendo sim.
- Hum...
Depois que ele saiu do banho nós almoçamos. Não ficou lá grandes coisas, mas deu pra comer.
- Ficou bom sim – ele tentou me agradar. – Para de ser exigente. Ah, minha mãe te mandou um beijo.
- Mande outro pra ela quando você ligar.
- Ela disse que vai te ligar qualquer dia desses.
- Sua mãe é um amor de gente.
- Ela é.
Naquele dia eu resolvi arrumar as minhas coisas nas gavetas e acabei encontrando o endereço da Dona Elvira.
Fazia muito, mas muito tempo mesmo que eu não falava com ela e por causa disso, não pensei duas vezes em escrever uma carta para aquela que salvou a minha vida quando eu mais precisei.
Pedi desculpas pelo sumiço e contei tudo o que estava acontecendo na minha vida naquele momento.
Falei da mudança, falei da minha viagem pra São Paulo, do que tinha acontecido com a minha mãe, do problema com o Henrique e da saudade que eu estava sentindo dela.
Pedi que ela me respondesse, porque não queria ficar sem notícias. Era ruim não saber como ela estava. E se tivesse acontecido alguma coisa?
Depois de escrever a carta pra Dona Elvira, eu me deitei e fiquei pensando na vida. Lembrei do Bruno, lembrei do Henrique e pensei na conversa que tive com meu irmão postiço.
Rodrigo estava mais do que certo quando dizia que eu tinha que me amar antes de amar a quem quer que fosse. Ele tinha razão. E era isso que eu ia fazer à partir daquele momento, ou eu não me chamaria Caio Monteiro!
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Os dias foram passando e nada do Henrique aparecer na loja. A maioria dos funcionários já estavam achando aquele sumiço do garanto suspeito, inclusive os meus amigos:
- Ei, branquelo metido a bronzeado? – ouvi a Janaína atrás de mim.
- OI, morena metida a negra sem ser?
- O que houve com seu bofe? Nunca mais apareceu aqui! Tirou férias antes do tempo ou está com piriri estomacal?
- Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe!
- Ué?! Brigaram, foi?
- Brigamos e terminamos.
- Jura? – ela se surpreendeu. – Mas por quê?!
- Porque eu peguei o dito cujo agarrando uma periguete de quinta no shopping!
- OI?! – ela fez aquele “oi” característico dela e me olhou com incredulidade.
- É isso mesmo que você ouviu!!!
- Mentira? Me conta isso direito, menino! – a louca me puxou pelos braços e me fez ficar encostado em uma parede.
Contei tintim por tintim pra minha melhor amiga e ela ficou chocada com a história:
- Estou preta passada na chapinha!!!
- Pois é. Mas eu não estou mais ligando pra isso não. A fase da raiva já passou. O problema é administrar mais dois chifres na minha testa, mas isso é o de menos.
- Se você tem dois eu tenho duas dúvias!
Eu dei risada.
- Boba!
- Menino, to chocada! Que cafajeste! Só tem a cara de sonso, né? Porque de resto...
- A cara, o corpo, o jeito de andar – eu falei. – É tão sonso que tentou me bater e não conseguiu.
- Eu acho é pouco!
- Eu também! Pra mim ele pode morrer entalado numa poça de lama cheia de mosquitos da dengue.
- Caralho, Caio! Eu sou má, mas você consegue me superar!
- Sou assim, Jana! Quando eu sou bom, eu sou bom...
- Mas quando você é ruim, você é melhor ainda – ela completou a minha frase.
- Exatamente. Cadê a Duda, hein?
- Foi pra uma audiência.
- E nós estamos sozinhos?
- Que nada. O Jonas já está pra chegar.
- Ah, sim!
Ele realmente chegou, mas chegou atrasado e isso foi motivo de chacota pra todos os funcionários:
- Perdeu o ônibus, chefe? – perguntou Renato.
- O pneu do trem furou, chefe? – perguntou outra funcionária.
- Parem de graça – ele levou numa boa. – Só peguei trânsito, nada mais que isso! Ao trabalho, todos vocês!
