Antes ela estava dormindo em um sono aparentemente tranquilo, mas naquele momento a tranquilidade deu lugar ao desespero e ela chorou e chorou muito.
- Filho... Meu filho... Você veio...
Eu fiquei olhando, sem saber o que falar. Eu não sabia dizer por qual motivo eu estava tão travado daquele jeito.
Fiquei sem reação quando vi meu pai e fiquei sem reação quando vi a minha mãe. Por que aquilo estava acontecendo?
- Meu Deus... Obrigada... Obrigada por ter ouvido as minhas preces... Obrigada... Graças a Deus... Caio... Caio, filho...
Ela realmente ficou muito inquieta e até levantou da cama. Minha mãe foi ao meu encontro e me abraçou com muita, muita força. Mais força do que eu poderia imaginar.
Eu fui abraçado, mas eu não tive coragem de abraçar. Eu, que esperei por aquele momento por 7 anos, não consegui abraçar a minha mãe. Não consegui corresponder ao sentimento que ela estava sentindo. Não consegui me comover com a emoção que ela estava passando. A mágoa estava falando muito mais alto naquele instante.
- Meu filho... Obrigada, meu Senhor... Obrigada... Ai... Ai...
Será que ela estava passando mal? Minha mãe soluçou e eu senti as lagrimas dela molharem o meu pescoço. Não me importei com isso e continuei quieto, no meu canto, sem falar nada, sem fazer nada. Eu apenas suspirei.
A emoção pra Dona Fátima foi tão forte que ela começou a passar mal. De repente a mulher ficou completamente sem ar e ficou com muita dificuldade pra respirar. Ela se afastou de mim e eu percebi que a mesma estava muito vermelha e realmente passando mal.
- Calma... Calma... – eu falei pela primeira vez. – Respira fundo... Respira fundo... Volta pra cama...
Com dificuldade eu ajudei a minha mãe a deitar. Ela continuou com falta de ar e ficava cada vez mais vermelha. Confesso que nesse momento eu me comovi e fiquei preocupado com a saúde dela.
- Calma, calma... Respira fundo, tenta se acalmar... Tenta se acalmar...
- Meu... Filho...
- Sou eu, sou eu! Não precisa ficar assim... Fica calma! Você precisa respirar...
Mas ela não se acalmou e não conseguiu respirar. Eu fiquei tão desesperado que fui obrigado a sair do quarto para chamar alguma enfermeira ou um médico.
- Calma... Calma... Eu vou chamar uma enfermeira... Respira fundo... Respira fundo...
Eu saí do quarto com as pernas parecendo um molambo. Depois de 7 anos, depois de tanto tempo sem aquele abraço, ele finalmente tinha acontecido. Ele tinha acontecido e eu não tinha aproveitado... Por quê?
- Enfermeira, enfermeira... Por favor, por favor... A minha mãe está passando mal...
- Qual é o quarto dela?
- É aquele ali... Por favor, ajuda... Ela não consegue respirar...
A enfermeira entrou no quarto da minha mãe e tentou ajudá-la a respirar. O que estava acontecendo? Será que ela estava tendo um ataque cardíaco?
- Fica calma, Fátima! Por que você foi ficar emocionada desse jeito? Você sabe que é prejudicial passar por uma emoção assim...
Eu me senti culpado. Se não fosse pela minha presença, ela não teria passado mal.
- Meu... Filho... – ela ainda chorava.
- Calma, calma! Respira fundo. Eu vou ter que buscar um calmante se você não ficar calma. Deixa eu medir a sua pressão!
Ela ainda chorava muito e eu também senti vontade de chorar, mas me segurei. Me segurei para não fazê-la passar mal novamente.
- Fátima!!! Quer enfartar? Sua pressão voltou a subir! Está 20 por 16! Você quer morrer, criatura?
Se antes eu já estava tremendo, à partir daquele momento eu quase desmaiei. Fui obrigado a sentar em uma cadeira que estava bem ao lado da cama da minha mãe. Ela não tirava os olhos de mim.
- Filho... Obrigada, meu Deus...
- Vou ter que te medicar, senão você vai voltar pra UTI. Se acalma, mulher de Deus! Eu já volto.
A enfermeira saiu e eu senti vontade de fazer o mesmo. Eu precisava respirar ar puro. Eu não aguentava ficar ali naquele quarto, ao lado dela e sem poder soltar tudo o que estava preso na minha garganta.
