Acho que a maioria do povo ficou com paralisia corporal. O pedido foi totalmente inesperado. Mas não poderia ser diferente, não é mesmo?
- E lógico que eu aceito, é óbvio que eu aceito, meu príncipe!!!
Pronto. Dona Inês; Dona Ana, a mãe da Babí; Bruna; Marcelle e eu nos debulhamos em lágrimas. Para que ele foi fazer isso sem me informar? Eu fiquei com ciúmes, não nego!
Eles se beijaram e colocaram as alianças. Finalmente o meu Digow ficou noivo. Eu fiquei feliz da vida com isso, embora estivesse com ciúmes.
- Que lindo! – a mãe do Fabrício ficou contente.
- Falta só você agora, hein? – falei.
- Quem sabe um dia? – Fabrício sorriu e beijou o filho.
- Que é isso, papai?
- Um noivado, meu filho.
- E o que é isso, papai?
- É um pedido de casamento.
- Que é isso?
- É que nem aquele do padrinho Vinícius e da madrinha Bruna. Você lembra?
- É! E cadê o bolo, papai?
Ai que coisa mais linda, meu Deus! Nícolas era fanático por bolo.
- Hoje não tem bolo, filho.
- Mas eu “quelo”!
- Amanhã a vovó faz um bolo pra você, tá meu amor? – a mãe do Fabrício roubou o neto e o colocou em seu colo. – Amor da vó!
- Você faz mesmo, vovó?
- Claro que eu faço, mocinho! Você está falando tão direitinho para a sua idade, rapazinho!
- É que eu sou muito inteligente, vó – Fabrício beijou de novo o filho.
- Emocionada?
- Demais – Marcelle me fitou.
- Engraçado, né Marcelle? Rodrigo fala que eu sou o irmão dele, você é a irmã dele e a gente nem tem contato.
- Verdade, Caio! Mas saiba que eu já te considero da família, viu?
- Ah, obrigado! Agradeço pela receptividade. E o Cadu, como está?
- Ah, terrível! Nem quis trazê-lo, senão era capaz que ele subisse no palco e arrancasse o microfone do nosso irmão. ele está uma peste!
- Nossa! Complicado criança assim.
- Nem me fala! Ele me deixa louca.
- Mas é fase. Logo isso passa.
Após o longo beijo do casal, nós enfim pudemos cumprimentá-los. Acho que a minha terceira mãe deve ter sofrido um pequeno ataque do coração naquele dia.
- Meu coração não aguenta tanta amoção, Rodrigo!!!
- Calma, mãe! Não é para chorar!
- E como eu não vou chorar se meu filho mais velho está pedindo a namorada em casamento? Como não vou chorar com isso? Os outros dois já se casaram, agora só falta você e isso me deixa emocionada!
Eu fiquei feliz por ela ter me incluído no pacote. Muito feliz mesmo.
- Sua boba! Eu não sou mais nenhuma criança!
- Eu sei disso, mas para mim você continua sendo o meu menininho!!!
Mãe é mãe, não é? Dona Inês chorou para valar. Eu me controlei e só voltei a fazê-lo quando abracei o meu irmão.
- Até tu, Brutus? Para de chorar, Cacs!
- Eu não sei se te mato agora, daqui a 5 minutos ou em meia hora! Você escolhe!!! O que prefere?
- Mata eu não, titio! Eu sou jovem para morrer!
- Seu cachorro!!! Meus parabéns!!!
- Obrigado!
- Por que não me contou que faria isso? Poderia ter preparado o meu pobre coraçãozinho para uma emoção como essa!
- Eu não quis estragar a surpresa. Decidi hoje.
- Seu louco! Estou feliz por você!
- Obrigado. Eu tenho outra coisa para te falar.
- O que é dessa vez?
- Na verdade, seria um convite. Mas na verdade, é uma intimação.
- Que intimação?
- Você está devidamente intimado para ser meu padrinho de casamento! E eu não aceito não como resposta!
- ESTOU PRETO PASSADO NA CHAPINHA!
- Nada disso. Está intimado. Não é convidado. É intimado!
- É claro que eu vou, né? Cachorro! Obrigado por pensar em mim!
- Você não ficaria de fora dessa, maninho! Jamais.
- Te agradeço muito, DOUTOR RODRIGO.
- Ah, nem me fala! A ficha ainda não caiu.
- Orgulho me define! Parabéns duplamente. Te amo!
- Também te amo!
Ainda naquela noite, Digow convidou a irmã, Marcelle, para ser sua madrinha juntamente com o esposo, Juan, que ficou no Paraná com o filho, Carlos Eduardo. É claro que ela aceitou.
Foi uma noitada deliciosa e muito festiva. Nós comemoramos três acontecimentos ao mesmo tempo: o mestrado do Fabrício, o doutorado e o noivado do Rodrigo. Foi ótimo participar desses momentos.
- Parabéns, cunhada linda!
- Obrigada, meu amor! Eu quero você no altar.
- Estarei lá com o maior prazer do mundo! Bem-vinda à família!!!
- Obrigada, Cacs! Já te adoro, viu?
- Eu também te adoro! É pra cuidar direitinho desse cachorro, hein?
- Ah, não tenha dúvidas! Ele vai ser bem cuidado e muito bem adestrado.
Nós dois rimos.
- Estou feliz por vocês.
- Obrigada! Você está mais tranquilo com a volta a São Paulo?
- Mais ou menos, sabe? É muito difícil a separação.
- Eu sei! Eu sei que é.
- Você vai ficar aqui o resto da semana?
- Bem que eu queria, Caio, mas eu não posso. Eu vim hoje só por causa da cerimônia do doutorado, mas já tenho que voltar!
- E nem vai curtir o noivado?
- Infelizmente não. Se eu soubesse disso, teria conseguido mais alguns dias de folga. Vida de modelo não é fácil.
- Eu sei que não é.
- Nem sei como nosso namoro sobreviveu. Namorar à distância é complicado.
- Eu sei. Mas agora tudo vai se resolver, não é?
- Verdade! Vai mesmo.
Suspirei. Eu já estava sentindo o clima da despedida. Aquela foi de fato a última noite que eu passei ao lado de quase todos os meus amigos no Rio de Janeiro. Só faltaram a Alexia e a Janaína. Infelizmente.
Faltava só um dia para a minha viagem e o clima era de tristeza por todos os lados. O coitado do Bruno saiu pra faculdade chorando. Ele tentou disfarçar, mas eu percebi. E por causa disso eu também chorei.
Por volta das 7 horas da manhã eu resolvi sair de casa, mas não saí de carro. Resolvi fazer todo o trajeto que queria fazer de transporte público, porque eu queria relembrar todos os momentos que vivi naquela cidade que eu tanto amava.
Por isso, peguei um táxi e pedi que o motorista me deixasse na Rodoviária. Era por lá que eu queria começar o meu longo trajeto naquele dia.
E quando eu cheguei, lembrei direitinho de tudo o que aconteceu naquele primeiro dia em que cheguei no Rio de Janeiro, mais de 7 anos antes daquela data.
Eu tinha 16 anos, era um adolescente mirrado, cheio de mágoas, cheio de ressentimentos e ao mesmo tempo, cheio de esperanças.
A primeira coisa que fiz foi ir até a plataforma de desembarque dos ônibus de São Paulo. Até a plataforma eu lembrava. Lembrei de tudo, absolutamente tudo e com uma facilidade monstruosa.
Não tinha como ser diferente. Aquele dia foi marcante em minha vida, por isso eu lembrei com facilidade. Lembrei que saí andando sem rumo, completamente perdido, completamente assustado e sem saber o que fazer, o que pensar.
Refiz os mesmos passos que fiz com 16 anos. Saí da plataforma de desembarque e atravessei a rodoviária, até o outro lado. Vi os táxis e lembrei que perguntei a um taxista se ele saberia me informar onde haveria um albergue ou qualquer coisa do tipo para eu me hospedar. Eu estava perdido!
“- Moço, por favor? Pode me ajudar? Sabe onde tem um albergue por aqui?
- Albergue?
- Ou uma hospedaria que não seja cara...
- Tem algumas lá em Copacabana.
- Qual ônibus eu pego pra chegar lá?
- Tem que atravessar a rua e ir até o terminal que fica do outro lado.
- Ah, tá. Beleza. Obrigado.”.
E então eu segui até o terminal de ônibus, que ficava próximo da Rodoviária Novo Rio.
Chegando lá eu fui direto pro ponto de ônibus que ia até o Largo do Machado. Em 2.005 eu acreditava que aquele ônibus me deixaria em Copacabana.
“- Por favor, qual ônibus eu pego para copacabana ?
- É nesse ponto aí da frente.”.
Quando o coletivo chegou, eu fui o quinto a entrar. Paguei a passagem – que estava mais cara, é claro – e fiz questão de sentar no mesmo banco que sentei da primeira vez que cheguei ao Rio: ao lado do cobrador.
Quando o veiculo saiu, eu olhei para o trajeto que ele fez e me lembrei direitinho do medo que senti quando soube que o ônibus não ia pra Copa e sim pro Largo do Machado. Lembrei que quis descer. Eu sorri. Como eu era inexperiente!
“Meu coração acelerou. O que eu ia fazer, meu Deus? Aos poucos eu comecei a ficar desesperado e senti vontade de descer daquele ônibus, mas respirei fundo e segui adiante. Pedi em pensamento pro meu anjo da guarda me guiar. Se eu tinha entrado naquele ônibus, não tinha sido por acaso. Tudo ia dar certo, de um jeito ou de outro. Só não adiantava me precipitar.”.
Olhei tudo com muita atenção e tive a impressão que o meu cérebro estava fotografando cada canto, cada pessoa, cada carro, cada árvore, cada semáforo. E então eu cheguei no ponto final. E então eu cheguei no Largo do Machado.
Desci e me vi perto das mesmas árvores, do mesm ponto de ônibus, da mesma banca de jornal, da mesma rua, do mesmo medo.
Até a sensação que eu estava sentindo era a mesma que eu senti no passado. comecei a caminhar e olhei para todos os lados. Não havia quase nada de diferente naquele lugar.
“Quando eu desci do veículo, fiquei ainda mais preocupado, Me vi em uma praça com algumas árvores e uma banca de jornal. A rua estava completamente sem movimento.
O que fazer? Para onde andar? Que rumo pegar?
Muitas perguntas rondavam a minha cabeça e pela primeira vez, eu achei que tinha tomado a decisão errada. Talvez eu não tivesse que ter saído da minha cidade para ir a um lugar até então desconhecido. Será que tinha sido um erro?”.
Entrei na Rua do Catete e lembrei da preocupação que eu tive quando cheguei naquela rua, no ano de 2.005. Eu não sabia para onde deveria ir, não sabia o que deveria fazer e nem sabia onde estava. Naquele momento era diferente.
Tudo estava igual, exatamente igual, mas ao mesmo tempo tão diferente! Não sei se era impressão minha, mas havia algumas coisas novas naquela rua. A Rua do Catete. O bairro onde eu vivi os meus primeiros anos no Rio de Janeiro.
Caminhei olhando pra tudo e a cada passo dado, o vazio no meu peito e na minha alma aumentavam. Era muito ruim!
E então eu cheguei nas primeiras hospedarias daquele bairro. Me lembrei o quanto fiquei feliz quando vi aquela plaquinha de “Quartos para Cavalheiros”. Aquela hospedaria ainda estava igualzinha. Era a mesma escada de madeira, as mesmas paredes encardidas... Tudo igual.
“Mas eu fiz o que ela falou. Segui adiante e depois de aproximadamente 15 minutos caminhando, vi uma placa onde estava escrito: ‘Hospedaria Oásis – Quartos Para Cavalheiros’. Meu coração bateu aliviado. Graças a Deus eu tinha encontrado um lugar para ficar.”.
A do lado também estava igual. A mesma escada de concreto revestido em cerâmica e as mesmas paredes descascadas. Nada tinha mudado por ali.
Passei pelo bar onde eu comprava comida, mas ele ainda não tinha aberto. E lembrei dos marmitex que eu comprei naquele lugar. Lembrei da fome que passei. Como eu sofri!
“- Me vê um comercial de bife, por favor?
A minha barriga roncava e roncava muito. Eu já estava quase sem dinheiro, mas se eu não comesse alguma coisa e rapidamente, eu acabaria passando mal.
Eu não sabia o que seria da minha vida dali em diante. Eu não sabia mesmo!!!”.
Até que eu cheguei na Hospedaria do Seu Manollo. Foi ali onde eu passei a minha primeira noite no Rio de Janeiro e foi ali também que eu vivi por uns poucos meses. Não gostava nem de lembrar daquela fase. Como foi difícil!
“Quando eu cheguei na esquina daquela rua, encontrei outra hospedaria, onde estava escrito: “Quartos para Rapazes”. Bati na janela e um senhor de idade foi me atender.
- Bom dia, o senhor tem um quarto?
- Não. Está lotado.
- Ai meu Deus... Sabe onde tem algum lugar por aqui? Que seja barato?
- Não faço ideia.
Respirei fundo.
- E em outro bairro, o senhor conhece?
- Bem, até tem um quarto; é o último, mas não tem ventilador nem televisão.
- Tudo bem, tudo bem, não tem problema – meu coração foi parar no lugar do cérebro de tanto alívio. – Quanto é a diária?”.
O que eu tinha pra comer era um pacote de bolachas de maisena e o que eu tinha pra beber era água da torneira da pia do meu quarto. Não tinha cobertor, não tinha água quente, não tinha nenhuma infraestrutura. Aquilo foi difícil, mas tinha ficado no passado.
Ficar ali e não lembrar da fome que passei foi impossível. Eu fiquei parado na frente da Hospedaria do Seu Manollo por uns minutos e depois resolvi ir até a igreja onde o Padre João morava. Esse trajeto foi o trajeto crucial que mudou o rumo da minha vida.
“Entretanto, a minha fome só aumentava. Eu já tinha emagrecido mais de 3 quilos devido a falta de comida.
Certo dia, não aguentando mais aquela situação, resolvi sair da hospedaria para ver se encontrava alguma alma caridosa que me desse alguma coisa para comer, mas estava tão fraco que não conseguia andar direito.
Mesmo sem forças, não desisti e continuei seguindo meu caminho. Eu ia encontrar alguma coisa pra comer, nem que fosse... no lixo...
Contudo, depois de meia hora de caminhada, avistei uma igreja e resolvi entrar. Eu precisava pedir forças a Deus, precisava pedir ajuda e não existia lugar melhor do que uma igreja para se conectar com as energias celestiais.”.
Eu entrei. Entrei e fui para o mesmo banco que sentei na primeira vez que estive ali. Da mesma forma que fiz no passado, ajoelhei e orei. Orei e pedi forças a Deus para suportar toda aquela dor que eu estava sentindo.
Sim, porque estava doendo. Toda despedida doía e aquela despedida tinha um peso enorme na minha vida.
