Para mim, aquilo tinha sido uma mensagem, um pedido de socorro. Um pedido de socorro do meu irmão gêmeo; um pedido de socorro do Cauã.
- Calma, tá? – Bruno fez carinho no meu rosto e tentou me acalmar com um beijo. – Eu estou aqui, vai ficar tudo bem.
- O Cauã tá precisando de mim, Bruno! Ele tá precisando de mim!
- O que você sonhou? Quer me contar?
- Sonhei que estava em uma rua deserta, com casas muito bonitas e que de repente ele começava a me chamar, começava a pedir ajuda, pedia para eu voltar...
- Tem certeza que era ele?
- Absoluta, amor... Era ele sim, eu sei que era ele, eu sei que ele precisa de mim! Alguma coisa aconteceu com meu irmão!
- Calma, não fica preocupado! Foi só um sonho!
- Não, não foi um sonho, não foi! Algo está acontecendo com ele... Eu preciso saber o que está acontecendo com ele... Eu preciso!
- O que você acha da gente ligar pra ele? Assim você vai saber se realmente está acontecendo alguma coisa.
- Ligar? – fiquei apreensivo.
- Não precisa falar com ele se você não quiser. Se ele atender é porque está tudo bem. O que você acha? Não é uma boa ideia?
Parei para pensar. Ligar pro Cauã? Será que era uma boa ideia?
No íntimo da minha alma, no fundo do meu coração eu sabia que algo de errado estava acontecendo ou iria acontecer.
Em quase 7 anos que eu tinha saído de casa eu nunca tinha tido um sonho tão forte com meu irmão como aquele. Ele estava agoniado, ele estava sofrendo e eu sabia que aquilo era verdade. Não poderia ter sido um simples sonho! Não era um simples sonho, era um recado, uma mensagem ou o que quer que fosse, menos um sonho. Eu sabia, eu tinha certeza absoluta disso.
- Você ainda sabe o número dele?
- Sei – confessei.
Eu sabia o número do celular do meu irmão de cor, só não sabia se ainda era o mesmo.
O fato era que eu estava com medo. Esse era o sentimento que eu tinha naquele momento. Medo. Medo de saber se ele estava bem, medo de saber se ele não estava bem, medo de saber que tudo não passava de uma ilusão de minha parte...
Não, Caio! Não! Não é ilusão! Você sabe que não é ilusão! Alguém está precisando de você! O Cauã está chamando por você, ele está sentindo a sua falta!
Será mesmo que ele estava sentindo a minha falta? E se isso fosse verdade, por que só depois de 6 anos e 10 meses? Por que só depois de tanto tempo ele sentiu a minha falta?
- Liga, amor – Bruno me passou o celular. – Você vai se sentir melhor se ligar.
Peguei o celular da mão do Bruno. Eu ainda estava apreensivo, mas aos poucos eu comecei a criar coragem. Eu precisava muito, muito mesmo ouvir a voz dele.
- Não sei...
- Não precisa falar nada. Ouça a voz dele e por aí você vai saber se está tudo bem ou não.
- E se ele mudou o número?
- Se ele tiver mudado a gente dá um jeito de descobrir. Não custa tentar.
Respirei fundo. Bruno beijou meu rosto e me passou muita segurança. Eu não saberia dizer o que seria de mim sem ele.
Acessei o menu e tirei o identificador de chamadas. Assim Cauã não saberia que era eu. Ou saberia?
Resolvi arriscar. Coloquei o número dele no visor e com as mãos trêmulas apertei o botão verde. Será que ia dar certo?
Primeiro toque.
- Está chamando...
Confesso que fiquei surpreso. Será que ele ia atender? Será que o número ainda era dele?
Segundo toque.
Eu estava nervoso e começando a suar frio. Não sabia dizer se ele ia atender ou não, mas a expectativa aumentava a cada segundo que passava.
Terceiro toque.
Mordi o lábio e o Bruno deitou o queixo no meu braço. Eu comecei a tremer. Alguma coisa tinha acontecido com ele... Alguma coisa tinha acontecido com ele!
Quarto toque.
Cauã não estava atendendo. De duas uma: ou ele estava dormindo, ou o número não era mais dele. E eu estava começando a desconfiar que a segunda opção era a verdadeira.
Quinto toque.
Nesse momento o meu coração já estava batendo a mil por hora. Por que ninguém atendia? O que estava acontecendo com ele? O que o meu gêmeo tinha? Por que ele pediu a minha ajuda?
Sexto toque.
Eu ia desistir. Ele não ia atender. Eu sabia que algo de errado tinha acontecido com o Cauã, meu coração dizia isso!
- Alô? – uma voz masculina atendeu. A voz estava cansada e sonolenta.
Eu arregalei meus olhos e meu coração, que já batia acelerado, passou a voar dentro do meu peito. Era ele...
- Alô? – Cauã repetiu, agora com mais vontade.
Engoli em seco. Era ele, eu tinha certeza que era ele. Eu reconheceria aquela voz no meio de um milhão de vozes. Era igualzinha a minha, idêntica a minha!!!
- Alô? Quem está aí? Não vai falar nada?
Fechei meus olhos e respirei aliviado. Ele estava bem afinal de contas. Graças a Deus ele estava bem. São e salvo. Ele só demorou a atender porque estava dormindo!
- Alô?
Desliguei. Desliguei e respirei fundo. Ele estava bem... Que alívio que eu senti!
- E aí?
- Ele atendeu. Ele está bem. Ai que susto que eu levei!!!
- Viu só? – Bruno beijou meu rosto. – Não era nada demais. Foi só um sonho.
- Não foi um sonho. Algo vai acontecer. Eu sinto que algo vai acontecer, Bruno.
- Eu acredito em você, amor. Porém você mesmo viu que ele está bem. Fique calmo, tá?
- Desculpa ter te acordado – eu virei e olhei para os olhinhos azuis dele
- Não se preocupe, já está na hora de sair pra faculdade.
- Me dá um beijo? – fiz bico.
Ele me beijou, me abraçou e fez cafuné na minha cabeça. Eu fechei os olhos e voltei a pensar no meu gêmeo. Algo de errado ia acontecer, eu tinha certeza disso.
Cheguei na loja me sentindo angustiado. Aquele pesadelo com o Cauã mexeu muito comigo e eu estava inquieto por causa disso.
Abri a filial e dois minutos depois a Janaína chegou, com aquela cara deslavada que ela tinha, rindo sem parar.
A negra me puxou para um abraço bem forte e ficou rindo no meu ouvido por mais de dois minutos.
- Sua cachorra! Bem-vinda!
- Obrigada!
- Nem acredito que iremos trabalhar juntos!
- Nem eu! Ai, Cristo... Isso não vai prestar!
- Não mesmo.
Nos beijamos e ela me olhou com um pouco mais de atenção.
- Aconteceu alguma coisa?
- Eu tive um pesadelo horrível com meu irmão gêmeo.
Contei pra Janaína como tinha sido o sonho e ela dispôs do mesmo pensamento que o Bruno. Minha melhor amiga pediu para eu me acalmar e disse que tudo não tinha passado de um pesadelo.
- Se você ouviu a voz dele e sentiu que está tudo bem, não tem com o que se preocupar.
- Mas aqui dentro eu sinto que algo vai acontecer. Eu só não sei o que é!
- Por que não vê com a Do Carmo? Ela poderia te ajudar.
- Ah, não. Não quero isso não. Melhor deixar as coisas acontecerem por conta própria. E tem mais, caso aconteça alguma coisa, eu estou aqui no Rio e ele lá em São Paulo. Eu não ficaria sabendo de nada.
- Será? Se com um simples sonho você ficou desse jeito, imagina se realmente acontecesse algo. Mas quer saber de uma coisa? Deixa isso pra lá. Eleve seu pensamento e pense apenas em coisas boas. A energia desse lugar é muito carregada.
- Você não viu nada! Quando eu cheguei aqui, parecia que estava entrando em um cemitério de tão carregado que era a energia. Meus tercinhos se quebraram todos. Era trazendo e quebrando!
- Deus me livre!!! Vou começar a orar e é já.
Eu sempre fazia isso também. A Do Carmo mais uma vez acertou ao dizer que aquele não era um lugar calmo para se trabalhar. As energias que ali habitavam não eram nada agradáveis e muitas vezes eu cheguei a me sentir mal de verdade dentro daquela filial, como se existisse alguém tentando me fazer alguma coisa. A sensação era horrível.
- Vamos trabalhar – falei. – Eu vou te apresentar para a sua equipe.
- Meus “gremlins” são legais?
- Alguns sim, mas tem os casos ruins também. Já, já eu te passo a ficha completa de todos eles.
Quando todos os funcionários chegaram, eu reuni todos na sala de reuniões e lá fiz as devidas apresentações:
- Queria informá-los que à partir de hoje eu não sou mais o líder imediato de vocês. À partir de agora, vocês ficarão sob a responsabilidade da Janaína Santos. Ela veio da loja de Ipanema para cobrir o período manhã e eu ficarei com o período tarde. Quer falar alguma coisa, Jana?
- Quero sim. Só queria deixar claro que eu trabalho da mesma forma que o Caio. Nós entramos na empresa juntos, fizemos o processo seletivo para a gerência juntos, eu passei e ele ficou de stand-by. A forma que um faz a gestão o outro também faz. A cobrança que um faz, o outro também faz. Então eu não quero que pensem que eu vou trabalhar de uma forma diferenciada, porque eu não vou. Quero que contem comigo para o que vocês precisarem. A minha mesa, a nossa mesa, estará disponível para vocês a hora que vocês precisarem. Tudo bem?
Silêncio.
- TUDO BEM?
- Sim!!! – alguns responderam.
