sexta-feira, 10 de abril de 2015

Capítulo 91²

N
ão consegui acreditar no que ele estava me falando.
O shopping onde eu trabalhava estava promovendo uma promoção, onde o prêmio era um Celta 0 KM na cor prata. O carro era lindo. E eu não estava acreditando que o Rodrigo havia sido o contemplado daquela promoção.

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- 1º de abril é só daqui uns meses – falei, ainda incrédulo.
- Não estou mentindo, estou não! Eu ganhei mesmo, eu ganhei!
- É sério isso? – meu queixo caiu.
- É! É SÉRIO SIM! EU GANHEI O CARRO!
Meu irmão postiço estava tão feliz, mas tão feliz que ele ficava pulando no meio da loja e ria sem parar. Não era pra menos, eu no lugar dele faria a mesma coisa.
- Estou preto passado no óleo diesel agora.
- Isso é que eu chamo de sorte – meu namorado também estava boquiaberto.
- Pô... Então meus parabéns, seu sortudo!
- OBRIGAAAAAAADO...
- Para de gritar, seu louco! Nós estamos no meio da loja, olha os clientes.
- Ah, desculpa! É que eu não estou conseguindo acreditar ainda. É muita sorte!
- Realmente – concordei. – É muita sorte. Venham comigo, vamos pra minha mesa.
Levei os meninos pra minha mesa e lá nós pudemos conversar melhor a respeito disso e de outros assuntos. O Rodrigo estava radiante.
- Seus pais já sabem?
- Só a minha mãe. Ainda não consegui falar com meu pai. Ela ficou feliz da vida.
- Imagino. Não é pra menos. Seu sortudo!
- Eu jogaria na loteria se fosse você – Bruno opinou. – Com a sorte que você está...
- Vou fazer isso mesmo, Bruno!
- Só toma cuidado pra não ganhar R$ 2,50 que nem eu daquela vez. Lembra?
- Você acha que eu ia esquecer uma cena daquelas? Até hoje eu dou risada quando lembro.
- Maldito! Eu nunca ganhei nada na minha vida, a não ser esse prêmio ridículo.
- Eu já ganhei – Bruno falou, mas timidamente.
- Ganhou o quê, amor?
- Um frango assado numa rifa de uma padaria quando eu era pequeno – ele ficou todo sem graça.
Isso foi motivo de riso pra mim e pro Digão. O Bruno falou com seriedade e a vergonha dele foi hilária.
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- Não é pra rir de mim! Eu ganhei isso mesmo...
- Não estou duvidando, príncipe... Mas é que é muito engraçado. Tanta coisa pra ganhar e você me ganha um frango assado?
- É! Pobre quando tem que ser pobre, nasce e morre pobre.
- Não concordo não – disse Rodrigo. – Um dia eu ainda vou ficar rico.
- Vai mesmo – concordei em gênero, número e grau. – Estudando tanto igual você está fazendo...
- Tem que estudar, Caio. Tem que estudar.
Nesse momento meu telefone tocou.
- Com licença, meninos... Gerência, Caio?
Era a gerente de uma loja da região. Ela queria saber se eu tinha um produto disponível em estoque.
- Qual o código do produto?
Ela informou, eu joguei o número em sistema e percebi que nós tínhamos sim a mercadoria que ela queria.
- Temos sim. Você quer que eu reserve?
- Por favor, Caio. É para um cliente. Eu posso pedir para ele retirar na sua loja?
- Pode sim. Pede para ele me procurar que eu efetivo a retirada.
- Combinado então! Ele já pode ir?
- Claro, pode sim. Eu vou ficar esperando.
- Perfeito. Muito obrigada, Caio!
- Por nada, bom dia!
- Bom dia.

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- Olha só como ele trabalha direitinho... – Rodrigo me zoou.
- Sem graça! – fiquei constrangido.
- Ele é lindo, não é? – Bruno suspirou.
- Bom, o papo está bom, mas eu vou buscar meu carro. Eu passei só pra te contar, Caio.
- Beleza, Digão. Parabéns, hein sortudo?
- Obrigado! Depois eu te levo pra dar uma volta nele.
- Só se eu for junto – resmungou o meu namorado.
- Não. Qual a parte você não entendeu? Eu e Caio, Caio e eu.
- Não mesmo!
- Não vão brigar aqui, não é?
- Estou indo! Não mereço um abraço?
Claro que ele merecia. Até parece que eu ia desperdiçar a oportunidade de abraçar aquele gostoso do Rodrigo. Ele estava cheiroso.
- Parabéns! Dirija com cuidado e posa pra foto que vai ficar no shopping.
Eles iam tirar uma foto do ganhador pra deixar no shopping, porque haveria outra promoção dessas em seguida e seria a prova que tudo era verdade.
- Claro que sim. Até mais, até mais, Brunão.
- Até mais, sortudo. Vai com Deus.
Ele saiu, eu sentei e o Bruno ficou me olhando.
- Caio?
- Oi?
- Posso ficar aqui olhando você trabalhar?
- Pode, mas você não vai trabalhar hoje?
- Só mais tarde, lembra?
- Ah, é verdade. Desculpe, eu tinha esquecido.
- Não grila. Você vai demorar pra almoçar?
- Daqui uma meia horinha, amor. Quer esperar?
- Posso?
- Lógico que pode!
- Caio?
- OI, Alexia!
- Oi, Bruno – ela deu dois beijos no meu namorado. – Tudo bem?
- Bem, Alexia e você?
- Bem, obrigada. Caio, eu já fiz o que você me pediu e todos ficaram de vir hoje.
- Beleza, Alexia. Muito obrigado, minha linda.
- De nada! Eu faço mais alguma coisa?
- Não, pode voltar pro seu setor ou pode ir almoçar. Você que sabe.
- Então eu vou almoçar, beleza?
- Tá bom. Vai lá e aí quando você voltar eu vou e você fica de olho na loja pra mim. Pode ser?
- Claro! Bom te ver, Bruh. Ah, Bruh! Como estão meus netos?
- Também. Eles estão ótimos! Gertrudes por enquanto só sabe falar mãe, mas eu desconfio que um dia ela aprenda a falar que nem nós. Ela é inteligente demais!!!
- Credo, Bruno! Seria tenebroso!
- Mas ela é!!! E a Mila? Como ela está?
- Virando uma capetinha, Deus me perdoe. Até subir nos móveis ela já começou. Deus me dê coragem.
A filha da Alexia ia completar 2 anos dentro de algumas semanas. O tempo estava passando rápido, estava voando.

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Deixei o Bruno ficar na minha mesa, olhando o meu trabalho, mas não tive como dar muita atenção pro coitado. Os clientes foram chegando pouco a pouco e eu fui obrigado a atendê-los e reverter algumas situações.
- Se não tem o produto em estoque o vendedor tem que informar – disse uma cliente, extremamente irritada.
- Com certeza sim, Dona Moça – o nome dela era esse, lembro direitinho. – O colaborador será devidamente orientado.
- Assim espero. Eu já posso escolher o novo produto?
- Só um momento, eu vou chamar alguém para lhe atender.
Liguei no setor de móveis e pedi para um dos vendedores vir atender a cliente. Ela saiu soltando fogo pelas narinas.
- Como você aguenta?
- Pois é, amor. Não é fácil, mas... Tenho que trabalhar, né?
- Caio, esse senhor está procurando por você – disse uma vendedora de linha branca.
- Pois não? Em que posso ajudá-lo?
- Eu vim retirar um produto...
- Ah, sim! O senhor veio da outra loja, né?
- Isso!
- Pode sentar, por favor...
Acessei o cadastro do cliente e liberei a retirada do produto dele. Imprimi o comprovante e pedi para ele se direcionar ao estoque. Lá ele retiraria o produto.
- Eu não daria pra essas coisas, sabe?
- Não, é?
- Meu negócio é a arquitetura mesmo. Deus me livre, eu ficaria louco em dois tempos com tanta gente vindo falar comigo.
Era assim mesmo. Enquanto eu estava ali na loja, eu não parava um segundo sequer. Às vezes eu não tinha nem tempo pra aplicar os feedbacks e as sanções disciplinares.
- Acho que a Alexia já deve estar voltando. Eu só vou mandar uma funcionária pra casa...
- Você vai demití-la? – meu namorado arregalou os olhos. – Como você é ruim, Caio! Coitada!
- Não, não – sorri. – Só vou suspender por falta injustificada. E depois que eu fizer isso, a gente sai e almoça, tá?
- Tá bom então. Eu espero.
Fiz a sanção da bonita, imprimi, assinei e a chamei para um feedback.
- Bruno, vou pedir pra você deixar a gente a sós, por favor.
- Ah, claro. Eu vou dar uma olhada nos celulares, tá?
- Já vou falar com você. Obrigado pela compreensão.
- Imagina, Caio!
- Pode sentar, Aline. Acho que você já sabe o motivo desse feedback, não sabe?
- A minha falta de ontem.
- Isso mesmo. Por qual motivo você não veio trabalhar?
- Como eu te falei, eu não quis vir!
- Simples assim?
- Simples assim. Não sou obrigada a vir trabalhar se eu não estiver a fim.
- Não é bem assim que funciona, Aline!

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- É assim que funciona sim, Caio. Vai querer mandar nas minhas vontades agora?
- Não, não é isso! Eu só estou tentando explicar que você tem que ter responsabilidade.
- Eu tenho se eu quiser. Você não é meu pai pra me dar lição de moral, se liga.
- Realmente, eu não sou. Não tenho idade pra ter uma filha do seu tamanho, mas aqui dentro eu sou seu superior...
- Minha superiora é a Janaína!
- Eu sou seu superior até ela voltar e você me deve respeito. Já falei isso com vocês várias vezes. Eu não estou aqui de passagem, não estou aqui pra brincar, muito menos pra fazer amizade. Portanto, você tem que acima de tudo me respeitar como líder e não é isso que você está fazendo.
- Você vai me suspender?
- Sim, você será suspensa pela falta injustificada, ficará em casa por 2 dias e só voltará quando o prazo expirar.
- 2 dias, Caio?
- 2 dias, Aline. Você já teve uma suspensão de um dia e agora terá uma de dois. Caso haja reincidência na falta, você será suspensa por três dias.
- E quando vocês vão me mandar embora desse inferno?
- Não é época de corte e mesmo se fosse, seu caso teria que ser analisado com muita cautela. Você sabe que a empresa não manda embora funcionários com um histórico tão ruim como o seu.
- Ah, que se foda. Me dá logo essa porcaria dessa suspensão.
Se as coisas estavam assim na loja do Barra Shopping, eu queria ver como estaria na loja de Copacabana. Algo me dizia que eu iria sofrer na mão dos colaboradores...
- Pronto. Está liberada. Eu te vejo em 48 horas. Passar bem.
- Vou passar muito bem, curtindo minhas folgas.
- Bom proveito.
Saí e fui ao encontro do Bruno. Ele ainda estava vendo os celulares.
- Vamos almoçar?
- Vai roubar meu cliente, Caio?
- Ele não vai comprar nada, Gabriel. Larga a mão de ser chorão!!! Nem da telefonia você é! O que está fazendo aí?
- Ô desmemoriado, você pediu para eu ficar aqui porque o setor está desfalcado!
- Ah, é! Eu esqueci, foi mal.
- É eu não vou comprar mesmo, mas bem que eu queria. Obrigado pela ajuda, moço.
- De nada. Quando quiser, é só me procurar.
- Beleza.
Gabriel folgado! Ele era da linha branca e ficava pedindo pro pessoal procurá-lo. Garoto esperto!!!
Eu bati o ponto, peguei minha carteira e nós saímos para a praça de alimentação, que estava simplesmente entupida de gente.
- Onde é que nós vamos sentar?
- Ali, ali – falei. – Desocupou uma mesa.
Saí quase que correndo pelo meio do shopping e se eu tivesse demorado um segundo a mais, um casal teria roubado a nossa mesa. Ainda bem que deu tempo.
Bruno e eu comemos com tranquilidade, conversamos bastante e eu esqueci de todos os problemas que tinha na loja.

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- E seu piercing? 
- Vai bem, obrigado.
- Sabia que eu adoro beijar com piercing?
- É mesmo?
- É sim! É muito bom.
Era bom mesmo. Sentir o piercing do Bruno na minha boca era bom demais, mas era melhor ainda sentir em outras partes do corpo!

