sábado, 7 de fevereiro de 2015

Capítulo 102

P-E-R-F-E-I-T-O!!! Se eu pudesse, teria começado a pular no meio daquela sala. Aquilo era bom demais pra ser verdade!!! Eu ia dividir o quarto com meus amigos preferidos... Será que eu estava sonhando? Aquilo era tudo o que eu mais queria e no fim das contas se tornou realidade!
Fabrício também bateu na minha mão e na mão do Rodrigo. Nossa felicidade era evidente.
- Vou abrir os outros papeis para vocês veram que não foi roubo – falou Vinícius. – Aqui, Éverton e aqui Maicon.
- Nunca dou sorte nessas coisas – Maicon ficou tristonho.
- Relaxa – Kléber tentou puxar assunto. – Nós somos legais.
O cara não falou nada.
- Então está certo assim. Podemos nos instalar?
- Claro que podem, Vinícius – disse Kléber. – A casa agora é de vocês também.
- Mas antes, vamos ver como são as regras desse lugar... – disse Fabrício. – Ou será que não têm regras?
- Como assim? Que regras? – perguntou Miguel.
- Vocês moram aqui há muito tempo? – perguntou Rodrigo.
- Que nada! Nós mudamos faz menos de um mês. É que vamos começar a faculdade agora em agosto e já resolvemos vir pro Rio para aprender a andar na cidade – explicou Kléber.
- Ah, entendi. E vocês são de onde?
- Somos de Campos – disse Miguel.
- Desculpa a curiosidade, mas vocês são parentes? – perguntou Maicon.
- Sim! Nós somos irmãos.
- Irmãos? – me espantei.
- É. Por que? Não parece?
- Um pouco. Bem que achei vocês um pouquinho parecidos.
- E vão estudar o quê? – perguntou Vini.
- Eu vou fazer letras – disse Kléber.
- E eu medicina – falou Miguel.
- Medicina? – Vinícius sorriu. – Eu faço medicina!
- Sério? Em qual ano você está?
- No penúltimo. Me formo ano que vem, se Deus quiser!
- Nossa, que legal! E vai se especializar em quê?
- Não decidi ainda. Estou em dúvida entre neurologia, obstetrícia, ortopedia e oftalmologia.
Opa! Não foi isso que o Rodrigo me disse quando eu me mudei pra república. Não sabia que o Vinícius estava tão dividido aquele jeito.
- Da hora! Eu vou querer me especializar em pediatria. Já estou decidido.
- É legal também, mas não tenho muita paciência com criança.
- Eu tenho! Sou apaixonado por crianças.
- Vai fazer uma bonita carreira.
- Podemos deixar as carreiras de lado? – perguntei. – Vamos falar sobre a república primeiro?
- Verdade. Fugi do foco – Vini ficou constrangido. – Como fica a divisão de tarefas aqui?
- Nós ainda não paramos para pensar nisso – disse Miguel.
- Podemos fazer como na nossa república antiga então?
- E como era lá?
Acabou que as regras permaneceram as mesmas. Primeiro de tudo, ninguém podia levar mulher para aquela casa. Não para sexo pelo menos. Segundo, a divisão de tarefas permaneceu a mesma. Cada um teria um dia para lavar a louça e cada um ficava responsável pela limpeza de seu quarto bem como a lavagem de suas roupas.
- Nós trouxemos nossos baldes e vamos deixar nossas roupas íntimas neles – disse Vinícius. – Acho bacana vocês deixarem a de vocês separadas para não misturar nada.
- Pode deixar – falou Kléber.
- E é isso. Acho que não tem mais nada para falar.
- Demorou, Vinícius – Kléber sorriu. – Nós estamos de acordo.
- Então estamos combinados. Agora vamos nos instalar!
- Fiquem à vontade!
Éverton era o único que estava de cara feia. Até o Maicon ficou de acordo com aquele sorteio. Não tinha como negar que essa foi a forma mais justa que encontramos para separar os quartos.
- Não creio que estamos juntos – disse Rodrigo.
- Nem me fala!
- Nem em sonho eu podia imaginar que isso ia acontecer – Vini fechou a porta. – Melhor assim. Agora o Éverton vai aprender a respeitar os outros.
- Espero que ele não crie problemas com os meninos – falou Fabrício.
- Eu também espero. Ele é infantil demais.
- Como ficam as camas? – sondei.
- É mesmo! E aí, como vamos dividir isso? – perguntou Rodrigo.
- Acho que entre nós não vai precisar de sorteio, né? – o médico sorriu.
- Nãããããããão – Fabrício, Rodrigo e eu falamos em uníssono.
- Eu não quero dormir no alto – falou Fabrício.
- Tem medo de altura, donzela? – brincou Rodrigo.
- Não é medo de altura. É que eu me mexo demais, se ficar lá no alto, corro o risco de cair no chão.
- Seria cômico se não fosse trágico – comentei.
- Eu fico no alto sem problema algum – disse Rodrigo.
- Eu também posso ficar no alto, não ligo – disse Vini.
- Então eu fico embaixo. Sem crise.
- Isso que á maturidade – elogiou Vinícius. – Gosto de pessoas assim. Posso ficar na cama do canto?
- Também quero a do canto – disse Fabrício.
- Então a nossa é essa, Caio – falou Rodrigo.
- Pode crer.
Sentei na minha nova cama. Não era tão boa como a outra. Eu ia ter dificuldade para me acostumar nela.
- Colchão duro – disse Vinícius. – Do jeito que eu gosto.
- Deve ser de mola – comentou Fabrício.
- O meu é confortável – disse Rodrigo.
Depois que arrumei todas as minhas coisas no armário e na cômoda, me despedi dos meus amigos e saí pro trabalho. Estava torcendo para não me perder naquele bairro novo.
- Vai sair, Caio? – perguntou Miguel.
- Vou trampar, cara! Aí, você sabe onde eu pego um ônibus pra Barra da Tijuca?
Ele me deu as coordenadas. Não era nada difícil achar o ponto de ônibus que me levaria até o bairro onde eu trabalhava.
- Valeu, cara!
- Você tem a chave para voltar?
- Putz! Porra, pode crer... Nem me liguei nisso! Como faço?
- Está aqui – ele deu risada. – A Esmeralda deixou aqui as 6 cópias.
- Ah, valeu... Nem tinha pensado nisso. Bom, vou nessa que estou atrasado. Até mais!
- Até.
Para ir ao trabalho não foi difícil, mas e para voltar? Onde eu ia descer? Como era o nome daquela rua? Eu estava frito! Não sabia de nenhuma informação sobre o meu bairro novo, a não ser que ele ficava onde Judas perdeu o fio-dental.
