R
|
odrigo deixou de ser branco e passou a ser vermelho em uma fração
de segundos.
Eu suspirei profundamente. Eu jurava que o meu melhor amigo ia reagir daquela forma e não poderia ser diferente.
- Não... Não, não e não! Você não vai não!
- Rodrigo... Eu vou sim!
- Não, Caio! Você não vai, eu não vou deixar!
- Eu sabia que você ia reagir dessa forma. Não está sendo fácil dar essa notícia, mas ela é verdade. Eu vou morar com o Bruno, mano!
- Não... Você não pode fazer isso!
- Posso sim e você sabe muito bem disso.
- Mas, Caio... Eu não quero ficar longe de você!
- Eu também não, mano... Vamos conversar na sala? Vamos?
- Caio... Não faz isso, por favor...
- Eu preciso fazer, Rodrigo. Já está na hora do Bruno e eu unirmos os trapinhos.
- E eu? E eu? Onde eu fico nessa história? Você não pensa em mim?
- Claro que eu penso, seu bobo!!!
- Então fica! Eu não quero ficar longe do meu irmão, eu não quero!
- Mas quem disse que a gente vai ficar longe? A gente pode se ver todos os dias, pode se falar...
- Não vai ser a mesma coisa.
- Por favor, me entenda, mano! Eu quero muito ficar com ele...
- E quer ficar longe de mim, né?
- Não! Claro que não, Rodrigo!
Eu estava dividido.
- Não faz isso, por favor... Fica aqui com a gente, fica aqui comigo...
- O Bruno pediu...
- Você já fica lá todos os finais de semana... E comigo você quase não fica mais... Isso não é justo!
- Mas eu prometo que eu não vou te abandonar, Rodrigo!
- Não vai ser a mesma coisa, Caio! Não vai ser! Eu não vou ter você por perto, porra! Será que não entende?
- Entendo, Rodrigo! Pra mim não vai ser fácil abandonar esse lugar, deixar vocês, ficar longe de meus amigos, mas por outro lado eu quero ficar perto do meu namorado, entende?
- Ele é mais importante que eu, né?
- Não é isso, Rodrigo! Os dois são importantes pra mim, mas cada um tem um peso, cada um ocupa um lugar, entende?
- E eu ocupo que lugar? O de colega de república que vai ser chutado?
- Não faz drama, mano! Você sabe que não é esse o seu lugar! Você é meu irmão, poxa...
- É bom saber que você não pensa em mim, Caio. Muito obrigado!
- Claro que eu penso em você, Rodrigo! Se eu não pensasse eu não estaria aqui falando isso...
- Não vai! Eu não quero que você vá, por favor...
- Eu quero ficar, mas ao mesmo tempo eu quero ir. E agora é a hora de ir.
Ele ficou calado, só me fitando e por um momento eu achei que ele ia chorar. Isso não aconteceu.
- Caio... Isso vai doer muito, mano...
- Vai doer em mim também, mas eu queria que você me entendesse, por favor...
- Eu posso até te entender, mas não concordo com essa decisão. Ela é muito precipitada e eu não estou preparado para ficar longe de você.
- Eu também não, mas a gente sabe que mais cedo ou mais tarde isso ia acabar acontecendo.
- Eu não quero que seja tão cedo assim, Caio! O que vai ser de mim sem você por perto?
- Eu é que faço essa pergunta. Eu não sei o que vai ser de mim sem você, mas a gente precisa aprender a conviver distantes. Não acha?
- NÃO! Não acho! Não quero ficar longe de você, porra!
Foi a minha vez de ficar calado e eu fiquei calado por muito tempo, muito tempo mesmo.
Pensei em tudo o que vivi ao lado do Rodrigo, desde a época em que nós éramos simples colegas de trabalho.
Havia passado muito tempo, muitos anos e a nossa amizade só fazia crescer. Por um leve período, eu cheguei até a cogitar a possibilidade de ficar com ele de uma forma séria e definitiva e isso só não aconteceu por causa da reação negativa que ele teve quando a gente tentou ficar naquela primeira noite.
Ficar longe dele naquele momento seria realmente muito, muito, muito doloroso. Por mais que eu amasse o meu Bruno, por mais que eu quisesse ficar ao lado dele pro resto da minha vida, eu também queria ficar com o Rodrigo, eu também queria ficar ao lado dele pro resto da minha vida.
Ele era um amigo verdadeiro, um amigo fiel, um amigo leal e sincero e ficar separado fisicamente dele seria uma verdadeira tortura.
Porém, esse era um mal que iria acontecer mais cedo ou mais tarde. Meu irmão já era formado, já estava na metade da pós-graduação e muito provavelmente ele poderia voltar para o Paraná a qualquer momento.
E eu precisava viver a minha vida. Eu queria ficar com o Bruno por mais tempo, queria curtir o nosso namoro, nosso relacionamento e eu merecia ser feliz. Ou será que não?
Eu amava os dois meninos, mas cada um de uma forma. Pelo Rodrigo, existia um sentimento de respeito, de irmandade, de amor, de proteção e um carinho inigualável, mas pelo Bruno o negócio era mais embaixo.
Pelo Bruno era amor de verdade, era amor sem fronteiras, era amor sem limites, era um amor forte, imbatível, invencível, indestrutível e inabalável. Eu amava o meu namorado com toda a força do meu coração, com toda a força da minha alma e esse era um sentimento único, que eu só sentia por ele e ninguém mais.
Infelizmente eu não podia colocar os meninos numa balança, porque os pesos eram muito diferentes. Ambos eram importantes, mas eles infelizmente não tinham o mesmo peso e a mesma medida.
De toda forma, eu não podia ficar pensando em pesos e medidas, porque cada um ocupava um lugar na minha vida.
Eu não podia igualar o Rodrigo ao Bruno e vice-versa. Rodrigo era amigo, irmão. Bruno era namorado, companheiro. Rodrigo era um. Bruno era outro. E os sentimentos eram similares, mas não se confundiam.
Talvez se eu fosse pesar o Rodrigo com outra pessoa, qualquer pessoa, ele poderia ser mais importante, mas não com o Bruno.
Acho que o certo naquele momento era separar o Bruno de qualquer comparação. Pode até parecer egoísmo ou exagero, mas ele não tinha comparação com ninguém. Meu namorado ocupava um patamar que era só dele e de mais ninguém. Por isso era injusto compará-lo com o Rodrigo. Esse era um jogo desleal.
Eu refleti e refleti muito. E continuei firme na minha decisão. A separação seria pra lá de dolorosa, pra lá de difícil, mas ela seria muito necessária. Uma hora essa separação teria que acontecer e para evitar maiores sofrimentos, era melhor que acontecesse logo de uma vez.
- Fica? – a voz dele saiu em um silvo.
- Não me pede isso, por favor...
- Eu não quero me despedir de você, eu não quero!
- A gente não precisa se despedir, Rodrigo... Eu vou vir aqui te visitar toda semana, sempre que eu puder.
- Não vai ser a mesma coisa, desculpa. Com licença!
Meu irmão saiu do sofá e desceu as escadas correndo. Eu tentei ir atrás dele, mas não consegui alcançá-lo. Por que ele estava fazendo aquilo?
- Algum problema? – Vinícius apareceu atrás de mim de repente.
- Ah, Vini... Eu acho que eu fiz uma besteira...
- O que está acontecendo?
- Eu vou sair da república.
- Como é?
- Eu vou morar com o Bruno... O Rodrigo não aceitou...
- Até que enfim, hein? Pensei que isso fosse acontecer há mil anos atrás... Já esperava por essa notícia a qualquer momento.
- Hã?
- É verdade, Caio. Me desculpa, mas é verdade. Eu já estava esperando essa notícia há meses. Vocês se amam, é natural que isso aconteça. Acho que demorou até demais.
- Tá me expulsando daqui? – achei que fosse isso. – Você não quer que eu more mais aqui?
- Não, besta. Não é isso! Tá louco? Se dependesse de mim, você ficaria aqui pra sempre, mas eu sei que isso não vai acontecer. Eu já imaginava que mais cedo ou mais tarde você iria se mudar pro apê dele. E o Rodrigo não tem que aceitar nada.
- Mas ele é meu amigo!
- Sei disso. A hora da separação vai ser difícil, mas ele tem que entender que isso ia acontecer em algum momento.
- Eu queria saber onde ele está...
- Ele precisa de um tempo. Deixa ele respirar. Imagina se fosse o contrário? Imagina se ele viesse falando que ia sair da república? Como você reagiria?
- Claro que eu não ia gostar!
- Então?! Com ele, deve estar acontecendo isso. Você acha que eu gostei da notícia que o Fabrício vai sair? Claro que não, mas eu respeitei a decisão dele. A nossa vida é feita de ciclos e esse ciclo está se encerrando na sua vida, parceirinho. Ele vai entender.
- Eu não quero perder a amizade do Rodrigo...
- Se a amizade de vocês for verdadeira, ela não vai morrer por causa disso. Pelo contrário: a distância vai até fortalecer o elo entre vocês dois.
- Eu vou repensar a minha decisão. Eu não quero que o Rodrigo fique chateado comigo!
