sábado, 4 de abril de 2015

Capítulo 77²

- D
igow...

Resultado de imagem para daniel rocha chorando

Eu coloquei a mão na cabeça dele e fiz cafuné naqueles cabelos castanhos. Ele continuou chorando baixinho e não se virou. Eu desci a mão e cheguei no pescoço. Ele estava quente, muito quente.

Resultado de imagem para choro de amor

- Digow? Você está bem?
- Ca-Caio... Ca-Caio...
Será que aquele menino estava com febre? Será que ele tinha ficado doente por causa da minha partida? Não... Aquilo não seria possível... Seria?
- Olha pra mim, Rodrigo!
Com muito custo eu fiz ele virar pra mim. Rodrigo estava com os olhos muito inchados e vermelhos. O rosto dele estava molhado e os seus lábios tremiam sem parar, por causa da emoção.
- Não fica assim... – bastou vê-lo para eu também cair na emoção.
- Fica... Comigo...
Tanta coisa veio na minha mente... Tantos momentos que eu passei ao lado dele... Bons... Ruins... Únicos...

“- Eu mato, eu mato...
- Quem o Rodrigo vai matar, minha gente? – fiquei abismado e entrei no quarto. – Que foi, mano? Quem você vai matar?
- Quem roubou minha cueca pra fazer pano de prato!!!
Devo ter ficado com aquelas caras de emoticons incrédulos. Só o Rodrigo mesmo para cantar essas músicas!”.


“- Que foi, Digow? – perguntei, porque notei que ele não parava de me olhar.
- Esperando.
- Esperando o quê, Rodrigo?
- Você me dar!
- OI?! – fiquei chocado.
- Você me dar o chocolate!
- Que chocolate, louco?
- Esse daí que você tem escondido dentro da mochila.
- Bebeu? – fiquei espantado.
Meu irmão simplesmente desceu da cama, pegou a minha mochila e achou o chocolate que eu tinha escondido pra ele logo no primeiro bolso em que procurou.
- Ei!!! – me choquei de vez. – Como você sabia?
- Eu senti o cheiro!”.


“- Quer parar de se mexer aí em cima? – dei um chute na cama do meu melhor amigo.
- Que culpa eu tenho se está fazendo calor e eu estou inquieto?
- E eu com isso? Eu quero dormir, dá licença?
- Dorme no chão então, cacete.
- E por que não dorme você? Por que tem que ser eu?
- Porque eu mando nessa bagaça, Caio Monteiro!
- Ah, tá! Só porque você quer!!!”.

“- Hum... – ele me abraçou com carinho.
- Feliz aniversário, meu irmãozinho mais lindo!
- Obrigado, Cacs!
- Que Deus te abençoe sempre, tá?
- Promete uma coisa pra mim?
- O que você quiser.
- Promete que vai ficar ao meu lado em todos os meus aniversários até eu completar 90 anos?
- Prometo! – sorri comigo mesmo. – Prometo que vou participar de todos os seus aniversários até você completar 90 anos!”.


“- O que você está fazendo aí, Digow? – indaguei.
- Moscando aqui na internet.
- E o que faz na internet?
- Conversando com uma gatinha que to pegando.
Lentamente, eu me aproximei da cama do meu melhor amigo e quando cheguei perto o suficiente, simplesmente fechei o notebook.
- Filho da puta! Logo agora que a gente ia combinar a ficada...
- Que a rapariga combine a ficada com o Gasparzinho, não com você!”.


- Digow...
Eu fiz carinho no rostinho dele e fiquei encarando aqueles olhinhos castanhos. Se eu não tivesse o Bruno, era com ele que eu queria ficar.
Foi graças àquele cara que eu consegui chegar tão longe na vida. O Digão foi uma das primeiras pessoas que me estendeu a mão no Rio de Janeiro, me convidando pra ir morar na república... Eu nunca seria capaz de esquecer aquele momento, nunca mesmo.
Eu voltei quase 5 anos no tempo e lembrei perfeitamente do dia em que ele falou que morava em uma república. Foi em um dia em que eu saí com ele, com o Bruno, com a Tamires e a Priscila para beber. Lembrei que nesse dia o Bruno ficou bêbado...