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No começo foi bem difícil me acostumar, mas comecei a gostar bem rapidinho. Nos primeiros dias, a língua do Bruno ficou muito inchada, mas logo voltou ao normal, juntamente com a sua dicção.
- Minha sobrinha me ligou, pedindo para eu ir visitá-la. É mole?
- E o que você disse?
- Que não, é claro! Eu nunca mais coloco os meus pés naquele apartamento. Ela que vá me ver se quiser. Eu mesmo não ponho meus pés lá.
Eu não tirava a razão dele. Depois do que o Luciano tinha feito, ele tinha mais é que ficar longe de tudo e de todos mesmo. Ele tinha que agradecer que ninguém ficava no pé dele lá no Rio, além dos sobrinhos é claro, mas deles o Bruno gostava.
- Queria uma sobremesa – falei.
- Não dá tempo de comprar?
- Tempo até dá, mas olha as filas. Estão grandes demais. Deixa pra lá.
- Vem comigo! Eu tenho uma sobremesa pra você!
A sobremesa a que ele se referia era ele mesmo. Bruno me levou até uma das saídas de emergência do shopping, me prensou contra a parede e foi logo me beijando.
Putaria na escada do shopping? Quem nunca?!
- Você não disse que gosta do meu piercing? Então aproveita!
Eu aproveitei mesmo. Beijei e beijei muito o meu namorado. E é claro que fiquei excitado.
- Põe pra fora, vai? – Bruno já estava com a mão dentro da minha cueca.
- Põe você!
Ele colocou, ajoelhou e começou a chupar. O danado fez questão de passar o piercing da língua na minha cabecinha e isso me deixou completamente alucinado.
- Ai, safado – gemi baixinho.
Ainda bem que dava pra gente ficar numa boa naquele esconderijo. Não era a primeira vez que Bruno e eu brincávamos naquele lugar.
- Vou gozar – falei.
Ele olhou no fundo dos meus olhos e eu forcei a sua cabeça pra baixo, fazendo ele sufocar. Gozei dentro de sua boca, ao mesmo tempo em que ele gozou no chão, se masturbando. Foi bom demais!
Ele subiu, fechou a minha calça, fechou a calça dele e voltou a me beijar, mas daquela vez com uma bala na boca.
- Eu tenho que ir – falei.
- Eu também. Que pena...
- Obrigado por ter vindo, eu amei a surpresa!
- Gostou mesmo?
- Muito, muito! Faça isso sempre que quiser.
- E eu amei ver você trabalhando, sabia? Você é muito lindo!
- Obrigado, amor. Obrigado.
Nos beijamos de novo e eu roubei a bala dele.
- Ladrão! Me devolve.
- Vem buscar.
E não é que ele foi e pegou de volta? Mas eu não deixei barato e roubei novamente a bala dele.
- Agora você não rouba mais, porque eu não vou deixar.
- Nem queria mesmo. Eu tenho mais aqui, seu bobo!
- Engraçadinho. Bom trabalho, tá?
- Pra você também. Até mais tarde.
- Até!!!
Aquele foi realmente um dia turbulento. Bastou voltar para a minha mesa para eu saber de uma reunião que teria dali alguns minutos.
- Deus me abençoe!!!

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Saí, bloqueei a máquina e pedi para a Alexia continuar na loja. A reunião era em outra filial e eu tinha que me deslocar até lá.
Fui com o carro da empresa mesmo. Os gerentes tinham um carro disponível para utilizarem quando tinham que fazer alguma externa e se não fosse por esse carro, eu não teria chegado a tempo no compromisso.
- Boa tarde – falei.
- Boa tarde. Entra, Caio.
Entrei na sala, cacei um lugar, sentei e fiquei esperando o que iria acontecer. Era uma reunião da Duda com todos os seus subordinados. Contei 10 gerentes naquela sala, incluindo comigo.
- Primeiramente boa tarde, pessoal. O motivo da reunião é para informar algumas alterações que teremos à partir de fevereiro.
Todos seriam remanejados de loja, menos o Jonas. Ele continuaria no Barra Shopping, mas a Janaína ia para Ipanema quando voltasse de férias.
- Pra quem não conhece, esse é o Caio – ela fez questão de me apresentar. – Ele está ocupando as vagas da Janaína e do Jonas e à partir de fevereiro ele vai assumir integralmente a loja de Copacabana. Né, Caio?
- É isso aí!
Conheci todos os meus colegas de trabalho, mas faltou conhecer os gerentes da loja onde eu ficaria. Por que eles não estavam ali?
- É que eles serão desligados, Caio – lembrou-me a minha superiora. – Não poderia trazê-los, né?
- E se eles descobrirem?
- Acho que eles já sabem. Deixa pra lá. Como estão as coisas lá no shopping?
- Em ordem. Deixei a Alexia tomando conta da loja.
- Excelente. Ela será a nossa próxima pupila.
Engraçado como as coisas estavam dando certo. Janaína já era gerente, eu já era gerente e a Alexia estava sendo desenvolvida para tal. Nós três tínhamos o perfil. Engraçado isso, né?
- Pode voltar e qualquer coisa me liga.
- Pode deixar, patroa.

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Era domingo e nós estávamos na casa do Fabrício. Todos os meus amigos estavam reunidos porque nós íamos almoçar lá. Era só um almoço rotineiro para juntar o pessoal.
- Nícolas!!! – Bruno abaixou e chamou o menino.
- Titio...
Não é que o danadinho saiu correndo e foi abraçar meu namorado? Eles se gostavam muito.
- Lindinho! – falei.
- E aí, Caio? Como estão as coisas?
- Bem, Fabrício e com você?
- Bem.
- E esse anjo? Se comportando?
- Muito! Né, filho?
- É!
- Oi, Nícolas!
- Caio...
- Isso, neném! Eu sou o Caio! Cadê meu beijo?
Ele deu um beijinho no meu rosto e depois saiu correndo pra brincar com seus brinquedos. É claro que o Bruno ficou brincando com ele.
- Daqui a pouco o senhor vai almoçar, hein filho?
- Tá, papai!
Como o Nico já estava quase com 2 aninhos, ele já estava falando com mais fluência e já sabia formar algumas frases. Era um gracinha!
- Deixa eu dar uma volta no seu carro? – perguntou o meu namorado.
- To de boa! Pra você arranhar? Melhor não!
- Para, Rodrigo! Eu não vou arranhar nada! Deixa, vai!
- Deixa, Digão – intervi. – Não custa nada!
- O que você vai fazer?
- Vou no mercado comprar cerveja!
- Ah... Se é pra comprar uma loira gelada eu empresto, mas toma cuidado, hein?
- Claro! Pode deixar.
Ele saiu feliz da vida. Bruno estava apaixonado pelo carro do Rodrigo, mas não era pra menos. Era lindo demais o automóvel.
- Sobre o que você quer falar comigo, hein?
Eu fiquei deitado na rede da varanda da casa do Fabrício, enquanto o Rodrigo ficou sentado na cadeira de balanço. Sim, existia rede e cadeira de balanço na casa.
- Meu pai recebeu uma proposta pra trabalhar aqui no Rio!
- Sério? Mas em quê?
- Na mesma função, na mesma empresa... É que a empresa quer que ele implante algumas modificações e por isso fizeram a oferta.
- Ah, bacana! Mas ele aceitou?
- Aceitou, acredita? Eles vão vir morar comigo depois que o Vinícius casar.
- Ah, fala sério, vai? Isso não é coincidência demais não?
- Não! É combinado mesmo. Ele pediu pra ser em abril e a empresa topou. Nem dá pra acreditar, né?
- Não, eu realmente não acredito. Seria coincidência demais esse convite surgir logo agora que você ficaria com a casa só pra você.
- Mas não foi nada combinado a vinda, Caio, só a data! Eu juro! Coisas de Deus isso, cara.
- E quando eles vêm?
- Final de março, começo de abril. Ele vai começar na empresa em 2 de abril.
- No dia do aniversário do Willian! Lembra do Willian?
- Que Willian, Caio? O Bonner?
- Não, seu louco! O Will da república... Aquele lá que morava com a gente!
- Puta que pariu... Que memória é essa? Eu nem lembrava do cara, quanto mais do aniversário dele!
- Eu tenho memória boa, meu filho. O Will era legal. E ele cozinhava muito bem.
- Disso eu me lembro. A comida dele era boa.
Eu lembrei do dia em que o carinha foi ao banheiro totalmente pelado. Eu dei sorte com aquelas repúblicas.
- Enfim, é isso. Queria te contar.
- Fiquei feliz – falei a verdade. – Seus pais são muito legais e vai ser bom tê-los por perto.
- É sim. Eu adorei a novidade.
- Quanto tempo ele vai ficar?
- Só 6 meses. É só o tempo dele dar um jeito nas coisas.
- Então ele está sendo usado como eu, né? Só vai dar um jeito na bagunça e depois volta, é isso?
- Bem isso daí. Vai ser bom pra ele, é um reconhecimento.
- Isso é verdade. Bom, que sejam bem-vindos então!
- É sim. Ei, cadê o Bruno com meu carro? Já estou ficando preocupado!
- Larga a mão! Ele não vai fazer nada de errado com seu carrinho.
Não deu 5 minutos e ele apareceu com uma caixa de cerveja bem gelada em mãos. O carro estava são e salvo, como eu julgava que aconteceria.

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- Vai, Vini! O que custa você ficar com o Nico no final de semana, filho da puta? Ele é seu afilhado!
Eu estava indo ao banheiro e acabei ouvindo a conversa dos melhores amigos.
- Logo no final de semana, Brício?
- Caralho, o que custa? Eu estou com um tesão da porra! Preciso relaxar um pouco, mano! Me ajuda nessa aí, por favor!!!
Preferi não ouvir mais nada. Eu não queria parecer intrometido. Eles que eram brancos que se entendessem!
O Fabrício tinha convidado algumas primas para o nosso almoço e com isso a casa ficou um pouco mais feminina, já que somente a Bruna representava a categoria até a chegada das mesmas. Nícolas foi o centro das atenções durante todo o almoço.
Nós comemos com a televisão ligada e ouvimos uma notícia de uma chacina que aconteceu na nossa cidade, isso não nos espantou.
- Me espantaria se falassem coisas boas – falou o Vinícius. – Isso já virou rotina, não me espanta mais.
- É, Vini! Não espanta, mas a gente não pode se acostumar – falou Rodrigo. – Se a gente se acostumar, se a gente abaixar a cabeça é pior.
- A gente deveria fazer nossos direitos de cidadãos valerem a pena – falou o meu namorado. – Não temos paz nessa cidade e nunca teremos se a população não se unir.
- Verdade – concordou Rodrigo.
- Vocês viram o sensacionalismo que fizeram com a ocupação dos morros, né? – perguntou Fabrício. – E o governador acha que está abafando só com isso. Como se isso fosse resolver alguma coisa.
- Com mais de mil favelas, ele não pacificou nem dez. É complicado!
- Eu queria ver como vai ser a Copa do Mundo em 2.014 – Vinícius desdenhou.
- Sabe como vai ser? – questionei. – Vergonhoso!
Continuei com a mesma opinião, até o evento ocorrer. O que podemos esperar de uma Copa do Mundo num pais que não tem saúde, não tem educação, não tem segurança? A única coisa que podemos esperar é a vergonha que vamos passar, isso sim.
Porém, a minha opinião mudou um pouco quando o evento acabou. Não foi tão ruim assim. Ruim foi ver a seleção perder de 7 à 1 pra Alemanha. Isso sim foi humilhação.
Quanto à Copa em si, foi sucesso. Não passamos tanto vexame assim. Aeroportos funcionaram, trens e metrôs também... Dos males o menor. Só que nada disso aconteceu graças aos governos federal, estaduais e municipais.

