Minha amiga ficou calada, mas só porque estava com a boca cheia.
Por mais seguro que eu estivesse, na hora pintou um friozinho na barriga. Alexia disse que gostava dos gays, mas o que ela ia falar ao meu respeito? Será que estava muito surpresa?
- Ah, fala sério? – ela falou ainda com a boca cheia.
- É sério sim. Não estou mentindo, eu sou homossexual!
- Mas hetero do jeito que você é?
- Só na sua cabeça eu sou hetero, Alexia – tive que rir. – Eu nunca fui hetero, nunca te disse que era hetero. Nasci e cresci sabendo que sou diferente dos outros meninos.
- Nossa, sinceramente eu não esperava por isso – ela não parou de comer. – Você não aparenta que é isso não, menino.
- Sei ser discreto e sei guardar o que sou, mas acho que está na hora de sair do armário.
- De verdade, nunca imaginei não. Já vi você até de olho em algumas meninas, então você pra mim sempre foi hetero. Se não tivesse falado, eu nem teria desconfiado.
- Mas o que você diz a respeito?
- Eu tenho alguma coisa para dizer? – ela continuou comendo. – Tenho não, menino. A vida é sua, você sabe o que faz. O importante é ser feliz.
- Continuaremos sendo amigos? – também continuei comendo, mas nessa hora fiquei um pouco preocupado. E se ela não quisesse mais ser minha amiga?
- Por que não continuaríamos? Eu não tenho preconceito. Você é uma boa pessoa, me ajudou muito com o Gabriel... Serei sua amiga até a vida nos separar um dia qualquer.
- Nossa, Alexia. Quanta profundidade... Obrigado por me aceitar do jeito que eu sou...
- Está agradecendo por que? Te dei algum presente por acaso?
- A sua amizade – olhei no fundo dos olhos dela. – E isso é muito precioso para mim.
- Sua amizade também é preciosa para mim, quero ser sua amiga até a gente ficar velhinhos e com os cabelos brancos.
- Aí a gente pode sentar numa cadeira de balanço em uma varanda qualquer para ficar falando da vida, lembrando do passado – brinquei.
- Isso daí eu pretendo fazer com meu marido, seu besta – ela caiu na risada. – Eu me vejo bem velhinha em uma cadeira de balanço, com meus filhos, netos e talvez bisnetos ao meu redor. Já pensou que legal?
- Mas isso ainda vai demorar é muito tempo para acontecer, Alexia.
- Vai nada! Daqui a pouco eu chego na 3ª idade. Só falta uns 35 anos para isso acontecer.
- Como se 35 anos fossem 35 meses, Alexia. Espero que demore muito para eu chegar na 3ª idade.
- Vamos fazer um brinde? – minha amiga secou os lábios e pegou o copo de refrigerante.
- Um brinde? À quê?
- À nós, ao natal, à nossa felicidade, à
- Então um brinde! – levantei o meu copo e nós batemos os vidros. – À nossa amizade! Saúde!
- Saúde – ela falou e em seguida bebericou um gole da bebida.
Alexia e eu fizemos nossa 1 hora e meia de almoço com muita tranquilidade. A melhor parte de todas foi saborear a sobremesa. Eu nunca resisti a um bom chocolate e continuo não resistindo, diga-se de passagem.
- Delícia de pudim, hein? – ela lambeu os beiços. – Quero mais um.
- Que gulosa. Olha o regime, como vai manter esse corpinho lindo comendo dois desses?
- Pouco me importo. Ano que vem eu faço que nem você e corro atrás do prejuízo.
- Não senhora, nada de olho gordo. Olha o exagero.
- Mas eu estou com vontade...
- Não pode! Você não pode, deixa que eu como por você – levantei da mesa e fui atrás de mais um doce.
- Olha que filho da puta! – Alexia foi atrás de mim e me deu um tapa na bunda. – Você não presta, hein?
