quarta-feira, 1 de abril de 2015

Capítulo 70²

A
decisão do Fabrício era mais que natural e previsível.
O melhor que ele tinha a fazer quando o filho saísse do hospital, era realmente ficar ao lado dele. E continuar morando na república, não seria benéfico para a criança.

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O Nícolas não merecia ficar exposto no meio de oito marmanjos, que muitas vezes não sabiam respeitar a individualidade uns dos outros. O menino precisava de um lugar sadio para se desenvolver, para crescer, para aprender a viver. E teria lugar melhor do que ao lado do pai?
- Eu já esperava por isso – Vinícius estava sério.
- Eu também – confessou Rodrigo.
- E quando você vai? – eu já comecei a ficar triste.
- Eu não sei ainda... Estou tão preocupado com meu filho que não to com cabeça pra procurar casa, mas eu tenho que resolver isso o mais rápido possível.
Ia ser extremamente doloroso não conviver mais com aquele cara. Eu já convivia há tanto tempo com ele, que deixar de conviver assim de uma hora pra outra seria realmente dolorido.
Porém eu compreendia a necessidade que ele tinha de cuidar do filho, que tão jovem já estava passando por poucas e boas. Seria realmente o melhor e o mais coerente a ser feito naquele momento.
Nós quatro ficamos conversando e o Vinícius se propôs a ajudar o melhor amigo. Ele procuraria a casa para o Fabrício e assim um problema seria minimizado.
- É um ciclo que está encerrando – ele deitou e ficou olhando pra cama do Vinícius.
- E outro que está começando – falou Rodrigo.
- E esse vai ser muito melhor do que qualquer outro que você já teve em sua vida – concluí o assunto.
Então o jeito seria esperar. Independentemente de qualquer coisa, eu estava ao lado dele pro que fosse. E se dependesse de mim, eu também ajudaria no que fosse necessário para o bem-estar dos dois.
Só que isso não iria diminuir a dor que eu ia sentir à partir do momento que o Fabrício saísse de casa. Eu já estava sofrendo por antecipação!
E isso se deu pelo fato do meu apego com meus amigos. Eu sempre fui desse jeito, sempre me apegava muito às pessoas e quando elas tinham que ir embora, era uma verdadeira tortura chinesa ter que me despedir.
Só de pensar que mais cedo ou mais tarde isso também ia acontecer com o Rodrigo, os meus olhos já ficaram cheios de lágrimas. Eu não queria nem pensar como seria a separação com o meu melhor amigo... Ia doer demais!

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Mas seria um mal necessário. Uma hora, ele teria que voltar pro Paraná e era melhor eu começar a me preparar psicologicamente para quando isso fosse acontecer.
E com relação a vaga do Fabrício na república? Será que alguém ia ocupar? Eu fiquei curioso nesse sentido, mas resolvi não perguntar nada naquele momento. O menino tinha outras prioridades e preocupações para ficar pensando em um mero detalhe como aquele.
- Acho que já peguei tudo – olhei pro cestinho do supermercado e refiz a lista mentalmente. Será que eu estava esquecendo algo?
- Eu não aguento mais comer ovo – ouvi a voz de uma criança nos arredores.
- Eu não tenho dinheiro para comprar carne, meu filho – era a voz de uma mulher.
- Mas, mãe, eu já estou enjoado!
- Eu sei, filho; eu sei, mas eu não tenho condições de comprar carne, não tenho!!!
Mudei de corredor e vi uma mulher muito humilde ao lado de um menino um tanto quanto magricela. Eu engoli em seco e senti meu coração ficar partido ao meio, ou melhor, espatifado em milhares de pedaços.
- Moço, me vê um quilo de bife e um frango inteiro, por favor – falei ao açougueiro.
- É pra já!!!
Eu sei o que era passar fome. Eu sabia o que aquele menino estava sentindo. Eu tinha a real noção do que era não ter o que comer. Era uma situação realmente muito difícil.
- Senhora? – chamei pela mulher, que estava na fila do caixa apenas com uma cartela com uma dúzia de ovos.
Ela virou, me olhou e pareceu amedrontada.
- A senhora aceitaria essa mistura? – falei, um pouco constrangido.
- Pra mim? – a voz dela quase não saiu.
- É! Eu ouvi o que o menino falou e... Pensei em ajudá-la. A senhora aceita?
- Moço... Imagina...
- Aceita, por favor! – falei, com um nó na garganta. – Eu gostaria de ajudá-la. É de coração!
- Aceita, mãe! – o menino exclamou.
Pobre criança. Há quanto tempo estaria sem comer carne? Há quanto tempo estaria passando fome?
- Eu nem sei como agradecer – a mulher ficou emocionada.
- Não precisa agradecer. É apenas uma ajuda. Eu não posso deixar essa criança passar fome... Não é muito, mas é o que eu posso dar.
Nunca uma pessoa me agradeceu tanto como aquela mulher fez naquele dia. Ela chorou, o menino também e é claro que eu não fiquei atrás. Eu estava de fato com o meu coração partido ao meio por causa daquela criança.