Cheguei na loja atrasado, mas ninguém brigou comigo. Era o plantão da Eduarda e ela estava alegre como sempre.
- Oi, moreno lindo! Tudo bem?
- Tudo sim, chefa e você?
- Bem! Já se mudou?
- Mudei hoje cedo. Acabei de chegar da casa nova, estou todo perdido.
- Danou-se! Ah, antes que me esqueça, uma cliente ligou para você.
- Que cliente?
- O nome dela é Gorete. Ela disse que a geladeira dela chegou amassada. Eu falei que você ia retornar assim que chegasse, pode ligar e dar um jeito nisso, por favor?
- Posso! Porém a entrega dela foi feita na semana passada!
- Ah, é? Tem certeza?
- Absoluta. Eu me lembro dessa cliente. Eu acompanhei a entrega dela. Aliás, eu acompanho todos os meus pedidos.
- Muito bem! Esse é o meu Caio! Mas chegou quando? Já passou do prazo de troca pela loja?
- Já. Chegou na segunda-feira.
- Ih... Isso vai dar pepino. Então liga pra ela, explica e qualquer coisa me fala. A gente faz uma troca de modelo pra ela para fidelizar a cliente.
- Perfeito!
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- Ei, moreno? – Carlos tocou nas minhas costas.
- Hum, que perfume bom é esse?
- Gostou?
- Adorei!
- O que você acha de sentir ele mais de perto hoje à noite?
- É mesmo, é? Olha que não vou recusar a oferta, hein?
- Se recusar, fico de mal de você!
- Mas onde? Não vou poder ir na sua casa hoje!
- Como eu imaginei isso, já descolei outro lugar pra gente ficar mais à vontade...
- E onde seria esse lugar?
- É segredo! Topa ou não topa?
- Topo! Claro que eu topo!
Entretanto, se eu soubesse que o tal local era a escada de saída de emergência do shopping, eu não teria topado.
- Você é louco? Um segurança pode entrar aqui!!!
- Entra nada.
- Entra si...
Ele calou a minha boca com um beijo. E que beijo delicioso! Bastou o toque das nossas línguas para o meu pau ficar duro na hora e é claro que ele percebeu.
- Você é maluco – eu reclamei quando o Carlos Henrique tirou o meu brinquedo para fora da calça. – Aqui não!
- Aqui sim. Cala a boca e aproveita esse boquete.
Meu namorado colocou tudo na boca e eu soltei um gritinho de prazer. Ele só poderia estar maluco mesmo. Doido de pedra!
- Não... – eu tentei fazer ele parar, mas não consegui.
- Agora eu vou até o fim.
- Seja o que Deus quiser!
Acho que a tensão do perigo me deixou ainda mais excitado. O medo de ser pêgo por um segurança me deixou alerta, mas graças a Deus nada de ruim aconteceu e eu consegui gozar na boca do garoto. Ele engoliu todo o meu esperma.
- Delícia! Chupa o meu agora?
- Só se for rápido.
- Então cai de boca!
Estava bem duro, bem duro mesmo. Eu abaixei a cabeça e a cueca do Carlos e brinquei com o saco dele. Ele teve que se controlar para não urrar de prazer quando gozou na minha boca.
Cuspi o esperma. Não me senti confiante para engolir aquele sêmen.
- Delícia, cara... – ele suspirou. – Valeu ou não valeu a pena?
- Muito! Você é doido, só pode.
- Sou nada! Só queria ter prazer com meu namorado.
- Doido sim!
Nos beijamos, nos arrumamos e em seguida saímos das escadas.
- Como foi a mudança de casa?
- Bem – falei. – Estranho, mas bem.
- Uma pena que você não mora mais no mesmo bairro que eu.
- Verdade, mas fazer o quê?
- É, fazer o quê?
Carlos e eu conversamos um pouco e depois eu saí quase que correndo pro ponto de ônibus. Já estava um pouco tarde demais e eu ainda não sabia como fazia para chegar na minha casa nova.
E como eu desconfiava que ia acontecer, acabei me perdendo. Desci antes do meu ponto e não soube chegar na minha rua. Tive que pedir informação várias vezes e só consegui me localizar, quando já estava quase desistindo de achar meu endereço.
- Finalmente!
Abri a porta de casa com muita pressa. A madrugada estava fria e eu estava com medo. Não sabia dizer se aquele bairro era seguro ou não.
- Caio! Que demora foi essa? – Vinícius estava na sala com o Maicon.
- Me perdi, acredita?
- Se perdeu? Mas se perdeu como?
- Desci antes do ponto. Não consegui achar a rua. Esse bairro é muito esquisito.
- Normal, no começo é assim mesmo, mas depois acostuma. Está tudo bem?
- Sim e por aqui? Alguma novidade?
- Nenhuma. Já jantou, né?
- Já sim.
- Que bom, porque não tem nada pra comer. Não tivemos como fazer.
- Sem crise. Vou pro banho e depois vou dormir. Boa noite!
- Bom dia já – falou Maicon.
Já passava mesmo da meia noite. A brincadeirinha com o Carlos me fez perder um bom tempo no shopping.
- Finalmente você voltou – disse Rodrigo.
- Me perdi – expliquei.
Ele e o Fabrício ficaram rindo da minha cara, mas ia ter troco.
Peguei uma muda de roupa limpa e fui pro chuveiro. Será que era bom? A resposta é sim. Ele era ótimo! A água tinha uma pressão inigualável e a temperatura não ficava atrás. Muito bom mesmo.
O que me deixou meio bravo foi o fato da porta do banheiro não ter trinco. Isso significava que qualquer um poderia abrí-la na hora que bem entendesse. Isso não era legal.
- Caio? – ouvi a voz do Vini fora do banheiro.
- Oi?
- Vou entrar, beleza? Preciso fazer xixi!
- Não pode esperar eu sair?
- Nem precisa, não vou ver nada aí dentro.
Essa era a vantagem de ter um box azul-marinho. Ninguém conseguiria enxergar o seu interior.
- Já entrou, né? Fazer o quê!
- Depois a gente compra um trinco pra essa porta.
- Com certeza!
Quando entrei no quarto, todos já estavam deitados. Eu me joguei em cima da minha cama, peguei meu edredom, me aninhei e fiquei olhando o que estava passando na televisão.
- O que é isso? – perguntei.
- Um documentário sobre a vida de uma tribo de índios da Amazônia – explicou Fabrício.
- E não tem nada melhor para assistir?
- Acredite, não tem nadamelhor que isso – falou Rodrigo.
- É tevê à cabo?