- EU NÃO OUVI! TUDO BEM?
- SIIIIIM!
- Ah, assim está muito melhor.
- Não liguem – eu sorri porque vi que alguns estavam com medo. – Ela é louca assim mesmo!
- Vocês não viram nada... Mas não se preocupem. Eu sou gente boa!
Após o final da reunião, Janaína e eu sentamos na nossa mesa e eu passei caso por caso pra ela.
- Esses daqui que eu deixei em vermelho são os casos críticos dos críticos.
- Ai, Cristo...
- A Milena é a que gosta de faltar com atestado. Toda semana essa menina tem alguma coisa. Nós só estamos esperando ela entregar mais dois atestados com o mesmo SID pra encaminhá-la ao INSS.
- Louvado seja Deus.
- O Paulo é o mais velho da sua equipe.
- Velho de idade ou velho de casa?
- Velho de casa. Ele deve ter uns 10 anos ou mais e quer ser desligado. Ele é quase que nem a Rita, mas é mais tranquilo.
- Quem é Rita?
- Aquela da suspensão, lembra? Aquela que você acompanhou o feedback.
- E aquele diabo de saias é minha? – Janaína arregalou os olhos.
- Infelizmente não – eu quase chorei. – Ela é minha. Ela é da tarde.
Janaína só fez rir. Aquela risada que eu adorava.
- Você ri, né condenada?
- Obrigada, Deus! Obrigada...
- É agradeça mesmo porque aquele cão é um cão.
- Creio em Deus Pai!!! Deus é mais... Haja saco!
- Vamos continuar. A Léa é a que gosta de fazer duas horas de almoço. Ela já está na suspensão de dois dias por causa disso.
- Justa causa nela!
- Não. Você não tem ninguém que possa ser encaminhada por justa causa. JC a gente só pode aplicar por desídia ou por excesso de faltas injustificadas.
- Quem te falou isso?
- Eu! Eu aprendi isso na faculdade. Não podemos aplicar de jeito nenhum, senão ela pode processar a empresa e nós perderemos.
- Ah, mentira?
- Não, é verdade! Não pode. Ah, a não ser que ela entregue um atestado falso ou roube alguma coisa da empresa. Ou agrida algum cliente, algum funcionário... Aí sim a gente pode mandar por JC, mas só nesses casos. Estouro de almoço não vai gerar justa causa, infelizmente.
- E meu ABS?
- Você tem uma média de 6 faltas por dia, 36 por semana. Melhorei esse índice, porque no começo era o dobro.
- Puta que pariu! Estou fodida! Meu resultado vai pro espaço com isso.
- Todas as pessoas que faltam eu tenho separado em uma planilha. Eu faço um acompanhamento diário disso. Depois eu te passo o caminho da planilha na rede.
- Beleza. E que mais eu tenho que saber?
- O índice de vendas da sua equipe aumentou mais de 30% desde a minha chegada, meu salário agradece, obrigado.
- Besta!!!
- É sério. Não estou brincando não. Hã... Que mais? Ah, a Duda mandou e-mail pedindo que a gente modifique todos os vendedores de setor.
- Logo hoje? Por que você já não fez isso pra aliviar meu lado?
- Porque eu não tenho tempo nem pra soltar um peido, minha filha!
Janaína riu feito uma abobalhada.
- Eu ia fazer isso ontem, mas tive que montar uma apresentação de resultados.
- Estou ligada. Eu também tive que fazer.
- Mas a gente faz isso agora. É bem rapidinho.
Nesse momento o telefone tocou.
- Pode atender. O ramal também é seu agora.
- Gerência, Janaína?
Era cliente e eu fiz questão que ela mesma resolvesse o problema. O horário era dela, a equipe era dela e eu só estava ali para passar tudo pra ela. Eu não ia me meter mais no período manhã. Minha equipe já era demais pra mim.
Após a morena desligar o telefone, eu passei mais alguns perfis de funcionários pra ela e depois nós iniciamos com a mudança de setor. Eu fiz quase tudo sozinho, porque ela não conhecia ninguém até aquele momento.
- Pronto – coloquei um ponto final no assunto. – Agora a gente imprimi o quadro central e você vai passar para eles quais os novos setores deles.
- Por que eu?
- Porque você é a gerente deles.
- Mas você não vai me ajudar?
- Ajudo informando quem é quem.
O resto do dia foi pra gente andar. Janaína foi informando para os colaboradores quais os novos setores deles e isso foi causando reviravolta no meio da filial.
- Não quero sair daqui não – o Paulo foi logo reclamando. – Estou aqui desde que cheguei na loja, há...
- É uma determinação – Janaína falou. – Por favor, dirija-se até a linha branca e não faça questionamentos.
- Calma lá... Isso é jeito de falar comigo? Com quem você pensa que está falando?
- Com meu subordinado. Por favor, acate a minha ordem ou eu serei obrigada a mandá-lo para casa por insubordinação.
Se eu era ruim, Janaína era duas vezes mais ruim que eu. O Paulo saiu bufando e foi pro novo setor, mas com a maior cara de bunda.
- Pensa que vai subir em cima de mim? Está muito enganado – ela comentou comigo.
- É isso aí. Vem, tem mais um monte pra gente comunicar.
Depois que terminamos essa tarefa, chegou a minha vez de mudar os meus de setor. Eu pensei, repensei, pensei de novo e tomei muito cuidado com as modificações que fiz.
Quando a equipe tarde chegou, eu os reuni na sala de reuniões e apresentei a Janaína:
- Essa é a Janaína Santos, ela é a nova gerente da filial.
- Hãããã? – a Rita já foi logo arregalando os olhos e abrindo a boca.
- Calma, Rita! Vocês não se livraram de mim. Ela veio somar comigo e ficará no período manhã. Eu continuo com vocês à tarde.
- Ah, sim...
- Quer falar alguma coisa, Jana?
- Não, Caio. Obrigada.
- Mas eu quero. Quero só deixar vocês cientes que a Janaína é tão líder quanto eu e que vocês devem respeitá-la da mesma forma que respeitam a mim, ou melhor, da mesma forma que aprenderam a me respeitar, né?
Alguns riram.
- Ela é gente boa, mas cuidado com ela. Ela pode morder de vez em quando.
- Está me chamando de cachorra, menino? – Janaína olhou pra mim.
- Quase. Não, é brincadeira. Relaxem, a Jana e eu somos parceiros e não é de hoje. A gente entrou na empresa praticamente juntos. Na verdade, eu vim pra cá porque ela me trouxe, né?
- É isso aí.
- Então a respeitem, por favor. E atendam as solicitações que ela fizer.
Claro que o pessoal já a conhecia. A Jana já tinha ficado na loja algumas vezes, mas eu resolvi apresentá-la oficialmente, para desencargo de consciência.
- Licença, pessoas – Janaína levantou. – Eu vou voltar pro campo. O Caio precisa falar em particular com vocês.
- Obrigado, Jana.
Enquanto ela saía eu fui fazendo algumas anotações no meu caderno. O pessoal estava calado, esperando o que eu ia comunicar.
- Bem, vamos lá. Para quem estava de folga ontem, eu tive uma reunião com a Duda e com o Antony e fui aprovado em definitivo na função de gerente, para o desagrado geral da nação.
Alguns riram, mas me apoiando. Outros ficaram irritados. A Rita ficou com ódio.
- Quando eu tive a proposta para assumir essa loja, me foi imposto uma meta de trabalho e eu consegui ultrapassar essa meta. Queria agradecê-los por terem me ajudado. Mais tarde eu passo um vídeo pra quem não veio ontem.
Falei mais algumas coisas e quando finalmente cheguei no ponto que queria chegar, respirei fundo e pedi coragem à Deus. Eu sabia que eles iam reclamar muito.
- E pra finalizar com a reunião, quero informar que houve alterações no layout.
- Que é isso? – perguntou uma colaboradora.
- Quero dizer que à partir de hoje todos vocês estão em outros setores. A Eduarda pediu para que eu remanejasse vocês.
- Ah, não acredito...
- Silêncio... Silêncio, por favor... Vou informar os nomes e os novos setores, tudo bem?
Eles ficaram resmungando.
- Alice agora você é de colchões e estofados, Anderson agora você é dos móveis, Arlete agora você é dos móveis, Cida, agora você é de linha branca... – a lista era enorme. Eu fui falando nome por nome, setor por setor e não dei ouvidos as reclamações que eles fizeram. – Rita agora você é dos móveis...
- O QUÊ? JAMAIS!
- Silvia você agora é de som e imagem...
Eu sabia que a desgraçada ia questionar e ia fazer escândalo. Eu a coloquei nos móveis de propósito, só para ela causar e eu ter a chance de mandá-la pra casa por 3 dias.
- Todos entenderam os novos setores? Então por gentileza, vamos começar o nosso trabalho. Bom dia à todos e vamos arrasar, hein? Estão liberados.
Eles saíram, mas saíram com cara feia. Eu arrumei a sala e enquanto fazia isso rezei para Deus tirar a inveja e o ódio de cima de mim.
- Amém – finalizei a minha oração e saí da sala.
Quando coloquei meus pés na loja, percebi que vários colaboradores não tinham ido para os setores que eu havia informado. Isso me deixou extremamente irritado.
- Anderson, vai pro seu setor novo, por gentileza.
- Mas, Caio... Eu não queria sair daqui...
- É uma determinação da Eduarda. Você vai desobedecê-la?
O moleque saiu resmungando. Eu falei com todos e deixei a maldita da Rita pro final.
- Rita, vem pros móveis, por favor.
- Não saio daqui nem amarrada.
- Se você não vier pros móveis você vai pra casa por três dias. Você escolhe.