“- No que está pensando? – indagou Rodrigo.
- Hum? Em uns problemas aí...
- Pensando na namorada, né? – ele abriu um sorriso.
- Não, que nada. Eu não namoro.
- Hum... Eu também não.
- Hum...
- Mora aonde?
- Em uma hospedaria na Lapa e você?
- Moro em uma república lá no Catete.
- Ah, pertinho do meu bairro.
- Por que você mora em uma hospedaria?
- É que eu não sou daqui do Rio, sou de São Paulo. Vim morar aqui faz pouco tempo.”.


Como o tempo tinha passado... Naquela época a gente não passava de colegas de trabalho. E no que nós tínhamos nos tornado...

Resultado de imagem para amor

Rodrigo e eu tínhamos crescido, nos tornado homens de bem, homens com projetos, com sonhos, com objetivos... E nos amávamos de verdade...
- Meu Rodrigo... – eu falei baixinho.
O tempo tinha passado, mas ele ainda era o mesmo. O mesmo garoto bonzinho de sempre, o mesmo pivete que adorava jogar futebol, o mesmo garoto que vivia com a cara enfiada nos livros, o mesmo homem bondoso, o mesmo amigo fiel, o mesmo irmão leal, o mesmo que se preocupava comigo...

“- Bom dia, bom dia, bom dia – ele falou, todo animado.
- O que tem de bom? – resmunguei e cocei meus olhos.
- Quer fazer o favor de se animar? Está um dia lindo lá fora e você prometeu que ia jogar bola comigo! Não seja chato e cumpra a sua promessa.
- Eu vou cumprir, chato da porra! Posso pelo menos tomar um banho e café da manhã?
- Pode! Mas não demora!”.

“- Olá, Rodrigo! – falei, quando entrei no nosso quarto.
- Ah oi, Caio.
- Estudando de novo?
- De novo não, ainda!
- Nossa! Desde aquela hora?
- Pra você ver! Vida de universitário não é fácil não, brother!”.


“- Ui, ui, ui – percebi que meu amigo literalmente deu meia volta quando uma moça de saia curta passou ao lado dele.
- RODRIGO CARVALHO! Faça o favor de ser descente!
- Descente? Com essa daí eu quero é ser indescente, isso sim!!!”.

Continuei voltando no tempo e lembrei do dia em que ele me fez o convite oficial para morar na república. Aquele foi um dos dias mais importantes na minha vida. Mal sabia eu que seria à partir daquele dia que a minha vida iria mudar e iria dar um giro de 360º.
O convite tinha sido feito no Call Center, na empresa em que Rodrigo e eu trabalhamos juntos. Ele aproveitou a hora da pausa para falar comigo. Eu estava curioso pra saber qual era o assunto:

“- Ah, quero te fazer um convite.
- Que convite?
- Na hospedaria onde você mora você paga quanto por mês?
- R$ 300,00. Por quê?
- O que acha de morar na minha república?”.


Resultado de imagem para amor

Suspirei, fechei os olhos e continuei chorando. Ele era tão importante na minha vida... Tão importante...
- Cacs?
- Oi?
- Deita aqui comigo? Me abraça bem forte? Por favor? Eu preciso sentir você perto de mim...
Eu não pude negar aquele pedido. Deitei na cama dele e nós nos abraçamos com muita, muita força. Há muito eu não recebia um abraço tão gostoso como aquele – eu não estava considerando os abraços do Bruno, é claro –.
- Eu te amo tanto... – Diguinho fungou no meu pescoço.
- Eu te amo muito também, meu irmãozinho...
Continuei pensando no passado, pensando no Rodrigo de antes, pensando na época em que eu era adolescente e revivi uma conversa que nós tivemos, alguns dias antes da minha chegada na casa do Catete:

“- E aí, Caio – Rodrigo me chamou. – Ansioso para mudar na quarta?
- Bastante, viu? – e eu estava mesmo. – Não vejo a hora...
- Vai ser muito bem-vindo – ele comentou.
- Obrigado.”.


