terça-feira, 7 de abril de 2015

capítulo 85²

C
onfesso que já estava esperando por algo do tipo. Eu sabia que meu namorado não ia deixar o meu aniversário passar em branco, mas não pensei que ele fosse agir tão rápido, tão imediatamente.
- Mas o que significa isso, gente? – suspirei



- Você acha que nós íamos deixar o seu aniversário passar em branco? – Bruno foi até onde eu estava.
Lógico que ele foi o primeiro a me dar os parabéns. Eu o abracei, fechei os olhos e ouvi com muita atenção as palavras que ele me transmitiu, em tom baixo, para que só nós dois pudéssemos ouvir:
- E desejo que o nosso amor aumente cada dia mais, para que eu possa cuidar de você não só hoje, mas em todos os dias da minha vida. Te amo!
- Obrigado, anjo! Eu também te amo, te amo muito!
Soltei o Bruno e fui falar com o povo. Cumprimentei um a um e fui agradecendo pelos votos de felicidade que eles estavam me transmitindo:

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- Valeu por ter vindo, Alexia! Obrigado mesmo.
- Não ia deixar passar em branco e não ia perder um bolinho delicioso desses, né? E eu aproveito para ver os meus netinhos lindos. Onde eles estão?
- Com certeza na lavanderia.
- Vem, Mila. Vamos ver os seus sobrinhos.
- Cachorra! Oi, Milinha...
- Oi – a menina falou, timidamente. Ela estava lindíssima.
- Que linda! Obrigado por ter vindo, Diego!
- Não ia perder a cara de pamonha que você ia fazer quando nos visse aqui, Caio.
- Quer dizer que foi por isso que você veio, né? Cachorro!
- OI, AMIGO! – Janaína me agarrou com tanta força que quase quebrou meus ossos. – FELIZ ANIVERSÁRIO!!!

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- Eu não sou surdo – fiquei sem ar com o abraço dela. – E quero continuar respirando se não for te pedir muito!
A negra me balançou como sempre fazia e apertou ainda mais o nosso abraço. Eu fiquei verdadeiramente sem ar.
- Obrigado... Você pode me soltar agora?
- INGRATO! VIM AQUI TE DAR UM ABRAÇO E VOCÊ RECUSA?
- Não recuso, só preciso dos meus pulmões pra respirar. Que alívio – soltei o ar pela boca e respirei fundo.
- INGRATO!
Rodrigo foi o próximo. Ele só me abraçou em silêncio, não precisou falar nada. Eu sabia o que ele estava sentindo só por aquele abraço. O silêncio dele queria dizer muita coisa e eu entendi perfeitamente o recado.
- Obrigado por ter vindo – beijei o rosto dele e fui pegar o Nícolas. Pela primeira vez o neném pediu pra ir pro meu colo. – Oi, sobrinho mais lindo do mundo!
- Dá parabéns pro tio, filho! – mandou Fabrício, mas o menino não falou nada. Ele ainda não sabia falar muitas coisas.
- Ele ainda é novinho, deixa ele.
- Se ele não fala, falo eu! Parabéns, companheiro!
- Muito obrigado, Fabrício! Obrigado por ter vindo e por ter trazido esse lindo também!
- Ele não poderia faltar.
- Eu te mataria se ele faltasse – falou Bruno.
E por fim eu falei com o casal mais lindo do Rio de Janeiro: Vinícius e Bruna. Ela me abraçou, beijou meu rosto e me entregou o presente antes de todo mundo.
- Não precisava, Bruna...
- Precisa sim. Você e o xará nunca deixam o nosso aniversário passar em branco.
- É verdade – concordou o Dr. Vinícius. – Nós compramos lá na Argentina o seu presente.
- Sério? É um presente internacional?
- Uhum.
- Chupa essa, Rodrigo!
- Grande coisa – ele estava sentado no sofá, com as mãos atrás da cabeça. A Gertrudes estava bem pertinho dele e ele nem tinha percebido.
A minha micro festinha foi completa no sentido guloseimas. Tinha bolo, refrigerante, brigadeiro e beijinho. Só não tinha salgados, mas ninguém sentiu falta deles. Pelo menos eu não senti.
Por ser tarde, eu cortei o bolo rapidinho, porque o povo queria ir embora. Eu reclamei com o Bruno, ele poderia ter feito a festinha num dia mais calmo, num horário mais propício.
- A gente queria que fosse no seu aniversário – explicou Rodrigo. – Não importa o horário e todo mundo concordou. Agora me dá mais um pedaço desse bolo que está uma delícia!

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O bolo era de chocolate, um bolo normal de chocolate, mas o recheio era de laranja com chocolate amargo. Ficou um casamento perfeito aquele recheio. E a cobertura era um misto de chocolate meio amargo com chocolate ao leite que ficou simplesmente incrível. Aquele bolo foi um dos melhores que eu já tinha provado em toda a minha vida.
- Mamãe – ouvi a voz da Camila. Ela estava olhando pra Gertrudes.
- É a sua sobrinha, minha vida!!!
- Eu vou é comprar um quilo desse bolo – falou Fabrício. – Bom demais!
Eu notei que o Nícolas e a Camila não paravam de se olhar um segundo sequer. Quando o Fabrício se mexia, o menino virava a cabeça pra olhar pra menina. O que estava acontecendo?
- Acho que esses dois se gostaram – comentei. – Pintou um clima!
- Tá louco? – Diego já foi ficando enciumado.
- Não percebeu que eles não param de se olhar?
- Você gostou dele, filha? – Alexia roubou a menina do colo do pai.
- Soltem eles, deixem eles brincarem! – pediu o Bruno.
- Quer brincar com ele, amor? – perguntou a minha amiga, colocando a filha no chão.
- Vai brincar com a Camila, campeão! – Fabrício também soltou o Nícolas no chão.
Os meninos olharam pros pais e depois se olharam de novo. Acho que eles estavam se achando estranhos no meio de tanto adulto.
- Filma, filma, filma – pedi.
Camila foi quem teve atitude na coisa. Ela andou até o menino, parou e ficou olhando pra cara dele com curiosidade.
- Oi – ela falou.
Todo mundo se derreteu. Principalmente a Alexia, o Diego e o Bruno.
- Oi! – respondeu o menino.
- QUE LIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIINDOS – Bruno não aguentou e se derreteu todinho.
- Ganhou um genro, amiga – Janaína prestava mais atenção no bolo do que no resto das coisas. – Ai que delícia de bolo.
Eles queriam era brincar. Os meninos, por serem filhos únicos, talvez não tivessem contato com outras crianças e por isso tiveram afinidade. Nós filmamos aquela cena. Foi impagável e linda de se ver.
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Os dois viram novamente a Gertrudes na lavanderia e ficaram brincando com ela. Bruno ficou supervisionando pra não acontecer nenhum acidente.
- Pena que ela saiu do sofá – Bruna suspirou.
- Deixa essa pulguenta, fedorenta e sarnenta longe de mim – Digow bufou.
Meus gatinhos já estavam ficando velhinhos. Eles já não eram bebês, mas também não eram adultos. Eles deveriam estar na adolescência, mas já estavam ficando meio safadinhos. Era a hora de castrar o Enzo.
E de repente nós ouvimos os meninos gargalhando. Eu fiquei curioso pra saber o que tinha acontecido.
- Que é isso? – fui perguntar.
- A Gertrudes deu um tapa na cara do Enzo – Bruno gargalhou junto com a Camila e o Nícolas.
- Por que??? – me choquei e fiquei com raiva.
- Porque ele foi cheirar a bunda dela! Ela não gostou!
- ENZO! QUE NOJO, FILHO!
Eu peguei o gato e o coloquei no colo. A Camila e o Nícolas não paravam de rir um segundo sequer.
- Ela te bateu, foi amor? Não deixa não! – beijei o Enzo na cabeça. – Bate nela também!
- Bem feito – falou Rodrigo. – Quem manda ele ser atrevido?
- Nossa, Digow! – exclamou Bruno. – Nunca pensei que eu fosse concordar com você!
E então todos resolveram ir embora ao mesmo tempo. Já passava da 1 da manhã e no dia seguinte todos nós teríamos que trabalhar e alguns iriam pra faculdade, inclusive eu.
- Obrigado por terem vindo! – agradeci novamente. – E obrigado pelos presentes!
- Felicidades – falou Fabrício.
- Parabéns – disse Vinícius.
- Saúde e paz – desejou Rodrigo.
- Não se atrase amanhã, hein? – pediu Janaína.
- Aqui você não é minha chefe, cachorra. Só de raiva vou me atrasar uma hora!
- Eu e o Jonas te matamos se você fizer isso.
- Beijo, amados! Obrigado por terem vindo.
Quando as portas do elevador fecharam, eu fechei a porta do apartamento e me voltei para meu namorado. Ele não precisava ter aprontado aquilo.
- Obrigado por ser tão lindo comigo – fui até ele e peguei no queixo dele.
- Não tem que agradecer, mas se me der um beijo eu ficarei muito feliz.
Claro que eu dei. Vários beijos. Ele foi me levando até a cama e lá as coisas aconteceram naturalmente. Foi a minha primeira vez com 23 anos de idade.