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Na minha opinião, o sucesso da Copa se deu por causa dos brasileiros, que foram receptivos com os turistas. Essa foi a boa impressão que os estrangeiros levaram do nosso país! Isso sim!!!
O Brasil gastou milhares de milhões de reais com a construção de “arenas”, sendo que em menos de 1 ano essas tais arenas ficarão simplesmente esquecidas, sendo que poderiam usar esse dinheiro na saúde, na educação e na segurança.
Principalmente na educação, porque um país sem educação não vai pra frente. Educação na minha opinião vem de berço e isso o brasileiro não tem mais, infelizmente.
Sem contar a saúde, que é uma porcaria. Ou melhor, se a gente for pensar bem, nem saúde existe nesse país.
E se for falar da segurança, passaria horas debatendo o assunto, então é melhor nem entrar nesse mérito, porque se tem algo que não existe no nosso país é segurança, infelizmente.
- E ano que vem já é a Copa das Confederações – lembrou-nos o anfitrião.
- Não quero nem ver como vai ser – falou o Bruno. – Vamos é passar vergonha mesmo.
Pra mim isso era fato. Não temos infraestrutura suficiente para sedear um evento tão grande como a Copa do Mundo, mas enfim. De que adianta só eu reclamar? Acabou que no fim das contas, deu tudo certo. Fiquei surpreso.
Esse assunto rendeu e rendeu muito. Ninguém ali era a favor da realização da Copa aqui no Brasil. Ainda bem, eu pensei que só eu era contra.
Depois do almoço, Bruno, Rodrigo, Nícolas e eu fomos brincar no quintal. Já não estava fazendo tanto sol e o menino queria porque queria jogar futebol. Rodrigo e eu só ficamos assistindo mesmo e deixamos os dois brincarem em paz.
- Joga a bola, Nícolas! Joga!
O menino deu um chute e fez a bola parar literalmente no nariz do meu namorado. Com isso, o garotinho caiu sentado no chão e começou a gargalhar. Rodrigo e eu fizemos o mesmo. Bruno ficou todo sem graça.
- Machucou? – eu fui até ele.
- Não! Essa bola é levinha. Acertou bem a minha “nareba”!
- Coitadinho!
- Você acertou meu nariz, né safadinho? – Bruno saiu atrás do menino e começou a fazer cócegas nele. Nícolas riu tanto que as lágrimas escorreram.
- Nico? Nico? Vem aqui com o papai!
- Olha o pai chamando! Vai lá, vai...
O menino saiu correndo e quando chegou perto do pai, apenas levantou a cabeça e ficou esperando ele falar alguma coisa. Eu achei isso lindo.
- Vamos tomar banho, danadinho!
- Não!
- Não, é? Vamos sim senhor!
É claro que essa eu não perderia por nada. E nem o Bruno. Nós dois nos enfiamos no banheiro com o pai e o filho e acompanhamos todo o banho do garoto.
Ele ficou bricando com um patinho de borracha e curtiu o momento com o pai. Tão lindo!
- Pronto! Já tá bom!
- Não, papai!
- Sim, senhor! Vamos colocar uma roupinha limpa pra você tomar seu leitinho.
- “Gagá”?

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- Isso! Seu leitinho, amorzão.
Tão fofo o jeito que o pai e filho se tratavam. Eu amava vê-los juntos. Nem dava pra acreditar que já fazia quase 2 anos que aquele menino tinha nascido. 
- Fabrício, ele é tão quietinho... Será que isso é normal? – não me contive e fiz essa pergunta.
- Também já me fiz essa pergunta várias vezes, Caio. Eu já fui com ele até o neuropediatra e ele fez vários exames, deu tudo normal, graças a Deus. Acho que é o jeitinho dele mesmo.
- Ah, que bom! Graças a Deus.
Fiz essa pergunta porque o Nícolas realmente era um garoto muito tranquilo, tranquilo até demais pra idade dele.
Bastava a gente dar algum brinquedo que ele ficava sentadinho no chão, brincando quietinho sem fazer barulho, sem fazer raiva pra ninguém. Era um verdadeiro anjo aquele menino. Foi muito bom passar o dia ao lado dos meus amigos naquele domingo do mês de janeiro.

Dei graças a Deus quando vi o Jonas na loja. Finalmente ele tinha voltado, finalmente eu ia para a minha nova filial.
- Como é bom ver você nessa mesa, Caio!
- É bom ver você também, Jonas! E aí, como foi de viagem?
- Bem, graças a Deus!
- E a patroa? Como está?
- Está bem também. Obrigado por perguntar. E as coisas por aqui, como estão?
- Tudo na mesma. Nada de diferente a não ser uma reunião que nós tivemos há alguns dias.
- Qual o teor?
- Remanejamento da liderança. Você vai ficar sozinho aqui.
- Não brinca?
- Sério.
- A Duda é louca? Ela sabe que eu não posso por causa da faculdade!
- Foi o que ela falou, pelo menos foi isso que ela deu a entender. A Janaína vai pra Ipanema quando voltar de férias.
- Mas de jeito nenhum que eu fico aqui sozinho! Eu preciso de ajuda, senão eu enfarto. E não posso ficar em horário integral. Até parece que vou parar meus estudos.
- Pois é. No mais é isso. Mandei uma galera refletir nesse meio período... E só.
- Tudo protocolado?
- Claro que sim. Que bom que você chegou, isso significa que é a hora de ir embora...
- Você já assume lá hoje, né?
- Sim, sim. Tenho que ir inclusive. Ordens da patroa.
- Não vai se despedir do povo?
- Claro! Tenho que fazer isso.
Me despedi de todos os funcionários, todos mesmo. Deixei a Alexia e o próprio Jonas por último. Eles eram os mais especiais.
- Obrigada por ser tão bom comigo, tá?
- Imagina, branquela! Você sabe que eu te adoro. Assim que possível eu vou te roubar pra mim, tá?
- Ficarei esperando.
- Pode esperar. Se cuida, se comporta e a gente vai se falando.
- Com certeza. Vai lá em casa com o maridão quando quiser, hein?
- Claro que vou, pode deixar! Beijo, eu te adoro.
- Eu também. Boa sorte!
- Obrigado.

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Antes de ir até o Jonas, a Do Carmo me parou no meio da loja e disse:
- Caio, preciso te falar uma coisa que senti agora.
- O que foi? Algo ruim?
- Sim, infelizmente sim.
- Não me assusta!
- Tome muito cuidado porque você será vítima de muita inveja, muita mesmo.
Engoli em seco.
- Fique com os olhos bem abertos e tome muito cuidado com quem você tem por perto à partir desse momento. É bom se resguardar sempre. Ore muito, muito mesmo.
- Sempre. Mas o que mais você sente?
- Inveja, muita inveja. Se prepare porque as coisas não serão fáceis pra você, mas você vai dar conta. Esses 90 dias serão extremamente carregados, mas depois as coisas começam a melhorar. 
- Sério? E eu tenho que fazer alguma coisa?
- Só orar. Isso já é suficiente. Quando chegar em casa tome um banho, respire fundo e recarregue suas energias. Ou melhor, se você puder, leva um tercinho contigo.
- Ai, deixa eu te fazer uma pergunta?
- Claro!
- Lembra que você disse que no futuro eu receberia uma proposta de emprego que me separaria do Bruno? É essa?
Fui até o Jonas, sentei na frente dele e ele me deu aquele feedback maravilhoso que sempre dava:
- Orgulho me define – ele falou. – Sério.
- Obrigado, chefe.
- Vou sentir muito a sua falta, mas ao mesmo tempo eu estou feliz da vida por ter concretizado meu objetivo. Enquanto eu não te visse aonde está, eu não sossegaria. Missão cumprida, dever cumprido. Me sinto aliviado agora.
- Obrigado por tudo, tá?
- Não tem nada que agradecer. Tudo o que eu fiz, eu fiz porque gosto de você. Desde o começo eu vi o potencial que você tem, garoto. Eu não errei. Sabia que chegaria aqui, sabia!
- Obrigado pelos conselhos, pelas broncas, pelas orientações e por não ter desistido de mim.
- Jamais desistiria. Agorao meu foco é a Alexia.
- Isso aí! Ajuda a minha amiga, por favor.
- Vou ajudar, com certeza. Boa sorte nessa nova fase, que Deus te abençoe imensamente e a gente se vê nas reuniões da Duda.
- Amém! Se Deus quiser. Fica com Deus e mais uma vez muito obrigado por ter me ajudado tanto.
- De nada, Caio! De nada! Boa sorte e qualquer coisa, meu ramal é o mesmo.
- Sempre conta comigo, tá?
- Idem, parceirinho. 
Dei um abraço bem apertado naquele cara. Ele foi um dos melhores líderes que eu já tive em toda a minha carreira e até hoje eu continuo me espelhando nele para tomar algumas decisões. Ele é meu conselheiro de todas as horas.
Jonas não foi um chefe, foi um pai. Enquanto eu olhava para os vários setores da loja, eu lembrava das broncas, das orientações, das brigas que tive com ele... E lembrei principalmente dos toques e da ajuda que ele me dava sempre que eu estava esgotado fisicamente falando.
Não foi uma, nem duas vezes que ele me deixou dormir no sofá da sala da Duda. Sempre que eu não conseguia ficar mais com os olhos abertos, ele deixava eu dormir um pouco e eu sempre voltava com mais força, com mais coragem para enfrentar o dia. Como eu não poderia gostar de um chefe como ele? Impossível.
Olhei setor por setor, mas foi com a linha branca que eu senti vontade de chorar. Ali eu passei a maior parte do meu tempo e os melhores momentos com as minhas amigas e o Gabo. Foi bom demais trabalhar naquela loja. Sempre que posso, sempre que vou ao Rio, dou uma passada para relambrar os velhos tempos.
- Tchau, loja! – falei.
- Tchau, Caio!!! – algumas pessoas falaram.
Saí com a cabeça erguida e com fé no coração para enfrentar os novos desafios. Será que o que a Do Carmo disse realmente era verdade?
Bastou pisar na filial nova para eu perceber que sim. O ar, a energia daquele lugar era muito carregada. E eu percebi logo de cara que alguns funcionários estavam me olhando com cara feia.
- Quer saber de uma coisa? Vou colocar o meu tercinho na mão!!!
Abri a minha carteira, peguei o meu tercinho e o enrosquei na mão direita. Senti vontade de fazer isso.
Duda estava me esperando e me apresentou rapidamente para todos, em uma reunião relâmpago. Ninguém ficou satisfeito com a minha chegada.
- Pessoal, ele é o Caio...
Conforme a regional foi falando, eu fui vendo os olhares tortos que eles me lançaram e de repente, sem mais nem menos, eu senti o tercinho que estava na minha mão se soltar de meus dedos.
Quando isso aconteceu, meu coração acelerou como nunca e eu fiquei simplesmente incrédulo! Pelo visto, a coisa ali estava realmente complicada!
- Mas Duda, posso te fazer uma pergunta?
- Pois não, Rita?
- Desde quando a loja contrata gerentes tão novinhos assim? Eu não vou respeitar um cara que tem idade pra ser meu filho, mas não vou mesmo.
- Primeiro que ele não é seu filho, segundo que você tem que respeitá-lo sim, como também tem que respeitar a todos os outros funcionários. O Caio pode parecer novinho, mas ele tem 23 anos e é muito competente na função. Ele já tem experiência e tem até pós-graduação em gestão de pessoas, por isso é que ele está aqui. Não só você, como todos terão que respeitá-lo. Quer falar alguma coisa, Caio?
- Quero sim, Duda. Quero apenas deixar claro que eu não estou aqui para fazer amizades e que a minha forma de gestão é com transparência. Se eu não gostar de alguma coisa, eu vou falar com vocês e a minha mesa está à disposição de todos para quem quiser vir falar comigo. Se tem algo que sou, é justo. E espero que a gente seja um bom time de agora em diante. Gosto de trabalhar em equipe, não gosto que cada um faça o seu, quero resultados em equipe. Acho que é isso.
- Estão liberados e podem voltar para os seus locais de trabalho. Obrigada!
Quando eles saíram eu senti um peso enorme nas minhas costas. O que a Do Carmo disse era fato consumado.
- Você vai ter muitas reclamações ao meu respeito – falei.
- Quanto mais melhor. Assim eu vou entender que você está fazendo seu trabalho. Confio em você.
- Obrigado, Duda.
- Vai lá, assume a loja e arrasa.
- Pode deixar!
Fui pro campo e fiquei olhando setor por setor. Quando cheguei nos móveis, peguei alguns funcionários falando mal de mim:
- Jamais que eu vou aceitar ordens daquele pivete – falou uma das mulheres.
- Viu o jeito que ele falou? Quem vê pensa que vai mandar na gente – falou outra.
- Ele que não se meta a engraçadinho.
- Melhor a gente parar de falar, vai que ele aparece por aí.
- Que nada. Ele é sonso, não vai nem perceber o que está acontecendo!
- Boa tarde! Algum problema por aqui? – falei. – Alguém está a fim de trocar meia dúzia de palavras na minha mesa? Estou à disposição!!!
Elas devem ter ficado borradas, porque cada uma foi pra um canto e nem olharam pra trás.
- Voltem aqui, meninas! – falei, com um sorriso nos lábios. – Quem é sonso e pivete mesmo?
Elas pararam.