- E vai chatear o Bruno?
- Não... Eu não posso chatear o Bruno...
- Alguém nessa história vai sofrer, Caio. Ou seremos nós, ou será o Bruno. E eu acho que você não vai querer fazer o seu namorado sofrer, né?
- De jeito nenhum.
- Pois então? Dá um tempinho pro Digow. Ele vai se acostumar com a ideia.
- Assim espero – abaixei a cabeça.
- Não fica assim não, Caio. Vai dar tudo certo. Você tem que ter a sua independência também... Embora eu esteja meio triste pela sua saída, mas...
- Está?
- Claro que sim. É difícil dizer tchau, né? Eu gosto de você.
- Eu também gosto de você, Vini!
Dei um abraço rápido no meu amigo, mas isso não fez a minha preocupação diminuir. Eu não queria que o Rodrigo ficasse chateado comigo.
- Eu vou ligar pro Rodrigo...
- Não! – Vinícius pegou o celular da minha mão. – Deixa ele ficar sozinho um pouco. Ele precisa.
- Mas eu to preocupado!
- Não tem motivo pra isso. O Rodrigo é grandinho o suficiente pra saber o que faz. Deixa ele. Logo ele aparece.
Eu queria ser tão calmo e seguro como o Vinícius era. Se dependesse de mim, eu teria corrido atrás do meu melhor amigo ou já teria ligado pra ele pelo menos umas mil vezes.
- Não fica assim, é sério – o médico tentou me animar. – Vai ficar tudo bem!
- Por que você é tão confiante assim, hein?
- Porque eu já vivi tudo isso daí, meu querido. Relaxe.
Eu tentei. Fui pro quarto, comuniquei a minha novidade para o Fabrício e tentei ficar tranquilo, mas não consegui.
Fabrício também me apoiou e também falou que pensou que isso iria acontecer antes.
- As coisas só acontecem na hora certa – falei.
- Isso é verdade mesmo – concordou o Dr. Vinícius. – Agora, já que vocês dois também vão sair, nós vamos precisar chamar alguém pra cá, senão as despesas vão aumentar muito.
Resolvi não entrar nesse mérito. Eu não ia ficar mais lá, portanto eu não tinha que me preocupar com isso. A minha preocupação tinha nome e sobrenome: Rodrigo Carvalho.
Bruno me ligou e eu contei o que estava acontecendo. Ele foi outro que pediu para eu me acalmar e disse que iria dar tudo certo. Ele não demonstrava mais ciúmes naquele momento.
- Qualquer coisa me liga, tá?
- Pode deixar. Fica com Deus – falei.
- Amém, você também. Eu te amo!
- Eu também te amo, Bruh.
Fiquei esperando ansiosamente a volta do Rodrigo e eu quase entrei em desespero, porque ele demorou muito a aparecer. Meu melhor amigo só voltou depois da meia noite.
- Digow...
- Oi...
- Onde você estava? Eu fiquei preocupado com você...
- Eu estou bem, não se preocupe. Boa noite.
E dizendo isso ele deitou, virou pra parede e não falou mais nada. Eu suspirei e tentei deixar as coisas acontecerem naturalmente. Algo me dizia que aquela seria uma semana complicada na minha vida pessoal.
Eu suspirei profundamente. Eu jurava que o meu melhor amigo ia reagir daquela forma e não poderia ser diferente.
- Não... Não, não e não! Você não vai não!
- Rodrigo... Eu vou sim!
- Não, Caio! Você não vai, eu não vou deixar!
- Eu sabia que você ia reagir dessa forma. Não está sendo fácil dar essa notícia, mas ela é verdade. Eu vou morar com o Bruno, mano!
- Não... Você não pode fazer isso!
- Posso sim e você sabe muito bem disso.
- Mas, Caio... Eu não quero ficar longe de você!
- Eu também não, mano... Vamos conversar na sala? Vamos?
- Caio... Não faz isso, por favor...
- Eu preciso fazer, Rodrigo. Já está na hora do Bruno e eu unirmos os trapinhos.
- E eu? E eu? Onde eu fico nessa história? Você não pensa em mim?
- Claro que eu penso, seu bobo!!!
- Então fica! Eu não quero ficar longe do meu irmão, eu não quero!
- Mas quem disse que a gente vai ficar longe? A gente pode se ver todos os dias, pode se falar...
- Não vai ser a mesma coisa.
- Por favor, me entenda, mano! Eu quero muito ficar com ele...
- E quer ficar longe de mim, né?
- Não! Claro que não, Rodrigo!
Eu estava dividido.
- Não faz isso, por favor... Fica aqui com a gente, fica aqui comigo...
- O Bruno pediu...
- Você já fica lá todos os finais de semana... E comigo você quase não fica mais... Isso não é justo!
- Mas eu prometo que eu não vou te abandonar, Rodrigo!
- Não vai ser a mesma coisa, Caio! Não vai ser! Eu não vou ter você por perto, porra! Será que não entende?
- Entendo, Rodrigo! Pra mim não vai ser fácil abandonar esse lugar, deixar vocês, ficar longe de meus amigos, mas por outro lado eu quero ficar perto do meu namorado, entende?
- Ele é mais importante que eu, né?
- Não é isso, Rodrigo! Os dois são importantes pra mim, mas cada um tem um peso, cada um ocupa um lugar, entende?
- E eu ocupo que lugar? O de colega de república que vai ser chutado?
- Não faz drama, mano! Você sabe que não é esse o seu lugar! Você é meu irmão, poxa...
- É bom saber que você não pensa em mim, Caio. Muito obrigado!
- Claro que eu penso em você, Rodrigo! Se eu não pensasse eu não estaria aqui falando isso...
- Não vai! Eu não quero que você vá, por favor...
- Eu quero ficar, mas ao mesmo tempo eu quero ir. E agora é a hora de ir.
Ele ficou calado, só me fitando e por um momento eu achei que ele ia chorar. Isso não aconteceu.
- Caio... Isso vai doer muito, mano...
- Vai doer em mim também, mas eu queria que você me entendesse, por favor...
- Eu posso até te entender, mas não concordo com essa decisão. Ela é muito precipitada e eu não estou preparado para ficar longe de você.
- Eu também não, mas a gente sabe que mais cedo ou mais tarde isso ia acabar acontecendo.
- Eu não quero que seja tão cedo assim, Caio! O que vai ser de mim sem você por perto?
- Eu é que faço essa pergunta. Eu não sei o que vai ser de mim sem você, mas a gente precisa aprender a conviver distantes. Não acha?
- NÃO! Não acho! Não quero ficar longe de você, porra!
Foi a minha vez de ficar calado e eu fiquei calado por muito tempo, muito tempo mesmo.
Pensei em tudo o que vivi ao lado do Rodrigo, desde a época em que nós éramos simples colegas de trabalho.
Havia passado muito tempo, muitos anos e a nossa amizade só fazia crescer. Por um leve período, eu cheguei até a cogitar a possibilidade de ficar com ele de uma forma séria e definitiva e isso só não aconteceu por causa da reação negativa que ele teve quando a gente tentou ficar naquela primeira noite.
Ficar longe dele naquele momento seria realmente muito, muito, muito doloroso. Por mais que eu amasse o meu Bruno, por mais que eu quisesse ficar ao lado dele pro resto da minha vida, eu também queria ficar com o Rodrigo, eu também queria ficar ao lado dele pro resto da minha vida.
Ele era um amigo verdadeiro, um amigo fiel, um amigo leal e sincero e ficar separado fisicamente dele seria uma verdadeira tortura.
Porém, esse era um mal que iria acontecer mais cedo ou mais tarde. Meu irmão já era formado, já estava na metade da pós-graduação e muito provavelmente ele poderia voltar para o Paraná a qualquer momento.
E eu precisava viver a minha vida. Eu queria ficar com o Bruno por mais tempo, queria curtir o nosso namoro, nosso relacionamento e eu merecia ser feliz. Ou será que não?
Eu amava os dois meninos, mas cada um de uma forma. Pelo Rodrigo, existia um sentimento de respeito, de irmandade, de amor, de proteção e um carinho inigualável, mas pelo Bruno o negócio era mais embaixo.
Pelo Bruno era amor de verdade, era amor sem fronteiras, era amor sem limites, era um amor forte, imbatível, invencível, indestrutível e inabalável. Eu amava o meu namorado com toda a força do meu coração, com toda a força da minha alma e esse era um sentimento único, que eu só sentia por ele e ninguém mais.
Infelizmente eu não podia colocar os meninos numa balança, porque os pesos eram muito diferentes. Ambos eram importantes, mas eles infelizmente não tinham o mesmo peso e a mesma medida.
De toda forma, eu não podia ficar pensando em pesos e medidas, porque cada um ocupava um lugar na minha vida.
Eu não podia igualar o Rodrigo ao Bruno e vice-versa. Rodrigo era amigo, irmão. Bruno era namorado, companheiro. Rodrigo era um. Bruno era outro. E os sentimentos eram similares, mas não se confundiam.
Talvez se eu fosse pesar o Rodrigo com outra pessoa, qualquer pessoa, ele poderia ser mais importante, mas não com o Bruno.