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Quando saí da faculdade, fui direto pra academia. Mesmo sendo meu 23º aniversário, eu resolvi ir treinar porque estava em débito com o meu personal, que já tinha voltado de férias. Eu só não estava esperando que o Felipe lembrasse do meu dia:

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- Parabéns, muitos anos de vida, muita saúde e dinheiro pra você, viu?
- Muito obrigado, mas como você soube?
- Seu cadastro. Eu mexi nele hoje por acaso.
- Coincidência, né?
- Pois é! Mas não vou pegar leve por ser seu dia, já aviso logo.
- Por que eu não fiquei surpreso com isso? Me surpreenderia se você pegasse leve, Lipe. Isso sim!
- Não sou tão mau assim, Caio. Olha a imagem errada que você faz de mim.
Imagem errada, né? Até parece! O Felipe nunca pegava leve comigo, ele sempre queria mais, mais e mais... Ele era um carrasco, isso sim.
Saindo da academia, fui pro shopping, almocei e só depois fui pro trabalho. Eu estava irritado, porque merecia ficar de folga naquele dia, mas é claro que os gerentes não deixaram. Infelizmente.
Entrei e já fui ovacionado por todos do período da manhã. Eles cantaram parabéns e até os clientes entraram no embalo. Eu fiquei muito envergonhado, de verdade.
- Vou matar vocês – falei.
- Pensou que seria só eu que pagaria mico? – Janaína riu de mim.
Ela falou isso porque alguns dias antes foi o aniversário dela e aconteceu a mesma coisa. Houve uma festa surpresa e tudo. Ela ficou brava, mas depois da vergonha passar, curtiu e aproveitou. Nós compramos um celular de última geração para a morena e ela ficou louca com isso.
Pensei que a comemoração se resumiria a isso, mas não. Assim como aconteceu com a Jana, os funcionários proporcionaram uma festa surpresa pra mim na sala de reuniões, com bolo, doces e guloseimas em geral. A mesma coisa que acontecera no meu apartamento naquela madrugada.
- Desse jeito vou engordar 15 quilos por comer tanto bolo – Janaína caiu sentada com o braço na barriga.
- Desculpa, mas gostosa do jeito que você está você nunca vai ficar gorda – falou um funcionário.
Eu acho que nunca vi a Janaína tão sem graça como ela ficou naquele momento. A negra, que não passava de morena, ficou foi vermelha ao extremo. Parece que todo o sangue dela foi parar na cabeça. Eu ri muito.
O bolo daquela tarde era bem diferente do da madrugada. Foi comprado em supermercado e não era gostoso como o outro. Não era ruim, mas também não era aquelas maravilhas. Sobrou um monte e ficou tudo na geladeira da cozinha, para todos comerem na hora que quisessem. Eu ganhei um vale-compras no valor de R$ 200,00 de uma loja de variedades. Fiquei bem feliz com aquele presente.
- Ei, amigo... – Alexia foi falar comigo. – O que você ganhou do Bruno, hein?
- Que curiosidade é essa, Alexia?
- Anda, fala logo! Estou curiosa mesmo!
- Ganhei uma calça de marca. Linda por sinal!
Meu aniversário já tinha passado e a minha vida já tinha voltado ao normal. A rotina de estudos, academia, trabalho, autoescola, saídas e namoro estava me deixando com o corpo e a mente cada dia mais cansados.
- Bruno? Me faz um favor, por favor?
- O que foi, amor? Você está bem?
- Estou com muita dor de dente, amor. Pode trazer um remedinho pra mim, por favor?
- Ai, ai, ai... Dor de dente de novo? Quando o senhor vai no dentista?
- Prometo que se não passar essa dor até sábado, eu vou após a autoescola.
- Eu vou com você. Quero fazer um check-up também. Já volto com seu remédio.
- Obrigado, amor.
Eu tomei o analgésico, mas a dor não diminuiu em nada. Era mais uma vez o “dente do juízo” que estava nascendo. Eu precisava mesmo procurar um dentista, porque aquilo já estava me deixando bem incomodado.
- Caio... Sorri?
- Hã? Pra quê?
- Anda, sorri! – mandou o meu namorado.
Eu sorri, mas não entendi nada.
- Caio... Seus dentes estão entortando!!!
- HÃÃÃÃ??? – me choquei. – Mentira???
- Não! Vai ver no espelho. Nossa, está tudo tortinho! Nem tinha percebido ainda...
Eu fui e conferi o que ele estava falando. Realmente, meus dentes estavam ficando tortos. Tanto na parte superior como na parte inferior. Os dentes da frente já estavam ficando um na frente do outro.
- Não creio! – fiquei pasmo. – Agora eu vou no dentista de qualquer jeito!