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- Só quero deixar uma coisa bem claro: eu não sou burro. Eu posso parecer um pivete como vocês mesmo falaram, mas é só a aparência. E podem ter certeza que eu não vou esquecer o que ouvi aqui e agora. Não vou fazer nada contra vocês, não se preocupem, mas espero que isso não se repita mais. 
- Desculpe – falou uma delas.
- Não, não precisa se desculpar. Eu sei que esse pedido de desculpas não é sincero. Relaxe, faça seu trabalho que eu vou fazer o meu. Mais cedo ou mais tarde eu vou encontrar vocês na minha mesa. Bom trabalho, meninas!!!
Saí e deixei as invejosas pra trás. A julgar por aquele começo, as coisas realmente não seriam fáceis naquela loja, mas eu iria colocar ordem no barraco, ou não me chamaria Caio Monteiro.
Fui para a minha nova mesa e antes de mais nada, comecei a puxar histórico por histórico, de todos os funcionários. Para a minha total surpresa, nenhum deles tinha sanções lançadas em sistema.
- Duda?
- Diga, amor?
- Me responde uma coisa?
- Que foi?
- Alguém dessa loja já foi sancionado?
- Claro! Por quê?
- Porque nenhum deles tem sanções lançadas em sistema nos últimos 3 meses.
- Ah, mentira?
- Verdade. Vou te mandar o histórico de cada um.
- Ai, não acredito, Caio?
- Nem eu! O que eu faço?
- Puta merda... Vai ter que começar do zero com sua gestão.
- Sério? Não tem como pedir o histórico pro RH?
- Até teria, mas eles iriam reclamar. São muitos funcionários... Não, não. É melhor você começar do zero, por favor. Monte sua própria gestão e deixa a dos outros pra trás, fazer o quê!
- Então beleza. Eu vou começar hoje mesmo. Em 90 dias essa loja vai ser outra, você vai ver.
- Confio plenamente em você, meu querido.
- Muito obrigado!

Era sábado e Bruno e eu estávamos indo encontrar nossos amigos num barzinho no Leblon. Iriam todos daquela vez.
- E aí? Como está sendo seus primeiros dias na loja nova? – perguntou Fabrício.
- Cansativos e tenebrosos – suspirei.
- Verdade. Ele chega em casa e não tem ânimo pra mais nada. 
- O povo tá muito rebelde, eles não me respeitam e são extremamente invejosos. Já quebraram dois tercinhos meus...
- Como assim?
- O clima lá é bem pesado. Uma energia muito negativa. Daí eu levo tercinho na mão direita e do nada eles quebram.
- Creio em Deus Pai!!! Leva água benta, deve ser o capeta!
- É o “capiroto”.
- Complicado!
- Mas eu já iniciei meus trabalhos, já comecei a advertir. Logo eles vão me respeitar.
- Não duvido disso não.
- E Nícolas?

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- Sabia que você ia perguntar, Bruno! – Fabrício sorriu. – Está na casa da minha prima. Vai dormir lá hoje.
- Coitadinho... Quando você vai levá-lo lá em casa, hein?
- Logo eu levo. Ele adora brincar com os gatinhos de vocês. Estou pensando em pegar um pra ele.
- Pega sim! – falei.
- Mas espera a Gertrudes virar mamãe. Aí você pega um dela.
- Ai, gente! Não tinha um nome melhorzinho não?
- Ideia foi dele – falei. – Não minha!
Nós bebemos, conversamos, dançamos e rimos a noite toda. Foi muito bom passar aquela madrugada com os meninos. Eu adorava ficar com eles, era bom demais.
Graças a Deus a Eduarda decidiu abrir a loja de 15 em 15 dias aos domingos e aquele era o domingo da minha folga, por isso, fiquei o dia todo na praia com o Bruno, o Rodrigo e o Vítor.
- Por que o Daniel não veio? – questionei.
- Ele foi ficar na casa dos avós – explicou Vítor.
- Hum.
Rodrigo estava com óculos escuros, mas eu bem sabia o que ele estava olhando.
- Cuidado pra não ficar com o pau duro – falei baixinho.
- Tá louco?
- Sei bem o que você está olhando!
Ele nem ligou e continuou olhando para as mulheres de biquíni. Só tinha jamanta na praia naquele dia.
- Vamos pro mar? – sugeriu meu namorado.
- Vamos. Digão, olha as nossas coisas, por favor?
- Vão tranquilos.
A água estava deliciosa. O dia estava ensolarado e a água morna. Foi bom ficar brincando com o Bruno e o Vítor no mar.
- Para veado! – Vítor reclamou quando o Bruno tentou afogá-lo. – Quer deixar o Cristóvão órfão?
Cristóvão era o papagaio do Vítor, uma graça. A ave era bem pequena e ainda não sabia falar nada, mas era bem exibida. Quando a gente chegava perto, ele girava a cabecinha e ficava abrindo as asas.
- Dá ele pra gente, a gente cuida – falou o meu namorado.
- Claro que não! Para aqueles gatos mal-educados comerem o coitado?
- Enzo e Gertrudes são muito educados – eu fiquei bravo. – Eles só comem ração e nunca colocariam a boca no seu papagaio. Palhaço!
- Educados, né? Sei! Eles são é esquisitos, isso sim. Nunca vi um gato falar “mãe”.
- A Gertrudes fala, e daí? Vou levá-la no Silvio Santos, vai que ele dá dinheiro.
- Não seria mé ideia, amor – eu ri. – Ia adorar.
E assim o domingo foi passando. Nós só voltamos pra casa depois das 22 horas. Foi ótimo passar o dia ao lado dos meninos.

Voltar pra academia depois de um mês parado não foi fácil, mas foi necessário.
Como eu estava trabalhando das 9 às 21 horas, tive que chegar no estabelecimento mais cedo que nunca, ainda bem que o Felipe estava lá e pôde me auxiliar.
- Vou intensificar seu treino. Você perdeu muita massa muscular.
- Pode intensificar, Felipe. Eu quero voltar a ter o corpo de antes.
Eu emagreci por causa da correria e por causa da falta de exercícios. Já estava sentindo falta dos meus músculos nos braços.
- Vamos focar nos braços. Vem comigo.
Fiz os mesmos exercícios de sempre e foi ótimo voltar pro treino. Eu já estaca sentindo muita falta disso.
- Você volta na segunda?
- Claro que volto, pode apostar que sim.
- Então combinado.
Era sábado e eu ainda tinha curso de inglês naquele mesmo dia. A minha vida estava mais corrida que nunca.
- Olá, olá – cumprimentei Rodrigo e Bruno. – Cheguei.
- Quase se atrasou.
- Pois é! Ainda bem que deu tempo.
- Quem fica na loja quando você vem pro inglês? – perguntou Rodrigo.
- A Duda. Ela combinou isso comigo. Ela é um amor.
- É mesmo – concordou meu namorado.

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Nossa aula de inglês foi calma, mas divertida. A Profª Júlia era engraçada e sempre nos fazia rir.
- Luana, traduz essa frase pra mim, por favor – pediu a mestra.
- Quem com ferro fere, com ferro será ferido? É isso?
- Isso mesmo! Uma salva de palmas para ela!
Ainda bem que aquele curso já tinha passado da metade há muito tempo. Logo menos o Rodrigo e eu saíriamos dali, finalmente.
- Bom trabalho – meu namorado me deu um selinho.
- Obrigado, meu amor. Muito obrigado, pra você também.
- Eu te busco, tá?
- Combinado. Eu fico esperando lá no ponto de ônibus.
- Tá bom!
Cheguei, bati o crachá e cumprimentei meus funcionários. Eles estavam mais arredios que nunca.
- Não é você que fala que a gente não pode chegar atrasado? Por que você chegou então?
- É mesmo! Não pode chegar atrasado, chefinho.
- Eu não estou atrasado, meninas! Esse é meu horário de sábado.
- Ah, é? Não diga?
- É verdade, esse é meu horário e mesmo que não fosse, a Duda está ciente do motivo pelo qual eu tenho que entrar tarde aos sábados.
- E qual é o motivo? Ficou até mais tarde na cama?
- Não, Rita! Não fiquei, muito pelo contrário. Acordei às 6 da manhã se é que você quer saber.
- Então por que chegou tão tarde? Deveria estar aqui às 9 como todos nós.
- Já disse que aos sábados eu entro mais tarde, não discutam comigo. Se quiserem, vão falar com a Duda! Eu devo satisfação à ela, não à vocês. 
Elas faziam de tudo para me tirar do sério, mas não conseguiam. A cada dia que passava, eu me sentia mais e mais carregado energéticamente falando. A Do Carmo estava mais que certa, eu tinha que me cuidar.
Eu queria encontrar motivos para advertir a Rita e acabei encontrando. Eu tive que procurar pelo em ovo, mas achei um jeito de advertir aquela vagabunda. E foi por estouros de almoço.
- Mandou me chamar, chefinho?
- Mandei sim, Rita. Sente-se, por favor.
- Pois não?
- Primeiramente eu queria conversar com você, Rita. Quero entender o que te move a trabalhar aqui.
- Nada!
- Nada?
- Nada! Eu não gosto de trabalhar aqui.
- Quanto tempo você tem de empresa?
- 6 anos.
- 6 anos? E não gosta de trabalhar aqui? Não é meio contraditório?
- Não, querido. Não é. Eu já fiz de tudo pra ser mandada embora, mas eles não mandam.
- Ah, você quer ser desligada?
- Claro que eu quero, Caio! Eu e o resto da loja.
- Eu vou te ajudar nisso.
- Duvido!
- Quer apostar?
- Não, não quero. Eu não confio em vocês.
- Pois deveria. Não sei o que você tem contra a minha pessoa, Rita! Eu nunca te fiz nada!
- Não tenho nada contra você, Caio! Eu só não tenho nada a favor também.
- Só que de que adianta você ficar me confrontando do jeito que faz? Desse jeito você só vai conseguir sanções disciplinares.
- Sanções? Até parece! Ninguém nunca me advertiu aqui, Caio. Não vai ser você que vai fazer isso.
- Bom, vamos lá. Eu te chamei aqui pra entender por qual motivo você está estourando o horário de almoço. O que está acontecendo?
- Como é?
- Eu quero entender por qual motivo você está estourando o horário de almoço!
- E desde quando isso é verdade?
- Está aqui na sua folha de ponto! Veja só, nos últimos 15 dias você estourou 10 vezes. Caso você não saiba, o almoço é de 1 hora e 5 minutos, religiosamente. Você chegou a fazer 1 hora e 20 minutos. Isso não pode acontecer.
- Hã? 
- Eu vou direto ao ponto. Você vai ser advertida por causa desses estouros.
- Eu vou o quê? – a mulher riu.
- Aqui estão as duas vias da advertência. Eu vou pedir pra você assinar onde está o seu nome e colocar a data de hoje.
- Eu? Ser advertida? Não mesmo!
Para a minha total surpresa, a mulher pegou as duas folhas de advertência e as rasgou na minha frente. Eu fiquei incrédulo.
- Por que você fez isso? Você tem noção que isso daqui é um documento?
- Foda-se! Foda-se! Eu falei que você não vai me advertir e você não vai me advertir. Qual a sua dificuldade?
- Rita, vamos aos fatos – eu estava começando a ficar nervoso. – O líder aqui sou eu, quem dita as regras aqui sou eu, não você. Enquanto eu estiver aqui, eu sou seu superior...
- Foda-se!
- Vem comigo, por favor... – perdi as estribeiras e saí andando até a sala da Duda.
- Com muito prazer, chefinho.
Levei a dita cuja até a sala da minha superiora. Eu não ia deixar aquilo barato, não ia mesmo.
- Posso falar com você, Eduarda?
- Claro, Caio! Pode entrar. Tudo bem, Rita?
- Não, Duda! Nada bem.
- Que está acontecendo?

