quinta-feira, 9 de abril de 2015

Capítulo 88²

P
rimeiro, ele ficou sério. Depois, ele abriu um sorriso imenso e só por causa desse sorriso, eu soube que a resposta era sim.

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- Você está falando sério?
- Nunca falei tão sério em toda a minha vida, mas a gente precisa conversar seriamente sobre esse assunto.
- Eu juro pra você que eu estava pensando em falar sobre isso com você por esses dias!
- A gente é alma gêmea, a gente pensa exatamente o que o outro está pensando, a gente sabe o que o outro quer. E eu sei que você quer ter um filho, Bruno.
- Quero sim, mas eu tenho medo!
- Eu sei. Eu também tenho medo!
- Você também quer?
- Claro que sim, amor! Eu adoro crianças e a cada dia que passa eu vejo que você se apega mais ao Nícolas. Acho que está na hora da gente dar mais um passo, sei lá.
- Só que não é assim de uma hora pra outra, Caio. Isso demora anos!
- Sim, eu sei! Eu sei que demora, mas a gente já pode pensar seriamente sobre isso. Você quer, não quer?
- É tudo o que eu mais queria nesse momento. Um bebezinho aqui em casa seria uma bênção!
- É verdade, mas e como seria? Como seria lá na frente? A gente tem que pensar em tudo isso.
- É...
- A gente tem que pensar na criança, Bruno! Você sabe o quanto esse país é preconceituoso, mesmo a gente estando em pleno século XXi! Como vai ser quando essa criança chegar na escola, chegar na adolescência? Ele seria vítima de preconceito a todo momento...
- É...

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- Ele teria dois pais ao invés de ter um pai e uma mãe, já imaginou? Já imaginou como seria difícil pra essa criança lá na frente?
- Sim, eu penso muito nisso. É o que eu mais penso na verdade.
- A gente tem que pesar tudo isso, de verdade. Não que eu não queira ter um filho com você, eu quero, mas a gente tem que pensar em tudo.
- É sim...
- Condições financeiras a gente têm...
- Com o que a gente ganha daria pra gente sustentar tranquilamente um filho. isso realmente não é problema. O único problema é a sociedade. Você está certo.
- Mas que seria lindo, seria – eu abri um sorriso.
- Seria mesmo – ele suspirou. – Mas, Caio, e se a gente não adotasse? E se a gente tivesse um de verdade?
- Oi? E como seria isso? Está pensando em me trair com uma rapariga, seu safado? – dei um tapa no braço do meu homem.
- Claro que não, palhaço! – ele me bateu também. – Inseminação artificial, oras.
- E qual de nós dois geraria a criança? – eu arregalei os olhos, mas de brincadeira.
- Ah, a gente tira no par ou ímpar!
- Estou fora! Quero ficar gordo e barrigudo não. Se você quiser, pode engravidar. Eu te dou todo o apoio, uhul!
- Para, seu bobo – ele abriu um sorriso amarelo. – Eu estou falando sério.
- Mas quem geraria a criança?
- Ah, sei lá! Esse seria o problema.
Conversamos sobre isso com naturalidade, mas sabendo que não seria uma alternativa fácil. Primeiro, porque o tratamento é caro. Segundo, porque teríamos que ter a barriga de aluguel e não seria fácil encontrá-la. O jeito seria ficar na adoção mesmo.
- Por enquanto essa ideia não vai ser possível de ser realizada – falei. – Infelizmente, mas eu iria adorar ter um filho de sangue!
- Eu também, amor. Porém, já que não é possível, a gente pode realmente pensar na adoção.
- Não vamos mais pensar, Bruno!
- Hã?
- Você quer ter um filho comigo?
- Quero... Quero muito...
- Eu também quero...
- Quer mesmo? Quer de verdade?
- Quero de verdade! Quero muito dar esse passo com você. Essa seria uma forma única pra gente crescer na nossa relação.
- Seria mesmo. Eu seria o homem mais feliz do mundo se tivesse um Nícolas que pudesse chamar de meu.
- Eu sei, amor – abracei meu namorado. – Eu sei. Eu vejo o quanto você gosta dele, o quanto você baba por ele e o quanto você queria que ele fosse seu, que ele fosse nosso.
- É que ele é lindo demais, sabe Caio? Aquela risada, aquela gargalhada, aquele rostinho delicado, aquelas mãozinhas, aquele carinho que ele tem pela gente... Eu sou apaixonado por aquele menino!
- Eu sei que é. Eu sei disso há muito tempo, mas hoje é que eu resolvi falar sobre isso.
- Tudo na vida acontece no momento certo, né?
- Claro!!! Não vamos mais esperar, tá? Se você quer, se eu também quero, a gente vai correr atrás disso.