- Ai minha bunda, vadia – falei entre os dentes para ninguém além dela ouvir.
- E que bunda, hein? – e não é que ela apertou as minhas nádegas? – Se soubesse que você era tão gostosinho assim teria te pegado.
- Credo em cruz – me benzi e ela caiu na gargalhada.
- Você bem que ia gostar, ia se endireitar e não ia mais largar da fruta.
- Não, obrigado. Essa fruta eu dispenso. Moça, me vê mais um pudim de chocolate, por favor?
- Dois – corrigiu a Alexia.
Nós voltamos pra loja comendo o doce. Estava divino!
- Hora de voltar pra realidade – falei.
- Infelizmente. Vamos que vamos.
Mas graças a Deus o resto da tarde passou voando. Quando eu menos esperei o relógio informou o final do expediente e as portas já estavam sendo fechadas.
- Agora eu entendo direitinho a sua reação lá em São Paulo – minha amiga me olhava com seriedade.
- Não foi fácil, juro. Por isso que eu agi daquele jeito.
- Sua mãe é uma cobra!
- Todo mundo me fala isso.
- Porque é verdade.
- É, mas deixa pra lá. Eu já estou conseguindo superar.
- Graças a Deus!
- Mais um dia – suspirou Edurda. – Obrigada, Senhor.
- Tchau, tchau – eu só ouvia os meus colegas se despedindo e saindo pela porta dos funcionários.
Eu me senti meio desmotivado. Ia voltar para casa e novamente ia ficar sem companhia, mas o fato era que não havia alternativa.
O que eu poderia fazer? Ficar na rua? Não, não! Hipótese descartada. O melhor seria ficar em casa, vendo televisão ou mexendo na internet.
- Boa noite, Duda. Boa noite, Jonas. Até amanhã!
- Boa noite, Caio. Obrigada por ter vindo, viu?
- Imagina, Eduarda!
- Valeu, Caio – Jonas apertou meu ombro. – Vai descansar que você merece.
- É vou sim, Jonas. Até amanhã!
Fui falar com a Alexia, mas como ela também estava de saída, resolvi ir embora com ela, assim poderíamos conversar mais um pouco.
- Estou morta, Caio. Não sei porque inventei de vir de salto hoje.
- Mas você vem de salto todo dia! – exclamei.
- Mas hoje o meu pé está foda. Eu fiquei muito tempo em pé ontem à noite, daí já viu, né?
- Ficou?
- Fiquei, menino. Rolou o maior samba lá em casa, eu fiquei dançando até de manhãzinha.
- Ah, entendi. Não sabia que você sabia sambar.
- Sou carioca, meu bem. Toda carioca sabe sambar. Me aguarde no carnaval.
- Alexia, você acredita que eu moro aqui há quase 3 anos e ainda não curti o carnaval?
- Tu é louco? Não sabe o que está perdendo! Vou te levar no ensaio da Salgueiro mês que vem.
- Ah, eu quero ir mesmo! Me leva?
- Lógico! A Jana e eu vamos, você vai com a gente.
- Oba! Quero muito conhecer.
- Então está combinado. Espero que esse busão chegue logo, não aguento mais ficar em pé.
- Eu também não.
Alexia e eu ficamos trocando ideia até um dos nossos ônibus passar. Para a minha sorte, o meu acabou chegando primeiro.
- Amiga, até amanhã – eu a abracei. – Obrigado por me aceitar, viu?
- Cala a boca, moleque. Até parece que eu ia te rejeitar, ainda mais depois de tudo o que você fez por mim.
- Eu não fiz nada.
- Imagina se tivesse feito.
- Deixa eu ir que o motorista não vai me esperar. Beijo!
- Beijo.
Paguei a passagem e tive oportunidade de escolher um lugar para sentar de tão vazio que o ônibus estava. Só podia ser feriado mesmo.