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E como eu me senti bem depois daquela boa ação! Como eu fiquei realizado! Como eu me senti em paz!
Não era a primeira vez que eu fazia uma coisa daquelas e sempre que isso ocorria, eu acabava me sentindo extremamente leve, feliz e realizado. Não há nada melhor do que fazer o bem, não importa à quem.

ALGUNS DIAS DEPOIS...

A cada dia que passava o Nícolas pegava mais peso e isso estava deixando todos nós com um certo alívio e esperança.
Na segunda quinzena de junho, ele já estava chegando perto dos 2 quilos e já estava com 42 centímetros. Pelo que parecia, o tratamento que estava sendo realizado no garoto estava dando resultado e com isso, o Fabrício começou a ficar mais aliviado.


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Eu estava morrendo de vontade de ver uma foto do menino ou até mesmo vê-lo pessoalmente, mas até aquele momento nada disso tinha sido possível.
O Fabrício disse que não tinha coragem de tirar fotos do filho, porque a situação dele ainda era muito crítica e eu resolvi respeitar a decisão do meu amigo.
Ele e somente ele sabia o que estava passando. A correria casa-hospital-trabalho, trabalho-hospital-casa estava deixando o engenheiro químico literalmente acabado.
O moço estava com olheiras profundas e até tinha perdido alguns quilos. E era muito compreensível que fosse assim.
Na loja tudo estava caminhando naturalmente. Alexia e Eduarda ainda não tinham voltado, mas ambas já estavam em mais da metade da licença maternidade.
Camila e Daniela, as filhas das minhas amigas, estavam cada dia mais lindas. De vez em quando eu as via através de fotos pelas redes sociais e muito esporadicamente, as gurias davam uma passadinha na loja.
- Que coisinha mais fofa, Jesus – eu segurei a Camila nos braços. – E como ela cresceu, Alexia!!!
- Está enorme, né? Já está com 5 quilos!
- Igual a um saco de arroz! Coisinha mais fofa do tio!!!
- Ela está ficando tão manhosa, Caio! Já vi que vai ser toda temperamental quando ficar mais velha.
- Ela deve é ser toda mimada, né amor? Todo mundo deve ficar bajulando esse anjinho... Coisa mais linda, ela está muito gostosa!
- Obrigada, amigo!
- Dá ela aqui agora – minha gerente apareceu atrás de mim de repente. – Quase tive que fazer uma macumba pra me livrar daquele cliente. Bendita seja essa velha mal-amada!
- Cuidado pra você não assustar essa coisa linda!
- Calado! Vem com a tia, Camila! Ui, que pesada!
- 5 quilos já, amiga!
- Hum... Está ficando cada dia mais gostosa, né? Quando você vai dar ela pra mim, hein?
- Tá doida? Eu que pari e você que vai cuidar? Nem morta! Faz uma!
- Estou tentando, mas não tá dando certo.
- Imagina a Janaína grávida, Alexia – falei. – Se ela já é toda louca sem um bebê no bucho, imagina quando ficar prenha?
- Vai ser um desastre total.
- Eu vou ficar linda, tá? Vocês dois são dois chatos, isso sim!
- AI – gritei quando de repente senti uma puta dor no meu tornozelo direito.
- Que foi?! – Alexia estranhou.
- Porra... – meus olhos até lacrimejaram. – Ai que dor no tornozelo! Parece que levei um chute!
- Chute? De quem, criatura? Não tem ninguém aí! – Janaína ficou séria.
- Ai, caralho – puxei uma cadeira e me sentei. – Porra, tá doendo de verdade!
- Nossa, Caio! Que estranho isso – Alexia ficou preocupada.
Fiquei fazendo massagem no meu tornozelo. Ele estava mesmo doendo muito, mas aos pouquinhos a dor foi passando. Eu fiquei encucado. Que dor esquisita era aquela?
- Passou? – perguntou a chefona.
- Mais ou menos. Ainda está latejando. Coisa mais esquisita!
- Eu. Hein?! – Janaína passou a menina para a mãe. – É cada uma que vale por dez!
Bruno e eu estávamos melhor que nunca. A cada dia que passava, a nossa conexão e cumplicidade só fazia aumentar e isso era notado por todos.