- Quer discutir aqui na frente de todos? Pra mim tá ótimo. Quer que eu mande alguém trazer um cafezinho?
- Não, não precisa. Basta você ir pro setor novo, por favor.
- Já falei que eu não vou, seu infeliz!!!
Era isso que eu queria. Eu saí andando com o nariz soltando fogo e fui direto pra sala da Eduarda. Lá fiz uma suspensão de um dia por indisciplina e desrespeito. Aquela vagabunda ia me respeitar, ah ia!
- Senta aí.
- Eu vou pra casa por três dias?
- Não. Você vai por um dia. Isso daqui é uma suspensão por indisciplina e desrespeito. Você me chamou de infeliz e por causa disso está sendo suspensa.
Ela assinou e não falou nada.
- Posso sair?
- Não, não pode. Eu acho que não fui claro o suficiente com você da outra vez. Com quem você pensa que está falando, Rita? Com seu pai? Com seu irmão? Com seu filho ou com seu marido?
Ela ficou calada.
- Eu te fiz uma pergunta! Responda!
- Com nenhum deles.
- Excelente – tive que me controlar para não gritar. – Escuta aqui, Rita... Eu só vou falar uma vez e essa vai ser a última vez! Ou você passa a me respeitar, ou as coisas vão começar a esquentar pro seu lado. Eu não sou obrigado a chegar aqui e a ouvir xingo de sua parte. Eu não sou seu filho pra você me chamar de infeliz...
- Ah...
- EU NÃO TERMINEI...
Ela ficou com medo, percebi isso pela cara que ela fez.
- Eu já estou por aqui – passei a mão na testa – com você. Eu já estou de saco cheio de sua irresponsabilidade. Eu não estou falando com uma criança, eu estou falando com uma mulher, com uma senhora. CHEGA! Ou passa a me respeitar, ou o bicho vai pegar pro seu lado. Da próxima vez que você me xingar, que você me ofender, que você desdenhar pra cima de mim, eu vou passar o caso direto pro jurídico e vou dar um jeito de você ser desligada por justa causa. Entenda do jeito que você quiser entender. Eu não sou trouxa, eu não sou idiota e eu não sou obrigado a aguentar desaforo da sua parte. Coloque-se no seu lugar, faça o seu trabalho que eu faço o meu. Entendeu ou quer que eu desenhe pra ver se você assimila mais facilmente?
Ela ficou calada.
- ENTENDEU, RITA?
- Não grita comigo!
- Só assim você vai entender, porque eu já falei uma, duas, três vezes... Você entendeu?
- Sim!
- Ótimo. Então pega as suas coisas e vai pra casa. Eu só quero te ver aqui depois de amanhã.
Ela saiu calada. Pela primeira vez eu percebi que a mulher ficou intimidada. Eu tremi e quase chorei de tanta raiva que senti naquele momento. As coisas não estavam sendo fáceis pro meu lado.
- Oi, amor – eu o abracei e dei um beijo no cangote do meu namorado. – Que cheiroso!
- Acabei de tomar banho. Você está melhor?
- Muito! A Janaína elevou o meu astral. Ah, eu amei o bilhetinho que você deixou no espelho pra mim hoje, viu? Obrigado!
- Vivo sozinho, pensando em você...
- Bobo! Quero ir num show deles, mas não vai ter nenhum por enquanto.
- É eu sei. Vai ter do Gusttavo Lima. Vamos?
- De novo? A gente já foi no show dele três vezes!
- Qual o problema? Vamos de novo, ué.
- Então vamos, oras.
Só naquele ano Bruno e eu tínhamos ido no show do Luan Santana, do Gusttavo Lima, da Maria Cecíla e Rodolfo e do Sorriso Maroto. Em 2.011 nós fomos em vários. Só no Jorge e Mateus fomos três vezes, sem contar o da Britney, é claro.
Bruno me contou como foi o dia na faculdade e no trabalho e eu contei como tinha sido o meu na loja. Ele me apoiou e muito com relação a atitude que tomei com a Rita.
- Essa é uma mal-amada. Isso deve ser falta de uma pica bem dura no meio das pernas dela. Relaxa, amor.
Ele me fez rir. Deveria mesmo ser falta de sexo.
- Ai, ai. Estou com saudade dos meus filhos já.
- Eu também. A gente tem que dar um banho neles – Bruno me lembrou disso.
- Hora de levar a Gertrudes no pet shop para fazer as unhas.
Não adianta fazer essa cara de “oi?”. É isso mesmo que você entendeu. A Gertrudes faz as unhas no pet shop e muitas vezes ela volta pra casa com as unhas pintadas. Teve uma vez que ela apareceu com as unhas vermelhas, parecendo uma puta. Faltou só o batom, mas isso não dava pra colocar.
Enzo também fazia as unhas, mas ele não voltava com esmalte. A gente pedia pra cortar, principalmente a dele, para eles não nos arranharem. Se bem que a Gertrudes nunca faria uma coisa dessas. Ela ia mais por estética mesmo.
Por que está fazendo essa cara de “ai, não acredito!”? Qual o problema dos meus gatinhos fazerem as unhas no pet shop? Eu não vejo problema nenhum nisso! E para de rir! Que coisa!!!
- Cadê a Gertrudes?
- MÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃE...
- Eita gata burra do caralho! É pai, filha. É pai! Não é mãe, é pai!
- MÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃE...
- Ai tá bom, tá bom. Vai embora que você já me irritou. Vou pegar o Enzo, pelo menos ele não me ofende. ENZÔ?
Fui atrás do gato e o encontrei brincando com alguma coisa. Quando eu me aproximei e vi que era uma barata, quase fiz o percurso da São Silvestre em 5 segundos.
- ACODE, BRUNO, ACODE!
- Que foi, criatura! Parece que viu um fantasma!
- O ENZO TÁ BRINCANDO COM UMA BARATA – eu já estava em cima da cama, grudado na parede. – VAI MATAR... VAI MATAR...
- Pelo amor dos meus filhinhos, isso tudo é medo de uma barata? Eu, hein?
Bruno saiu todo valentão e eu fiquei lá em cima da cama, morrendo de medo de uma barata. Sim, eu tenho medo e daí? Se tiver rindo de mim pode parando, hein? Isso não tem graça!
- Vo-você matou? – eu coloquei a cabeça pra fora do quarto, todo arrepiado.
- Matei, Caio! Vem ver!
- DEUS ME LIVRE. JÁ JOGOU O CADÁVER NO LIXO?
- Já amor, já joguei!
- Então leva o lixo lá pra fora, por favor...
- Calma, amor... Ela tá morta! Ela não vai sair andando do lixo...
- Aaaai, mas vai que ela ressucita! – fiquei todo arrepiado.
- Bobinho – Bruno deu risada e me puxou para um beijo. – Eu te protejo das baratas, tá bom?
- Obrigado. Assim eu fico mais aliviado, mas mesmo assim eu levaria o lixo se fosse você!
- Eu não vou levar o lixo, eu vou é te levar pra cama pra gente namorar um pouquinho. Bobinho mais lindo de todo o universo!
O medo da barata passou rapidinho quando meu namorado começou a morder a minha orelha.
- Joga... Ui...
- Não fala nada, tá bom?
- A barata... Ui... A... Que delícia... Ui...
Ele passou a língua pelo meu pescoço e mordeu meu queixo com uma suavidade monstra.
- Ai, arrepiou...
- Arrepiou, é? Hum?
- Joga o lixo... Ai, Bruno... Que delícia...
- Cala a boca e me beija, garoto medroso!
Eu beijei e sorri. Nada mais me importava, eu só queria ficar com ele. Ficar com ele a noite toda se preciso fosse.
- Ah... – gemi baixinho e arranhei as costas dele. – Bruno...
- Eu te amo – meu namorado mordeu a minha orelha e respirou dentro dela, me fazendo arrepiar mais ainda.
O danado encheu a camisinha com o gel que esfriava e quando me penetrou eu fiquei enlouquecido. Nunca tinha sentido nada tão louco como aquilo.
- Ai, Bruno...
- Meu príncipe!
- Ah... Hum...
- Você é uma delícia, coisa linda... Você é uma delícia...
Gozamos juntos e eu nem segurei no pau. Gozei com a penetração dele e isso foi maravilhoso. Relaxei e muito após esse momento.
- Eu te amo – falei baixinho.
- Eu também te amp. Te amo pra sempre.
- Por toda eternidade, mas será que dá pra você levar o lixo lá pra baixo?!
Com a chegada da Jana, eu passei a entrar na loja às 13 horas e por causa disso, tive tempo para me dedicar a academia. Felipe ficou feliz com isso:
- Valeu por hoje, Caio. Pode ir pro banho.
- Obrigado, Felipe. Amanhã é perna, né?
- Exatamente. Te espero no mesmo horário de sempre. Ainda bem que o senhor encontrou um tempo extra pra treinar.
- Pois é. Vou nessa, bom trampo.
- Pra ti também.
Me dirigi ao vestiário e ao chegar lá, me deparei com uns 10 caras peladões. Enquanto eu pegava as coisas no armário para tomar banho, fui obrigado a contar carneirinhos para não pensar sacanagem com eles e trair o meu namorado. Se isso acontecesse eu ficaria muito bravo comigo mesmo. Tive que fazer mágica, mas consegui me controlar.
Se fosse possível, eu ficaria na ducha por duas horas só para não encontrar com aqueles garanhões. Era um corpo mais bonito que o outro, dava até raiva.
Por sorte, quando saí não tinha mais nenhum por lá. Ainda bem, porque seria difícil não olhar para eles. Impossível mesmo.
Me arrumei, me perfumei e saí para almoçar. Eu ainda teria um longo dia pela frente.
