sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Capítulo 98

Faria qualquer coisa para ele aceitar a minha proposta.
Contudo, eu sabia que aquilo era praticamente impossível. Como o Vinícius mesmo disse, ele namorava e não queria trair a namorada.
E confesso que se eu fosse o pivô de uma seperação ou uma possível crise de consciência, não iria me sentir nada bem.
- Sem chance, seu safado – ele passou o dedo no meu lábio inferior.
- Que pena, você não sabe o que ia perder!
- Pior é que eu sei, mas mudemos de assunto. Se essa dor de garganta permanecer, você me avisa, hein?
- Mas já é para sarar com essa injeção? Não são 4 doses?
- 3 ou 4, mas tenho certeza que você melhora com menos porque a infecção está bem no comecinho.
- Entendi.
- Boa sorte. Isso daí é horrível.
- Foi horrível lá em São Paulo, isso sim! O pior de tudo foi ter que tomar uma Benzetacil na poupança.
- Imagino que você deva ter sofrido horrores. Essa é a pior injeção que existe.
- E eu não sei? Deus me livre de encarar outra dessas novamente.
- Nunca tinha tomado uma?
- Já sim. Acho que uma ou duas vezes, mas quero mais não. É ruim, dói meu popô!
- Mas com outro tipo de dor você não se incomoda, né safadinho?
- Ah, não. Essa dor aí eu não me incomodo porque depois ela vira prazer, muito prazer. Principalmente se for com uma delícia como a sua...
- Palhaço – ele deu risada e caiu de costas na cama. – Você é muito safado!
- Você acha? – questionei.
- Eu tenho certeza. Deixa eu te perguntar uma coisa: você está namorando de novo?
- Uhum.
- E desde quando isso?
- Faz alguns dias só.
- E mesmo assim você ainda quer ficar comigo? Não fica satisfeito nunca?
- Estou há muito tempo sem sexo, meu querido.
- Está? Ainda não foi pra cama com ele?
- Não!
- Quanto tempo exatamente?
- Ah, nem faço ideia. De verdade, não me recordo quando foi a minha última vez.
- Ah, não brinca? Faz tanto tempo assim?
- Estou subindo pelas paredes – eu disse isso mordendo meus lábios pra ver se ele mudava de ideia.
- Coitado, só lamento! – Vini riu.
- E você? Quando foi a sua última vez?
- Hoje – ele sorriu.
- Aham, vou fingir que acredito.
- É verdade. A Bruna e eu estudamos juntos, “mermão”!
- Na mesma sala?
- Não, na mesma faculdade.
- Entendi. E vocês transam na faculdade?
- Exato. Nós achamos um esconderijo que usamos para nossas brincadeirinhas.
- Ah, pelo amor de Deus. Vou fingir que eu acredito.
- É verdade, Caio. Juro por Deus e pelos meus pais. Tem uma salinha lá que é reservada só para guardar carteiras velhas. Nós vamos lá e o negócio ferve!
- Você não tem vergonha na cara não, doutor Vinícius?
- Não! Nem um pouco.
- Percebi! Queria ver se alguém pegasse vocês.
- Ah, não. Nós somos muito cautelosos, sempre prendemos a porta com as carteiras para ninguém entrar. Bom demais – ele terminou a frase com um sorriso.
- E mesmo você tendo transado hoje, ainda está com esse negócio duro desse jeito?
- Claro! Ele só vai sossegar depois de umas três, quatro no dia. E você sabe disso.
- Eu? Eu não sei de nada – me fiz de desentendido.
- Agora você não sabe, né? Safado...
- Sou mesmo – mostrei a língua e também caí na cama.
- Com essa correria do Rodrigo, nem tive tempo de correr atrás da república nova...
- Putz, pode crer! Eu nem me lembrei disso mais.
- Mas eu não esqueci. Só não tive tempo de correr atrás disso ainda.
- Mas como vamos fazer? Nós vamos alugar uma casa na imobiliária?
- Eu cheguei a pensar nisso – Vinícius colocou as duas mãos atrás da nuca –, só que não vai dar certo, porque assim nós vamos ter que mobiliar a casa e não vamos ter dinheiro pra isso. Pelo menos eu não vou ter.
- Eu também não!
- Pois é. Então o jeito é procurar outra casa que esteja conveniada com a faculdade.
- E como faz isso? Nem sabia que isso existia!
- Na verdade eu não sei. Eu fiquei sabendo dessa casa por intermédio de um amigo que já se formou.
- Hum.
- Eu acho bem bacana esses convênios com repúblicas.
- Mas como funciona?
- Não é nada formalizado, é tudo no boca a boca. O dono da casa fala para alguém que espalha a informação até outro alguém se interessar. É mais ou menos assim.
- Ah, eu pensei que era um tipo de convênio com a faculdade. Algo formalizado, tudo bonitinho.