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- Esse garoto, que tem idade pra ser meu filho, inventou que vai me dar uma advertência!!!
- E por qual motivo ele está fazendo isso?
- Segundo ele, eu estourei alguns almoços!
- É isso mesmo, Caio?
- Correto, Eduarda. Eu imprimi a folha de ponto dela e como você pode ver, constam vários estouros nos últimos 15 dias. Eu fui aplicar a advertência e ela rasgou. Aqui está o documento.
- Me deixa a sós com ela, por favor.
- Pode deixar.
Eu saí, mas confesso que fiquei ouvindo atrás da porta.
- Por qual motivo você rasgou essa sanção? – Duda ficou brava.
- Porque eu não admito que aquele garoto me faça assinar essa porcaria! Eu não vou assinar porra nenhuma!
- Ah, não? Quer dizer que você não vai obedecer o Caio?
- Jamais!!!
- Pois então você vai obedecer a mim. Quem você pensa que é? Você pensa que tá falando com quem? Com sua mãe? Não, não está! Eu não sou obrigada, o Caio não é obrigado a ouvir ofensa! Primeiro que você está errada desde o começo, ele está certo.
- Ah, é?
- É, é sim e me ouve porque eu ainda não terminei! Ele está fazendo o papel de líder dele e você tem que obedecer. Você não é melhor nem pior que ninguém aqui dentro, Rita. O que serve pra um, serve pra todos. Se você não quer assinar uma sanção, faça por onde não assinar. 
- Mas, Duda...
- Eu ainda não terminei! Qual é a parte que você não entendeu? O Caio é o gerente da filial, entendeu? Ele é o G-E-R-E-N-T-E e você tem sim que respeitá-lo porque ele é seu superior...
- Mas ele é muito...
- Ele não é nada! Ele é um funcionário! Ele é pago para fazer gestão de pessoas, para cuidar da loja, para cobrar resultados, para cobrar vendas e ele só está fazendo o papel dele!
- Hoje ele chegou mais de duas horas atrasado!
- Não chegou porcaria nenhuma! O horário dele aos sábados é esse e você não tem que ficar controlando o horário dele não...
- Ele controla o meu!
- Ele é seu superior, você quer que eu desenhe?
- Tá me chamando de burra, Eduarda?
- Obviamente que não, mas pelo jeito você está com dificuldade para entender o que nós falamos. Nem a minha filha de 2 anos fica fazendo essa tempestade em copo d’água, Rita! E olha que ela tem só 2 anos, hein?
- Eu não vou assinar advertência nenhuma!
- Realmente, você não vai assinar advertência, você vai assinar suspensão!
- COMO É?
- Isso mesmo que você ouviu, Rita! Você está sendo insubordinada ao Caio, insubordinada à mim e por causa disso você ficará em casa na segunda-feira e só voltará pro trabalho na terça.
Eu adorei essa novidade. O meu tiro acabou não saindo pela colatra e foi melhor do que eu pudesse imaginar.
Fui até a minha mesa e preparei a suspensão. Eu sabia que a Duda ia me chamar a qualquer momento. E chamou mesmo.
- Já fiz.
- Como você sabe?
- Sexto sentido – menti. Claro que não ia falar que eu ouvi a conversa.
- Pode entrar.
Eu entrei e a Duda reforçou tudo o que já tinha falado para a vagabunda da vendedora. E eu ainda falei mais um pouco:
- Você disse que tem 6 anos de empresa e que quer ser desligada. Desse jeito você não vai conseguir. Eu estou disposto a te ajudar, mas você precisa me ajudar também. Eu não vou tolerar indisciplina e desrespeito, posso parecer novinho, mas não sou. Sou um homem, sou formado, sou pós-graduado e tenho toda competência do mundo para estar aqui. A Duda sabe disso, a Duda é prova disso e ela concorda com isso.
- Integralmente.
- Você tem todo direito do mundo de não gostar de mim. Como já disse anteriormente, não estou aqui para fazer amigos, estou aqui para trabalhar e o meu papel eu vou executar da melhor forma possível. Agora, enquanto eu aqui dentro estiver, você é diretamente subordinada à mim, quer você queira, quer não. Agindo desse jeito você não vai chegar a lugar nenhum.
- Exatamente. Exatamente!
- E agora eu vou ser obrigada a ficar em casa na segunda, vou perder o domingo por causa disso?
- Isso mesmo – falou a minha regional. – Isso poderia ser bem diferente, caso você não tivesse agido dessa forma.
- Eu estou sendo coagida a assinar esse papel. Eu vou levar isso no ministério do trabalho.
- É seu direito como funcionária, mas coagida você não está sendo. Você pode ficar sem assinar se quiser, mas o documento terá valia do mesmo jeito. Nós chamaremos duas testemunhas, eles assinarão e a suspensão será válida.
- Então façam isso, porque eu não vou assinar porra nenhuma.
- E olha o palavreado, você não está na sua casa.
- Que se foda! Quero que vocês dois se fodam, isso sim.
Pra que ela foi falar isso? À partir desse momento a Duda virou uma leoa e aí sim ela descascou o abacaxi.
- Caio, liga pra dois gerentes de qualquer loja e peça para eles virem aqui imediatamente. Ela vai ser suspensa.
- Como quiser, Eduarda. Com licença.
Saí e a Eduarda continuou o feedback. Ela falou um monte pra funcionária e eu adorei! Quam mandou ela ser assim? Rebelde sem causa?
- Gerência, Jonas?
- Oi, chefe!
- Fala aí, Caio! Beleza?
- Tudo na paz. Cara, posso te pedir um favor?
- Claro!
- Teria como você vir aqui agora pra servir de testemunha para uma suspensão?
- Agora, agora?
- Sim! A Duda está com a menina na sala. É meio grave a situação.
- Claro, vou sim. Em 30 minutos eu chego aí.
- Combinado. Muito obrigado.
Eu liguei para outro gerente, o nome dela era Evelin. Ela trabalhava na loja onde a Jana iria ficar.
- Eu chego aí rapidinho, Caio!
- Obrigado, Evelin.
Voltei pra sala e nós ficamos esperando. Elas continuavam discutindo.
Quando os gerentes chegaram, Eduarda explicou rapidamente o que estava acontecendo e aí sim nós fizemos valer o documento.
- Jonas, assina pra mim, por favor.
Ele assinou como testemunha 1, a Evelin como testemunha 2, eu assinei no local do meu nome e a Duda no local do nome dela.
- Você está suspensa por um dia. Agora você vai pra casa, amanhã é sua folga, segunda você não vem e só volta na terça-feira – explicou a regional.
- Segunda eu venho sim, eu não assinei essa porcaria.
- Não, você não vem. O RH estará ciente dessa suspensão e o seu crachá será bloqueado. Você não vai conseguir marcar o ponto na segunda.
- E daí? Pelo menos eu faço as minhas vendas.
- Eu vou bloquear a sua matrícula, você não vai conseguir efetivar nenhuma venda.
- Quer dizer que eu não tenho escolha a não ser aceitar?
- Exato e não é pra você encarar isso como uma punição. Isso é apenas uma orientação. Agora o Caio vai te acompanhar até o ponto, você vai pegar as suas coisas e vai voltar só na terça. Bom final de semana pra você.
- Por favor, Rita – eu abri a porta.
Ela saiu bufando de raiva. Aquela mulher era o demônio em forma de gente, só podia ser.

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- Por favor, passe o crachá – pedi.
- Não, não vou passar. E não se atreva a pegar no meu crachá, senão eu faço um escândalo.
- Não, não se preocupe. Eu vou encaminhar um e-mail ao RH solicitando que o restante do dia de hoje seja descontado e pedindo o bloqueio do crachá até terça-feira. Passar bem, Rita.
- Filho da puta – ouvi ela resmungando sozinha, mas não dei bola e voltei pra sala.
- Difícil, hein? – Duda estava suando.
- Bastante. Não sabia que eles eram assim.
- Quero que você formalize essa situação por e-mail, com cópia pra Evelin, pro Jonas e pro Antony.
- Pode deixar.
- Ela volta na terça, quinta-feira eu vou estar aqui e a gente aplica a advertência por estouro de almoço. Me lembra, tá?
- Pode deixar. Obrigado, Duda. Obrigado, meninos.
- Disponha, Caio – falou Evelin.
- Gostei de ver, hein meu pupilo? – Jonas bagunçou meu cabelo. – É isso aí!
- Ele está ótimo – Duda sorriu. – Perfeita a sua postura Caio, meus parabéns.
- Obrigado, pessoal. Muito obrigado mesmo.
Dei graças a Deus quando saí da loja naquele final de expediente do sábado. Eu estava mais cansado que nunca e estava pagando para cair na minha cama.
- Boa noite, Edgard – apertei a mão do segurança. – Até amanhã!
- Até amanhã, Caio. Bom descanso!
- Muito obrigado.
Foi quando eu virei na esquina para ir pro ponto de ônibus que ele me puxou com força e me prendeu contra um muro. Eu quase morri de susto.
- AAAAAAAAAAAAAAAH!

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- Onde pensa que vai, mocinho? – Bruno me prendeu com vontade.
- QUE SUSTO, INFELIZ! QUER ME MATAR DO CORAÇÃO?
- Não! Eu quero é isso!
Ele roubou um beijo, mas eu nem me concentrei, tamanho o susto que tive. Quase morri do coração.
- Anda, entra no carro! Isso é uma ordem!
- Seu bruto! Deveria te denunciar pra polícia! Quase morri, pensei que fosse um assalto.
- Não é um assalto, é um sequestro! Anda, entra no carro.
- Violento! – fiz bico, mas entrei.
Bruno seguiu pro nosso apê e lá ele foi mais bruto ainda.
- Já pro chuveiro, anda!
- O que você tem hoje?
- Vai! Já pro chuveiro! Eu estou mandando!
Ele me empurrou pra ducha e me jogou debaixo dela antes mesmo que eu me despisse. A água caiu em cima de mim e me deixou com frio.
Bruno me beijou com uma vontade enlouquecedora e aos poucos foi me despindo por completo. Depois que fiquei pelado, ele desligou o chuveiro e foi me levando pra cama. Ele estava louco naquela noite, só podia ser.
- Hoje a noite vai ser violenta, amorzinho...
- Ai, que delícia... – só de ouvir aquela voz autoritária eu fiquei maluco.
E foi mesmo. Ele usou e abusou de mim, me mandou fazer várias coisas e usufruiu e muito do chicotinho que eu tinha comprado na revista da Alexia.
- Empina essa bunda – ele mandou.
Quase conheci Jesus quando ele jogou o chicote nas minhas nádegas, mas eu gostei. Foi uma dor gostosa, uma dor prazerosa, porque logo em seguida ele beijou e mordeu o local. Eu me senti nas mãos de um bandido, essa é que é a verdade.
Mas houve a hora da revanche e eu fiz a mesma coisa. Como ele não teve dó de mim, eu também não tive dó dele e bati com vontade na bunda do meu namorado.
- Você gosta disso? – joguei o chicote nele.
- AAAAAAAAH – ele gemeu de prazer ou de dor, eu não soube diferenciar.
- Filho da puta!
Ele conseguiu me fazer esquecer de tudo e de todos naquela noite de amor. Nós não fizemos sexo várias vezes, fizemos uma vez só, mas a relação sexual demorou mais de 2 horas pra chegar ao fim. Nem preciso falar que quando a gente gozou, quase saiu um rio de esperma do nosso corpo, né?