Minha intuição estava certa. Bastou entrar para perceber que o clima estava acelerado dentro da filial. A pobre da Janaína estava andando de um lado para o outro como uma barata tonta.
- Está tudo bem por aqui?
- Bem? Eu estou correndo mais que carro de fórmula 1 hoje, meu filho. Ainda bem que você chegou. Preciso de sua ajuda.
- Que se passa?
- Vai lá na mesa pra você ver o tanto de coisas que eu tenho pra processar. E hoje você tem audiência.
- Eu? Por que eu?
- A Duda ligou e falou que é pra você ir.
- Só Cristo na causa.
- Jesus me chicoteia, hoje o dia não está sendo fácil.
- E que horas é a minha audiência?
- Duas e meia.
- Cacete. Estou lascado.
- Se fosse só você a gente dava um jeito. Na próxima encarnação eu vou querer pentear bananas, mas não vou ser líder mais. Deus me livre, sobra tudo pra mim.
- Pentear bananas? E banana tem cabelo?
- Ah, se não tiver eu coloco uma peruca, mas não viro mais líder. Sai fora... Quero essa vida pra mim mais não. O telefone tá tocando, vai atender que é pra você.
- Como você sabe?
- Não sei, mas se não for vai passar a ser porque eu estou indo almoçar. Com licença, passar bem e não me ligue. Esqueça que eu me chamo Janaína durante os próximos 65 minutos. À partir de agora eu me chamo Gorete. Tchau!
- Eu, hein? Essa daí ficou louca!!!
Atendi ao telefone, vi as coisas que a gente tinha pra fazer, vi meus e-mails, vi quantas faltas eu tive, preparei alguns relatórios e só depois fui cumprimentar meu pessoal.
- Boa tarde, boa tarde, boa tarde!!! Bom trabalho pra vocês...
Andei pela loja toda e não encontrei a Rita. Será que ela ia faltar? Torci para que sim, pois só assim eu teria argumentos para encaminhá-la por justa causa. Eu ia adorar.
Voltei da audiência e ela não tinha aparecido. É, ela tinha faltado. Fiquei torcendo para que fosse sem atestado. Eu ia amar... Deus não ia me desamparar.
- Como foi a audiência?
- Tranquila. Vamos ter outra daqui um tempo.
- Odeio essas coisas.
- Pois somos dois, Gorete.
- Gorete? Tá louco?
- Foi você mesma que disse que se chamava Gorete...
- Já me chamo Janaína de novo, menino.
- Você está bem? Andou cheirando meia hoje cedo?
- Hein? Credo, seu doido! E eu lá faço essas coisas?
- Tá toda doida hoje, minha filha.
- E quando eu não sou doida? Me diz?
- Bom, isso é verdade. Fazendo o quê?
- Mandando um e-mail ao RH para encaminhar a minha bonita ao INSS.
- Adoro!
- Vem comigo que é sucesso, Caio Monteiro!
- É “nóis”, parceira.
- Sua demônio de saias faltou hoje, né?
- Faltou. Queira Deus que seja sem atestado. Eu ia amar que fosse assim.
- Deve ser. Aquela velha mal-comida não tem nem capacidade para ir num postinho pegar um atestado. Esse povo é tão burro que não sabe nem fazer as coisas direito.
- Verdade – eu ri. – Você é louca, Jana.
- Vem comigo que a sua estrela brilha.
- Eu estou doidinho pra mandar ela por JC.
- Vai acabar conseguindo, você vai ver.
- Deus te ouça.
- Aquela Rita... – Janaína imitou a Carminha de “Avenida Brasil”.
- Carminha, sai desse corpo que não te pertence!!!
- Eu sou a Carminha em formato afro descendente.
- Não, você é a Carminha amarelada. De afro você não tem nada.
- Escuta aqui, lombriga com reumatismo, se tem algo que eu fico louca é quando falam que eu não sou preta! Aí sim eu fico preta passada na borra de café!!! Me respeita!!!
- Mas você está amarela, Jana! É fato!
- Cala a boca! Vou colocar seu nome na boca de uma cabra que tem lá perto de casa!
- TEM CABRA PERTO DA SUA CASA? – fiquei perplexo.
- Meu filho... Tu não conhece meus vizinhos! Já apareceram com galinha, com galo, com vaca, com cavalo... Agora tem um bode lá com bigodes. Ele parece com um tio meu, diga-se de passagem.
Eu ri e ri alto. Como a Janaína era má, Jesus...
- Doida!
- É verdade. Eu olho pro bode, pra cabra, sei lá que porra é aquilo, e vejo meu tio. Igualzinho, cara!
- Nossa, eu quero morrer seu amigo, Jana!
- Mas é sério! Eu vou tirar uma foto dos dois pra você ver.
- E você não sabe se é bode ou cabra?
- Não, não sei. Eu vou ficar olhando as partes íntimas do bichinho, Caio? Não sou veterinária!
- Ai, Jana... Eu te adoro, juro!
- Pois é, daqui a pouco aquela raça vai aparecer com um leão ou um elefante. Não me admiraria em nada.
- Mas o que eles fizeram com a vaca?
- Sei lá. Devem ter doado ou vendido. Povo meio louco, sabe?
- Eu, hein? Vou pra perto da sua casa não. Vai que eu levo um coice.
- Pronto. Mandei os e-mails e agora é só aguardar a resposta. Vem comigo que a sua estrela brilha!!!
JUNHO DE 2.012...
Não dava pra acreditar que nós já estávamos chegando no meio do ano. Parecia que o natal tinha sido uns dias atrás e nós já estávamos no mês 6. O tempo estava passando muito rápido, muito rápido mesmo.
Eu estava com um sorriso de orelha à orelha porque a maldita da Rita já estava na segunda suspensão de 3 dias por falta injustificada. Isso significava que ela seria desligada por justa causa caso faltasse novamente e só por causa disso, eu estava acompanhando ainda mais de perto toda a rotina de trabalho dela.
- Tudo bem aí, Rita?
- Tudo ótimo. Algum problema, Caio?
- Não, só pra saber. Olha o foco, hein?
- Pode deixar, pode deixar.
Ela estava melhor. Depois do que aconteceu no começo de maio ela não me desrespeitou mais, mas também não parou mais de faltar. Acho que o nosso santo não bateu mesmo, mas a culpa não era minha. Eu só estava fazendo o meu trabalho.
As coisas na loja iam de vento em poupa, Os nossos resultados aumentavam a cada dia que passava e isso estava deixando a Eduarda feliz da vida:
- Parabéns aos dois, estou gostando desse trabalho em equipe. Meus parabéns!
- Obrigado – Janaína e eu agradecemos.
- Quero lembrá-los que estarei entrando em férias agora em julho e que vocês responderão direto pro Antony nesse período. Muito cuidado com qualquer coisa que façam, hein?
- Deixa com a gente – Janaína tranquilizou a nossa chefa.
- Ah, antes que me esqueça; Caio, o Antony liberou a campanha que você bolou. Ele disse que vocês dois podem seguir com as tratativas.
- Brincou?
- Não, é sério!
- E que prêmios ele liberou, chefa?
- 5 celulares, 2 televisores de 32 polegadas e 1 refrigerador para cada período.
- Aí, sim hein? – eu abri um sorriso. – Agora esse povo vai se motivar de vez!!!
- Arrasou – Janaína riu.
- Ele só fez isso porque o índice de lucro aumentou e muito nesses 4 meses. Parabéns aos dois!
- Muito obrigado!
- Era só isso. Podem voltar aos afazeres de vocês.
- Obrigado, Duda.
Mais um aniversário do Nícolas tinha chegado, o 2º de sua vida. E é óbvio que o Bruno e eu fomos na pequena comemoração.
Naquele ano não houve festa como no ano anterior, mas é claro que o Fabrício organizou um bolinho só para os mais íntimos. Fiquei feliz em ter sido convidado.
- Quem é o aniversariante mais lindo de todo o Rio de Janeiro? – perguntei.
- Sou eu!!! – Nícolas não foi nem um pouco modesto.
- É você mesmo, seu lindo! Parabéns, olha aqui o presente do tio Caio!
- “Bigado”.
- Abre pra você ver o que é!
Era um quebra-cabeças. O menino ficou fascinado com o jogo.
- “Bigado”, tio Caio!
- De nada, coisa mais linda.
- E meu beijo? Eu não ganho um beijo não? – Bruno agachou na frente do Nícolas.
O menino beijou meu namorado, pegou o presente dele e ficou enlouquecido com o caminhão de bombeiros. Ele foi correndo mostrar pro pai.
- Pai, pai... “Oia, oia”! É um “camião de bombelo”!
- Olha que da hora, filho! – até Fabrício ficou encantado. – Já agradeceu ao tio Bruno?
- Já! “Bigado”, tio “Buno”!
- De nada, meu lindo! De nada – ele ficou todo encantado.
Na festa estavam os pais e familiares do Fabrício, o tio do Nícolas por parte de mãe, Vinícius e a esposa, Rodrigo e a namorada e seus pais. Sem contar uns colegas de trabalho do pai do aniversariante e a nova namorada dele, que até aquele momento eu não conhecia.
- Caio, essa é a Carol. Carol, esse é o Caio, um grande amigo meu.
- Olá – eu fui cumprimentá-la. Muito prazer em te conhecer.
- O prazer é todo meu.
- Esse aqui é o Bruno – falei. – Meu companheiro.
- Oi – Bruno também beijou a mulher.
- Prazer.
- Todo meu.
- Seu aniversário está chegando, hein moço? – lembrei.
- Pois é. Vou fazer 18 anos.
- 18 mais 9 – dei risada.
- Rodrigo já vai fazer 27 anos? – Bruno se espantou.