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- Seus olhos brilham tanto quando você vê o Bruno, sabia? – quem fez esse comentário foi o Rodrigo.
- Brilham, é?

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- Demais! Você muda completamente quando está com ele. Fica todo bobo, todo mole, sei lá. É algo surreal.
- Surreal? Por quê?
- Porque eu nunca vi um casal se gostar tanto assim, Caio. Pelo menos não um casal homossexual.
Para mim era tão natural o que eu sentia pelo Bruno que eu nem imaginava que para quem estava de fora isso poderia parecer fora do comum.
Mas o que o Rodrigo disse era verdade mesmo. Eu não conhecia nenhum casal gay com tanta conectividade como tínhamos o Bruno e eu.
Era realmente coisa de alma. O nosso amor era limpo, era profundo, era recíproco e verdadeiro. E eu me sentia muito feliz que fosse assim.
- A gente se ama, só isso.
- Dá pra notar. Eu só espero que ele sinta isso por você pra sempre, porque se ele te fizer sofrer, o bicho vai pegar!
- Você é tão lindo, sabia?
- Eu sei! Eu me olho no espelho todos os dias!!!
- Feliz aniversário de novo, maninho!
- Obrigado, Cacs. Não precisava ter se preocupado com presentes.
- Até parece que eu ia deixar o seu dia passar em branco. É tradição comprar presentes no dia 20 de junho, Digow! Te amo.
- Também te amo, cara.
Nós já estávamos no final de junho e o meu namorado estava na correria das últimas provas do semestre. A cada dia que passava, ele se livrava de uma matéria e isso o deixava mais leve e menos preocupado.
- Agora só falta uma – eu beijei o rosto dele.
- Graças a Deus!
- Vamos lá estudar, eu te ajudo!
- Você não existe, sabia?
- Existo sim. Olha eu aqui!
E graças a Deus deu tudo certo. Quando meu namorado terminou a última prova, ele me ligou feliz da vida. A gente só precisava esperar os resultados das suas notas para saber se ele ia ficar de férias ou não, mas eu tinha certeza que ele iria ficar.
E não deu outra. Meu Bruno passou de semestre tranquilamente. O coitado se matou de tanto estudar, mas deu tudo certo. Ele tirou boas notas em todas as matérias e isso deixou o menino tão feliz, mas tão feliz que ele quis até comemorar.
- Parabéns – eu não cansava de falar. – Você merece isso e muito mais.
- Agora só faltam 7 semestres!
- Vai passar rapidinho, você vai ver!
- Vocês dois vão ficar parados aí? – Vítor apareceu com um drinque nas mãos. – Vamos dançar, caramba! Caio?
- Oi, Vitinho?
- Tem uma barata bem aí perto da sua perna.
- BARATA?
Acho que eu corri tanto que devo estar correndo até hoje. Quando eu soube que era brincadeira do Vítor, quis matá-lo, mas em seguida levei na esportiva e também caí na gargalhada. Eu e a fobia de baratas!