Acho que o certo naquele momento era separar o Bruno de qualquer comparação. Pode até parecer egoísmo ou exagero, mas ele não tinha comparação com ninguém. Meu namorado ocupava um patamar que era só dele e de mais ninguém. Por isso era injusto compará-lo com o Rodrigo. Esse era um jogo desleal.
Eu refleti e refleti muito. E continuei firme na minha decisão. A separação seria pra lá de dolorosa, pra lá de difícil, mas ela seria muito necessária. Uma hora essa separação teria que acontecer e para evitar maiores sofrimentos, era melhor que acontecesse logo de uma vez.
- Fica? – a voz dele saiu em um silvo.
- Não me pede isso, por favor...
- Eu não quero me despedir de você, eu não quero!
- A gente não precisa se despedir, Rodrigo... Eu vou vir aqui te visitar toda semana, sempre que eu puder.
- Não vai ser a mesma coisa, desculpa. Com licença!
Meu irmão saiu do sofá e desceu as escadas correndo. Eu tentei ir atrás dele, mas não consegui alcançá-lo. Por que ele estava fazendo aquilo?
- Algum problema? – Vinícius apareceu atrás de mim de repente.
- Ah, Vini... Eu acho que eu fiz uma besteira...
- O que está acontecendo?
- Eu vou sair da república.
- Como é?
- Eu vou morar com o Bruno... O Rodrigo não aceitou...
- Até que enfim, hein? Pensei que isso fosse acontecer há mil anos atrás... Já esperava por essa notícia a qualquer momento.
- Hã?
- É verdade, Caio. Me desculpa, mas é verdade. Eu já estava esperando essa notícia há meses. Vocês se amam, é natural que isso aconteça. Acho que demorou até demais.
- Tá me expulsando daqui? – achei que fosse isso. – Você não quer que eu more mais aqui?
- Não, besta. Não é isso! Tá louco? Se dependesse de mim, você ficaria aqui pra sempre, mas eu sei que isso não vai acontecer. Eu já imaginava que mais cedo ou mais tarde você iria se mudar pro apê dele. E o Rodrigo não tem que aceitar nada.
- Mas ele é meu amigo!
- Sei disso. A hora da separação vai ser difícil, mas ele tem que entender que isso ia acontecer em algum momento.
- Eu queria saber onde ele está...
- Ele precisa de um tempo. Deixa ele respirar. Imagina se fosse o contrário? Imagina se ele viesse falando que ia sair da república? Como você reagiria?
- Claro que eu não ia gostar!
- Então?! Com ele, deve estar acontecendo isso. Você acha que eu gostei da notícia que o Fabrício vai sair? Claro que não, mas eu respeitei a decisão dele. A nossa vida é feita de ciclos e esse ciclo está se encerrando na sua vida, parceirinho. Ele vai entender.
- Eu não quero perder a amizade do Rodrigo...
- Se a amizade de vocês for verdadeira, ela não vai morrer por causa disso. Pelo contrário: a distância vai até fortalecer o elo entre vocês dois.
- Eu vou repensar a minha decisão. Eu não quero que o Rodrigo fique chateado comigo!
- E vai chatear o Bruno?
- Não... Eu não posso chatear o Bruno...
- Alguém nessa história vai sofrer, Caio. Ou seremos nós, ou será o Bruno. E eu acho que você não vai querer fazer o seu namorado sofrer, né?
- De jeito nenhum.
- Pois então? Dá um tempinho pro Digow. Ele vai se acostumar com a ideia.
- Assim espero – abaixei a cabeça.
- Não fica assim não, Caio. Vai dar tudo certo. Você tem que ter a sua independência também... Embora eu esteja meio triste pela sua saída, mas...
- Está?
- Claro que sim. É difícil dizer tchau, né? Eu gosto de você.
- Eu também gosto de você, Vini!
Dei um abraço rápido no meu amigo, mas isso não fez a minha preocupação diminuir. Eu não queria que o Rodrigo ficasse chateado comigo.
- Eu vou ligar pro Rodrigo...
- Não! – Vinícius pegou o celular da minha mão. – Deixa ele ficar sozinho um pouco. Ele precisa.
- Mas eu to preocupado!
- Não tem motivo pra isso. O Rodrigo é grandinho o suficiente pra saber o que faz. Deixa ele. Logo ele aparece.
Eu queria ser tão calmo e seguro como o Vinícius era. Se dependesse de mim, eu teria corrido atrás do meu melhor amigo ou já teria ligado pra ele pelo menos umas mil vezes.
- Não fica assim, é sério – o médico tentou me animar. – Vai ficar tudo bem!
- Por que você é tão confiante assim, hein?
- Porque eu já vivi tudo isso daí, meu querido. Relaxe.
Eu tentei. Fui pro quarto, comuniquei a minha novidade para o Fabrício e tentei ficar tranquilo, mas não consegui.
Fabrício também me apoiou e também falou que pensou que isso iria acontecer antes.
- As coisas só acontecem na hora certa – falei.
- Isso é verdade mesmo – concordou o Dr. Vinícius. – Agora, já que vocês dois também vão sair, nós vamos precisar chamar alguém pra cá, senão as despesas vão aumentar muito.
Resolvi não entrar nesse mérito. Eu não ia ficar mais lá, portanto eu não tinha que me preocupar com isso. A minha preocupação tinha nome e sobrenome: Rodrigo Carvalho.
Bruno me ligou e eu contei o que estava acontecendo. Ele foi outro que pediu para eu me acalmar e disse que iria dar tudo certo. Ele não demonstrava mais ciúmes naquele momento.
- Qualquer coisa me liga, tá?
- Pode deixar. Fica com Deus – falei.
- Amém, você também. Eu te amo!
- Eu também te amo, Bruh.
Fiquei esperando ansiosamente a volta do Rodrigo e eu quase entrei em desespero, porque ele demorou muito a aparecer. Meu melhor amigo só voltou depois da meia noite.
- Digow...
- Oi...
- Onde você estava? Eu fiquei preocupado com você...
- Eu estou bem, não se preocupe. Boa noite.
E dizendo isso ele deitou, virou pra parede e não falou mais nada. Eu suspirei e tentei deixar as coisas acontecerem naturalmente. Algo me dizia que aquela seria uma semana complicada na minha vida pessoal.
- Saudades de você, meu branquelinho
lindo – minha amiga Janaína me abraçou com força.
- Eu também!
- Que carinha é essa? Aconteceu alguma coisa?
- Estou preocupado.
- Com o quê? Eu posso te ajudar em alguma coisa?
- Com o Rodrigo... Acho que ele está chateado comigo.
- O que você aprontou?
- Nada! Eu só falei que ia sair da república.
- Você vai sair? Por quê?
- Porque eu vou morar com o Bruno. Ele pediu nesse final de semana.
- MENTIRA? VIADO, VOCÊ VAI CASAR?
- Isso! Fala um pouco mais alto, querida. Até o povo que está andando na Avenida Brasil ouviu o seu grito agora.
- QUE LINDO, AMOR!!! – ela me abraçou rindo e me balançou como um pêndulo. – Que coisa mais fofa, meu Deus!
- Aí o Rodrigo ficou chateado. E eu não sei o que fazer.
Janaína também me aconselhou a deixar o tempo agir por conta própria. Mais cedo ou mais tarde, meu melhor amigo ia se acostumar. E eu estava torcendo para que isso acontecesse.
Naquele mesmo dia, Janaína e eu fomos simplesmente obrigados a participar de uma aula de jump na academia. E nós dois nos divertimos pra caramba. Só isso fez a minha tristeza diminuir.
- É pra chutar, Janaína – disse a professora que estava ministrando a aula. – Não é pra cair da cama elástica!
- Isso é muito difícil – a morena estava vermelha. – Eu não estou acostumada com isso.
- Presta atenção da próxima vez. VAMOS LÁ, TURMA!
Pra quem não conhece, jump é uma modalidade de atividade física que é realizada em cima de uma cama elástica redonda, onde os alunos das academias literalmente dançam, normalmente um ritmo bem divertido e animado. Essas aulas são muito puxadas e bem cansativas.
- E SOBE... E DESCE... DIREITA... ESQUERDA... VAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAMOS, TURMA!!!
Eu me diverti muito rindo da Janaína, mas também me cansei ao extremo. O dia de trabalho não foi fácil e ficar pensando no Rodrigo estava deixando a minha mente bem pesada. Eu precisava relaxar um pouco.
- E por hoje é só – a professora desligou o rádio. – Muito obrigada à todos e até a próxima aula!!!
- Nunca mais boto os meus pés nessa sala – a minha chefinha resmungou consigo mesma.
- Te espero na próxima aula, hein Jana? – a Virgínia, a professora, tocou no ombro da minha amiga.
- Claro, Virgínia. Pode esperar... Sentada!
- Como assim? Que moleza é essa?
- Moleza? Meus ossos pedem cama. Você acabou comigo hoje!
- Mas eu nem fiz nada! Você nem viu uma aula de verdade...
- E nem quero ver!