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- Jura? – os olhinhos dele brilharam de felicidade.
- Juro! Não importa o que vai acontecer lá na frente, não importa o que os outros vão pensar. Nem eu, nem você devemos satisfação da nossa vida pra ninguém. É ou não é?
- Lógico!
- Então pra mim a opinião dos outros não importa. Importa a sua! E se você quer, eu também quero. Nós vamos adotar um bebê, Bruno! Só não nesse momento porque a nossa rotina nos impede. Precisamos só ficar um pouco mais velhos para isso, mas já podemos amadurecer a ideia.
- Você... É... Perfeito!!!
Nós nos beijamos.
O que eu disse pro Bruno era verdade mesmo. De que adiantava a gente pensar nos outros? A gente tinha que pensar na gente e em mais nada! Na gente e na criança que viria um dia.
Ia ser difícil? Claro, óbvio que seria difícil, mas o que nessa vida é fácil? Nada!
Eu tinha mais que certeza que caso essa futura adoção fosse concretizada, o nosso filho, ou a nossa filha seria muito amado, ou amada.
Independentemente do que fosse acontecer, independentemente do que as pessoas poderiam pensar, poderiam julgar, nada importava. O amor que nós iríamos dar àquela criança seria maior que tudo e que todos e nós a educaríamos para ser um ser humano sem preconceitos.
É claro que esse era apenas um esboço do que iria acontecer dali uns anos, mas nós já tínhamos que nos preparar para tudo. E se a gente queria, se a gente estava preparado, era o momento pra gente realmente começar a pensar seriamente no assunto.
Bruno e eu nos amávamos tanto que um filho só finalizaria a nossa relação com chave de ouro. Eu sabia que nós iríamos viver juntos pro resto da vida e tinha certeza que iria dar tudo certo.
Quantas vezes eu tive que passar por cima do preconceito? Inclusive dentro do meu próprio lar? Quantas vezes o Bruno teve que engolir o preconceito também? Muitas!
Infelizmente, nós vivemos em um país subdesenvolvido. É claro que eu não posso generalizar. Graças a Deus, existem pessoas com o espírito evoluído, existem pessoas que aceitam as adversidades, que aceitam as diferenças das outras pessoas, mas também existe aquele ser humano retrógrado, aquele ser humano que não aceita, que não entende que os tempos mudaram!
Hoje em dia não podemos acreditar que para uma família ser perfeita, é necessário um pai e uma mãe. Por que a família não pode ser perfeita com dois pais? Com duas mães?
Não, não! Eu não ia barrar o meu desejo de dar um filho pro Bruno só por causa de clichês da sociedade brasileira. Quem quisesse aceitar a realidade, bem, quem não quisesse, amém! É como eu disse lá atrás, Bruno e eu não deveríamos satisfação a seu ninguém! Quem quisesse julgar, que julgasse! Nós não nos importaríamos com isso.
O nosso bebê seria amado, respeitado e educado para ser um ser humano de bem, como somos o Bruno e eu. Não importaria se fosse menino, não importaria se fosse menina, o neném seria muito educado, muito amado e muito respeitado! Acontecesse o que acontecesse.
As pessoas têm que entender que a família mudou. Por que Bruno e eu não podemos ter a nossa família? É claro que podemos!
Hoje, as coisas já não são mais como antigamente. Hoje as famílias podem ter dois pais, duas mães, um pai e uma mãe, dois pais e uma mãe, duas mães e um pai... Por que não? Por que nós temos que nos apegar a meros detalhes? A meros clichês antigos e ultrapassados?
De jeito nenhum! Eu tive tanta dificuldade na vida e nunca abaixei a cabeça! Por que eu iria fazer aquilo naquele momento? Nunca! Jamais!
Bruno e eu éramos homens o suficiente para passar por cima do preconceito. Nós fizemos isso em nossas próprias famílias... Por que não iríamos fazer isso com quem quer que fosse?
Com os nossos amigos não seria assim. Eu tinha mais do que certeza que todos, absolutamente todos, nos respeitariam e aceitariam a nossa decisão. Seria assim, eu tinha certeza.
Se eu tinha certeza, se o Bruno tinha certeza, pra quê perder mais tempo? Eu adiei aquele assunto por mais de um ano e esse foi o tempo que eu tive para confiar no que estava querendo, pra ter certeza absoluta que eu estava pronto para dar aquele passo.
Alguns poderiam pensar até que era cedo demais para isso, mas não era. Bruno e eu estávamos juntos há mais de dois anos, nos amávamos, nos respeitávamos, nos queríamos bem acima de tudo. A gente acreditava no nosso amor, a gente acreditava na nossa união eterna, então não era cedo. Poderia parecer, mas não era. Era a hora, era o momento. E ia dar certo, com fé em Deus.
Era a hora, era o momento de se pensar na ideia, de amadurecer a ideia e de preparar terreno pra isso. A adoção em si não poderia ser naquele momento.
Primeiro que a gente não tinha nem pesquisado sobre o assunto. Segundo que ia demorar porque no Brasil nada é rápido, a não ser a corrupção.
- Você me faz tão feliz, sabia Caio?
- Você é que me faz feliz, amor!