- Uhum – murmurou Fabrício. – Mas não tem canal pornô, nós já procuramos.
- Nem falei nada! Eu, hein.
- Quem precisa de canal pornô com esse documentário? – questionou Vinícius. – Olha a xana cabeluda das índias aí.
Os meninos riram e eu fiquei com nojo. Como alguém poderia sentir tesão por aquilo?
- Meu, isso é broxante! – disse Rodrigo.
- Não curte uma cabeluda? – perguntou Fabrício.
- Tem que ser raspadinha – falou meu melhor amigo. – É melhor pra chupar.
- Também acho – Vinícius concordou. – Ainda bem que a da Bruna é bem lisinha. E cheirosa também.
Meu enjoo foi piorando. Eu fiquei imaginando a cena e fiquei com nojo da boca dos moleques. Como alguém teria coragem de colcoar a boca numa...?
- Meu, olha a rola do velho como é murcha – falou Rodrigo. – Essa daí não levanta nem com uma caixa de Viagra!
Caímos na risada. Como aqueles moleques eram venenosos!
Ficamos lá conversando e falando mal da vida dos índios até o programa acabar e quando acabou, decidimos que era hora de domir.
Foi difícil pegar no sono, mas depois que consegui, tive uma noite tranquila. Mais cedo ou mais tarde, eu ia me acostumar com aquela casa nova.
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UMA SEMANA DEPOIS...
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Com a rotina estabelecida, ficou mais fácil acostumar com nova casa e também com os novos integrantes de nossa república.
Nesses primeiros 7 dias, não só eu como todos os outros conseguimos cirar uma certa intimidade com os irmãos. Eles eram legais, gente fina e extremamente discretos e respeitadores.
Descobri que o Miguel era o mais velho. Ele tinha 23 anos e ia cursar medicina porque o pai e o padrinho iam bancar os estudos. Ele conseguiu uma bolsa de 25% e disse que não poderia perder essa oportunidade. Ele não ia estudar na mesma universidade dos meninos.
Já o Kléber tinha 21 anos. Quem ia bancar a faculdade era a mãe e ao contrário do irmão, ele conseguiu bolsa de 50%. Ele ia estudar na mesma universidade que o irmão.
Às vezes eu me sentia um peixinho fora d’água pois todos naquela casa estudavam e eu não. Talvez o Rodrigo estivesse certo. Eu deveria mesmo me dedicar ao Enem para entrar na faculdade no ano seguinte.
Como os meninos estavam de férias da faculdade, a casa sempre estava cheia. Ninguém conseguiu viajar, nem mesmo o Rodrigo. Os pais dele alegaram que gastaram muito na viagem ao Rio e ele ia ter que esperar para voltar ao Paraná somente em janeiro.
- Pensando, Caio? – perguntou Maicon.
- Oi? Descansando aqui no sofá, Maicon.
- O que está passando aí na tevê?
- Vai começar a novela.
- Ah, entendi. E o nosso gatinho, hein?
- Ai nem me fala! Já estou morrendo de saudade dele.
- É. Pena que não conseguimos trazê-lo.
- Verdade. Ia dar briga, o Rodrigo e o Éverton não gostam de gatos.
- É. O jeito é se conformar mesmo.
- Uhum!
- Vou dar um rolê pelo bairro. Preciso conhecer a região.
- Firmeza. Bom passeio.
- Valeu.
Deitei no sofá e coloquei o controle na minha barriga. Fiquei com os olhos grudados na telinha da televisão. “Paraíso Tropical” estava emocionante.
- Já começou a novela? – Miguel apareceu.
- Já sim.
- Posso assistir aqui com você? O Éverton colocou no jogo lá no quarto.
- Pode, claro!
Ele sentou no outro sofá e nós não falamos mais nada. Quando o folhetim estava para acabar, o Fabrício apareceu com uma tigela de brigadeiro. É claro que eu me esbaldei.
- Tem coisa melhor que chocolate? – perguntei sem nenhuma malícia.
- Sexo – respondeu Fabrício.
Percebi que o Miguel ficou vermelho.
- Eu digo com relação a comida, Fabrício – expliquei.
- Ah, entendi. Depende do ponto de vista, eu gosto muito de salgados também.
- Ah, não. Brigadeiro é incomparável – bati o pé. – Se eu pudesse, comeria a bacia toda.
- Quer engordar, Caio? – Miguem interagiu.
- Não, valeu. Deixa eu assim mesmo. É melhor.
- O que vocês estão fazendo aí? – Rodrigo foi ao nosso encontro.
- Comendo brigadeiro – respondi. – Você quer?
- Você ainda pergunta? – ele sentou em cima das minhas pernas e pegou a tigela da minha mão.
- Folgado! Sai de cima de mim, porra...
- Quem manda você estar deitado? Hum, que delícia! Quem fez?
- Eu – respondeu Fabrício.
- Mandou bem, parceiro. Mandou muito bem!
- Vou fazer mais porque os outros vão querer também.
- É faz mais mesmo – apoiei. – É sempre bom ter um docinho pra degustar.
- Você já comeu demais – reclamou Fabrício. – Tem que deixar pros outros também.
- Malvado – fiquei bravo.
- Acho que é o seu celular que está tocando lá no quarto, Caio – falou Rodrigo.
- Não adianta tentar me tirar daqui, Rodrigo. Eu não vou levantar.
- É sério! Ouve aí...
Abaixei o volume da televisão e ouvi mesmo meu celular tocando. Levantei rapidamente e saí correndo para atender. Quase que a ligação caiu.
- Alô?
- Oi, lindão – era o Carlos.
- Tudo bem?
- Bem e você?
Deitei na minha cama.
- Melhor agora. E aí, como foi o dia?
- Normal. Depois que você foi embora eu não vendi mais nada.
- Ah, mas está valendo. Já vendeu muito esse mês?
- Estou dentro da meta e você?
- Também. Fiz um comparativo com o mês passado, até aumentei meu percentual de vendas.
- Você arrasa, lindão – ele falou. – O que está fazendo?
- Nada! Acabei de deitar na minha cama e você? Indo pra casa, né?
- Aham! Só está deitado? Não está fazendo mais nada?
- Estava assistindo a novela e comendo brigadeiro, mas só isso. Por quê?
- Brigadeiro? Eu quero!!!
- Quer? Então faz, oras.
- Nossa, Caio! Vai me regular um brigadeiro?
- É que já acabou – falei –, mas da próxima vez eu levo pra você.
- Assim espero! É o mínimo que você pode fazer por mim.
- Por que diz isso?
- Brincadeira, bobo – ele riu. – Já vou descer, tenho que desligar. Nós conversamos amanhã, beleza?