- Mentira dela, Virgínia. Ela vem sim. Nós vamos vir na verdade.
- Vou cobrar, meninos. Boa noite!
- Boa noite.
- Eu nunca mais faço essa aula. Até a minha alma está suada!
- Quer parar de ser chata? Vamos tomar banho que eu quero ir pra casa. Estou preocupado com meu amigo.
- Ainda nesse assunto?
- Claro!
Fui pro vestiário e corri direto pra ducha. Enquanto me banhava, fiquei pensando de novo no Rodrigo. Será que ele estava mais calmo?
- Que noite linda, né? – Janaína agarrou no meu braço e nós saímos andando juntos.
- Verdade.
- Não fica tristinho, amigo. Vai dar tudo certo.
- Assim eu espero.
Janaína e eu fomos até o ponto de ônibus e não paramos de tagarelar um segundo sequer. Não sei como eu não me cansava de ouvir a voz da Janaína durante todo o dia.
- Eita que morena gostosa, hein? – ouvi uma voz masculina atrás de mim.
Me virei e vi um idoso olhando pro corpo da minha amiga. Só nós três estávamos no ponto de ônibus.
- Eu mereço!!! – Janaína deu dois passos e bufou.
- Ei, morena? Como você se chama?
A Janaína não falou nada.
- Como você se chama, delícia? – o cara foi até onde a minha amiga estava e tocou nas costas dela.
- Na boa, velho babão: fica na sua!
Eu comecei a rir só pela cara de ódio que ela estava fazendo.
- Por uma morena dessa eu babo mesmo. Como você se chama coisa gostosa?
- Maria Macumbeira – foi o que ela respondeu.
- Nossa... Uma morena linda e gostosa dessas com um nome tão feio?
- Caiô? Faz alguma coisa?
- Eu? Tenho nada com isso não!
- Me dá seu telefone, morena?
- Sai pra lá, velho fedorento!
- Amiga? Seu ônibus é esse daí, não é?
- GRAÇAS A DEUS!
- Vai, morena? Me dá seu telefone? Por favor? – o idoso continuou insistindo.
- Nunca. Quem gosta de velho é dentadura e empréstimo pra aposentado. Boa noite, amigo. Fica com Deus.
- Você também, lindona! Te adoro!
- Eu também.
- Eu te acompanho até o ônibus, morena – o velho seguiu a minha amiga.
- Vai me acompanhar por que? Tenho cara de procissão? Vai pro raio que o parta, velho do pinto murcho!
Eu dei risada de novo e fiquei esperando o meu coletivo, mas ele estava demorando demais.
- Ei, garoto? – o idoso foi falar comigo.
- Hum?
- Me dá o telefone da sua amiga, vai?
- Não!
- Vai, cara! Eu tenho certeza que eu vou deixar essa morena louquinha!
- Nem com a fábrica do Viagra inteira você conseguiria isso!
- Porra, quem precisa de Viagra com uma mulher daquelas? Me passa o telefone dela, cara?
- Não vou passar nada. Vai procurar outra, velho.
- Vai, parceiro... Passa aí o telefone dessa gostosa! Ela é muito gata, eu quero ficar com ela!
- Você tem idade pra ser avô dela, cara. Se coloca no seu lugar e vai procurar uma mulher da sua idade.
- Eu gosto é das novinhas, faz esse favor... Quebra essa aí, cara!
O homem me encheu tanto o saco que eu fui ficando irritado gradativamente. Quando eu não aguentei mais, eu peguei o meu celular, abri a agenda de contatos e passei um telefone para ele.
- Porra, moleque!!! Valeu, valeu! Eu ainda vou ficar com aquela princesa!
- Boa sorte – eu segurei uma risada e entrei no meu ônibus.
- VALEU.
- De nada, velho idiota!
Bastou eu passar na catraca para ligar pra minha amiga:
- Arrasando corações, hein gatinha?
- Minha Nossa Senhora do Reumatismo me defenda. Eu lá gosto de velhos?
- Ele pediu o seu telefone pra mim, sabia?
- Você não passou não, né Caio Monteiro?
- Passei...
- EU TE MATO, DESGRAÇADO, CACHORRO, FILHO DA PUTA, VIADO...
- Passei o telefone do caminhão do gás, Jana.
- OI?
- Passei o telefone do caminhão do gás – repeti.
Ela soltou uma gargalhada e eu ri junto com ela. Eu queria saber qual teria sido a reação do cara na hora que ele ligasse pro telefone que eu passei.
- Você é impagável, é por isso que eu te amo!
- Eu também te amo, morena! Sou foda, não sou?
- Você não existe. Sou sua fã, cara! Por que eu não pensei nisso antes?
- Porque você não tem a minha inteligência, honey!
Janaína e eu não falamos por muito tempo. Eu tive que desligar logo por causa da falta de créditos. E ainda teria que ligar pro Bruno quando chegasse em casa...
Logo a minha mente voltou a pensar no Rodrigo. Eu queria saber como ele estava. Se estava melhor, se já tinha se conformado...
Fiquei muito, muito, muito feliz quando entrei no quarto e percebi que ele estava sozinho. Essa seria a oportunidade perfeita para a gente conversar e colocar tudo em pratos limpos.
- Oi...
- Olá – ele foi meio seco.
- Você está bem?
- Uhum e você?
- Eu também. A gente pode falar?
- O que é dessa vez? Já vai se despedir?
- Não. Não vou me despedir. Eu queria falar com você. Saber como você está...
- Bem, eu já disse!
- Você está chateado comigo?
- Não. Deveria?
- Não sei. Isso é você que tem que me responder.
- Não, não estou chateado. Você é que sabe o que tem que fazer. Se você quer sair daqui eu não posso fazer nada, né?
- Não é isso e você sabe muito bem. Você sabe que eu tô dividido.
- Mas já fez a sua escolha e eu respeito, mas não me peça para ficar feliz porque eu não estou.
- Eu também não estou feliz, Rodrigo!
- Então por que você vai sair?
- Quero dizer, eu estou feliz por ficar ao lado dele, mas estou triste por te deixar...
- Você sabe o que faz. Eu não vou me meter nesse assunto. Só não me peça pra ficar feliz, eu já disse.
- Mas... A gente vai se acostumar...
- É, a gente vai se acostumar. Eu já to prevendo que vamos perder o contato mesmo, então é melhor você ir logo. Por que não aproveita e já vai hoje?
- Nossa... É assim que você vai me tratar?
- Só estou sendo prático, Caio. Não é isso que você quer? Então vai logo atrás do seu namoradinho!
- Rodrigo...
Eu fiquei com meu coração partido ao meio, literalmente ao meio. Uma parte era do Bruno e a outra era do Rodrigo e eu não sabia dizer qual parte era mais importante naquele momento.
- Posso deitar com você? – perguntei.
- Seu namorado vai brigar. É melhor não.
- Por favor? – nessa altura do campeonato eu já tinha voltado do banho.
- Não. Vai pra sua cama, eu não quero ficar perto de você porque senão depois eu vou sofrer mais.
- A gente não vai perder o contato, cara! – mesmo sem ele deixar eu deitei na cama dele.
- Será, Caio? – ele virou e me fitou. – Será mesmo que a gente não vai perder o contato?
- Eu prometo que não! Eu juro que não! Eu juro por Deus, eu prometo pela minha vida que eu não vou perder o contato com você.
- Mesmo assim não será a mesma coisa, desculpa.
- Eu sei que não vai ser a mesma coisa, Digow! Mas uma hora isso ia acontecer, cara!
- Não ia, não!
- Não? E você vai ficar aqui no Rio pra sempre? Não vai mais voltar pro Paraná? Uma hora você vai voltar e aí? Como eu vou ficar?
- É diferente!
- Não, não é diferente. É pior. É bem pior. Se isso acontecer, aí sim eu duvido que a gente mantenha contato! Eu só vou mudar de casa, vou continuar na cidade e a gente vai poder se ver todos os dias, se falar todos os dias. Só se você não quiser mais a minha amizade, aí são outros quinhentos!
- Se eu não quisesse a sua amizade eu não estaria sofrendo desse jeito. Infeliz!
- Você que é! Deixa eu dormir com você? Por favor?
- Só se você me der um abraço – ele voltou a olhar pra parede.
Eu abracei aquele príncipe e nós suspiramos juntos.
- Eu te amo muito, tá? – falei.
- Eu também te amo, Caio. Vou sentir a sua falta!
- Eu também vou sentir a sua falta!
Não queria nem pensar naquilo, pelo menos naquele momento. Se eu o fizesse, seria impossível controlar o choro. Impossível mesmo.
- Vai ficar tudo bem – eu tentei ser forte.
- Eu espero que sim. Eu sinto um vazio tão grande dentro de mim, sabia?
- Eu também sinto esse vazio. É algo muito ruim.
- É. É sim.
- Seus pais estão bem?
- Nossos pais – ele me corrigiu. – Eles estão ótimos.
- Manda um beijo pra eles, tá?
- Uhum.
Como era bom ficar ao lado dele, na mesma cama que ele, sentindo o seu calor, o seu cheirinho delicioso... Eu ia mesmo sentir muita falta daquele garoto, muita mesmo.