- Vai sim – sorri. – O tempo passa!!!
- Gente... Nem parece! Eu daria 23, 24 fácil pra você.
- Pô... Valeu! Só por causa disso eu vou te dar um brigadeiro, “guenta” aí. Gostei disso!
- Está tudo bem, Dona Inês? – perguntei. Ela parecia meio preocupada.
- Está sim, querido. E com você?
- Bem. A senhora parece angustiada.
- Estou preocupada com minha irmã. Ela vai operar amanhã.
- Ah, entendo. Posso saber do que se trata?
- Mioma.
- Ah, vai ficar tudo bem, não se preocupe.
- Obrigada pelo apoio, filho.
O aniversário do Nícolas foi bem tranquilo, mas ao mesmo tempo tristonho porque ele não tinha com quem brincar e ficou brincando sozinho a maior parte do tempo. Meu namorado estava tão cansado que nem sentiu vontade de brincar com o menino naquele dia, exceto quando o mesmo pediu:
- Vem “blincar” comigo, tio “Buno”!
- Ô, que dó... O tio já vai, espera aí...
Pois mesmo cansado ele saiu de onde estava e foi brincar com o caminhão que tinha dado ao aniversariante.
- Ele acende a luz, tá vendo?
- “Oia”, pai, “oia”... Que da “hola”!!!
Cantamos parabéns pro menino por volta das 19 horas. Comemos o bolo e ficamos lá mais um pouco. O Bruno estava se divertindo muito com o menino.
- Você tem que montar o quebra-cabeça até o desenho ficar completo, entendeu?
- Tá!
Nícolas tentou fazer tudo sozinho e nós só ficamos supervisionando. E não é que o danado soube montar?
- Deixa ver se eu engano ele...
Fabrício deitou de bruços ao lado do filho e disse onde ele tinha que colocar as peças, mas disse o local incorreto só pra ver a reação dele:
- Não, papai! Não cabe! É “ati”, ó...
Fabrício não enganou o filho. Como o menino era esperto!
- Eu “quelo blincar” com meu carro, pai!
- Não. Seu carro só amanhã, aqui dentro é pequeno demais pra você brincar com ele.
- Eu “quelo”!
- Não senhor. Amanhã, tá bom? Hoje não. É melhor você brincar com seu boneco agora.
Tivemos que ir embora. Já era junho e logo em breve meu namorado entraria em ritmo de provas e precisava começar a estudar.
- Obrigado por terem vindo, meninos. E obrigado pelos presentes também.
- Imagina. Obrigado por nos convidar.
A gente se despediu de todos, nos despedimos do Nico e saímos. Fazia frio no Rio de Janeiro naquela noite de domingo. Nem deu pra acreditar nisso.
Foi em um dia que eu estava morrendo de dor nos dentes por causa que tinha apertado o aparelho que tudo aconteceu.
Rita tinha faltado mais uma vez e por causa disso, a Eduarda pediu a intervenção da área jurídica da empresa. Assim que a mulher chegou na loja naquela sexta, a primeira coisa que fiz foi pedir para ela se dirigir até a sala de reuniões.
- Vai me suspender de novo, Caio?
- Não. Você vai falar com a Eduarda. Por favor, vamos até lá.
- Deixa eu bater o crachá...
- Não, não será necessário. Por favor, me acompanhe.
Todos os funcionários ficaram olhando com ar de apreensão. Acho que eles sabiam o que estava acontecendo.
Rita e eu entramos na sala de reuniões e eu pedi para ela esperar. Entrei em contato com a Duda por telefone e cerca de 5 minutos depois ela apareceu com o advogado da empresa, a Janaína e outro gerente da rede, para que estes servissem de testemunhas.
- Boa tarde. Tudo bem, Rita?
- Tudo ótimo, Eduarda. E você?
- Bem, obrigada.
Duda sentou-se de frente para a mulher. Eu estava com medo pra falar a verdade. Louca do jeito que a Rita era, era capaz que ela me agredisse.
- Bom, Rita, nós a chamamos aqui para conversamos a respeito de suas faltas injustificadas.
- Hum?
- Nos últimos meses você teve um número significativo de faltas e isso ocasionou em várias sanções disciplinares. Creio que o Caio tenha comentado que um certo número de sanções poderia ocasionar em justa causa, certo?
- Sim, ele comentou.
- Pois bem. Nós a chamamos para informar que você está sendo dispensada por justa causa...
- O QUÊ?!
- Devido ao número de faltas injustificadas que você teve nos últimos meses...
- EU NÃO VOU SAIR DAQUI POR JUSTA CAUSA, EU NÃO VOU!
- Gostaria de pedir que você se acalmasse. Aqui está o advogado da empresa Dr. Antônio e ele explicará os termos jurídicos para este procedimento.
O advogado falou, falou e falou, mas a Rita não parava de gritar. Ela fez um verdadeiro escândalo.
- Eu peço que por gentileza você assine aqui onde está o seu nome...
- EU NÃO VOU ASSINAR PORRA NENHUMA!!! TUDO ISSO É CULPA DESSE DSSGRAÇADO, DESSE PIVETE, DESSE INFELIZ...
Eu fiquei calado, mas não tirei os olhos do rosto dela um segundo sequer. Ela não me intimidava, a não ser que fosse me agredir, é claro.
- Por favor, assine aqui – mandou o advogado.
- JÁ FALEI QUE EU NÃO VOU ASSINAR.
- Neste caso nós temos duas testemunhas, no caso a Janaína e o Dimas, ambos gerentes do grupo. Eles assinarão como testemunhas e o documento passará a ter validade à partir de então. Janaína, por favor...
Janaína rubricou no local indicado e depois foi a vez do Dimas. Ele era o gerente que estava dividindo a loja com o Jonas, provisoriamente.
- Obrigado – o advogado recolheu o documento. – Devo informar que devido a esse procedimento, você não receberá indenização por parte da empresa, receberá apenas os dias trabalhados...
- EU VOU PROCESSAR VOCÊS! EU VOU PROCESSAR!
Após informar como seria o procedimento de homologação e informar todos os trâmites legais, nós pedimos que a dita cuja se retirasse, mas ela deu trabalho até pra isso.
- Se você não sair por conta, serei obrigada a chamar os seguranças – falou Eduarda.
- NINGUÉM VAI COLOCAR AS MÃOS EM MIM! NINGUÉM!
- Então por favor, retire-se pois você não faz mais parte do time de funcionários da empresa. Foi um prazer trabalhar com você.
Rita me xingou de tudo quanto foi nome, mas eu não me importei. Enquanto ela me xingava, eu rezava e pedia proteção pra Deus. Nada ia me acontecer e aquela inveja que ela sentia de mim estava com os minutos contados.
A mulher saiu gritando no meio da loja e foi o maior vexame, porque todos os clientes ficaram olhando e a minha equipe então nem se fala. Eu fui obrigado a fazer uma reunião emergencial com eles após a saída da Rita:
- Como vocês devem ter notado, a empresa acabou de desligar a Rita por justa causa por excesso de sanções disciplinares. Antes que alguém me culpe por isso, quero deixar muito claro que eu só cumpri com meu papel e apliquei as sanções devido aos erros que ela cometeu. Por causa disso ela foi desligada e não faz mais parte do quadro da empresa. Que isso sirva de exemplo para todos e que não aconteça mais isso. Era só. Eu peço discrição com esse assunto, por favor. Uma boa tarde!!!
- Estou preta passada no processador – Janaína estava toda tensa. – O demônio de saias é o cão em forma de gente. Parece até o chupa cabra! Deus é mais!
- Agora as coisas vão começar a fluir, você vai ver. Me sinto tão leve por ter me livrado daquele cão... Graças a Deus!!!
- Parabéns! Você é foda!
- Vem comigo que é sucesso, Janaína Santos!!!
- É tudo culpa da Rita – ela voltou a imitar a Carminha de “Avenida Brasil”.
Nós rimos.
Eu peguei meu notebook e fui direto pro Twitter para ver o que estava acontecendo no mundo online.
Dei uma fuçada nas coisas, mandei uns recados pisso tudo, parti para o Facebook.
Entrei e fui logo vendo umas fotos que o meu Bruno tinha postado, minutos antes. eu curti, comentei e compartilhei as que eu estava com ele e só depois fui fuçar no perfil dos meus outros amigos.
Conversei através do bate-papo com o Víctor e de repente, não mais que de repente, percebi que eu tinha uma nova solicitação de amizade.
Cliquei no ícone e em seguida a foto do meu irmão gêmeo apareceu na minha frente. Cauã Monteiro queria ser meu amigo no Facebook.
- Cauã? Me adicionando no Facebook?
Isso só me fez crer que o meu sonho não foi um simples sonho. Isso só me fez crer que ele realmente queria se aproximar novamente de mim. Isso só me fez crer que algo de muito errado estava acontecendo, mas eu ainda não sabia o que era.
Por que ele tinha me adicionado? Por que ele queria ser meu amigo no Face? Por que ele estava tentando se reaproximar de mim? O que tinha por trás daquela história?
Sim, porque com certeza algo deveria existir, senão ele não me adicionaria assim tão de repente, assim tão do nada... Algo estava acontecendo e eu queria saber o que era.
aceitasse, poderia dar margem para uma reaproximação. Se eu não aceitasse, deixaria claro que eu não queria mais contato com eles. Eu não sabia o que deveria fazer.
- Bruno? Brunô?
- Oi? Já vou!!!
O Bruno ia me ajudar, ele ia me dar uma luz. Ele ia me aconselhar e ele saberia o que seria melhor a ser feito. Eu ia pedir ajuda do meu namorado. Só ele poderia me ajudar a entender o que estava acontecendo. Só ele.