- Fachou. Bom descanso aí.
- Pra você também. Boa noite!
- Boa noite, te adoro.
- Eu também.
- Beijo.
- Outro.
Suspirei. Meu namoro estava indo bem. Por mais que eu não amasse o Carlos como amava o Bruno, ele me fazia feliz. Nos dávamos bem na cama e nos respeitávamos acima de tudo. Eu estava torcendo para esse namoro durar muito tempo.
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- Bom dia, Eduarda – fui falar com minha chefe.
- Bom dia, Caio! Tudo bem? – ela arrumou a gola da minha camisa.
- Bem e você?
- Ótima!
- Novidades?
- Nada. Tudo na mesma.
- Que bom. Vou para o meu departamento, qualquer coisa é só me procurar.
- E vice-versa. Bom trabalho!
- Obrigado, igualmente.
- Seu lindo!!! – Janaína me abraçou bem forte.
- Tudo bom, deliciosa?
- Adorei o deliciosa. Pena que você não curte a fruta!
- Deus é mais! Como você está?
- Bem e você?
- Tudo em ordem, graças a Deus!
- Vamos decidir onde faremos o nosso aniversário?
- Onde você quer fazer?
- Tem um barzinho legal lá em Copacabana.
- Como se chama?
Ela disse o nome, mas eu não conhecia.
- É legal mesmo? – indaguei.
- Sim! Toca de tudo naquele lugar. Fica lá na Nossa Senhora de Copacabana.
- Fácil chegar lá – comentei. – Por mim tudo bem. Não tem problema não.
- Então fechado. Podemos dar uma passada lá qualquer dia desses, quero te mostrar o local antes de fechar com eles.
- Combinado. É só marcar!
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No meio do meu expediente, aquela música desconhecida voltou a tocar no rádio da loja.
Fazia um tempo que eu não a ouvia e quando a melodia começou a ser cantada pela dupla sertaneja, foi impossível não ligar a letra ao idiota do Bruno.
- Filho da puta, um dia você ouve essa música, desgraçado!
- Falando sozinho, lindão?
- Oi, Carlos! Pensando alto na verdade.
- Está tudo bem? Você parece bravo!
- Estou mesmo. É que essa música me lembra o meu ex-namorado.
- Que ex? – ele ficou com ciúmes.
- Você não o conhece e nem queira conhecer.
- Já estou com ciúmes, hein? Já estou com ciúmes!
- Bobo!
- É verdade, eu estou mesmo>
- Pode chorar, mas eu não volto pra você... – cantarolei e deixei o Carlos para trás porque tinha cliente na minha parte da filial.
- Olá? Você pode me ajudar? – perguntou a mulher.
- Lógico que sim. Boa tarde! O que a senhora necessita?
- Boa tarde. Eu queria comprar uma máquina de lavar.
- Algum modelo em específico?
- Sim! Já escolhi, eu quero esse daí da Electrolux.
- Esse? – coloquei a mão na máquina.
- Isso! Você pode me ensinar o funcionamento dela?
Fiz o que ela me pediu e rapidamente fechei a venda. Por sorte, ela aceitou colocar 2 anos de garantia estendida. Isso ia aumentar a minha comissão.
- Só passar no crediário com esse papel – falei. – Muito obrigado e parabéns pela compra.
- Obrigada! Seu nome é?
- Caio!
- Obrigada, Caio.
- Eu é que agradeço.
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De repente me deu uma loucura. Eu queria voltar pra academia. Não precisava ser necessariamente a mesma de antes, mas eu queria voltar a treinar.
- Gabriel? – cutuquei o bombadão.
- Oi, Caio?
- Você pode me indicar uma academia?
- Vai voltar a treinar? Finalmente, hein?
- Pois é. Acho que está na hora.
- Então, tem uma pertinho daqui.
- Onde fica?
- É bem fácil. Você vai sair e vai seguir pela calçada à sua direita. Daí você entra na segunda rua e vai reto. É no número 257.
- Como é o nome da academia?
Anotei o nome que ele me disse. Eu ia dar uma conferida.
- E quanto é? É lá que você faz?
- Uhum! É R$ 49,90.
- Mais barato do que eu imaginava. Beleza, eu vou lá depois do expediente.
- Vamos treinar juntos – ele sorriu.
- Talvez. Até mais, obrigado pela informação.
Voltar pra academia me faria muito bem. Eu tinha que me exercitar de alguma forma, não podia mais ficar sedentário do jeito que eu estava.
- E ai, minha branquela? – abracei a Alexia. – Como você está?
- Oi, gato! Estou melhor, graças a Deus.
- Que bom! Eu fico muito contente, de verdade. É assim que nós queremos te ver!
- Eu sei, obrigada pelo apoio. Você e a Jana são amigos de verdade.
- O que é isso, não tem que agradecer. Sabe que te adoro!
- Eu também te adoro.
- Agora nós temos que procurar um bofe para você, né? Tem que dar a volta por cima.
- Verdade. Eu quero um bem melhor que esse daí.
- Jana e eu te ajudaremos, pode ter certeza disso.
Eu só não sabia como ia ajudar, mas tudo bem.
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Não foi difícil achar a academia que o Gabriel falou. Eu não quis esperá-lo porque ainda estava sentindo um pouco de raiva dele.
Entrei e dei logo de cara com a recepção. Havia um garoto lindo, lindo, lindo atrás do computador. Eu fiquei encantado logo de cara!
- Olá, boa noite – além de lindo, ele tinha uma voz extremamente deliciosa. Era um timbre grave e o sotaque carioca era simplesmente perfeito.
- Boa noite... Eu queria me matricular.
- Como se chama?
- Caio!
- Muito prazer, Caio. Wellington.
- Olá, Wellington... – foi impossível tirar os olhos dele.
O moço era jovem, branco, loiro e tinha os olhos azuis. Acho que foi por isso que fiquei louco por ele logo de cara...
- Já conhece nossos planos?
- Não!
- Funciona da seguinte forma...
Que sotaque gostoso! Como eu queria pegar aquele garoto de jeito!
Ele me explicou como funcionava os planos, mas eu nem prestei atenção direito.
- E aí? Gostou dos planos?
- Gostei! Gostei muito!
- Vai fechar?
- Vou.
- Qual plano você vai querer?
- O de R$ 49,90.
- OK. Empresta seu RG e CPF, por favor?
Abri minha carteira e passei meus documentos ao moço.
Ele digitou alguma coisa no computador e eu fiquei esperando.
- Por que não me esperou, Caio? – Gabriel apareceu atrás de mim de repente.