- Tudo bom, Jonas? – o cumprimentei.
- Bem, Caio. E você?
- Bem também!
Em pouco tempo depois a Alexia foi ao meu encontro e nós ficamos papeando um pouquinho:
- O que está fazendo aqui mais cedo, amor meu? – dei um abraço e dois beijos nela.
- Troquei de horário com uma vendedora do período da manhã. Você está bem, amor meu?
- Estou e você?!
- Estou ótima! Mas também como não estaria depois daquele gato que você me apresentou?
- Que gato? – fiz cara de “interrogação”.
- O seu amigo, o Rodrigo!
O ciúme foi imediato. Eu não sabia que eles estavam mantendo contato depois daquela noite de comemoração do meu aniversário.
- Ah, é? E como anda o relacionamento de vocês?
- Fluindo. A gente só está se falando no MSN por enquanto.
- Ah, é? – perguntei de novo. – Interessante...
Então era para isso que ele pegava meu notebook? Eu ia confiscar!
- Boa sorte então – falei em seguida. – Faço votos que dê tudo certo.
- Obrigada! Obrigada por tê-lo apresentado a mim.
- De nada, mas cuida do meu amigo, hein?
- Calma, Caio! Nós só estamos trocando ideia.
- Mas já ficaram e isso é um começo. E ele é bem gostosinho, eu super pagaria – Jana interveio.
- Tira os olhos, lambisgoia! Eu vi primeiro.
Na verdade, eu o tinha visto primeiro e há muito mais tempo que elas, mas como ele não era do babado, eu não tinha a menor chance com ele.
- Relaxa, loira. Já arrumei um bofe na balada.
- E aí, Caio? – Gabriel foi conversar comigo. – Como você está?
- Beleza, Gabo?
- Em ordem. Vai pra academia hoje?
- Claro! Você vai?
- Lógico! Me espera? Aí a gente vai junto...
- Pode ser. Te espero sim.
- Valeu!
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Gabriel e eu saímos apressados e fomos direto pra academia. Assim que eu passei pela catraca o Wellington já foi logo falando comigo:
- Preparado pra mais um dia de treino?
- Sempre!
- Assim que eu gosto! Então vai se trocar, alonga e me procura.
- Sim, mestre – falei de brincadeira e saí andando.
Fiz o que ele me pediu. Excepcionalmente naquela quinta-feira o Wellington estava ainda mais gostoso que o normal.
- Acho que hoje a nutróloga pode te atender, Caio.
- Sério? – fiquei animado.
- Sim! Vou ver com ela, aguenta aí.
Fiquei esperando, mas não por muito tempo. Rapidamente o Well voltou com uma moça muito, muito linda.
- Deu sorte. Ela está livre agora.
- Que bom!
- Olá – a nutricionista me deu dois beijos no rosto. – Tudo bem, Caio?
- Tudo e você?
- Estou bem, obrigada! Vamos passar em uma consulta rápida?
- Vamos sim!
- Vai lá e quando acabar me procura, hein?
- Pode deixar, Well.
- Vem comigo, Caio!
Segui a gata até a salinha onde eu fiz o meu exame médico. O local continuava muito mal-iluminado.
- Senta aí.
- OK.
- Vou fazer sua ficha, tá bom?
- Tudo bem.
- Nome completo?
- Caio C. Monteiro Silva.
- Idade?
- 19 anos.
- Qual seu objetivo aqui na academia?
- Quero ganhar massa muscular.
- Sobe na balança pra mim, por favor?
- Não preciso tirar a roupa não, né? – perguntei.
- Não – ela riu. – Pode ficar assim mesmo.
Depois de medir novamente a minha altura e verificar o meu peso, a garota e eu começamos a conversar sobre a minha alimentação.
- Me conta como é sua alimentação, Caio.
- Eu acordo, tomo um copo de leite e vou trabalhar. Almoço no shopping. Normalmente é carne, bife ou frango e depois eu janto em casa as mesmas coisas do almoço.
- Não come legumes nem verduras?
- Não!