Voltamos a nos beijar e ele foi tirando a roupa aos pouquinhos. Só pelo cheiro do Bruno eu já ficava excitado.
- Me sinto tão feliz quando você fala que está feliz ao meu lado – comentei.
- Mas eu estou!
- É tão bom saber que eu fiz você esquecer a dor que sentia no passado, por causa daquilo que o desgraçado do Márcio fez...
- Eu pensei que nunca seria capaz de esquecer, mas você me ajudou tanto com isso que eu simplesmente adormeci o sentimento ruim que tenho por ele. Eu não vou mentir: não esqueci, mas não sinto mais a mesma raiva que sentia antes. Você ocupa a minha vida por completo, você foi o bálsamo que curou todas as feridas, que minimizou todas as marcas que ele deixou na minha vida...
Ele precisava ser mais lindo que isso? Não! Nem falei mais nada, apenas o beijei. O beijei, arranhei suas costas e me entreguei à ele, me entreguei ao nosso amor. E ele fez o mesmo comigo. Foi uma noite extremamente romântica e nós não utilizamos de nenhum artefato, nenhum apetrecho pra apimentar a relação. Não foi necessário.
Depois do prazer, tomamos banho e quando voltamos pro quarto, deitamos e ficamos abraçadinhos até pegarmos no sono, mas antes falamos de novo sobre o passo que queríamos dar:
- É um passo muito importante – ele comentou. – Jura que está preparado?
- Claro que estou.
- Depois não vai ter como voltar atrás.
- Sei disso e eu não vou querer voltar atrás.
- Eu também não. Tenho certeza que vai dar tudo certo.
- Vai dar tudo certo.
Bruno e eu combinamos que não falaríamos a nossa decisão para ninguém, pelo menos naquele momento. Nós ainda íamos aprimorar e muito aquela decisão, ainda íamos conversar muito a respeito daquilo e quando nós estivéssemos prontos para abrir o jogo, assim nós faríamos.
- Eu te amo muito, bebê – ele falou, olhando fixamente nos meus olhos.
- Eu também te amo, olhos azuis! Te amo demais!
- Obrigado por me fazer o homem mais feliz do mundo.
- Você é que me faz o homem mais feliz do mundo, Bruno!
A gente nem parecia mais aquele casal do começo, aqueles que brigavam, que se espancavam, que se ofendiam... Nós estávamos maduros, seguros e evoluídos. E isso fez toda a diferença para a tomada daquela decisão.
Eu tinha certeza que o Bruno seria um excelente pai. Ele seria daquele tipo de “pai babão”, que fica brincando com a criança e faz todas as vontades do filho. Todas as vezes que eu via a interatividade do meu namorado com as crianças, eu ficava mais e mais apaixonado, se é que isso era possível.
Olha como a mente humana é incrível: Bruno e eu falamos tanto em crianças, falamos tanto em adoção, que naquela noite eu sonhei que nós dois já tínhamos filhos!

“Bruno e eu estávamos na beira do mar. Fazia um dia nublado. O sol não deu as caras no céu e isso tornou o clima bem agradável.
- É hoje que eu vou aprender a surfar, né pai?
Um garotinho estava com a gente. Ele aparentava ter de 8 à 9 anos e era enorme.
- Sim senhor – falou Bruno. – Está com medo?
- Que nada! Eu sou corajoso!
- Então vem, filho – eu falei. – Não vamos perder mais tempo com isso!
- O que eu faço, pai? – ele perguntou pra mim.
- Primeiro você vai deitar aqui na prancha...”.


Eu abri os olhos e voltei a me encontrar na minha cama, ao lado do meu namorado. Foi um sonho. Um lindo sonho. Sonho este que um dia se tornaria realidade.
Eu me senti realizado ao lado do meu Bruno. Em pensar que eu sofri tanto por aquele homem, em pensar que eu o amei por vários anos em silêncio, em pensar que poderia dar tudo errado por causa do meu orgulho...
Mas graças a Deus deu tudo certo. Nós estávamos juntos, estávamos bem, estávamos felizes e continuaríamos assim por toda a eternidade.
Desde que nos vimos pela primeira vez, Bruno e eu ficamos apaixonados um pelo outro. É claro que às vezes era muito difícil de acreditar na felicidade que a gente estava vivendo, mas era a mais pura realidade.
Se eu fosse analisar mais friamente, as nossas vidas dariam uma novela das 21 da Globo. Bruno e eu tínhamos passado por tantas coisas, tantas dificuldades e estávamos juntos.
Juntos, realizados e felizes. Quem poderia imaginar que a minha vida mudaria daquele jeito?
Em 2.005 eu era apenas um adolescente mirradinho, um adolescente frustrado, cheio de dúvidas, cheio de ressentimentos que foi expulso de casa quando meu pai descobriu minha homossexualidade.
No final de 2.011 eu era um homem feito, formado, pós-graduado, que sabia dirigir, que estava casado com a pessoa que mais amava, com a pessoa que mais queria e que tinha uma boa condição social.
Claro que eu não era – e não sou, que fique claro – rico, mas eu não tinha do que reclamar. Meu salário e minhas comissões eram suficientes para eu me manter e o mesmo acontecia com o Bruno.
Além do mais, eu já tinha uma boa grana no banco e a qualquer momento eu poderia comprar meu carro, meu tão sonhado carro.
Eu e meu irmão sempre ficamos competindo nesse quesito. Ele falava que teria um carro primeiro que eu, que seria melhor motorista que eu.
E isso era bem provável que tivesse acontecido. Cauã e eu estávamos com 23 anos e ele provavelmente tinha ganhado um carro do nosso pai quando completou 18. Isso pra mim era certo.
Porém eu não me importava com isso. O que tivesse acontecido com meu gêmeo pra mim não importava. Se o Cauã não se importava comigo, por que eu ia me importar com ele?
Como as coisas tinham mudado, não é? Cheguei no Rio sem nada, com uma mão na frente e a outra atrás e naquele momento eu tinha um lar, uma vida estável e um amor. Um verdadeiro amor.
Bendita a hora em que tive a ideia de ir pro Rio, bendita a hora que o Víctor me ajudou com o dinheiro, bendita a hora que eu conheci o Padre João, a Dona Elvira, bendita a hora que eu fui pro Call Center, bendita hora em que eu encontrei o Digow e bendita a hora que eu encontrei a minha alma gêmea. Eu poderia ficar triste com tantas conquistas?
Eu não tinha esse direito. Deus foi tão bom, Deus foi tão justo comigo, Ele me ajudou tanto que eu não tinha o direito de ficar triste, mas eu fiquei.
De repente eu me senti triste ao extremo. Algo dentro de mim não estava bem. Além de triste, eu fiquei também angustiado. Não sei explicar porquê isso estava acontecendo, mas eu estava triste e angustiado. Por que? Por que isso estava acontecendo?
Seria medo com alguma coisa? Não! Eu não estava com medo de nada. Eu também não tinha direito de ter medo. Eu passei por tantas coisas, por tanta dificuldade que eu não podia nem sequer pensar em medo. Não era medo... Não era nada relacionado à minha vida.
Eu só fiquei triste e angustiado. Meu peito estava apertado, minha alma estava agoniada. Eu pensei muito no meu irmão gêmeo nesse momento.
Será que algo estava acontecendo com o Cauã? Será que ele estava sentindo alguma coisa diferente? Por que eu comecei a pensar nele do nada? Por quê?!
Definitivamente isso não era normal. De uma hora pra outra a felicidade deu lugar a tristeza. Isso não era normal. Eu estava tão bem 5 minutos antes, planejando o meu futuro ao lado do Bruno e naquele momento eu estava acuado, pensando em quem não gostava de mim.
Foi então que todos os meus dentes que foram arrancados começaram a doer. Misteriosamente eles começaram a doer, mas eles não estavam mais na minha boca! Por que eles estavam doendo? Por que eu estava tão esquisito daquele jeito? Por quê???