Quando cheguei em casa, subi direto pro banheiro, tomei banho e depois fui pro quarto. Não queria comer porque não estava com fome, então resolvi ficar mexendo na internet e ao mesmo tempo assisti televisão.
Fiquei surpreso ao encontrar o meu irmão online no MSN. Cheguei a abrir a janela dele umas 3 ou 4 vezes, digitei um “olá”, mas não tive coragem de enviar. Ele se quisesse que fosse falar comigo.
Mas é óbvio que isso não aconteceu. Seria bom demais se isso tivesse acontecido. Fiquei lá, zapeando pelos canais da televisão, entrando em sites e rapidamente o tédio tomou conta de mim.
Como não tive muita coisa que fazer, resolvi dar uma fuçada no perfil do Orkut dos meus amigos. Entrei apenas nos principais.
O perfil do Víctor parecia estar parado há um tempo. Será que tinha acontecido alguma coisa com meu amigo? Fazia meses que nós não conversávamos e só naquele momento eu fiquei preocupado com o garoto.
Não pensei duas vezes: peguei o telefone celular e liguei pro rapaz. Eu precisava de notícias dele.
- Alô? – a voz dele estava muito grave.
- Víctor?
- Caio?
- Tudo bem? Nossa, quanto tempo! Me esqueceu, né?
- Amigo... Que saudades de você! Você não sabe a falta que está me fazendo!
- Por que sumiu desse jeito? A gente não se fala há um tempão,..
- Me desculpa, Caio! Eu não tenho passado por dias muito fáceis ultimamente.
- Aconteceu alguma coisa?
- Aconteceu sim. Meus tios sofreram um acidente de carro e os dois morreram.
Meu coração foi parar no dedão do pé. Que coisa horrível!
- Nossa, Víctor... Que barra, mano! Eu sinto muito, viu?
- Obrigado. Não está sendo muito fácil. Minha avó está inconsolável e meus pais também.
- Faço ideia. Mande meus sentimentos à todos aí...
- Farei isso sim. Mil perdões por não ter te ligado, amigo...
- Não tem problema. Foi por um motivo grave, eu entendo. Mas está tudo bem tirando isso?
Como se “isso” fosse pouca coisa, Caio Monteiro!
- Sim, tudo em ordem. O problema maior está sendo com meus primos. Eles são pequenos ainda.
- Nossa! Eles tinham quantos filhos?
- 2 meninos. Um de 13 e outro de 10 anos de idade. Pensa na mente dos meninos?
- Deus tenha compaixão do sofrimento deles! – fiquei triste. – Mas como foi o acidente? Se não quiser falar não tem problema...
- Foi horrível, Caio. O meu tio era carreteiro. Eles foram pro mercado e o caminhão capotou em uma curva e caiu em uma ribanceira. Meu tio morreu nas ferragens e a minha tia foi jogada pela porta e caiu dentro de um lago. Ela morreu afogada.
- Ai que horror, Víctor – eu até fiquei arrepiado. – Que tragédia, meu Deus!
- É, não foi fácil. Não está sendo fácil na verdade.
- Mas eles não moravam em Sampa, moravam? Não lembro de você ter falado de nenhum tio seu por aí...
- Não, não! Eles moravam lá em outro Estado.
- Sinto muito mesmo, amigo.
- Obrigado, Caio. E você está bem?
- Mais ou menos. Meus amigos foram viajar, eu estou sozinho aqui no Rio. Estou me sentindo meio largado, sabe?
- Ai, que chato... Se eu soubesse, teria ido te visitar.
- Por que não vem? – enxerguei uma luz no fim do túnel. – Vem passar o réveillon aqui!
- Ah, nem posso, Caio! A vontade é grande, mas minha família ficou muito apertada com a morte dos meus tios. Nós trouxemos os meninos para morar aqui com a gente, meu pai está gastando muito. Não vai dar não...
- Ah – fiz bico. – Que pena! Queria tanto que você viesse...