- Errado. Você precisa se alimentar com essas coisas também. Eu vou te montar um cardápio para você ganhar peso, está bem?
- Não quero engordar...
- Mas se você ganhar massa, você vai engordar. É justamente para isso que eu vou te ajudar.
- Ah, beleza.
Enquanto ela foi montando as refeições eu fiquei prestando atenção em tudo o que ela me falava. Depois de pronto, peguei meu cardápio e dei uma olhada nas sugestões que ela havia feito.
Uma comida pior que a outra. Eu ia comer pouco e só coisas que eu não gostava.
- Posso te pedir um favor? – perguntei.
- Pode.
- Não quero peixe não.
- Por quê?
- Sou completamente avesso à peixe. Odeio com todas as minhas forças.
- Minha nossa, que exagero! Peixe é tão rico... É o melhor alimento, sabia?
- Pois se depender dele para eu engordar, vou ficar como o Seu Madruga.
- Cada um com seus gostos, né? Então eu vou substituir por outros alimentos.
- Por favor.
- Não vai ser a mesma coisa, mas daremos um jeito.
Depois que a consulta terminou, eu agradeci pela ajuda da nutricionista e fui logo procurar o meu personal. Preferia ficar mil vezes com ele do que com ela.
- E aí? Gostosa pra caralho, não é?
- Uh! Muito – menti, mas o pior é que ele estava certo. Ela era gostosa mesmo.
- Essa daí na minha cama eu ia me acabar, moleque.
- E por que não a leva pra sua cama?
- É o que estou tentando fazer.
- Boa sorte!
- E aí, ela montou seu cardápio?
- Montou. Só não sei se vou conseguir seguir.
- Tem que conseguir. Ou você acha que é fácil ficar gostoso?
- Se soubesse que era tão difícil nem teria começado a treinar...
- Mas já que começou agora vai até o fim e já pode indo logo pro seu primeiro exercício, rapaz!
Foi um dia de treino intenso, mas bem gratificante. Eu saí da academia me sentindo mais leve. Era como se eu tivesse descarregado todo o resto da raiva que ainda estava sentindo do idiota do Carlos Henrique.
- Boa noite – cumprimentei os meninos.
- Boa noite – responderam Miguel e Kléber.
- Tudo bem, meninos?
- Tudo em ordem e você? – perguntou Miguel.
- Tudo bem também.
Não fiquei proseando com eles por muito tempo. Mesmo já tendo tomado banho na academia, eu estava com calor e resolvi tomar outro para me refrescar.
- Posso entrar? – perguntou Rodrigo.
- Pode – falei.
Como disse anteriormente, o vidro escuro me deixava confortável para deixar a porta do banheiro aberto e isso meio que virou regra para os demais integrantes da república.
- Vai demorar aí?
- Não. Quer tomar também?
- E tem como aguentar esse calor?
- A Alexia falou de você hoje.
- Falou? Falou o quê?
- Que vocês estão conversando pelo MSN.
- Ah, estamos mesmo.
- E não me falou nada por qual motivo?
- Precisava?
- Óbvio que sim!
- Desculpe, da próxima vez eu conto.
- Cachorro!
- Au, au!
Quando eu voltei pro quarto, o safado estava lá, enfurnado na frente da tela do notebook.
- Falando com sua nova amada? – indaguei, morrendo de ciúmes.
- Ela não é minha amada, mas sim. Nós estamos conversando.
Eu juro que foi mais forte do que eu. Quando dei por mim, já tinha fechado o notebook e removido o fio da internet do plug na tomada.
- Ei! Por que fez isso?
- Ciúmes. Só por isso!
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No dia seguinte percebi que mais uma vez o meu ex não foi ao trabalho.
Confesso que fiquei curioso pra saber o que aconteceria com ele caso ele não comparecesse mais e por causa disso, resolvi bater um papo com minha chefe:
- Duda?
- Oi, lindo?
- Podemos falar?
- Claro! Aconteceu algo?
- Não, nada demais. É só uma curiosidade.
- Qual seria?
- Você sabe o que aconteceu com o Carlos?