Eu sabia que ia voltar para o Rio de Janeiro, eu sabia que poderia ir ali quando quisesse, mas ir como turista e ficar como cidadão era bem diferente. Pelo menos era isso o que eu achava.
Pedi conselhos a Deus e pedi que Ele me confortasse, que me desse o alívio que eu tanto precisava. Pedi para Ele me abençoar, para abençoar meu novo ciclo e principalmente, para Ele abençoar o meu marido. O Bruno. O homem da minha vida.
Fiz o sinal da cruz, levantei e só então eu vi o Padre João. Ele me olhava com um sorriso nos lábios. O homem tinha envelhecido.
“Chegando lá, fui até próximo do altar, me ajoelhei e comecei a rezar. Meu desespero era tão forte que comecei a chorar e acabei chamando a atenção do padre da paróquia.
- Você está bem, meu filho? – perguntou o sacerdote.
Não tive coragem de responder. Só balancei a cabeça negativamente.
- Você está pálido. Está passando mal?
- Fome – só foi o que consegui dizer.”.
- Padre!
- Como vai, filho! É muito bem te ver aqui na casa de Deus.
- Eu vim me despedir de tudo, Padre.
- Se despedir? Você vai embora?
- Sim. Eu vou voltar para a minha cidade.
- É mesmo?
- Sim. Padre, posso me confessar?
- Hoje não é dia de confissão, mas eu abro uma exceção. Venha comigo, filho.
Eu tinha que aproveitar a oportunidade para confessar todos os meus pecados. Abri o meu coração ao Padre João e senti que eu estava falando com Deus. O sacerdote me ouviu, me aconselhou muito e disse sabiamente que eu tinha que perdoar os meus familiares. Não posso falar o que ele disse porque foi em segredo de confissão.
Depois de pagar a minha penitência, eu saí da igreja e resolvi ir até o mercadinho da Dona Elvira, o meu primeiro emprego lá no Rio de Janeiro.
Tive que lembrar da expectativa que vivi quando fiz aquele trajeto pela primeira vez. Eu estava com medo dela não me aceitar no mercado, mas tudo deu certo.
“Nós andamos por menos de 10 minutos e chegamos em um tipo de armazém, onde tinha tudo que se pudesse imaginar: de comida a utensílios domésticos e produtos de limpeza.
- Padre João, que prazer em vê-lo – disse uma senhora aparentemente muito simpática. – Sua bênção?
- Deus te abençoe. Dona Elvira, preciso de sua ajuda.
- Em que posso servir?
- Esse rapazinho precisa de um emprego.
A senhora olhou pra mim e abriu um sorriso sincero. Eu abaixei meus olhos e senti vergonha. Como era duro ter que depender dos outros.
- De um emprego? Mas tão novinho assim?
- Ele está passando por dificuldades. Está sozinho no mundo e não tem o que comer. Precisa de um emprego pra sobreviver.
- Bem, não posso oferecer muita coisa... Quase não há o que fazer aqui.
- Eu aceito qualquer coisa – falei com a voz trêmula.
- Bem, na verdade, seria muito bom ter uma companhia aqui no mercado, mas eu não posso pagar um salário alto...
- Nâo tem problema, senhora. Não tem problema. Eu aceito o que a senhora puder pagar...
Ela me fitou com compaixão e suspirou. Eu estava esperançoso, porém aflito.
- Está bem. Está bem, não posso negar um pedido do Padre João!!!”.
E estava tudo igual. O antigo armazém de minha segunda mãe estava fechado e pelo visto abandonado. Deu dó só de pensar que foi ali que eu comecei a minha trajetória profissional e que não estava mais funcionando como outrora.
Tão jovem, tão sofrido e ao mesmo tempo tão cheio de sonhos. Eu ganhava R$ 80,00 por semana e foi com esse pouco dinheiro que eu comecei a viver naquela cidade tão grande, tão violenta. A Dona Elvira foi uma mãe para mim. Uma verdadeira mãe!
“- Pegue. Seu pagamento.
Eu fiquei constrangido e muito envergonhado.
- Pegue – ela sorriu. – É seu dinheiro!
- O-obrigado, Dona Elvira...
- Não tem que me agradecer, meu filho! Você tem que agradecer a Deus. Foi Ele que te colocou no meu caminho. Ande, pegue o dinheiro e vá comer alguma coisa. Você deve estar faminto, pobrezinho.”.
Quando saí da frente do meu antigo local de trabalho, resolvi ir até a escola onde estudei até o final do 3º colegial e foi impossível não pensar no Rogério. Fazia tempo que eu não falava com ele pessoalmente. Será que estava tudo bem?
A cidade estava barulhenta, mas eu estava mergulhado no meus pensamentos e nem ouvia o que acontecia ao meu redor. Eu estava ouvindo o barulho dos alunos na escola... O barulho do intervalo. O silêncio da sala de aula. Que angústia, que nostalgia!
“- E aí, Caio?
- Como vai, Rogério?
A sala de aula ainda estava silenciosa. Os alunos pareciam com sono, mas lá fora, no pátio e na entrada do colégio, eu ouvia o barulho das vozes animadas e excitadas. Os alunos pareciam felizes.”.
De lá eu parti para o Call Center. O local onde eu conheci meu namorado e onde eu conheci o Rodrigo, os dois homens mais importantes de minha vida.
Entrei no mesmo ônibus que peguei no passado e desci perto da empresa. Ela ainda estava lá, é claro. Tudo igual, como os outros lugares.
“Era um prédio. Contei 14 andares. Será que as minhas contas estavam certas?
Eu fiquei olhando de longe e fiquei me perguntando como seria trabalhar naquele lugar. Será que ia dar certo? Será que eu ia conseguir?
Era um edifício bonito. Eu gostei do lugar. Senti uma sensação esquisita na minha barriga. Como seria limpar aquelas vidraças pelo lado de fora?”.
Olhei pro prédio e senti uma sensação esquisita dentro de mim. Foi ali, naquele prédio, que eu conheci o meu Bruno. O meu homem, o meu amor, o meu príncipe, a minha alma gêmea.
“Eu terminei o que estava fazendo e quando me virei, me deparei com um garoto estupidamente lindo. Lindo, muito lindo. Meus olhos grudaram naqueles olhos azuis e o meu coração bateu mais forte. Meu estômago ficou gelado e as minhas mãos começaram suar frio. De repente, tudo a minha volta pareceu ficar imóvel. Eu já não ouvia mais o barulho dos atendentes, não ouvia mais a voz da minha supervisora, não ouvia sequer os meus pensamentos. Eu só tinha olhos pra ele. Como aquele garoto era lindo... “.
Foi ali, naquele prédio, que eu conheci o Rodrigo. O meu irmão. O meu amigo de todas as horas, meu companheiro, meu cúmplice, meu parceiro. A segunda pessoa mais importante da minha vida.
“Por incrível que pareça, não havia ninguém para pegar o elevador naquele dia. Isso me deixou espantado, normalmente não era assim.
Eu entrei, apertei o botão correspondente ao andar que eu queria descer e em segundos, as portas começaram a se fechar, mas de repente, alguém impediu que isso acontecesse e eu fiquei irritado.
- Desculpa – um moleque entrou e olhou na minha cara. – Eu não poderia perder a oportunidade!
- Tudo bem, não se preocupe.
- Eu conheço você! Você é da equipe da Márcia também, não é?
- Sim, sou sim. Você também é?
- Sou. Rodrigo. Muito prazer.
O carinha estendeu a mão direita.
- Caio, Rodrigo – apertei a mão dele. – E o prazer é todo meu!”.
Pensei nos meus supervisores. A Márcia, o Michel e o Breno. Breno... Quase xará do Bruno. Eu sofri por causa disso naquela época, porque estava brigado com meu namorado. Eu ri.
Suspirei. Aos poucos o meu vazio estava virando o universo de tão grande que estava. Já passava das 10 horas e eu ainda não tinha comido nada, mas não estava sentindo a menor fome. O meu vazio me preencheu e tomou conta do meu estômago, da mesma forma que tomou conta de todo o meu ser.
Do Call Center, eu fui pros bares onde eu, Bruno e nossos amigos íamos beber nos finais de semana. E foi impossível não lembrar que foi ali, em um daqueles barzinhos, que eu descobri que o Bruno era gay.
“- Chega, Bruno. Você já bebeu demais – disse Tamires. – Seus pais vão ficar loucos com você.
- Me deixa, Tami. Preciso esquecer o meu ex.
“O meu ex”? Eu arregalei os olhos e quase cuspi a Smirnoff que estava bebendo. O meu ex? Foi aquilo mesmo que eu escutei?”
Sentei em uma das mesas e resolvi beber alguma coisa. Era como se eu estivesse vendo o Bruno, o Rodrigo, a Priscila e a Tamires ali, sentados ao meu redor. Mas eles não estavam lá. Quem estava era a lembrança. Apenas ela. A lembrança que me acompanheria pro resto da vida.
E então eu fui até a estação de metrô e de lá eu ia para a primeira república que morei. A República do Catete.
Entrei na estação e pensei no Léo. Aquele maldito que quis roubar o Bruno de mim. Ainda bem que ele não conseguiu.
Fazia tanto tempo que eu não pensava no Léo! Será que ele estava vivo? Será que estava bem? Será que continuava sendo uma cobra?
Lembrei dele porque nós sempre pegávamos o trem juntos para voltar para as nossas casas, mas também pensei no Digow. Eu também peguei muito o metrô com ele.
“- Ei, Caio? Você vai embora de metrô hoje ou vai de busão?
- De metrô. É mais rápido!
- Então vem com a gente! A gente fica trocando ideia e a viagem passa mais rápido.
- Pode ser! Eu vou sim.”.
- Próxima Estação: Catete – informou o maquinista.
Bem que o maquinista podia ser o Bruno!!! Eu ia adorar que fosse assim, mas não era ele. Ele estava na faculdade naquele horário. Desci na Estação Catete e de lá eu parti para a minha primeira casa. Como foi bom refazer aquele percurso!
E foi melhor ainda ver a minha casinha. A casinha onde tudo começou. Ali, foi ali que eu conheci o Vinícius e o Fabrício. Dois grandes amigos que eu ia levar pro resto da vida!
Mas eles não foram os únicos que eu conheci. Conheci também o Willian e o Ricardo. Há anos eu não tinha notícias deles. Será que estavam bem?
Segurei no portão e notei que a casa estava silenciosa demais para estar habitada. Será que os novos integrantes da república estavam dormindo?
Como eu queria entrar para rever a casa, os móveis, as paredes... Eu fui muito feliz ali naquela casa!
Era para eu dormir no quarto do Vinícius, mas eles me remanejaram para o quarto do Rodrigo, uma vez que eu já o conhecia. Lembrei de como foi difícil me acostumar com aquela rapaziada, como foi difícil me sentir à vontade perto deles!
E lembrei das brincadeiras, das palhaçadas, da divisão das tarefas, das brigas e da pegação com o Vinícius.
“- Chupa a minha rola, vai!
Era grande. Muito grande. Maior do que eu poderia imaginar. Maior do que eu pudesse sonhar. E era uma delícia!!!
- Isso, filho da puta! Até o talo... Assim...”.
Ir até aquela casa e não lembrar disso era impossível, simplesmente impossível. Como ele era bom de cama!!!
Suspirei. Eu daria tudo para ainda estar morando naquela casa, ou para voltar no tempo para reviver tudo de novo. Eu fui feliz. Eu fui muito feliz e nem me dei conta disso. Ou não dei o devido valor a isso.
Olhei mais uma vez para a casa e saí. Saí porque queria voltar para Copacabana. Eu sempre fazia isso no passado. Eu saía de lá do Catete para ir pra Copacabana. E essa foi a primeira praia que vi ali no Rio de Janeiro.
Ao chegar lá, eu desci para a areia e fui para perto do mar. Não entrei na água porque estava sem roupa apropriada, mas vontade não me faltou. Eu queria e precisava muito de um banho de mar. Só Deus sabia quando eu ia voltar a ver o oceano novamente.
Sentei na areia e fiquei pensando diante do oceano. Pensei em tudo, pensei em muitas coisas, mas só no passado. Resolvi deixar o futuro para o dia seguinte. Naquele momento eu queria reviver tudo o que vivi naqueles 7 anos que morei no Rio. Eu precisava disso.
Pensei que foi ali, diante daquele mar, que eu confessei todos os meus problemas para mim mesmo. Quantas e quantas vezes eu fui até lá para pensar? Eu não tinha noção disso. Muitas vezes!
A praia continuava linda. Linda como sempre foi, linda como sempre será. Perfeição resumia aquele lugar!
Levantei e caminhei sentido Ipanema. Eu também amava aquela praia e queria vê-la de perto pela última vez. Sim, porque eu julgava ser a última vez, mas não foi. Graças a Deus.
Cheguei e sentei diante do mar novamente e assim me recordei que foi ali naquela praia que eu tive um encontro casual com o Bruno. Na época ele não era nada meu, além de um amor platônico e um colega de trabalho.
“- Caio? – ouvi uma voz rouca soar atrás de mim.
Quando me virei, o meu coração bateu irregular e o meu estômago gelou. Era ele. Era o Bruno.
- Bruno? Você por aqui? – me espantei com a coincidência.
- Digo o mesmo.
- Ah, precisava ver o mar...
- Eu também. Posso me sentar com você?”.
E então eu mentalizei o Bruno antigo. Tão lindinho! Tão novinho, tão imaturo, mas ao mesmo tempo tão encantador com aquele jeitinho espivitado... Foi por aquele Bruno que eu me apaixonei, mas era pelo Bruno novo que eu era verdadeiramente louco de paixão. Os Brunos eram muito diferentes, mas eram a mesma pessoa.
Ele amadureceu muito de 2.005 até 2.012. Era completamente diferente. Já não fazia as coisas para chamar a atenção, já não era mais afeminado, já não era mais espivitado, já não fumava, já não bebia como outrora e não era mais atirado do jeito que era.
Ele mudou pra valer. Sua personalidade não era igual a antes. Isso me deixou feliz. Bruno era muito melhor do jeito que estava. Que bom que ele mudou. Essa mudança era incontestável.
Levantei e resolvi seguir até a rua do Vítor, o melhor amigo do meu namorado. Eu queria rever um lugar e esse lugar era a casa da avó do Bruno, onde aconteceu o nosso primeiro beijo e a nossa primeira vez.
Será que a velhota estava em casa? Se estivesse, provavelmente ela não lembraria de mim, mas eu não me importava. Eu queria apenas reviver aqueles momentos... E revivi.
Meu primeiro beijo com um homem e minha primeira vez aconteceram ali naquela casa. Eu lembrei direitinho do dia. O Bruno me prendeu contra a porta e me beijou pra valer. Depois as coisas foram acontecendo naturalmente. E como foi bom!!!
“Ele me empurrou com força até a porta e prensou o seu corpo no meu, fazendo com que as minhas pernas ficassem ainda mais bambas.