DOIS DIAS DEPOIS...

Era antevéspera de Natal e o movimento da loja estava mais animado que nunca. Naquele dia, eu não tive tempo pra sentar um segundo sequer. Nem mesa pra trabalhar nós estávamos tendo.
A coitada da Alexandra, prima da Alexia, foi outra que não parou um segundo sequer. Ela foi me solicitar socorro várias vezes naquele dia.
- Pode me ajudar de novo, por favor?
- Diga, Alê?
- Liga pro depósito pra mim e cobra uma entrega?
- Mas por que você mesmo não faz isso?
- É porque você tem mais argumento! Com você eles não enrolam, eles não brincam...
O que ela disse era parcialmente verdade. As pessoas dos outros departamentos da empresa já me conheciam pela forma como eu cobrava as coisas. A Duda recebeu várias reclamações de mim com relação a isso, mas ela gostava.
- Ligo! Me passa o pedido.
Esse foi o único momento em que eu parei e me senti grato. As minhas pernas estavam doendo.
Como no dia seguinte algumas pessoas estariam de folga, nosso amigo secreto foi feito naquela sexta-feira mesmo. Nós combinamos que faríamos a comemoração em uma pizzaria qualquer do Rio.
Chegamos no rodízio por volta das 23 horas e foi a maior algazarra. Primeiro nós comemos pra depois trocarmos os presentes.
- Aceita? – o garçom foi pra perto da Jana.
- Por favor. Obrigada!
- Jana, você percebeu do que é a pizza? – perguntei.
- É de muçarela – se escreve assim, gente –, oras.
- Ah, é? Então tá!
Ela estava louca, só podia! Aquela pizza não era de muçarela nem aqui, nem na China, ou melhor, na Itália! Era de alho...

E ela percebeu o erro quando colocou um pedaço na boca. A cara de nojo que a Janaína fez foi incrível. Todos nós demos risada.
- POR QUE NINGUÉM ME FALOU QUE É DE ALHO? – ela gritou com todos, mas olhou pra mim.
- Você é cega que não viu? – perguntei.
- Estou preta passada na chapinha!!! Não percebi nada! Nem notei o alho... QUE NOJO!
- Lesada. É isso que você é!
A gerente bebeu o copo de cerveja quase todo. Por isso que ela não percebeu a diferença, porque já estava bêbada.
Só depois da meia noite nós começamos a trocar os presentes. Quem falou primeiro foi o Jonas. Ele tirou uma menina do crediário.
Eu fui o nono a receber o presente. Quem me tirou foi um garoto do estoque. Eu ganhei uma caixa de bombons. Que clichê!
Agradeci, peguei o presente, posei pras fotos e depois falei quem era a minha amiga secreta:
- Ela é linda...
- SOU EU! – Janaína levantou a mão.
- Eu disse linda, Janaína! – brinquei com ela.
- POIS É! SOU EU!
Não era a Janaína. Continuei falando as qualidades da menina e só depois eu revelei que era uma vendedora de som e imagem. Ela se chamava Viviane.
- Espero que goste!
Comprei pra garota um kit de maquiagens, porque ela vivia produzida. Ela era mesmo muito linda.
- Obrigada, gatão! Obrigada mesmo!
- De nada, Vivi!
Foi uma noite badalada e nós ficamos lá até mais ou menos umas 3 da manhã. Só depois desse horário eu liguei pro Bruno ir me buscar. E ele chegou rapidinho.
- Bom dia, amor – fui e dei um beijo nele.
- Bom dia, vida! Como foi?
- Legalzinho.
- Ganhou algo legal?
- Caixa de bombons. Clichê, né?
- Ah, tá bom. Pelo menos vai dar pra comer.
- É!
A véspera de natal foi um dia morno e lento, como não poderia deixar de ser. Naquele ano o Bruno e eu iriamos passar a noite de Natal na casa dos nossos amigos e assim eu não tive que me preocupar com comida. Ainda bem.
Nós chegamos na casa do Mário por volta das 23:30, faltando só meia hora pra chegada do natal. Todos os amigos do Bruno estavam lá e como eu já tinha me enturmado com todos, não me senti desolado.
- Feliz Natal, meu amor – abracei o Bruno exatamente à meia noite.
- Feliz Natal, minha vida!
Naquele ano Bruno me deu um boné e um óculos de sol de presente e eu comprei pra ele um perfume novo. Foram presentes simples, mas nós dois amamos.