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A mudança não era tão aparente, tanto é que eu nem tinha notado ainda, mas quando passei a língua com mais calma, pude perceber o quanto meus dentes estavam desalinhados. Como eu não percebi aquilo antes?
- Tem que ir mesmo. Acho que entortou desse jeito por causa dos dentes que estão nascendo.
- É, deve ser. Que porra! Agora fodeu tudo, viu?
- Será que vai ter que colocar aparelho?
- Não sei! Vamos ver.
Fiquei irritado com o que estava acontecendo. Era só o que me faltava! Eu não tinha tempo nem pra respirar, como ia encontrar tempo pra ir ao dentista regularmente caso fosse necessário colocar aparelho?
Quando o sábado chegou, eu fui primeiro pro curso de inglês e depois pra autoescola. Eu ainda estava fazendo algumas aulas de direção, mas já eram as últimas.
- Agora você está muito melhor – falou Júnior, o instrutor.
- Obrigado, Júnior. Eu estaciono aqui?
- Pode ser. Quero só ver como vai estacionar aí.
Essa era a única parte que não estava boa, mas eu estava treinando bastante. Pelo menos uma vez por semana o Bruno me ajudava, emprestando o carro para eu treinar a baliza. Será que eu ia passar de primeira nesse teste?
- Sábado que vem é a última aula e na segunda-feira é a baliza. Não esquece disso, pelo amor de Deus.
- Pode deixar, Júnior. Eu não vou esquecer.
Já era para eu estar com a minha CNH em mãos, mas ainda não estava. E isso aconteceu devido a minha viagem no meio do ano, devido a um problema que teve na autoescola e devido a eu só poder fazer as aulas de direção aos sábados. Por isso estava demorando tanto. Já fazia 6 meses que eu estava tentando tirar a carta de motorista.
- Pronto? Podemos ir? – perguntou o meu namorado.
- Podemos sim, amor.
- E como foi?
- Bem. Ele me elogiou. Disse que eu estou bem melhor.
- Que bom, amor. Eu sabia que você ia se dar bem. Mas deixa eu te perguntar, já está tudo regularizado com o imóvel?
- Sim, sim. Eles já resolveram tudo.
Bruno perguntou isso porque em junho a autoescola foi fechada por irregularidades no imóvel da sede. O local estava cheio de rachaduras e a defesa civil resolveu interditar o local. Nada que uma boa reforma de 30 dias não resolvesse o problema. Esse foi um dos motivos do atraso na retirada da minha CNH.
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Meu namorado e eu fomos à dentista do Rodrigo, que ficava em Copacabana. Ela era uma mulher de mais ou menos 40 anos que parecia ser bem boazinha.
- Vamos lá, Bruno? – chamou a doutora.
- Sim! Ele pode ir comigo?
- Pode, claro. Não me diga que isso tudo é medo?
- Não – ele riu. – Não é medo não.
- Ah, então tá bom!
Eu acompanhei a consulta e a médica disse que estava tudo bem com a saúde bucal do meu namorado. Aparentemente ele não teria problema nenhum com os dentes do siso, mas mesmo assim ela resolveu pedir uma radiografia. Eles poderiam estar escondidos e poderiam querer aparecer mais pra frente. Era melhor tirar a dúvida.
- E onde eu tiro essa radiografia?
- Tem uma clínica aqui perto. É lá onde você vai tirar. É só ligar nesse telefone e agendar.
- É caro?
- R$ 80,00.
- Que absurdo!!! – meu namorado reclamou.
- Mas é só uma vez, não se preocupe.
- Tudo bem, tudo bem. É só?
- Sim! Agora é sua vez, Caio. Espera só eu esterilizar os equipamentos e eu já te chamo, está bem?
- Combinado, Dra. Patrícia.
- Sem o doutora, por favor. Podem me chamar só de Patrícia ou de Patty.
- Como quiser então, Patrícia. Com licença.
- Podem esperar aqui fora mesmo.
Bruno e eu esperamos por uns 5 minutinhos e depois ela me chamou. Eu deitei na cadeira e tremi na base. Fazia anos que eu não deitava numa cadeira de dentista.
- Abre o bocão!!! Vamos ver como estão esses dentinhos?
- Vamos lá!
Bruno também acompanhou a minha consulta e o que eu temia foi dito logo de cara:
- Hum... Temos um probleminha aqui no fundo, Caio!
- Que probleminha? – perguntei, todo nervoso.
- Seus dentes do siso estão nascendo. Até aí tudo bem. O único problema é que eles não têm espaço físico para sair, por isso estão empurrando seus dentes pra frente e eles estão ficando tortos. Você precisa tirá-los.
- Ah, sério? – fiquei todo irritado.
- Sim! Precisamos tirá-los, antes que eles piorem a saúde dos seus outros dentes.
- Droga! E é muito complicado tirar?
- Não sei te dizer se será complicado. Eu preciso de uma radiografia também pra analisar como eles estão. Um já saiu por completo e não precisa ser extraído, mas os de baixo precisam.
- E quanto é pra arrancar?
Quase tive um enfarto. A mulher queria cobrar R$ 200,00 por dente. Eu fiquei louco!
- HÃÃÃÃ?
- Mas eu parcelo em até 4 vezes, não se preocupe.
Mesmo assim! Mesmo ela parcelando eu achei caro. Por que era tão caro?
- Faça a radiografia, volte e nós falaremos sobre tudo.
- E fora isso está tudo bem? Não tenho nenhuma cárie?
- Não, não tem não. Está tudo perfeito. Vocês dois precisam apenas fazer uma faxina com flúor e fica tudo certo.
- Fechado então – eu peguei a guia da radiografia. – Nós faremos a radiografica e voltaremos em breve.
- Estarei esperando os dois!
- Caio?
- Que foi, amor? – dei um beijinho no rosto dele.
- Eu estive pensando...
- Em quê?
- Na minha saída do Metrô Rio...
- E aí? O que você decidiu?
- Decidi que vou sair de lá.
- Você tem certeza? Você sabe que esse seria um caminho sem volta.
- Acho que sim. Eu pensei muito e prefiro arriscar. Eu não posso ficar com essa dúvida dentro de mim, eu não posso ficar pensando que “se eu tivesse ido”... Sei lá, algo dentro de mim pede para eu ir embora, arriscar a sorte.
- Eu entendo!
- Sem contar que eu vou ganhar o dobro, fora horas extras, fora benefícios... Vai ser muito melhor pra mim e pra você também.
- Eu não te obrigo a nada, amor. Eu estou contigo indepentendemente do que acontecer.
- Obrigado por me apoiar, tá bom?
- Eu sempre vou te apoiar – dei mais um beijo nele. – Independente de qualquer coisa.
E eu ia mesmo. Independente do que acontecesse, eu estaria com o Bruno. Se ele saísse do metrô e não se desse bem na metalúrgica, nós veríamos uma forma, uma alternativa. Se ele saísse e desse certo, seria felicidade na certa.
- E quando você pretente fazer as entrevistas? – perguntei.
- Ah, ainda não sei. Eu tenho que falar com meu amigo, mandar o currículo...
- Faça isso quando você se sentir preparado, amor.
- É isso que eu vou fazer. Obrigado por me apoiar, de verdade.
- Eu sempre vou te apoiar, já falei isso.
Nós fomos dormir porque no outro dia teríamos que fazer a bendita radiografia. Por causa disso, ele iria perder as primeiras aulas da faculdade e eu nem iria para a academia. Tudo por conta dos malditos dentes do siso. Eu já estava ficando com raiva deles.
- Não mexe a cabeça, Caio – mandou a moça da clínica.
- Uhum.
A máquina começou a percorrer a minha cabeça e deu uma volta de 360º em torno do meu rosto. Eu fiquei achando aquilo o máximo.
- Prontinho. É só aguardar que nós já entregamos.
- Tudo bem, obrigado.
Saí da sala e fui ao encontro do Bruno.
- Como foi?
- Tudo bem. Não pensei que fosse assim, tão chique desse jeito.
- É eu também não. Será que demora muito pra ficar pronto?
Meia hora. Esse foi o tempo que demorou.
- Bruno Silva, Caio Monteiro, Gabriela...
- Qual a dificuldade de ver o Duarte? – ele bufou.
Bruno e eu pegamos o resultado de nossos exames e saímos da clínica. Naquele dia ele pediu para eu dirigir até a faculdade. Eu fiquei todo apreensivo, mas aceitei.
- Você já está dirigindo bem, amor. Só precisa aprender a baliza, só isso.
- É! Segunda-feira agora... Eu quero ver como vai ser.
- Tenho certeza que vai dar tudo certo.
Eu dirigi com a maior cautela possível. Não queria que nada acontecesse com o carro do Bruno. Se eu batesse ou arranhasse o automóvel, eu me sentiria péssimo.
- Hum, que lindo! Está dirigindo muito bem – ele me elogiou. – Parabéns!
- Obrigado, anjo!
- Tão lindo no volante... Vou até tirar uma foto!
- Ai, Bruno... Só você mesmo.
Ele tirou uma foto e mais tarde postou nas redes sociais. Meus amigos de Sampa City ficaram loucos com a novidade, principalmente o Víctor.
- Pronto – falei. – Está entregue. Agora é com você.
- Muito bom, mocinho! Estou orgulhoso de você, de verdade.
- Muito obrigado!
- É sério, você está muito bem no volante, bem mesmo.
- Graças a Deus. Um dia eu quero ser que nem você.
- Palhaço! Me dá um beijo?
Nos beijamos, eu saí e ele partiu pro banco do motorista, afinal ele iria entrar na faculdade e eu não.
- Bom trabalho, tá? – ele falou.
- Obrigado! Boa aula e bom trampo pra ti também.
- Te amo.
- Não mais que eu!
- E aí? Deu certo? – eu estava curioso.
- Sim! – a voz do Bruno parecia alegre. – Deu tudo certo, graças a Deus. Eu consegui o emprego!
- Que bom, amor! Parabéns! Eu estou muito feliz por você!!!
- Obrigado, príncipe. Agora eu vou passar no metrô e vou pedir as contas. Seja o que Deus quiser.
- Siga seu coração e lute pelos seus sonhos. Tenha pensamentos positivos que tudo dará certo. Eu tenho certeza disso.
- Obrigado por confiar em mim e por me incentivar a lutar pelos meus objetivos.
- Não tem que agradecer. E quando você começa?
- Segunda-feira. Eu vou levar os documentos ainda hoje.
- Nossa, que rápido!
- É sim. Eles estão precisando com urgência. Eu tenho certeza que só consegui a vaga porque o Kiko me indicou, senão não teria conseguido. Eu não tenho experiência na vaga, né?
- Mas vai aprender e vai fazer o seu melhor. Eu tenho certeza que dará tudo certo. Confio e acredito em você e no seu potencial.
- Você sempre enchendo a minha bola, né?
- Claro! Eu gosto muito de você.
- Eu idem, mas vai lá trabalhar. Em casa a gente conversa melhor.
- Tá bom! Até mais tarde então. Te amo.
- Amo mais. Beijo.
- Outro!
Voltei pra loja e me concentrei no trabalho. Eu precisava atingir a minha meta de vendas naquele mês de setembro e ainda faltava muito para alcançar o meu objetivo.
- Eu trouxe a revista do sex shop. Vai querer?
- Claro que quero, Alexia! Preciso inovar com o meu bofe. Cadê, cadê?
- No armário. Na saída eu te entrego.
- Beleza. Estou esperando.
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Levei a revista pra casa e comprei tudo o que queria. Pedi os meus bons e velhos óleos, pedi as camisinhas com sabor e daquela vez criei coragem e comprei um chicotinho. Será que o Bruno ia gostar?
O curso de inglês daquele sábado foi divertido ao extremo. A Profª Júlia colocou várias músicas e nós fomos obrigados a cantar sem errar a letra, o que foi praticamente impossível.
- Por hoje é só, pessoal! Até a próxima aula!
- Uh, um dia a menos – Rodrigo levantou e pegou as coisas para sairmos da sala.
- Graças a Deus!
Ao sair do curso, eu fui direto pra autoescola e fiz a minha última aula prática. Naquele dia o Júnior complicou a minha vida e fez eu dirigir por várias ruas da cidade, justamente para eu encontrar as situações mais adversas possíveis.
Depois da aula com o carro, foi a hora da aula com a moto. Sim, eu também estava tirando a carta para motocicleta e essa foi a pior parte de todas, porque eu tive que andar em zigue-zague no meio de vários cones, sem derrubar nenhum. Eu consegui.
- Perfeito, Caio! Parabéns!
- Valeu, Júnior.
- Por hoje é só. Agora é só fazer a baliza na segunda-feira.
- Estarei aqui no horário combinado.
- E eu vou te esperar.
- Valeu. Até lá então!
- Até. Bom final de semana.
- Obrigado, pra você também.
Fui até o Bruno e nós partimos pra dentista. Eu estava ansioso para saber como estavam afinal os dentes do juízo.
- Você tem os dentes sim, Bruno. Porém eles ainda não vão nascer, mas se mesmo assim você quiser tirar...
- Não, Patty! Muito obrigado. Pode deixá-los aqui mesmo!
- Então tá – a médica riu. – Sendo assim, você precisa apenas da limpeza e nada mais.
- Eu vou agendar com a sua secretaria.
- Combinado. Agora deixa eu ver o senhor, senhor Caio...
A Dra. Patrícia abriu a radiografia e a analisou com muita calma.
- Hum... Você precisa fazer a cirurgia mesmo. Você tem todos os dentes e o da parte inferior realmente não têm espaço para sair. É por isso que você tem sentido tanta dor.
- Não tenho escapatória?
- Não, Caio. É cirurgia mesmo, infelizmente. Não precisa tirar esse dente que nasceu, ele está perfeito. Porém todos os outros precisam ser extraídos.
- E isso vai me custar R$ 600,00?
- Exatamente, mas como eu disse: eu parcelo. Fora isso, tem também a parte estética. Creio que você não queira ficar com esses dentes assim, né?
- Não! De jeito nenhum!
- Então teremos que colocar aparelho. Para isso, é necessário fazer o molde...
- Por favor, me faz o orçamento total? Eu preciso analisar primeiramente antes de tomar uma decisão.
Pelo que eu estava percebendo, eu iria ficar falido com aquela doutora. Eu ia aderir ao tratamento, desde que não ficasse os olhos da cara. O jeito seria fazer um comparativo com outros profissionais, antes de tomar qualquer decisão.