Dei uma mordida em seu lábio e ele retribuiu. Estava sendo muito melhor do que eu podia imaginar e esperar. Não sei por quanto tempo durou, mas quando nosso primeiro beijo acabou, ambos estávamos completamente sem ar.”
Que nostalgia eu estava vivendo, meu Deus! Mas aquilo estava me fazendo tão bem!!! Relembrar todos aqueles momentos foi bom porque me fez perceber o quanto eu vivi momentos importantes e felizes naquela cidade.
Na verdade, os momentos mais importantes e relevantes da minha vida foram ali no Rio de Janeiro. De São Paulo eu não podia falar nada, porque até os meus, 16 anos nada de bom aconteceu em minha vida...
Ficar naquela rua e não lembrar do Murilo foi simplesmente impossível. A casa dele era praticamente em frente a da avó do Bruno, que não era avó de verdade; era a mãe da cunhada dele.
Fui até lá, mas olhei de longe. Algumas crianças estavam brincando na rua e eu lembrei do primeiro dia que nós nos vimos, quando ele estava jogando futebol com os amigos. Um menino, um pivete, uma criança! Eu ri.
De Ipanema eu fui pro Realengo. Queria rever a minha segunda república, a República do Realengo. Cheguei lá por volta do horário do almoço.
Eu vivi momentos felizes na primeira casa, mas também vivi momentos felizes naquela segunda casa. Chegar lá e não lembrar do dia em que vi várias baratas foi impossível. Eu ri de novo.
Mas de repente eu fiquei com uma sensação estranha e até hoje não sei que sensação é essa. Sentei no batente e fiquei pensando em vários momentos que vivi naquela casa, mas é claro que pensei nos mais marcantes, que foram o dia em que eu fiquei sabendo que tinha sido aprovado no ProUni, as vezes em que eu “brinquei” com o Rodrigo e o dia em que eu transei com o Bruno. Esses foram os momentos mais marcantes de todos.
É claro que tiveram muito mais, como por exemplo o dia em que eu contei ao Fabrício que era gay, o dia em que eu passei o natal sozinho e as noites de sono perdidas por causa da faculdade. Eu fui muito feliz ali naquele lugar.
Pensei no Jonas. Ele sabia que eu ia embora e eu pensei nele por causa das caronas que ele me ofereceu. Eu adorava essas caronas, porque evitava o transtorno de voltar pra casa de busão.
E foi por causa do pensamento no Jonas que eu resolvi ir até a loja do Barra Shopping. Refazer aquele trajeto matutino que eu fazia diariamente me trouxe vários momentos marcantes, como o dia em que a Janaína jogou a sombrinha da mulher na rua.
Só a Janaína pra fazer uma coisa daquelas!!!. Eu me recordei de algumas brigas que presenciei nos ônibus, dos dias de trânsito, dos dias de chuva, do caos, do estresse dos passageiros, do sono... Até disso eu ia sentir falta!
Desci e entrei no shopping e fui primeiro para a loja onde trabalhei com o Fabrício. Será que meus colegas de trabalho ainda estavam lá?
O Lucas era o mais chatinho, o mais recalcado e o mais odiado. Mas ele não deveria estar mais lá. A Saionara era uma das mais legais e divertidas. Eu não falei nunca mais com a japinha. Uma pena!
Foi ali naquela loja que eu conheci as meninas. Alexia e Janaína, uma das minhas poucas amigas. E foi através daquela loja que eu consegui chegar na empresa onde trabalhava naquela época.
Foi graças a Janaína que eu fiz essa migração. E da loja antiga eu fui pra loja onde passei a mior parte da minha carreira. Não entrei, porque ainda tinha colegas trabalhando ali, mas fiquei com vontade de fazê-lo. Infelizmente nada me motivava a fazer isso, porque ninguém estava mais ali. Nem a Jana, nem o Jonas, nem o Gabo e nem a Alexia, que estava de férias. Os outros eram apenas os outros e não faziam diferença na minha vida.
Naquela loja eu vivi momentos incríveis ao lado da Janaína. Foi lá que ela mostou-se ser quem era: aquela mulher hilária, divertida e de bem com a vida, mas ao mesmo tempo brava ao extremo e amiga para todas as horas. Minha melhor amiga. Minha irmã. Ela me faria muita, muita falta.
Suspirei e só então senti vontade de chorar, mas as lágrimas não saíram. Acho que algo bloqueava a minha emoção.
Olhei de longe para o setor de linha branca e automaticamente os momentos mais felizes vieram à tona, como por exemplo o dia em que um cliente comprou vários produtos ao mesmo tempo. Isso foi motivo de inveja em toda a loja.
Ficar ali e não pensar no Gabriel foi outra coisa impossível. Foi com ele que eu dividi o quarto de hotel quando nós fomos fazer o treinamento em São Paulo. Ele foi um bom amigo e eu lamentei a gente não manter mais contato. O bombadão e gostosão era bem firmeza.
Fiquei olhando o movimento da loja e percebi que tudo continuava igual. A mesma correria, os mesmos clientes, a mesma movimentação, a mesma santa rotina de todos os dias... Como eu gostei de trabalhar ali.
Lembrei do Carlos Henrique, meu segundo namorado. Aquele maldito que me traiu no shopping com uma vadia. Graças a Deus que ele sumiu da minha vida! Ele não me fazia falta.
Saí de lá revivendo várias gargalhadas com as meninas. Lembrei das vezes em que nós tirávamos sarro dos clientes e lembrei também das brigas que tive com a Janaína. Quantas e quantas vezes ela ameaçou esfregar a minha cara no asfalto?!
“- Rouba de novo o meu chocolate! Rouba!
- Para de me bater, Janaína!!!
- ROUBA DE NOVO UM CHOCOLATE MEU QUE EU ESFREGO SUA CARA NO ASFALTO E AINDA TE DOU MEIA HORA DE TAPAS, BRANQUELO COM SARNA!!!”.
E então eu vi a saída de emergência e os momentos em que fiz pegação com o Carlos, com o Murilo e com o próprio Bruno vieram à tona. Eu só podia ser louco de ficar com eles ali naquela escada! Ainda bem que nada aconteceu com a gente. Nós nunca fomos pegos.
Tantas coisas eu vivi naquele shopping! Quanto tempo será que eu passei naquele lugar? Vários dias, se fosse pra fazer as contas!
Saí e parti para a faculdade. Ah! Foi graças ao Digow que eu cheguei naquele lugar! Se não tivesse sido ele a me inscrever no Enem eu nunca teria dado esse passo. Se eu estava onde estava, eu devia ao Rodrigo.
Quis entrar, mas não pude porque não era mais aluno. O campus estava movimentado e eu ouvi nitidamente as várias explicações que os professores deram na sala daquela universidade.
Lembrei também dos dias em que cheguei debaixo de chuva, morrendo de sono, das dores de cabeça, das dúvidas, do medo, da incerteza, do pânico que senti com as primeiras provas... 2 anos eu passei naquele lugar e depois mais 1 ano de pós-graduação. Foi um tempo razoável.
Entrei lá em 2.008, saí em 2.009 e voltei em 2.011. 3 anos de aprendizado e foi graças a isso que eu estava indo para São Paulo. Foi graças a esses 3 anos de esforço que eu virei líder na loja e foi graças a esses 3 anos de esforço que eu ia trabalhar numa empresa boa e ia ganhar muito bem. Obrigado, Rodrigo! Eu deveria agradecer ao meu irmão todos os dias por ele ter me inscrito no Enem!
E da faculdade eu fui pra academia. Foi bom ter ido até lá, porque eu ainda não tinha trancado a minha matrícula. Aproveitei que estava lá para fazê-lo e quem me atendeu foi o namorado da minha melhor amiga, o meu ex-personal Wellington.
- Resolveu dar as caras por aqui, cara de boi?
- Oi, Well! Eu vim trancar a matrícula.
- Ué? Por quê?
- Janaína não contou? Eu vou embora pra São Paulo.
- Não! Ela não falou nada não. Por que vai embora?
- Uma proposta de emprego irrecusável.
- Ah, entendi! Pô, que chato, Caio.
- É! Me ajuda a trancar a matrícula?
- Claro! Que chato...
Tranquei a matrícula e ante de ir embora, pedi para o meu ex-personal liberar a minha entrada para eu rever tudo o que passei naquele estabelecimento comercial.
Eu dei risada das vezes em que saí de lá acabado, literalmente falando. Dos dias em que senti dor, do sofrimento nos primeiros dias de treino e é claro, da época e que a Jana e eu malhamos juntos.
Ver a Janaína sofrendo foi ótimo, porque a cara que ela fazia era impagável. Nada seria capaz de me fazer esquecer daqueles momentos. Nada!
Fui ao vestiário e vi novamente alguns homens sem roupa. Quantas vezes eu me tentei com isso? E a vez em que fui pro chuveiro com um carinha que me olhava? Só eu mesmo!!!
Saí cabisbaixo, porque eu ia sentir falta dos treinos naquela academia. Eu ia sentir falta das broncas do Felipe, dos conselhos do Wellington e até das dores que sentia. Treinar em São Paulo não seria a mesma coisa, mas eu ia ter que me acostumar.
- Estou indo nessa – comuniquei. – Obrigado por tudo, viu Well?
- Imagina, Caio! Te desejo toda a sorte do mundo lá em São Paulo!
- Obrigado. Fica com Deus.
- Amém! Você também!
- E pede pra Jana ir me ver amanhã. Eu não quero sair sem falar com ela.
- Ah, eu peço sim. Pode deixar que eu peço!
Apertei a mão do gostosão do meu cunhado e depois saí da academia, decidido a ir até a praia. Já estava anoitecendo e eu queria ver o mar, pra confessar os meus problemas e ver se ele me ajudava em alguma coisa.
Fui até a Praia da Barra, que era a mais próxima e lá mais uma vez sentei diante do mar.
Fiquei ouvindo o barulho das ondas, mas esse barulho não me acalmou. Eu ainda estava me sentindo extremamente vazio, desolado e sem chão. Em poucas horas eu teria que ir embora, eu teria que abandonar tudo e todos para começar uma nova vida.
Uma nova vida cheia de incertezas, cheia de dúvidas, de interrogações, mas que definitivamente seria diferente da que eu vivia no Rio.
Quanto tempo será que eu ia ficar em São Paulo? Será que eu ia morar lá pro resto da minha vida? No que dependesse de mim, não.
Eu não fui parar no Rio de Janeiro por qualquer motivo. Se eu fui parar lá é porque Deus assim quis e eu não ia ficar mais longe daquela cidade.
Eu ia sim morar em Sampa, mas eu não ia largar o Rio. Eu não podia fazer isso. Não podia.
Não podia largar o céu, o mar, o ar, as praias, o sotaque, os amigos, a família postiça e muito menos o meu amor.
Ah, o Bruno!!! Como eu estava preocupado com ele. Eu ia sentir muito a falta do meu gatinho. Ficar longe dele por vários dias não seria nada legal!
E só por causa disso eu cheguei sim a pensar em reconsiderar a minha ida pra São Paulo, mas eu não fiz isso.
Eu era um homem de palavra e eu ia voltar para Sampa sim. Naquele momento eu sentia que eu tinha que voltar. Naquele momento eu sentia que meu luger não era mais ali, não era mais no Rio.
Eu amava muito aquela cidade, era verdade, mas dentro do meu peito eu sabia que deveria voltar para minha cidade antiga. Eu sabia que tinha que ficar em São Paulo por algum tempo, mas eu não sabia porquê.
Será que era para reatar a amizade com minha família? Será que era para resolver os meus problemas? Será que era para restaurar alguma mágoa do passado? Para passar uma borracha em tudo e viver novamente lá?
Eu não sabia. Eu só sabia que eu tinha que ir, que eu precisava ir. E eu ia e ponto final.
O Bruno ia me entender, ele já me entendia. E a distância não seria problema para nós dois. Eu sabia e tinha certeza que seria assim.
Mas e se não fosse? E se a distância fosse um problema? Fosse um impecílho? Fosse algo que atrapalhasse a nossa relação?
Não. Não seria assim. Deus não ia permitir. Eu ia me separar fisicamente dele, mas a nossa alma continuaria ligada eternamente. A distância não seria problema.
Pensei muito no Bruno, muito mesmo. Eu já estava sentindo a falta dele e de certa forma sabia que ele também estava sentindo a minha falta.
A nossa conexão era incrível e eu sentia o que ele sentia de vez em quando. Naquele momento eu senti a presença do meu homem perto de mim, mas eu sabia que aquilo não poderia ser verdade, porque ele estava no trabalho.
Só era a sensação mesmo. Talvez nossos sorpos estivessem separados, mas nossas almas estivessem próximas de certa forma. Será que era isso?
Não. Não era isso. De alguma forma nós tivemos a mesma ideia e sem mais nem menos eu senti alguém tocando as minhas costas e quando eu virei para ver quem era, percebi que era o Bruno.
- Bruno? O que você está fazendo aqui?
- Eu vim ficar com você. Posso?
Fiquei pasmo, além de surpreso. Como ele sabia que eu estava ali? E por que ele não estava trabalhando?
- Mas... Por que você não está no trabalho? E como você sabia que eu estava aqui?
- Eu saí mais cedo. Tinha umas horas e resolvi vir embora porque não estava conseguindo me concentrar no trabalho.
- Bruno...
- E eu só sei que você estava aqui. Só isso.
- Como você sabia disso, amor? Como?
- Não sei, Caio. Eu apenas sabia. Eu senti que você estava aqui e vim conferir. Deu certo. Não me respondeu: posso ou não ficar com você?
- Lógico que pode, coisa mais linda!
Meu namorado sentou ao meu lado e nós ficamos de mãos dadas e com os dedos entrelaçados. Eu ainda estava chocado por ele ter ido me encontrar sem saber onde eu estava. Aquilo foi surreal.
- Eu sinto o quanto você está triste, Caio.
- Eu também sinto o quanto você está triste, Bruno.
Eu tinha a impressão que conseguia tocar a minha tristeza e a tristeza do meu namotado.
- Mas não vamos pensar nisso. A gente tem que curtir sua última noite aqui na cidade. Não acha?
- Claro que sim!
Nos beijamos ali mesmo, mas foi apenas um beijo terno de namorados. Não rolou tesão naquele momento.
- Me abraça? – ele começou a chorar e eu chorei simultaneamente.
Nos abraçamos e ficamos lá, agarrados e um curtindo a presença do outro ao máximo. Como seria duro ficar longe daquele homem, Deus!!!
Eu estava arrasado com o choro do meu namorado e o pior de tudo era saber que eu não poderia fazer nada para mudar aquela situação. Ou melhor, até podia, mas não queria. Acho que isso era o pior de tudo.