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Meus amigos, meu namorado e eu estávamos na “The Week” e a noitada foi pra lá de deliciosa. Eu dei muita risada com o tonto do Vítor e com as palhaçadas que os nossos amigos faziam. A cada dia que passava eu me aproximava mais deles e isso estava deixando o meu namorado muito contente.
- Que bom que você e o Vítor estão se dando bem!
- Eu gosto do Vítor, Bruh. Eu só não concordo com algumas atitudes dele, só isso.
- Eu era igualzinho a ele, né? – meu príncipe ficou até vermelho.
- Igualzinho. Sem tirar nem pôr. Ainda bem que você mudou.
- Eu mudei por você e pra você. E não me arrependo de nada.
- Eu te amo, tá?
- Eu também te amo muito!
Quando as aulas do Kléber finalmente chegaram ao fim, o menino reuniu toda a república para comunicar a sua saída do local.
Ele tinha terminado a faculdade e nada mais o prendia na capital do Rio de Janeiro. Com isso, automaticamente sobraria uma vaga na casa, mas ninguém quis que ela fosse preenchida.
- Não vou querer passar por tudo de novo – falou Rodrigo. – E a gente pode assumir os gastos do Kléber numa boa.
- Concordo – disse Éverton. – Não vou querer colocar um desconhecido aqui dentro de casa.
E assim aconteceu. O cara saiu, mas ninguém ficou no lugar dele. Assumir as despesas do Kléber não seria difícil pra ninguém, uma vez que o número de componentes da república era grande o suficiente para não ficar pesado pra ninguém.
- Boa sorte – eu fui e abracei o cara, no dia em que ele resolveu sair da república. – Tudo de bom pra você.
- Pra você também, Caio. Foi um prazer muito grande conhecer você.
- O prazer foi todo meu. Se cuida, tá?
- Você também. E cuida bem daquele gato que se chama Bruno.
- Pode ter certeza que eu vou cuidar sim. obrigado por tudo e desculpa qualquer coisa.
- Eu é que agradeço. Me perdoa qualquer coisa, tá?
- Tranquilo. Vai com Deus, Kléber!!!
Pra falar a verdade, eu não sabia dizer se ia sentir falta daquele garoto. Durante os 3 anos em que Kléber e eu passamos juntos, nós criamos uma amizade, mas não era nada comparado a amizade que eu tinha com os outros meninos.
Acho que faltou um pouco mais de aproximação entre nós dois e mesmo tendo acontecido algo mais sério entre nós dois, isso também não fez com que a gente tivesse um vínculo mais forte. Acho que ele não ia me fazer falta, essa que era a verdade.
De toda forma, eu ia torcer para que ele tivesse sucesso em sua jornada na vida, fosse pessoal ou profissionalmente. O Kléber era uma boa pessoa e merecia ter sucesso por onde passasse. Pelo menos era isso que eu achava.
Ou será que eu estava enganado? Será que o amigo que a Do Carmo se referia era ele? Poderia ser... Pelo sim e pelo não, eu não pensei em mais nada. independentemente do que tivesse acontecido no passado, daquele momento em diante ele iria tomar seus próprios caminhos e as nossas vidas não estariam mais próximas, portanto não adiantava ficar pensando no passado. Eu queria que o Kléber fosse feliz, isso sim!
Quando finalmente chegou o mês de julho, o Nìcolas começou a reagir pra valer. A cada dia ele pegava mais peso e isso foi aumentando a probabilidade da saída da UTI neonatal antes do que a equipe médica esperava.
- Ele já está com 2 quilos e 200 gramas – o papai estava todo orgulhoso. – E está ficando lindo!
- Eu imagino – fiquei feliz pela felicidade do meu amigo. – Eu não disse que ia dar tudo certo?
- Deus está ao meu lado, Caio!
- Eu tenho certeza disso.
Vinícius ainda estava procurando casa para o nosso amigo e estava difícil de encontrar.
- Não consegui encontrar nada – ele falou.
- Está difícil – Fabrício suspirou.
- Por que você não vai no banco tentar alguma coisa? – perguntei.
- Acho que essa vai ser a minha solução.
De um jeito ou de outro, ia dar tudo certo. O que não podia acontecer é o Nícolas morar lá na república com a gente. Não tinha espaço pra ele correr, brincar e nem para colocarmos um berço pro coitadinho.
- E seus pais? – perguntei.
- Eles vão vir no final de semana de novo. Não dá pra ficar vindo e voltando todos os dias, Caio.
- Eu sei. É complicado.
Pelo menos uma vez por semana eu falava por e-mail com a Dona Elvira. Ela me mandava uma mensagem no correio eletrônico sempre que ia para o curso de computação. Sim, ela estava fazendo um curso de computação! A velhota não era mole!
- Dona Elvira te manda um beijo, Rodrigo.
- Mande outro pra ela, Caio.
- Ei! Só agora eu me lembrei! Como anda seu relacionamento com as gêmeas?
- Nada ainda, mas eu vou conseguir.
O meu irmão postiço queria porquê queria levar as duas irmãs pra cama. Será que ele ia conseguir?
Quase tive que implorar pra Janaína me liberar nos finais de semana de julho, mas no fim das contas ela cedeu, mas só do segundo final de semana em diante.
- Ai tá, tá, tá, tá... Eu libero, eu libero!
- OBRIGADO, PROFESSOR GIRAFALES! – eu corri e dei um abraço na minha amiga. – Eu te amo!!!
- Quero um chocolate por causa disso, hein?
- Eu te dou é logo uma caixa!
E dei mesmo. Quando eu prometia alguma coisa, eu gostava de cumprir e a Jana merecia aquele mimo, afinal eu ia ficar fora da loja quase todos os finais de semana daquele mês.
- Está preparado pra curtir o mês inteirinho? – ele me abraçou.
- Não tenha dúvidas disso!
Fazia sol na manhã daquele sábado no Rio e eu estava na expectativa e na ansiedade pra fazer o meu primeiro voo de asa delta.
- Estão prontos? – perguntou um dos instrutores da empresa que nós contratamos.
- Sim! – meu namorado respondeu por ele e por mim.
- Então vamos, que o percurso é longo!
O voo ia acontecer na Pedra Bonita, que ficava em São Conrado, que ficava dentro da Floresta da Tijuca. Este era o local perfeito para a gente ter uma vista de vários pontos turísticos da cidade. Eu estava verdadeiramente ansioso para iniciar o meu voo.
Primeiro, Bruno e eu tivemos uma aula teórica e depois tivemos várias e várias instruções de como deveríamos proceder durante a decolagem. Feito tudo isso, nós nos preparamos até chegar o momento da nossa partida.
- Isso vai ser ótimo – meu namorado mordeu o lábio e olhou pra baixo.
- Com certeza vai!
Não posso negar que eu estava um pouco amedrontado. A altura era imensa e eu tinha receio que acontecesse alguma coisa de errado, mas se Deus quisesse nada iria acontecer e tudo daria certo.
O jeito era torcer e rezar para tudo sair bem e além disso, curtir o voo da melhor forma possível.
- Vamos? Você está pronto?