- Porque você ia demorar ainda, Gabo. Eu estava com um pouco de pressa.
- Porra, sinceridade mil aí, hein?
- Pra você ver. Bom treino!
- Obrigado. Você fechou?
- Uhum.
- Demorou! Até mais, mister sinceridade.
- Até, saco de músculos ambulante.
Acho que eu estava voltando a gostar dele. Por mais covarde que ele tivesse sido com a Alexia, eu ainda gostava dele.
- Assina aqui pra mim, por favor?
- Assino!
Eu fazia tudo o que ele quisesse. Como era lindo, meu Deus!
- Pronto.
- Obrigado. Esse aqui é o seu contrato. Quando você pode começar o treino?
- Amanhã mesmo se for o caso.
- Ótimo. Qual o melhor horário para você?
- Esse horário mesmo.
- Beleza. Só um momento que eu vou ver qual personal está disponível amanhã...
Será que ele era personal também? Ou será que ele era só uma espécie de recepcionista?
- Olha, o único personal disponível sou eu. Pode ser?
O QUÊ? ELE NÃO TINHA ME PERGUNTADO AQUILO!!!
- Por mim tudo bem! – e eu ia dizer que não? – Qual o horário?
- 19:30. Pode ser?
- Pode!
- Então está agendado. Se puder, chegue um pouquinho mais cedo para fazer seu exame médico.
- Ah, faz aqui mesmo?
- Sim!
- Então tudo bem.
- Beleza então, Caio! Seja bem-vindo e boa sorte.
- Valeu, Wellington!
- Boa noite.
- Boa noite!
Peguei minhas coisas e fui embora. Algo me dizia que eu ia me divertir bastante naquela academia!
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NO DIA SEGUINTE..
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Tive que sair correndo do shopping, mas cheguei na academia no horário marcado.
- Olá, Caio – Wellington lembrou meu nome. – Preparado?
- Sempre!
- Vou cadastrar sua digital na catraca. Coloca seu indicador nessa luz vermelha, por favor.
- Assim? – indaguei.
- Perfeito. Tira e coloca de novo.
Fiz o que ele pediu e esperei a catraca ficar liberada, mas isso não aconteceu.
- Agora coloca de novo que já vai liberar.
- Uhum.
- Pronto! – ele sorriu. – Agora espera aqui que eu vou chamar o médico para você fazer seu exame.
- Está bem.
Não resisti e o acompanhei com os olhos. Ele era bem gostosinho! Rapidamente o instrutor voltou com um homem, mas este não era bonito como ele, muito pelo contrário.
- Caio?
- Sim?
- Eu sou o Dimas. Vou fazer seu exame médico, tudo bem?
- Claro.
- Por favor, me acompanhe.
- Depois você volta aqui na recepção que a gente começa, belê? – perguntou Wellington.
- Com certeza!
Acompanhei o doutor até uma sala que era mal-iluminada. Ele solicitou que eu sentasse na maca e começou medindo a minha pressão.
- Você faz uso de remédio controlado ou tem algum problema de saúde?
- Não.
- Sua pressão está normal. Tira a roupa e sobe na balança, por favor.
- A roupa toda? – me espantei.
- Não, pode ficar de cueca.
Menos mal. Eu não queria ficar pelado na frente dele. Se fosse o Wellington, seriam outros quinhentos!
- Deixa a coluna ereta para eu medir a sua altura.
O cara mediu a minha altura e verificou o meu peso.
- 1m79 e 65 quilos. Seu MMC está dentro da média. Você é saudável.
- Que bom!
- Pode colocar sua roupa.
Me vesti bem rapidamente e esperei as cenas dos próximos capítulos. O médico ouviu meu coração e em seguida me liberou.
- Entrega esse papel na recepção e pode começar os exercícios.
- Muito obrigado.
O Wellington estava me esperando. Eu entreguei o papelzinho ao gostosão e fiquei esperando as instruções.
- Prontinho. Jà anexei seu exame médico à sua ficha de inscrição. Agora vai se trocar e volta aqui que a gente vai começar o treino.
- Onde fica o vestiário?
- Está vendo aquela portinha lá no fundão?
- Aham.
- Aquele é o vestiário masculino.
- Ah, beleza. Já volto então.
- Estou te esperando.
Quem me dera ele estivesse me esperando em todos os sentidos possíveis. Eu acho que estava apaixonado pelo Wellington. Deve ter sido amor à primeira vista...
Entrei e dei uma conferida no ambiente. Era comum, bem comum. Os chuveiros ficavam no fundo do ambiente e havia vários armários por todos os lados. Percebi que o Gabriel estava se trocando também.
- Já vai começar? – ele perguntou.
- Já sim, Gabo.
- Quem é seu instrutor?
- O Wellington e o seu?
- A minha é a Vivi.
- Ah, legal.
Me troquei bem rapidinho e voltei ao encontro do meu príncipe encantado.
- Que rápido! – ele exclamou.
- Sou rápido no gatilho.
- Percebi. Vamos alongar?
- Vamos sim!
- Vem comigo, garoto.
Segui o professor e ele me levou para frente dos espelhos. Lá ele me ensinou como eu ia alongar todos os meus músculos e eu obedeci todas as instruções que ele me passou.
- Já fez academia antes?
- Fiz sim, mas já faz um tempo.
- Quanto tempo?
- Mais ou menos um ano – respondi.
- E de lá pra cá não fez mais nada?
- Não!
- Complicado, hein? Tem que se exercitar, “carái”.
- Eu sei, mas nem tinha como fazer academia.
- Vamos começar com um treino mais leve então. Os seus músculos precisam voltar ao ritmo de antes, mas isso vai demorar um pouco.
- Entendi.
- Vem comigo, vamos sentar naquela mesa.
Eu o acompanhei. Enquanto caminhávamos, eu dei uma conferida ao meu redor. Havia vários professores naquela academia e isso era bom.
- Senta aí, Caio!
Eu sentei e ele pegou alguma coisa na gaveta. Era uma ficha de treino.
- Diz seu nome completo pra mim?
Fiz o que ele pediu.
- Idade?
- 18 anos.
- Novinho pra “carái”. Altura?
- 1m79.
- Peso?
- 65 quilos.
- Objetivo do treino?
- Ah... Acho que ganhar músculos, né?
- Ganhar não. Você já tem músculos, eles só precisam ser defenidos.
- Isso – senti meu rosto queimar.
- Então vamos começar com algo leve. Vou te passar algo para os braços e para as pernas. Não vou incluir muita aeróbica, beleza?
- Por mim tudo bem. Mas passe também abdominais. Quero ficar com o abdômen tanquinho.