Não é que eu não quisesse fazer alguma coisa para mudar aquilo, eu até queria, mas ao mesmo tempo eu sabia que tinha que ir. O meu coração estava pensando de comum acordo com a minha razão naquele momento e só por causa disso eu pensava que não queria ficar. Era difícil entender e muito mais difícil explicar.
Meu namorado e eu ficamos na praia até umas 21 horas e só depois desse horário resolvemos voltar pro nosso apartamento. Chegando lá, eu comi alguma coisa, ele também e depois nós fomos direto pra cama, pra curtir a nossa última noite de amor.
Naquela noite nós fizemos tudo, menos sexo. Fizemos amor. Porque foi tudo com um carinho tão grande, com uma calma tão grande, com uma sintonia tão grande... Que perfeito é pouco. Eu não me preocupei com a quantidade de prazer, me preocupei com a qualidade. E foi simplesmente sublime. Eu perdi as contas de quantas vezes ele falou “eu te amo”, de quantas vezes eu falei “eu te amo” e de quantas vezes nós choramos durante o ato sexual. Essa noite ficou marcada pra sempre, porque foi uma das melhores de nossas vidas.
Depois do gozo, deitamos um ao lado do outro, nos abraçamos e ficamos quietos pro resto da noite. Não choramos mais, mas também não falamos mais nada. Só ficamos abraçados e calados, um curtindo o outro ao máximo.
Era pra dormir, mas não consegui e ele também não conseguiu e isso nos deixou preocupados. Um ficou preocupado com o outro.
- Você tem aula, você tem que descansar!
- E você vai dirigir por horas amanhã. Você também precisa descansar.
- Eu não estou com sono.
- Eu também não!!!
Beijei a boca daquele príncipe e aos poucos tudo foi ficando nos eixos, até que o dia amanheceu.
- Não vou pra faculdade.
- Como assim? Você tem que ir!
- Não eu não vou. Não tenho nada de importante hoje. É só aula complementar para a prova e eu estou bem nessa matéria.
- Tem certeza? Você não está fazendo isso só pra ficar mais tempo comigo não, né?
- Não posso negar que uma coisa leva a outra, mas eu não estou mentindo. É a verdade.
- Então tá bom. Se você está dizendo eu acredito.
- Tenta dormir um pouco, tá?
- Só se você tentar também.
Nos beijamos de novo e depois apagamos juntos. Pelo menos a gente pôde descansar um pouco nesse momento.
Quando eu acordei ele estava me olhando e com uma lágrima presa no olho direito. Eu encarei meu namorado e a gente se abraçou ao mesmo tempo, numa perfeita sincronia.
O clima de despedida era nítido. Eu olhava para as coisas e sentia que era a última vez que eu olharia para aquelas paredes, para aqueles móveis... Ainda bem que não foi assim.
- Você está bem? – perguntei.
- Mais ou menos. Eu não queria viver esse dia nunca!
- Oh, meu amor... – intensifiquei o abraço. – Eu também não queria viver esse momento nunca, mas ele é necessário!
- Eu sei que é e eu te apoio incondicionalmente, mas não me peça para ficar feliz porque isso é impossível.
- Eu sei! Eu sei que é, amor, mas olha: eu te prometo que a gente vai se ver sempre que for possível, tá bom?
- Uhum... Eu sei disso, amor.
Ficamos calados e eu suspirei. Como era difícil aquele momento!
- Você me ajuda a arrumar as minhas coisas? – perguntei.
- Já tem que arrumar?
- Já sim. Eu preciso ir mais tarde, senão chego lá muito tarde e é ruim pra mim.
Eu ia dirigindo, porque tinha muita coisa pra levar e eu precisaria do meu carro lá em São Paulo. Por isso não tinha outro jeito.
- É claro que eu te ajudo!
Nós nos levantamos, mas antes de qualquer coisa, fomos escovar os dentes e tomar café da manhã. E não é que eu me surpreendi com a Zefinha lá no nosso apartamento?
- Você por aqui?
- Pois é, menino! O Bruno pediu para eu dar uma passadinha pra fazer alguma coisa gostosa pra você comer na viagem.
Olhei pra ele e bastou o olhar para eu agradecer. Ele não precisava ter feito aquilo.
- Obrigado, Zefinha! Muito obrigado!
- Tem que agradecer não, Caio. Você merece. Venham, eu fiz tapioca!
Eu amava as tapiocas da diarista. Ela sempre caprichava nos recheios. Era bom demais. Eu comi duas: uma simples e outra recheada com presunto e queijo. Bruno comeu também.
- Uma delícia.
- Comam mais, comam mais.
- Não, obrigado! A fome já passou.
Era verdade. O pouco que eu comi foi suficiente para preencher o meu estômago. Eu ainda estava me sentindo vazio e desolado.
Comecei a arrumar as minhas coisas aos poucos. Eu fui separando as roupas e o Bruno foi colcando nas malas. Eu ia levar quase tudo. Quase.
- Eu posso te pedir um favor? – a voz dele invadiu meu ouvido. O bichinho estava rouco.
- Lógico.
- Não leva tudo não... Deixa um pouco aqui... Senão eu vou me sentir pior...
- Oh, anjinho – parei e fui abraçá-lo. – Eu não vou levar tudo, não se preocupa. Eu também me sentiria muito mal se fizesse isso.
Nos beijamos e foi um beijo bem longo e muito apaixonado. Demorou tanto que eu perdi até a noção do que estava fazendo e do tempo.
- O que eu estava fazendo mesmo? Ah, arrumando as coisas.
Continuei separando as minhas roupas e meus objetos e vi a caixinha com os bilhetinhos do Bruno. É claro que eu ia levar.
Abri a tampa e peguei um dos papeizinhos. Esse ele tinha escrito com caneta preta e estava com a letra bem tortinha, do jeito que eu adorava:
“Bom dia, amor da minha vida.
Você lembra que dia é hoje? Hoje a gente está completando 1 ano e 8 meses de namoro. Vamos comemorar? Te amo.
Para sempre seu. Bruh.”
Quase chorei. Ler aqueles bilhetinhos seria uma espécie de alicerce para eu me segurar em São Paulo.
- Vai ser horrível acordar e não ver esses bilhetinhos no espelho do banheiro.
- Vai ser horrível não escrever esses bilhetinhos e deixar no espelho do banheiro.
Silêncio. Eu fiquei lendo e depois voltei a separar as minhas coisas. Já tinha colocado quase todas as minhas roupas e me senti satisfeito com as que já estavam na mala. O resto eu deixei no nosso guarda-roupa, para ele lembrar que eu iria voltar.
- Tira essa camiseta, Caio!
- OI?
- Tira a camiseta e dá pra mim!
- Pra quê?
- Quero ficar com ela pra eu dormir sentindo o seu cheirinho!
Putz! Pra que ele foi falar isso? Eu quase me desesperei, mas atendi ao pedido. Atendi ao pedido e pedi que ele fizesse o mesmo. Seria bom ter o cheirinho dele por perto para eu dormir mais tranquilo.
- Anjo?
- Hum?
- Posso levar alguns álbuns de fotos?
- Pode sim, mas eu também quero alguns pra ficar vendo seu rostinho todas as noites.
Meu coração partiu ao meio. Eu peguei os álbuns e fui olhando um por um. Ele olhou comigo e a gente ficou relembrando cada momento que passamos juntos.
- Olha essa foto aqui na Pedra da Gávea. Lembra?
- Claro que lembro – ele olhou a foto. – Foi inesquecível.
- Como todos os momentos em que eu passei ao seu lado!
Dei um beijo no rostinho dele. Meu príncipe de olhos azuis estava chateado, coitadinho.
- Vai ficar tudo bem!
- Eu sei que vai.
Achei o DVD do nosso salto de paraquedas e fiquei morrendo de vontade de levar, mas eu sabia que era o xodó dele. então resolvi deixar. Mas as fotos eu levei.
- A minha toalhinha do Mateus! – exclamei. – Posso levar?
- Claro... Que não!
- Por que não? – fiquei frustrado.
- Porque não quero que você fique pensando em outro macho lá em São Paulo. Tem que pensar só em mim!
- Mas o Mateus é o meu amor platônico, você sabe disso... Eu preciso dessa toalhinha!
- Amor platônico, é? Então vai lá ficar com ele, vai?
- Não – eu ri e abracei aquele ciumentinho lindo que eu tanto amava. – Não te troco por nada nesse mundo!
Mas que eu amava – E AMO – o Mateus era fato. Eita homem delicioso, Jesus Cristo!!!
O interfone tocou e eu fiquei curioso para saber quem era. A nossa diarista atendeu e depois foi comunicar que era o Fabrício. É claro que nós deixamos o meu amigo entrar.
- Que surpresa boa! – exclamei.
- Nico!!! – meu namorado me largou e foi pegar o nosso sobrinho no colo.
- “Buno”!
- Não poderia deixar de ficar um pouco com você, Caio. Como está se sentindo?
- Sinceramente? Vazio.
- Posso imaginar. Deve ser um momento muito esquisito pra você.
- Realmente. Oi, Nico! Cadê meu beijo?
- Tio Caio!
O menino agarrou as minhas pernas e depois pediu colo. Eu peguei o moleque no colo e ele deitou a cabeça no meu ombro. Eu é que beijei aquele gostoso.
- Por que está rindo? A barba fez cosquinha?
- É!
Eu fiquei fazendo cócegas no filho do Fabrício e nós quatro ficamos dando risada. Como ele era gostoso!
- Vai com o papai, o tio tem que arrumar as coisas.
- Falta muito? – perguntou o Engeneiro Químico.
- Não, falta pouco agora.
- Caraca! Vai levar tudo isso? Vai mudar mesmo, hein?
- Vou levar as minhas coisas, né? Aquilo que preciso. Faltam só meus perfumes.
- Chocolate... Chocolate... – Nícolas ficou apontando para minha cesta.
- Que coisa feia é essa, Nícolas?
- Deixa ele, Fabrício. Pode pegar pra vocês, eu não vou comer tudo sozinho!
O neném se deliciou com os chocolates e o Bruno ficou todo babão.
Pouco mais de meia hora depois da chegada do Fabrício e do Nícolas, quem apareceu foi o Vinícius. Ele foi sem a Bruna, porque ela estava na faculdade.
- Como estão vocês?
- “Vinixu”...
- Oi, Nico! Vem com o padrinho... Opa! Que pesado!
- Bem, Vini – respondi. – Na medida do possível.
- E você, Bruno?
- Caminhando.
- Calma, rapaz! Vai ficar tudo bem, você vai ver.
O Vini deu uns conselhos pro Bruno e isso foi ótimo, porque o meu namorado precisava desabafar com alguém que não fosse eu. Isso aconteceu quando eu estava na sala com o Fabrício e o Nico.
Pra variar, o menino estava com o inseparável boneco do Homem Aranha. Eu fiquei brincando com ele e isso me distraiu um pouco.
- MÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃE – a Gertrudes Filomena ficou miando quando a Zefinha começou a cortar a carne pro almoço.
- Que é? – a diarista olhou pra gata.
A Gertrudes miou de novo, segurou na pia e ficou em pé com as patas traseiras. Ela se lambeu várias vezes. A coitadinha queria carne. Ela sempre fazia isso.
- Que gata estranha! – Fabrício exclamou. – Ela é inteligente!
- Muito. Precisava vê-la no cio, chamando pelo Raul.
- Quem é Raul?
- Sei lá. Ela que deve saber quem é.
O interfone não parou naquele dia. O próximo a chegar foi o Rodrigo e ele estava pior que todos nós juntos.
- Nossa Senhora! Parece que morreu alguém, cruz credo – Fabrício bateu na madeira.
- Você está bem? – perguntei.
- Não... E você?
- Não muito.
Meu amigo estava indo pro Paraná. Ele ia naquele final de semana mesmo e ia dirigindo também. Eu sabia o que ele estava sentindo, porque era o mesmo sentimento que eu tinha. Um vazio inigualável.
Depois do Rodrigo quem chegou foi o Vítor. Ele foi sozinho, não levou o namorado e não levou nenhum de nossos amigos. Eu achei incrível todos estarem presentes só por causa da minha partida.
- Cadê o Bruno?
- Lá dentro conversando com o Vinícius. Vai lá. Acho que ele está precisando de você.
O menino foi pro nosso quarto e ficou lá com o meu namorado e com o Dr. Vinícius. Será que o Bruno estava bem?
- Olha quem veio te ver, Rodrigo! Seu sobrinho!
- Sai pra lá saco de pulgas ambulante!
- MEU FILHO NÃO TEM PULGAS! – fiquei enfurecido e peguei o pobrezinho no colo. Ele queria só um cafuné.
- Eu “quelo” um miau, papai!
- Quer? Papai vai pegar um pra você!
- Espera a Gertrudes virar mamãe, aí você pega um dela!
- E quando isso vai acontecer?
- Sei não! Pra isso a gente precisa de um namorado pra ela, mas tem que ser de raça.
- Frescura do caralho! – Rodrigo bufou.
- Por que você odeia tanto os bichinhos? Eles são lindos!
- Eles não servem pra nada! Só ficam aí com essa cara de poucos amigos. Prefiro cachorro que é fiel, que brinca com a gente.
- Que late, que fede...
- Gato mia e também fede.
- Os meus não! Eles são cheirosinhos. Né, Enzo?
- Caio, você teve notícias de sua mãe? – perguntou Fabrício.
- Não. Nunca mais ninguém me ligou.
- Será que os meninos já nasceram?
- Não sei, Digow. Não é pra nascer agora. O certo é nascer só em janeiro.
Eu não sabia se meus irmãozinhos tinham nascido ou não, mas depois dessa pergunta do Rodrigo a dúvida ficou na minha cabeça. Será que eles já tinham vindo ao mundo?
- E esse almoço aí vai demorar? – perguntou Fabrício. – Estou com fome!
- Já está quase pronto – respondeu Zefinha.
A Janaína chegou quando nós estávamos comendo. Como o apartamento era minúsculo e não havia espaço para todos na mesa, cada um comeu em um canto, mas todos se serviram, o que me deixou bem contente.
- Minha nossa! Como você está diferente com esse corte de cabelo!!!
- Curtiu, gato? Arrasei, né?
- Se achando a rainha da cocada preta, né?
- Desculpa, mas isso é só pra quem pode! Estou preta! Como o Nícolas cresceu!
- Você viu? – Fabrício beijou e cheirou o filho.
- Oi, Nícolas! Lembra de mim?
- Não! Quem é a “senhola”?
Eu juro que a Janaína ficou paralisada com esse “senhola”. Ela ia pegar o menino no colo e quando ouviu essa palavra ficou literalmente uma estátua, abaixada e com a coluna curvada.
- Era melhor não ter dito isso, Nícolas! – eu ri.
- Senhora? Senhora não... Me sinto uma velha... Ai, Deus... Preciso de um espelho... Será que eu tenho alguma ruga? Ai Jesus...
A doida saiu toda atrapalhada pro banheiro e ficou lá por um tempão, conferindo o rosto. Eu e os meninos rimos muito disso.