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O expediente de domingo já tinha acabado e eu me senti feliz por não ter a vadia da Rita me atrapalhando o dia todo. Aquele foi um dia tranquilo, na medida do possível.
- Menos um dia, né Caio? – Edgard foi falar comigo.
- É sim, graças a Deus.
O segurança era muito gente fina. Ele falava comigo toda hora e era um dos poucos que gostava de mim naquela filial.
- Boa noite e boa folga amanhã, hein?
- Obrigado, Caio! Bom trabalho pra você.
- Muito obrigado!
- Ei, tio? Vamos?
Era o Rodrigo. Eu nem tinha notado que era ele que estava me esperando.
- O que está fazendo aqui?
- Vim te buscar. Não posso?
- Claro que pode, mas e o Bruno?
- Ele está ciente. Vem, entra!
Entrei no carro novo do meu irmão e senti o cheirinho do automóvel. Que delícia!
- Vou te sequestrar – ele me abraçou e beijou meu pescoço. Por que ele fez aquilo?
- Vai, é?
- Vou! Vou te roubar pra mim.
- Você teve chance, você que não quis.
- Bobo! E aí, como estão as coisas na loja?
- Um inferno. Ninguém me respeita, mas aos poucos eles vão obedecer.
- Ah, vão sim.
Digow me levou pra casa, entrou e nós tomamos uma cerveja. Fazia um calor do cão naquele dia.
- Vem, Enzo! Vem dar boa noire pro padrinho.
- Sai pra lá com esse animal!
- Não fala assim dele! Ele é seu sobrinho!
- Sai fora. Quero ele perto de mim não.
- E a Gertrudes você quer?
- Piorou. Aquela gata do demônio. Ela é possuída!
- Não fala assim da minha filha! – Bruno se ofendeu.
- Onde é que já se viu uma gata chamar o dono de mãe? Só pode ser possuída uma peste daquelas. Eu, hein?
- Possuído é você, infeliz. A minha gata é uma princiesa, isso sim!
- Princesa do inferno – Rodrigo brincou.
No fundo, no fundo eu sabia que ele gostava dos gatinhos.
Depois que o meu irmão postiço foi embora, Bruno e eu tomamos banho juntos, transamos e depois dormimos. No dia seguinte seria o primeiro dia de aula dele.
- Bom dia, meu bebê! – ele me acordou com um monte de beijos.
- Bom dia, luz do dia! Dormiu bem?
- Muito e você?
- Muito bem também! Já vai?
- Já sim. Acordei você só pra te dizer bom dia mesmo. Te amo!
- Eu também, amor. Boa aula, viu?
- Obrigado, príncipe!
Naquele dia ele estava iniciando o 5º semestre do curso de Arquitetura pela UFRJ. Quem diria que ele já estava na metade do curso, meu Deus do céu?
Eu estava todo concentrado nas minhas funções da loja, quando de repente vejo uma pessoa negra parada na frente da minha mesa.
- Mas ele fica todo lindo concentrado desse jeito – Janaína começou a rir feito uma palhaça.
- Jana!!! Você voltou!!!
- Não, idiota! Eu ainda estou lá em Galinhas!
- Grossa! Eu sei que você é galinha, mas não precisa ser grossa assim!!!
- Galinha é sua mãe, filho da puta!
Levantei, beijei e abracei a minha amiga. Ela estava mais preta que nunca. Conversamos, colocamos o papo em dia e ela me falou que ia para a loja nova.
- Eu sei, a gente teve reunião.
- E COMO VOCÊ NÃO ME FALA UMA COISA DESSAS?
- E eu ia ligar pra falar isso? Jamais, minha filha!
- Estou preta esturricada no grill elétrico com essa novidade. Não curti não.
- Vai ficar sozinha, né?
- Segundo a tia Duda ficarei por uns 3 meses, até contratarem novos gerentes. É mole?
- O mesmo tempo que eu vou ficar aqui. Não é fácil.
- Vou fazer um motim. Vem comigo que a sua estrela brilha!
- Pois é! 
- O que está fazendo?
- Sanções. Esse povo tá me chamando de idiota, só pode.
- Adoro! Vem comigo que a sua estrela brilha!
- É, eles vão conhecer quem é Caio Monteiro da Silva e Silva.
- Pobre é foda. Já não basta ter um Silva você tem logo dois.
- Cala a boca! É em homenagem ao Lucas Silva e Silva.
- Quem é Lucas Silva e Silva? Seu parente?
- Não, anta! É daquele seriado “O Mundo da Lua” da TV Cultura. Lembra? Passava nos anos 90.
- OI? Falou grego agora!
- Ah, é! Esqueci que não é da sua época. Nos anos 90 você já estava adentrando na menopausa.
- Escuta aqui, bacalhau podre, tu me respeita que eu não sou obrigada a ouvir isso não, hein? Quer levar meia hora de tapa na cara? Vou esfregar seu focinho ali na Nossa Senhora de Copacabana!!!
- Cala a boca!
- Ui, delícia! Adoro quando um boy magia que nem você me manda calar a boca.
- E o seu boy magia? Já voltou pra academia?
- Já, voltou hoje o coitado.
Janaína estava namorando firme com o Wellington e eles tinham passado os 30 dias juntinhos lá no nordeste. Por isso que ela voltou toda alegre.
- Vou nessa, amor. Tenho que assumir a nova loja e conhecer meus “kremlins”.
- Tomara que as suas cabeças de boi sejam melhores que as minhas, porque os meus são todos rebeldes.
- Mas você vai dar jeito, eu sei que vai. Você aprendeu com a nega aqui! Vem comigo que é sucesso, vem comigo que a sua estrela brilha!
- Adoro! 
A louca saiu e eu continuei nas minhas investigações e na gestão. Naquele dia apliquei 5 advertências e fiz “A” reunião no fim do turno.
- Primeiro eu queria parabenizar vocês, porque após a minha chegada houve um aumento de 5% no índice de vendas. É isso aí, pessoal!
Mas depois do elogio, eu dei as broncas. Chamei a atenção de todos num modo geral, principalmente quando ao estouro no horário de almoço e atraso de chegada. Eles me ouviram com atenção.
- Eu conto com o comprometimento de todos. É isso. Obrigado, boa noite e bom descanso à todos! Fiquem com Deus.
Aproveitei aquela reunião e também descontraí o ambiente, né? Não adiantava nada ficar carrasco as 24 horas por dia.
- Oi, amor! – ele me recebeu com um selinho.
- Oi, anjo! E aí, como foi seu primeiro dia de aula?
- Normal. Reencontrei alguns professores do 1º semestre. Eles estão dando outras matérias agora.
- Ah, que legal! Isso é bom. Bruh?
- Hum?
- O que você acha da gente visitar um orfanato?
- Um orfanato? Já?
- Não quer mais?
- Claro que eu quero, mas eu pensei que você fosse querer isso mais pra frente.
- Não, eu quero agora. Vamos no domingo?
- Lógico! Adorei a ideia.

NO DOMINGO...
Nós chegamos no orfanato por volta das 9 da manhã e fomos recebidos pela diretora do local, uma senhora simpática e muito bem humorada. Depois de um tempo, descobrimos que essa mulher era tia da Alexia.
- As crianças estão brincando no pátio. Venham comigo!
E estavam mesmo. Eram várias crianças, uma mais bonita que a outra, mas uma nos chamou a atenção. Era uma garotinha, que estava sentada sozinha em um banco de madeira.
- Oi – Bruno agachou na frente da menina.
- Oi!
- Tudo bom, linda?
- Sim!
- Como você se chama?
- Melissa!
- Sabia que seu nome é muito lindo?
- Sabia!
- Oi, Melissa! Eu posso sentar com você? – perguntei.
- Sim!
- Por que você não está brincando com as outras crianças, Melissa? – quis saber o meu namorado.
- É porque eles não gostam de mim!
A menina falou isso de uma forma tão meiga, tão verdadeira, que nós só pudemos acreditar. Bruno e eu nos olhamos. Eu quase chorei.
- Mas você deve ter algum amiguinho, não tem? – fiz carinho nela.
- Não, moço. Ninguém gosta de mim!
- Sabe de uma coisa? – Bruno segurou o choro. – A gente gosta de você!
- Verdade? – ela ficou toda alegre.
- Verdade! E nós vamos te dar um presente – falei.
- Uma boneca?
- Isso mesmo, uma boneca! – eu assenti.
- E cadê ela? Onde ela está?
- Nós não a trouxemos ainda, porque ela está se arrumando pra vir te encontrar, mas a gente vai trazer em breve – prometeu o garoto dos olhos azuis.
- É mesmo? E ela vai ser minha amiga? Só minha?
- Ela vai ser sua melhor amiga – agachei ao lado do Bruno. – A gente te promete.
- E quando vocês vão trazer? Eu quero conhecê-la!
- A gente vai trazer daqui duas semanas.
- Tudo isso? Está muito longe!
- Vai passar rapidinho, eu te prometo – meu namorado ainda estava segurando o choro.
- Mas pra ganhar a boneca, você vai ter que dar um beijo em nós dois!
A menina deu o beijo que eu pedi e também nos abraçou. Eu senti uma carência extrema naquele abraço. Eu entendia o que ela sentia, Bruno entendia o que ela sentia. Nós também nos sentíamos meio órfãos de pais.
Nós nos despedimos da garotinha e ela continuou lá, paradinha, sozinha e sem brincar com ninguém. Devo confessar que isso partiu meu coração. A vontade que eu tinha era de levar a Melissa pra casa naquele momento.
- Por que ela não brinca com os amiguinhos? – Bruno perguntou para a diretora.
- Não sabemos, mas parece que ela não tem amigos. É bem solitária.
- E alguém já procurou adotá-la? – indaguei.
- Não.
Bruno e eu nos olhamos.
- Podemos trazer um presente pra ela?
- Podem sim, claro! Seria uma bênção. 
- A gente vai trazer sim. Daqui 15 dias nós voltaremos. Eu não aguento ver essa menininha sozinha. É triste demais.
- Nossa psicóloga está trabalhando com ela.
- Isso é ótimo.
- Venham comigo, vou levá-los para conhecer o resto do orfanato.
Pensei que naquela instituição só tivessem crianças, mas me enganei. Haviam também adolescentes, vários adolescentes.
- Esses não serão mais adotados.
- Por que não? – Bruno ficou perplexo.
- Porque eles já irão fazer 18 anos, a grande maioria. As pessoas preferem adotar bebês, nunca querem adolescentes.
- E o que acontece quando eles fazem 18 anos? – quis saber.
- Nós ajudamos para que eles encontrem um emprego e à partir daí eles vivem por conta.
- E se eles não acharem um emprego?
- Vamos ver os recém-nascidos?
A diretora não respondeu a minha pergunta e isso me deixou bem irritado. Eu queria saber o que acontecia com os adolescentes, mas é claro que ela não respondeu para não se complicar. Provavelmente eles mandavam os pobres embora.
Teria sido melhor o Bruno não ver os bebês. Ele ficou com vontade de levar todos pra casa, especialmente uma menininha.
- Ela chegou aqui com algumas horas de vida. Alguém a deixou jogada aqui na frente, dentro de uma sacola de supermercado.
- Ai... Que horror... – quase tive um troço de perplexidade. 
A gente via isso na televisão, mas nunca pensou que pudesse encontrar com uma vítima de abandono.
- A polícia está investigando pra tentar saber quem é a mãe, mas até agora nada.
- De que adianta investigar? Melhor deixar pra lá – Bruno estava irritado e segurava a menina com um amor imenso. – O Brasil não tem lei severa o suficiente pra condenar essa cobra. Porque não é mãe, é cobra. Nem uma sucuri abandona a cria...
- É mesmo! Se quem mata fica na cadeia 5 anos e depois sai por bom comportamento, que dirá quem abandonou uma criança. Abandono de incapazes deveria ter uma pena equivalente a pena de assassinato e ainda seria pouco!
A menina, que se chamava Lívia, era pequena e extremamente bonitinha. Não era linda, mas era engraçadinha. Acho que o Bruno ficou com vontade de levá-la pra casa.
Antes de sairmos daquele local, conversamos com a diretora e questionamos como deveríamos fazer para entrar na fila de adoção.
Ela nos explicou tudo detalhadamente, nos deu as devidas coordenadas e nós saímos de lá com a vontade de sermos pais, mas isso ia demorar muito.
- Vamos entrar com um advogado? Vamos?
- Claro, amor – concordei com um sorriso. – Vamos entrar com um advogado, vamos entrar pra fila.
Mas ia demorar. A diretora nos relatou que existiam pais que estavam na fila para adotar há anos. Porém, isso não era empecilho. Meu namorado e eu não íamos desistir.
- Sabe, Bruno?
- Hum? – meu amor estava meio disperso.
- Vou ligar pro Víctor e vou pedir pra ele comprar os brinquedos na 25 de Março.
- Que nada! A gente pode comprar por aqui mesmo.
- Mas lá é muito mais barato. Aqui tem comércio popular no valor da 25? Acho que não, né?
- Barato, barato, barato não é, mas é barato.
Fiquei confuso.
- Hã?
- Não é barato que nem lá, mas é barato.
- Mas o Víctor não vai se recusar. A gente não pode se dar ao luxo de gastar muito, infelizmente. Esse mês o nosso orçamento está apertado.
- É nisso você tem razão.
- Se preocupa não, amor. Eu tenho certeza que ele vai nos ajudar.
- Mas como ele vai mandar os brinquedos?
- Pelos Correios. A gente paga tudo. Relaxa.
Minha ideia deu certo. Naquele mesmo dia nós falamos com meu melhor amigo paulistano, no dia seguinte colocamos o dinheiro na conta dele, naquela mesma semana ele fez as compras e na outra, todos os brinquedos chegaram na nossa casa. Era uma caixa imensa.
- Viu só? A gente teve um lucro de pelo menos 30% com essa ideia que eu tive.
- Você é perfeito! Muito perfeito!
- Bobo!
Nos beijamos.
A gente ia levar pelo menos um brinquedinho pra cada criança, porque só de bolas compramos 50. Víctor conseguiu comprar algumas coisas direto da fábrica e isso facilitou demais o nosso orçamento. Será que as crianças iam gostar?