Saí do Facebook e voltei pro Twitter e só então vi que o Cauã também estava me seguindo naquela rede social. Não, definitivamente algo muito esquisito estava acontecendo. Onde estava o Bruno que não ia me ajudar?
Bruno e eu estávamos de folga e estávamos de bobeira em casa quando de repente ele colocou na cabeça que queria dar uma olhada nos carros de uma concessionária, já que os carros estavam com desconto e abatimento de impostos.
- Só você mesmo! Seu carro está ótimo!
- Mas eu cansei dele. Eu quero trocar! Desde a última vez que ele pifou eu fiquei com raiva. Já quero outro.
- Então vamos ver.
Chegamos na loja de carros pouco depois do horário de almoço e não tinha nenhum cliente, para o nosso deleite.
- Boa tarde – um vendedor se aproximou. – Posso ajudar?
- Boa tarde! Eu queria trocar meu carro...
- Ótimo! E você já tem algum modelo em vista?
- Ainda não. Por enquanto eu só estou olhando mesmo.
- Fiquem à vontade!
- Obrigado.
Meu namorado e eu andamos por entre os carros e ele ficou em dúvida entre vários. Eu me apaixonei por um em especial.
- E aí? Gostaram de algum? – o vendedor voltou.
- Vários – respondeu o meu namorado. – Quanto custa esse Ford F-250?
Quando o vendedor falou o preço, eu quase pari um filho pela orelha. Era mais de cem mil reais.
- Sangue de minha vó – Bruno saiu andando. – Não esse não. E esse Edge?
Era mais caro ainda.
- Minha nossa! Por que os mais bonitos são os mais caros? E esse Transit?
Esse era um pouco mais barato, mas ainda fugia de nosso orçamento.
- Ah... E esse Fiesta?
Esse cabia direitinho no bolso do Bruno. pelo menos aparentemente.
- Ah, agora você está falando a minha língua!!! E deixa eu te perguntar, posso dar o meu velhinho de entrada, né?
- A gente conversa a respeito.
- Posso dar uma olhada por dentro?
- Claro! Se quiser pode até fazer um test-drive.
- Perfeito. Vem, Caio! Vamos andar com ele...
- Vamos!
- Lindo ele, né?
- Bastante. E é confortável também.
Bruno dirigiu pelo quarteirão e voltou rapidamente. Ele gostou muito do carro, mas experimentou outros dois.
- Acho que vou ficar com o Fiesta, mas a gente vai ter que negociar.
- Por favor, me acompanhem. Vamos ver qual a melhor forma de pagamento.
Acompanhamos o vendedor até a mesa dele e ganhamos até um cafezinho. Eu dispensei o meu. Não curtia muito café.
Bruno tirou todas as dúvidas dele a respeito do financiamento, verificou a taxa de jurus e só depois de uma hora fechou a compra.
- E você, moço? Não vai querer levar um também?
- Não – eu sorri. – Querer eu até quero, mas não posso.
- Por que não? – Bruno me olhou. – Está na hora, né?
- Ai... Não me tenta!
Mas ele tentou. Bruno ficou falando as vantagens de ter um carro na minha orelha e me tentou tanto, mas tanto que...
- Deixa eu ver esse Ford KA...
Dei uma olhada no carro. Ele era amarelo e me chamou muito a atenção. Eu sempre curti carros amarelos. Eu entrei, fiz o test-drive e não resisti. Meu namorado insistiu tanto para eu comprar, que eu acabei comprando.
- Moço, eu vou levar – falei de uma vez por todas. – Seja o que Deus quiser!!!
Meu carro era lindo, perfeito, sublime! A direção era hidráulica e tinha todos os acessórios que eu podia imaginar. E era 0 KM.
Sentei com o vendedor e tirei todas as minhas dúvidas. Fechamos a forma de pagamento e eu pedi para que ele desse um jeito de deixar o carro mais claro. Na mesma cor, mas mais claro.
- Sem problemas, eu dou um jeito nisso pra você.
- Então combinado. Quando eu posso vir retirar?
- Dentro de 15 dias, pode ser?
- Pra mim está perfeito. Muito obrigado então!
- Imagina! Eu é que agradeço e parabéns aos dois pelas compras. Excelentes escolhas.
- Obrigado!
Bruno e eu saímos da concessionária e nos dirigimos até a casa do Rodrigo. Eu estava com a consciência pesada, mas... Já tinha dado a entrada e não podia simplesmente voltar atrás.
- E lá se foram literalmente 5 anos de economias – suspirei.
- Em algo útil, diga-se de passagem.
- Muito útil. Eu estava juntando dinheiro pra isso mesmo, mas na hora que acaba, dá uma dor no coração!
- Eu sei.
- Querendo ou não, foram exatos 5 anos de economias. Teve mês que eu deixei toda a minha comissão na poupança, Bruno! Doeu!
- Eu sei, eu sei. Só que quando o carro chegar, você vai ver que foi um bom negócio.
E de fato foi. A compra só foi possível de ser realizada graças às economias que fiz. Ver 60 meses de suor saindo da minha conta daquele jeito me deixou de fato vazio.
- Eu tenho uma novidade – falei.
- Que novidade? – perguntou Rodrigo.
- Eu acabei de comprar o meu carro!!!
- O QUÊ?!
- Eu acabei de comprar o meu carro!!!
- MENTIRA? COMO ASSIM? QUE HISTÓRIA É ESSA? ME CONTAAAAAA!!!
Expliquei o que tinha acontecido e o Rodrigo ficou feliz da vida. Isso foi motivo de comemoração. Os pais dele também ficaram contentes com minha aquisição.
- Parabéns, Caio! Você merece!!!
- Obrigado, Dona Inês.
- Quero ver esse carro, hein? Quero só ver esse carro!
- Eu vou buscar daqui 15 dias.
15 DIAS DEPOIS...
Eu me senti realizado quando peguei a chave do meu carro na mão. Finalmente eu podia falar que um carro era meu, somente meu. No meu nome! Todinho meu!!!
- Ele ficou perfeito! – fiquei extasiado com a cor que o carro ficou. – Amei!!!
- Que bom que gostou. Parabéns novamente pela compra.
- Muito obrigado! E até logo.
- Até logo.
- Vamos, amor?
- Vamos, meu motorista mais lindo de todo o mundo!!!
Eu me senti a pessoa mais realizada do mundo quando comecei a dirigir o meu automóvel. Era a primeira vez que eu me sentia dono de fato de alguma coisa, porque até aquele momento eu não tinha feito nenhuma aquisição de grande porte como aquela.
Dirigi feliz da vida pelas ruas do Rio de Janeiro e fiz questão de me exibir para todos os meus amigos. Eles estavam reunidos na casa do Vinícius e quando eu cheguei na frente da casa dele, comecei a buzinar feito um doido. Todos saíram pra fora pra ver o que estava acontecendo.
- Ah, mentira? MENTIRA? – Rodrigo começou a gargalhar feito um tonto.
- É o Caio? – perguntou Bruna. – De quem é aquele carro?
- Que carro da hora!!! – Vinícius ficou espantado.
- Gente, é o Caio!!!
- Oi, povo de Deus! – sorri.
- MENTIRA QUE SEU CARRO É ESSE?
- É! Não é lindo, mano?
- CAAAAAIO... QUE COR DE CATARRO É ESSA??? – Rodrigo gargalhava.
- Que nojo, Rodrigo! – Bruna fez cara de desaprovação.
- Calado. Ele é lindo, ele é perfeito!
- Não acredito que você comprou um carro? – Fabrício saiu para olhar mais perto. – É seu mesmo?
- Claro que é! Surpresa!!! Não é lindo?
- Gente... “Inacrê”! – Bruna ficou séria. – Parabéns, Caio!
- Obrigado, Bruna!
- Deixa eu dar uma volta? – Rodrigo se aproximou e me abraçou. – Parabéns!
- Deixo, mas só depois do Bruno.
- Ele não andou ainda?
- Andou, mas como carona. Amor, vai lá – joguei a chave pra ele. – Vai estrear. Busca Gertrudes Filomena pra visitar os tios.
- Obrigado, amor. Eu não demoro.
- E o seu? Cadê o seu? – Rodrigo perguntou.
- Ficou em casa. O meu é mais lindo que o dele.
- Comprou um também? – Vinícius ficou chocado.
- Não, na verdade eu troquei. Troquei por um Fiesta preto. Perfeito!
Aquele carro foi a sensação entre meus amigos, mas também foi a sensação na loja. Janaína ficou maluca quando me viu com aquele automóvel.
- Veado?! Você comprou um carro?
- Comprei!!! Não é lindo?
- ESTOU PRETA GRELHADA NA CHURRASQUEIRA DE CARVÃO!!! MENTIRA QUE ELE É SEU?
- Não! Quer ver o documento? Oi, Alexia.
- Oi, Caio!
- Alexia, que está fazendo aqui na loja?
- Vim comunicar que fui promovida!
- O QUÊ?
- Fui promovida! Agora eu sou do time de vocês!
- WHAT?
- É isso mesmo, Caio! Precisa fazer essa cara de espanto não! Já esqueceu que eu estava participando do processo seletivo?
- Não... Mas eu não esperava que fosse tão rápido assim! Só eu que fiquei 15 anos esperando? É isso mesmo, produção?
- Pois é, gato! Isso é só pra quem pode, dá licença!
- Estou preto passado no banho de petróleo! Parabéns, amiga!
- Obrigada, amor. Muito obrigada!
- Que Deus abençoe essa nova etapa de sua vida e que dê tudo certo pra você. fiquei muito feliz. Cadê a Jana?
- Tá lá fora olhando seu carro.
Eu virei e vi a Janaína olhando até embaixo do carro. O que ela estava procurando?