- Eu também queria ir, amigo.
Víctor e eu ficamos conversando por um tempão. Eu nem me importei com os meus créditos, tudo o que eu queria era saber do meu amigo e também ter uma companhia e com quem conversar.
- Então tá bom, Víctor. Eu vou desligar porque meus créditos vão acabar. Boa noite, feliz natal!
- Feliz natal pra você também, Caio.
Nem bem desliguei o celular e ele começou a tocar. Fiquei feliz demais quando vi o nome do Rodrigo no visor do aparelho. Claro que eu atendi prontamente, né?
- Pensei que não ia me ligar – fiz drama depois de uns minutos.
- Me perdoa, irmão! Eu acabei de colocar crédito só pra ligar pra você!
- Acho bom! Como está sendo as suas férias?
- Maravilhosas! E aí, como anda tudo? E os meninos?
- Que meninos? Eu estou sozinho!
- Como assim, Caio? Que história é essa que você está sozinho?
- Estou, Digow! O Fabrício foi viajar também. Eu estou sozinho desde anteontem!
- Não acredito!!! Por que você não me avisou antes?
- Pra quê? Não ia adiantar nada!
- Eu teria voltado imediatamente pra ficar com você...
- Bebeu? Eu não ia deixar isso acontecer.
- Ah, Caio! Estou triste agora... Não quero que você fique aí sozinho!
- Mas eu estou sozinho só agora, Digow – menti. – Eu não passei o natal aqui.
- Você disse que está sozinho desde anteontem, não minta pra mim!
- Em casa sim, mas eu quase não fico aqui, você sabe disso. E a virada do natal eu saí.
- Saiu para onde?
- Fui na casa da minha amiga lá da loja.
- Que amiga?
- Você não chegou a conhecê-la!
- Hum... Vou ligar pra Alexia e perguntar se isso é verdade.
Filho da puta. Se ele fizesse isso ia saber que eu estava mentindo.
- Não confia em mim, Rodrigo Carvalho?
- Tá aí, Caio Monteiro, não senti firmeza nisso não. Preciso confirmar porque se você ficou sozinho em casa eu não vou me perdoar.
- Quer parar de ser bobo? Eu não estou mentindo! E mesmo se estivesse, você não tem porquê largar tudo aí e vir pra cá só por minha causa!
- Nem vou discutir com você. Hoje é natal e eu liguei só para saber como você está!
- Bem, amigo. Com saudades de você.
- Eu também estou, mano.
- E seus pais?
- Bem. Te mandam lembranças,
- Mande a eles também.
- Caio, é sério que você passou o natal na sua amiga, né?
- Sim, Rodrigo! Não precisa ficar preocupado.
- De verdade mesmo?
- Uhum!
- Então eu vou confiar em você, mas se estiver mentindo, eu vou ficar muito puto contigo.
- Confie em mim – tentei ser verdadeiro. – Eu não estou mentindo.
- Então tá bom! Vou desligar porque senão acabam os créditos.
- Beleza, cara. Obrigado por ter ligado!
- Te ligo de novo amanhã para você não ficar tão sozinho, beleza?
- Ficarei no aguardo – sorri.
- Te amo, tá?!
- Também.
- Isso foi viadagem demais – ele deu risada. – Estou andando muito com você, essas férias vão me fazer bem.
- Quer fazer o favor de me respeitar?
- Estou te respeitando. Preciso desligar! Abraço, viado! Fica com Deus.
- Beijo, hetero. Fica com Ele também.
Fui obrigado a mentir pro meu amigo. Não gostava de mentir para ninguém, mas naquele momento eu fui obrigado a fazer isso, senão ele poderia aparecer no Rio só por minha causa.
Conhecendo o Rodrigo como eu conhecia, não duvidava nada que ele fizesse isso mesmo. Era capaz de passar o ano novo longe da família para ficar comigo.