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- Estou – olhei para aqueles olhos azuis que brilhavam muito.
- Então vamos...
Quando os meus pés saíram do chão e eu fiquei literalmente voando, a minha primeira reação foi gritar.
- SOCORRO!
- QUE DELÍCIA!!! – meu namorado começou a rir.
Mas o medo foi substituído pelo prazer. Ver a Floresta da Tijuca, a Pedra da Gávea, o Corcovado, o Pão de Açúcar, os Dois Irmãos e o Oceano Atlântico fez o medo ficar em segundo plano. A beleza daquela cidade me deixou estonteado. Era muito, muito, muito lindo a visão que eu estava tendo.
- Uau!!! – exclamei.


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- Não é lindo? – a voz dele entrou nos meus ouvidos.
- Muito lindo!!!
A brisa soprou no meu rosto e me deixou arrepiado. Que sensação maravilhosa que estava sentindo! Eu me sentia livre... Parecia que eu tinha o mundo todo para mim e que ninguém poderia me segurar, que ninguém poderia me prender... Foi algo delicioso demais...
- Olha a foto – ele falou.
Todo o nosso voo foi fotografado e filmado por câmeras que estavam instaladas na própria asa delta. Eu não ia deixar aquele momento passar em branco, né?
- Me dá um beijo? – pedi.
- Posso tentar...
Foi meio complicado, mas a gente conseguiu. Tivemos que fazer umas acrobacias para encaixar as nossas bocas, mas deu tudo certo.
Ainda bem que nós conseguimos fazer aquele voo duplo. Se fosse pra ir sozinho, não teria a menor graça. A graça estava em curtir aquele momento com o meu amado. Eu nunca iria conseguir esquecer aquele dia!!!
- Já estamos descendo – eu falei.
- Prepara o pouso aí, amor!!!
O voo durou mais ou menos 5, 6 ou 7 minutos, eu não me lembro o tempo exato. Bruno e eu caímos na areia da Praia do Pepino e lá, uma outra equipe da empresa nos recepcionou para saber se tinha ocorrido tudo bem.
- Maravilhoso – eu falei. – Muito bom mesmo!
- Foi perfeito – meu namorado respondeu a pergunta que o cara fez. – Valeu muito a pena.
Valeu mesmo. A adrenalina, a excitação e a sensação de liberdade fizeram um misto de sensações dentro de mim. Eu queria fazer tudo de novo!!!
- Pena que demorou pouco tempo, né?
- Verdade – ele concordou comigo. – Mas valeu muito a pena. Um sonho já foi realizado. Agora eu quero pular de paraquedas!
- Acho que isso vai ser mais legal ainda, né Bruh?
- Com certeza! Mal posso esperar.
- Já marcou a data?
- Marquei pra semana que vem, pode ser?
- Lógico! Não tem problema nenhum.
- Então tá!
Nós dois ficamos na praia o resto do dia e só voltamos pra casa depois das 20 horas, quando já tínhamos jantado e aproveitado o dia ao máximo.