- Meu filho... Como... É bom... Ver você... Obrigada, meu Deus...
- Não fala nada... Fátima...
Eu não consegui falar a palavra “mãe”. Eu sabia que não ia conseguir. Havia um bloqueio muito forte dentro do meu peito e a palavra não saiu. Talvez com o tempo isso pudesse mudar.
- Fátima...? – minha mãe fechou os olhos e chorou mais ainda. – Por que não me chama de mãe? Por quê?
- Não fala nada, tá bom? – eu levantei e fui pro lado dela. – Eu já estou aqui. Não era isso que você queria? Hum? Se acalma, tá?
- Meu menino... Meu menino voltou... Obrigada, meu Pai... Obrigada...
- Se acalma, se acalma. Você não pode ficar emocionada desse jeito... Para de chorar...
Eu entendia o que ela estava sentindo porque eu estava sentindo a mesma coisa. Foram anos de separação e querendo ou não, era realmente uma grande emoção poder revê-la, ainda mais naquela situação...
A enfermeira voltou e colocou dois comprimidos debaixo da língua da Dona Fátima. Um era um calmante e o outro era o remédio da pressão. Eu não sabia que a minha mãe estava hipertensa. Bem que o Vinícius disse que pudesse ser isso.
- Está mais calminha? – perguntou a enfermeira. Ela parecia ser bem legal.
- Hum...
Ela ainda chorava e se mexia muito, mas já estava mais calma. Ainda bem que a situação foi contornada.
- Tente não chorar mais que isso te fará mal. Acalme-se. Eu vou chamar o médico para ele te examinar e já volto. Não fique agitada, tente relaxar.
- Não chora mais – eu pedi. – Vou falar com a enfermeira e já volto.
- Hum... Hum... Não...
- Eu volto! Prometo que volto. Não se preocupe.
Saí do quarto e corri atrás da enfermeira. Eu precisava saber, precisava entender qual era o real estado de saúde da minha mãe.
- Enfermeira? Enfermeira?
- Pois não?
- Eu queria saber qual é o estado de saúde dela!
- E por acaso você não sabe, Cauã?
- Não, acontece que eu não sou o Cauã.
- Como não? Está querendo brincar comigo, menino? Tenho tempo pra essas coisas não! Dá licença que eu tenho muita coisa pra fazer!
- Não, espera! Eu não estou brincando! Eu não sou o Cauã! Sou o irmão gêmeo dele.
- Irmão gêmeo? Tá bom, Cauã! Essa não colou.
- Eu estou falando sério, moça! Eu cheguei hoje do Rio e vim direto pra cá. Eu me chamo Caio!
- É sério isso?
- Claro que é! Eu não brincaria com uma coisa dessas.
- Me desculpe! É que eu não sabia que você existia. Pensei que fosse seu irmão.
- Não se preocupe. Mas me diga, como ela está?
- É melhor você perguntar isso pro médico, ou melhor, pra médica. Acho que ela já iniciou o plantão. Eu vou pedir para ela vir examinar a sua mãe, não se preocupe.
- Então tá bom. Eu vou esperar lá no quarto. Ela estava na UTI, é?
- Sim, mas a médica vai te explicar melhor. Ela não demora. Com licença.
- Obrigado! Desculpa, mas como é seu nome?
- Graça.
- Obrigado, Graça. Muito obrigado.
- Por nada.
A mulher saiu andando e eu fiquei meio desnorteado. Ainda estava achando tudo aquilo muito esquisito e iria levar um tempo para que eu acostumasse com tudo.
Voltei pro quarto da minha mãe e por sorte, a encontrei bem mais calma. Ela já não chorava mais e isso foi um alívio pra mim.
- Filho... – a voz dela quase não saiu. – Vem pra perto de mim...
Eu fiz o que ela pediu. Eu me aproximei e a vontade de chorar voltou com força total, mas eu me segurei. Eu não ia chorar na frente deles, não ia!
- Meu filho...
- É, sou eu!
- Eu pensei que ia morrer e não ia te ver mais...
- Você não vai morrer, fica calma!
- Vou sim, filho... Vou sim... Eu não estou aguentando mais...
- Para de falar bobagem – eu tentei sorrir, mas não obtive muito sucesso. – Você vai ficar bem, você vai ver!
- Deus ouviu as minhas preces! Eu queria tanto te ver, meu filho... Eu precisava te ver... Precisava te pedir perdão antes de morrer...