NO OUTRO DOMINGO...
Bruno e eu chegamos no orfanato no mesmo horário da outra vez. Entramos, falamos com a diretora e fomos distribuir os brinquedos para as crianças. Deixamos a Melissa por último.
- Vocês trouxeram a minha boneca? – ela perguntou, com uma carinha envergonhada.
- Claro que trouxemos! Olha ela aqui...
Quando a menina viu a boneca, seus olhinhos brilharam de emoção e felicidade.
- Tem certeza que ela vai ser só minha?
- Só sua – falei. – Mas você tem que emprestar pras suas amiguinhas. Promete?
- Prometo!
- Como se diz, Melissa? – perguntou a diretora.
- Muito obrigada, moço!
- De nada minha linda, mas não vai ainda que tem mais...
- Tem mais?
- Claro que tem – Bruno sorriu. – Você gosta de ursinho de pelúcia?
- Eu sempre quis ter um ursinho de pelúcia!
- Que tal você ficar com esse?
- Pra mim?
- É pra você... Você quer?
- Eu posso pegar, tia? – ela olhou pra diretora.
- Pode, meu amor, claro que pode! Mas você tem que agradecer aos moços, tá bom?
- Obrigada!
- E tem isso daqui também, Melissa... – eu separei um joguinho de panelas de brinquedo. – É pra você brincar de comidinha com a sua boneca e seu ursinho.
- De comidinha? Então eu vou poder cozinhar?
- Claro que vai! 
- Obrigada... 
- Você gostou?
- Gostei muito! Obrigada!
- E como vai se chamar sua boneca?
- Hum... Estrela!
- É um nome muito bonito – Bruno estava quase chorando.
- Dá um beijo neles, Melissa! – mandou a diretora.
Ela nos abraçou e deu um beijo bem doce no nosso rosto. Eu quase me emocionei.
- Obrigada...
Ela saiu correndo, sentou em um canto do pátio e começou a brincar com a boneca, o ursinho e o fogão com as panelinhas. Deu gosto de ver a felicidade daquela menina.
- Ela é tão linda – Bruno suspirou.
- Tão novinha pra ficar sem uma família – comentei.
- Qual a idade dela?
- 6 anos – respondeu a diretora.
- E desde quando ela está aqui?
- Não faz muito tempo. A mãe dela está presa e o pai é desconhecido.
- Mas por que a mãe está presa?
- Pelo que sabemos é por roubo, mas logo ela será libertada. Quando isso acontecer a Melissa vai voltar para a mãe, mas o conselho tutelar vai acompanhar.
- Graças a Deus! Pelo menos ela tem alguém. Eu pensei que não tivesse.
- Não, ela tem sim. Ela sai daqui, se Deus quiser.
Isso nos deixou muito aliviados. Extremamente aliviados.

Mais uma semana tinha começado e a primeira coisa que eu fiz quando cheguei na loja na segunda-feira pela manhã, foi extrair um relatório das vendas para encaminhar para a Eduarda.
Rapidamente fiz um comparativo com os meses anteriores, montei um gráfico e deixei bem claro que após a minha chegada na filial, a minha equipe já tinha aumentado o percentual de vendas em mais de 10%. Não deu 5 minutos e eu recebi o mesmo e-mail. A Duda tinha encaminhado para o Antony e eu fiquei tremendo na base.
Perdi mais alguns minutinhos e continuei fazendo o acompanhamento das minhas equipes. Conferi o histórico de cada funcionário e notei que era a hora de entrar com algumas suspensões. Eu iria fazer isso no final do expediente.
Quando chegou o horário, eu fui chamando de um em um e iniciei os feedbacks. Eles não ficaram muito contentes.

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- E caso haja reincidência, você será suspensa por dois dias.
- Aham.
- Eu vou pedir pra Eduarda assinar amanhã e depois entrego a sua via, combinado?
- Ótimo. Eu vou mandar pro sindicato.
- É seu direito. Conto com sua melhora, tá bom Edna?
- E o que eu faço agora?
- Vem comigo que eu vou levar você pra passar o crachá. Você vai embora e volta só na quarta.
- Ótimo. Vai ser bom demais ficar em casa descansando.
- Descanse mesmo e volte na quarta com força total.
- Até parece.
Fiz de propósito. Se eles adoravam me provocar, eu também faria isso com eles, mas sutilmente, é claro.
Naquele mesmo dia eu fiz uma proposta de campanha motivacional e encaminhei pra Eduarda.
Era bem simples: o vendedor que não faltasse durante 15 dias, que não estourasse o almoço e que atingisse a meta de vendas, ganharia um vale-compras no valor de R$ 50,00. O segundo lugar um vale-compras no valor de R$ 25.00 e o terceiro lugar, dois pares de ingresso para o cinema. Fiquei na torcida para que ela aceitasse a campanha.
Não precisei esperar muito tempo para receber o sim da Eduarda. Logo no dia seguinte ela liberou a campanha e quando eu a vi pessoalmente, ela me entregou os recursos para iniciar com as tratativas.
- Obrigado, Duda.
- Por nada, lindinho. Motiva esse povo aí.
- Farei isso.
Claro que a campanha valia para período manhã e período tarde. Eu passei as informações pro pessoal ainda naquele dia e logo de cara percebi certo interesse por parte deles.
- Pelo visto ele não é igual aos outros – ouvi uma mulher comentando com outra.
- É verdade. Ele está pensando na gente. Pelo menos isso. Eu já estou gostando dele.
- Eu também!!!
Saí da loja realizado naquela noite. Finalmente eu estava sendo reconhecido, finalmente eu estava conseguindo algum resultado positivo... Mas a inveja ainda estava bem carregada em cima de mim.
- Menos um dia, menos um dia! – falei comigo mesmo.
Coloquei a mão no bolso da calça e tirei meu tercinho para me sentir um pouco melhor. Novamente ele estava quebrado.
- De novo? Ai, meu Deus!!! Estou ficando preocupado.
Era assim mesmo que acontecia. Eu comprava um tercinho, mandava benzer na igreja e quando chegava na loja, ele simplesmente quebrava sem que eu precisasse fazer nenhum esforço.
Acho que a energia negativa estava tão forte em cima de mim, que estava sendo canalizada pelo objeto. Eu já não sabia mais o que fazer. As minhas orações me ajudavam, mas não estavam mais sendo suficientes.
- Eu vou fazer uma massagem – ele mordeu minha orelha.
- Então faz, amor. Mas capricha que eu estou bem cansado.
Meu namorado caprichou, mas foi na provocação. Mais uma vez ele deixou a massagem de lado e ao invés disso, me deu foi um banho de língua e só sossegou quando secou a última gota do meu esperma.

- Janaína, desse jeito você vai ficar bêbada! – Alexia analisou.
- Cale-se e me deixe beber em paz. Loira de farmácia metida a besta!!!
- Sou loira natural, tá?! Vadia!
- Natural da Droga Raia, né?
- O que tem a Cláudia Raia? – Rodrigo apareceu do nada depois de alguns minutos longe da mesa.
- Outro lesado – Janaína gargalhou.
- Quer fazer o favor de me respeitar, morena?
- Difícil, hein? Difícil!
- Pensando? – entrelacei meus dedos aos do Bruno.
- Pensando nos milhares de trabalhos que tenho pra fazer na faculdade.
- Não tem que pensar nisso agora, né Bruno? Viemos aqui justamente pra relaxar, não pra ficar pensando em coisas da faculdade ou do trabalho.
- É, você tem razão! Me perdoe.
- Ai, mataram meu carneiro – Rodrigo começou a cantar.
- Que é isso, Rodrigo? – Alexia parou o garfo no meio do caminho.
- Estou cantando, Alexia. Qual o problema?
- Ah, não! Cantando não porque isso não é música – falou Janaína. – Isso é uma ofensa aos nossos ouvidos!
- Verdade – eu ri.
- Cala a boca, irmão de meia tigela. Eu canto muito bem!
- Bem mal – Bruno riu também.
- Você fica calado aí também, olhos de bola de gude.
- Ei! – Janaína deu um tabefe no Rodrigo. – Só eu posso falar isso, tá legal? 
- Só você uma vírgula, onde fica meu direito de falar o que quiser na hora que eu quiser? Eu falo mesmo! Olhos de bola de gude!
- Recalcado! – Janaína bufou.
- A Alexia come mais que o Faustão, puta merda.
- Caio, posso matar seu namorado? OBRIGADA!
Alexia simplesmente deu um chute na canela do pobre do Bruno e ele viu estrelas. Eu fiquei com muita dó do pobrezinho.
- Coitado, loira chata! – abracei meu bichinho. – Ele só estava brincando!
- Nunca brinque com uma mulher de TPM!
- Obrigado Senhor por eu ter nascido homem! – Rodrigo colocou as duas mãos pro céu.
- Amém!!! – falamos Bruno e eu.
Nós estávamos almoçando em um bar da zona sul. Era domingo e fazia um dia lindo, como quase sempre.
- Ai, ai – Janaína suspirou. – Que dia lindo! Dá até vontade de deitar aqui debaixo dessa árvore.
- Deita – falei. – Quem está impedindo?
Ela ia falar alguma coisa, mas nesse momento Janaína notou que alguma coisa havia caído na sua cabeça.
- Que foi? – perguntou Bruno. – Por que está olhando para cima?
- Caiu alguma coisa no meu cabelo.
- CREDO – Rodrigo gritou. – É MERDA DE PASSARINHO!
- OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOI?! – Janaína ficou branca. – É MENTIRA SUA, SEU RIDÍCULO!!!
- Não é não – eu caí na gargalhada. – É cocô mesmo!!!
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAI...
Pronto. A diversão estava garantida. Janaína ficou horrorizada.
- ESTOU PRETA PASSADA NA TORRADEIRA – ela sapateou olhando pro céu. – PÁSSARO DESGRAÇADO! OLHA ONDE VOCÊ CAGA, FILHO DA PUTA!
Nós rimos muito. As pessoas passavam pela rua e ficavam olhando.
- DESCE AQUI, PERIQUITO DE 2 CENTÍMETROS E MEIO!! VOU ARRANCAR SUAS PENAS PRA FAZER UM...
- Cuidado com a sociedade protetora dos animais.
- CALE-SE! PÁSSARO INFELIZ! VAI CAGAR NA CABEÇA DA SUA MÃE, NOJENTO! DEEEEESCE DAÍ, GOTA SERENA!!!
Eu me admiraria se ele descesse e fosse brigar com a Janaína. Minha irmã às vezes parecia meio louca. Ou louca por completo.
- Ave sarnenta, ave maldita, ave condenada!!! Meu lindo cabelinho! Vou ter que lavar o pobrezinho agora... Ô vida desgraçada, viu?
Nunca vi a Jana resmungar como ela resmungou naquele dia. Nós ficamos passeando pela cidade e ela não parava de conversar com ela mesma. Parecia até uma retardada.
- Melhor você sair daí de baixo dessa árvore – falou Rodrigo. – Vai que outro pássaro te faz de alvo de novo.
- Eles não seriam loucos!!! Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar!
- Ai, ai. Que preguicinha gostosa – me espreguicei.
- Nem fala – Alexia bocejou.
- Estou preta passada na chapinha – ela ia falando.
- Ainda falando nesse assunto, dos Santos? – Digow suspirou.
- Fica calado, branquelo. Deixa eu quieta, hein?
- E se eu não quiser?
- Então serei obrigada a te dar meia hora de tapa na cara. Ai, cansei de ficar aqui. Vou mudar de lugar.
Ela saiu andando e com dois ou três passos, o salto de sua sandália quebrou e ela acabou se desequilibrando.
- AI, SOCORRO.
Janaína quase caiu no chão. Ela só não se esborrachou porque o Bruno conseguiu segurá-la.
- Segura que ela tá bêbada! – falei.
- JESUS, ME AMARROTA! COMPREI ESSA PORCARIA ONTEM E ESSA MERDA JÁ QUEBROU? VAI PRO INFERNO, DESGRAÇA!!!
- Quem manda comprar coisa que não presta? – Alexia riu.
- Cala a boca, anêmica. Ninguém perguntou a sua opinião.
- Acho que o problema aí não é nem a sandália e sim a dona dela – falou Rodrigo.
- OI?! – Janaína já lançou aquele olhar mortal dela pro meu irmão. – O que você disse?
- Você! O problema é você que não sabe andar de salto.
- ESTOU PRETA PASSADA NO FERRO À VAPOR!!! ESCUTA AQUI, SEU ENGENHEIRO DO PARAGUAI – Janaína segurou o braço do meu amigo com força. – TÁ VENDO ISSO DAQUI?
Ela quase colocou a cabeça do Rodrigo no chão.
- Alguém me socorre? Ela é meio louca!
- Agora aguenta – eu ri.
- RESPONDE! TÁ VENDO ISSO DAQUI?
- Estou. Você pode me soltar?
- DA PRÓXIMA VEZ QUE VOCÊ FALAR QUE EU NÃO SEI ANDAR DE SALTO, EU ESFREGO A SUA CARA NO CHÃO. TÁ ENTENDENDO?
- Estou. Pode me soltar agora?
Ela soltou e ficou lá resmungando consigo mesma. Não deu nem 10 minutos e o outro salto da Janaína quebrou novamente.
- JESUS, ME DESINFETA!!! HOJA NÃO É O MEU DIA DE SORTE!!!