Todos os meus amigos estavam ali e isso me deixou muito feliz. Eu me senti pleno e absoluto com a presença de todos, porque eles estavam ali por minha causa. Como não ficar feliz com uma coisa dessas?
Mas ao mesmo tempo que eu estava feliz, eu estava também triste. Por mais que eles estivessem ali por minha causa, eles estavam ali também por causa da minha volta pra São Paulo. E eu não sabia dizer quando iria voltar a vê-los. Poderia ser rápido, mas também poderia ser bem demorado.
- Caio, você vai levar algum dos bichanos? – perguntou Janaína.
- Nossa, Jana! Juro que eu não tinha pensado nisso até agora! Ah, claro que vou, mas qual?
Olhei pro Bruno e ele pra mim. Pelo olhar dele eu entendi o que ele queria falar.
- Deixa? – perguntei.
- Não mesmo! A Gertrudes é minha!
- Mas ela gosta de mim, Bruh...
- O seu é o Enzo. Não dou a minha filha por nada!
- Chato! – bufei.
Então o jeito era levar o meu Enzo mesmo. Não que eu não gostasse dele, eu o amava, mas acontece que a Gertrudes era mais divertida. Enfim, eu acabei levando o macho mesmo.
Lá pelas 15 horas eu fui tomar meu banho e todos ficaram lá me esperando. Demorei o máximo que pude debaixo do chuveiro. Eu precisava da água quente para relaxar, mas isso não aconteceu.
Chorei enquanto me banhava. Aquele seria meu último banho naquele apartamento e isso me deixou triste.
Eu estava exagerando. Não era meu último banho naquele apartamento! Eu ia voltar pra lá quantas vezes quisesse. Por que eu estava agindo de uma maneira tão infantil? Por que estava exagerando tanto?
Era verdade. Eu estava mesmo exagerando muito. Era a hora de encarar aquele acontecimento com mais maturidade. Era a hora de pensar no futuro, de encarar a nova oportunidade com a cabeça erguida. Aquele era só um momento de transição. Só isso.
Mas foi quando eu saí do banheiro que o desespero bateu. De repente eu me senti angustiado por deixar o Bruno sozinho, me senti um monstro por estar indo e ele estar ficando! Mas era necessário.
Já estava com saudade antes mesmo de ir embora. A saudade iria me acompanhar à partir daquele dia, mas eu sabia que aos poucos ela ia ficando fraquinha. O que eu precisava era me acostumar com a nova fase que estava entrando. Só isso.
Olhei pro apartamento e me senti pior. Eu ia sentir muito a falta daquele lugar. Principalmente da nossa cama.
Aquela cama que foi palco de tantas noites quentes e apaixonadas. Onde eu dormia, onde eu acordava, onde eu assistia televisão, onde eu beijava o Bruno, onde eu amava o Bruno, onde o Bruno me amava, onde eu estudava, onde eu pensava, onde eu rezava. Que vazio que eu estava sentindo!
Meu namorado estava cabisbaixo e isso feriu ainda mais meu coração. Meus amigos, que ainda estavam presentes ali no apartamento, estavam calados e o pior de todos era o Rodrigo.
Eu já estava pronto. Era a hora de ir. Era a hora de dar até logo ao apartamento, até logo aos meus amigos e até logo ao Rio de Janeiro. Eu precisava voltar para minha cidade, algo me pedia para fazer isso.
Eu tinha a impressão que era um chamado. Era como se eu tivesse que cumprir uma missão naquele município. Mas que missão era essa?
Mais uma vez me perguntei se era algo referente a minha família ou se era algo exclusivamente de cunho profissional. Eu não sabia, mas eu ia saber em breve. Bastava chegar em São Paulo.
- Bom... Eu tenho que ir!!!
Ninguém falou nada. Ninguém. Eu percebi que o Rodrigo estava chorando e que o Bruno estava se segurando para não fazer o mesmo. Eu também tive que me segurar.
- Então acho que esse é o momento em que a gente tem que se despedir, né? – Vinícius foi o primeiro a se pronunciar.
- É... Acho que sim...
- Você quer ajuda pra levar as suas coisas? – perguntou o pai do Nícolas.
- Hã... Por favor...
Ele e o Vinícius levaram as minhas coisas, mas o resto do pessoal não fez nada. e com isso, eu fiquei rodeado dos meus melhores amigos e do meu namorado.
Não deu mais pra segurar o choro, porque todos estavam chorando. Provavelmente eles estavam lembrando os vários momentos em que nós passamos juntos. Foi impossível não se emocionar.
- Eu... Preciso descer...
- A gente te acompanha – Janaína secou uma lágrima.
Antes de descer pra rua, eu fui me despedir da Zefinha. Ela foi uma boa amiga naqueles anos em que trabalhou no nosso apartamento e eu me sentiria muito mal se fosse embora sem falar com ela:
- Você vai fazer falta, menino Caio.
- Obrigado, Zefinha! Eu vou sentir muito a sua falta. Das suas comidas... Da sua cantoria...
- Eu também vou sentir sua falta, menino. Cuide-se viu?
- Pode deixar. Faço votos que sua mãezinha melhore logo.
- Ah, obrigada, visse? Muito obrigada.
- Olha, cuida bem do meu Bruno, tá bom? Continua fazendo essas comidas gostosas pra ele.
- Pode deixar, menino Caio. Eu vou fazer as comidas que ele mais gosta. Pode deixar. Vá com Deus!
- Obrigado, fique com Ele!
Só o Rodrigo e a Jana foram comigo. O Bruno ficou. Eu olhei pra ele, mas ele não me fitou. Ele apenas chorou e ficou lá olhando pro nada. Resolvi respeitar aquele momento dele.
O dia estava claro e a rua totalmente deserta. O clima era totalmente de despedida e isso só me fazia me sentir ainda pior.
- Falta alguma coisa, Caio? – perguntou Vinícius.
- Duas coisas. O Enzo...
- E a outra?
- O Bruno!
- E como é que você vai levar o Enzo?
- Na casinha de transporte. Pode colocar ele lá dentro.
- É o marrom, né?
- Isso.
Vinícius subiu e enquanto isso, eu fui me despedindo dos meus amigos. O primeiro foi o Fabrício.
- Não é pra chorar, hein?
- Difícil, viu?
- Papai? Por que o tio Caio tá “cholando”?
- Porque eu tenho que ir embora, Nico!
- Você vai “embola”?
- Vou!
- Você não gosta mais da gente, tio Caio?
Oh, que lindo! Eu segurei aquele anjinho e dei um monte de beijos nele. Ele me faria uma falta danada!!!
- É claro que eu gosto, mas eu preciso ir porque o tio vai trabalhar em outra cidade!
- Onde?
- Em São Paulo!
- São Paulo?
- Isso mesmo! Sabia que você é um menino muito inteligente?
- “Bigado”!
- Promete que não vai esquecer de mim? Hum?
- Eu “pometo”!
Soltei o menino e abracei o pai dele. Fabrício... Ah, Fabrício... O meu amigo que gostava de ficar pelado em casa... Como eu gostava dele!
- Vai com Deus, Caio! Não esquece da gente, hein?
- Nunca seria capaz de esquecer vocês. Nunca. É pra ir me visitar, hein?
- Sim, pode deixar.
- Muito obrigado por tudo, Fabrício! Obrigado mesmo.
- Não tem que agradecer. Dirige com cuidado, viu?
- Pode deixar.
- Quando chegar lá liga.
- Uhum. Cuida bem do Nícolas.
- Sempre! Obrigado por tudo o que você fez por ele. Por gostar do meu filho.
- Impossível não gostar de uma coisinha linda dessas!
Depois dele eu abracei a Janaína. Ah, Jana... A negra louca que trabalhou comigo naqueles últimos anos...
- Eu... Vou sentir... A sua falta! – falei.
- Eu também! Não esquece de mim, por favor...
- Até parece que eu vou esquecer de você, negra azeda!!!
- Branquelo sem cor!!!
Como a nossa amizade era bonita! Baseda na confiança, no respeito, na sinceridade. Eu lembrei que foi a Janaína que ficou ao meu lado quando a minha mãe me rejeitou no passado. Ela me apoiou, me deu o ombro pra chorar e me confortou!
Quantos e quantos momentos eu passei ao lado daquela criatura? Quantos dias nós vivemos um ao lado do outro, suportando as coisas da loja, suportando os clientes chatos, as broncas dos nossos líderes?
Quantas e quantas vezes nós rimos juntos, brincamos juntos, brigamos, nos desentendemos? Quantas e quantas vezes eu contei os meus problemas pra ela e ela os dela pra mim?
A Janaína era uma verdadeira irmã pra mim e eu estava torcendo, rezando, pedindo a Deus que a nossa amizade não mudasse por causa da minha partida para São Paulo. E eu tinha certeza que nada mudaria.
- Eu te amo, Jana!
- E eu não? Você é meu melhor amigo e sempre será! Boa sorte, viu anjinho? Que Deus vá ao seu lado.
- Amém! Você é a minha melhor amiga também, é a minha única irmã no meio de vários marmanjos!!! Não esquece de mim, por favor.
- Nunca vou esquecer desse branquelo sem cor que tanto adoro! Bobo!
- Chata!
- Olha... Vou esfregar sua cara no asfalto, hein?
- E eu vou dar meia hora de tapa na sua cara, sua vadia!
- Ai, adoro! Bate com vontade!
- Cachorra!!!
Nós rimos e ela me balançou, como sempre fazia. Eita mulher atrapalhada que eu tanto amava!!!
- Coloquei o Enzo no banco de trás, viu Caio?
- Obrigado, Vini.
Era a hora de dar tchau ao médico mais bonito que eu conhecia na vida. Eu dei um abraço nele e agradeci mais uma vez por todos os momentos em que nós passamos juntos.
- Não precisa agradecer não...
- Obrigado pelos conselhos, pelas broncas... Você é um irmão mais velho, essa é que é a verdade.
- Você sabe que você é meu irmão mais novo. Isso daqui não é um adeus, é um até logo. A gente ainda vai se encontrar muitas vezes nessa vida.
- Eu sei que vamos. Eu sei. Se cuida, médico delicioso!
Ele riu.
- Eu nunca vou esquecer o que a gente fez no passado, viu?!
- Ah, é? – ele riu.
- Uhum! Você esqueceu?
- Hã... Não!
Ainda bem. Ainda bem que ele não tinha esquecido.
- Te adoro, médico.
- Também! Boa sorte, viu?
- Obrigado.
- Manda notícias.
- Eu vou mandar sim.
Era a hora do Digow. Ele estava desolado. Eu dei um abraço de urso naquele chato que eu tanto amava.
- Te amo tanto! – falei.
- Eu também! Não vai esquecer de mim, vai?
- Diguinho, você acha mesmo que eu vou esquecer do meu irmão? Da pessoa que mais me ajudou aqui nesse lugar? Acha?
Me afastei dele e fiquei olhando aqueles olhos castanhos.
- Se eu cheguei aonde estou hoje foi por sua causa.
- Para...
- É verdade! Se não fosse por você eu não teria ido morar na república, não teria conhecido os meninos, não tinha ido trabalhar com o Fabrício, não teria conhecido a Janaína, não teria mudado de loja, não teria começado a estudar, não teria me formado, não teria sido promivido, não teria virado líder, não teria adquirido experiência e não teria recebido a oportunidade que recebi.
- Para, Cacs...
- É verdade! Se não fosse por você eu teria morrido de depressão ou teria morrido atropelado. Se não fosse por você eu não seria o que sou hoje, entende? Entende o que eu quero falar?
- Você quer me matar do coração?
- Não! Eu quero você vivinho pro resto da vida, para eu viver muitos momentos felizes ao seu lado! Não quero que a nossa amizade morra por causa dessa separação. Você sempre, sempre vai ser meu irmão mais velho. Sempre vai ser o meu Rodrigo, meu Diguinho, meu Digow. Entendeu?
- Você sempre vai ser meu Cacs. Eu te amo, mano!
- Também te amo!
Nos abraçamos de novo e choramos um pouco mais. Seria complicado viver longe dele. Longe dos conselhos dele.
- Vai com Deus!
- Vai com Ele também amanhã. É pra me ligar, hein?
- Prometo que eu vou te ligar todos os dias. E quando não der pra ligar, eu te mando mensagem. Promessa de escoteiro!
- Eu também vou te ligar, promessa de escoteiro!
- Ai de você se você não fizer isso. Boa sorte lá na sua nova fase, viu?
- Boa sorte na sua nova fase também. Seja muito feliz no Paraná ao lado de sua amada.
- Eu serei. Eu tenho certeza disso. Boa sorte e não some. Por favor, não some.
- Eu não vou sumir.
Só nesse momento eu percebi que meu namorado estava lá embaixo. Ele estava encostado na pilastra do portão, com os olhos fechados.
- Amor?
Bruno abriu os olhos azuis, me olhou e nossos corpos se uniram com a força da atração de dois ímãs. Aquele foi o abraço mais demorado de todos, o mais importante de todos, mais significativo de todos. E o mais doloroso de todos.
Nos beijamos e eu não me importei com ninguém. Meus amigos sabiam que ele era o homem da minha vida e eu sabia que eles não iam se importar com o nosso beijo.
Foi um beijo longo e salgado por causa das nossas lágrimas. Depois do beijo, eu dei vários selinhos nele e disse:
- Eu prometo por tudo o que há de mais sagrado nesse mundo que esse não é um adeus e sim um até breve!
- Eu sei disso...
- Nunca se esqueça o quanto eu te amei, o quanto eu te amo e o quanto eu te amarei, Bruno Duarte! Você é o homem da minha vida, o meu presente de Deus, o meu ar, minha vida... É por você que eu vivo e é por você que eu vou continuar vivendo!
- Caio...
Ele só chorou. Chorou muito. Eu abracei aquele homem e continuei fazendo as minhas promessas:
- Eu volto. Eu juro que eu volto pra você.
- Eu vou te ver, tá? Eu prometo que vou te ver.
- Eu vou estar te esperando de braços abertos. Vamos encarar isso apenas como um momento passageiro. A gente vai sobreviver.
- Sim, vai dar tudo certo! Boa sorte lá e que você faça uma carreira brilhante como fez aqui no Rio de Janeiro.
- Obrigado, amor. Muito obrigado.
Nos beijamos de novo. Eu não tinha falado com o Vítor e falei depois que soltei o Bruno:
- Cuida dele pra mim?
- Pode deixar.
- Vem dormir aqui uns dias. Ele vai precisar de companhia.
- Deixa comigo. Eu cuido dele sim.
- Obrigado, Vítor.
- Posso te dar um abraço?
- Claro que pode!
- Boa sorte, viu? Que você seja muito feliz na sua cidade natal.
- Obrigado! Por favor, cuida do meu amor. Eu estou preocupado com ele.
- Eu vou cuidar direitinho dele, pode deixar!