- Quer, é? – ele sorriu. – Então vamos trabalhar bem essa barriga aí...
- Quero! Claro que quero.
- Mas não vai poder desistir da academia, hein? Se quiser ficar em forma, tem que treinar duro.
Duro? Adoro coisas duras...
- Aham! Vou ter que ter alguma alimentação diferenciada?
- Vai sim. Eu vou agendar um horário com nossa nutricionista. Você vai ter que ter uma alimentação bem balanceada à partir de agora.
Desde que essa alimentação não incluísse peixe, para mim estaria tudo bem.
- Vamos lá! Vamos começar. Vem comigo.
Novamente segui o cara. Ele me fez sentar em um aparelho para os braços.
- Nesse aparelho vamos trabalhar os seus bíceps. Segura aqui e empurra, bem devagar.
- Dessa forma?
- Isso! Se estiver muito pesado, você fala.
- Não! Acho até que está leve demais.
- Mas vamos começar com esse peso para não lesionar seu músculo. Você está parado a tempo demais.
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Wellington me acompanhou em todos os exercícios. Além de ser um gato, ele também era muito atencioso.
- Três, dois, um e acabou! – o delícia tocou no meu ombro. – Relaxa bastante, respira pelo nariz e solta pela boca.
Eu estava suado e cansado. Naquele momento não senti nenhuma dor, mas eu tinha certeza que meus músculos mais cedo ou mais tarde iam acabar reclamando.
- Acabou por hoje? – perguntei.
- Sim! Pode ir pra ducha.
- Aqui fica aberto até que horas?
- 23:00.
Perdi a noção do tempo. Não sei quanto tempo fiquei treinando e também não me importei com esse pequeno detalhe.
- Beleza! Vou nessa então – anunciei. – Obrigado pela ajuda.
- Por nada! Amanhã me procura antes de começar porque vai ser treino de perna e abdômen.
- Perfeito.
- Só que amanhã eu também tenho que dar um auxílio aos meus outros alunos, então não ficarei ao seu lado a noite toda, tudo bem?
Ah! Que peninha...
- Sem crise. Você tem muitos alunos?
- Cada instrutor pode ter no máximo 10 alunos. Eu estou com minha equipe fechada.
- Ah, isso é bem legal. Sinal que a academia se preocupa com os alunos.
- Isso mesmo. Por isso que nós temos vários professores.
- Muito bacana! Vou nessa, Wellington. Até amanhã.
- Até amanhã, Caio. E não precisa me chamar de Wellington, pode me chamar de Well se você quiser.
- Falou então, Well – sorri e estendi a mão.
A pele dele não era sedosa. Era um pouco áspera. Devia ser excesso de musculação.
- Até amanhã.
- Até – falei e em seguida fui para a ducha.
A água era divina. Me lembrou muito o jato da ducha da outra academia que eu frequentava.
Resolvi não aproveitar muito aquele banho porque já estava um pouco tarde e eu não confiava inteiramente no novo bairro onde estava morando.
Quando saí pela catraca, Wellington estava ajudando um homem a utilizar o equipamento e nós não nos falamos mais.
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- Posso saber o que aconteceu com você? – perguntou Rodrigo.
- Eu fui pra academia, lembra?
- Ah, é. Eu tinha esquecido disso.
- E como foi o treino? – perguntou Fabrício.
- Normal. Por enquanto não está doendo nada.
- Vai ver amanhã de manhã como vai estar doendo – disse Rodrigo.
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Se foi uma praga ela pegou direitinho. Eu acordei com meus braços doendo muito. Parecia até que meus músculos estavam em chamas tamanha as dores que estava sentido.
- Bom dia – disse Fabrício.
- Bom dia – gemi.
- O que foi? Está se sentindo mal?
- Dor nos braços, cara.
Ele deu risada.
- O que fez nos braços, Caio? – Vinícius perguntou.
- Ué, você não estava na Bruna?
- Uhum. È que minhas roupas acabaram e eu preciso pegar mais algumas. Você não respondeu a minha pergunta: o que fez nos braços?
- Voltei pra academia, Vini.
- Ah, é isso. Toma um relaxane muscular.
- Vou fazer isso sim.
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NO MêS DE AGOSTO...
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Como eu já estava treinando há mais de duas semanas, meus músculos já estavam acostumados com a nova rotina de exercícios e já não doíam mais.
- Três, dois, um – disse Wellington. – E relaxa!
- Agora é abdômen?
- Isso. Vamos lá?
A cada dia que passava eu me sentia mais disposto. Era incrível como a série de exercícios físicos estava me deixando renovado e cada vez mais animado.
- Sequência de 15, hein? – o instrutor me lembrou.
- Pode deixar.
- Amanhã você vai ter consulta com a Iasmin. Não se esqueça.
- Não, eu não esquecerei.
Iasmin era a nutricionista. Eu estava ansioso para saber o que ela ia falar a respeito da minha alimentação.
- Só mais dois...
- Um – eu fiz careta. – E dois...
- Relaxa e repete a série mais duas vezes. Já volto.
- Vai lá, Well.
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- E aí, Caio? Beleza? – Kléber me fitou com curiosidade.
- Em paz e você?
- Muito bem. Você gosta de jogar baralho?
- Gosto, por quê?
- Meu irmão e eu queremos jogar truco. Sabe jogar?
- Sei – lembrei da época de escola. – Eu matava aula para jogar truco na escola.
- Também fazia isso – ele riu. – Quer jogar com a gente?
- Quero! Quero sim, estou sem sono mesmo. Só seremos eu, você e seu irmão?
- Não. O Fabrício vai jogar também. Ele foi ao banheiro e já volta.
- E onde está seu irmão?
- Foi pegar o baralho – explicou Kléber.
- Entendi! Vou guardar minhas coisas e já volto, beleza?
- Uhum.
Fazia tempo que não jogava, mas eu ainda lembrava das regras. Fiz par com o Fabrício e logo na primeira rodada nos ganhamos um ponto.
- Bate aqui, parceiro – Fabrício levantou a mão direita e eu encostei a minha na dele.
- É “nóis” – falei.
- Sorte de principiante – falou Miguel.
- Aqui é “profissa”, “mermão” – falou Fabrício.
Foi muito divertido. Principalmente quando o Miguel perdia as estribeiras e gritava “truco”.
- TRUCO – ele berrou e eu dei um salto. Kléber caiu na gargalhada.
- Você assustou o Caio, mano.
- Cuidado aí, Caio. Não quero ser responsável pelo seu enfarto.
- Sou bom do coração, não se preocupe.
Isso era uma grande verdade. Se eu sobrevivi depois do que o Bruno me fizera, não haveria doença capaz de estragar o meu coração.