- Não fala nada, tá bom? A gente vai ter tempo pra conversar. Não fica assim! Tudo vai dar certo.
Ela suspirou e voltou a chorar, mas foi um choro muito mais calmo, muito mais tranquilo.
- Eu preciso... Te pedir perdão...
Minha mãe tossiu algumas vezes e gemeu de dor. Por que ela estava sentindo tanta dor assim?
- Não vamos falar nada disso agora, tá bom? Eu vim te ver, vim saber como você está e depois, lá na frente, quando você estiver boa, estiver saudável a gente vai falar sobre tudo o que aconteceu. Não se preocupe.
Não sei como eu consegui manter a calma, mas foi difícil de me controlar. Se dependesse de mim, eu teria despejado tudo de uma vez em cima dela. Eram 7 anos de coisas presas na minha garganta.
- Eu tenho tanta coisa... Pra te falar...
- Eu sei, eu também – fui meio grosseiro –, mas esse não é o momento.
- Ai que dor...
- Está com dor aonde?
- No corpo todo... Eu não estou bem... Meu filho...
- Calma... – eu quase a chamei de Fátima de novo. – A enfermeira foi chamar a sua médica. Ela disse que a médica já iniciou o plantão.
Eu só fiz fechar a boca e a doutora entrou no quarto. Era uma médica alta, magra e bem jovem. Ela me olhou, olhou pra minha mãe e nos cumprimentou com um bom dia.
- Bom dia, doutora – falei.
- Como vai, Cauã? Pode me deixar a sós com a minha paciente preferida, por favor?
- Ele... Não é o... Cauã... – minha mãe gemeu e se mexeu toda.
- Não? – a médica arregalou os olhos.
- Não – eu confirmei e suspirei. – Eu sou o Caio, irmão gêmeo do Cauã.
- Nossa! Por essa eu não esperava. Eu não sabia que o Cauã tinha um irmão gêmeo! Agora entendi qual foi o motivo dessa emoção toda que a enfermeira me contou. Ande, saia e nos deixe a sós. Eu preciso examiná-la.
- Tá certo. Licença.
Saí e encostei a porta, mas fiquei lá na frente, parado, esperando a médica sair. Eu queria saber notícias detalhadas sobre o estado de saúde da minha mãe!
Enquanto a médica não saía eu fiquei pensando em tudo o que tinha acontecido e tive que me controlar novamente para não chorar.
Ela tinha me reconhecido! Me reconheceu logo de cara. E chorou. Chorou e me abraçou.
Mas aquele abraço aconteceu com 5 anos de atraso. Eu queria tanto que ele tivesse acontecido na época em que voltei a São Paulo para fazer o treinamento da empresa. Eu precisava tanto que ele acontecesse naquela época!
Mas ela não quis assim. Não quis assim e pelo visto se arrependeu, porque aquele choro só poderia ser de arrependimento.
E eu não sabia se poderia perdoar aquele arrependimento tão tardio. Tardio, mas aparentemente sincero. Eu nunca imaginei que ela fosse reagir daquele jeito, nunca! Para mim, ela apenas pediria perdão e ficaria tudo certo. Mas não. Ela me abraçou, chorou e se desesperou. Foi tudo muito diferente do que eu poderia esperar.
Como estava mudada! Como estava envelhecida, acabada! Igual ao meu pai. Ambos tinham envelhecido 20 anos em 7. Como aquilo poderia ser possível?
E a gravidez? Por que ela ocorreu? Por qual motivo ela estava grávida depois de 24 anos, justo quando estava chegando aos 50? Pra mim existia muita coisa sem explicação naquela história e eu ia querer saber de tudo, nos mínimos detalhes. Eu tinha direito de saber, não tinha?
E então a médica saiu. Saiu, fechou a porta e me encarou. Ela abriu um sorriso e foi falar comigo:
- Desculpa, eu não sabia que você era irmão do Cauã!
- Não se preocupe. Como ela está?
- Ela vai ficar bem agora.
- Você pode me explicar o que está acontecendo?
- Primeiro eu queria entender o motivo dessa emoção toda que ela sentiu. Há quanto tempo ela não te via?
- 7 anos.
- É um tempo muito grande. Você deveria ter vindo antes.
- Acontece que eu só fiquei sabendo disso na semana passada, doutora. É muito complicado! Por favor, diga o que ela tem, por que ela está grávida e qual e a real situação do caso? Meu irmão disse que ela corre risco de vida, é verdade?