- Caio?
- O que foi?
- Que dia você vai?
- No final de semana. Eu acho.
- Eu não quero estar aqui no dia, tá?
- Não?
- Não. Seria muito difícil pra mim. Muito difícil mesmo. Eu não quero nem pensar.
- Mas você me entende, não entende?
- Sim, mas isso não diminui a minha dor e a minha tristeza.
- Está chateado comigo?
- Não necessariamente.
Era uma situação muito complicada. Eu ficava entre a cruz e a espada. Por um lado tinha o meu Bruno e por outro tinha o meu Rodrigo. Quem era mais importante afinal de contas?
O Bruno é claro.
Mas se ele não fosse namorado, minha alma gêmea, cara-metade, eu ficaria mais em dúvida ainda.
Pelo menos o Digow estava mais sereno e isso me deixou aliviado. Eu não saberia o que seria de mim se o Rodrigo continuasse irredutível do jeito que estava. As coisas com certeza seriam ainda piores.
- Eu também!
- Que carinha é essa? Aconteceu alguma coisa?
- Estou preocupado.
- Com o quê? Eu posso te ajudar em alguma coisa?
- Com o Rodrigo... Acho que ele está chateado comigo.
- O que você aprontou?
- Nada! Eu só falei que ia sair da república.
- Você vai sair? Por quê?
- Porque eu vou morar com o Bruno. Ele pediu nesse final de semana.
- MENTIRA? VIADO, VOCÊ VAI CASAR?
- Isso! Fala um pouco mais alto, querida. Até o povo que está andando na Avenida Brasil ouviu o seu grito agora.
- QUE LINDO, AMOR!!! – ela me abraçou rindo e me balançou como um pêndulo. – Que coisa mais fofa, meu Deus!
- Aí o Rodrigo ficou chateado. E eu não sei o que fazer.
Janaína também me aconselhou a deixar o tempo agir por conta própria. Mais cedo ou mais tarde, meu melhor amigo ia se acostumar. E eu estava torcendo para que isso acontecesse.
Naquele mesmo dia, Janaína e eu fomos simplesmente obrigados a participar de uma aula de jump na academia. E nós dois nos divertimos pra caramba. Só isso fez a minha tristeza diminuir.
- É pra chutar, Janaína – disse a professora que estava ministrando a aula. – Não é pra cair da cama elástica!
- Isso é muito difícil – a morena estava vermelha. – Eu não estou acostumada com isso.
- Presta atenção da próxima vez. VAMOS LÁ, TURMA!
Pra quem não conhece, jump é uma modalidade de atividade física que é realizada em cima de uma cama elástica redonda, onde os alunos das academias literalmente dançam, normalmente um ritmo bem divertido e animado. Essas aulas são muito puxadas e bem cansativas.
- E SOBE... E DESCE... DIREITA... ESQUERDA... VAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAMOS, TURMA!!!
Eu me diverti muito rindo da Janaína, mas também me cansei ao extremo. O dia de trabalho não foi fácil e ficar pensando no Rodrigo estava deixando a minha mente bem pesada. Eu precisava relaxar um pouco.
- E por hoje é só – a professora desligou o rádio. – Muito obrigada à todos e até a próxima aula!!!
- Nunca mais boto os meus pés nessa sala – a minha chefinha resmungou consigo mesma.
- Te espero na próxima aula, hein Jana? – a Virgínia, a professora, tocou no ombro da minha amiga.
- Claro, Virgínia. Pode esperar... Sentada!
- Como assim? Que moleza é essa?
- Moleza? Meus ossos pedem cama. Você acabou comigo hoje!
- Mas eu nem fiz nada! Você nem viu uma aula de verdade...
- E nem quero ver!
- Mentira dela, Virgínia. Ela vem sim. Nós vamos vir na verdade.
- Vou cobrar, meninos. Boa noite!
- Boa noite.
- Eu nunca mais faço essa aula. Até a minha alma está suada!
- Quer parar de ser chata? Vamos tomar banho que eu quero ir pra casa. Estou preocupado com meu amigo.
- Ainda nesse assunto?
- Claro!
Fui pro vestiário e corri direto pra ducha. Enquanto me banhava, fiquei pensando de novo no Rodrigo. Será que ele estava mais calmo?
- Que noite linda, né? – Janaína agarrou no meu braço e nós saímos andando juntos.
- Verdade.
- Não fica tristinho, amigo. Vai dar tudo certo.
- Assim eu espero.
Janaína e eu fomos até o ponto de ônibus e não paramos de tagarelar um segundo sequer. Não sei como eu não me cansava de ouvir a voz da Janaína durante todo o dia.
- Eita que morena gostosa, hein? – ouvi uma voz masculina atrás de mim.
Me virei e vi um idoso olhando pro corpo da minha amiga. Só nós três estávamos no ponto de ônibus.
- Eu mereço!!! – Janaína deu dois passos e bufou.
- Ei, morena? Como você se chama?
A Janaína não falou nada.
- Como você se chama, delícia? – o cara foi até onde a minha amiga estava e tocou nas costas dela.
- Na boa, velho babão: fica na sua!
Eu comecei a rir só pela cara de ódio que ela estava fazendo.
- Por uma morena dessa eu babo mesmo. Como você se chama coisa gostosa?
- Maria Macumbeira – foi o que ela respondeu.
- Nossa... Uma morena linda e gostosa dessas com um nome tão feio?
- Caiô? Faz alguma coisa?
- Eu? Tenho nada com isso não!
- Me dá seu telefone, morena?
- Sai pra lá, velho fedorento!
- Amiga? Seu ônibus é esse daí, não é?
- GRAÇAS A DEUS!
- Vai, morena? Me dá seu telefone? Por favor? – o idoso continuou insistindo.
- Nunca. Quem gosta de velho é dentadura e empréstimo pra aposentado. Boa noite, amigo. Fica com Deus.
- Você também, lindona! Te adoro!
- Eu também.
- Eu te acompanho até o ônibus, morena – o velho seguiu a minha amiga.
- Vai me acompanhar por que? Tenho cara de procissão? Vai pro raio que o parta, velho do pinto murcho!
Eu dei risada de novo e fiquei esperando o meu coletivo, mas ele estava demorando demais.
- Ei, garoto? – o idoso foi falar comigo.
- Hum?
- Me dá o telefone da sua amiga, vai?
- Não!
- Vai, cara! Eu tenho certeza que eu vou deixar essa morena louquinha!
- Nem com a fábrica do Viagra inteira você conseguiria isso!
- Porra, quem precisa de Viagra com uma mulher daquelas? Me passa o telefone dela, cara?
- Não vou passar nada. Vai procurar outra, velho.
- Vai, parceiro... Passa aí o telefone dessa gostosa! Ela é muito gata, eu quero ficar com ela!
- Você tem idade pra ser avô dela, cara. Se coloca no seu lugar e vai procurar uma mulher da sua idade.
- Eu gosto é das novinhas, faz esse favor... Quebra essa aí, cara!
O homem me encheu tanto o saco que eu fui ficando irritado gradativamente. Quando eu não aguentei mais, eu peguei o meu celular, abri a agenda de contatos e passei um telefone para ele.
- Porra, moleque!!! Valeu, valeu! Eu ainda vou ficar com aquela princesa!
- Boa sorte – eu segurei uma risada e entrei no meu ônibus.
- VALEU.
- De nada, velho idiota!
Bastou eu passar na catraca para ligar pra minha amiga:
- Arrasando corações, hein gatinha?
- Minha Nossa Senhora do Reumatismo me defenda. Eu lá gosto de velhos?
- Ele pediu o seu telefone pra mim, sabia?
- Você não passou não, né Caio Monteiro?
- Passei...
- EU TE MATO, DESGRAÇADO, CACHORRO, FILHO DA PUTA, VIADO...
- Passei o telefone do caminhão do gás, Jana.
- OI?
- Passei o telefone do caminhão do gás – repeti.
Ela soltou uma gargalhada e eu ri junto com ela. Eu queria saber qual teria sido a reação do cara na hora que ele ligasse pro telefone que eu passei.
- Você é impagável, é por isso que eu te amo!
- Eu também te amo, morena! Sou foda, não sou?
- Você não existe. Sou sua fã, cara! Por que eu não pensei nisso antes?
- Porque você não tem a minha inteligência, honey!
Janaína e eu não falamos por muito tempo. Eu tive que desligar logo por causa da falta de créditos. E ainda teria que ligar pro Bruno quando chegasse em casa...
Logo a minha mente voltou a pensar no Rodrigo. Eu queria saber como ele estava. Se estava melhor, se já tinha se conformado...
Fiquei muito, muito, muito feliz quando entrei no quarto e percebi que ele estava sozinho. Essa seria a oportunidade perfeita para a gente conversar e colocar tudo em pratos limpos.
- Oi...
- Olá – ele foi meio seco.
- Você está bem?
- Uhum e você?
- Eu também. A gente pode falar?
- O que é dessa vez? Já vai se despedir?
- Não. Não vou me despedir. Eu queria falar com você. Saber como você está...
- Bem, eu já disse!