- E aí, vão descer ou arregar? – perguntou Miguel.
´- E aí, parceiro? – perguntei.
- Nada.
- Nada também.
- Melhor não arriscar!
- Beleza.
- Bate aqui, maninho – Miguel estendeu a mão ao irmão.
- Somos imbatíveis, hein mano?
- Sempre!
- Menos, bem menos – falou Fabrício.
Jogamos três partidas onde Fabrício e eu ganhamos apenas uma. Só não levamos o jogo adiante porque já tinha passado da meia noite.
.
Meu aniversário estava cada vez mais próximo e foi impossível não pensar no que o Bruno tinha feito um ano antes daquele dia.
Nessa época, eu confesso que fiquei um pouquinho vulnerável e entristecido.
- O que foi, criatura? – Janaína se aproximou de mim.
- Nada, por quê?
- Nada é a porra. O que você tem? Por que está triste desse jeito?
- Dá pra perceber, é?
- Dá sim. Você é meio transparente demais.
- Ah, estou pensando no meu ex.
- No ex? Por que no ex? Não está legal o namoro com o atual?
- Está sim, ele é bacana, mas sei lá. Faz um ano que o Bruno foi embora e eu tenho pensado muito nisso.
- Você é idiota, Caio? Se liga, meu! Não tem que ficar pensando nisso não, você tem que dar a volta por cima!!!
- Já dei a volta por cima – falei.
- Pois não é o que parece. Se tivesse dado a volta por cima, não estaria pensando nele.
Só foi um flash, Jana! É impossível não pensar nele, amanhã faz um ano que ele me deixou.
- Você deveria soltar fogos de artifício para comemorar essa data. Se ele te largou é pórque não te ama e se ele não te ama, não merece que você fique pensando nele.
- Você tem razão, mas é muito difícil.
- Difícil é o cacete! Difícil é acertas na Mega Sena. Bola pra frente e pensa nesse bofe lindo que você arrumou. Já namorou com ele essa semana?
- Claro! Namoramos todos os dias.
- Então vai namorar de novo, caralho. Para de pensar nesse infeliz aí.
- É, você tem razão – eu sacodi a cabeça com meus olhos fechados. – Eu só vou pensar no Carlos à partir desse momento.
- Também não precisa exagerar! Também pode pensar no meu aniversário que é domingo!
- Eu sei que seu aniversário é domingo, não precisa ficar me lembrando não.
- Grosso! Dou na sua cara, cachorro!
- Bate então. Mas bate com força porque eu gosto – brinquei.
- Mulher de malandro! – ela riu. – O que vai me dar de presente?
- Nada! Minha amizade – brinquei.
- Você que não me apareça com um belo presente lá em casa, quebro todos os seus dentes e faço um colar!
- Não tem problema, Eu compro uma dentadura.
- Vai ficar muito fashion.
- Putz, nesse domingo agora eu tenho Enem!
- Oi? Porra, mas logo no meu aniversário? Não tem outro dia pra fazer essa prova não?
- Não fui eu que escolhi a data da prova, né morena?
- Fala quem foi que vou dar um beijo na boca. Eu sei que o dia do meu aniversário é mega importante pro Brasil, mas marcar o Enem pra essa data? Ninguém merece!
- Como você é modesta, Jana! Impressionante.
- Por que não me chamaram pra reunião? – perguntou Alexia.
- Porque você estava atendendo – respondi. – Acredita que a Jana está se sentindo a rainha da cocada preta só porque o Enem é no dia do aniversário dela?
- Ah, normal. Quando essa daí não se sente?
- Olha só – Janaína bateu o pé direito no chão. – Faz favor de me respeitar, hein? Faz favor de me respeitar!
- A gente te respeita muito – falou Alexia.
- Desse jeito? Imagina se não respeitassem. Nem sou metida.
E ela não era mesmo. A Janaína era um poço de simplicidade e eu era grato por minha amiga ter me levado para trabalhar naquela empresa.
- Clientes na área – falei. – Vamos circular!
.
Henrique me puxou com tanta força que meu corpo doeu quando encostou com o dele. Nosso beijo foi urgente, foi apressado e ficou claro que ele queria ficar comigo tanto quanto eu queria ficar com ele.
- Me beija, Caio! Me beija que eu estou com saudades de você.
- Morrendo de saudades de você, Henrique!
Foi tudo muito rápido. Fomos para a cama e rapidamente tiramos toda a roupa. Comecei fazendo oral nele e depois os papeis se inverteram.
- AH – eu gritei de prazer.
Carlos me colocou de bruços na cama, subiu em cima de mim e começou a me penetrar com muita maestria. Ele foi extremamente cuidadoso e carinhoso. Pelo que pude perceber, ele só queria me proporcionar um momento de prazer.
E conseguiu. Não foi preciso nenhuma outra posição. Acho que nós estávamos tão necessitados daquilo que apenas uma posição foi necessária para alcançar o auge do prazer.
- Eu te amo – ele falou no meu ouvido. – Eu te amo muito!
Virei e comecei a beijá-lo. Senti a mão direita dele acariciar a minha face e fiquei todo derretido. Ele estava sendo perfeito, simplesmente perfeito!
- Vem, amor – Carlos puxou meu cabelo e mordeu meus lábios. – Eu quero você!
Eu o peguei na posição invertida. Fiquei deitado e ele por cima. Não precisou de muito para eu gozar de novo e pela primeira vez, dentro dele.
- Ah... – urrei e ele também. Eu te adoro, sabia?
- Não mais do que eu!
Ele caiu exausto ao meu lado e deitou a cabeça no meu peito. Eu respirei fundo e tentei recobrar as minhas energias. Como aquilo tinha sido bom!
Eu fechei meus olhos e o rosto dele apareceu nos meus pensamentos. Tão lindo! Lindo como sempre foi...
Bruno... Bitch... O meu Bruno, a minha Bitch! 1 ano havia passado e ele ainda era tão presente na minha memória. Eu era capaz de sentir o perfume dele naquele momento. Era como se ele estivesse deitado no meu peito e não o Carlos.
De que adiantou me fazer de forte tanto tempo? De que me adiantou engatar um novo relacionamento se era nele que eu estava pensando depois do prazer?
Suspirei profundamente e senti um vazio dentro de mim. Me senti sujo, me senti podre por estar pensando nele e não no Carlos! Por que eu estava fazendo isso?
Senti vontade de sair correndo e deixar o Henrique pra trás. Eu não era digno de estar ali com ele! Eu não merecia o carinho que ele sentia por mim...