- Infelizmente sim. É Caio, né?
- Isso.
-Então, Caio; o estado de saúde da sua mãe é um pouco delicado. A gravidez é de altissímo risco devido a idade dela e piora pelo fato dela ser hipertensa.
- Mas você sabe me dizer por qual motivo ela engravidou depois de tanto tempo?
- Eu sou a ginecologista da sua mãe há alguns anos e posso te garantir que essa gravidez foi uma surpresa para todos nós. Ela não programou nada. Simplesmente aconteceu.
- Sei.
- Foi em uma consulta de rotina que nós descobrimos. Ela pensou que estava entrando na menopausa por causa do atraso na menstruação, mas na verdade era gravidez. Desde então nós estamos fazendo um acompanhamento na gestação e de um mês e meio pra cá mais ou menos, ela está com risco de aborto. Acabei de fazer um exame nela e notei um pequeno sangramento. Por isso é imprescindível que ela fique aqui até o término da gestação, porque aqui ela tem acompanhamento médico 24 horas por dia, 7 dias por semana.
- Entendo. Mas é realmente grave?
- Sim, é muito grave e isso se dá pelo fato da idade e da pressão alta. Ontem mesmo nós tivemos que levá-la para a UTI porque a pressão subiu e ficou 22 por 18. Altíssima e isso pode ocasionar até mesmo num ataque cardíaco. De meia em meia hora um enfermeiro vem medir a pressão dela e de hora em hora eu ou os outros médicos vamos fazer os exames. Realmente, o caso é um pouco crítico, mas nada que um bom acompanhamento médico não resolva.
- Entendi. E assim, como vai ser daqui pra frente?
- A mesma coisa. Eu te garanto que ela só sairá do hospital após o parto. Antes disso esta fora de cogitação. Sua mãe é uma mulher muito nervosa. Por isso a pressão dela sobe. Há um tempo atrás ela teve até um princípio de ataque cardíaco.
- Nossa!!! – me choquei. – Sério isso?
- Infelizmente sim. A sorte é que ela estava aqui e nós controlamos a pressão dela. O jeito é esperar o parto mesmo.
- E tem previsão de quando isso vai acontecer?
- Ela está com 22 semanas de gestação e nós faremos o possível e o impossível para que ela consiga chegar até a 36ª semana.
- E se não der certo? Não é perigoso ela ficar segurando tanto tempo?
- Se ela manter a pressão arterial estabilizada, não. É claro que se nós percebermos que não há a possibilidade de esperar, iremos fazer uma cesária. Porém o nosso intuito é fazer com que ela fique até o final da gestação porque vai ser melhor para...
- Doutora... Doutora... – uma enfermeira correu ao encontro da médica. – Ainda bem que eu te encontrei! A paciente do quarto 707 está entrando em trabalho de parto...
- Eu já estou indo. Leve-a para o centro cirúrgico. Com licença, Caio, eu tenho que trazer mais uma vida pro mundo. Por favor, não deixe que a sua mãe se emocione muito. Isso pode ser prejudicial pra eles.
- Pode deixar. Obrigado pelos esclarecimentos.
- Não por isso. Com licença.
Na correria eu nem perguntei o nome da médica, mas ela era bem legal. Eu suspirei e, um pouco mais calmo, voltei pro quarto da minha mãe. Ela estava tranquila e já não se mexia mais.
- Você está melhor? – indaguei.
- Sim...
- Tente não se emocionar. A doutora disse que pode ser prejudicial.
- É que é muito difícil... Eu quero tanto te abraçar, meu filho...
- Você tem que pensar em você e no bebê. Haverá tempo para a gente conversar depois.
- Você veio pra ficar?
- Não – respondi imediatamente. – Eu não posso ficar aqui por muito tempo. Só vou ficar 5 dias.
- Você está igualzinho ao seu irmão!
- Somos gêmeos, né? – dessa vez eu sorri de verdade.
- Eu senti tanto a sua falta, Caio...
Fiquei calado.
- Eu... Ai, filho... Aconteceu tanta coisa...
- Eu sei, mas não fala nada. Tenta dormir que vai ser melhor pra você.
Eu percebi que ela estava muito sonolenta e que ela ia dormir a qualquer momento.
- Eu te amo tanto – minha mãe ergueu a mão e fez carinho no meu rosto. – Eu senti tanto a sua falta...