Resultado de imagem para choro de tristeza

Ele sempre tão bondoso, ele sempre tão preocupado comigo... O Rodrigo foi uma das poucas pessoas, senão a única, que sempre pensou no meu bem estar, em todos os sentidos possíveis e inimagináveis.
O Digão sempre se preocupou, sempre mostrou que estava presente na minha vida, sempre me apoiou, sempre me recebeu de braços abertos... A começar pelo primeiro dia, quando eu cheguei de mala e cuia na casa do Catete...

“Eu toquei a campainha e depois de alguns minutos o meu amigo foi abrir o portão.
- Chegou o dia, né? – ele sorriu.
- Pois é.
Apertamos as mãos e trocamos um olhar rápido.
- Bem-vindo.
- Obrigado, Rodrigo.”.


Resultado de imagem para filmee

Eu estava vivendo um filme. A minha memória não me traiu em nenhum momento e eu relembrei de tudo o que tinha vivido ao lado daquele príncipe, tudo mesmo...
Como ele gostava de mim, como eu gostava dele! A nossa amizade era tão pura, tão verdadeira, que nunca houve interesse em nenhuma das partes. A gente só se gostava e pronto.
Além do sentimento de amizade, havia também respeito. Respeito e confiança. Em toda a minha vida, eu nunca tive uma amizade tão bela, tão profunda, tão integra e verdadeira como eu tinha com o Rodrigo. Nem mesmo com o Víctor o negócio era daquela forma. Ele era único. E insubstituível. Essa era a verdade.
- Eu te amo... Eu te amo, Caio...
- Eu também te amo, Rodrigo!
- Sabe do que eu me lembrei?
- Hum?
- Do dia em que você chegou aqui. Como você era novinho, como era indefeso, como era frágil...
- Eu estava lembrando isso também...
- Lembra que a gente dividiu o quarto?
- Você acha que eu ia esquecer isso?

“- Você vai ficar no meu quarto mesmo – Rodrigo anunciou.
- Ah, é?
- Achamos melhor, porque como você ainda não conhece eles direito, é melhor ficar com alguém que você tem mais intimidade.
- Por mim tudo bem.”.


Dividir o quarto com aquele cara foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido naquela época.
Talvez se eu tivesse ficado com o Vini, como acontecera no sorteio, a nossa amizade não fosse tão forte como era. Nada nessa vida acontece por acaso...
- Eu não sei se vou... Conseguir viver... Sem você por perto... – a voz dele voltou a falhar.
- Não fala assim, por favor... Vai ficar tudo bem! Eu prometo!
- Eu sei que... Eu to pensando só em mim... Mas é que... Está sendo muito difícil... Pensar que eu não vou te ver mais aqui em casa...
- Pra mim está sendo muito difícil também, muito difícil mesmo...
- Eu queria que você ficasse, mas... Mas eu não quero... Estragar a sua felicidade...
- Por favor, não fala mais nada, tá?
- Eu te amo muito, Caio! Eu te amo muito mesmo...
- Eu também te amo, Rodrigo! Te amo demais...
- Desculpa... O meu egoísmo...
- Fica quietinho, tá bom?
Que lindo! Que lindo que ele era. Até na hora da dor ele reconhecia seus erros. Se fosse outro, continuaria firme na sua decisão, continuaria pedindo para eu ficar. Eu não poderia esperar menos do meu melhor amigo, do meu irmão mais velho.
Eu me lembrei de como a nossa amizade foi evoluindo aos poucos. Lembrei das nossas conversas, das nossas descobertas, do vínculo que foi se formando. Da preocupação que aquele cara foi demonstrando. De como ele era palhaço comigo...
“- Acho que fiz um excelente negócio – abri um sorriso. Qualquer valor que me sobrasse já iria me ajudar muito.
- Acredite, você fez um bom negócio.
- Vou te agradecer pro resto da vida.
- Nem precisa. Me paga uma cachaça qualquer dia desses e tá tudo certo.
- Pode deixar – a gente riu junto.”.