Por que isso estava acontecendo? Por que depois de tanto tempo? será que era só pela data? Será que era só porque estava completando exatamente 1 ano que eu não o via? 1 ano que eu não falava mais com ele?
Como eu fiquei frágil. Como eu fiquei abalado sentimentalmente falando... Como eu fiquei carente no sentido literal da palavra!
De que adiantava um namorado se era dele que eu gostava? Nada! A resposta é nada! Eu estava enganando ao Henrique e o pior de tudo: estava enganando a mim mesmo!
Comecei a chorar. Que saudade eu senti do Bruno naquele momento! Que vontade enorme de vê-lo, de abraçá-lo, de sentir o seu cheiro, de ouvir sua voz...
- Caio? – Carlos falou, mas era como se eu estivesse ouvindo a voz dele. – Caio? O que aconteceu, amor? O que você tem? Por que está chorando?
- Me abraça, Henrique! Me abraça forte, por favor...
As posições se inverteram. Ele me abraçou e eu deitei a cabeça no peito dele. Que vergonha eu estava sentindo!
- O que você tem, Caio? Aconteceu alguma coisa?
- Não... Não fala nada... Só me abraça! Só me abraça, por favor!
E eu fiquei ali, deitado no peito do meu namorado, mas pensando nele. Pensando no garoto que quase acabou com a minha vida. Pensando naquele idiota que me abandonou sabe-se lá pór qual motivo...
Chorei, mas não por muito tempo. Sem mais nem menos, toda aquela saudade que eu estava sentindo se transformou em revolta.
Revolta por estar pensando nele quando deveria estar pensando no Henrique, revolta por ter lembrado dele depois de tanto tempo e revolta por ele ter saído do país sem me falar um “a”!!!
- Quer conversar? – perguntou Henrique. – Aconteceu alguma coisa? Fiz algo de errado?
- Não, lindão! Você foi perfeito. Só estou me sentindo carente. Cuida de mim?
- Não precisava nem pedir isso! Ei, olha pra mim...
Eu olhei nos olhos dele. Ele secou uma lágrima que ia começar a escorrer e disse:
- Eu te amo, Caio! Não fica assim... Eu estou aqui com você!
Pronto. Só isso foi necessário para eu me acabar de novo. Como ele estava sendo fofo comigo... E eu? Eu estava sendo um completo cafajeste! Fiquei com nojo de mim mesmo.
- Nâo chora mais, tá bom? Eu vou cuidar de você – prometeu Carlos. – Dorme aqui hoje?
Depois de um tempinho eu me acalmei de novo. Sentir o calor do Carlos Henrique estava me fazendo bem. O abraço e o carinho que ele estava me fazendo, me fizeram me sentir bem melhor com o passar do tempo.
- Nem acredito que você vai dormir aqui hoje, sabia?
- É eu também não – disse. – Vai ser muito bom. Posso dormir abraçado com você?
- Só não pode como deve! – Carlos passou os dedos nos meus lábios.
Eu ia dormir na casa dele porque no dia seguinte ia fazer o Enem e a escola era perto de onde ele morava. Se ainda estivesse morando na mesma república, isso não teria sido necessário.
- Me beija? – ele pediu.
Não foi necessário outro pedido desses. Eu subi no colo do cara e beijei os lábios dele com muita ternura. Queria ser tão fofo quanto ele estava sendo comigo.
Não demorou para ambos ficarmos excitados novamente. Eu me preparei para o 2º round e dessa vez foi ainda melhor que a 1ª.
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Acordei na manhã seguinte e percebi que o Carlos não estava na cama. Onde será que ele estava?
- Carlos? Carlos, onde está você? – já comecei a ficar desesperado.
- Aqui, amor! Na cozinha...
Que susto! Pensei que ele tinha me largado sozinho naquela casa. Eu sentei na cama, respirei fundo e procurei meu celular. Já estava quase na hora de ir pra prova do Enem.
- Bom dia!!! – ele apareceu com uma bandeja de café da manhã.
- Bom dia! O que é isso? Enlouqueceu? Não precisa disso não...
- Não está com fome?
- Estou, mas não precisava ter se dado ao trabalho!
- Até parece que eu ia deixar meu namorado com fome, né?
- Seu bobo, você é lindo demais!
- Vai, amor! Come, se alimenta que você está precisando se recuperar de ontem...
- Estou mesmo – sorri. – Você me cansou ontem.
- E eu nem comecei ainda!
Ele fez pão com manteiga e leite com achocolatado. Eu comi dois pães e me senti satisfeito.
- Obrigado. Estava uma delícia.
- Desculpa não ter mais nada – ele ficou envergonhado.
- Não tem problema, isso já é suficiente e você nem precisava ter se preocupado.
- Precisava sim! – ele colocou a bandeja no chão, subiu no meu colo e me deu um beijo bem apaixonado.
Henrique beijou todo o meu corpo e tentou tirar a minha cueca para um 3º round de sexo, mas eu não permiti. Eu tinha que ir pra minha prova...
- Não! – o barrei. – Não posso. Eu tenho prova, lembra?
- Mas ainda está cedo, amor!
- Não, não está não! Já são quase 10:30!!!
- Cedo demais, cara.
- Preciso tomar banho, preciso me arrumar ainda... Tenho que chegar lá cedo.
- Relaxa que dá tempo.
Ele me despiu e colocou tudo dentro da boca. Eu não resisti. Deitei e deixei ele continuar com o que tinha começado. A prova que fosse pros quintos dos infernos!
- UI – gritei.
- Delícia!
Eu puxei o Carlos pra cima de mim e também tirei a cueca dele. Já que tinha começado, eu ia até o fim. Peguei o gel e uma camisinha e pedi para ele encapar o meu pênis. Eu não me importei com mais nada, só queria sentir e proporcionar prazer ao Henrique.
Pedi para ele ficar de 4 e para a minha surpresa ele aceitou. Subi na cama, encaixei meu pau na entrada dele, me debrucei nas suas costas e comecei a meter, sem me preocupar com nada porque ele já estava acostumado com aquilo.
- AI – ele gemia e eu ficava ainda mais puto do que já estava.
- Queria, não queria? Agora aguenta! – falei.
Enquanto eu penetrava, beijei as costas e a nuca do meu namorado. Não sei se estava sensível demais ou se estava acontecendo algum problema, só sei que gozei muito rapidamente. Confesso que até fiquei frustrado.
Caímos na cama e ele me deu um beijo bem demorado. Só depois que o beijo acabou eu disse:
- Agora eu preciso ir!
- Não vai, fica! Fica comigo, amor. Deixa essa prova pra lá e passa a tarde comigo, por favor!

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