Eu ia amar se isso acontecesse, mas em outras circunstâncias. Se o Digow saísse do Paraná e voltasse ao Rio só porque eu estava sozinho, eu iria acabar me sentindo muito mal.
Como estava pensando nele, resolvi fuçar no perfil do Orkut dele também. Havia fotos das férias e eu olhei uma por uma. Em uma delas, ele estava dentro de um rio e com um sorriso lindo nos láhios. Como meu amigo era bonito!
Aproveitei e deixei um depoimento na página dele. Escrevi tudo o que estava sentindo e aproveitei também para desejar um feliz ano novo, com muitas realizações.
Janaína foi a próxima da lista. O perfil dela estava modificado. Li o texto que ela colocou na página principal e depois também mandei um depô pra morena.
Fiz o mesmo com a Alexia, com o Vini, com o Fabrício e com o Víctor. Não tinha nada para fazer mesmo!
E foi de repente que a foto do Bruno apareceu na minha página inicial. Isso significava que o cachorro estava conectado.
E não deu outra. Rapidamente a foto dele subiu no meu Messenger e não demorou nada para uma janela com o nome dele começar a piscar na minha barra inferior.
Abrir ou não abir? Essa era a pergunta que não queria calar.
Para não cometer nenhuma bobagem, preferi fechar a janela sem ler o que estava escrito. Em seguida saí do MSN e fiquei só no Orkut.
Não consegui conter minha curiosidade e entrei no profile do meu ex-namorado. Estava tudo como de costume. Nenhuma inclusão de foto, nenhuma alteração, nada. Pelo jeito nem os recados ele estava respondendo.
Como teria sido o natal do Bruno? Com quem será que ele teria passado? Aliás, com quem ele estaria naquele momento?
Será que estava feliz? Acompanhado ou estaria sozinho como eu?
E se estivesse com alguém, quem seria esse alguém? Um possível novo namorado?
E se fosse isso? E se ele estivesse namorando?
Será? Será que ele estava namorando alguém? Sera que já tinha feito a página virar? A fila andar?
Quais seriam os seus planos para o próximo ano? Será que ele ia voltar ao Brasil? Será que ia voltar e me explicar tudo o que tinha acontecido?
Será que em algum momento da minha vida eu ia ficar sabendo o real motivo pelo qual o Bruno saiu do Brasil?
Por que eu dizia para mim mesmo que não queria saber dele se não estava fazendo outra coisa a não ser pensar nele?
E por que eu fechei a janela do bate-papo se eu queria tanto um esclarecimento? Por que não aproveitei a oportunidade e coloquei os pingos nos is de uma vez por todas???
NÃO! Eu não podia fazer isso!!! Não podia e não devia conversar com aquele garoto. Nunca mais eu tinha que falar com ele.
Mesmo que ele voltasse ao Brasil, mesmo que quisesse me explicar o que tinha acontecido. Não, não! Conversar com ele não seria viável.
Para mim o Bruno poderia estar solteiro, namorando, casado, viúvo ou amasiado. Eu não queria vê-lo na minha frente nunca mais, nem se estivesse pintado em ouro, nem se fosse em uma escultura de gesso ou cravejado de diamantes!
Ele fazia parte do passado e eu tinha que entender isso. Eu tinha que colocar isso na minha cabeça e tinha que determinar que o meu ano novo fosse muito melhor que o velho e que de uma vez por todas, o Bruno abandonasse os meus pensamentos.
.
Tive uma semana turbulenta. Como o natal já havia passado, a maioria dos clientes resolveu ir na loja para reclamar de produtos com defeito ou de entregas que não foram realizadas.
Dei graças a Deus quando chegou o final do meu expediente no dia 30. Isso queria dizer que eu só ia colocar meus pés naquele lugar no ano seguinte.
- Tchzuzinho, Duda – dei um cutucão na minha chefe.
- Já vai, Caio?