- Não, não sei. Estava falando isso com O Jonas hoje. Ele simplesmente sumiu.
- Não entregou atestado, nem deu satisfação?
- Não; Estamos preocupados!
- Duda, o que acontece se ele não vier mais?
- Se ele não aparecer em 30 dias, será desligado por justa causa.
- Caramba, Duda! 30 dias é um mês.
- Pode acontecer. Vamos aguardar os próximos acontecimentos.
- Verdad
Eu estava na torcida para que isso acontecesse. Daria qualquer coisa para não ver a cara daquele desgraçado nunca mais.
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- Caio? – ouvi uma voz conhecida atrás de mim e quando me virei, tive a maior surpresa:
- Rogério?
- Caio! Quanto tempo!!!
Nos abraçamos. Que saudade daquele branquelo...
- O que está fazendo aqui?
- Passeando com minha namorada.
Ele estava acompanhado por uma japinha muito bonitinha.
- Caio, Cássia, Cássia, Caio.
- Tudo bem? – demos os dois beijinhos tradicionais dos cariocas.
- Não sabia que você está namorando – falei.
- Pois é, cara! Já faz um tempo. A gente não se viu mais também...
- É! Como anda a sua vida?
- Corrida. Trabalhando pra caramba e pelo que vejo você também, né?
- Sim! Está onde?
- Eu estou em uma fábrica de brinquedos. Meu pai conseguiu com um amigo dele.
- Bacana, Rogério! Fico feliz por você...
- Obrigado! Você está aqui há muito tempo
- Já tem quase 5 meses, cara.
- Bastante já! Mudou, hein? Está mais alto, mais bronzeado...
- Pois é... Mas me diz, o que veio fazer aqui? Vai querer comprar alguma coisa?
- Quero! Eu vou levar um sofá porque o de casa quebrou. Vou dar de presente pra minha mãe.
- Nossa, que legal! Que filho bonzinho.
- Ela merece, mano. Posso comprar contigo?
- Infelizmente não. Eu só vendo linha branca, mas vem comigo. Eu vou te levar para uma vendedora desse setor.
- Beleza.
Deixei o meu colega sob a responsabilidade de Alexia. Bem que ele podia comprar alguma coisa comigo também...
- Caio, depois eu volto para comprar uma máquina com você, beleza?
- Te agradeço muito!
- Cola lá em casa qualquer dia desses, mano! Vamos jogar uma bola, jogar vídeo-game, jogar conversa fora...
- Ih, Rogério... Agora vai ficar difícil porque eu mudei do Catete.
- Mudou? Onde está morando agora?
- No Realengo.
- Caramba, Caio! Mudou para longe, hein?
- Pois é...
- Mas por que mudou?
- O dono da casa aumentou o aluguel de forma abusiva. Não conseguimos mais pagar.
- Sacanagem, hein?
- Uhum!
- Já tem celular?
- Já sim – abri um sorriso.
- Me passa seu número.
Trocamos os números de celulares, nos despedimos e ele foi embora. Achei muita coincidência encontrá-lo justo no meu local de trabalho.
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NO COMEÇO DE OUTUBRO...
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A possibilidade que era remota, acabou concretizando. Passaram-se 30 dias e ele não apareceu no trabalho e assim, o Carlos foi mandado embora por justa causa.
- Eu disse que acontecia, não disse? – Eduarda comentou..
- Mas eu não cheguei a cogitar essa possibilidade. Queria saber o que aconteceu para ele não aparecer mais.
Será que tinha acontecido algo grave? Pelo sim e pelo não, era melhor não ficar mais com raiva dele e deixar aquele assunto de lado. Eu já não pensava mais nele com tanta frequência.
Eu não queria mais saber de relacionamentos. Não queria ficar com ninguém, estava muito bem solteiro.
O que o Rodrigo disse entrou na minha mente e ficou fixado com uma força incrível. Eu estava me valorizando acima de tudo e não queria mais saber de nada, nem de ninguém.
- Cliente na área – Duda me empurrou. – Arrepia nas vendas que você está quase alcançando sua meta.
- Eu sou demais!