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- E amanhã? O que a gente vai fazer?
- Você gosta de cachoeiras?
- Nunca fui, Bruno. Tem alguma por aqui?
- Claro que tem! Você mora no Rio e nem conhece a paisagem, Caio?
Fiquei foi sem graça.
- Toparia ir comigo?
- Você ainda pergunta? É claro que eu vou com você, bebê!
- Então a gente vai ter que acordar bem cedo, tá?
- Eu iria com você até o fim do mundo, príncipe! Por você eu faço qualquer coisa.
- Eu também faria qualquer coisa por você, você sabe disso. Eu daria a minha vida por você se fosse preciso.
- Vira essa boca pra lá, menino!
- Mas é verdade. Eu daria a minha vida por você, Caio!
Poderia ter declaração melhor que essa? Se ele queria me deixar emocionado, ele conseguiu. Eu senti vontade de chorar de felicidade por estar ao lado daquele príncipe!
- Meu príncipe!!!
- Você que é – ele me abraçou e beijou a minha testa. – Eu te amo!
- Eu te amo mil vezes mais!
No domingo a gente acordou ainda de madrugada. Estava escuro quando meu namorado e eu saímos rumo a Cachoeira do Mendanha, mas nós chegamos nas cascatas quando o sol já tinha raiado.
- Cansou? – eu perguntei.
- Claro! Essa subida me matou.
- Coitadinho – eu dei risada. – Você tem que fazer mais exercícios físicos, viu?
- Em que tempo? Só se for nos meus sonhos.
Era verdade. Ele não tinha tempo. Estudar em uma federal não era fácil. O Bruno vivia para os estudos e pro trabalho. E pra mim também, é claro.
- O que achou?
- É muito lindo, Bruh! Nunca imaginei que esse lugar existia...
- É um paraíso, né? Vamos tirar fotos?
- Lógico! Cadê a máquina?
- Aqui no meu sacochila. Pega aí, por favor...
Peguei a máquina fotográfica e já fui logo tirando uma foto do meu namorado. O coitado estava suado e descabelado, mas mesmo assim continuava lindo.
- Isso aqui é sempre deserto desse jeito?
- Não sei. Eu só vim aqui uma vez. Da vez que vim não tinha muita gente não.
- Ótimo! Sem muita gente é melhor.
- É? Por quê?
- Porque a gente vai poder namorar em paz, oras. A não ser que você não queira.
- É claro que eu quero!
Nós dois deixamos as roupas num canto e descemos as pedras extremamente escorregadias para chegar ao poço que a cachoeira formava. Pelo que constava, aquele local era bem fundo e perigoso, mas mesmo assim a gente resolveu arriscar.

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- QUE ÁGUA FRIA – eu urrei quando eu entrei na água gelada daquele poço.
- Puta que pariu... – Bruno também reclamou.
Nós dois ficamos tremendo de frio e por causa disso, não pudemos aproveitar como queríamos as quedas d’água.
- Mais tarde a gente volta – ele colocou a roupa e ainda ficou tremendo.
- Uhum.