- Você está chateado comigo?
- Não. Deveria?
- Não sei. Isso é você que tem que me responder.
- Não, não estou chateado. Você é que sabe o que tem que fazer. Se você quer sair daqui eu não posso fazer nada, né?
- Não é isso e você sabe muito bem. Você sabe que eu tô dividido.
- Mas já fez a sua escolha e eu respeito, mas não me peça para ficar feliz porque eu não estou.
- Eu também não estou feliz, Rodrigo!
- Então por que você vai sair?
- Quero dizer, eu estou feliz por ficar ao lado dele, mas estou triste por te deixar...
- Você sabe o que faz. Eu não vou me meter nesse assunto. Só não me peça pra ficar feliz, eu já disse.
- Mas... A gente vai se acostumar...
- É, a gente vai se acostumar. Eu já to prevendo que vamos perder o contato mesmo, então é melhor você ir logo. Por que não aproveita e já vai hoje?
- Nossa... É assim que você vai me tratar?
- Só estou sendo prático, Caio. Não é isso que você quer? Então vai logo atrás do seu namoradinho!
- Rodrigo...
Eu fiquei com meu coração partido ao meio, literalmente ao meio. Uma parte era do Bruno e a outra era do Rodrigo e eu não sabia dizer qual parte era mais importante naquele momento.
- Posso deitar com você? – perguntei.
- Seu namorado vai brigar. É melhor não.
- Por favor? – nessa altura do campeonato eu já tinha voltado do banho.
- Não. Vai pra sua cama, eu não quero ficar perto de você porque senão depois eu vou sofrer mais.
- A gente não vai perder o contato, cara! – mesmo sem ele deixar eu deitei na cama dele.
- Será, Caio? – ele virou e me fitou. – Será mesmo que a gente não vai perder o contato?
- Eu prometo que não! Eu juro que não! Eu juro por Deus, eu prometo pela minha vida que eu não vou perder o contato com você.
- Mesmo assim não será a mesma coisa, desculpa.
- Eu sei que não vai ser a mesma coisa, Digow! Mas uma hora isso ia acontecer, cara!
- Não ia, não!
- Não? E você vai ficar aqui no Rio pra sempre? Não vai mais voltar pro Paraná? Uma hora você vai voltar e aí? Como eu vou ficar?
- É diferente!
- Não, não é diferente. É pior. É bem pior. Se isso acontecer, aí sim eu duvido que a gente mantenha contato! Eu só vou mudar de casa, vou continuar na cidade e a gente vai poder se ver todos os dias, se falar todos os dias. Só se você não quiser mais a minha amizade, aí são outros quinhentos!
- Se eu não quisesse a sua amizade eu não estaria sofrendo desse jeito. Infeliz!
- Você que é! Deixa eu dormir com você? Por favor?
- Só se você me der um abraço – ele voltou a olhar pra parede.
Eu abracei aquele príncipe e nós suspiramos juntos.
- Eu te amo muito, tá? – falei.
- Eu também te amo, Caio. Vou sentir a sua falta!
- Eu também vou sentir a sua falta!
Não queria nem pensar naquilo, pelo menos naquele momento. Se eu o fizesse, seria impossível controlar o choro. Impossível mesmo.
- Vai ficar tudo bem – eu tentei ser forte.
- Eu espero que sim. Eu sinto um vazio tão grande dentro de mim, sabia?
- Eu também sinto esse vazio. É algo muito ruim.
- É. É sim.
- Seus pais estão bem?
- Nossos pais – ele me corrigiu. – Eles estão ótimos.
- Manda um beijo pra eles, tá?
- Uhum.
Como era bom ficar ao lado dele, na mesma cama que ele, sentindo o seu calor, o seu cheirinho delicioso... Eu ia mesmo sentir muita falta daquele garoto, muita mesmo.
- Caio?
- O que foi?
- Que dia você vai?
- No final de semana. Eu acho.
- Eu não quero estar aqui no dia, tá?
- Não?
- Não. Seria muito difícil pra mim. Muito difícil mesmo. Eu não quero nem pensar.
- Mas você me entende, não entende?
- Sim, mas isso não diminui a minha dor e a minha tristeza.
- Está chateado comigo?
- Não necessariamente.
Era uma situação muito complicada. Eu ficava entre a cruz e a espada. Por um lado tinha o meu Bruno e por outro tinha o meu Rodrigo. Quem era mais importante afinal de contas?
O Bruno é claro.
Mas se ele não fosse namorado, minha alma gêmea, cara-metade, eu ficaria mais em dúvida ainda.
Pelo menos o Digow estava mais sereno e isso me deixou aliviado. Eu não saberia o que seria de mim se o Rodrigo continuasse irredutível do jeito que estava. As coisas com certeza seriam ainda piores.
NA QUINTA-FEIRA...
A maior parte das minhas coisas já
estava arrumadas. Eu ia sair da república no sábado e a cada segundo que
passava, o meu vazio só fazia aumentar.
Quando eu cheguei do trabalho naquele dia, os meninos estavam me esperando para uma espécie de despedida oficial. Havia muita cerveja e até uns salgados, mas ninguém estava animado.
- Eu não quero comemorar esse dia, gente – falei, com um sorriso amarelo. – Vai ser muito difícil pra mim.
- A gente sabe disso, Caio – Vinícius suspirou. – Mas precisamos encarar com naturalidade.
- Amanhã é meu último dia aqui também, Caio – Fabrício tentou ser animado. – Amanhã o neném recebe alta, graças a Deus.
- Mal posso esperar para conhecê-lo – tentei me alegrar, mas eu não consegui.
Dos quatro, o Rodrigo era o menos animado. Nem falar ele estava falando.
- Vamos conversar de novo?
- Não. Não temos mais nada pra falar. Deixa eu curtir aqui a televisão, tá?
- Tudo bem.
Saí de perto e voltei a trocar ideia com os outros dois. O que seria de mim sem meus amigos por perto? Eu não sabia responder essa pergunta.
- Mês que vem é seu aniversário, né? – Vinícius mudou radicalmente de assunto.
- Uhum.
- 22?
- 22 – confirmei.
- Está ficando velhinho, hein?
- Pelo menos eu continuo na casa dos 20, já o senhor...
- Precisa lembrar disso não, poxa – Vini riu. – Eu sim estou ficando velho.
- Ei, Caio... Você vai no batizado do Nico, né?
- Claro que vou, Fabrício! É só me falar quando vai ser.
- Eu vou esperar ele se recuperar mais um pouquinho. Quando ele estiver bem de saúde e bem bonito eu marco a data.
- Quem serão os padrinhos?
- Vinícius e Bruna.
- Excelente escolha!
- Eu vou ganhar um afilhado e nem conheço o rostinho dele. Vê se pode.
- Não consigo tirar foto do bichinho na UTI. É triste demais. Muito triste.
- Posso imaginar – suspirei.
- O Rodrigo não está legal, né? – Fabrício mudou de assunto.
- Deixa ele – Vinícius insistiu nesse assunto.
- Eu já estou até me sentindo culpado.
- Não se sinta, Caio. Vai passar. E eu vou falar com ele.
- Não precisa, Vini.
- Vou sim. Ele tem que entender que é melhor pra você.
Suspirei. O meu melhor amigo estava muito chateado.
Quando eu cheguei do trabalho naquele dia, os meninos estavam me esperando para uma espécie de despedida oficial. Havia muita cerveja e até uns salgados, mas ninguém estava animado.
- Eu não quero comemorar esse dia, gente – falei, com um sorriso amarelo. – Vai ser muito difícil pra mim.
- A gente sabe disso, Caio – Vinícius suspirou. – Mas precisamos encarar com naturalidade.
- Amanhã é meu último dia aqui também, Caio – Fabrício tentou ser animado. – Amanhã o neném recebe alta, graças a Deus.
- Mal posso esperar para conhecê-lo – tentei me alegrar, mas eu não consegui.
Dos quatro, o Rodrigo era o menos animado. Nem falar ele estava falando.
- Vamos conversar de novo?
- Não. Não temos mais nada pra falar. Deixa eu curtir aqui a televisão, tá?
- Tudo bem.
Saí de perto e voltei a trocar ideia com os outros dois. O que seria de mim sem meus amigos por perto? Eu não sabia responder essa pergunta.
- Mês que vem é seu aniversário, né? – Vinícius mudou radicalmente de assunto.
- Uhum.
- 22?
- 22 – confirmei.
- Está ficando velhinho, hein?
- Pelo menos eu continuo na casa dos 20, já o senhor...
- Precisa lembrar disso não, poxa – Vini riu. – Eu sim estou ficando velho.
- Ei, Caio... Você vai no batizado do Nico, né?
- Claro que vou, Fabrício! É só me falar quando vai ser.
- Eu vou esperar ele se recuperar mais um pouquinho. Quando ele estiver bem de saúde e bem bonito eu marco a data.
- Quem serão os padrinhos?
- Vinícius e Bruna.
- Excelente escolha!
- Eu vou ganhar um afilhado e nem conheço o rostinho dele. Vê se pode.
- Não consigo tirar foto do bichinho na UTI. É triste demais. Muito triste.