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Depois de um mês tentando me adaptar à comida que a nutróloga me passou, eu já estava até começando a gostar das minhas novas refeições.
- Já acostumou com essa comida, Caio? – Janaína perguntou.
- Pior que estou me acostumando, Jana!
- Qual é a sua dieta?
- Basicamente de carboidrato. Eu tenho que comer muita clara de ovo e batata doce.
- Coitados dos seus amigos na república.
- Muito desagradável esse seu comentário.
- O que é isso aí?
- Salada de rúcula, cenoura, beterraba, batata doce, agrião, couve-flor e brócolis. E tem um pouco de arroz, um bife magro e a tão famosa clara de ovo cozida.
- Deus me “potreja”.
- É gostoso. Depois que a gente acostuma, a comida fica saborosa.
- Tem que comer de 3 em 3 horas?
- Isso. E acredita que depois que comecei a fazer isso, meu metabolismo está funcionando muito melhor?
- Posso fazer uma sinalização? – ela perguntou.
- Pode!
- Você está virando um filé, hein?
- Estou? – senti minhas bochechas queimarem.
- Está!
- Valeu. Essa é a intenção.
- Até as manguinhas da sua camisa já estão ficando apertadinhas...
- Pois é!
- E essa carne aí é o quê?
- É bife mesmo. Já não falei?
- Mas de quê? Filé?
- Isso eu não sei. Não perguntei para a moça do restaurante.
- Nem pra isso você serve, meu.
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- E aí, Caio? – Kléber me fitou. – Tudo bom?
- Bem, Kléber e você?
- Estou bem também. Você teria um dicionário para me emprestar?
- Putz, Kléber, não tenho! Desculpa...
- Ah, tranquilo. Preciso para saber o significado de uma palavra para colocar em um texto da faculdade.
- Ah, entendi. Por que não procura pela internet?
- Meu notebook pifou.
- Ah, se o problema todo é esse, eu te empresto o meu!
- De verdade?
- Claro, pô! Os amigos são para essas coisas!
- Poxa, nem sei como te agradecer.
- Nem precisa. Pode contar comigo sempre que precisar. Vai lá no quarto, pega lá. Ele está em cima da minha cama.
- E se o Rodrigo estiver usando?
- Aí você fala que eu emprestei que ele libera.
- Valeu, mano! Você é foda.
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NO COMEÇO DE NOVEMBRO...
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Os meus resultados na academia estavam dando tão certo, que eu não queria saber de mais nada a não ser treinar, treinar e treinar.
- 5, 4, 3, 2, 1 – falou Wellington. – Pode descansar.
- Odeio fazer agachamento, Well.
- Mas precisa e foi você mesmo que disse que poderia colocar na sua ficha.
- Porque dá resultado. Já fiz na outra academia!
- Viu só? Caio, seu corpo já está muito modificado, viu?
- Eu também estou achando, Well. Eu me olhei no espelho na hora que cheguei e até me espantei com a mudança.
- Te disse que iria te ajudar, não disse?
- Você é foda, cara!
Eu estava mesmo mudado. Sempre tive um corpo magro, franzino e depois que intensifiquei os treinos com o Wellington e depois que mudei toda a minha alimentação em prol do meu objetivo, as coisas começaram mesmo a dar resultado.
Não que eu estivesse com um corpo igual ao do Gabriel, para isso ainda faltava muito, mas eu já estava um pouco mais encorpado.
- Já se pesou? – meu instrutor perguntou.
- Não. Faz tempo que não faço isso.
- Então se pese. Quero saber se aumentou de peso ou não.
- Beleza. Já volto.
Quando subi na balança levei um susto. Eu estava 6 quilos mais pesado!
- Caramba, Well! Eu engordei 6 quilos...
- Entendeu agora porque você tinha que mudar sua alimentação
- Entendi sim!
- Se não estivesse comendo certinho, seu corpo não estaria assim.
Meus braços estavam começando a ficar definidos de verdade. O abdômen ainda não estava tanquinho, mas já estava durinho. Não era mais molenga como antes.
