sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Capítulo 99

Era brincadeira, né? Só podia ser brincadeira! Ele não poderia estar falando sério... Poderia?
- Hã? – eu não acreditei. – Como assim, Rodrigo?
- Na verdade eu sabia e não sabia. Foi assim: uns dias antes dele sumir, nós conversamos e ele me contou que talvez fosse passar um tempo fora do Brasil.
- Hum? – eu cruzei os braços. Não estava gostando nada daquela história.
- Eu perguntei o motivo, mas ele não quis me dizer. A única coisa que ele me falou, foi que era um motivo muito, muito sério.
- Hum? – bufei de raiva.
- Ele disse também que não era para eu te contar nada, porque ele mesmo ia falar.
- Ah, ia! Tanto é que eu estou esperando ele falar isso até hoje, mas enfim...
- E me pediu também para eu cuidar de você enquanto ele estivesse fora – nesse momento a bochecha dele corou mais do que nunca.
- Hum?
- O Bruno me parecia muito agoniado, sabe? Eu fiquei até preocupado com ele.
- Hum?
- E foi isso.
- Hum? E por que não me falou na época?
- Porque eu fui burro. Eu pensei que você ia ficar bravo comigo, sei lá...
- E ia mesmo! E ia ficar muito bravo, mas estou muito mais bravo agora, sabia?
- Você prometeu...
- Prometi, mas não consegui cumprir! – fui sincero. – Você viu todo o meu sofrimento, acompanhou tudo de perto e não me falou nada...
- Me perdoa – ele estava chateado. – Eu fui um idiota!
Fiquei calado por um minuto.
- Ele não te disse mais nada? Um motivo? Uma explicação? Um sinal? Não disse onde ia ficar? Quando ia voltar?
- Nada. Absolutamente nada, mas pelo que eu senti, era algo com a família dele. Corria esse boato lá no Call Center na época também.
- Por que sentiu isso? E que boato era esse?
- Porque ele falou do pai dele com uma raiva tão grande... Eu acho que o pai dele estava contra o namoro de vocês. E o boato era que o pai dele não aceitava a sexualidade dele e que ele estava tendo problemas com isso.
- Isso é verdade, ele estava mesmo. Tanto é que a gente só se via na casa da avó dele.
- Então deve ter alguma relação, Caio. Deve ser por isso que ele foi embora.
- Beleza, sem problemas, mas por que não me disse que ia? Foi e não me disse nada, foi embora e me deixou sem nenhuma explicação!
- Isso é o que mata, né?
- É essa a minha revolta. O fato dele ter ido embora é o de menos, o que me irrita muito é ele ter saído sem me dar satisfação. Ele deixou minha aliança com o amigo e fez o amigo me entregar. Ele foi um covarde que não conseguiu enfrentar a situação como homem de verdade!
- Eu te entendo. O fato é esse: eu sabia que ele ia pra Espanha e não te falei nada. Fiquei com medo de você sofrer e acabou sofrendo mil vezes mais, tadinho...
- Tudo bem. Você contando ou não me contando, não ia evitar esse acontecimento. E outra: você só atendeu a um pedido dele.
- Isso é verdade. Ele disse que ele mesmo ia te contar. Porém, eu deveria ter falado depois, quando ele já tinha ido sem te dizer uma palavra sequer. Eu deveria ter dito quando você ficou atrás dele feito um louco... A culpa é minha!
Digow estava muito tristonho.
- Mas não me contou.
- Me perdoa? – ele me olhou com um rostinho tão aprreensivo que eu fiquei foi com muita dó!
- - Pelo quê? – me fiz de sonso de propósito.
- Por eu não ter te falado nada antes?
- Não tenho nada que te perdoar, Digow. Você não ia ter como evitar esse acontecimento. Se você tivesse falado, teria causado uma briga entre nós dois...
- Se eu tivesse falado, Caio, provavelmente você teria tomado satisfações com ele e talvez tudo estivesse bem entre vocês hoje. Não tenho como negar que tenho uma parcela de culpa nisso tudo. E uma parcela bem grande, o que me faz me sentir ainda pior!