- Que você está procurando?
- A câmera escondida! Isso só pode ser pegadinha. Primeiro essa quenga branca da 6ª idade me vem falando que virou gerente da loja do Barra Shopping e agora me aparece esse branquelo falando que esse carro é dele... Isso é demais pra mim... É muita emoção para um dia só... Cadê a câmera?
- Mas esse carro é meu! Eu comprei tem 15 dias e retirei ontem. Não é lindo?
- Incrível! Parabéns, Caio.
- Obrigado, Alexia!
Do nada a branquela começou a rir. Algo estava me cheirando estranho.
- Que é que você está rindo? – perguntei.
- Gente... Vocês acreditaram mesmo que eu passei? É claro que não! É brincadeira!!!
- SUA VACA! – Janaína ficou revoltada.
- Ai, Alexia... Como você foi maldita agora...
- Não é isso que eu vim falar pra vocês, é outra coisa!
- E o que é então?
- Isso. Olhem...
Alexia nos entregou uma folha de sulfite e Janaína e eu olhamos. Eu senti as pernas tremerem quando vi do que se tratava.
- VOCÊ TÁ PRENHA? – Janaína não foi nada discreta.
- Eu estou grávida. Prenha não.
- DE NOVO? – Jana estava doida naquele dia, só podia.
- Qual o problema?
- Ah... Isso é bom ou ruim? – indaguei.
- Isso é ótimo! Dessa vez foi totalmente planejado.
- Então meus mais sinceros parabéns!!! – abracei minha amiga. – Que Deus abençoe e que venha com muita saúde!
- Obrigada! Eu estou muito feliz!
- E de quem é esse filho? É do Diego ou do Cadinho? – perguntou Janaína.
- Ai, sua vadia! Como você é retardada! É do Brad Pitt!
- AI QUE BADAAAAAAAAAALO!! ADOOOOOOORO!!!
- Idiota! – Alexia riu. – Claro que é do Diego, né?
- Pensei que fosse do Cadinho! Desculpa!
- Vocês querem parar de fazer inveja? Ficam falando isso só porque as duas têm xarás em “Avenida Brasil”! Vocês estão se sentindo!
- Mas a Jana é a empregada gorda. Eu sou a Carolina Ferraz. Desculpa!
- Magricela mal-amada! Tomara que você engorde duzentos quilos nessa gravidez e tomara que você esteja esperando sêxtuplos!
- Porra... Agora você foi má, hein? Fala sério!
- É o que você merece! Vem, Caio! Vamos dar uma volta no seu carro novo. Adoro carros novos.
- Mas e a loja?
- Deixa a loja aí, a Alexia toma conta. A gente já volta, Carolina Ferraz!
- E daí que você está fazendo 54 anos? – abracei o meu irmão.
- Olha só, fala isso de novo e eu arranho o seu carro com uma chave de fenda!
- Não, não, amor! É brincadeira, é brincadeira! Arranha não porque ele custou 5 anos de economias!
- Pois então fique calado!
- Parabéns, seu cachorro!
- Au. Au – ele latiu no meu ouvido. – Obrigado, coisa chata!
- Muitos aninhos de vida, viu? Muita saúde pra ti, seu lindo que tanto amo!
- Também te amo, peste da minha vida!
- Feliz aniversário!
Bruno se sentiu aliviado quando ficou de férias da faculdade. Ele chegou em casa feliz da vida e isso foi motivo de comemoração para a gente.
- Agora sim – falei. – Literalmente na metade do curso.
- Não, não! Já falei que eu me formo em 2.013!
- Ah, vá! Só porquê você quer, né? Sonha aí!
- Você é um cachorro! Custa me deixar sonhar? Quer saber? Só de raiva agora eu me formo em 2.012!
Doce ilusão, pobrezinho. Ele queria porque queria diminuir o tempo do curso, mas é claro que isso não era possível.
- Isso merece uma “bebemoração”! – falei. – Vamos sair?
- Vamos! É tudo o que eu queria.
- No meu ou no seu carro?
- Hum... No meu! Os meninos ainda não viram meu carro novo!
Convidamos Janaína, Wellington, Rodrigo, Vinícius, Bruna, Fabrício, Carol, Vítor e Daniel. Só faltou a Bárbara.
- Que cara é essa, hein Digow?
- É que todo mundo tá com seu par, menos eu!
- Ô, que dozinha dele... Mas eu estou aqui, ó!
- Você já tem o Bruno, nem vai me dar atenção nessa noite!
- E você acha que eu vou perder a oportunidade de ficar ao lado do meu irmãozinho? É claro que não! A gente tem que comemorar as suas férias e comemorar o seu aniversário de novo!
- De novo? A gente já comemorou na semana passada!
- Comemoramos de novo, qual o problema? Quanto mais vezes melhor!
- Estou me sentindo tão velho, Caio...
- Mas você não está! Como o Bruno mesmo disse há um tempo atrás, você aparenta ter 23, 24 anos. 25 no máximo!
- Obrigado, mano. Você me fez me sentir muito melhor agora. É por isso que eu te amo.
- Eu também te amo.
- Acho bom! Já estava ficando com ciúmes.
- Seus pais ficaram com o Nícolas?
- Ficaram. Minha mãe adora o Nico.
- Quem não adora?
- É verdade.
- Deixa eu te contar um babado!!!
- Que foi?
- Alexia está grávida!
- De novo?
- Pois é!
- Parabéns pra ela!
- É! Ela está toda feliz.
- Que bom. Que Deus abençoe.
- É verdade. E a Babí? Como ela está?
- Bem, obrigado por perguntar. Estou com saudades dela.
- Imagino. Quando ela vem de novo?
- Só no final de agosto.
- Adoro essa época, nem sei porquê...
- Idiota! Vai fazer 24, hein?
- Pois é, pois é! Farei 24. Pelo menos eu não fiz 27 que nem você!
- Cachorro, safado...
Digow e eu conversamos por muito, muito tempo. Falamos de tudo um pouco, mas principalmente da volta dele pro Paraná. Eu já tinha que começar a me preparar para a hora da despedida.
- Vai ser muito difícil pra mim. Muito difícil mesmo.
- Pra mim também, Caio... Mas uma hora ia acontecer. Eu estou adiando este momento por 3 anos, mas chegou a hora. Não dá mais pra adiar.
- Eu entendo!
- E você ainda tem pensado no Cauã?
- Muito. Mais do que nunca inclusive. Eu não sei dizer, mas sinto que ele está muito próximo à mim.
- É a ligação de vocês dois. Eu tenho ciúmes disso.
- Tem?
- Lógico! Ele é seu irmão de sangue, eu só sou seu irmão de consideração. Uma hora você vai fazer as pazes com ele e talvez nunca mais fale comigo.
- Nunca faria uma coisa dessas, Digow! Nunca!
- Você promete? Você jura que não faria isso?
- Eu juro! Eu juro por Deus, por tudo o que há de mais sagrado. Se tem uma pessoa que eu não quero perder contato, essa pessoa é você!
- Assim eu me sinto mais calmo, mas isso não diminui o meu ciúmes do Cauã. Espero vê-lo pessoalmente um dia.
- Não sei se isso vai acontecer, mas quem sabe. Talvez aconteça.
- O futuro a Deus pertence.
- É verdade! Ei, e seus experimentos do doutorado?
- Me deixando louco, Caio! É muita coisa pra fazer, é muita análise, são muitos detalhes!
- Imagino. Deve ser bem difícil. Preparado pra defesa?
- Nem sonhando! Só de pensar me dá frio na barriga.
- Seu orientador é gente boa?
- Bastante. Ele me ajuda muito.
- Então isso é o que importa. Vai dar tudo certo!
Passar a noite com aquelas pessoas me deixou feliz. Não sei explicar o motivo, mas de repente eu senti como se aquela fosse uma de nossas últimas noites juntos. Por que eu estava pensando essas coisas?
Era a penúltima semana de julho e Bruno e eu estávamos fazendo aniversário de namoro. Dali uns dias faríamos aniversário de casamento também.
Era o nosso 3º ano juntos e até aquele momento nada de errado tinha acontecido para nos separar.
É claro que de vez em quando nós dois acabávamos discutindo por uma coisa ou outra, mas nada demais. Era briga rotineira de casal. Nada iria nos separar, nada.
Acontece que até aquele momento a gente ainda parecia o mesmo casal do começo da relação. Estávamos apaixonadíssimos um pelo outro e tudo era motivo para beijo, para abraço, para sexo...
Digo e repito: as únicas noites em que Bruno e eu não transamos naqueles dois anos de casados, foram as noites em que ele passou estudando para a faculdade e as noites em que eu dormi fora de casa, na casa do Rodrigo por exemplo. E só. Fora isso, todas as outras a gente aproveitou.
Se tinha algo que Bruno e eu tínhamos, esse algo era química na cama. Nós nos completávamos de tal forma, que não sabíamos viver mais um sem o outro.
- Eu te amo muito, meu amor!
- Eu também te amo muito, meu príncipe!
- Feliz 3 anos de namoro.
- Os 3 anos mais felizes de toda a minha vida – falei e caí nos lábios dele.
Daí pra frente vocês já imaginam. Na noite em que fizemos 2 anos de casados aconteceu a mesma coisa. Nós trocamos bombons e fizemos sexo a noite toda. Foi quente, foi especial, foi marcante.
- Eu te amo muito. Obrigado por morar comigo há 2 anos!
- Você me faz a pessoa mais feliz do mundo, Bruno! Obrigado por existir.
- Não fala nada... Apenas me beija, por favor... Me beija e me abraça... Me abraça...
- Te amo!
- Também te amo. Quero ficar com você pra sempre!