Curtimos o Natal. Foi uma noite muito gostosa a que passamos na presença dos nossos amigos. Eu comi, ri e me diverti. Deu tudo certo, graças a Deus.
- Pensei que não ia me ligar – já fui logo reclamando.
- Até parece que não! – Rodrigo parecia feliz. – FELIZ NATAL, CAPIVARA COM MIOPIA!!!
- Feliz Natal, gavião de asa quebrada!
Ele estava de novo na casa dos pais e daquela vez eu não sabia se ele ia voltar. Eu já estava me preparando psicologicamente pra dar “adeus” de vez ao Rodrigo.
Se já foi difícil a nossa separação na época da república, imagina naquela época?
Quando eu saí do Realengo e fui morar com o Bruno, cheguei a pensar que realmente a minha amizade com ele poderia dar uma esfriada, mas isso não aconteceu, pelo contrário: a amizade até aumentou, ficou mais intensa.
Se ele não voltasse eu ia sofrer, mas eu não queria pensar naquilo naquele momento. No começo de janeiro eu ia passar uns dias no Paraná e aí sim eu conversaria com meu amigo a respeito disso. Voltando ou não voltando, eu o apoiaria.
Falei com a Dona Inês e ela mais uma vez reforçou o convite para ir visitá-la:
- Juro que já estou com a passagem comprada, Dona Inês! Chego aí no dia 7.
- Pois eu acho bom!!!
Bruno ia comigo, afinal ele estava de férias coletivas na empresa. O danado nem bem tinha começado a trabalhar na metalúrgica e já estava de férias coletivas. É mole?
- Amanhã eu te ligo, tá?
- Beleza, Digow! Estou morrendo de saudades.
- Eu também. Deixa falar com o Bruh?
- Claro! Espera só um pouquinho...
A amizade do Digow com o Bruh estava cada dia mais firme. Em alguns momentos, eu até ficava com ciúmes da aproximação dos dois. E ciúmes duplo. Ciúmes do Bruno com o Rodrigo e do Rodrigo com o Bruno. Eles eram os homens que eu mais amava na vida...

A última semana de dezembro foi curta e passou voando. Quando eu menos percebi, já era 31 de dezembro, eu estava em casa e já passava das 21 horas.
O meu celular e o celular do Bruno não paravam de tocar. Eram mensagens e mais mensagens e nós não paramos de teclar um segundo sequer. O fato é que naquele dia, meu namorado e eu não estávamos nem um pouco a fim de sair de casa. A gente ia passar a virada no apartamento mesmo.
Eu estava desanimado e novamente fiquei sem entender porquê isso estava acontecendo. De repente eu estava de um jeito e no segundo seguinte eu já estava de outro completamente diferente. Que droga!!!
- Sabia que eu estou com vontade de morder esse corpo todinho? – Bruno me olhou com cara de safado.
- Está é, safado? – eu já fui ficando excitado.
- Estou...
Pronto! Esse foi o ponto chave pra gente começar o ano de 2.012 na cama. Ele chegou, me beijou com uma vontade incrível e já foi logo colocando a mão dentro da minha calça.
- Delícia de pau – ele mordeu a minha orelha.
- Ai, safado... – me arrepiei todinho.
- Põe ele pra fora, vai?
Bruno nem precisou pedir duas vezes. Eu coloquei pra fora, ele ajoelhou e começou a me chupar. Eu não me segurei e fui tirando a roupa pouco a pouco.
Quando fiquei totalmente pelado, ele me levou pra cama, subiu em mim e me lambeu da cabeça aos pés, literalmente falando.
- Nossa, que tesão – mordi meu lábio.
- Abre essas pernas, meu gostoso! Deixa eu engolir essa delícia...
Ui... Ui... Ui... Eu enlouqueci! Bruno estava safado demais naquela noite! Quando ele cansou de me chupar, tirou toda a roupa e foi a minha vez de fazer o mesmo com ele. E retribuí na mesma moeda.
- Fica de 4 pra mim, vai – mandei.
- Safado!
Ele ficou. Ele ficou de 4 e eu chupei o meu namorado debaixo do corpo dele. E pelo visto ele gostou.
E então rolou o 69. Bruno me chupou e eu o chupei, ao mesmo tempo em que ao fundo, nós ouvíamos o barulho das festas que aconteciam no nosso condomínio.
- Eu quero você – ele falou.
- Eu quero você também! VEM!
Meu namorado, ou marido, colocou a camisinha, me lotou de lubrificante e começou a me penetrar. Eu senti uma onda elétrica percorrer todo o meu corpo e só de sentir a penetração, fiquei com vontade de gozar. Soltei um gemido alto e ele deu um tapa na minha cara.
- DELÍCIA DE HOMEM! – ele gritou e urrou de prazer.
- Mete! – mandei. – Mete gostoso, safado!
Bruno aumentou a velocidade e nesse momento os fogos de artifício tomaram conta do céu do Recreio. As luzes entraram pela porta de vidro da varanda do nosso quarto e o barulho ensurdecedor dos gritos, misturado com os pipocos dos fogos anunciaram a chegada de mais um ano. Era 1º de janeiro, ia começar tudo de novo.

1º DE JANEIRO DE 2.012...