- Desculpe a franqueza, chefe... GRAÇAS A DEUS!
Ela sorriu e me deu um abraço.
- Feliz ano novo, meu lindo.
- Obrigado, chefe. Pra você também!
- Deus te abençoe nesse novo ano. Faço votos que você alcance tudo o que você desejar.
- Digo o mesmo a você. Obrigado por tudo esse ano. Por todo o conhecimento, por todas as dicas, as ajudas, os puxões de orelha... Você é demais!
- Imagina! Eu adorei te conhecer e espero que a nossa parceria dure por muitos e muitos anos.
- Eu também, Duda!
- Vai lá, paixão. Até o ano que vem!
- Até o ano que vem.
Como era de se esperar, claro que fui falar com meus amigos, né? Não podia passar o ano sem dar um abraço neles.
- Jonas?
- Eu?
- Deixa eu te dar um feliz ano novo, porque já estou indo nessa.
- Já? – o cara levantou da mesa e foi me dar um abraço rápido. – Então feliz ano novo, garoto.
- Pra você também! Obrigado por tudo o que fez por mim, viu?
- Sempre às ordens! Tudo de bom nesse 2.008, hein?
- Pra nós! Até ano que vem.
- Até ano que vem.
Janaína e eu ficamos agarrados por quase meia hora.
- Te adoro, te adoro, te adoro – ela falou.
- Eu também, nega! Feliz ano novo pra você!
- Pra nós, meu lindo, pra nós! Que Deus te abençoe muito nesse novo ano, que você seja feliz de uma vez por todas! Espero que toda essa inveja que existe em cima de você se dissipe e que você alcance todos os seus objetivos – ela falou.
- Amém, Jana! Amém! Desejo tudo em dobro pra você.
- Obrigada por ser quem você é, obrigada pela sua amizade, obrigada por você existir, projeto de homem!
- Eu é que te agradeço por tudo. Que 2.008 seja o nosso ano, em todos os sentidos.
- E será. Eu confio muito nisso!
- Então até dia 2, sua linda – beijei a bochecha dela.
- Até dia 2, seu lindo!!!
Com a Alexia não foi muito diferente.
- Obrigada, obrigada, obrigada – ela só não me fez girar no ar de tanto que me abraçou. – Obrigada por ser tão especial!
- Eu que te agradeço por tudo, principalmente por ter aceitado a minha opção.
- Eu já te falei para não tocar mais nesse assunto, não falei?
- Falou – eu sorri.
- Então cala a boca e me ouve: obrigada por ser lindo desse jeito, por ter me ajudado com o Gabriel... Esse ano eu apreendi muito com você, aprendi a superar as minhas limitações e a me amar em primeiro lugar! Devo muito à você, garoto! Obrigada por ter me indicado aqui, obrigada por ser meu amigo... Eu te amo muito!
- Eu também te amo, Alexia – meus olhos ficaram marejados. – Eu que te agradeço por essa amizade linda. Gosto muitíssimo de você, nunca esqueça disso.
- Não vou esquecer! Deus nos abençoe nesse novo ano que vai nascer.
- Ele já abençoou, Alexia! Ele já abençoou. Agora deixa eu ir, você tem que vender.
- Vai! Vai descansar, vai curtir a folga. E até 2.008!
- Até 2.008!!!
Felicitei alguns colegas meus e fui até a telefonia. Lá desejei um feliz ano novo para todos os vendedores, mas foi com o Gabriel que o assunto se prolongou:
- Mais um ano chegando, hein Caio? – ele saiu do stand pra falar comigo.
- Pois é, Gabo. Amanhã eu estou de folga, então eu quero te desejar um feliz ano novo...
- Pô, cara – ele me deu um abraço rápido. – Pra você também.
- Que seu ano novo seja muito melhor que esse. E que você crie juízo nessa cabecinha oca...
- Pode deixar, Caio – Gabriel riu. – Eu já criei juízo.