“- Vó? – eu me surpreendi ao ver a minha avó na república. – O que faz aqui, vó?
- Vim te visitar, meu amor!
- Está fazendo bolo pra mim, é? – sentei na cadeira mais próxima.
- Isso aí. Eu sei o quanto você gosta do meu bolo.
- Gosto mesmo. A senhora está bem?
- Eu estou ótima, meu amor. Morrendo de saudades de você.
- Eu também, vó. Por que não veio mais me visitar?
- É que eu não tive tempo, me perdoe. Mas eu virei sempre que você quiser, sempre que você pedir.
- Quero só ver, hein? Quer ajuda com o bolo?
- Claro que sim. Você sabe que eu sempre adorei a sua ajuda.
Eu ajudei a minha avó a fazer a massa e nós ficamos conversando. Fazia tanto tempo que eu não a via... Eu sentia tantas saudades dela...
- É tão bom estar perto da senhora! – larguei tudo e a abracei.
- É bom estar perto de você também, meu amor. Eu te amo muito!
- Eu também te amo, vó...”.
- Bebê? – uma voz estava me chamando, mas essa voz estava muito longe.
“- Parece que tem alguém me chamando...
- Acho que é o seu namorado!
- Como a senhora sabe que eu estou namorando? – fiquei abismado.
- Porque eu nunca te abandonei, meu amor. E nunca vou te abandonar...”.
- Bebê? – a voz foi ficando mais próxima de mim.
“- Obrigado, vó! Eu te amo muito.
- Também te amo. Se der volte para experimentar o meu bolo.
- Pode deixar... Tchau, vó!
- Tchau, meu amor...”.


- Bebê? – era o Bruno mesmo.
Eu abri meus olhos bem devagar e vi que ele estava me olhando. O rostinho daquele anjo estava maravilhosamente lindo!
- Bom dia, meu bebê!!! – ele beijou meu rosto com suavidade.
- Bom dia – eu falei baixinho. Ainda estava sentindo muito sono. – Que horas são?
- Quase 6. Me perdoa te acordar cedo assim, mas é que eu queria te desejar boa sorte mais tarde na baliza!
- Nem me lembrava que era hoje – eu bocejei e cocei meus olhos.
- É hoje sim, é mais tarde e vai dar tudo certo. Eu tenho certeza disso!
- Obrigado, amor.

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- Te amo, meu bebê – ele beijou minha bochecha. – Bom dia, boa sorte e que Deus te abençoe muito.
- Obrigado, amém a você também. Te amo!
- Também te amo. Pode voltar a dormir agora.
- E meu beijo?
Ele sorriu e me beijou. Foi um beijo bem rápido.
- Tenho que ir. Tchau...
- Vai com Deus, meu príncipe! Te amo muito.
- Também te amo. Depois me liga pra eu saber como foi, tá bom?
- Pode deixar.
Fechei meus olhos e voltei a dormir, mas não sonhei mais com a minha avó, infelizmente. Eu queria entender que sonho esquisito foi aquele. Como ela sabia do Bruno? Eu, hein?
Acordei em definitivo às 8 da manhã, com meus filhos miando. Eles deveriam estar com fome ou com sede.
Eu levantei, calcei os chinelos e antes de mais nada fui fazer xixi e escovar os dentes. Percebi que um dos dois tinha feito as necessidades no vaso sanitário.
É, não precisa fazer essa cara! No vaso sanitário mesmo! Acontece que eu e o Bruno ensinamos o Enzo e a Gertrudes Filomena a fazer xixi e cocô no vaso sanitário! Logo quando eles chegaram, nós fomos ensinando. Quando eles iam pra areia, a gente pegava os dois e colocava no vaso. Eles entenderam! Acho que meus gatos são super dotados de entendimento. Eles são mega inteligentes, de verdade. Sem brincadeira, aconteceu assim.
- Que é, filho? Está com fome?
- Miau – ele respondeu, com aquela cara de mal-encarado que ele tinha.
- Já vou colocar a ração. Cadê sua irmã?
Ela estava perto do potinho de comida, deitada e esperando que eu colocasse a ração. Como ela era esperta!
- Quer ração, Filó?
- MÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃE!!!
- O quê? MÃE? Tá me estranhando, gata chata? Eu sou sua mãe não, se liga!
- MÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃE!!!
- Mas eu mereço uma coisa dessas! Eu mereço! Vem, Enzo! Vem comer também antes que ela acabe com tudo. Gata safada! Eu não sou sua mãe, garota!
Saí falando sozinho e deixei os bichinhos comendo. A cada dia que passava eles estavam mais lindos e mais espertos. A qualquer dia eu teria que levar o macho no veterinário para ele ser castrado. Ninguém merece gato no cio, né?
Quando entrei no meu quarto, parei de chofre. Eu senti um cheiro enorme de perfume de mulher no ambiente e isso me deixou extremamente perturbado.
- Meu Deus! Que cheiro é esse?
Não acreditei no que estava sentindo. Era uma fragrância suave, leve e sem dúvidas feminina.
- Mas ninguém passou perfume aqui! Muito menos perfume de mulher! Eu, hein?!
Achei aquilo bem estranho, mas não me importei muito com isso. No mínimo deveria ser uma das vizinhas que estava se perfumando e a fragrância voou até meu quarto. É, deveria ser isso!!!
Fiz tudo o que tinha que fazer e saí para a minha baliza. Eu estava ansioso e com o coração na mão. Será que ia dar tudo certo?
- E aí, Caio? – Júnior foi falar comigo. – Tudo bem?
- Eu estou e você?
- Bem também. Preparado?
- Sim! Tem que estar, né?
- Claro! Você vai primeiro pra moto, tá?
- Como vocês acharem melhor.
Com a moto eu sabia que não teria problema. Eu estava preocupado era com o carro. Mas deixei tudo nas mãos de Deus. Ele sabia o que iria acontecer e sabia também o que seria melhor pra mim.
- Vamos lá?
- Vamos sim – respondi e dei a partida na moto.
A ventania que envolveu o meu corpo me deixou com uma sensação maravilhosa de liberdade. Era tão bom andar na moto! Eu adorava.
E deu tudo certo. Eu fiz tudo o que tive que fazer da forma correta. Restava saber se com o carro seria da mesma forma.
- Boa sorte!
- Obrigado.