- Agora vai pro abdominal e depois pode ir para casa.
- Beleza, fera. Valeu por hoje.
- Conta sempre aí.
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Eu estava muito animado por voltar à balada depois de meses sem sair de casa.
A temperatura naquele 10 de novembro de 2.007 estava absurdamente elevada. Fazia um sábado extremamente quente e sem nenhuma ventilação. Clima tipicamente de verão, mas nós ainda estávamos na primavera.
- Vai sair? – perguntou Rodrigo.
- Sim senhor.
- Onde vai?
- Uma baladinha lá em Copa. Faz tempo que não colo lá...
- GLS, né?
- Aham.
- Droga, queria ir também.
- Vamos, ué! É só você não ficar com ninguém.
- Não, obrigado. Eu tenho medo de ser estuprado.
- Isso só vai acontecer se você permitir, Rodrigo.
- Nem a pau que eu entro num lugar desses.
- Tem medo de gostar, né? – sorri.
- Não. Tenho medo de me traumatizar.
- Não vai sair com a Alexia?
- Não! A gente nem está ficando mais.
- Por quê?
- Porque enjoamos. Foi bom, mas acabou.
- Pensei que iam engatar um namoro.
- Que nada! Ela é boa de cama e tudo mais, mas nem rolou mais química.
Coitada da Alexia. Essa era outra que sofria por amor e não dava sorte com os caras.
- Então eu vou nessa. Até amanhã – falei.
- Vai lá, antes que eu te proíba de sair de casa!
- Me proibir? E por que você faria isso?
- Pensa que é só você que tem ciúmes nessa merda, Caio Monteiro?
- Está com ciúmes de mim, Rodrigo Carvalho?
- E se eu estiver? O que tem de errado nisso? Você é meu irmão e eu tenho todo o direito do mundo de sentir ciúmes de você!
- Você só não é mais perfeito por falta de esoaço! Te amo!
- Também. Mas vai logo, chispa! Boa balada!
- Obrigado.
Cheguei na Raul Pompeia faltando 15 minutos para a meia noite. Só nesse dia eu tive uma real dimensão de como estava morando longe de Copacabana.
Entrei e fui direto pra pista principal. O local já estava ficando lotado. Algo me dizia que eu ia me divertir muito naquela noite.
Comecei com uma caipirinha de morango. Eu estava com muito calor e precisava me refrescar de alguma forma, se bem que o ar-condicionado daquele lugar estava bem forte.
Resolvi voltar a boate só para matar o meu tesão. Não fazia sexo desde que tinha terminado meu namoro com o Carlos e os meus hormônios já estavam saindo até pelas laterais dos meus olhos. Eu precisava gozar urgentemente.
Fiquei com o primeiro cara antes mesmo do dark room ser liberado. Ele era mulato e bem gostosinho. Deu para dar um belo de um caldo enquanto a diversão não começava pra valer.
- Como se chama? – ele perguntou.
- Caio e você?
- André. Quantos anos, moleque?
- 19 e você?
- 27.
- Bacana.
- Vamos subir?
- Já? Nem tem ninguém lá ainda!
- Por isso mesmo.
- Já que você insiste.
Subimos e quando chegamos no dark room – que naquele momento ainda estava com a luz acesa – ele foi logo colocando o cacete pra fora da calça. Era imenso. Maior que todos o que eu já havia visto em toda a minha vida.
- Quanto mede? – perguntei já segurando aquela anaconda.
- 23 centímetros. Aguenta?
- Jamais – só de pensar na dor...
- Ah, aguenta sim, vai? Eu sou carinhoso!
- Não. Não vai entrar nem metade...
- Como você sabe? Já tentou com um desses?
- Nunca vi um tão grande assim.
- Gostou?
- Adorei!
- E o que está esperando para colocar na sua boca?
Além de grande era grosso e não entrou direito na minha boca. Desisti na metade do pau.
- Para, grande demais – reclamei. – Vou ficar só na punheta mesmo.
- Para de graça, Caio – ele forçou a minha boca pra baixo e o negócio entrou mais um pouco.