Como não pensar que aquela amizade ia durar a vida toda? Como não acreditar que a nossa amizade não era comum? Como não imaginar que aquela amizade vinha de muito tempo? Talvez de vidas passadas como o amor que eu sentia pelo Bruno?
Desde sempre o Rodrigo se mostrou um amigo verdadeiro, um amigo preocupado comigo, preocupado com o meu futuro... Ele sempre quis saber o que eu queria da vida, o que eu queria para formação profissional, ele sempre me incentivou a fazer faculdade...
“(...)
- Verdade – Rodrigo concordou. – Você tem vontade de fazer o quê?
- Nada – respondi com sinceridade. – Não pensei nisso ainda não.
- Mas tem que pensar, já está terminando o colegial.
- Até o final do ano eu decido. Quem sabe eu consigo uma bolsa de estudos.
- Consegue sim, é só se empenhar.
- Uhum.”
Prova disso é que ele, o Rodrigo, me inscreveu no ProUni sem o meu consentimento. E se não tivesse sido essa prova de amizade e esse puxão de orelha para começar a estudar, eu nunca teria me formado em Gestão de Recursos Humanos.
Como não sentir tristeza por me despedir daquele cara? IMPOSSÍVEL, simplesmente IMPOSSÍVEL. O que eu estava sentindo naquele momento não era só tristeza, era saudade. E não era uma saudade qualquer. Era uma saudade que doía, mas que doía mesmo. Que doía de verdade. E que deixava um tremendo vazio dentro do meu peito, um tremendo vazio dentro do meu ser, um tremendo vazio dentro da minha alma.
- Caio... Meu irmãozinho... Meu brother...
Saudade por não tê-lo mais por perto.
Saudade por não poder mais acordar e vê-lo no quarto.
Saudade por não dividir mais a mesma casa.
Saudade por não ir mais juntos pra faculdade.
Saudade por não ir mais juntos pra academia.
Saudades por não conversarmos mais até altas horas da madrugada.
Saudade por não brigarmos mais pra ver quem ia tomar banho primeiro.
Saudade por não brigar para ver quem ia usar o notebook primeiro.
Saudade por não ouvir mais aquela voz grave, mas ao mesmo tempo delicada chamando o meu nome.
- Caio...
Saudade por não vê-lo mais todos os dias...
Saudade por não ter o meu amigo ao meu lado...
Saudade por não dividir mais a mesma cama...
Saudade... Simplesmente saudade...
- Drigo... Meu anjinho...
Nosso choro estava quase compulsório. Eu soluçava pra um lado, ele soluçava pro outro. Eu queria tanto que aquela dor fosse embora, eu queria tanto que a nossa amizade continuasse sendo a mesma, independente da distância...
Rodrigo sempre foi bom comigo, até mesmo na hora em que ele desconfiou e na hora que ele descobriu a minha orientação sexual. Eu nunca esquecia o dia em que ele me perguntou se eu era gay pela primeira vez:
"- Posso saber que história é essa que você e o Bruno são namorados?
Meus olhos automaticamente ficaram arregalados e o meu coração foi parar no meio da minha garganta.
- Caio, você é viado?”.
E não esquecia também o dia em que ele ficou ouvindo a minha conversa atrás da porta. Foi nesse dia que ele descobriu quem de fato eu era. E foi nesse dia também que ele me aceitou, sendo eu gay ou não.
“Coloquei o celular cuidadosamente no meio da cama, levantei e comecei a andar pro banheiro, mas parei automaticamente quando abri a porta do quarto e vi o Rodrigo parado feito uma estátua no meio do corredor.
- Rodrigo? – me surpreendi.
- Muito bem, Caio!!! Até quando você pretendia ficar mentindo pra mim???”.
Me lembrei também que devido eu ter escondido a verdade do meu melhor amigo, ele acabou ficando chateado comigo:
“- Você foi um falso, Caio. Um falso. E eu que pensando que você confiava em mim. Como eu sou idiota!
- Rodrigo eu posso explicar!
- Explicar o quê? – ele parecia muito chateado. – Já está bem claro o que aconteceu. Você não confia em mim!”.
Esconder a verdade dele talvez tenha sido um dos meus maiores erros. Eu odiava deixar o Rodrigo chateado e sabia que, independentemente de qualquer coisa, eu o estava chateando naquele exato momento, com a minha saída da república. Isso me deixava culpado, da mesma forma que me deixou culpado no passado.
Porém, eu sabia que ele ia aceitar a minha decisão, como já até tinha aceitado. Foi assim no passado e daquela vez não seria diferente.
“- Você ainda está precisando daquele abraço que você disse pro seu amigo? – ele perguntou, depois de muito tempo.
- Muito – falei baixinho.
- Não sei se é a mesma coisa, mas... Serve o meu? – ele parecia um pouco tímido.”.
Sempre lindo, sempre fofo, sempre um gentleman, sempre um anjo... Aquele era o Rodrigo, aquele era o Diguinho, aquele era o meu amigo, aquele era o meu irmão.