- Não. Eu me expressei mal. Vou dormir, Caio. O sono está falando mais alto, esses últimos dias têm sido bem corridos pra mim.
- Faço ideia. Medicina deve ser “uó”!
- Não só pela faculdade, mas por tudo que tem acontecido. Estou bem cansado.
- Quer uma massagem?
- Não, seu aproveitador – ele jogou um travesseiro em cima de mim. – Obrigado!
- Como você é sem graça – brinquei. – E estraga prazeres!
- Vai fazer massagem no seu namorado! A propósito, é aquele lá com quem você brigou ano passado?
- O Bruno? Não, Deus me livre, está repreendido no nome do Senhor!
- E ele se chama Bruno é? Que invejoso, só porquê a minha namorada linda e gostosa se chama Bruna?
- Chama Bruno sim aquele desgraçado, tomara que tenha sido abduzido por uma dúzia de ETs – eu falei. – E o invejoso no caso é você, você começou a namorar com ela bem depois que eu terminei com ele. Ou melhor, que ele terminou comigo.
- Fazer o quê, né? Não escolhi a namorada pelo nome e sim pela bunda, pelos peitos...
- Por que os heteros só pensam nisso, hein? Não olham a mulher pelo interior? Só pelo par de coxas?
- E também pela bunda. Pelos seios... – ele repetiu rindo.
- Ai, cala a boca. Cala a boca e vai dormir, vai?
- Vou mesmo. Vou porque baixou o sono aqui numas condições... – ele bocejou. – Boa noite e boa dor na nádega aí.
- É seu idiota, está doendo mesmo.
- Por isso te desejei boa sorte. Até amanhã!
Eu não falei mais nada. Aquele comentário do Vini me fez lembrar do idiota do Gabriel. Como eu ia contar pra Alexia o que tinha acontecido?
.
Quando eu cheguei na loja, a primeira coisa que fiz foi procurar a Janaína para contar o que tinha acontecido.
- O que foi, menino? Precisa me puxar desse jeito? – a negra reclamou. – Com outra dessas você tira meus ossos do lugar!
- Eu tenho algo muito sério para te contar.
- O que foi? O que aconteceu?
- Não sei se você está sabendo, mas o Gabriel e a Alexia não estão mais juntos.
- Não estão? O que eu sei é que ele está mudado com ela, só isso. Já terminaram? Ela te falou isso?
- Não. Quem me falou foi ele. Eu conversei com ele ontem e perguntei o que tinha acontecido, perguntei por que ele se distanciou da Alexia e não tive uma resposta lá muito agradável.
- O que aquele monte de músculos de cavalo disse?
- Ele foi bem claro: disse que não quer mais porque já conseguiu o que queria. Agora ele vai partir pra outra.
- Como é que é?
- Isso mesmo que você ouviu.
- Calma aí, Caio. Repete que eu acho que estou ficando surda – Janaína começou a ficar brava.
- Pois é, eu também pensei isso, mas infelizmente é verdade. A mais pura verdade. Ele disse que já comeu mesmo, agora não quer mais.
Desde que eu a conhecera, nunca vi aquela mulher tão brava como daquela vez. Ela ficou tão irritada, mas tão irritada que parecia até possuída no sentido literal da palavra.
- Fica calma que nós estamos no nosso ambiente de trabalho.
- Como você quer que eu fique calma depois do que você me contou?
- Eu sei que é difícil, mas você precisa se controlar. Eu também estou com muita raiva dele.
- Raiva? Eu estou com ódio desse desgraçado! Ódio, nojo e... e... e sei lá mais o quê!
- Ele é um trouxa mesmo.
- Trouxa? Ele é um verme, é um inseto daqueles bem nojentos que merece ser esmagado! Ah, se ele estivesse aqui agora... Eu juro que quebrava a cara dele com um tapa só!
- Não tem como fazer isso, nós estamos trabalhando!
- Foda-se! Foda-se! Eu não quero nem saber... Ele brincou com minha amiga, ele a usou e descartou como quem descarta um papel higiênico usado! Isso não se faz!!!
- Eu sei disso, mas pode ter certeza que o que é dele está guardado. O que me preocupa nessa história é a Alexia. Ele é o de menos!
- Pior que você tem razão. Como nós vamos dizer isso pra ela?
- É isso que eu queria saber...
- Quer saber? – ela bufou. – Nós não vamos falar nada.
- Não? Como não? Nós temos que abrir os olhos da nossa amiga, Jana!
- Não, isso não compete a nós dois. Quem vai falar pra ela é ele. É ele que vai assumir a responsabilidade. Eu não vou falar nada e você também não vai. É ele que vai falar e eu quero só ver qual vai ser a reação da Alexia!
- Você acha mesmo que isso é o melhor a ser feito?