O CASAMENTO DO VINÍCIUS...Resultado de imagem para casamento

Era o dia 17 de março, era o dia do casório da Bruna e do Vini. Por uma bênção de Deus, eu convenci a Janaína a me substituir na loja naquele dia e dessa forma, eu tive tempo para me dedicar integralmente ao casamento do meu amigo.
- Você deveria ter feito essa limpeza de pele há uma semana atrás, Caio. Sua pele vai ficar toda vermelha.
- Claro que não, criatura! Você sabe que eu nunca fiquei com a pele vermelha...
- Pra tudo tem a primeira vez, mas deita aí. Vamos fazer.
Fiz limpeza de pele, fiz a sobrancelha e cortei o cabelo. Bruno fez as mesmas coisas que eu e nós saímos do salão praticamente atrasados para a cerimônia, que estava marcada para às 19 horas em ponto.
- Está pronto, amor?
- Quase – respondi.
Só faltava ajeitar o cabelo. Eu queria fazer um moicano, mas ele não estava parando quieto.
- Agora você para quieto, filho da puta!!!
Coloquei foi o pote de gel inteiro no cabelo, tudo o que faltava para acabar. Desse jeito segurou da forma que eu queria.
- Agora sim.
- Uau... Você está lindo demais...
- Olha quem fala!
Nem eu, nem ele íamos de social. Preferimos ir com de sport mesmo, mas caprichamos nas escolhas.
Eu coloquei uma calça skinny preta e uma camisa de manga curta branca, bordada com detalhes vermelhos. O tênis era branco e vermelho, eu estava com uma correntinha no pescoço e uma pulseira em um dos braços.
Bruno estava com um jeans despojado, uma camiseta branca da “Gangster” e por cima usava uma camisa preta aberta. Ele também estava com corrente no pescoço, mas os braços estavam desnudos. Os tênis eram pretos com detalhes na cor azul, combinando com seus olhos. Lindo demais.
- Eu AMO quando você usa calças apertadas desse jeito – ele ficou me olhando. – Mas odeio o volume que fica aí na frente.
- Que volume? – olhei pra baixo. – Não tem nada aqui.
- Esse volume – o safado segurou nos meus países baixos e apertou.
- Agora sim vai ficar volumoso.
- Você é gostoso demais, amor! Como essa calça entrou, hein?
- Coloquei deitado – confessei –, mas consegui.
A calça estava bem apertada mesmo e marcou muito meu corpo, principalmente na parte traseira.
- Que bunda, hein? – ele me cantou.
- Quer parar?
- Bunda gostosa do caralho...
- Bruno! Vamos embora que nós já estamos atrasados! Pegou os convites do buffet?
- Peguei, claro. Vamos, minha delícia!
Eu dirigi. Eu gostava de dirigir e ele deixava. Então eu aproveitei. Guiei o carro do meu namorado até a igreja onde seria realizado o casamento do Vinícius e lá encontrei todos os meus amigos.
- Oi, gente – falei.
- Você está conseguindo respirar? – perguntou Rodrigo.
- Claro... Por quê?
- Essa calça deve estar espremendo até seu pulmão

- Ai que idiota que você é... AAAAAAI O NÍCOLAS ESTÁ A COISA MAIS LIIIIINDA!!!
Só nesse momento eu vi o Nico. Ele ia entrar na igreja com as alianças e estava usando smoking com gravata borboleta na cor vermelha. O cabelinho dele estava arrepiado. Um PRÍNCIPE!

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- Oi, amor... Você está lindo, sabia?
- “Bigado”!
- Ele não está a coisa mais fofa desse mundo? – o pai estava todo babão.
- Ao extremo – Bruno quis pegar o menino, mas eu não deixei. Ia amassar a roupa dele.
- Ele vai conseguir levar as alianças direitinho? – perguntei.
- Vai sim, Caio. Nós ficamos dois meses ensinando e ele aprendeu. Né, campeão?
- É!
A noivinha era da idade do Nico e era uma prima da Bruna, mas ela ainda não tinha chegado na igreja. Esses eram os noivinhos mais pequenos que eu já vi em toda a minha vida, até naquele momento.
- Você está lindo, hein? – ouvi a voz do Rodrigo atrás de mim. – Que bunda é essa, hein?
- RODRIGO!
- Desculpa, eu precisava falar.
- Tarado! – fiquei MUITO sem graça, de verdade.
Meu irmão falou de mim, mas ele também estava com skinny, porém a dele não ficou tão justa como a minha.
- Vamos entrar? Eles já devem estar chegando – falou o meu namorado.
- Vamos sim – concordei. – Você vem, Digow?
- Claro! Não vou ficar aqui sozinho. Até mais, Fabrício.
- Até mais, rapazes.
Fabrício era padrinho e por isso ficou para trás. Eu estava louco pra ver a entrada do Nícolas, isso sim.
Nós três conseguimos ficar na segunda fileira, do lado direito da igreja. A decoração do local era simplesmente deslumbrante.
As rosas vermelhas que decoravam o corredor por onde passariam os noivos e os padrinhos estavam em formato de cascata. Ao lado de cada parte do altar havia vasos enormes com rosas vermelhas e nas laterais, havia arranjos de rosas brancas, revestindo a entrada para cada banco de madeira daquela igreja linda.
A iluminação estava fraca e isso deixou a igreja com um ar meio sombrio, meio diferente. Perto do altar, eu vi os músicos, alguns com violinos, outros com trompetes. Eu queria saber o que ia acontecer.
Ainda faltava 10 minutos para o início da cerimônia, mas a igreja já estava completamente abarrotada de gente. Será que todos eram convidados dos noivos?
Eu sabia que a família da Bruna era grande e a do Vinícius também, mas não sabia que era tão grande assim.
Claro que havia muitos amigos, muitos conhecidos no meio daquele povo, mas quando eu olhei pra trás e vi todos os bancos ocupados, fiquei incrédulo.
- Nunca vi uma igreja tão lotada assim – comentei com o Rodrigo.
- Nem eu. O Vinícius parece até político, né?
- Por que? – não entendeu o meu namorado.
- Por causa do número de convidados.
- Ah... Que bobo! É a igreja que é pequena.
- Cala a boca, idiota!
Foi de repente que nós ouvimos e vimos uma movimentação esquisita no fundo da igreja. Era a hora dos padrinhos entrarem.
Amei a música de entrada dos padrinhos. Eu não sabia o nome, mas sabia que foi tema de abertura da novela “Celebridade” da Rede Globo. Eu ia me sentir se estivesse desfilando no tapete vermelho com aquele fundo musical.
O toque foi apenas dos violinistas e não teve a letra da música em si, mas foi perfeito. Não poderia ficar melhor, não poderia ser outra. Essa entrada era coisa da Bruna e eu tinha certeza disso.
Eram 4 casais de padrinhos para cada noivo e o Fabrício e a par dele foram o quinto casal a desfilar pelo red carpet.
A mulher, cujo nome eu não me recordo também, não era a primeira ooção do Vini e sim uma prima dele. Lindíssima por sinal. A primeira opção não pôde aceitar o convite por problemas pessoais. Ele não explicou o motivo.
Fabrício e a parceira faziam um casal lindo. Ele estava todo elegante e ela então nem se fala. O que mais me chamou a atenção naquela madrinha foi o cabelo, que estava espetacular. O mesmo não acontecia com outros destaques que estavam no altar.
- Olha o cabelo daquela madrinha da Bruna – comentei com o meu namorado e com o Rodrigo.
- Qual? – questionou Rodrigo.
- A última que subiu agora.
- Que é que tem? – meu namorado se interessou pelo assunto.
- Parece um ninho de araras azuis.
Ele segurou uma gargalhada. O que eu falei era verdade. A mulher estava com o cabelo horrível. Nenhyma madrinha usou vermelho e nenhuma repetiu a cor do vestido. A par do Fabrício estava de azul-marinho.


A música dos padrinhos parou e a igreja ficou em silêncio por cerca de dois ou três minutos, até que os trompetes e os violinos começaram a tocar os arranjos de “Ave Maria”. Era a hora do noivo entrar.
Eu sempre achei o Vinícius um homem bonito, mas naquele momento eu achei mil vezes mais. Ele não estava lindo, ele estava surreal.
O cara e a mãe dele pisaram no tapete vermelho no mesmo momento em que a melodia fez todo mundo se calar e eu quase caí pra trás de tanta emoção. Esse foi um dos momentos mais lindos de toda a cerimônia.
Ele estava deslumbrante. O sapato era tão brilhante que eu tive a impressão que ele usou de espelho para fazer o penteado. A calça era justa, mas não apertada demais e o smoking preto teve um caimento impecável. Ele ousou com uma gravata vermelhíssima, mas combinou muito com ele.
O rosto estava muito limpo, sem nenhum pelo encravado, sem nenhum arranhão de lâmina de barbear e é claro que ele esbanjava um sorriso incrivelmente lindo. Lindo até demais. Os dentes brancos quase faziam os nossos olhos doerem de tanto que brilhavam.
E os olhos? Atentos à tudo, atentos à todos. Em um determinado momento ele me olhou e eu sorri. Lindo demais. Muito lindo mesmo.
Pra finalizar, o cabelo não tinha um fio fora do lugar e estava todo jogado pra cima, inclusive na parte próximo da nuca. Realmente, perfeito.
E é claro que não poderia faltar o perfume. Quando ele e a mãe foram chegando perto, eu senti o cheiro inconfundível do perfume do meu amigo. Ele deve ter usado o frasco todo, porque a igreja ficou perfumada do começo ao fim.
Vinícius e a mãe, que também estava lindíssima em um vestido preto, subiram no altar e ela beijou a testa dele, colocando-se em seu lugar logo em seguida, ao lado de seu marido, que tinha entrado com a mãe da noiva.
Perfeito. Eu só não chorei porque segurei a emoção. A câmera estava filmando a reação de todos os convidados e ninguém estava falando nada, mas eu tinha certeza que ele seria motivo de muitos comentários quando a cerimônia religiosa acabasse.
A sogra do Vinícius estava usando um vestido verde-escuro que lhe caiu muito bem. Ela parecia bem emocionada.
Todos estavam prontos, esperando a protagonista daquele 17 de março, mas ela atrasou muito. Será que tinha desistido?
Vinícius estava elegante, parado com a coluna ereta e não tirava os olhos dos fundos da igreja um segundo sequer. Todos nós já estávamos sentados novamente, porque a Bruna demorou mais de 20 minutos para aparecer, mas ela não desistiu do casamento.
E de repente uma música suave começou a ser tocada. Nós viramos pra trás e percebemos que nada de diferente estava acontecendo, até que...

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