2.012 não poderia ter começado melhor. Se todos os 366 dias daquele ano bissexto fossem como os primeiros minutos, Bruno e eu continuaríamos sendo felizes como estávamos sendo naquele instante.
Nós dois não nos importamos com os fogos, com o barulho e com a algazarra que acontecia fora do nosso apartamento. O importante para nós naquele momento foi o nosso amor.
Começar 2.012 na cama com o Bruno foi inusitado e totalmente desplanejado. Eu queria saber quais seriam as consequências daquela virada de ano. Será que 2.012 seria um ano benéfico em nossas vidas?
Por que 2.011 foi. Os pedidos que fiz, os planos que fiz, as promessas que fiz em Búzios foram concretizados. Aliás, desde 2.010 eu estava tendo anos bons em minha vida.
E com aquele não seria diferente. Eu tinha certeza que aquele ano seria tão bom quanto os outros. Eu estava torcendo para que fosse assim.
Bruno pegou o meu cabelo, jogou a minha cabeça pra trás e deu um tapa na minha cara, mas de leve. Eu gemi, ele gemeu e eu senti mais uma vez vontade de gozar.
- Delícia de macho – ele mordeu meu pescoço.
- Cala a boca e mete! – ordenei.
Poderia existir forma melhor de começar um ano novo? As coisas estavam evoluindo! Eu comecei 2.011 beijando meu namorado e comecei 2.012 transando com ele. Como será que seria a virada de 2.013? Melhor que a de 2.012 não seria, mas poderia ser igual.
Bruno penetrou até chegar ao orgasmo. Quando ele não aguentou mais segurar o prazer, ele tirou a camisinha e enfiou o pau na minha boca. Ele gozou segundos depois e eu fiquie louco de tesão com aquilo.
- Safado – falei.
- AAAAH, DELÍCIA... DELÍCIA DO CARALHO...
E depois foi a minha vez. Invertemos os papéis e eu passei a ser ativo. Ele gemeu demais quando comecei a penetrá-lo e não broxou um segundo sequer.
Bruno e eu nunca tínhamos falhado na hora H. A gente costumava ficar com vontade só com um olhar, só com o cheiro, com o toque. Não precisávamos de muito para sentir vontade de fazer as coisas. Era até fácil demais.
- Rebola – mandei.
- Assim?
- Assim mesmo, filho da puta gostoso... Geme!
- Ah... Delícia...
- Quer vara, quer?
- Quero! Mete bem gostoso, vai...
Falamos muita putaria naquela madrugada de 1º de janeiro e quando eu gozei, ele engoliu tudo. Claro que não ficamos apenas naquela transa. Aconteceram várias, uma atrás da outra.
Só paramos lá pelas 3 da manhã, depois da 4ª. Eu já estava sentindo dor no meu membro de tanto que o coitado foi abusado pelo meu namorado.
- Essa foi a melhor virada de ano da minha vida – ele falou, na hora que a gente ia tomar banho.
- A minha também! Não poderia ter sido melhor.
Tomamos banho, nos trocamos e só às 4 da manhã saímos para a varanda para enfim vermos o movimento que estava acontecendo no nosso bairro. Quase ninguém estava na rua. Nós perdemos toda a algazarra, mas não nos importamos.
- Feliz ano novo, meu amor – Bruno me abraçou por trás e beijou meu pescoço.
- Pra nós, amor! Pra nós!
Eu não tinha absolutamente nada, além de saúde, para pedir naquele ano que estava chegando. Eu só tinha que agradecer.
Agradecer pela minha vida, agradecer pela minha saúde, pelo Bruno, pelo nosso apartamento, pelo meu emprego, pelos meus amigos e por tudo de bom que eu conquistei na vida.
A minha vida naqueles últimos anos estava perfeitamente equilibrada. Eu tinha tudo o que queria e precisava. Então pra que eu precisava pedir? Não, não me senti nesse direito. Eu apenas agradeci e entreguei minhas vida e meu destino nas mãos de Deus. Ele sabia o que seria melhor pra mim e o que 2.012 me reservaria.