- Me abraça com muita força – eu falei baixinho. – E não me solta nunca mais!
- Nunca mais... – a voz dele quase não saiu.
Eu queria aproveitar ao máximo a presença dele, porque não sabia dizer se haveria alguma mudança na nossa amizade. No que dependesse de mim, não, mas isso só o tempo diria. E eu não sabia se o tempo seria meu amigo ou não. Por isso, era melhor aproveitar muito, aproveitar ao máximo.
- Obrigado... Por ser tão bom comigo... – eu falei.
Ele não falou nada e continuou chorando. Eu já estava sem fôlego e tinha a impressão que nada passava pela minha garganta, tamanho o nó que eu estava sentindo.
Continuei focado no Rodrigo e lembrei do dia em que ele salvou a minha vida. Aquele dia fatídico, aquele dia em que eu fui um completo idiota, um completo imbecil e que quase coloquei um ponto final em tudo. E tudo aquilo por culpa do Bruno.

Resultado de imagem para irmao

“- VOCÊ É MALUCO? VOCÊ É LOUCO? VOCÊ ENLOUQUECEU...?”.
Rodrigo tornou-se essencial na minha vida à partir desse momento. Ele brigou tanto comigo, me ajudou tanto, me colocou pra cima de uma forma que ele nunca mais sairia da minha vida, nunca mais mesmo.
Eu devia a minha vida à ele, da mesma forma que ele devia a vida dele à mim. Lembrei do dia em que cheguei em casa e que o vi caído no meio do quarto, totalmente inerte e quase sem vida. Aquele foi um dos dias em que eu mais fiquei preocupado em toda a minha vida.
“- RODRIGO...?”.