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Mesmo com medo, eu tentei relaxar e fiz tudo o que o Bruno e o Júnior me orientaram e não deu outra: eu passei na baliza logo de cara.
- Você passou.
- YES! – só faltou eu dar um mortal na frente de todos.
Que felicidade! Que bênção de Deus... Eu tinha passado, eu não ia precisar comprar a carta! Que maravilha... Eu não podia querer notícia melhor que aquela.
- Parabéns!
- Muito obrigado.
Liguei pro Bruno quando saí do teste. Ele ficou radiante com a minha novidade:
- Eu sabia que você ia passar, meu príncipe! Parabéns! Que orgulho de você!
- Obrigado, amor. Eu estou muito feliz!
- Eu imagino! Agora você é um homem que sabe dirigir, finalmente!
- É verdade. Finalmente mesmo.
Mas as coisas só acontecem na hora que têm que acontecer. Se Deus quis que eu virasse motorista apenas aos 23 anos de idade, quem era eu para discutir? O importante não era o passado, o importante era o presente e o futuro. E eu já era motorista, então o resto era apenas o resto!
- Parabéns novamente, amor! Agora eu vou voltar pra aula, tá?
- Beleza. Obrigado por confiar em mim!
- Imagina. Eu sempre confio e acredito em você. Beijo!
- Outro. Te amo.
- Também.
Rodrigo foi o próximo. Eu queria esfregar na cara dele que eu tinha passado, porque ele ficou me zoando, dizendo que eu teria que comprar a carta e blá, blá, blá...
- Mentiroso!
- É sério! Eu passei!!!
- Passou mesmo? Não está brincando comigo?
- Passei! Juro por Deus!
- Porra! Me surpreendeu agora!
- Ah, é? Pensou que eu não fosse capaz de conseguir essa façanha? Pois engula a sua língua, cachorro!
- Au, au.
- Peste!!!
- Já que você passou, a gente precisa bebemorar!
- Certeza. No final de semana a gente faz isso.
- Fechado. Vou marcar com o pessoal e depois aviso o local.
- Demorou. Preciso desligar agora.
- Também. Tenho um monte de coisa pra fazer.
- Se cuida, tá?
- Você também, motorista!
Eu ri.
- Besta. Beijo!
- Outro.
A notícia do dia foi a minha CNH. A Janaína e a Alexia também falaram que deveríamos comemorar aquele acontecimento e eu falei que as chamaria para o barzinho que eu e meus amigos iríamos no final de semana. Janaína ficou doida.
- Você sabe que quando se trata de bebida eu estou dentro, né? Não posso ficar sem minha pinguinha santa de todo final de semana.
Falando assim a Janaína parecia até uma alcoolatra, mas ela bebia a mesma coisa que eu e só aos finais de semana. Eu não tinha nenhum amigo cachaceiro de verdade. Na verdade, ninguém do meu convívio tinha alguma espécie de vício. Só o Vítor que fumava, mas ele estava mais ligado ao Bruno, não a mim.
- Agora segura esse garoto – Jonas tirou onda de mim. – Já pode virar gerente, porque já sabe dirigir.
- Que tal a gente transferí-lo para o depósito? Ele pode ser motorista dos caminhões – brincou Janaína.
- Ah, pode deixar que eu quero isso, Janaína – desdenhei. – Estou bem nas vendas, obrigado.
- Olha só como ele é ingrato, gente. Deveria me agradecer por eu estar pensando em você.
- Com uma amiga como você, eu não preciso de inimigos.
- Ingrato. É isso que você é.
- Concordo com ela – falou Alexia. – Você daria um excelente motorista de caminhão.
- Já vi que hoje vocês me pegaram pra Cristo, né? Vou vender minhas geladeiras que ganho mais. Tchauzinho, suas invejosas!
Ainda naquela semana, eu procurei outros dentistas para fazer orçamento e para a minha desgraça, ficou tudo mais ou menos no mesmo valor. Infelizmente eu não teria pra onde correr.
- Vou fazer com a Patrícia mesmo, amor – comuniquei a minha decisão. – Fazer o quê...
- É, amor. Não adianta ficar fugindo disso. Pode piorar a situação, é melhor fazer logo. Já que tem que fazer, faça logo de uma vez.
- É sim. Já marquei consulta pra esse sábado.
- Mas será que já vai arrancar?
- Não! É só pra gente conversar a respeito da cirurgia. Quero saber como vai ser tudo.
- Eu vou com você.
- Vai mesmo?
- Lógico! Até parece que eu vou deixar você sozinho.
O Bruno já estava no novo emprego e estava adorando. Ele ainda estava passado por uma espécie de treinamento, mas logo iria começar integralmente na função. Ele estava ansioso.
- Eu sei que vai dar tudo certo.
- Deus te ouça.
Aquela foi uma semana muito turbulenta e corrida. Na sexta-feira eu e Bruno resolvemos resolver o problema do Enzo e o levamos até um veterinário para ele ser castrado. O gato já estava virando fujão, mesmo a gente morando no 6º andar de um prédio.
- Vai doer muito? – perguntei ao médico, todo cheio de dó do meu filho.
- Ah, claro que vai. Ele vai ser cortado, vai levar ponto... Se eu falar que não vai doer eu vou estar mentindo, mas ele ficará bem, né, moço?
O gato estava me fuzilando com o olhar. Eu sinceramente já estava ficando com medo dos bichos, porque eles pareciam mesmo entender o que estava acontecendo. O Enzo parecia até possuído de tanta raiva que ele tinha naqueles olhos azuis.
- Tchau, filho! – fui fazer carinho na cabeça dele. – Boa sorte e obedeça ao doutor, está bem?
Ele bufou e quase mordeu meu dedo quando eu fiz carinho no rostinho dele.
- Ele está arisco hoje – Bruno suspirou.
- Dr. Armando, eu acho que esse gato tem super poderes. Olha o jeito que ele está me olhando...
- A gente pensa que eles não entendem né? – o médico riu e pegou o gato no colo. – Mas eles são inteligentes. Com certeza ele sabe o que vai acontecer.
- Desculpa, Enzo, mas não dá pra você ficar fugindo toda hora. É melhor a gente resolver isso de uma vez. Boa sorte, papai te ama!