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Naquele momento a gente não estava a sós. Havia mais algumas pessoas no local e isso impossibilitou todo e qualquer envolvimento mais íntimo entre eu e meu namorado.
- Já estou com saudades do meu celular – ele deitou e ficou olhando pro céu.
- Bobo – ri e deitei ao seu lado.
- Mas é verdade!
- Fico feliz que tenha gostado.
- Não era pra ter comprado, seu chato!
- Era sim!!!
Quando o dia ficou mais quente, nós dois resolvemos voltar pra água e aí sim pudemos curtir mais amplamente aquela beleza natural da Cachoreira do Mendanha.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAH – eu gritei quando a água caiu em cima do meu corpo.
- Delícia! Uhul...
Meu namorado e eu nadamos, curtimos, brincamos e aproveitamos a cacboeira ao máximo. Em um determinado momento, nós conseguimos até nos beijar.
- Eu precisava fazer isso – falei.
- Eu também!
Em nenhum momento descuidamos das nossas coisas, que estavam em terra firme, mas mesmo assim deu medo de sermos assaltados.
- Está tudo... Ui...
Escorreguei em uma pedra e caí de barriga na água, mas não me machuquei e tampouco afundei. Ainda bem que eu sabia nadar direitinho.
- AI MEU DEUS... VOCÊ ESTÁ BEM?
- Calma, Bruh! Está tudo ótimo! Não aconteceu nada.
- Não machucou?
- Não, não se preocupe. Vamos curtir mais um pouco.
E de repente nós ficamos a sós. Era tudo o que eu queria, era tudo o que eu estava esperando para poder ficar literalmente à vontade com o meu namorado.
- Agora sim, vem aqui, vem...
Comecei a beijá-lo ainda dentro d’água. A água gelada arrepiou o meu corpo e eu fiquei totalmente excitado. O mesmo aconteceu com o Bruno.
- Vem – ele me puxou e nós nadamos até a borda.
- Aqui... Aqui...
- Calma, a gente volta!
Ele me puxou para perto das pedras pra tirar a sunga. Quando eu vi a peça de roupa do meu namorado no chão, abri um sorriso malicioso e comecei a dar risada.
- Você não existe!
Ele foi até onde eu estava e tirou a minha sunga também. Será que ia dar tudo certo? Será que a gente ia conseguir namorar naquele lugar?
A resposta é sim! Bruno e eu fizemos sexo na natureza novamente. Se existe uma palavra que resuma o que eu senti, essa palavra é perfeição.
- Hum... – eu gemi, enquanto ele tentava me penetrar e me beijava.
Foi difícil fazer o movimento, mas nem precisamos de muito para chegarmos ao orgasmo. Bastou algumas estocadas pra ele gozar dentro de mim e depois o mesmo aconteceu comigo quando foi a minha vez de penetrar.
- Vou gozar...
- Goza, meu gostoso – ele agarrou os meus cabelos e olhou pro céu, com uma baita cara de safado.
Eu estava segurando na cintura do Bruno e ele tinha entrelaçado as pernas na minha cintura. Tudo aconteceu na mais perfeita ordem e na mais perfeita sintonia, como sempre, porém com muita rapidez.
- Uh... Delícia!!!
Saímos de lá só quando estávamos satisfeitos e relaxados. Foi muito bom conhecer aquela belezura com o meu namorado.
- Gostou da cachoeira?
- Adorei! Eu nunca tinha ido em uma, sabia?
- Eu imaginei. Em São Paulo não tem essas coisas.
- Até tem: cachoeira de concreto.
- Zoado! Ei, o que vamos fazer?
- Ainda é bem cedo, mas eu to com fome. Podemos almoçar e depois ficar na praia, o que acha?
- Demorou!!! Eu também estou com fome.
- Depois dessa, né? – parei de andar, puxei o Bruno pela cintura e grudei as nossas testas.
- Uhum. Ei, está tudo aí, né?
- Sim. Eu coloquei tudo no sacochila, não se preocupe.
- Ah, sim. Você sempre lembra de tudo.
- Se não for eu, você esquece até a cabeça, gatinho!!!
Ao invés de almoçar num restaurante, fomos almoçar na casa do Vítor. Toda a trupe do meu namorado estava lá e assim a gente pôde colocar todo o assunto em dia.
Só saímos da casa do melhor amigo do Bruno por volta das 16 horas. Eu queria porquê queria ver o pôr do sol no Arpoador, afinal o domingo estava pra lá de lindo, pra lá de maravilhoso e meu namorado e eu merecíamos um momento como aqueles.
- O pôr do sol aqui é tão lindo – eu comentei, olhando pro céu alaranjado.
- É verdade! Tem coisa melhor que isso?
- Tem! Você!
- Bobo – Bruno ficou todo sem graça.
- É verdade, oras.
- Eu te amo!
- Não mais do que eu.
E com esse pôr do sol, o meu final de semana ao lado do Bruno chegou ao fim. Depois da praia, nós voltamos pro apartamento, eu peguei as minhas coisas e depois ele me levou pra casa.
Uma nova semana tinha começado e ao contrário do que vinha acontecendo nos últimos dias, o Nícolas estabilizou novamente o peso e isso voltou a desmotivar os médicos.
- Nada de novidade por enquanto – Fabrício estava tristonho. – Ele não pegou mais peso.
- Calma! Vai dar tudo certo!
Ia dar mesmo. Era só o papai de primeira viagem acreditar no poder de Deus. Eu sabia que aquele anjinho ia acabar saindo daquela situação, só não sabia dizer quando isso ia acontecer.
Diariamente eu perguntava como o garoto estava e ainda me mantinha preocupado, embora esperançoso. Na quarta, o Fabrício deu notícias do filho e em seguida falou:
- Achei a casa, Caio!
- Achou? – fiquei triste.
- Uhum. Eu me mudo assim que eu mobiliá-la.
- Ah... Não posso negar que isso me deixa triste, Fabrício. A gente se acostuma com as pessoas e eu me acostumei com você, mas por outro lado eu fico feliz que tenha conseguido um cantinho pra você e pro seu menino.
- É eu também estou triste, mas é necessário, cara. Eu posso te pedir um favor?
- O que você quiser!
- Será que eu posso comprar os meus móveis e eletrodomésticos com você?
- Claro! Vai ser um prazer te ajudar. É só falar quando você quer fazer as compras.
- Acho que só na segunda-feira agora, porque eu só vou ter tempo nesse dia.
- Tranquilo. Segunda eu não vou estar de folga. Pode deixar que eu vou pedir um desconto gigantesco pra você, tá?
- Muito obrigado, parceiro. Eu gosto muito de você e vou sentir a sua falta.
- Também sentirei a sua falta, mas tenho certeza que vai dar tudo certo e que vai ser melhor assim.
- Deus te ouça!
Fiquei sim bem entristecido com aquela novidade. Foram praticamente 5 anos de convívio com aquele garoto e de repente não conviver mais com ele diariamente, seria extremamente estranho, mas nada que o tempo não curasse, né?
- Você tem certeza que vai querer fazer isso, Janaína?
- Claro que tenho, Caio! Já falei que o meu bofe quer e eu vou com ele.
- Então tá! Espero que você não amarele na hora H!
A Janaína estava cismada que ia pular de paraquedas comigo e com o Bruno. Eu estava pagando pra ver e tinha mais do que certeza que ela ia desistir na hora H. Eu duvidava que aquela louca fosse pular com a gente.
Quando o sábado chegou, o meu coração já estava acelerado antes mesmo de chegar no local onde iríamos entrar no avião. A ansiedade estava imensa e o medo também, é claro.