Meu namorado e eu pegamos os gatinhos e nós 4 ficamos lá na cama, deitados e assistindo televisão. Mesmo estando bem tarde, nós não estávamos com sono. Só dormimos quando o dia amanheceu.
Bruno e eu vimos o primeiro nascer do sol do ano da varanda do nosso quarto. Ficamos abraçados e curtimos o amanhecer até o sol aparecer por completo no céu da cidade do Rio de Janeiro. Só depois disso nós fomos dormir.
- Vou deixar o ar condicionado no mínimo, tá? – falei.
- Claro! Quero dormir agarradinho com você.
Foi isso que aconteceu e foi bom demais. Bruno e eu só acordamos lá pelas 16 horas, mortos de fome e de sede.
- Nossa, eu estou morrendo de fome! – ele sentou e atacou a comida.
- Eu também! Ainda bem que sobrou ceia, né?
- É!
Nós comemos o que sobrou do jantar da noite anterior. Nem foi ceia, porque nós passamos a meia noite no rala e rola, mas mesmo assim valeu a pena. Eu comi até não aguentar mais.
- Hoje não vou mais jantar – falei.
- Também não! É impressão minha ou a comida fica mais saborosa no dia seguinte?
- Você acha? Não acho não, mas está boa.
- Está ótima! Acho que vou comer mais um pouquinho de mousse de maracujá...
- Nunca vi alguém gostar tanto de mousse de maracujá como você, Bruh!
- É bom demais!
Não saímos de casa naquele 1º de janeiro nem pra colocar o lixo no lixo. Bruno e eu passamos o dia inteiro namorando, curtindo um ao outro e só no outro dia eu voltei a minha rotina normal de trabalho. O Bruno ficou em casa, porque ele ainda estava de férias coletivas.
- Bom trabalho, meu amor!
- Obrigado, anjinho! Prometo que vou cuidar bem de seu carro.
- Confio em você, não se preocupe.
Aquela foi uma das poucas vezes em que o carro do Bruno ficou a minha disposição. Eu fiz o meu melhor para não acontecer nada com o carro dele. Deu tudo certo.
Naquele ano, as coisas foram diferentes. Jonas e Janaína iam sair de férias no mesmo mês, mas cada um em uma data.
Jonas já estava curtindo as férias à partir daquele 2 de janeiro e a Janaína saíria à partir do dia 15, dessa forma, a loja ficaria sozinha apenas 15 dias e até aquele momento, não estava definido quem ficaria à frente da filial, mas tudo indicava que seria eu novamente.
- Como foi sua passagem de ano? – Janaína perguntou.
- Ah, foi ótima! Foi perfeita, foi incrível, foi demais...
- Nossa! Como foi, hein? Passou onde?
- Literalmente na cama – fiquei todo sem graça, mas se eu não falasse ela não sossegaria o facho.
- ESTOU PRETA PASSADA NA CHAPINHA! MENTIRA?
- É sério, menina! Por que eu mentiria?
- AI QUE DELÍCIA, MENINO! JÁ FIZ ISSO E É BOM DEMAIS...
- Cala a boca, sua escandalosa! Precisa berrar desse jeito?
- Ai, desculpa! Esqueci que nós estamos na loja!
- Amor?
- Que foi, Bruh?
- Posso te fazer uma pergunta que eu nunca fiz antes?
- Claro! O que é?
- Você gosta de tatuagens e piercings?
- Adoro, por que? Você está pensando em fazer alguma?
- Sim! Eu queria colocar um piercing, mas não sei se você gosta...
- Mas você não precisa saber a minha opinião pra tomar essa decisão, amor. Você pode fazer o que quiser!
- A sua opinião é muito importante pra mim, Caio. Eu não faria nada sem saber a sua opinião.
- Lindo! Mas o que você está pensando em fazer?
- Eu queria colocar um alargador na orelha e um piercing na língua!
- ADOOOOOOOOOOOOOOOOORO!
- Sério?
- Muito! Sempre tive vontade de colocar piercing na língua, mas nunca tive coragem!
- Eu também não!!!
- Agora, o alargador eu pensaria duas vezes se fosse você!
- Por que? Não gosta, amor?
- Não, não por isso! É por causa da sua profissão. Arquitetos normalmente não têm alargadores, né?
- Ah, mas não é pra sempre. Eu só queria experimentar. Logo eu tiro, você sabe que eu enjoo das coisas facilmente, né?
- Quer dizer que você vai anjoar de mim? – fiz um bico imenso.
- Não! Jamais! Nunca! De você eu nunca vou enjoar.
Nos abraçamos.
- Te amo – falei.
- Eu também! Vamos ver isso?
- Vamos sim! Podemos ir amanhã mesmo se você quiser.
Ele quis e nós fomos. Procuramos um estúdio bacana, entramos e nos informamos de como era o procedimento, quanto ficava e etc. Meu namorado e eu saímos de lá inspirados a fazer tudo o que queríamos. Nós voltaríamos ali após a nossa volta do Paraná.

- Eu estava com tanta saudades de você! – meu irmão me abraçou.
- Também estava. Você está bem?
- Melhor agora e você?
- Muito bem!
- Digão, você engordou!
- Caio, Caio, Caio... Meu irmãozinho mais lindo de todo o mundo... Eu pedi tanto pra você não trazer o Bruno! Pedi tanto pra você vir sozinho, pra você deixar ele lá no Rio... Mas você não me ouviu... Você nunca me ouve... Você trouxe esse garoto e agora eu sou obrigado a ouví-lo me chamar de gordo... Eu não mereço isso não, Caio... Não mereço!
- Mas você está gordo! – eu concordei.
- Venham comigo, meninos!
- Pra onde você está indo? – Bruno e eu seguimos o Rodrigo.
- Vou ver qual o horário do próximo voo pro Rio ou pro Japão. Eu não vou ficar sendo vítima de bullying por uma semana, mas não vou mesmo!
- Bobo – eu puxei o Rodrigo. – Vamos embora, eu estou cansado!
- Idiota! Eu não estou gordo!
- É brincadeirinha, Digão – Bruno tentou minimizar as palavras. – Você não está gordo, está fofinho!
- Cala a boca, hein? Cala a boca senão eu te mando pra China!
- De quem é esse carrão? – me espantei.
- Do nosso pai. Entrem aí.
- Que carro da hora! – meu namorado ficou deslumbrado. – É 0?
- Não mais!
Meu amigo dirigiu até a casa dele e quando nós chegamos lá, fomos extremamente bem recebidos pela Dona Inês. O cheiro de comida estava no ar.
- Como é bom te ver, Caio!
- É bom vê-la também! A senhora está cada vez mais linda!
- Ô, querido! Muito obrigada! Você também está lindo! Como vai, Bruno?
- Bem e a senhora?
- Bem, obrigada! Seja bem-vindo.
- Obrigado!
- Venham! Vou mostrar os quartos.
Nós seguimos o Digow e ele nos levou até nossos quartos. Bruno e eu não íamos dormir no mesmo lugar, porque não tinha cama de casal pros hóspedes. Era apenas uma cama de solteiro. Quem disse que a gente não ia dividir?
- Bruno você vai dormir no porão – brincou o meu amigo.
- Que bela receptividade! – Bruno ficou triste.
- COITADO, RODRIGO! – eu agarrei meu namorado. – Não vai não, amor! Eu não vou deixar.
- “Bigado”! – ele falou que nem criança.
- Calma, calma. É só uma brincadeira. Você vai dormir aqui também, mas alguém vai ficar no chão.
- Ninguém vai ficar no chão – falei. – Bruno e eu podemos dividir essa cama muito bem. Né, anjo?
- Uhum!
- Fica triste não, Bruh – Rodrigo foi abraçar meu namorado. – Você sabe que é brincadeira.
- Fiquei magoado!
- Desculpa, tá? Não brinco mais com isso. Você não merece ficar no porão, mesmo tendo me chamado de gordo.
- Acho bom!
- Caio, lembra da Bárbara?
- Aquela ex que você encontrou por acaso na Praia de Botafogo?
- Isso!
- Que é que tem aquela rapariga?
- Não fala assim dela! A gente se encontrou aqui em Curitiba!
- Hum? E o que tem isso?
- Tem que eu estou gostando dela de novo.
Quase enfartei três vezes seguidas. Ele foi falando, falando, falando e eu tinha mais e mais vontade de matar aquele desgraçado.
- Já ouviu falar que figurinha repetida não completa álbum? – perguntou o meu namorado.
- Você não tem moral pra falar isso. Nenhum dos dois. Vocês eram ex e voltaram e estão felizes. Por que eu não posso me apaixonar de novo por ela?
- De novo ou você ainda é apaixonado? – entrei no assunto.
- Não é pra tanto! Foram 10 anos longe. Não fiquei 10 anos apaixonado por ela.
- Tem certeza, Rodrigo? Olha que esse é um assunto que eu conheço muito bem, hein?
A Bárbara, ou Babí, era uma das ex do Digow que ele mais curtiu ficar. Eles se separaram porque a menina foi morar na Itália com os pais, porque eles tiveram uma proposta irrecusável de trabalho. Ela ficou 10 anos no exterior e foi modelo nesse meio tempo.
- Não quero mais ouvir o nome dessa vagaranha fedorenta. Mude de assunto!
-  A COMIDA ESTÁ PRONTA! – gritou a Dona Inês.
- Vamos comer, mas depois eu vou levar os dois pra conhecê-la!
- Quem disse que eu quero conhecer essa rapariga?
- Vai conhecer sim senhor!