- Posso imaginar – suspirei.
- O Rodrigo não está legal, né? – Fabrício mudou de assunto.
- Deixa ele – Vinícius insistiu nesse assunto.
- Eu já estou até me sentindo culpado.
- Não se sinta, Caio. Vai passar. E eu vou falar com ele.
- Não precisa, Vini.
- Vou sim. Ele tem que entender que é melhor pra você.
Suspirei. O meu melhor amigo estava muito chateado.
Saí do trabalho e nem quis ir pra
academia. Meu coração estava apertado e eu sentia que poderia começar a chorar
a qualquer momento. Era meu último dia na república e eu não queria perder nenhum
segundo longe dos meus amigos. Meus melhores amigos.
Ao entrar na casa do Realengo, logo ouvi um choro de bebê. Era o Nícolas! Finalmente eu ia conhecer o filho do Fabrício! Como ele seria?
Fui pro quarto e meus olhos foram logo pros braços do papai da república. O Nícolas estava envolto em uma manta azul e não parava de chorar um segundo sequer.
- Calma, filho... Calma! Papai está aqui, papai está aqui...
- Oi, gente – entrei e joguei a mochila longe. – Deixa eu ver esse príncipe?
- Claro! Vem aqui!
Eu me aproximei e fui logo olhando pro rostinho do bebê. Ele era lindo, lindo, lindo!
- Ai meu Deus... Que coisinha mais fofa, Fabrício!!!
- Obrigado, Caio! Quer segurar?
- Eu posso?
- Claro. Só toma um pouco de cuidado porque ele é muito frágil.
- Claro... Vem com o titio, Nícolas... Meu Deus, como ele é lindo! Ele é muito lindo!
- Obrigado. Ele é lindo demais.
- Que pecado um anjinho desse sofrer tudo o que sofreu, né? Tão pequenino, tão frágil, tão indefeso e já não tem mãe... Isso é um crime!
- Verdade. Mas é a vida. Eu vou ser a mãe e o pai dele.
- Não tenho dúvidas disso. Que foi, anjinho? Está com frio? Que coisinha mais fofa, meu Deus!
Aos poucos o menininho foi se acalmando. Ele era bem parecido com o pai, mesmo sendo tão novinho. Nem precisava fazer DNA pra saber que o Nícolas era mesmo filho do Fabrício, tamanha a semelhança entre os dois, no entanto o exame foi feito e deu positivo.
- Ele é sua cara... O nariz, a boca...
- Os olhos são os da mãe. O cabelo também.
- Ele é muito lindo! Me apaixonei por ele.
- Todos nós. Me dá ele aqui. Ele quer o colo do padrinho agora.
Vinícius e Rodrigo também estavam no quarto. Meu melhor amigo não falou comigo em nenhum momento. Ele estava tristonho, sentado na cama e com a cabeça baixa.
- Oi, mano – sentei ao lado dele.
- Oi – notei que a voz do Digão estava embargada.
- Está tudo bem?
- Uhum – ele falou isso e levantou. Logo em seguida ele saiu do quarto.
- Deixa – Vinícius me barrou. – Eu vou falar com ele.
- Deixa eu ir...
- Não! Fica aqui com o Nico. Está na hora do Vinícius aqui falar com esse menino.
- Não briga com ele, por favor...
- Não vou brigar. Só vou conversar.
Se antes eu pensava que ia chorar, naquele momento então eu quase desabei. O mesmo aconteceu com o Fabrício.
- Eu não sei o que vai ser de mim sem o Vinícius por perto, sabe?
- Eu digo o mesmo. Me acostumei tanto com essa casa, com esses móveis, com essas pessoas, com a comida, com a bagunça, com o barulho...
- É... Não vai ser fácil sair daqui amanhã.
- Ei, chegou tudo lá na sua casa?
- Chegou sim. Amanhã eles vão montar, né?
- Vão sim. Já confirmei com o encarregado do montador hoje.
- Vai um montador só, Caio? E ele vai dar conta de tudo?
- Não, não. Vai uma equipe de montadores pra adiantar tudo.
- Ah! Que bom. A minha mãe vai esperar.
- E que horas você vai sair daqui?
- Depois do almoço mais ou menos. E você?
- Não sei ainda. Na hora que o Bruno puder vir me buscar. Acho que só no começo da noite. Eu vou chorar demais...
- Eu também vou. Não tenha dúvidas disso.
- Ei, onde ele vai dormir?
- Na minha cama.
- Não é perigoso ele cair?
- Não. Eu vou deixar ele pro lado da parede e vou ficar de olho a noite toda. Né, campeão?
- Que coisa mais fofa! Os moleques do outro quarto já viram?
- Já sim. Ele fez o maior sucesso, né filhão?
- Eu imagino. E sua mãe?
- Está toda babona. Ela queria que ele ficasse com ela hoje, mas eu não deixei. Eu preciso ficar perto desse anjo...
- Imagino. Não foi fácil esse tempo que ele ficou internado.
- Quase 2 meses, Caio. Muito tempo, tadinho!
- É verdade.
Eu queria saber o que o Vini estava falando com o Rodrigo. Será que o médico estava dando uma bronca no meu melhor amigo?
Mesmo perguntando como tinha sido o papo, o oncologista não quis abrir o jogo. Vinícius voltou só depois de mais de meia hora fora do quarto.
- Agora eu vou pro meu plantão. Que horas você vai amanhã, Caio?
- Acho que no período da noite.
- Então eu vou estar aqui pra me despedir de você.
- Uhum. Boa noite e bom trabalho.
- Obrigado!
Eu saí do quarto e fui procurar o Rodrigo pela casa. Ele estava na laje, sentado no chão e olhando pro horizonte.
- Mano?
- Oi, Caio?
- Posso sentar aqui com você?
- Uhum.
Sentei bem ao ladinho dele e tentei abraçá-lo, mas ele não correspondeu ao abraço. Ele só chorou.
- Mano... – eu também comecei a chorar.
- Eu vou sentir tanto a sua falta, Caio!
- Eu também vou, Rodrigo! Não fica assim, vai?
- Eu não quero que você vá embora, eu não quero!
- Mas eu preciso ir, poxa...
- Não! Você não precisa ir! Você tem que ficar! Você tem que ficar aqui com a gente, ficar aqui comigo. Eu te amo! Eu te amo e eu não quero ficar longe de você. Pode me chamar até de egoísta, eu não ligo! Eu quero ficar com você aqui em casa, sabe? Eu não quero me afastar de você, eu não quero!
- Não faz assim, Rodrigo...
- Eu to tentando ser forte, eu não pensei que eu fosse sofrer assim, mas está doendo aqui dentro... – ele colocou a mão no peito. – Está doendo muito!
- Está doendo em mim também, poxa vida... Não fica assim, por favor...
- Eu não sei porque eu estou sofrendo tanto, Caio! O que está acontecendo comigo?
- Eu não sei... A gente precisa aprender a lidar com essa situação...
- Não vai, mano... Fica! – ele me encarou.
- A gente já falou sobre isso – eu sequei uma lágrima dele.
- Você não gosta mais de mim?
- EU TE AMO, RODRIGO! QUE COISA!
- ENTÃO FICA! FICA COMIGO!
- Não posso... Eu não posso magoar o Bruno, entende?
- E pode me magoar, né?
- Eu não quero te magoar, mano! Por que você está complicando tanto as coisas?
- Porque eu te amo, Caio! Eu te amo, entende? Eu te amo! Eu te amo e não quero ficar longe de você. É por isso! Eu to com medo de te perder... Não vai, não vai... Por favor... Eu to te pedindo... Fica... Fica aqui em casa... Fica comigo... Por favor...
Eu não acreditei que ele tivesse falado aquilo. E não entendi em qual sentido eu deveria entender aquelas palavras.
Será que ele me amava como homem? Ou não passava de um amor fraternal? O mesmo que eu sentia por ele?
Será que o Rodrigo estava confundindo as coisas? Será que ele estava confuso? Indeciso? Eu não sabia o que pensar, eu não sabia como agir!
- Diz que você vai ficar, diz?
- Eu nunca pensei que você fosse reagir dessa forma, juro mesmo.
- O que imaginava? Que eu fosse deixar você ir numa boa? Claro que não!
- Digow? Posso te fazer uma pergunta?
- Pode.
- Promete que vai ser totalmente sincero comigo?
- Prometo sim, mas só se você disser que fica!
- Por acaso... Você está... Gostando de mim de outra forma que não seja como amigo?
Se antes ele estava vermelho por conta do choro, à partir daquele momento ele ficou mais vermelho ainda. Quase roxo.
- Responde?
- Não. Não estou não, mas nem por isso eu quero que o senhor vá embora. Eu quero que você fique ao meu lado, mano! Por favor...
- Tem certeza, Rodrigo? Fala a verdade, por favor. Eu não vou contar pra ninguém, eu juro!
- Caio... – ele só fez me abraçar com muita força. – Eu gosto de você... Fica aqui, por favor... Por favor...
- Gosta de mim como amigo só? Hum?