- Sim é o melhor. E ele vai falar ainda hoje.
- Como você pode ter tanta certeza disso?
- Porque se ele não falar, ele vai se ver comigo. E se prepara, que agora eu fiquei preta passada na chapinha e estou virada no sessenta. Ou esse infeliz resolve essa situação hoje, ou eu não me chamo Janaína Santos.
.
A Janaína ficou mesmo muito brava com a história do Gabriel. Quando ela o viu, quase teve um troço e não disfarçou o que estava sentindo.
- Por que a Jana está assim? – ele perguntou. – Aconteceu alguma coisa?
- Não sei – fui curto e grosso e saí andando.
- Ei, vai me deixar falando sozinho?
- Nós dois não temos nada pra conversar.
Quando o término do meu expediente se aproximou, a Janaína chamou o Gabriel para conversar e falou tudo o que estava preso na garganta dela. Ainda bem que a garota soube controlar o tom de voz, mas não disfarçou a irritabilidade e o estresse que estava sentindo.
- Belo amigo você, hein Caio? – ele foi falar comigo. – Eu te conto uma coisa e você vai e fala pra louca da Janaína! Bom saber que não posso contar com você.
- Olha, Gabriel, me desculpa, mas eu não gosto de pessoas traíras.
- Traíra? Eu?
- Você sim. Você usou a Alexia, brincou com ela e agora está descartando a garota como se ela fosse um papel de bala. Isso não se faz!
- Caio, eu não estou apaixonado por ela, sacou? Eu não vou levar um relacionamento com ela porque não rolou sentimento, entendeu?
- Ah, mas não era isso que você falava em São Paulo, Gabriel! Não era isso que você falava, você engatou um namoro com a menina só pra levá-la pra cama? Onde é que já se viu fazer isso?
- Caiô, normal, mano! Eu não sou nem o primeiro e nem o último que vai fazer isso, cara. Acorda!
- Quem tem que acordar aqui é você. Eu gostava muito de você, Gabriel! Te considerava um amigão, mas depois dessa percebi que você não passa de um aproveitador.
- E você não passa de um boca aberta! É isso que você é...
- Melhor ser boca aberta do que ser que nem você.
- Firmeza, Caio. Firmeza. Se você acha que sou tão errado assim, é só parar de falar comigo.
- Se você quer assim, assim será.
- Ótimo então!
- Só vai falar com a Alexia, por favor. Ela está sofrendo com isso.
- Eu vou falar, mas não porque você e a Janaína pediram. Vou falar pra ela parar de encher meu saco.
Que garoto mais ridículo. Ele caiu totalmente do pedestal pra mim. Se eu soubesse que ele era desse jeito, teria ficado com o Carlos no quarto no hotel em São Paulo e não com ele.
.
Encontrei um Rodrigo disposto e animado naquela noite. Ele estava com a aparência renovada e parecia que já não estava sentindo mais nada.
- Está melhor, hein? – afirmei.
- Graças a Deus eu estou ótimo. Amanhã eu já saio daqui e vou pro quarto!
- Graças a Deus, Digow. Fico tão aliviado...
- Eu também fico.
- Você nos deu um susto danado.
- Eu sei. Desculpa.
- Oh, amigo! Não tem que pedir desculpas não...
- Agora que eu estou melhor, nós já podemos conversar?
- Já disse que aqui não é lugar pra isso, Rodrigo Carvalho!
- Mas Caio, é que eu estou com isso preso na garganta há muito tempo. Eu preciso te contar pra me livrar de um peso enorme nas minhas costas!
- Não quero saber de nada!
- Por favor, vamos conversar! É sério...
Eu suspirei e revirei meus olhos. Ele estava tocando tanto naquele assunto que eu estava começando a ficar curioso e pelo jeito, não iria conseguir adiar o assunto por muito mais tempo.
- Fala, cacete. O que você quer tanto me contar sobre aquele... garoto?
- Primeiro de tudo, promete que não vai ficar chateado comigo?
- É tão grave assim?
- Isso quem vai ter que me dizer é você!
- Fala logo. Agora você me deixou preocupado.
- Promete que não vai ficar bravo comigo? Nem chateado?
- Prometo! Juro que não ficarei.
Ele ficou calado por um minuto, mas não desviou os olhos dos meus.
- É assim... Eu vou direto ao ponto...
- Então fala logo! Aconteceu alguma coisa com ele? – eu fiquei preocupado e meu coração ficou minúsculo.
- Não. Não sei. Eu não tenho mais contato com ele, né?
- O que é então? O que você sabe a respeito dele?
- Vou falar porque não aguento mais esse peso na minha consciência, seja o que Deus quiser! Eu... eu sabia que ele...
- Sabia que ele o quê?!
- Eu sabia que ele ia te abandonar, pronto falei! É isso...

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