Depois que soltei o Vítor voltei pro Bruno. A gente se beijou de novo e depois eu entrei no carro.
Liguei o motor, mas não saí de imediato. Eu ainda queria falar com o Bruno:
- Eu volto.
- Eu vou estar te esperando.
- Não esquece que eu te amo.
- Eu também te amo e sempre vou te amar. Você é meu alicerce, Caio.
- E você meu porto seguro! Fica com Deus, anjo da minha vida. E se cuida, por favor.
- Você também. Vai com cuidado.
- Pode deixar. Eu te ligo.
- Estarei esperando.
Mais um beijo.
Eu olhei para os meus amigos. De um em um e depois fitei os olhos azuis do meu namorado. Foi um olhar longo, muito longo.
- Eu amo vocês! – falei.
Cada um falou uma coisa, mas todos se aproximaram do carro. Rodrigo já não chorava mais como antes.
- Não esqueçam de mim, hein? Eu não vou esquecer vocês.
- Vai com Deus, Caio! Deus te abençoe.
- Amém. Fiquem com Deus e se cuidem. E isso não é adeus, é até logo. Eu vou voltar!
Bruno estava chorando em silêncio e eu também. Nos olhamos de novo e ele me incentivou com um sorriso sincero nos lábios.
- Eu te amo!
- Também te amo, Bruno! Até daqui uns dias.
- Até daqui uns dias!
Eu suspirei, olhei pra frente e saí com o carro. Era a hora de partir. Era a hora de voltar pra São Paulo, de começar uma nova fase em minha vida.
- TCHAU, PESSOAL! EU AMO VOCÊS E NUNCA VOU ESQUECER NENHUM DE VOCÊS!
Eles acenaram e aos poucos a minha rua, meu prédio, meus amigos e meu namorado ficaram para trás.
Eu chorei muito, mas muito mesmo. Metade de mim estava indo para São Paulo e a outra metade estava ficando no Rio de Janeiro. Eu não sei se saberia viver longe daquele pessoal. Não sabia.
Para ser sincero, eu não sabia como faria para voltar para São Paulo, mas logo encontrei o caminho. Era a primeira vez que eu ia dirigir na estrada e não dá pra negar que isso me deixou um pouco amedrontado.
Mas eu já estava mais calmo, embora as lembranças ainda estivessem frescas na minha memória e só por causa disso eu sabia que tudo ia sair bem naquela viagem.
Pensei em tudo, em tudo mesmo. Dirigi pensando neles e no Bruno, é claro. Meus melhores amigos estavam ficando para trás. Por que tinha que ser assim?
Eu ainda não sabia, mas eu ia descobrir. Eu precisava ir para aquela empresa nova, não só pelo dinheiro, mas também pela oportunidade que me foi dada. Seria bom pro meu futuro profissional e isso era fato.
Depois de 3 horas de estrada eu tive que parar para abastecer e foi nesse momento que eu estiquei as minhas pernas. Já estava anoitecendo e eu ainda tinha muito o que dirigir. Será que São Paulo ainda estava longe?
Sim, estava. O tempo de viagem à carro era de mais ou menos 6 horas, ou seja, eu ainda estava na metade do caminho.
Confesso que nesse momento a saudade apertou e apertou muito, a ponto de eu querer voltar pro Rio, mas eu não me acovardei.
Algo dentro de mim não me deixava voltar, algo dentro de mim continuava com a cisma que eu tinha que ir para São Paulo e eu queria entender que vontade louca era aquela que eu estava sentindo. O que poderia ser isso,afinal de contas?
Eu tentei ligar pro Bruno, mas o celular estava sem sinal e por isso eu fui obrigado a voltar a dirigir. Coloquei o Enzo do meu lado pra ele me fazer companhia.
- Sabe, Enzo... – fiquei conversando com o gato e essa foi a forma que eu encontrei pra desabafar um pouco. Ele foi um bom ouvinte. – ACORDA, GATO MALDITO! EU ESTOU FALANDO COM VOCÊ!
Aos poucos eu fui me familiarizando com a paisagem. Eu estava em Guarulhos. Eu já tinha ido algumas vezes naquela cidade com meus pais quando jovem. Não esqueci aquela paisagem e isso me deixou feliz, porque era sinal que eu já estava perto.
E foi fato, porque rapidinho eu cheguei em Sampa City e logo de cara eu me deparei com o trânsito. Por que será?
- É, Caio Monteiro! Você chegou em São Paulo!
Eu estava me sentindo em casa. Eu conhecia aquela cidade como a palma da minha mão e fiquei feliz em pisar nela novamente.
Procurei um hotel. Já passava das 22 horas e eu não queria aparecer na casa do Víctor naquele horário. Por isso, cacei um hotal baratinho e foi lá que eu passei a noite.
- Você está com fome, né filho? Ainda bem que o Vini deixou ração pra você. Eu não pensei nisso.
Deitei e liguei pro meu namorado, mas ele não atendeu. Provavelmente já tinha dormido ou estava entretido nos estudos. Mandei uma mensagem falando que eu já tinha chegado e que ligaria no dia seguinte. Fiz isso com meus amigos também.
Pensei mais um pouco nessa mudança drástica e voltei a chorar. Eu daria tudo para ficar ao lado do Bruno... Tudo!
Abri a mala e peguei a camiseta dele para cheirar. Sentir o perfume do meu namorado iria me acalmar. Não deu outra. Naquela noite eu dormi abraçado com a camiseta do meu namorado.
Quando eu acordei na manhã seguinte, a primeira coisa que fiz foi ligar pro meu namorado e ele atendeu no primeiro toque:
- Amor?
- Oi, amor! – eu fiquei feliz da vida por ouvir aquela voz. – Você está bem?
- Um pouco triste e você?
- Também. Mas você dormiu bem?
- Dormi com a sua camiseta no nariz.
- Eu também! Te liguei e você não atendeu...
- Já estava dormindo. Me desculpa, tá?
- Não se preocupe! Está tudo bem, né?
- Mais ou menos. Isso daqui fica muito vazio sem você.
- Eu sei, amor. Eu estou me sentindo estranho também, mas logo vai passar. Te amo, viu?
- Eu também te amo, Caio! Fez boa viagem?
- Sim! Passei as 6 horas pensando em você, pensando nos meninos e na Jana.
- Eu também fiquei pensando em você. Fiquei preocupado.
- Deu tudo certo.
- Que bom! Já foi na loja?
- Não, vou daqui a pouco. Primeiro vou tomar banho e tomar café.
- Hum...
Não falamos muito porque eu estava meio que em cima da hora para me apresentar na nova filial, mas antes eu tive que ligar pro Víctor:
- Estou em um hotel.
- Por que não veio pra cá, menino?
- Porque estava tarde já.
- Então vem correndo! Não vai ficar gastando dinheiro em hotel não.
- Eu vou sim, mas só mais tarde. Agora eu tenho que ir pra loja já.
- Ah, tá! Então a gente está te esperando.
- Obrigado, Víctor! Nunca vou conseguir te agradecer o suficiente.
- Para de besteira! Eu estou te esperando.
- Beleza.
Desliguei, tomei banho e me arrumei. Estava na hora de ir pra nova filial e começar a nova fase com o pé direito, mas não foi bem assim que aconteceu.
- Bom dia. Eu preciso falar com o Cláudio.
- Sou eu. Quem é você?
- Caio. Eu vim do Rio pra assumir essa loja.
- Você é o Caio? – o cara me olhou da cabeça aos pés com ar de desdém.
- Sim. Algum problema?
- Não, nenhum. É que eu esperava um cara mais velho.
- Ah, entendi. Não se preocupe que eu tenho experiência no assunto.
- É a gente logo percebe.
O que ele quis dizer com aquilo?
Cláudio era o meu regional. Ele era um homem alto e meio gordinho. Pelo visto o cara não era nada simpático.
- Vem, eu vou te apresentar aos vendedores.
Eu estava me sentindo um verdadeiro peixinho fora d’água. Por mais experiência que eu tivesse no assunto, eu não me senti parte daquela loja, porque era tudo muito estranho pra mim.
E foi mais estranho ainda ouvir aquele tal de Cláudio anunciando que eu era o novo líder da loja. O pessoal me olhou com cara de superioridade e só por causa disso eu senti que seria muito difícil trabalhar naquela loja.
- Quer falar alguma coisa, Caio? – perguntou o regional.
- Apenas agradecer pela oportunidade e deixar claro que vocês podem contar comigo para o que precisarem.
- Então é isso, pessoal. Qualquer coisa venham falar com o Caio. Obrigado!!!
Quando o pessoal saiu, eu aproveitei que fiquei a sós com o Cláudio para saber as informações referente aos meus liderados. Ele não foi muito gentil comigo não.
- Essas informações você pode obter através dos sistemas. Eu não tenho tempo pra ficar passando perfil por pertil, até mesmo porque eu não conheço toda a sua equipe. Veja no sistema. E pode começar agora mesmo se você quiser.
Respirei fundo e tentei me acalmar. Pelo visto a minha estadia naquela loja não seria nada fácil.
A primeira coisa que fiz quando saí do trabalho naquele sábado foi entrar em contato com o Rodrigo. Eu queria saber se ele tinha feito uma boa viagem:
- Fiz sim e você?
- Também. Está tudo bem com você, né?
- Tirando a esquisitice de voltar depois de quase 10 ano...
- Ai que exagerado! Você também ficou fora por 7 anos!
- 7 mais 3 é iaugl a 10. Quase 10!
- Se você diz... Eu liguei apenas pra isso. Tenho que desligar, amigo. Ainda hoje eu tenho que ir pra casa do Víctor.
- Você vai morar lá?
- Só por alguns dias, até eu alugar uma casa.
- Entendi. E como foi na loja nova?
- Um inferno. Meu gerente é um nojo. Ele é do babado!
- Como assim? Não entendi?
- Ele é gay também, entendeu?
- É mesmo?
- Uhum.
- Como você sabe?
- Um gay conhece outro no meio de uma multidão, Rodrigo! Simples assim.
Eu tinha certeza que o Cláudio era do babado. Vai ver que foi por isso que ele não foi com a minha cara. Sim, porque ele não foi. Várias vezes no dia ele me chamou a atenção e por coisas muito bobas. Ele queria me irritar.
Eu conversei pouco com o Rodrigo. Eu ainda tinha que voltar pro hotel, fechar a minha conta, ir até a casa do Víctor, me instalar e ainda tinha que ligar pro Bruno. Isso era o mais importante de tudo.
Por causa disso, comecei a minha listinha de coisas a fazer pelo fim, já que meu namorado era prioridade. Ele sempre seria prioridade.
- Já estou morrendo de saudades de ouvir essa voz me chamando de príncipe!
- Príncipe, príncipe, príncipe!!!
- Oh, coisa linda! Diz que você vem me ver final de semana, diz?
- Ah, como eu queria poder fazer isso! Diz uma coisa pra mim, você estudou direitinho hoje?
- Estudei sim!
- Foi trabalhar?
- Uhum!
- Não teve problema mesmo você ter pego esse banco de horas em cima da hora?
- Não! Meu encarregado é gente fina.
- Olha que eu tenho ciúmes dele, hein?
- Ai, amor! Ele é um senhor já. Não me causa impacto nenhum! E nem se fosse o Cauã Reymond iria me causar impacto. Eu só tenho olhos pra você!
Que coisa mais linda. Ouvir isso no final de um dia turbulento como fora o meu foi maravilhoso. Eu estava morrendo de saudades dele, mas a gente ia ter que aguentar.
Quando cheguei no hotel eu fui direto pro banho. Como eu estava sozinho no quarto, não me preocupei em pegar roupa. Eu ia dormir pelado como sempre fazia. Eu adorava fazer isso.
- Enzo, seu safado! Você usou o troninho! Que bonitinho...
Dei descarga. Ainda bem que eu ensinei o Enzo e a Gertrudes a usarem o vaso sanitário como se fossem humanos. Isso me poupava de gastar dinheiro com areia e de ficar pegando as fezes deles.
Tomei banho, me troquei, escovei os dentes, peguei as coisas, coloquei no carro, peguei o gato, tranquei a conta do hotel e parti pra casa do Víctor. Cheguei lá quase meia noite, mas ele disse que podia.
- Claro que não tem problema! Você é muito bem-vindo aqui.
- Obrigado! Seus pais estão acordados?
- Uhum. Só a minha avó está dormindo.
Falei com a Susana, falei com o Roberto e só depois eu me instalei no quarto de hóspedes. Eles estavam sendo muito legais comigo, mas eu não posso negar que fiquei muito sem graça de ficar morando com eles por uma temporada.
- Fico feliz que tenha aceito a minha proposta, Caio.
- Nas circunstâncias em que me encontro, não tenho como recusar, Roberto. Ultimamente eu tenho passado por muitos problemas na loja.
- Isso não é vida. Vem pra minha empresa que você vai ver o que é trabalhar como gerente.
- Adoro! Obrigado!
- Quando você pode ir assinar o contrato?
- Tem que ser em horário comercial, né?
- Sim.
- Ih... Então só na minha folga. Eu vou ver com o Cláudio quando isso vai acontecer.
- Folga? Você mal chegou e já quer folga? Sem chance. Pode tirando o cavalinho da chuva.
- É, só que a folga é direito meu. E eu trabalhei no domingo, portando eu necessito dela porque tenho coisas a resolver na cidade.
- E que coisas são essas?
- É algo relacionado a minha vida pessoal.
- E o que é?
- É algo relacionado a minha vida pessoal e só.
Eu não ia falar o que era! Não era da conta dele.
- Não vou te liberar folga agora. Nós estamos em dezembro, o pior mês do ano e eu preciso de você aqui em tempo integral.
Tempo integral? E como eu ia me mudar desse jeito? Como eu ia procurar casa? Como eu ia comprar móveis? Como eu ia ter tempo para fazer as minhas coisas?
Ele estava ficando louco ou o quê? Eu não ia aceitar isso, mas de jeito nenhum! Quando eu saí do Rio, o Antony disse que eu iria trabalhar apenas um período, não os dois. Eu não ia ficar me matando, mas nem que a vaca tossisse!
- Olha, sinto muito, mas eu não posso ficar em horário integral. Não foi me dito isso no ato de minha transferência.
- Não? E você tem algo escrito falando sobre isso? Tem algum e-mail?
- Não, mas tenho a palavra do Antony. Se quiser liga pra ele.
- E você acha que ele falou a verdade? Como você é bobinho, garoto. O seu horário é integral, das 10 às 22 horas e é esse o horário que você vai cumprir.
- Oi? De jeito nenhum! Eu não posso! Eu tenho vida fora daqui, se é que você não sabe.
- Eu também tenho, mas você tem que vestir a camisa da empresa.
- Eu visto e visto com orgulho, mas não sou obrigado a aceitar essa imposição. Se você não sabe, eu me mudei para cá e não tenho onde morar. Preciso procurar casa.