Ele ficou calado novamente. Esse silêncio foi suficiente para eu entender o que estava acontecendo. Pelo menos foi isso que eu imaginei: que o Rodrigo estava apaixonado por mim. Será que era isso mesmo?
- Chega de silêncio, Rodrigo! Eu quero uma resposta e quero que você seja sincero! Você está ou não está apaixonado por mim? Sim ou não?!
Ao entrar na casa do Realengo, logo ouvi um choro de bebê. Era o Nícolas! Finalmente eu ia conhecer o filho do Fabrício! Como ele seria?
Fui pro quarto e meus olhos foram logo pros braços do papai da república. O Nícolas estava envolto em uma manta azul e não parava de chorar um segundo sequer.
- Calma, filho... Calma! Papai está aqui, papai está aqui...
- Oi, gente – entrei e joguei a mochila longe. – Deixa eu ver esse príncipe?
- Claro! Vem aqui!
Eu me aproximei e fui logo olhando pro rostinho do bebê. Ele era lindo, lindo, lindo!
- Ai meu Deus... Que coisinha mais fofa, Fabrício!!!
- Obrigado, Caio! Quer segurar?
- Eu posso?
- Claro. Só toma um pouco de cuidado porque ele é muito frágil.
- Claro... Vem com o titio, Nícolas... Meu Deus, como ele é lindo! Ele é muito lindo!
- Obrigado. Ele é lindo demais.
- Que pecado um anjinho desse sofrer tudo o que sofreu, né? Tão pequenino, tão frágil, tão indefeso e já não tem mãe... Isso é um crime!
- Verdade. Mas é a vida. Eu vou ser a mãe e o pai dele.
- Não tenho dúvidas disso. Que foi, anjinho? Está com frio? Que coisinha mais fofa, meu Deus!
Aos poucos o menininho foi se acalmando. Ele era bem parecido com o pai, mesmo sendo tão novinho. Nem precisava fazer DNA pra saber que o Nícolas era mesmo filho do Fabrício, tamanha a semelhança entre os dois, no entanto o exame foi feito e deu positivo.
- Ele é sua cara... O nariz, a boca...
- Os olhos são os da mãe. O cabelo também.
- Ele é muito lindo! Me apaixonei por ele.
- Todos nós. Me dá ele aqui. Ele quer o colo do padrinho agora.
Vinícius e Rodrigo também estavam no quarto. Meu melhor amigo não falou comigo em nenhum momento. Ele estava tristonho, sentado na cama e com a cabeça baixa.
- Oi, mano – sentei ao lado dele.
- Oi – notei que a voz do Digão estava embargada.
- Está tudo bem?
- Uhum – ele falou isso e levantou. Logo em seguida ele saiu do quarto.
- Deixa – Vinícius me barrou. – Eu vou falar com ele.
- Deixa eu ir...
- Não! Fica aqui com o Nico. Está na hora do Vinícius aqui falar com esse menino.
- Não briga com ele, por favor...
- Não vou brigar. Só vou conversar.
Se antes eu pensava que ia chorar, naquele momento então eu quase desabei. O mesmo aconteceu com o Fabrício.
- Eu não sei o que vai ser de mim sem o Vinícius por perto, sabe?
- Eu digo o mesmo. Me acostumei tanto com essa casa, com esses móveis, com essas pessoas, com a comida, com a bagunça, com o barulho...
- É... Não vai ser fácil sair daqui amanhã.
- Ei, chegou tudo lá na sua casa?
- Chegou sim. Amanhã eles vão montar, né?
- Vão sim. Já confirmei com o encarregado do montador hoje.
- Vai um montador só, Caio? E ele vai dar conta de tudo?
- Não, não. Vai uma equipe de montadores pra adiantar tudo.
- Ah! Que bom. A minha mãe vai esperar.
- E que horas você vai sair daqui?
- Depois do almoço mais ou menos. E você?
- Não sei ainda. Na hora que o Bruno puder vir me buscar. Acho que só no começo da noite. Eu vou chorar demais...
- Eu também vou. Não tenha dúvidas disso.
- Ei, onde ele vai dormir?
- Na minha cama.
- Não é perigoso ele cair?
- Não. Eu vou deixar ele pro lado da parede e vou ficar de olho a noite toda. Né, campeão?
- Que coisa mais fofa! Os moleques do outro quarto já viram?
- Já sim. Ele fez o maior sucesso, né filhão?
- Eu imagino. E sua mãe?
- Está toda babona. Ela queria que ele ficasse com ela hoje, mas eu não deixei. Eu preciso ficar perto desse anjo...
- Imagino. Não foi fácil esse tempo que ele ficou internado.
- Quase 2 meses, Caio. Muito tempo, tadinho!
- É verdade.
Eu queria saber o que o Vini estava falando com o Rodrigo. Será que o médico estava dando uma bronca no meu melhor amigo?
Mesmo perguntando como tinha sido o papo, o oncologista não quis abrir o jogo. Vinícius voltou só depois de mais de meia hora fora do quarto.
- Agora eu vou pro meu plantão. Que horas você vai amanhã, Caio?
- Acho que no período da noite.
- Então eu vou estar aqui pra me despedir de você.
- Uhum. Boa noite e bom trabalho.
- Obrigado!
Eu saí do quarto e fui procurar o Rodrigo pela casa. Ele estava na laje, sentado no chão e olhando pro horizonte.
- Mano?
- Oi, Caio?
- Posso sentar aqui com você?
- Uhum.
Sentei bem ao ladinho dele e tentei abraçá-lo, mas ele não correspondeu ao abraço. Ele só chorou.
- Mano... – eu também comecei a chorar.
- Eu vou sentir tanto a sua falta, Caio!
- Eu também vou, Rodrigo! Não fica assim, vai?
- Eu não quero que você vá embora, eu não quero!
- Mas eu preciso ir, poxa...
- Não! Você não precisa ir! Você tem que ficar! Você tem que ficar aqui com a gente, ficar aqui comigo. Eu te amo! Eu te amo e eu não quero ficar longe de você. Pode me chamar até de egoísta, eu não ligo! Eu quero ficar com você aqui em casa, sabe? Eu não quero me afastar de você, eu não quero!
- Não faz assim, Rodrigo...
- Eu to tentando ser forte, eu não pensei que eu fosse sofrer assim, mas está doendo aqui dentro... – ele colocou a mão no peito. – Está doendo muito!
- Está doendo em mim também, poxa vida... Não fica assim, por favor...
- Eu não sei porque eu estou sofrendo tanto, Caio! O que está acontecendo comigo?
- Eu não sei... A gente precisa aprender a lidar com essa situação...
- Não vai, mano... Fica! – ele me encarou.
- A gente já falou sobre isso – eu sequei uma lágrima dele.
- Você não gosta mais de mim?
- EU TE AMO, RODRIGO! QUE COISA!
- ENTÃO FICA! FICA COMIGO!
- Não posso... Eu não posso magoar o Bruno, entende?
- E pode me magoar, né?
- Eu não quero te magoar, mano! Por que você está complicando tanto as coisas?
- Porque eu te amo, Caio! Eu te amo, entende? Eu te amo! Eu te amo e não quero ficar longe de você. É por isso! Eu to com medo de te perder... Não vai, não vai... Por favor... Eu to te pedindo... Fica... Fica aqui em casa... Fica comigo... Por favor...
Eu não acreditei que ele tivesse falado aquilo. E não entendi em qual sentido eu deveria entender aquelas palavras.
Será que ele me amava como homem? Ou não passava de um amor fraternal? O mesmo que eu sentia por ele?
Será que o Rodrigo estava confundindo as coisas? Será que ele estava confuso? Indeciso? Eu não sabia o que pensar, eu não sabia como agir!
- Diz que você vai ficar, diz?
- Eu nunca pensei que você fosse reagir dessa forma, juro mesmo.
- O que imaginava? Que eu fosse deixar você ir numa boa? Claro que não!
- Digow? Posso te fazer uma pergunta?
- Pode.
- Promete que vai ser totalmente sincero comigo?
- Prometo sim, mas só se você disser que fica!
- Por acaso... Você está... Gostando de mim de outra forma que não seja como amigo?
Se antes ele estava vermelho por conta do choro, à partir daquele momento ele ficou mais vermelho ainda. Quase roxo.
- Responde?
- Não. Não estou não, mas nem por isso eu quero que o senhor vá embora. Eu quero que você fique ao meu lado, mano! Por favor...
- Tem certeza, Rodrigo? Fala a verdade, por favor. Eu não vou contar pra ninguém, eu juro!
- Caio... – ele só fez me abraçar com muita força. – Eu gosto de você... Fica aqui, por favor... Por favor...
- Gosta de mim como amigo só? Hum?
Ele ficou calado novamente. Esse silêncio foi suficiente para eu entender o que estava acontecendo. Pelo menos foi isso que eu imaginei: que o Rodrigo estava apaixonado por mim. Será que era isso mesmo?
- Chega de silêncio, Rodrigo! Eu quero uma resposta e quero que você seja sincero! Você está ou não está apaixonado por mim? Sim ou não?!










.jpg)

Nenhum comentário:
Postar um comentário