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Quando eu fui sair do consultório, o gato me olhou de novo e só faltou dizer “não me deixa aqui, pelo amor de Deus...”. Eu quase chorei de rir da cara de medo que ele estava fazendo. Ele seria castrado naquele mesmo dia e só voltaria pra casa no dia seguinte.
A comemoração por eu ter passado na baliza foi incrivelmente divertida. Janaína e Fabrício estavam uns palhaços naquele dia e nos fizeram rir o tempo todo. O Nícolas ficou com a avó, no interior do Estado do Rio.
- Coitado dele, Fabrício! O bichinho deve estar sentindo a sua falta – meu namorado reclamou.
- Mas se não fosse assim eu não sairia de casa. Eu também estou sentindo a falta dele, mas eu preciso sair, preciso beber, preciso me divertir...
- É nisso você tem razão.
- E amanhã mesmo eu vou buscá-lo. O Nico adora os avós, tenho certeza que ele nem está sentindo a minha falta. Eu é que estou aqui morrendo de saudades dele.
Rodrigo foi um filho da puta naquela sexta-feira. A ideia de comemorar a minha CNH foi dele e ele não ficou com a gente quase nada. Ficou foi chupando os beiços de uma vagaranha-periguete durante toda a madrugada.
- Que foi? Que cara é essa? – ele me perguntou.
- Nada.
- Nada é o cacete. Que foi?
- Quem é essa periguete nojenta?
- Ah, é isso? – ele sorriu e sentou ao meu lado. – Linda, né?
- Linda vai ser a marca da minha mão na sua cara, seu desgraçado! A ideia de beber foi sua e você não fica aqui um segundo sequer!
- Que fofo! Eu prometo que vou ficar agora, tá bom?
Mas não deu meia hora e ele deu um perdido na gente de novo. Quando eu fui ver, lá estava o Rodrigo beijando a vadia de novo.
- Ele me paga, esse desgraçado!
- Deixa ele pra lá – falou Bruno. – Ele não merece a nossa atenção.
Bruno e Rodrigo viviam em um verdadeiro relacionamento de cão e gato. Ora se adoravam, ora se odiavam. Eu não sabia até quando essa situação se estenderia. Será que eles iam se tratar assim pro resto da vida?
Quando ele chegou no curso de inglês e foi me cumprimentar, eu virei a cara e não apertei a sua mão. Rodrigo quase chorou com a minha indiferença.
- Me desculpa, por favor...
- Não! – falei, mas era só de brincadeira. Era charme.
- Caio...
- Bem feito! – Bruno me apoiou. – Não é pra deixar o meu Caio irritado.
- Cala a boca, frango mal-capado. Caio... Fala comigo...
- Você está ouvindo alguém falar, amor? Acho que tem uma mosquinha zunindo por aqui!
- Boa! – Bruno riu.
- Não vai falar comigo? Beleza então. Até mais!
Ele saiu de perto da gente, todo ofendido. Não deu 5 minutos para eu ir atrás dele, todo cheio de saudades.
- Cachorro! Da próxima vez que você me largar por causa de uma vagaranha o bicho vai pegar!
- Desculpa, por favor! Prometo que não faço mais isso, nunca mais.
- Acho bom!
- E o que é vagaranha?
- Mistura de vagabunda com piranha.
Primeiro ele fez cara de “hã?”, depois abriu um sorriso. Ele me abraçou e eu senti o seu perfume invadir meu nariz.
- Eu te amo, tá bom?
- Sei – bufei.
- Amo sim, juro! Você sabe disso!
- Cachorro!
- Au, au.
Foi depois do curso que o Bruno, o Rodrigo e eu fomos buscar meu filho no veterinário. Quando ele me viu, quase me matou com aqueles olhos azuis e aquele focinho preto.
- Você está bem, Enzo? – fiz carinho na cabeça dele e daquela vez ele me mordeu. – AI, ENZO!
- Eu acho é pouco! – Rodrigo riu de mim. – Ah, arrancasse o dedo!
- Nossa como você é mau, Digow! É assim que você diz me amar? – perguntei.
- Quem manda pegar um sarnento desses?
- Ele não é sarnento! Ele só está com raiva de mim porque eu mandei o médico cortar o negocinho dele, mas vai passar, né lindão?
- NÃO!!! – o filho da puta ainda teve a capacidade de miar quando eu fiz essa pergunta pra ele.
- Bem feito! Ele até te respondeu – Rods riu.
Bruno pegou todas as recomendações com o médico e depois nós voltamos pra casa. O gato ficou lambendo o peru durante todo o caminho até o meu apartamento.
Quando eu coloquei o coitado no chão, ele saiu andando devagar com as pernas arreganhadas. A irmãzinha dele foi buscá-lo e eles ficaram miando um pro outro.
- Que porra é essa? – Rodrigo estranhou.
- Eles estão conversando – Bruno respondeu ao questionamento do cunhado. – Eles sempre fazem isso.
- Eu tenho medo dessas porcarias aí. Eles têm pacto com o demônio! Eu, hein?
- Credo, vira essa boca pra lá – falei.
- Pegou tudo? – perguntou Bruno.
- Peguei.
Nós três tínhamos consulta com a Patrícia. Na verdade, só eu e o Rodrigo, mas o Bruno ia do mesmo jeito.
- Ei, ei, ei... – Bruno me chamou. – Onde você pensa que vai?
- Entrar no carro...
- Seu lugar é desse lado! Pega – meu namorado jogou a chave do carro na minha direção e ela quase bateu na minha face.
- Mas...
- Quero que você dirija de hoje em diante. Eu mereço umas férias do volante.
- É o Caio que vai dirigir? – Rodrigo indagou.
- Algum problema? – franzi a testa.
- Bruno, me impresta um terço?
- MALDITO! – quase soquei o Rodrigo. Ele entrou e ficou dando risada de mim.
- Não liga pra ele, amor – Bruno fez carinho no meu rosto. – Você dirige muito bem!
- Pois eu vou calar a boca desse idiota, Bruno. Você vai ver!
Eu liguei o motor, coloquei o cinto e dei a ré com o carro. Nesse mesmo momento eu ouvi:
- Ave Maria cheia de graça...
- RODRIGO CARVALHO! – eu rosnei e dei um tapa na cabeça dele. – CALA A BOCA!
- BENDITA sois vós ENTRE as MULHEEERES...
- Idiota! – fiquei bravo.
- Bendito é o FRUUUUUUUUUUUTO...
- Esse Rodrigo não vale o arroz que come, cara – Bruno deu risada.
- Quem vê pensa que eu estou dirigindo mal. Eu estou é ótimo no volante, tá bom?
- JESUUUUUUUUUUUUS...
- Palhaço – até eu dei risada.
Deu tudo mais que certo. Eu dirigi até o consultório da dentista sem maiores transtornos. Todos nós saímos sãos e salvos do carro e este não ficou com nenhum arranhão.
- Eu não disse que eu mando bem? – me gabei.
- Graças a Deus, estou vivo! – ele ergueu as mãos pro céu. – Obrigado por salvar a minha vida, Jesus!
- Eu só não dou uma voadora no seu pescoço porque eu gosto muito de você – falei. – Senão você estaria ferrado!
- Calma, meu filho – Rodrigo passou o braço pelo meu pescoço. – É brincadeira! Você mandou muito bem, parabéns.
- Muito obrigado!
Conversei com a dentista e tirei todas as minhas dúvidas a respeito do tratamento que iria fazer. Eu ia tirar os três dentes em um único dia e ficaria 7 dias de atestado. Já saí do consultório com a data da cirurgia marcada.
- Vai dar tudo certo, não se preocupe – Bruno me tranquilizou. – Eu vou estar ao seu lado, tá bom?
- Obrigado, viu amor?
- Conte sempre comigo!
Era a primeira vez em mais de 4 anos que eu iria faltar na empresa. Fiquei com medo que isso prejudicasse o meu futuro na gerência de alguma filial...
- Não se preocupe. Eu prometo que nada vai atrapalhar a sua promoção – prometeu a minha regional. – Tranquilize-se!!!
- Promete?
- Prometo. Você tem a minha palavra de honra.
- Então tá bom. Sendo assim eu fico mais calmo.
- E boa sorte na cirurgia.
- Valeu, Duda!
Praticamente a loja toda me desejou sorte. Só quem não fez isso foram as pessoas que não gostavam de mim.
- Me mande notícias – pediu meu gerente.
- Pode deixar, Jonas. Valeu pela força!
- Disponha. Boa sorte e fique calmo, não é o fim do mundo.
- Vou tentar.
- Vai com Deus – Bruno me abraçou. – Eu vou ficar aqui te esperando.
- Obrigado, meu amor. Reze por mim, por favor.
- Não fique com medo, meu anjo! Vai dar tudo certo!
É claro que eu estava com medo! Se eu já tinha medo de dentistas em circunstancias normais, que dirá em uma cirurgia tripla! Arrancar três dentes ao mesmo tempo estava me deixando pra lá de amedrontado, eu já estava apavorado!
E o medo se intensificou ainda mais quando eu deitei na cadeira e a Patrícia pediu para eu abrir a boca.
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- Vou te dar um papel pra você limpar a boca. Se estiver doendo você levanta a mão que eu dou mais anestesia, tá bom?
- Beleza...
Eu tremia. Todo o meu corpo estava frio, as mãos geladas, a barriga cheia de pedra de gelos e várias gotas de suor escorriam pelas minhas costas. Eu estava apavorado de verdade.
- Abre o bocão, Caio!!!
Fechei os olhos com tanta força quando vi a agulha se aproximando da minha boca que fiquei até com dor nas vistas. E quando o líquido entrou na gengiva, eu quase fiz xixi nas calças.
- Pronto. Respira fundo!
Quase fiz respiração cachorrinho. Se eu fosse mulher, as pessoas poderiam jurar que eu estava dando a luz naquele exato momento.
- Calma, Caio! Não fica com medo que vai dar tudo certo. Abre o bocão...
Primeiro iria ser extraído o dente de cima, pra depois saírem os de baixo. Só na parte superior eu levei 4 anestesias e foi uma mais dolorida que a outra.
- Vamos lá? – ela me olhou.
Fiz que sim com a cabeça, mas eu queria fazer que não. A médica começou a mexer na minha gengiva e eu fiquei agoniado com a sensação horrível que estava sentindo. Eu sentia algo me cutucando, mas eu não sabia o que era.
- Calma, Caio... Calma...
- Mais pra direita, Patty – falou um médico cujo nome eu não sabia. Ele estava auxiliando a doutora a extrair meus dentinhos.
Eu fechei meus olhos e fiquei só imaginando o que eles estavam fazendo. Eles falavam tanta coisa que eu imaginei uma verdadeira luta dentro da minha boca.
De repente eu vi a Patrícia colocando uma perna em cima da cadeira onde eu estava deitado e fazendo força para puxar meu dente. Imaginei que ela estava sendo puxada pelo outro médico e que eles estavam lutando contra um verdadeiro gigante!
- Pronto, Caio! Um já foi! Quer ver?
- NÃO! – quase saí correndo só de imaginar o sangue que estava saindo na minha boca.
- Vou fazer os pontos e a gente já começa em baixo, beleza?
Assenti de novo e respirei fundo. Será que o Bruno estava preocupado comigo? Eu não estava sentindo dor, mas estava pra lá de apreensivo e amedrontado.
Se na parte superior foi difícil, na inferior então nem se fala. A médica deu 7 anestesias em cada lado e eu fiquei puto da vida com a dor que senti quando eles começaram a mexer nos meus dentes. Daquela vez doeu muito.
- Se estiver doendo você levanta...
Levantei a mão tão alto que quase bati na cara do médico que estava do meu lado esquerdo. Ele deu risada.
- Vou preparar mais uma anestesia, espera um pouco. – E agora está doendo?
Respirei aliviado. Não estava doendo mais, mas eu ainda estava com medo. Os dentes inferiores eram maiores e causaram mais trabalho. Os médicos tiveram que mexer e muito o dente pra direita e pra esquerda pra ele desgrudar. Foi um verdadeiro sacrifício me livrar do meu juízo.
- Eita que garoto ajuizado, hein? – brincou a médica. – Quer ver?
- NÃO!
Até parece que eu ia querer ver sangue. Eu já estava nauseado com o cheiro do sangue que estava no ar e já estava com a boca morta por estar com ela aberta há vários minutos, talvez mais de uma hora.
- Agora só falta mais um. Esse aqui vai ser fácil.
Engano dela. Foi mais difícil ainda. O dente estava deitado e foi por isso que ele empurrou todos os outros pra frente. Nesse eu senti dor de verdade.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAU – gritei e quase saí correndo dali, de verdade. O médico teve que me segurar com força na cadeira.
- Calma, calma... A gente vai anestesiar!!! Fica tranquilo.
Falar é fácil, né? Como eu poderia ficar calmo numa situação daquelas? Sentindo dor do jeito que eu estava sentindo?
- Vai sair, vai sair – falou o médico. – Mais força, Patrícia! Puxa esse dente logo que ele já está saindo!
Parecia mesmo um parto. Daquela vez eu imaginei a médica amarrando uma corda no meu dente, amarrando a outra ponta em um carro e puxando o dente dando uma arrancada com o automóvel. Saiu mesmo, mas foi bem doloroso.
- Pronto, Caio! Você está livre do juízo. Já acabou.
GRAÇAS A DEUS! Mas eu quase morri naquela cirurgia. Nunca senti tanta dor na vida como senti naquele momento.
Os médicos fizeram os procedimentos que tinham que fazer, prepararam meu atestado, limparam meu rosto e me liberaram.
- Você está bem? – perguntou a médica.
- Acho que sim.
- Hã?
- ACHO QUE SIM – tentei murmurar, mas foi difícil por causa das gases que estavam na minha gengiva.
- Você vai tomar esse remédio de 8 em 8 horas por 7 dias, vai ter que tomar muito sorvete, gelo e não vai poder comer nada quente até segunda-feira mais ou menos. Evite alimentos muito sólidos e não faça nenhum esforço físico. É bom não tomar sol.
- Tá...
- Se sentir qualquer coisa diferente procure um pronto socorro odontológico.
Pronto socorro odontológico?
- Sabe onde tem um?
- Não – balancei a cabeça.
- Vou te dar o endereço. Você volta aqui no próximo sábado para a gente ver se está tudo bem e se você pode tirar os pontos, tudo bem?
- Aham.
- Então é isso! Nada de esforços.
- Beleza.
Saímos e eu fui ao encontro do Bruno. quando ele me viu, arregalou os olhos e foi correndo ao meu encontro.
- VOCÊ ESTÁ BEM? QUE DEMORA FOI ESSA?
- Tá doendo... – choraminguei.
- OOOOOOOOOOOOOOOOH, MEU DEUS... – ele quase chorou. – O que eu faço? O que eu faço?
- Me leva pra casa?
- Hã? Não te entendi, anjo!
- ME LEVA PRA CASA!!!
- Pra casa... Pra casa... Vamos... Pra casa...
Ele ficou muito preocupado comigo, preocupado mesmo, preocupado até demais. Eu entrei no carro, coloquei o cinto e deitei a cabeça no banco. Eu estava sentindo muita dor.
- Ai, Cristo... Odeio ver você sofrendo, amor...
- Vai ficar tudo bem, só me leva pra casa...
Quando chegamos no apartamento, eu resolvi trocar as gases e o Bruno quase enfartou quando viu o sangue que estava saindo da minha boca.