- Faça isso fora do seu horário de trabalho.
- E eu vou fazer que horas? De madrugada? De madrugada as imobiliárias não abrem.
- Isso não é problema meu. Você precisa estar aqui no horário que eu falei.
- Então tá bom, Cláudio. Então tá bom. Eu vou fazer o que você está pedindo, pode deixar.
- Ótimo. Que bom que você entendeu.
Eu entendi, mas não concordei. Só concordei naquele momento porque quis evitar uma briga. Eu iria sair dali o quanto antes, essa é que era a verdade.
Quando saí da sala do regional, comecei a fazer a minha gestão de pessoas e chamei alguns colaboradores para assinarem as sanções. E nesse momento começou o meu martírio.
- Que advertências são essas? – perguntou Cláudio.
- Por faltas injustificadas, conforme você pode verificar. Está escrito aí o motivo.
- Antes de fazer uma sanção eu quero que você peça o meu aval.
- Como é?
- Não ouviu? Antes de aplicar uma sanção eu quero que você peça o meu aval.
- Espera aí... Eu fui chamado pra fazer gestão de pessoas e você quer que eu peça a sua autorização para isso?
- Exato. Qual a dificuldade em fazer isso?
- A dificuldade, Cláudio, é que eu sou gerente de vendas e não estou tendo autonomia para isso. Essa é a dificuldade!
- As regras são assim, quer você aceite, quer não.
- Ah, excelente. Quer dizer que eu não sirvo para nada aqui? Porque se é para pedir a sua autorização pra trabalhar era melhor eu nem ter vindo!
- Você é que está falando.
- Perfeito. Eu vou pedir a sua autorização. Não se preocupe.
- Excelente. Era só isso?
- Só, Cláudio. Só.
Que espécie de gerente regional era aquele que não confiava em seu subordinado? Eu não estava ali para brincar, estava ali para trabalhar e não ia deixar ninguém montar em cima de mim. Com essa história de ter que pedir autorização para fazer o meu trabalho o meu copo quase transbordou. Quase.
O tempo estava passando rápido. Dali 2 dias iria fazer uma semana que eu tinha chegado em São Paulo, mas parecia que já fazia um ano, tamanho o meu cansaço físico e mental.
Mesmo já tendo passado alguns dias e mesmo eu falando diariamente com o Bruno e com meus outros amigos, eu ainda estava me sentindo estranho e me sentindo vazio. E isso só aumentava conforme o tempo passava.
Na loja era ainda pior. Eu não me sentia parte daquele grupo e o Cláudio estava me enchendo tanto o saco que eu já estava a ponto de enlouquecer.
E eu surtei de vez quando vi um e-mail do Cláudio onde ele informava a escala de final de ano de todos os seus gerentes. Eu pirei de vez porque o meu nome estava escalado para trabalhar no natal e no ano novo. Ele só podia estar brincando.
- Mandei o e-mail da escala de final de ano. Você viu?
- Claro que vi – respondi. – Eu leio todos os meus e-mails. Alguma vez eu já deixei de te responder por acaso?
- Não faz mais que a sua obrigação. Não tem nada pra me falar?
- Não. Deveria falar alguma coisa?
Eu falei isso porque eu não quis bater de frente com aquele veado maldito. Eu iria pedir para sair da loja, mas não naquele momento. Eu ia esperar alguns dias.
Ainda bem que o Bruno estava falando comigo por telefone todos os dias, porque ele era quem me acalmava. Só ele.
- Que bom que você já está de férias da faculdade, amor. Eu fico feliz com isso.
- Obrigado, anjo! E aí, como estão as coisas?
Desabafar com o Bruno era o que me restava. Ele me passava calma com aquela voz deliciosamente grossa e cheia de sotaque carioca.
Pena que era só por telefone que nós nos falávamos, mas era melhor que nada. Antes falar por telefone do que não falar, não é?
Se eu estava enlouquecendo por causa do trabalho, fiquei mais maluco ainda quando recebi uma ligação do Cauã. Ele já sabia que eu tinha voltado para Sampa.
- Como você soube?
- Um amigo foi na loja onde você está trabalhando. Ele pensou que era eu que estava trabalhando e como não era, foi fácil deduzir que se tratava de você. Eu fui lá e te vi.
DROGA!
- Você veio de vez?
- Isso não é da sua conta.
- Posso te pedir uma coisa?
- O que você quer?
- Vem ver a nossa mãe! Ela vai ficar feliz em ver você de novo.
- Pra quê? Pra ela me humilhar de novo?
- Ela não vai fazer isso.
- Quem me garante?
- Eu!
- Ou seja, ninguém me garante nada.
- Estou falando sério. Eu vou falar com ela e vou pedir pra ela não falar nada. Vai vê-la, por favor.
- Eu vou pensar.
- Beleza. Qualquer coisa liga então.
- Uhum.
- Tchau, Caio.
- Tchau, Cauã.
Desliguei e fiquei pensando. Será que rever novamente a minha mãe seria uma boa ideia?
Eu cheguei na maternidade por volta das 7 horas da manhã e o fluxo estava intenso naquele dia. Fui até a recepção, pedi o adesivo de visitante e entrei para ver a Fátima. Nem sei porquê estava lá, mas tudo bem.
Bati na porta do quarto e depois a abri. Será que eu podia entrar? Sim. Ela estava sozinha.
- Caio! Meu filho... Graças a Deus você veio... Graças a Deus...
Não falei absolutamente nada, mas foi pelo choque. A minha mãe parecia uma elefanta de tão grande que estava. A barriga dela estava simplesmente explodindo.
- Filho... Vem aqui, filho... Oh, meu Deus... Obrigada por essa oportunidade, meu Pai...
Eu me aproximei e fiquei estático com o tamanho daquela barriga. Estava muito grande. Eu não sabia que uma barriga pudesse ficar tão grande como aquela!
- Você... Está sozinha?
- Sim, filho... Não se preocupe! Que bom que você veio, que bom!
- Está tudo bem?
- Não, Caio... Eu estou ficando muito cansada... Não estou mais aguentando essa gravidez, filho... Está muito difícil...
Não era pra menos. Ela parecia que ia explodir! Eu fiquei imaginando o quanto deveria ser difícil para ela fazer as coisas. Para levantar, para andar, para ir ao banheiro...
- E os bebês estão bem?
- Eles estão bem sim!
- Tem previsão de quando vão nascer?
- A qualquer momento, filho! Eu não estou aguentando mais... Os médicos vão segurar ao máximo, porque querem preservar a vida das crianças.
- Ei... Mas e a sua vida? Ninguém está pensando nisso não?
- Eu pedi para eles salvarem os meninos, Caio! Eu quero dar a vida a eles. Eu não me importo de morrer.
- Para de falar essas coisas! Você não vai morrer!
Ouvindo essa frase eu me senti mal. Me senti esquisito e meio sem chão com aquela hipótese. Ela não ia morrer.
- Filho... Eu queria tanto falar com você... Queria tanto arrumar os meus erros, Caio...
- Haverá tempo pra isso.
- Não, Caio... Eu sei que não vou aguentar...
- Você vai aguentar sim! Você tem que aguentar! Eles vão precisar muito de você.
- Eles terão ao pai e a você e seu irmão...
A mim? A mim não! A não ser que eu pudesse criá-los longe do pai e do irmão.
- Vai ficar tudo bem!
- Filho... Me dá um beijo, filho... Por favor...
- Não me pede isso, tá bom? Eu ainda não me sinto preparado pra essas coisas.
- Fiquei sabendo que está morando aqui na cidade? É verdade?
- Hã... Sim!
De que adiantava esconder?
- Louvado seja Deus! Louvado seja Deus! É uma nova oportunidade que Deus está me dando... Só pode ser isso!!!
Será que era?
- Não posso ficar muito, eu tenho que trabalhar e não quero encontrar seu esposo por aqui.
Foi mesmo que falar que eu queria encontrar meu pai, porque depois de uns 5 minutos ele e o Cauã apareceram no quarto do hospital. Eu fiquei paralisado.
Meu pai ficou me olhando por um tempão e eu fui vendo o rosto dele passar de branco para vermelho e de sereno para enfurecido. Ele não era louco de fazer nada comigo naquele hospital.
- O que você está fazendo aqui? – ele perguntou.
- O mesmo que você. Não percebeu?
- Não começa, Edson! Não começa! – a Fátima ficou sobressaltada.
- Sai já daqui, moleque! Sai já daqui! Eu não quero você aqui!
Suspirei e levantei da cadeira.
- Não se preocupa que eu já estou de saída. Não tenho mais nada a fazer aqui.
- Acho bom! Acho bom mesmo! E eu não voltaria se fosse você!
- Por que? Isso é uma ameaça, EDSON?
- Entenda como quiser, MOLEQUE!
- Pai, não começa! A mãe já está ficando nervosa! Não vai ser bom pra ela, pai! – Cauã tentou acabar com a discussão.
- Deixa, Cauã – falei. – Deixa ele falar o que quiser. O que vem de baixo não me atinge.
Meu pai riu da minha cara e ficou com ar de deboche pra cima de mim, mas eu não liguei. Apenas me despedi da Fátima e saí do quarto. Antes de sair, os médicos e enfermeiros foram buscar a minha mãe para ela fazer alguns exames.
Saí prometendo que voltaria. Eu não ia deixar as ameaças do desgraçado do meu pai me afilgirem. Prometi que ia voltar justamente por causa da ameaça que ele fez. Só para provocá-lo.
Antes de ir pro meu carro, eu fui ao banheiro para tirar a água dos joelhos. Eu estava apertado para fazer xixi porque tinha comido melancia no café da manhã da casa do Víctor.
Quando saí do banheiro e segui para a saída do hospital, notei que meu pai e meu irmão estavam andando poucos metros na minha frente. Eu andei sem fazer barulho só pra ouvir o que eles estavam falando de mim.
- Não é pra você ficar fazendo essas coisas perto da mãe, pai! Ela não pode passar nervoso e você sabe disso!!!
- Eu fico louco quando vejo aquele nojento, Cauã! Eu fico louco!
Nessa altura do campeonato nós já estávamos no estacionamento. Para onde será que eles iriam?
- Pai! Olha, pai! Que carro da hora!!!
- Qual deles?
- O amarelo! Nossa que lindo, pai! Eu sou louco por carro amarelo!!!
- Nossa, Cauã! Que mau gosto! Esse carro é...
Eu fiz questão de destravar as portas do carro ali mesmo. Os faróis acenderam duas vezes e em seguida eu passei na frente dos dois e abri a porta do carro.
Pelo canto do olho percebi que meu irmão ficou simplesmente boquiaberto e meu pai uma estátua. Eu senti vontade de rir.
- Não... Não é possível... – foi o que meu pai disse.
- Algum problema? Querem uma carona? – eu coloquei a cabeça pra fora e nesse momento dei risada. Foi impossível não rir da cara do meu pai.
- Esse carro é seu, Caio? – perguntou meu gêmeo.
- Não está me vendo dentro dele, Cauãzinho?
Ele ficou calado e meu pai abriu a boca para falar alguma coisa, mas as palavras só saíram depois de um minuto:
- Nem esquenta com isso, Cauã. Esse carro deve ser roubado.
Roubado? Quem ele pensava que era para me julgar daquele jeito? Roubado? Roubado? Eu fiquei uma fera!
Peguei os documentos do carro e quase esfreguei na cara daquele infeliz. Falei em alto e bom som:
- Você pensa que eu sou igual a você? Que tenho o caráter duvidoso como você? Se pensou nisso, você pensou errado. Lê aqui, ó... Caio C. Monteiro da Silva! Ou seja: eu. Esse carro é meu, comprado com o MEU dinheiro. Eu não preciso roubar as coisas, Edson. Já você eu não sei.
Eu tive que fazer isso. Ele mexeu com a minha honra e isso eu não ia permitir! Roubar aquele carro... Até parece que eu faria uma coisa dessas!!!
Não esperei por resposta nenhuma. Simplesmente voltei para o meu carro, fechei a porta e dei a ré. Eu não ia deixar que nenhum deles pisasse em cima de mim, mas não ia mesmo!!!
- Claudio, tenho que falar com você.
- Pois não? Algum problema?
- Não. Solução. Eu quero ser mandado embora.
- Como é?
- É isso mesmo que você ouviu. Eu quero ser mandado embora.
- Por que? Não está aguentando a pressão?
- Não. Não se trata disso. É por motivos particulares. Será que você consegue me desligar, por favor?
- Agora em dezembro, Caio? Logo quando eu mais preciso de você?
- Sejamos sinceros? Você não precisa de mim pra nada. Você não me deixa fazer nada, tudo eu tenho que pedir pra você! É melhor você fazer sozinho, porque acho que é isso que você quer.
Ele ficou sério.
- Por favor, me ajude. Eu preciso desse desligamento.
- Eu vou ver o que posso fazer por você. Agora me deixa trabalhar em paz.
Eu saí com esperança daquela sala. Eu precisava daquele desligamento para sobreviver naquela selva de pedras.
NO DIA SEGUINTE...
- Como você está aí em Curitiba?
- Bem e você aí em São Paulo?
- Bem também. Só a saudade que mata, mas tudo bem!
- Morrendo de saudade de você, Cacs.
- E eu de você, Digow! E a noiva, cadê?
- Na casa dela, oras.
- Cara, não dá pra acreditar que você ficou noivo!
- Nem me fala! Finalmente eu vou desencalhar.
- Como se você fosse encalhado, né? Safado.
- Te amo!
- Também te amo. Vou voltar pra senzala. Depois nos falamos, tá?
- Vai lá! Fica com Deus.
- Amém. Você também.
Depois que voltei do horário de almoço, o Cláudio me chamou para a sala dele e esse foi um dos momentos mais felizes desde a minha volta para aquela cidade, dias antes.
- Essa é a Érica, ela é do RH.
- Sim, eu sei. Eu a conheço.
- E nós te chamamos aqui porque a empresa vai reincidir o seu contrato.
Eu tive uma explosão de felicidade dentro do meu peito! Não podia ser... EU ESTAVA LIVRE DAQUELE INFERNO!
- Jura?
- Sim! Eu agradeço o tempo que você passou aqui comigo e te desejo muita sorte na nova fase de sua vida.
- Obrigado, obrigado!
Eu estava radiante. A Érica começou a falar os trâmites à partir daquele momento e o Cláudio me deixou a sós para que fosse realizada a entrevista de desligamento. Eu falei tudo o que estava preso na minha garganta:
- Eu adorava a empresa, até 6 meses atrás. De repente, os regionais passaram a nos tratar como cachorros. Gritavam com a gente, impunham metas impossívels... Isso daqui virou um caos total!
- Entendi. E que mais você deseja falar?
- Que a empresa tem que aprender a valorizar o funcionário como ele merece e que é contra a lei um colaborador trabalhar 12 horas por dia. O máximo são 8 e isso é lei. Também é proibido um funcionário ficar sem direito a folga quando trabalha aos domingos.