Janaína, Alexia e eu estávamos almoçando juntos. Fazia um tempinho que a gente não se reunia e nós resolvemos matar a saudade.
- Gente! Que mulher gorda é aquela? – Janaína estava olhando para uma moça obesa.
- Qual o problema, Janaína? – perguntei.
- Nenhum, Caio! É que ela é muito gorda, minha gente!
Alexia estava calada.
- Mas a gente não tem nada a ver com isso!
- Eu sei, só estou preocupada por causa da saúde dela!
A mulher em questão estava andando em nossa direção.
- Quantos quilos essa mulher tem, minha gente? – Janaína estava perplexa. – Duzentos?
- Alexia!!! – a mulher falou e abriu um sorriso.
- Que coincidência encontrar a senhora aqui, tia Lúcia!!!
Eu senti vontade de gargalhar da cara que a Janaína fez. Acho que naquele momento ela quis se enfiar em um buraco. A negra ficou vermelha!
- Esses são meus melhores amigos. O Caio e a Janaína!
- Como vão?
- Bem, obrigado – eu sorri.
- Bem! – Jana exclamou. – A senhora é muito linda, viu? Muito linda mesmo!
UM MÊS DEPOIS...
Poderia até ser paranoia de minha cabeça, mas a cada dia que passava eu sentia o Cauã mais perto de mim.
Eu não sei explicar por qual motivo isso acontecia, só sei dizer que essa conexão, a nossa conexão, estava novamente estabelecida.
ConexÃo esta que foi rompida bruscamente 7 anos antes daquela data. 7 anos haviam se passado, 7 longos anos, 7 anos sem notícias dele, 7 anos longe do meu irmão gêmeo.
É o tempo estava mesmo passando rápido. Eu estava completando 24 anos e realmente não era mais o mesmo garotinho da época que fui expulso de casa.
Caio Monteiro, eu, não era mais a mesma pessoa. Eu tinha mudado. Será que o Cauã também tinha mudado?
E essa mudança a que me refiro não era física, era por dentro. Eu virei um homem de bem, um homem responsável e que conseguiu tudo aquilo que desejava. Será que ele também tinha conseguido tudo o que desejava? Será que ele também tinha mudado por dentro?
Eu estava esperando que sim. Eu queria que sim. Eu queria que meu irmão tivesse mudado para tentar um reencontro futuro. Só que eu não sabia que esse futuro estava próximo de mim. Próximo até demais para falar a verdade.
Era meu aniversário de 24 anos e todos os meus amigos estavam reunidos na balada em que resolvi comemorar. Naquele ano o Bruno não fez festa surpresa por causa do carro novo. Era de se esperar.
- Parabéns, meu irmão preferido!
- Obrigado, Digow!
- Eu te amo muito, saiba disso!
- Obrigado! Eu também te amo, te amo muito! Obrigado por se fazer presente nesta data.
- É claro que eu não ia perder esse dia por nada. Por nada!
- Parabéns, menino lindo! – Janaína foi outra que me agarrou e quase não me soltou mais.
- Obrigado, mana! É muito bom te ver aqui.
- Que Deus te abençoe. Eu desejo toda a sorte do mundo pra você e toda felicidade também. Você merece, meu campeão, meu gerreiro!!!
- Obrigado, amor meu. Você é linda!
- Posso dar um abraço no aniversariante do dia?
- Claro que pode, Dr. Vinícius, claro que pode!!!
Vinícius continuava sendo o bom amigo de sempre. Acho que se não fosse o fato do Digow ser meu melhor amigo, Vinícius seria a minha segunda opção. Ele sempre me respeitou muito, desde o início, desde o primeiro dia.
- Obrigado! Muito obrigado!
- Está triste?
- Algo dentro de mim está me deixando triste, não sei o que é. Um vazio, sabe?
- Quer falar sobre?
- Até gostaria porque você é um excelente conselheiro, mas aqui não é o local nem o momento pra isso.
- Apareça lá em casa sempre que você quiser, Caio. Você sabe disso.
- Muito obrigado por se preocupar comigo!
- E eu? Posso abraçar você também?
- Lógico que pode, Fabrício! Que pergunta...
Esse era outro. Outro que me aceitou desde o começo. Outro que me respeitou, mesmo sabendo que eu era gay.
- Cadê Nícolas?
- Na casa do Rodrigo. Não ia trazê-lo, né?
- Pena. Morrendo de saudade dele.
- Vai lá vê-lo, oras.
- Eu vou mesmo! Saudades de rir com ele. Ele é lindo.
- Igual ao pai, fala aí?
- Modesto você.
- Parabéns! Que Deus te ilumine muito nesse aniversário.
- Muito obrigado, Fabrício! Obrigado de coração.
E é claro que teve o Bruno, mas ele já tinha me abraçado, me beijado, me amado durante toda a madrugada do dia 31. Aquela festa não foi realizada no dia exato do meu aniversário, foi realizada no dia 1º para o dia 2 de setembro, porque o dia em si caiu numa sexta-feira.
- Eu já disse que te amo hoje? – ele perguntou.
- Já, mas fala de novo?
- Eu te amo! Eu te amo muito! Eu te amo pra sempre!
- Eu também te amo! Me abraça?
Bruno me abraçou e eu senti vontade de chorar. Eu não entendia porque estava reagindo daquela forma, como se aquele fosse meu último aniversário ao lado de meus amigos.
- E PRO CAIO NADA!
- TUDO!
- ENTÃO COMO É QUE É?
- É PIQUE, É PIQUE, É PIQUE, É PIQUE, É PIQUE...
Eu me senti o centro das atenções e quase chorei quando vi todos ali por minha causa. Mesmo sendo uma balada, eles foram. Eles foram por mim, eles foram pelo meu dia, pelo meu aniversário. Como não se emocionar? Como não ficar contente com aquilo?
Para que pensar na família se eu tinha a eles? Todos eles?
Bruno, Rodrigo, Vinícius, Fabrício, Janaína, Alexia, Babí, Bruna, Carol, Wellington, Diego, Vítor, Daniel, Mário, Joãozinho, Matheus, Maurício... Todos ali por mim... Por mim... Como eu era feliz... Como eu era feliz...
Como eu tinha o meu próprio carro, o Bruno não me buscava mais no trabalho, mas não porque ele não queria, porque eu não deixava.
O coitadinho já estudava e trabalhava demais para ter mais uma tarefa pra fazer. A compra do meu Ford KA foi a melhor coisa que eu fiz naquele ano de 2.012.
Quando cheguei no prédio notei que ele já tinha chegado do trabalho, afinal seu carro já estava na vaga do estacionamento. Estacionei ao lado dele, desliguei o motor, tirei o cinto, peguei as minhas coisas, abri a porta, saí, fechei a porta, travei as mesmas, o carro apitou duas vezes, piscou os faróis também duas vezes e eu segui até o elevador. Eu estava morto.
Desci no 6º andar e fui direto até a porta do nosso apartamento. Girei a chave na maçaneta, abri a porta, entrei e senti cheiro de comida. Fechei a porta, coloquei a chave em cima da mesa de centro da sala e chamei pelo meu amor:
- Bruh?
- Aqui, amor!
Ele estava no quarto, estudando, pra variar.
- Boa noite, príncipe!
- Boa noite – ele ergueu a cabeça e nós nos beijamos. – Tudo bem?
- Tudo sim e você?
- Muito bem, obrigado.
- Oi, Gertrudes!
- MÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃE!
- Oi, que foi? Quer colo?
Eu peguei a gata no colo e ela ficou lá, quietinha como se fosse um bebê de colo.
- Como foi seu dia? – eu alarguei o nó da gravata e respirei fundo. Como eu estava cansado.
- Foi bom e o seu? Ganhei mais um seminário pra coleção.
- Ah, é? O meu dia foi normal. Tive reunião com a Duda e ela passou umas mudanças lá que vai ter na empresa. Tudo rotina normal. E seu trabalho?
- Tranquilo. Entraram umas pessoas novas lá e eu tive que ensinar um carinha a a trabalhar.
- Olha! Que maravilha!
- Rotina de sempre. vai tomar banho?
- Sim! O que você fez pra gente comer?
- Macarronada com salsicha. Espero que goste.
- Claro que eu vou gostar. Eu não demoro, tá?
- Tudo bem. Eu te espero.
Dei mais um beijo no Bruno, peguei a toalha e fui até o banheiro. Eu estava muito cansado naquele dia.
Entrei no banho e me senti mais relaxado quando a água quente bateu nas minhas costas. Como era inverno e estava frio, eu tomei banho quente.
O banho estava tão gostoso que me permiti ficar mais tempo que o normal. Eu merecia esse mimo depois daquele longo dia de trabalho.
- Amor?
- Oi, amor? – respondi.
- Seu celular está tocando!!!
- Ah, é? E quem é? Vê pra mim no identificador?
- Não tem o nome, mas é de São Paulo!
- De São Paulo? – estranhei. – Ah, deve ser o Víctor! Ele sempre troca o número dele, não sei pra quê! Atende pra mim, por favor?
- Alô? – ouvi a voz do Bruno.
Continuei meu banho normalmente. Eu tinha certeza que era o Víctor e ele poderia esperar mais um ou dois minutinhos.
- Não, aqui é o Bruno, namorado dele. Quem gostaria?
Silêncio.
- Só um momento, eu vou ver se ele pode atender.
Eu achei o tom de voz do Bruno esquisito. Por que ele estava falando daquele jeito com o Víctor? A voz dele estava esquisita demais!
- Pede pro Víctor esperar um pouco, eu já vou sair do chuveiro!
- Não é o Víctor, Caio...
- Não? – achei aquilo muito esquisito. – E quem é então?
- É o Cauã!!!
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