Mais uma vez eu fiquei calado. Como eu senti falta daquele toque...
- Você tem que dormir. Tenta descansar.
- Eu nunca vou cansar de agradecer a Deus por ter te visto antes da minha morte!
- Você não vai morrer. Você só precisa descansar e vai ficar tudo bem!
- Que horas são?
Ela já estava ficando toda grogue por causa do calmante.
- Quase 11 e meia.
- 11 e meia?
- Uhum. Posso te fazer uma pergunta?
Eu tinha algo preso na minha garganta e precisava sanar a dúvida e tinha que ser naquele momento.
- Claro... Meu filho...
- Esse filho... Era pra ficar... No meu lugar, não é?
Era isso. Só poderia ser isso. Como uma pessoa poderia ficar grávida perto dos 50 anos se não fosse por um motivo muito sério?
- Não, Caio... Claro que não... Um filho não pode substituir o outro, filho... Nunca... Nunca planejei essa... Gravidez...
Senti verdade nas palavras dela. Ainda bem que eu estava enganado.
- E é menino ou menina? – perguntei.
Ela suspirou, abriu os olhos, colocou a mão no ventre, olhou nos meus olhos e disse:
- São dois meninos!!!
Eu caí sentado na cadeira. Será que eu estava ficando louco ou eu realmente tinha ouvido a minha mãe falar que estava esperando dois meninos?
- Você... Está... Esperando... Gêmeos... De... Novo...? – não encontrei forças pra formar a frase de maneira contínua. Foi choque demais pra mim saber que ela estava esperando dois bebês!!!
- Sim... Aconteceu de novo... São dois meninos...
- Meu Deus! – fiquei incrédulo. – Eu não acredito nisso!
- É... Verdade, filho!
Então eu ia ter dois irmãozinhos? E ainda diziam que um raio não caía duas vezes no mesmo lugar.
Então muita coisa se encaixou dentro da minha cachola. Se a gravidez era de gêmeos, era duas vezes mais complicada e ainda piorava devido a idade dela. Por isso a coisa estava tão séria daquele jeito!
Eu fiquei fitando a barriga da minha mãe. Por isso eu achei que estava tão grande para uma gravidez de 5 meses! Eram duas crianças. De novo ela estava esperando dois meninos. A história estava se repetindo depois de 24 anos!
Minha mãe dormiu e eu continuei lá, sentado, mergulhado na minha perplexidade. Como era possível que ela estivesse grávida de gêmeos, meu Deus do céu?
Nas últimas 24 horas eu tinha recebido um choque atrás do outro. Primeiro, o telefonema do Cauã dizendo que ela tinha piorado; depois, a minha viagem repentina para São Paulo; logo em seguida, o reencontro com meu pai, o reencontro com a minha mãe e a notícia que ela esperava gêmeos. Era coisa demais para uma pessoa só! Eu estava ficando maluco, essa é que era a verdade!
Eu levantei e fui até a janela. Olhei pela persiana e enxerguei no horizonte uma núvem negra se formando. Pelo jeito ia chover.
Gêmeos. Minha mãe estava esperando gêmeos! De novo dois meninos! Como aquilo poderia ser possível? Como?

Aquela seria uma pergunta que nunca teria resposta. Só Deus entendia o motivo daquela gravidez tão inesperada, tão inusitada. Nem eu, nem minha mãe e nem ninguém iria entender por qual motivo aquilo estava acontecendo.
Continuei mergulhado nos meus pensamentos, mas de repente a minha atenção foi desviada.
A porta do quarto abriu bem devagar e então eu o vi, depois de 5 anos.
Era como se eu estivesse vendo minha imagem no espelho. Era como se eu estivesse vendo o meu clone, a minha cópia.
Ele estava igualzinho a mim, da cabeça aos pés. O cabelo estava arrepiado, assim como o meu; a camiseta era vermelha, assim como a minha; a calça era preta e skinny, idêntica à minha e o tênis era branco, parecido com o meu.
Eu sempre soube que a nossa conexão para essas coisas era forte, mas eu não pensei que depois de 7 anos de separação os nossos gostos para roupas continuasse tão igual. Isso pra mim foi surpreendente demais.
Era o Cauã. Era meu irmão gêmeo. Ele estava ali, perto de mim, parado na porta do quarto, olhando fixamente nos meus olhos e sem esboçar nenhum sentimento, além de perplexidade.

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