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- Pra abrir o paraquedas vocês tem que fazer assim – o instrutor nos deu uma aula teórica de como seria o nosso pulo. Eu estava com muito medo.
A Janaína de negra passou a ser amarela. Era óbvio que ela ia desistir, eu sabia que ela não ia aguentar pular de uma altura como a que a gente ia ficar.
Nós entramos no avião e logo o mesmo começou a voar. A cada segundo que passava eu ficava mais amedrontado, mas ao mesmo tempo mais ansioso e com vontade de pular para curtir a adrenalina. O mais calmo de todos era o Wellington. Ele disse que já tinha pulado antes e que já era experiente no assunto.
- Agora nós estamos à 10 mil pés de altura – falou o instrutor. – Só vamos pular quando chegarmos aos 13 mil pés.

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- Olha lá embaixo – eu puxei a barra da blusa do meu namorado.
- Que delícia, hein? Tem certeza que vai querer fazer isso?
- Lógico! Já que eu estou aqui eu não vou desistir.
- É isso aÍ! Assim que tem que ser.
Depois de poucos minutos nós chegamos na altura que era a correta e aos poucos nós fomos nos preparando para saltar.
- Tem certeza que esses paraquedas vão abrir? – perguntei.
- Já foram testados 5 vezes cada um. Não vai acontecer nada, podem ter certeza.
- Se eu morrer eu venho puxar seu pé, hein?
- Tenho medo não – o cara sorriu.
E quando a porta do avião foi aberta, eu tive uma real noção da loucura que nós estávamos fazendo. Aquele não seria um pulo qualquer... Se algo desse errado, aquele seria um pulo para a morte.

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- Estão prontos?
- Sim! – eu, Bruno e Wellington respondemos. A Janaína ficou calada.
- Quem vai primeiro?
- Nós – meu personal puxou a minha gerente e melhor amiga pelo braço.
- Não esqueçam que só é pra abrir o paraquedas quando eu fizer o mesmo, beleza?
- Pode deixar! Vem, Jana!
Ela se aproximou da porta, olhou pra baixo e arregalou os olhos numas condições... Meu namorado e eu rimos da nossa amiga.
- MEU OVO QUE EU VOU SAIR DAQUI!!!
Eu rachei o bico ao ouvir essa frase. Ela era louca, só podia ser louca!
- Vai, Jana! Para de ser estraga prazeres... Você vai gostar!
- Meu ovo! Não saio daqui nem morta!
- Vem – Wellington puxou a minha amiga novamente, mas ela não saiu do lugar.
- Nem morta! Eu já to com vontade de fazer xixi aqui.
- Eu sabia que ela ia amarelar, Well – falei.
- Calado! Estou toda molhada de suor, Deus me livre! É alto demais...
- Então já que você não vai pular, pelo menos vem ver meu pulo, vai? – Wellington pediu.
- Não vai aprontar comigo não, né?
- Claro que não, Jana!
Aos poucos a morena foi se aproximando da porta. O peguete dela, meu personal da academia, só pulou quando ela chegou bem perto da porta.
- UHUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUL – eu ouvi ele gritando.
- MEU OVO QUE EU PULO!
- Pula sim – eu simplesmente empurrei a minha amiga e ela caiu pra fora do avião.
- SOCOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOORRO!!!

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- Putz, que maldade! – o instrutor começou a rir. Bruno também riu.
- Ela vai me matar!!!
- Vai mesmo! – meu namorado concordou.
- Quem vai ser o próximo?
- O Caio!
- Eu? – arregalei meus olhos.
- Você mesmo, mocinho.
- Deixa eu me preparar...
- Não!
Bruno imitou o que eu fiz com a Jana e me empurrou pra fora do avião. Meu corpo mergulhou para o abismo que estava abaixo de mim e eu comecei a gritar feito um louco. Eu simplesmente não acreditei no que o Bruno fez!!!
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH – gritei.
Eu estava com medo e com meus olhos fechados. E se o meu paraquedas não abrisse? E se eu caísse e morresse por causa do impacto com o chão???

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