Parei para pensar. O que ele falou, fazia sentido. Se o Rodrigo tivesse dito que o Bruno ia sair do Brasil, com toda certeza do mundo eu iria tirar essa história a limpo e consecultivamente, teria uma satisfação por parte do meu ex. Mas naquele momento era tarde demais. Já havia passado muito tempo para ficar remoendo o passado.
- Isso é verdade. Você tem a sua parcela de culpa, mas não tem problema. Já passou e eu não vou ficar lembrando do pretérito. Quem vive de passado é museu.
- Então você me perdoa? – os olhinhos dele até brilharam nesse momento.
- Não tenho nada que te perdoar, garoto. Fica sossegado!
- Não está chateado comigo?
- Claro que não, Digow – eu fiz carinho nas costas da mão dele. – Fica tranquilo, de verdade.
- Me desculpa mesmo, eu poderia ter evitado todo o seu sofrimento. Me senti culpado demais, me sinto até hoje.
- Não sinta-se culpado, pois a culpa não é sua. Não foi você que me largou, não foi você que me deixou sem explicação. O culpado disso tudo tem nome, sobrenome: Bruno Silva!
- Eu nunca... – ele ia falar alauma coisa, mas depois se calou.
- Você nunca o quê?!
- Nada – Rodrigo ficou olhando pra parede.
- Nada não! Fala, fiquei curioso!
- Eu nunca... te deixaria como ele te deixou!
Que lindo! Eu sabia que ele nunca faria uma coisa daqueleas porque ele era muito diferente do meu ex-namorado.
- Bobo – fiquei muito sem graça.
- É verdade – ele me olhou com os olhos indecifráveis.
- Virgem, lá vem a enfermeira mal comida. Vou nessa, Digow.
- A visita acabou. Rua!
- Já vou, enfermeira – falei. – Boa noite, mano. Bons sonhos aí...
- Obrigado, Caio. Me perdoa de novo, tá bom?
- Não tenho o que te perdoar, seu bobo. Te amo, viu?
- Eu... também! Até... amanhã? Você vem me ver?
- Ah, é! Já ia esquecendo...
- O quê?
- Vai ficar bravo se eu não vier amanhã?
- Por que?! – ele fez cara de triste.
- Amanhã eu vou namorar um pouquinho, Digow – senti minhas bochechas queimarem.
- Ah! Sendo assim eu não me importo... – ele parecia tristonho. Seria impressão minha?
- Na segunda eu venho a noite e fico um tempão, prometo!
- Quero só ver, hein?
- E amanhã os meninos vão vir também, tem a sua mãe... Você não vai ficar sozinho. Nem vai lembrar de mim.
- Claro que vou!
- E agora que você está bem, eu fico tranquilo e vou aproveitar para tirar o atraso, se é que você me entende – fiquei com vergonha de novo.
Ele ficou calado, só me olhando. Ele estava agindo estranho naqueles dias!
- Bom namoro – falou em seguida. – E boa noite!
- Pra você também.
.
Desde o momento em que nós saímos da loja até o momento em que chegamos na casa dele, Carlos e eu não paramos de falar um segundo sequer.
Conversamos sobre tudo. Tudo mesmo, até de politíca a gente falou. Foi bom bater aquele papo com meu namorado, porque assim eu fiquei conhecendo um pouco mais sobre ele.
- Com licença – eu falei quando ele abriu a porta da casa dele.
- Fica à vontade. Literalmente à vontade!
- Bobo!
Foi um beijo bom. Bom até demais. Eu joguei minha mochila no chão e ele foi me guiando até a cama.
Henrique me jogou em cima do colchão e foi por cima de mim, ao mesmo tempo que tirou a camiseta.
O próximo beijo foi muito demorado. Nós ficamos rolando na cama e quando ele subiu no meu corpo pela sexta ou sétima vez, o garoto uniu a testa dele na minha, olhou nos meus olhos e disse:
- Sabia que você é lindo?
- Você que é – falei.
- Posso te pedir uma coisa, Caio?
- Pode. Pede o que você quiser.
O rapaz ficou calado por um tempo e deu vários selinhos nos meus lábios, uns mais demorados que o outro.
- Se entrega pra mim?

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