Ela anotou tudo.
- É proibido um vendedor ser desenvolvido para ocupar um cargo de liderança e ficar 35 dias à frente de uma loja como essa sem o auxílio de uma pessoa de um cargo superior.
- Isso ocorreu com você?
- Sim e foram várias vezes. Inclusive, eu te falei isso quando fiz o processo seletivo para a gerência.
- Desculpe, eu não me recordo disso.
- Anote aí também, que é proibido um vendedor que está cobrindo férias de dois gerentes assinar sanções disciplinares sendo que ele não tem o cargo necessário para isso. Anote também que é proibido uma empresa remanejar um funcionário de estado sem dar o devido apoio financeiro para isso. Eu poderia processar a empresa por causa de todos esses motivos.
A mulher ficou roxa de vergonha e acho que ficou até com medo.
- Eu poderia processar a empresa inclusive por ter ficado com duas equipes abaixo da minha hierarquia. Eu poderia processar a empresa por trabalhar diariamente 12 horas por dia e por cuidar de uma loja tão problemática como a de Copacabana sem o auxílio de outro profissional.
Eu ia falando e ela ia anotando tudo.
- E deixa uma coisa bem clara ao Cláudio: ele não tem que impedir os seus liderados de tomar as ações que acharem pertinentes para com as suas equipes. Ele me proibiu de fazer gestão de pessoas sem o seu aval e isso não existe. Se uma pessoa é líder, se isso consta em sua carteira profissional como consta na minha e também no meu holerite, ela tem todo o direito e até o dever de realizar a gestão com seus colaboradores.
- Mais alguma coisa?
- Só pra finalizar, é desumano a empresa colocar um líder para trabalhar no feriado de natal e ano novo, enquanto outro líder folgará nas duas datas. Isso não existe. É só.
Assinei a minha recisão e fiquei sabendo qual seria o dia da minha homologação e do exame demissional. Saí daquela loja sem falar com ninguém, com exceção do Cláudio, é claro!
- Sabe por que eu queria sair, Cláudio?
- Não aguentou a pressão?
- Não. Porque eu tenho um emprego mil vezes melhor que esse me esperando. Eu ia sair só em janeiro, mas resolvi antecipar porque não dá pra aguentar o seu mau-humor, a sua falta de educação e a sua intolerância. Eu sou jovem sim, Cláudio, mas sou mil vezes mais experiente e competente que você. Na verdade, você não passa de um babaca que se diz formado em gestão de pessoas, mas que não sabe nem ler uma advertência. Acho que você comprou seu diploma, só pode ser isso! Obrigado por ter me demitido, esse é o dia mais feliz dos meus últimos meses! Passar bem!
Eu saí e deixei o gordo pra trás. Ele gritou e pediu para eu voltar, mas eu não voltei. Simplesmente saí da loja e quando coloquei os pés na calçada, ergui as duas mãos pro céu e agradeci a Deus por ter dado tudo certo.
É claro que eu ia ligar para os meninos. Eles precisavam saber o que tinha acontecido. Liguei primeiro pro Bruno e depois pro Rodrigo. Em seguida coloquei a ligação em conferência e nós três ficamos conversando por um tempão:
- Eu liguei pra comunicar que acabei de ser demitido da loja!
- Oi? – Bruno ficou surpreso.
- Mentira? – Rodrigo também.
- Verdade! EU ESTOU LIVRE!!!
Foi a maior festa. Mais do que ninguém, aqueles dois sabiam o quanto a minha rotina na filial era complicada e é claro que eles ficaram felizes com a novidade. Eu não poderia ter recebido notícia melhor naquele dia.
Bastou desligar a ligação com os meus amores para eu ligar pra Janaína. Ela precisava saber disso!
- ESTOU PRETA PASSADA NA CHAPINHA! JURA QUE VOCÊ FALOU TUDO ISSO?
- Lógico que eu falei, amor! Você acha que eu ia perder a chance? Jamais!!!
- QUE BADAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAALO!!! Adoraria estar presente nesse momento!!!
- Precisava ver a cara da Érica quando eu disse que poderia processar a empresa!
- Eu falei a mesma coisa na minha entrevista de desligamento! Eles ficaram possessos!!!
- Olha a minha cara de preocupado!
- Cachorro! Que bom que você está livre também!
- É! Agora a minha vida entra nos eixos! E você? Ainda curtindo as férias?
- Lógico, né meu bem? Até parece que eu vou trabalhar agora!!!
Nesse momento, o meu celular começou a apitar e eu vi que alguém estava me ligando. Era o Cauã.
- Jana, meu irmão está me ligando. Eu vou atender porque deve ser notícia da minha mãe. Um beijo, depois eu te ligo!
- Beijo, seu lindo! Te amo.
- Também te amo.
Desliguei e atendi ao Cauã:
- O que foi?
- Caio, vem pra cá, por favor.
- Por que? Aconteceu alguma coisa?
- Sim. A nossa mãe entrou em trabalho de parto.
- Sério? Mas ela está bem?
- Então, eu não sei. Acabaram de levá-la para o centro cirúrgico. Vem pra cá, Caio... Por favor...
Eu fui direto pro hospital. Querendo ou não, a Fátima continuava sendo a minha mãe e eu queria estar por perto para saber como tinha sido o parto, se estava tudo bem com os bebês e com ela também, é claro.
Cheguei e saí a procura do meu gêmeo. Ele e uma moça, que até então eu não conhecia, estavam na sala de espera e eu fiquei muito surpreso com a forma que fui recebido por ele:
- Que bom que você veio, Caio!
- Alguma novidade?
- Meu Deus... – a menina falou consigo mesma,
- Por enquanto nada. Eu estou com medo, Caio!!!
- Não fieue! Vai dar tudo certo. Você vai ver.
- Caio... E se... A nossa mãe morrer?
- Não fica pensando nisso, Cauã! Ela não vai morrer. A gente tem que ter esperança! A medicina hoje em dia está muito avançada e nada de ruim irá acontecer com ela. Tenha fé.
- Deus te ouça! Deus te ouça!
Percebi que meu pai não estava por ali. Provavelmente ele estava assistindo ao parto e eu estava torcendo para que ele desse força para a minha mãe e não a colocasse pra baixo nesse momento tão importante da vida dela.
Fiquei separado do meu irmão e da moça que eu não conhecia. Eles ficaram em um canto e eu fiquei em outro. Eu não queria contato físico com eles, porque os ressentimentos ainda eram muito fortes dentro de mim. Eu só estava ali por causa da Fátima e nada mais que isso.
Mandei uma mensagem para todos os meus amigos do Rio, pro Bruno e também pro Víctor, informando que a minha mãe tinha entrado em trabalho de parto. A grande maioria respondeu o torpedo, só quem não fez isso foi o próprio Víctor, mas era porque ele estava sem créditos.
Como estava demorando... Já fazia uma hora que eu tinha chegado no hospital e nada de notícias da minha mãe. Eu estava começando a ficar nervoso. E por causa disso eu comecei a pedir a Deus que Ele não a levasse. Eu ainda tinha que resolver meus problemas com ela, para que ambos ficássemos tranquilos. Ela não podia morrer. Não podia!!!
Para passar o tempo, eu liguei pra Dona Elvira. Como ela era a minha segunda mãe, ela merecia saber o que estava acontecendo:
- Mas você já tem notícias dela?
- Ainda não, Dona Elvira. Já está na cirurgia há mais de uma hora e até agora nada. Estou começando a ficar preocupado.
- Não fique. Tenha fé em Deus!
- Eu sei, mas é meio complicado.
Qualquer um ficaria preocupado nas circunstâncias em que a minha mãe se encontrava. Eu tinha medo que o parto pudesse ter alguma complicação, que ela tivesse uma eclampsia, por exemplo.
- Fui mandado embora hoje, Dona elvira.
- É mesmo, filho? Mas por que? Poxa vida... Depois de tantos anos?
Expliquei o motivo e ela entendeu direitinho. A mulher ficou do meu lado.
E de repente meu pai apareceu na sala de espera, vestido com a roupa do hospital e com uma cara tensa, muito tensa.
- Dona Elvira, tenho que desligar. Acho que já tenho notícias de minha mãe! Depois eu te ligo. Beijo!
- Outro, querido! Vou orar pela sua mãe.
- Obrigado!
Eu me aproximei. Eu queria saber notícias dela. Eu precisava saber se estava tudo bem com ela e com os bebês.
- Fala, pai! Fala!!! – Cauã estava quase chorando.
- O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI?
- PARA COM ISSO, PAI! – Cauã perdeu as estribeiras. – NÃO É HORA PRA ESSAS COISAS! O QUE ACONTECEU COM A MINHA MÃE? O QUE ACONTECEU?
- Fala, Edson! Fala o que aconteceu! Não é hora pra briga – falei.
- Os... Os bebês nasceram...
- Está tudo bem com eles? – perguntei.
Edson ficou calado.
- Responde, pai! – Cauã já estava entrando em desespero. – Responde! Está tudo bem com os meninos?
- Sim... Eles são perfeitos... – uma lágrima rolou no rosto do meu pai.
Isso parecia até mentira. Ele chorando? Aquele casca grossa? Aquele cara que tinha coração de pedra? Chorando? Isso sim era surpreendente!
- E a minha mãe, pai? – Cauã deixou o choro sair. – E a minha mãe? Como está a minha mãe?
Engoli em seco. A cara do Edson estava muito tensa. Eu não sabia se tinha acontecido alguma coisa com ela ou não, mas pela cara dele a notícia que viria a seguir não era das melhores.
3 comentários:
Resumindo!esse cap foi lindo,emocionante.Eu chorei RIR kkk,enfim foi sublime ou melhor vc é,adore na porte que vc pergunta pro Vini se ele lembra das sua brincadeiras.E chorei muito no momento do flech beck do começo da história e também na hora da despedida com o Rodrigo mas foi com o GATO DO BRUNO com todo respeito é claro que eu me desabei no choro:baixou em mim as 3 Marias Maria Mercedes,Marimar eMaria do Bairro kkkkkkkkk adoroooo.amo vc Caio a sua maneira de expressar seus sentimentos sua maneira de falar porque vc fala muitíssimo bem,de escrever nem se fala.E parabéns!!!!!pela sua história de vida e superação e por compartilhar com agente,que com certeza é umas das histórias mais linda que já li se não a mais de todas
E eu estou me sentido órfão já Sr Monteiro rs é isso bjkasss 😍 pra vc CAIO E BRUNO AMO VCS DE PAIXÃO MESMO SEM CONHECE-LOS BEIJO ENORME ❤❤❤💛💙💜💛💚💙❤
E felicidades eternas pra vcs dois❤ que vocês merecem ❤❤
Olá para o mundo em geral,
Eu sou Miss kadirat., A partir de estados unidos da America.I vai começar por dizer a todos os que têm experiência de ruptura cardíaca e também não posso fazer com a sua amante deve por favor, pare aqui e leia a minha história, Então, como você vai saber como ir resolver ou obter o seu ex de volta a partir deste feitiço caster..AND NOVAMENTE vou querer também dizer tudo o que este lançador de magias vou querer dizer ao mundo inteiro SOBRE é inofensivo e não tem qualquer efeito colateral, mas restaurar e dar-lhe DE VOLTA O QUE VOCÊ MERECE, COS Quando me encontro com ESTE QUE lançador de magias foi-me apresentado pela esposa do MEU CHEFE NO MEU LUGAR DE TRABALHO, ele deixou claro que ele pode feitiço EM OUTROS PROBLEMAS TANTOS EXCETO NO obter o seu ex ou fazer Seu amante amar você mais que suite VOCÊ. No ano passado, de dezembro de Meu amante estava me traindo e não foi também dar-me a atenção que um homem deve dar a uma mulher, e que realmente estava incomodando minha mente e rasgando meu coração na medida em que eu não estava concentrado no escritório a maneira como eu uso para antes do intervalo por meu lover.And antes desse incidente, eu sempre vejo como meu chefe usar para amar a sua esposa tanto. Eu estava binging a pensar que eu não estava fazendo a coisa certa para ele que vai fazer ele me amar para sempre, então eu realmente colher a minha coragem e fui ao meu escritório esposa chefe para perguntar-lhe o segredo que fez seu marido a amava tão caro, Em primeiro lugar ela se recusou a dizer-me, Ela me perguntou por que eu estou pedindo-lhe tal pergunta, Que, se não é normal para cada homem deve amar sua wife.I disse a ela a razão que me fez perguntar a ela sobre essa questão, que meu amante começou a enganar-me ultimamente, Quando eu me ajoelhei diante dela para que ela visse a minha seriedade nesta edição que eu fui para perguntar a ela, Ela se abriu para mim, dizendo-me que eu não deveria contar a ninguém sobre o que ela quer diga-me, a esposa para o meu patrão começou a dizer-me que ela usou um feitiço muito poderoso em seu marido a amá-la, E o feitiço que ela usou é inofensivo, mas o feitiço é apenas para fazê-lo amá-la e nunca a olhar para qualquer outra mulher, exceto ela. Eu rapidamente perguntar-lhe como é que ela CONHEÇA ESTA GRANDE, PODER, durável e perfeito RODÍZIO DE TRABALHO feitiço, ela disse que uma amiga dela também apresentá-la a ele. Então eu também perguntar-lhe como eu posso encontrar com este feitiço caster.SHE disse que tudo para mim, que o nome deste lançador de magias é o Dr. EGBO.My próxima pergunta a ela era como posso obter este maravilhoso lançador de magias, ela disse que é vai dar-me o e-mail do lançador de magias para mim para contatá-lo para o meu problema, realmente ela deu-me este e-mail feitiço caster e eu em contato com ele e expliquei tudo para ele, e depois de tudo o que precisava ser feito pelo feitiço caster, Nos próximos dois dias, meu amante que me odiava tanto veio em casa pedindo perdão e eu estava tão feliz que eu tenha finalmente chegado o meu coração desire..I era tão grato a este lançador de magias para o que ele tem feito por minha vida .. Então eu fiz uma promessa a ele que eu vou sempre continuar dizendo ao mundo sobre seu maravilhoso trabalho para mim e também para outros que veio para você antes e também as pessoas que também vai começar a você da minha história que eu narrado now..I on-line vai querer dizer ao mundo inteiro que você não deve chorar sobre observando de novo, isso não é um grande homem que tem vindo a ajudar as pessoas para restaurar há alegria e sorrir lá enfrenta !! O e-mail direto para obter este homem é: dregbosolutioncenter@gmail.com, Isto é o que eu quero dizer a todos vocês lá fora, isso é pensar que toda esperança está perdida e também ele rodízio tudo feitiço que você quer, ele pode ajudá-lo a obter uma filho se você não tiver filhos, ele irá ajudá-lo em qualquer coisa que você quer ok..Thanks
Atenciosamente,
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