- Assim espero. Bom ano novo!
- Pra você também.
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Naquele 31 de dezembro, eu acordei muito mais cedo do que deveria. Eu estava sentindo uma necessidade imensa de lavar toda a casa. Não sei se existia alguma energia negativa na minha residência, ou se era paranoia da minha cabeça, mas o meu sexto sentido ou subconsciente estava pedindo para eu tomar aquela ação.
Por esse motivo, eu saí de casa, fui até um mercadinho que existia na minha própria rua, comprei um quilo de sal grosso e meti água por todos os lados. Por todos os lados mesmo: lavei todos os cômodos da casa sem nem pensar duas vezes.
Liguei o som bem alto, deixei em uma rádio animada e parti pro abraço. Lavei a casa com sabão em pó, sal grosso e alfazema. Em algum momento da minha vida eu ouvi falar que a alfazema é excelente para tirar energias negativas e atrair positivas ou qualquer outra coisa do tipo. Então eu fiz o que meu coração pediu.
Além disso, lavei toda a roupa que estava suja na máquina, tirei os lençóis das quatro camas, as cortinas, limpei todos os móveis, arrumei todos os guarda-roupas e as gavetas, limpei os utensílios da cozinha e lavei a escada de entrada da minha residência.
Foi complicado lavar toda a casa sozinho, mas eu dei conta. Acabei só às 20:00, mas deu tudo certo. A casa ficou limpa, cheirosa e com um ar totalmente diferenciado. A atmosfera estava leve, limpa... Sei lá, tudo parecia estar muito melhor!
Pode até ser superstição, mas isso me deixou tranquilo. Algo me dizia que o meu ano novo ia ser muito melhor que o antigo.
Ainda tive tempo de tomar um banho, colocar a minha roupa nova e sair para as areias de Copacabana. Mesmo sozinho, eu não ia passar o réveillon enfurnado na minha casa, né?
Coloquei uma camiseta vermelha e uma bermuda branca. A cueca foi amarela para atrair dinheiro. Resolvi passar de vermelho para conseguir um amor verdadeiro no ano que ia nascer e branco para a paz. Paz no Rio de Janeiro, paz no mundo e também paz na minha vida.
Como imaginei, a Praia de Copacabana estava entupida. O melhor e mais bonito réveillon do mundo. Com toda certeza, deveria ter mais de 2 milhões de pessoas naquele lugar.
Caminhei por entre as pessoas e tentei conseguir um lugarzinho na areia. Estava me sentindo extremamente cansado pelo esforço físico que fiz durante todo o dia, mas isso não ia me impedir de ver a queima de fogos, não mesmo!
Com um empurrãozinho aqui, outro ali, uma pisadinha no pé de um aqui e outra ali, eu consegui me aproximar do mar. Foi difícil, foi uma batalha, mas deu certo. Só me restava esperar a queima de fogos.
E isso não tardou a acontecer. Quando olhei no meu celular, faltava apenas 2 minutos para 2.007 morrer. Fiquei ansioso e comecei a fazer minhas orações. Estava sozinho mesmo! Não tinha com quem conversar, então o melhor seria rezar.
Não fechei meus olhos porque queria assistir a queima de fogos, mas me conectei com as energias superiores e pedi, do fundo do meu coração, que o meu ano que ia chegar fosse muito, muito melhor que o que estava morrendo.
Acho que o principal que eu podia pedir era saúde. Saúde e paz. Eu queria um amor, claro que eu queria, mas isso não era a minha prioridade. Saúde era crucial, item de extrema necessidade. O resto, eu correria atrás.
E a contagem regressiva começou. Milhões de milhares de pessoas estavam vibrando na mesma energia. O ano estava morrendo, ia começar um novo e só Deus sabia como seriam os nossos próximos 366 dias.
Eu olhei pro céu e deixei as coisas acontecerem. 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1...
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1º DE JANEIRO DE 2.008
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