Resultado de imagem para amor

- Meu irmão Caio... Eu te amo!
- Obrigado por ter me aceitado como eu sou...
- Não...
- Obrigado por ter me aceitado como eu sou...
- Fala...
- Obrigado por ter salvo a minha vida...
- Nada...
- Por ter salvo a minha vida...
- Cala a boca, Caio... Não fala nada... Me abraça, por favor...
- Obrigado por ser tão lindo comigo, obrigado por me aceitar com meus defeitos...
- Eu te amo, maldito...
- Obrigado por ficar no lugar do meu irmão, obrigado por ocupar o vazio que existia dentro de mim...
- Você É meu irmão, Caio!
- Obrigado por me dar seus pais, por me dar a sua família, obrigado por ser a minha família...
- Eu é que tenho que agradecer...
- Obrigado por você existir, por você ter me convidado pra morar aqui...
- Obrigado por você me entender...
- Obrigado por você gostar tanto de mim...
- Claro que eu gosto de você, Caio...
- Obrigado por me aconselhar, por se preocupar comigo...
- Eu sempre vou me preocupar com você, sempre!
- Obrigado por aceitar o Bruno...
- Esse desgraçado...
- Obrigado por me ajudar tanto...
- Ele vai roubar você de mim...
- Obrigado por pensar no meu futuro, Digow...
- Ele vai roubar você de mim...
- Obrigado por me inscrever no ProUni...
- Mas ele me paga...
- Obrigado por me ajudar na faculdade...
- Ele me paga...
- Obrigado por ser tão amigo, Diguinho...
- Eu te amo, Caio...
- Obrigado por ser tão bondoso, por ser tão fiel, por ser tão leal...
- Eu é que agradeço por tudo...
- Pela sua amizade, pelo seu carinho...
- Pelo seu amor... Eu te amo!
- Eu também te amo, eu sempre te amei e sempre vou te amar...
- Eu sempre te amei também, saiba disso...
- Nunca quero perder a sua amizade, nunca!
- Eu também não quero perder a sua amizade nunca, nunca!
- Pra sempre meu amigo...
- Pra sempre meu irmão...
- Juntos, por toda a eternidade...
- Por toda a eternidade – ele repetiu a minha frase, aos prantos.
- Eu nunca tive um amigo como você!
- Eu também não. Você é mais que um amigo, você sabe disso.
- Me perdoa por qualquer coisa...
- Eu é que te peço perdão!
- Pelas minhas esquisitices...
- Pela minha chatice...
- Eu é que sou chato, não você...
- Não é não...
- Me perdoa pelas brigas...
- Eu é que te peço perdão, Caio...
- Me perdoa pelas vezes em que eu desconfiei de você...
- Eu também te peço perdão...
- Pelas vezes que eu menti pra você...
Ele fungou.
- Pelas vezes em que eu não te ajudei...
- Caio... Cacs...
- Me perdoa por tudo... Pelos meus defeitos...
- Você não tem defeitos, mano!
- Pelas minhas broncas...
- Cala a boca, vai?
- Por favor... Me perdoa... Eu te amo, Rodrigo!
- Eu também te amo... Eu também te amo...
Nos calamos e curtimos o abraço. Aquele abraço caloroso, aquele abraço apertado. Aquele sentimento que eu estava sentindo estava cada vez maior, cada vez mais forte. Eu amava o meu amigo com todas as minhas forças, da mesma forma que amava o Bruno.
- Eu... Nunca vou esquecer o que você fez por mim, Rodrigo. Se eu cheguei aqui, foi graças à você!
E era verdade. Se ele não tivesse me levado pra república, eu não conheceria os meninos, não teria a amizade do Fabrício e do Vinícius...
E se eu não tivesse a amizade do Fabrício eu não teria conhecido a Jana, se eu não tivesse conhecido a Jana, eu não teria ido trabalhar na loja e não estaria ganhando bem como estava.
Se não fosse o Rodrigo, eu não teria feito faculdade, não teria um futuro pela frente, não estaria fazendo inglês...
Ele foi a pessoa que me proporcionou tudo o que tinha, ele foi um dos primeiros que me estendeu a mão e eu nunca esqueceria isso, nunca!
Já estava na hora de ir. Eu precisava sair, precisava ir ao encontro do Bruno.
- Eu vou sentir tanto a sua falta, irmão...
- Eu também, mas eu juro por tudo o que há de mais sagrado: nós nos falaremos todos os dias. Eu prometo.
Ele acariciou meu rosto. Eu limpei o dele. Estava muito molhado.
- Promete que nunca vai esquecer de mim?
- Nunca – eu prometi. – Não esquece de mim também?
- Nunca. Você mora aqui, ó... – meu Rodrigo colocou a mão no peito.
- Você também mora aqui... – eu coloquei a mão dele no meu peito. – Eu te amo!
- Eu te amo muito! Nunca esqueça disso.
- Você também: nunca esqueça que eu te amo muito.
Voltamos a nos abraçar, novamente chorando. Eu lembrei das nossas brincadeiras e lembrei que nós quase ficamos ali mesmo, naquela cama, naquele quarto. E como isso poderia ter sido diferente...
Se ele tivesse topado, se ele tivesse deixado as coisas acontecerem, provavelmente nada daquilo estaria acontecendo.