Fomos almoçar e nos perdemos no meio de tanta comida gostosa. A Dona Inês fez um verdadeiro banquete pra gente.
- Quem é ele, Digow? – perguntou meu namorado, referindo-se ao sobrinho do meu irmão – que não era meu filho.
- É meu sobrinho, o Cadu!
- Que grandão que ele está – comentei.
- Verdade. Né, Cadu?
- Isso – falou o menino. – Vó, eu quero macarrão!
- A vovó vai colocar, espera aí... Andem, andem! Ataquem!
- Por isso que você está gordo – comentei. – Com esse banquete não têm quem não engorde.
- Mãe! Eles estão fazendo bullying comigo!
- Não ligue pra eles, filho. Você não está gordo, eles é que estão magros demais.
- Bem feito! – Rodrigo mostrou a língua.
Nós parecíamos até crianças. O almoço foi divertidíssimo e nós nos empanturramos com tudo. Depois de ajudarmos com a louça, Rodrigo nos levou para conhecer a Babí e eu fiquei espantadíssimo com a beleza daquela mulher. Ela era deslumbrante!
- U-A-U! – eu fiquei boquiaberto.
- Oi! – a loira riu. – Tudo bem? Você que é o famoso Caio?
- Eu sim... Você que é a famosa Bárbara?
- Isso! Prazer em te conhecer.
- O prazer é meu... Desculpa, mas você é muito linda!
- Obrigada! Você também é! E você deve ser o Bruno?
- Como você sabe?
- Rodrigo falou muito de vocês. Prazer!
- Prazer.
- Rodrigo... Agora entendi tudo!
- Lindona, né?
- Muito! Você é modelo?
- Sou.
Não era pra menos. A mulher era muito linda, muito linda mesmo. Todas as outras pareciam inferiores perto dela.
- Se eu fosse 10% hetero eu ficaria com você, na boa!
- EI! – meu namorado me bateu.
- Mas é! Eu nunca vi uma mulher tão linda igual essa! Parabéns!
- Muito obrigada!
Bárbara era loira natural, branca ao extremo, tinha o cabelo literalmente até a cintura, seios fartos, cintura fina, bumbum avantajado e olhos verdes. Linda, muito linda. Eu fiquei mesmo muito espantado com a beleza dela.
- Não vai me dar um beijo? – reclamei.
- Beija a parede se você quiser!
- Por que está me tratando tão mal assim?
- Vai lá beijar a ex do Rodrigo! Vai!
- Ô, amor... Você sabe que eu nunca faria isso!
- Eu bem vi o jeito que você olhou pra ela! Sai, não quero saber de você!
- Bruh... Eu não gosto de mulher!
- Não é o que parece!
- Não gosto! Se eu gostasse eu estaria com você! Eu só elogiei a moça, só isso...
- Se eu fosse 10% mais hetero... – ele imitou a minha voz.
- Bruno... Me dá um beijo!
- Não! Não vou dar. Você não merece!
- Está bravo comigo? – fiquei desesperado.
- Estou! Não encosta em mim, hein? Estou louco com você!
- Mas era mentira...
- Não era! Eu vi o jeito que você olhou pra ela!
- Só me espantei com a beleza dela, só isso!
- Sai pra lá, Caio! Eu estou falando sério!
- Mas, Bruh...
- SAI!
- Não... Quer que eu durma aqui com você?
- Não! Sai, me deixa sozinho. Vai ficar com a Bárbara!
- Mas, Bruno... Eu não iria ficar com ela...
- Qual foi a parte do sai pra lá que você não entendeu? Se você não sair saio eu!
- Você tá me expulsando do quarto?
- ESTOU! NÃO QUERO DORMIR COM VOCÊ HOJE. ME DEIXA SOZINHO! VAI!

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