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- VAMOS PRO HOSPITAL, AMOR!
- Não! Eu só preciso deitar e preciso de sorvete.
- Sorvete... Sorvete... Eu vou comprar sorvete... Cadê meu dinheiro? Cadê minha carteira?
Troquei o algodão e em seguida fui me deitar. Eu estava com muita dor na boca, mas também estava me sentindo esquisito, me sentindo fadigado. Acho que deveria ser o reflexo da anestesia. Ou melhor, das anestesias.
- Amor... Amor... Seu sorvete... Seu sorvete...
Bruno apareceu com um pote de 1 litro de sorvete. Eu dei risada.
- O que acha de colocar num potinho, por favor?
- Potinho? OK, potinho. Onde tem um potinho?
- Na cozinha, amor! Na cozinha.
- Ah, é! Na cozinha... Eu já volto. Não saia daí. Não se mexa. Não faça esforços. Está doendo muito?
- Sim – respondi com os olhos fechados.
Estava doendo e muito. Eu realmente nunca tinha sentido tanta dor como naquele dia. Foi horrível!
Bruno voltou com um pote de sorvete e eu tomei tudo. Só isso fez a dor diminuir e o sangue estancar.

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- Ai, Deus... Como eu odeio quando você sente dor – os olhinhos do Bruno estavam marejados.
- Me abraça?
Ele abraçou, mas me abraçou com um cuidado inigualável, com uma cautela que eu nunca vi antes. Ele foi perfeito.
- Coitadinho do meu amorzinho... – Bruno fez carinho no meu cabelo. – Está doendo muito?
- Sim! É melhor eu tomar um remédio. Você traz pra mim junto com mais sorvete?
- Claro... Claro! Já volto. Não saia daí! Não se mexa e não faça esforços... Remédio e sorvete. Sorvete e remédio...
Eu só não dei risada porque não tinha condições para isso, mas deu vontade. O Bruno estava desesperado.
- Bebê? Bebê? – ele me chamou.
- Oi, amor! – eu abri meus olhos.
- Você está bem? Está sentindo muita dor? Quer ir ao pronto socorro?
- Não, Bruno – eu respondi. – Está tudo bem!
- Tem certeza? Certeza absoluta?
- Absoluta – falei.
Já era segunda e meus dentes, ou melhor, a falta deles já não doíam mais. O sangue já estava praticamente controlado, mas de vez em quando ainda sangrava um pouquinho.
- Então tá... Então tá... Eu tenho que ir pra faculdade, mas você pode me ligar a qualquer momento que eu volto, tá bom?
- Uhum, muito obrigado!
- Por favor, por favor... Não faz nada! Nada entendeu? A Zefinha vai vir a semana toda pra cuidar de você.
- Mas... Não precisa disso!
- Precisa sim! Eu não vou deixar você sozinho, você pode querer alguma coisa. Não é pra levantar, não é pra fazer nada! Promete?
- Prometo, seu lindo, prometo – ri um pouquinho.
- Então tá bom. Fica quietinho, não fale muito. Eu volto de noite com mais sorvete pra você.
- Tá, amor. Obrigado. Vai com Deus e boa segunda pra você.
- Obrigado. Eu te amo muito!
- Também te amo, meu príncipe. Também te amo.
Ele me deu um selinho, mas foi bem de leve. Eu já estava com saudades de dar aqueles beijos deliciosos com meu namorado. Pelo jeito, isso teria que esperar alguns dias. Ou semanas,
A Zefinha foi mesmo cuidar de mim, mas nem precisava. Eu estava bem, apesar dos pesares. Graças a Deus não precisei ir ao pronto socorro e tudo estava sob controle.
- Tu arrancou os “quexá” é, menino?
- O que é “quexá”?
- É esses dentes aqui do fundo que a gente quase não alcança com a língua...
- Ah! Arranquei sim. Extraí 3.
- Misericórdia! Jesus me defenda! E tu tá bem, menino?
- Melhorando. Agora está doendo um pouco, mas não é muito. E está sangrando também.
- Virgem Santíssima! E o que nós fazemos? Tu quer ir ao médico?
- Não! Eu só preciso de um pouco de sorvete e já está na hora do meu remédio. Você pode trazer pra mim, por favor?
- Posso, posso! Tá onde?
- Tudo na cozinha. O remédio está em cima do micro-ondas.
- Espera um pouco que eu já trago, visse?
- Tá bom, Zefinha. Obrigado!
A mulher era tão legal que passou metade do dia conversando comigo. Ela me contou como era a vida lá em Pernambuco e só pelas coisas que ela falou, eu fiquei com vontade de conhecer o Estado.
- A Praia de Boa Viagem é muito perigosa, sabe? Lá tem muito ataque de tubarão, mas é muito bonita.
- Eu vi as reportagens, menina! Que coisa, né?
- Eu é que não me atrevo a colocar minhas canelas naquele mar. Eu tenho amor à vida, sabe?
- É, tem que se cuidar mesmo. E sua mãe?
- Está na mesma. Quando for a hora dela Deus saberá, né?
- É verdade.
- Mas esse tal de Alzheimer é muito ruim, visse Caio? A pessoa sofre muito. Ela nem conhece mais ninguém. Nem eu ela conhece mais. É muito triste.
- Eu posso imaginar que seja mesmo, mas vai dar tudo certo, Zefinha.
- É vai sim. Viu, tu quer que eu faça alguma coisa pra tu comer?
- Faz um macarrão instantâneo, por favor.
- E que diabo é isso, menino?
- É Miojo! – eu dei risada.
- E por que tu não fala de uma vez que é miojo? Precisa ficar falando essas coisas difíceis só pra tirar onda de mim?
- Não estou tirando onda de você, Zefinha! É que eu aprendi assim com minha mãe!
- E é? Sua mãe deve ser uma mulher muito chique! Já volto com teu macarrão instantâneo!
- Obrigado, Zefinha!
No prazo de uma semana eu sequei dois potes e meio de sorvete de 1 litro cada. Eu já tinha até engordado.
Bruno nunca demonstrou tanta preocupação comigo como mostrou naquela época. Ele foi um verdadeiro príncipe comigo.
- Meu rosto está feio, né? – fiz bico.
- Claro que não! – ele acariciou a minha pele. – Por que você está falando isso?
- Porque eu estou todo inchado!
Fiquei com o rosto quase irreconhecível. Quando o Digow e o Vini foram me visitar eles ficaram até espantados.
- Não está mais tão inchado, já está bem melhor. E você fica lindo de qualquer jeito, amor.
- Obrigado por me amar tanto, tá?
- Eu te amo pra sempre e por todo o sempre.
Nós ainda não podíamos nos beijar, mas era por causa dos pontos. Por mais que ele fosse cauteloso, eu tinha receio que ele encontrasse alguma linha. Seria nojento. Era melhor esperar.
Quando o sábado chegou eu quase soltei fogos de artifício de tanta felicidade. Finalmente eu ia me livrar daqueles malditos pontos.
- Abre o bocão, Caio! Deixa eu ver como estão esses pontinhos.
Fiz o que a médica pediu e fiquei hiper feliz quando ela arrancou ponto por ponto. Eu já estava liberado! Finalmente tinha me livrado de tudo, só ficou o oco na minha gengiva, mas ela disse que voltaria ao normal em breve.
- Agora você precisa fazer o molde do seu aparelho. Terá que se dirigir a mesma clínica onde você fez a radiografia, tudo bem?
- Sim, sim. Mas só poderei ir lá no mês que vem. Por enquanto eu não estou tendo tempo.
- Sem problemas. Vá, faça e quando você puder nós iniciaremos o tratamento ortodôntico.
- Combinado! Obrigado, Patrícia.
- Eu é que agradeço! Até a próxima!
- Até a próxima!
Saí e abri um sorriso quando vi meu namorado.
- E aí, e aí?
- Estou liberado. Deu tudo certo!
- Graças a Deus! Já pode...
- Acho que já!
Nós nos beijamos no carro e foi um verdadeiro beijo de cinema. Eu estava com tanta saudades do Bruno que bastava olhar pra ele pro meu negócio subir dentro da calça.
- Se você já está bem...
- Quer fazer o favor de calar a boca e voltar pro apartamento?
Eu só ia voltar pro trabalho na segunda e por isso, seria muito fácil curtir o meu namorado no restante daquele sábado e durante todo o domingo. E foi isso que nós fizemos.
Quando eu gozei pela primeira vez, saiu tanto esperma, mas tanto esperma que o Bruno e eu ficamos até assustados.
- Eita porra!!! – ele se assustou. Saíram mais ou menos seis jatos, mas também não era pra menos. Eu estava há uma semana sem sexo!
Com ele não foi muito diferente. Mesmo eu tendo masturbado meu namorado algumas vezes naquela semana, ele ainda estava cheio de vigor e também esporrou bastante na minha cara. Eu adorei a nossa volta. Foi muito boa!

OUTUBRO DE 2.011...