Se o Rodrigo tivesse me dado uma chance, uma só, eu teria largado tudo e teria ficado com ele.
O Rodrigo seria a única pessoa capaz de me fazer esquecer o Bruno – isso no passado – e isso poderia de fato ter acontecido. Só não aconteceu porque ele não quis.
- Te amo.
- Eu também te amo – respondi imediatamente. – Não chora mais, por favor.
- Eu não consigo segurar a emoção porque foram muitos anos juntos, né?
- Verdade. Só que a gente sabia que isso aconteceria, não sabia?
- Claro que sim. Eu tinha certeza que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde.
- Você não está bravo, está?
- Não, Cacs! Eu entendo. Só estou chateado por sua partida, só isso. Não vai ser a mesma coisa...
- Eu sei que não, mas a gente precisa passar por isso. Vai ser bom pros dois. E eu tenho que seguir a minha vida.
- Eu sei disso, mano. E eu te apoio, tá? Embora seja muito difícil pra mim.
- Pra mim também, Digow. Pra mim também!
Eu levantei, peguei as minhas coisas, olhei pro quarto novamente e saí. Ele foi logo atrás de mim, ainda chorando, porém controladamente.
- Eu vou te ligar todos os dias, prometo!
- Eu também...
- Quer ajuda, Caio? – Vinícius foi ao meu encontro.
- Quero... Por favor...
- Me dá... Mais um abraço?
Eu soltei tudo e o agarrei, no corredor mesmo. Ele ainda estava bem triste. Era difícil!
- Te amo – falei baixinho.
- Eu sei! Também te amo, peste...
- Me perdoa, tá? Me perdoa.
- Te amo – ele falou. – Vai com Deus!
- Amém! Eu venho dormir aqui essa semana, tá?
- Jura?
- Juro! Juro por Deus.
- Me abraça mais forte?
- Meu Deus, que carência é essa?
- Eu já... Estou com saudades...
- Eu também! Você me leva até o carro? E promete que não vai mais chorar?
- Vai passar! – ele riu pela primeira vez.
Nós descemos. Descemos e enfim eu pude ver de novo o meu namorado. Ele estava conversando com o Vinícius e ficou surpreso com o Rodrigo.
- Você está bem? – Bruno se dirigiu ao engenheiro civil.
- Eu só vou falar uma vez, Bruno – Rodrigo foi bem firme nesse momento. – Se você não cuidar bem do MEU irmão postiço, eu quebro todos os seus dentes e te mato, entendeu?
- Eu vou...
- Cala a boca que eu não terminei! Não queria que ele fosse, ele sabe disso... Mas já que ele vai... Espero que seja por um bom motivo. Se eu souber de qualquer coisa... Qualquer coisa que você faça de errado com ele... Você morre. E eu não to brincando!
- Está me ameaçando?
- Estou! Estou te ameaçando sim! Cuida dele como você cuida da sua vida, senão você está perdido!
- Calma, Digow – eu fiquei amedrontado.
- Calma nada! Se ele te machucar, se ele te maltratar, eu quero que você volte imediatamente, entendeu? Entendeu?
- Sim...
- Acho bom! Se cuida então...
- Eu vou me cuidar... Me abraça de novo?
Nem precisei pedir outra vez. Ouvi o Bruh bufar atrás de mim. Vinícius suspirou e Rodrigo fungou.
- Eu te amo – ele falou. – Eu te amo muito.
- Eu também te amo, cachorro da minha vida.
- Au, au.
Eu me afastei e fitei aqueles olhinhos que estavam vermelhos. Rodrigo estava mais calmo. Aparentemente.
- O viado não foi ainda? – ouvi a voz do Éverton por perto. – Pensei que ele já tinha saído há um tempão.
Eu nem liguei pra provocação, mas o Rodrigo sim. Meu melhor amigo simplesmente deu um soco no meio do rosto do nanico e esbravejou em alto e bom som:
- LAVA A SUA BOCA COM SABÃO ANTES DE FALAR ALGUMA COISA DO MEU IRMÃO, ENTENDEU?
Éverton tentou revidar, mas Vinícius o segurou e o obrigou a entrar em casa. Rodrigo ficou soltando fogo pelo nariz.
- Não precisava ter feito isso!
- Eu não deixo ninguém falar mal de você perto de mim, você sabe disso!
- Não precisa me defender, eu sei me defender sozinho!
- Ele me paga por ter falado mal de você. Ele me paga.
- Não faz nada, tá? Promete?
- Prometo – ele abaixou a cabeça.
- Eu já vou, tá bom?
Rodrigo ficou calado de novo.
- Te amo, Digow Bells.
- Eu te amo também, Cacs! Vai com Deus.
- Fica com Ele.
Nos abraçamos de novo, pelas última vez. Ele falou mais algumas coisas e sua voz voltou a ficar embargada.
- Te a-amo.
- Também – falei baixinho. – Meu maninho!
Dei um beijo bem demorado no rostinho dele. Foi um beijo salgado por causa das lágrimas dele. Esse foi o nosso último contato físico naquela noite. Depois desse beijo, eu entrei no carro, coloquei o cinto de segurança e esperei o Bruno sair.
- Vai com Deus. Vai com Deus. E você sabe que... A casa é sua... Sempre sua...
- Obrigado por tudo, tá? Por tudo!
- Não tem que... Agradecer... Cuida dele, Bruno!
- Sempre. Eu prometo que vou cuidar bem dele. Fica tranquilo, Digow.
- Beijo, mano! Eu te amo!
- Eu também te amo, Cacs.