Estava cheiroso. Eu fiquei meio alucinado com aquela jiboia e confesso que fiz de tudo para engolir por completo, mas não consegui mesmo.
Fiquei de joelhos no chão e bati uma pro André até ele gozar. Quando isso aconteceu, eu me levantei e fiquei longe daquele negócio preto. Saiu muito leite daquela delícia.
- Gostou?
- Gostei – ele guardou o pau na cueca. – Valeu aí.
- Falou!
Dei um tempo lá em cima. Fiquei vendo o movimento na pista de dança e quando uma música bem animada começou a tocar, eu resolvi voltar pra dançar um pouco.
Dancei até não querer mais. Extravasei de tal forma que novamente me senti leve. Era disso que eu estava precisando.
Lá pela 1 e meia hora da madrugada, tive uma surpresa esquisita: dei de cara com o Vítor, melhor amigo do Bruno. O que será que ele estava fazendo ali?
- Caio?! – ele deu pinta de sua feminilidade. – É você mesmo?
- Vítor?
- Nossa! Que coincidência!
- Não imaginei te encontrar aqui – falei.
- Faço das suas as minhas palavras.
- Eu venho aqui sempre que posso.
- Essa é a primeira vez que venho. Acabei de ficar maior de idade.
- Eu sei – suspirei.
- Como assim você sabe?
- Você fez aniversário dia 30.
- É! Isso mesmo. Como você sabe?
- Ah, como eu sei, Vítor? Junta 2 + 2, querido.
- Hum, já entendi! Já entendi tudo! Você lembrou, é?
- Infelizmente lembrei sim.
- Ele andou perguntando de você, viu?
- Andou é? Mande dizer que eu morri!
- AI, Caio! Que horror, vira essa boca pra lá.
- É verdade. Eu lá quero saber de notícias desse... Garoto?
- Não vamos falar do Bruno. Vamos comemorar meu aniversário!
Seria o mesmo que comemorar o aniversário dele, mas...
- Está sozinho?
- Nada! Meus amigos vieram comigo.
Eram três garotos fora o Vítor.
- Caio, esse é o Maurício, esse é o João e esse é o Matheus. Meninos, esse é o Caio, Ele é o ex do Bruno!
- Ah, você é o famoso ex-namorado da Bitch? – um deles perguntou.
- Infelizmente sou sim, mas na boa? Se forem ficar falando desse... Garoto, eu não vou ficar aqui!
- Gente, não fiquem tocando no nome dele – sugeriu Vítor. – O Caio tem trauma.
- Foi você mesmo que começou, Ví – disse outro deles.
- Não está mais aqui quem falou!
Mas já tinha falado e isso acabou com a minha noite. Fiquei pensando nele a maioria do tempo e isso me deixou bem enraivado.
- Que cara é essa? – Vítor perguntou.
- Nada. Não é nada.
- Quer uma bebida?
- Quero! Vamos comprar?
- Vamos!
Comprei logo uma tequila. Se era pra extravasar, eu ia extravasar ao extremo.
- Cuidado para não ficar bêbado – alertou Vítor.
- Isso não vai acontecer – garanti.
- Nossa, Caio! Adoro essa música, vamos dançar?
- Vamos, ué.
O melhor amigo do meu ex-namorado e eu caímos na pista de dança e ficamos movimentando o esqueleto até a música acabar.
- Dança bem – ele comentou.
- Quem me dera. Sou super desengonçado.
- É nada!
- Sou sim. Está gostando da balada?
- Estou! Aqui é legal.
- A melhor parte é o dark room. Vai abrir já, já.
- Da hora. Caio, eu quero muito te pedir uma coisa, mas estou com vergonha.
- O que foi? – perguntei olhando no fundo dos olhos dele.
- Tem algo que eu quero há um tempão já, mas que era impossível.
- Era? Não é mais? Não estou entendendo nada, Vítor.
- Era e não é mais.
- E o que é? Se você não falar, eu não vou saber o que é nunca.
- Eu queria... Eu quero na verdade...
- O que você quer, garoto?
- Eu quero ficar com você...
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