Naquele ano eu ia aprontar com o Bruno e ia me vingar direitinho por ele ter feito tantas surpresas comigo nos meus últimos aniversários.
Já estava tudo pronto: eu já tinha encomendado o bolo, os doces, os salgados, comprado os refrigerantes, reservado o salão, alugado a decoração e chamado todos os amigos do meu namorado, inclusive os da faculdade, que eu nem conhecia direito.
Por ser aniversário do Vítor também, tive que conversar com o garoto e explicar que a festa seria apenas do Bruno. Ainda bem que ele aceitou numa boa.
- Não se preocupe, eu não me importo.
- Jura? Mesmo? Não vai ficar chateado?
- Claro que não! Eu não gosto desses lances de festa surpresa. Acho mico demais. Vou comemorar meu aniversário em particular, só com o Dani e ninguém mais.
- Também não precisa ser egoísta desse jeito!
- Não, é sério! Depois eu posso até colar lá, mas eu vou é comemorar meus 22 aninhos no motel que eu ganho bem mais.
- Então você é que sabe. Eu só queria que você estivesse presente...
- Eu vou, prometo que vou, mas só depois das 3 da manhã.
- O importante é que você vá.
Se eu fizesse a festa do Bruno e o Vítor não estivesse, seria a mesma coisa que não fazer nada. Bruno e Vítor eram tão ligados como eu e o Rodrigo. A amizade deles durava a vida toda, desde o berçário como eles mesmo falavam.
Havia vantagens e desvantagens do Vítor fazer aniversário no mesmo dia que o Bruno. Uma das desvantagens era essa: eu não podia fazer uma festa surpresa pro Bruno porque de certa forma a festa também seria do Vítor. Enfim... Isso era muito chato.
Mas deu tudo certo. Ele entendeu e concordou que a festa seria só do meu namorado. Ainda bem.
Ainda no meio de outubro eu comprei o presente do meu amor. Eram ingressos pro show da Britney Spears. Eu sabia que ele estava louco para ir.

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- Já falei que não vou poder ir, Bruno – menti em um dia qualquer, só pra despistar.
- Mas por que? Eu quero tanto ir!
- Não vai dar por causa da pós, amor! E você também vai estar em época de provas, tem que estudar...
- Mas, Caio...
- Não vai dar e ponto final. Sinto muito, mas nós não vamos no show da Britney!
É claro que ele ficou chateado, muito chateado. Percebi que ele até chorou e isso fez meu coração ficar partido ao meio, mas eu tive que ser firme, senão ele poderia perceber que eu ia dar os ingressos de presente pra ele.
Bruno também poderia comprar os ingressos pra ele ir sozinho, mas ele não fez isso. E se tivesse feito, eu teria que dar outra coisa pra ele no seu aniversário. Ainda bem que ele ficou chateado o suficiente para não querer comprar o ingresso por conta própria.
Já estava tudo esquematizado com o Fabrício. Na véspera do aniversário do meu amor, eu não voltaria pra casa depois do trabalho e ia deixar meu celular desligado para ele não me localizar. Por volta da meia noite, o Fabrício ia ligar pro Bruno e ia falar que eu tinha sofrido um acidente e que estava no hospital.
É isso mesmo, não me ache louco porquê eu não sou. Essa seria a única forma dele ficar desesperado o suficiente para não se ligar no que estava acontecendo.
O Fabrício ia buscar o Bruno alegando que o levaria até o hospital onde eu supostamente estava internado – o Fabrício tinha comprado um carro naquela época. Era lindo! – e dessa forma, o engenheiro químico levaria meu namorado até a festa.
Ao chegar no salão, o Fabrício ia pedir para o Bruno acompanhá-lo, alegando que eles iriam atrás do Vinícius que estava em uma festa de comemoração de bodas de parentes da Bruna. Quando ele entrasse no salão, a gente acenderia as luzes e nesse momento seria revelado que tudo não passava de uma brincadeira, que eu não tinha sofrido nenhum acidente e que aquela festa na verdade era dele, só dele. Será que ele ia gostar?
- Coloca esse bolo mais pra direita, Digow – mandei.
- Aqui está bom?
- Está ótimo! Onde estão os brigadeiros? Cadê os beijinhos?
- Calma, Caio! Está tudo aqui – falou Bruna.
Ainda bem que meus amigos estavam me ajudando. Tudo estava ficando exatamente da forma que eu imaginei, da forma que eu planejei, da forma que eu queria. Eu tinha certeza que ia dar tudo certo.

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Lá pelas 22 horas os convidados já começaram a chegar e nesse horário, o Fabrício me levou até sua casa para eu tomar banho e trocar de roupa. Na volta ele já iria dar a notícia pro Bruno e dali em diante era só esperar para ver se daria tudo certo.
- Bruno? – Fabrício estava sério.
- Oi, Fabrício! Tudo bem?
- Bem e você?
O celular estava no viva voz.
- Mais ou menos! Eu estou preocupado com o Caio... Ele não apareceu até agora e o celular está desligado. Você tem notícias dele?
Eu quis rir.
- Então é por isso que eu estou te ligando, Bruno.
- Que foi? Ele está aí com você? Deixa eu falar com ele?
- Não, ele não está comigo – Fabrício estava sendo um verdadeiro ator.
- Não? Mas você sabe onde ele está?
- Bruno, eu não tenho uma notícia boa!
- Notícia... O que aconteceu, Fabrício? – a voz do meu namorado já mudou de tensa para nervosa.
- O Caio sofreu um acidente...
- ACIDENTE? O QUE ACONTECEU COM ELE?
- Calma, Bruno...
- FALA, FABRÍCIO! O QUE ACONTECEU COM O CAIO? FALA, PELO AMOR DE DEUS...
Ele já estava chorando. Eu fiquei morrendo de dó, mas esse era o único jeito dele cair na minha cilada e não desconfiar que na verdade, estávamos planejando uma festa pra ele.
- O Caio foi atropelado...
- ATROPELADO? AAAAI MEU DEUS...
- Calma! Calma, não chora... Não fica nervoso que está tudo bem!
- ONDE ELE ESTÁ? ONDE ELE ESTÁ, POR FAVOR... FALA... FALA...
- Eu estou indo te buscar pra te levar pro hospital. Ele está bem, não se preocupa!
- MAS EM QUE HOSPITAL ELE TÁ? FALA PELO AMOR DE DEUS... VOCÊ TÁ ME MATANDO...
Coitadinho! Fiquei com meu coração partido ao meio.
- Eu vu te levar pra ele, eu prometo. Fica calmo, bebe uma água com açúcar, se arruma que eu estou indo aí.
- ME ARRUMAR? QUE ME ARRUMAR PORRA NENHUMA! EU QUERO NOTÍCIAS DO MEU CAIO, FABRÍCIO!!!
- Se arrume, tome banho e fique lindo pra ele. Ele não vai querer te ver desarrumado!
- ME FALA ONDE ELE TÁ QUE EU VOU CORRENDO ATÉ ELE, FABRÍCIO! ME FALA!
- Não vou te falar porque não quero que você saia desse jeito. Pode ser perigoso. Eu vou te buscar, prometo. Já estou indo até o seu apartamento. Chego aí em pouco tempo. Preciso desligar, meu celular está ficando sem bateria.
E dizendo isso ele desligou. O meu amigo caiu na risada, mas eu fiquei foi preocupado! Só nesse momento eu achei que peguei pesado demais com aquela história. Eu não precisava ter mentido tanto daquele jeito.
- Corre, vá buscar ele logo. E deixa ele bem calminho, por favor.
- Prometo que farei o possível. Só vou entrar com ele à meia noite, tá?
- Isso, isso mesmo! Vem Nícolas, vem com o titio.
- Titio?
- É, filho! É seu tio. Vai com ele que o papai já vem, tá?
- Tá!
- Cadê meu beijo?
O Nícolas beijou o rosto do pai e em seguida eu entrei no salão com o menino nos braços. Ele estava cada dia mais pesado.
Todos os convidados chegaram antes da meia noite, menos o Vítor. Eu estava na maior expectativa pra encontrar com o meu Bruno e pra ver qual seria a reação dele quando visse que eu tinha mentido e mentido feio, mas por uma boa ação.
- ELES CHEGARAM, ELES CHEGARAM – falou Matheus, o amigo do Bruno.
- SILÊNCIO, SILÊNCIO – eu pedi. Segurei o Nícolas no colo pra ele não ficar correndo. – DESLIGUEM A LUZ E NÃO FAÇAM BARULHO, POR FAVOR.
- Eu não entendo o que nós estamos fazendo aqui, Fabrício! Por que não ligou pro Vinícius pra ele encontrar com a gente? – era o Bruno. – Eu estou preocupado com ele...
- Já falei que fiquei sem bateria, não falei? Relaxa, o Caio está bem! Não fica mais preocupado, tá bom?
- Se alguma coisa acontecer com ele, o culpado vai ser você! – a voz do meu namorado estava trêmula. Acho que ele estava chorando.
E então a porta abriu, mas eu não vi nada. Eu não sabia se era ele que tinha chegado ou se era o Fabrício.
- Que palhaçada é essa, Fabrício? – Bruno reclamou. – EU QUERO...
E então as luzes se acenderam e ele olhou para todos os lados, até me encontrar. Bruno deixou de ser branco, ficou vermelho e ficou totalmente parado, feito uma estátua e com a maior cara de “não acredito!”.
- PARABÉNS PRA VOCÊ...

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