Bruno ligou o motor. Era a hora de dar tchau de vez, era a hora de partir e deixar aquele ciclo pra trás. O melhor ciclo da minha vida iria fazer parte do passado. Isso era muito difícil.
E quando o carro partiu, eu virei e fiquei olhando pro Rodrigo. Ele ficou me olhando também, com os olhos desesperados. Aquela era a consumação que faltava. Nós enfim estávamos separados.
- Posso saber que história é essa de “eu te amo”? – a voz do Bruno entrou pelo meu ouvido.
Eu não respondi. Só fiquei olhando pra trás, olhando pra ele e pra minha antiga casa até ambos desaparecerem no horizonte. Como eu estava me sentindo vazio... E muito vazio... Parecia que existia um abismo dentro do meu peito...
- Caio?
- Hum?
- Que história é essa de “eu te amo”?
- Ah, Bruno... Eu amo o Rodrigo, você sabe disso!
- E que história é essa de “meu”? Quem disse que você é dele? Você é meu!
- Eu sei, mas eu também sou dele. Sou irmão dele, sou melhor amigo... E ele está sofrendo muito, coitadinho.
- Coitadinho de mim.
- Amor... Eu não to com ânimo pra brigar hoje, tá? Hoje tem que ser um dia feliz. Agora tem que ser feliz. A tristeza ficou pra trás.
- Desculpa, amor. Eu só estou com ciúmes. Prometo que farei o possível para deixar você feliz, tá?
- Sei disso, anjo. Eu sei disso!
Eu não fiz outra coisa a não ser pensar nele até o Bruno parar no estacionamento do prédio. Como será que ele estava? Será que ainda estava chorando? Será?
- Não vem? – Bruno perguntou, já fora do carro.
- Claro que eu vou!
Nós pegamos as minhas coisas e subimos, pelo mesmo elevador de sempre. Ao chegarmos no apartamento, logo de cara eu me surpreendi com um enorme cartaz onde estava escrito: “BEM-VINDO, AMOR DA MINHA VIDA!!!”. Só por isso eu fiquei todo emocionado.
- Bruno...
- Você nem viu nada, Caio!
Eu fui entrar, mas ele não deixou. Bruno foi quem colocou todas as minhas coisas pra dentro. Eu não estava entendendo o que estava acontecendo.
- Eu quero que as coisas sejam feitas da forma correta, amor.
- Hã? Não entendi nada!
- Não? Então você já vai entender.
Ele me deu um beijo de leve e para a minha total surpresa, Bruno me pegou no colo, como um noivo pega uma noiva na hora da noite de núpcias.
- É assim que as coisas tem que ser.
- Bruno... Me põe no chão, seu bobo! – dei risada.
- Não! De jeito nenhum. Bem-vindo ao seu novo lar, Sr. Caio Monteiro da Silva e Silva! Bem-vindo à sua nova vida, bem-vindo à sua nova realidade, bem-vindo à sua vida de casado... Bem-vindo ao meu mundo...
- Bruno...
- Enfim sós!
Ele fechou a porta da sala e foi me levando até o quarto e nós nos beijamos no percurso. Eu já estava ficando feliz novamente.
E quando chegamos no quarto, eu me surpreendi ainda mais. A cama estava vestida em um lençol de seda vermelho e por todos os lados havia velas aromatizadas, todas na cor vermelha. Eu fiquei encantado com aquele quarto.
- Que lindo!!!
- Gostou? É pra você!
- Nossa... Ficou muito lindo... Muito lindo mesmo!!!
Bruno me jogou na cama e subiu no meu corpo. Nós nos beijamos por um longo período de tempo e só depois que esse beijo acabou foi que ele falou:
- Eu quero que esse dia fique pra sempre na nossa memória e quero também que a gente seja muito feliz nessa nova vida, Caio.
- Eu também quero isso, amor.
- Meu Caio...
- Meu Bruno...
- Meu amor...
- Meu marido... Meu homem...


Nenhum comentário: