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cho que se um olhar tivesse o poder de matar, eu teria morrido
naquele momento.
Leonardo me fuzilou com aqueles olhos de peixe morto. Eu fiquei morrendo de raiva.
- Não é da sua conta! – nós continuamos falando juntos.
Eu ergui a minha coluna, mas não tirei meus olhos dos dele. Léo continuava com o mesmo ar de superioridade que tinha na época em que a gente mantinha aquela “amizade”.

- Seu pai sabe que você está aqui, Leonardo? – provoquei.
- Primeiro, isso não é da sua conta. Segundo, eu não tenho que dar satisfação da minha vida pra você, mas só para matar a sua curiosidade, sim ele sabe. Porque ao contrário da sua família, a minha aprendeu a me aceitar e eles me apoiam! Já a sua, né?
Ele mexeu em uma ferida e não deveria ter feito aquilo. Se eu não fosse contido, teria partido pra cima daquele desgraçado e teria dado uns bons tabefes naquela cara de pau que ele tinha.
- Que foi? Ficou bravinho, ficou?
- Por que você não some da minha frente de uma vez por todas? Minha noite foi boa demais para ser estragada com você!

- Pelo menos nisso a gente concorda. Toma seu rumo e me deixa em paz. Esquece que eu existo, firmeza?
- Já nem lembrava do seu focinho, garoto! Acha mesmo que eu não tenho coisa melhor para pensar do que pensar em você? Logo em você? Me poupe, né?
- Cala a boca, infeliz. Você é ridículo!
- Ridículo é você! Nem olha por onde anda, tropeça em uma pessoa que está amarrando os tênis e quase cai de cara no chão! Pena que não quebrou todos os dentes pra aprender a olhar por onde anda.
- A culpa é sua! Quem manda ficar aí no meio da calçada?
- Quem manda ser cego e não olhar para baixo?
- Se eu fosse você eu sumiria daqui agora, eu tô quase indo quebrar esse seu nariz horroroso...
- Vem! Vem quebrar seu traidor. Seu filho da puta traidor! Nojento, inseto! Seu verme...
Eu senti o meu sangue ferver. A minha noite tinha sido perfeita demais para ser estragada por aquele micróbio...
- Como... é? – ele se aproximou com o punho cerrado.
- Isso mesmo que você ouviu! Traidor de uma figa... Eu devia ter quebrado sua cara desde o começo...
- Vem quebrar agora, moleque! Vem se você for macho!
E é claro que eu fui, mas não consegui fazer nada. Antes de encostar no rosto do meu ex-amigo, algo me bloqueou e eu parei no meio do caminho.
- Que foi? Não tem coragem? Não consegue entrar em uma briga?
- Melhor não sujar as minhas mãos com você. É perder tempo demais e não vou estragar meu dia com você. Passar bem!
- Covarde – ele deu uma risadinha.

- Ah, e antes que eu me esqueça... – virei e voltei a olhar para aqueles olhos feiosos. – Você bem que tentou me separar do Bruno, não é? Bem que tentou, mas não conseguiu! Sabe por que? Porque nós voltamos pouco tempo depois. Ele me explicou tudo e eu entendi que a culpa foi toda sua... O que você pretendia? Ficar com ele? Pois então você ficou foi chupando o dedo, queridinho, porque ele foi todinho meu!
É claro que ele não precisava saber do pequeno detalhe do Bruno ter ido viajar para a Espanha, né?
- Ficou caladinho? – foi a minha vez de rir. – Você é tão pobre de espírito, Leonardo, que nem arrumar um macho de verdade você consegue. Vai morrer seco e sem ninguém, mas também não é de se admirar! Quem iria querer ficar ao lado de um chato que nem você? Passar bem, querido!
E dizendo isso, eu dei as costas e saí andando pelo outro lado da calçada. Não ia valer a pena arrumar briga com aquele garoto ridículo!
- COVARDE, MEDROSO, CAGÃO! NÃO HONRA A CALÇA QUE VESTE!
Eu virei, respirei fundo e mostrei o dedo do meio ao filho da puta. Ele ficou possuído de tanta raiva, foi atrás de mim e tentou me dar um soco, mas eu consegui me desvencilhar e não deixei que ele continuasse com aquela palhaçada.

- Chega, né Léo? Chega! A gente não precisa brigar. Segue sua vida, eu vou seguir a minha. Você fica feliz, eu fico feliz e tudo fica resolvido.
- Você é muito ridículo, Caio. Muito, muito ridículo.
- E você é um invejoso! É isso que você é! Nunca conseguiu esconder sua inveja. É tão invejoso que quis roubar meu namorado!
- Eu? Roubar aquela bichinha nojenta do Bruno? Me poupe!
- Agora ele é bichinha nojenta, mas na hora de ir pra cama dele você não falou isso. Se toca, vai procurar o que fazer e me deixa em paz!
- E me diz uma coisa, onde é que ele está? Cadê seu namoradinho? Não estão mais juntos não? Ele te largou para ficar com outro? Se foi isso é muito benfeito!
- Como você mesmo disse, eu não devo satisfação da minha vida pra você. E não vou mais perder meu tempo aqui falando com um invejoso feito você. Passar bem.
Eu atravessei a rua rapidamente. Não queria mesmo ficar batendo boca com o Leonardo. Eu tinha mais o que fazer! Precisava descansar, dormir, relaxar e curtir o meu domingo.
Enquanto eu andava, ouvi ele me xingar de muitas coisas, mas obviamente eu não prestei atenção e segui o meu rumo. Ele que ficasse com toda inveja, mau-olhado e tudo de ruim que ele tinha. Garotinho insensato aquele, viu?
- Bom dia? – eu toquei nas costas de um guarda civil.
- Bom dia – ele respondeu com ar de mal-humor.
- Pode me informar onde pego um ônibus para a Lapa, Catete ou Glória?
- Sei não. Sou novo aqui no Rio. Desculpe.
Suspirei. Pelo menos ele foi honesto.
Andei sem rumo por uns 20 minutos e realmente não sabia onde pegar um coletivo até o meu bairro. Em praticamente todas as vezes que fui à Copacabana, fui de metrô e a estação ainda estava fechada naquela hora da manhã. Por este motivo, fiquei de mãos atadas sem saber o que fazer.
O jeito foi parar um táxi e perguntar quanto ia ficar de Copa até o Catete e para a minha felicidade, a corrida não ia ficar lá muito cara.
- No máximo R$ 20,00 – disse o motorista.
- Demorou. Pode me levar?
- Entra aí, garoto.

Eu entrei e coloquei o cinto de segurança. Suspirei de alívio ao repousar meu esqueleto no banco do carro. Eu estava me sentindo muito cansado.
- Veio da boate?
- Aham.
- Curtiu muito?
- Aham.
- Bacana. Agora vai dormir até tarde, né?
- Aham.
Será que ele não percebeu que eu queria ficar calado para colocar os pensamentos em ordem?
Juro que eu queria entender por que o Leonardo me odiava tanto. Será que eu havia feito algo de errado para ele? Que eu me lembrasse, não! Só podia ser inveja mesmo.
- Mais uns 5 minutos nós estaremos lá.
- Aham.
Eu abri meus olhos e me deparei com o mar da Praia de Botafogo. A água estava límpida, muito azul e como o sol estava nascendo, o reflexo da bola de fogo deixou a água iluminada. De verdade, uma paisagem mais do que linda. Perfeita, eu diria.

- Paisagem bonita, não? – o cara puxou assunto.
- Pois é. Esse é o Rio de Janeiro.
- Você não é daqui, né?
- Sou paulista.
- Percebi.
- Eu sei, todos percebem.
E olha que eu não tinha mais sotaque paulista. Já estava quase falando como os cariocas.
- Mora aqui faz tempo?
- Um ano e meio.
Era pergunta demais para uma manhã de domingo e eu não estava com muita vontade de responder tantos questionamentos.
Mas para o meu total agrado, até a porta da minha casa ele não falou mais nada.
- 20 reais – ele disse.
- Bem que você falou.
- Não disse?

Eu tirei o dinheiro da carteira, paguei a corrida, agradeci e dei um pulo do carro. Quando coloquei os pés na calçada, uma brisa gelada passou pelo meu corpo e eu fiquei arrepiado de frio.
- Obrigado – agradeci de novo.
- Meu cartão. Se precisar é só ligar.
Eu aceitei. Era bom ter um telefone de taxista. Vai que acontecia algum imprevisto... Não estamos livres de nada, infelizmente.
- Bom dia – ele falou.
- Igualmente.
Peguei a minha chave e abri o portão com os olhos fechados, tamanho o sono que estava sentindo. A casa ainda estava vazia, os meninos não haviam chegado e eu me perguntei se eles haviam esticado a noite em algum motel... Será?
Mesmo sem coragem, tomei uma ducha rápida, escovei os dentes, comi alguma coisa e quando caí na cama, adormeci muito rapidamente. Definitivamente, eu estava acabado e sem forças, porque só acordei depois das 4 da tarde.
Abri e cocei os olhos lentamente. Eu dei um bocejo pra lá de demorado e percebi que o Rodrigo estava dormindo com a cabeça para os pés da cama e os pés para a cabeceira. Totalmente torto e apenas de cueca azul. Uma delicinha. Pena que era meu melhor amigo e nunca iria me dar a menor bola...
Será que fazia tempo que ele havia chegado? Eu não vi quando o cara chegou no quarto e por este motivo fiquei meio que perdido no tempo.
Coloquei meus chinelos e muito lentamente fui até o banheiro, mas pra variar, ele estava ocupado. O Fabrício estava tirando a água do joelho e com a porta aberta.
- Fechar a porta pra quê, né? – eu dei duas batidinhas e ele olhou pra trás.
- E aí, parceiro? Nem me liguei nisso, foi mau!
- Não tem problema não, fera!
- Pô, você sumiu ontem! Onde foi parar?
Eu fiquei sem saber o que falar.
- Saiu para onde, Caio? – ele deu um sorrisinho safado e eu fiquei completamente sem graça.
- Hã...
- Não, não. Não! Não precisa nem explicar – ele riu.
- Vocês também demoraram muito para chegar em casa, né? Quando eu cheguei nenhum havia chegado ainda...
- Então – ele também ficou vermelho. – Pois é!
- Estamos quites.
O cara sorriu sem mostrar os dentes, bagunçou meu cabelo, apertou meu ombro e passou por mim sem falar nada.
Eu levantei a tampa do vaso, tirei o brinquedo pra fora e tirei toda a água que estava acumulada na bexiga. Quando acabei, dei descarga, lavei as mãos e senti vontade de deitar, mas a fome falou mais alto e fui obrigado a assaltar a geladeira.
Fiz um sanduba de mortadela e depois que forrei o estômago, voltei para a minha cama. Por incrível que pareça, ainda estava cansado e sonolento.
Leonardo me fuzilou com aqueles olhos de peixe morto. Eu fiquei morrendo de raiva.
- Não é da sua conta! – nós continuamos falando juntos.
Eu ergui a minha coluna, mas não tirei meus olhos dos dele. Léo continuava com o mesmo ar de superioridade que tinha na época em que a gente mantinha aquela “amizade”.
- Seu pai sabe que você está aqui, Leonardo? – provoquei.
- Primeiro, isso não é da sua conta. Segundo, eu não tenho que dar satisfação da minha vida pra você, mas só para matar a sua curiosidade, sim ele sabe. Porque ao contrário da sua família, a minha aprendeu a me aceitar e eles me apoiam! Já a sua, né?
Ele mexeu em uma ferida e não deveria ter feito aquilo. Se eu não fosse contido, teria partido pra cima daquele desgraçado e teria dado uns bons tabefes naquela cara de pau que ele tinha.
- Que foi? Ficou bravinho, ficou?
- Por que você não some da minha frente de uma vez por todas? Minha noite foi boa demais para ser estragada com você!
- Pelo menos nisso a gente concorda. Toma seu rumo e me deixa em paz. Esquece que eu existo, firmeza?
- Já nem lembrava do seu focinho, garoto! Acha mesmo que eu não tenho coisa melhor para pensar do que pensar em você? Logo em você? Me poupe, né?
- Cala a boca, infeliz. Você é ridículo!
- Ridículo é você! Nem olha por onde anda, tropeça em uma pessoa que está amarrando os tênis e quase cai de cara no chão! Pena que não quebrou todos os dentes pra aprender a olhar por onde anda.
- A culpa é sua! Quem manda ficar aí no meio da calçada?
- Quem manda ser cego e não olhar para baixo?
- Se eu fosse você eu sumiria daqui agora, eu tô quase indo quebrar esse seu nariz horroroso...
- Vem! Vem quebrar seu traidor. Seu filho da puta traidor! Nojento, inseto! Seu verme...
Eu senti o meu sangue ferver. A minha noite tinha sido perfeita demais para ser estragada por aquele micróbio...
- Como... é? – ele se aproximou com o punho cerrado.
- Isso mesmo que você ouviu! Traidor de uma figa... Eu devia ter quebrado sua cara desde o começo...
- Vem quebrar agora, moleque! Vem se você for macho!
E é claro que eu fui, mas não consegui fazer nada. Antes de encostar no rosto do meu ex-amigo, algo me bloqueou e eu parei no meio do caminho.
- Que foi? Não tem coragem? Não consegue entrar em uma briga?
- Melhor não sujar as minhas mãos com você. É perder tempo demais e não vou estragar meu dia com você. Passar bem!
- Covarde – ele deu uma risadinha.
- Ah, e antes que eu me esqueça... – virei e voltei a olhar para aqueles olhos feiosos. – Você bem que tentou me separar do Bruno, não é? Bem que tentou, mas não conseguiu! Sabe por que? Porque nós voltamos pouco tempo depois. Ele me explicou tudo e eu entendi que a culpa foi toda sua... O que você pretendia? Ficar com ele? Pois então você ficou foi chupando o dedo, queridinho, porque ele foi todinho meu!
É claro que ele não precisava saber do pequeno detalhe do Bruno ter ido viajar para a Espanha, né?
- Ficou caladinho? – foi a minha vez de rir. – Você é tão pobre de espírito, Leonardo, que nem arrumar um macho de verdade você consegue. Vai morrer seco e sem ninguém, mas também não é de se admirar! Quem iria querer ficar ao lado de um chato que nem você? Passar bem, querido!
E dizendo isso, eu dei as costas e saí andando pelo outro lado da calçada. Não ia valer a pena arrumar briga com aquele garoto ridículo!
- COVARDE, MEDROSO, CAGÃO! NÃO HONRA A CALÇA QUE VESTE!
Eu virei, respirei fundo e mostrei o dedo do meio ao filho da puta. Ele ficou possuído de tanta raiva, foi atrás de mim e tentou me dar um soco, mas eu consegui me desvencilhar e não deixei que ele continuasse com aquela palhaçada.
- Chega, né Léo? Chega! A gente não precisa brigar. Segue sua vida, eu vou seguir a minha. Você fica feliz, eu fico feliz e tudo fica resolvido.
- Você é muito ridículo, Caio. Muito, muito ridículo.
- E você é um invejoso! É isso que você é! Nunca conseguiu esconder sua inveja. É tão invejoso que quis roubar meu namorado!
- Eu? Roubar aquela bichinha nojenta do Bruno? Me poupe!
- Agora ele é bichinha nojenta, mas na hora de ir pra cama dele você não falou isso. Se toca, vai procurar o que fazer e me deixa em paz!
- E me diz uma coisa, onde é que ele está? Cadê seu namoradinho? Não estão mais juntos não? Ele te largou para ficar com outro? Se foi isso é muito benfeito!
- Como você mesmo disse, eu não devo satisfação da minha vida pra você. E não vou mais perder meu tempo aqui falando com um invejoso feito você. Passar bem.
Eu atravessei a rua rapidamente. Não queria mesmo ficar batendo boca com o Leonardo. Eu tinha mais o que fazer! Precisava descansar, dormir, relaxar e curtir o meu domingo.
Enquanto eu andava, ouvi ele me xingar de muitas coisas, mas obviamente eu não prestei atenção e segui o meu rumo. Ele que ficasse com toda inveja, mau-olhado e tudo de ruim que ele tinha. Garotinho insensato aquele, viu?
- Bom dia? – eu toquei nas costas de um guarda civil.
- Bom dia – ele respondeu com ar de mal-humor.
- Pode me informar onde pego um ônibus para a Lapa, Catete ou Glória?
- Sei não. Sou novo aqui no Rio. Desculpe.
Suspirei. Pelo menos ele foi honesto.
Andei sem rumo por uns 20 minutos e realmente não sabia onde pegar um coletivo até o meu bairro. Em praticamente todas as vezes que fui à Copacabana, fui de metrô e a estação ainda estava fechada naquela hora da manhã. Por este motivo, fiquei de mãos atadas sem saber o que fazer.
O jeito foi parar um táxi e perguntar quanto ia ficar de Copa até o Catete e para a minha felicidade, a corrida não ia ficar lá muito cara.
- No máximo R$ 20,00 – disse o motorista.
- Demorou. Pode me levar?
- Entra aí, garoto.
Eu entrei e coloquei o cinto de segurança. Suspirei de alívio ao repousar meu esqueleto no banco do carro. Eu estava me sentindo muito cansado.
- Veio da boate?
- Aham.
- Curtiu muito?
- Aham.
- Bacana. Agora vai dormir até tarde, né?
- Aham.
Será que ele não percebeu que eu queria ficar calado para colocar os pensamentos em ordem?
Juro que eu queria entender por que o Leonardo me odiava tanto. Será que eu havia feito algo de errado para ele? Que eu me lembrasse, não! Só podia ser inveja mesmo.
- Mais uns 5 minutos nós estaremos lá.
- Aham.
Eu abri meus olhos e me deparei com o mar da Praia de Botafogo. A água estava límpida, muito azul e como o sol estava nascendo, o reflexo da bola de fogo deixou a água iluminada. De verdade, uma paisagem mais do que linda. Perfeita, eu diria.
- Paisagem bonita, não? – o cara puxou assunto.
- Pois é. Esse é o Rio de Janeiro.
- Você não é daqui, né?
- Sou paulista.
- Percebi.
- Eu sei, todos percebem.
E olha que eu não tinha mais sotaque paulista. Já estava quase falando como os cariocas.
- Mora aqui faz tempo?
- Um ano e meio.
Era pergunta demais para uma manhã de domingo e eu não estava com muita vontade de responder tantos questionamentos.
Mas para o meu total agrado, até a porta da minha casa ele não falou mais nada.
- 20 reais – ele disse.
- Bem que você falou.
- Não disse?
Eu tirei o dinheiro da carteira, paguei a corrida, agradeci e dei um pulo do carro. Quando coloquei os pés na calçada, uma brisa gelada passou pelo meu corpo e eu fiquei arrepiado de frio.
- Obrigado – agradeci de novo.
- Meu cartão. Se precisar é só ligar.
Eu aceitei. Era bom ter um telefone de taxista. Vai que acontecia algum imprevisto... Não estamos livres de nada, infelizmente.
- Bom dia – ele falou.
- Igualmente.
Peguei a minha chave e abri o portão com os olhos fechados, tamanho o sono que estava sentindo. A casa ainda estava vazia, os meninos não haviam chegado e eu me perguntei se eles haviam esticado a noite em algum motel... Será?
Mesmo sem coragem, tomei uma ducha rápida, escovei os dentes, comi alguma coisa e quando caí na cama, adormeci muito rapidamente. Definitivamente, eu estava acabado e sem forças, porque só acordei depois das 4 da tarde.
Abri e cocei os olhos lentamente. Eu dei um bocejo pra lá de demorado e percebi que o Rodrigo estava dormindo com a cabeça para os pés da cama e os pés para a cabeceira. Totalmente torto e apenas de cueca azul. Uma delicinha. Pena que era meu melhor amigo e nunca iria me dar a menor bola...
Será que fazia tempo que ele havia chegado? Eu não vi quando o cara chegou no quarto e por este motivo fiquei meio que perdido no tempo.
Coloquei meus chinelos e muito lentamente fui até o banheiro, mas pra variar, ele estava ocupado. O Fabrício estava tirando a água do joelho e com a porta aberta.
- Fechar a porta pra quê, né? – eu dei duas batidinhas e ele olhou pra trás.
- E aí, parceiro? Nem me liguei nisso, foi mau!
- Não tem problema não, fera!
- Pô, você sumiu ontem! Onde foi parar?
Eu fiquei sem saber o que falar.
- Saiu para onde, Caio? – ele deu um sorrisinho safado e eu fiquei completamente sem graça.
- Hã...
- Não, não. Não! Não precisa nem explicar – ele riu.
- Vocês também demoraram muito para chegar em casa, né? Quando eu cheguei nenhum havia chegado ainda...
- Então – ele também ficou vermelho. – Pois é!
- Estamos quites.
O cara sorriu sem mostrar os dentes, bagunçou meu cabelo, apertou meu ombro e passou por mim sem falar nada.
Eu levantei a tampa do vaso, tirei o brinquedo pra fora e tirei toda a água que estava acumulada na bexiga. Quando acabei, dei descarga, lavei as mãos e senti vontade de deitar, mas a fome falou mais alto e fui obrigado a assaltar a geladeira.
Fiz um sanduba de mortadela e depois que forrei o estômago, voltei para a minha cama. Por incrível que pareça, ainda estava cansado e sonolento.
Só acordei em definitivo depois das 21 horas. O Rodrigo já tinha
levantado e estava mexendo no meu notebook.

- Finalmente acordou, hein?
- Que horas são?
- 21h10.
- Puta, já?
- Já! Perdeu todo o domingo.
- Olha quem fala! Que horas você chegou?
- Quase 11 – ele disse.
- Caralho! Onde foi?
- Fui pra um motel dar uma relaxada. Você também?
- Não. Fui para uma balada GLS. Não curti aquela balada onde vocês me levaram...
- Não gostou, mas bem que pegou uma gatinha, né?
- Peguei não, menino! Fui assediado, quase me estruparam!
Ele caiu na gargalhada. Fazia muito tempo que nós não mantínhamos um diálogo como aquele.
- Pegou quantas? – perguntei depois de alguns minutos.
- 12. E você?
- Contando com a tarada, peguei 18.
- Ah, tá! Acredito!
- Juro por Deus. Isso se não peguei mais.
- E foi pros finalmentes com alguém?
- Ah, depende do que você chama de “finalmentes”. Quer mesmo que eu conte todos os detalhes?
- NÃO! Obrigado. Pode me poupar dos detalhes sórdidos.
- Ah, tá! Melhor assim. Os meninos também foram para os finalmentes, né?
- Foram.
- Não diga que foi uma suruba de vocês três com três vadias? – só de imaginar fiquei com o pau latejando.
- Claro que não, seu trouxa. Que nojo! Deus me livre de meter com dois machos...
- Não sabe o que você perde! – eu bocejei e senti a barriga roncar.
- Deus é mais, nem quero saber.
- Manézão. Aí, tem janta?
- Aham. O Vini cozinhou uns negócios lá.
- O Vini? Cozinhando? Conta outra!
- Sério! Acho que a balada fez bem e deixou o cara de bom-humor. Fez arroz, feijão e carne de panela. Ficou gostoso, viu?
- Ai essa é boa! Deus me ajude...
Pulei da cama e mesmo de cueca me dirigi até a cozinha e me servi de tudo que pude. E para a minha total surpresa, a comida estava boa. Ou será que a fome modificou o sabor dos alimentos?
- Posso casar? – ele apareceu de toalha no meio da cozinha.
- Pode. Me surpreendeu, hein?
- Posso saber onde o senhor foi ontem à noite? Por que sumiu assim do nada?
- Quer mesmo que eu responda?
- Não, na verdade eu sei onde você foi.
- Sabe?
- Imagino. Fiquei chateado, mas beleza.
- Que bom que você me entende.
- Fiquei sabendo que você pegou uma garota? É verdade?
- Peguei não, ela que me pegou – bebi um gole de refrigerante. Senti a minha cabeça doer de leve e de repente fiquei com muita sede.
- Ah, entendi – ele deu um sorriso lindo, muito lindo.
- Posso fazer uma pergunta?
- Pode sim, Caio.
Vinícius sentou ao meu lado e abriu as pernas de leve. É claro que eu não pude deixar de dar uma conferida naquele corpo escultural que ele tinha.
- Está usando alguma coisa aí embaixo? – perguntei no ouvido do meu amigo.
Ele sorriu, cruzou os braços e disse:
- Não.
- Sério mesmo? – mordi meus lábios.
- Sério! Quer dar uma conferida?
- Conferida no quê? – Fabrício entrou na cozinha de sopetão.
- Ih, curioso você, hein? – Vini não deu brecha.
- Do que estão falando?
- Da balada de ontem – eu falei.
- Ah, entendi. Pegou quantas, Caio?
- 18 – falei a verdade.
- Hã? – eles não acreditaram e fizeram a mesma cara de incredulidade.
- Fala sério, vai? – Fabrício me olhou.
- Juro por Deus! 18. E vocês?
- Ah, não acredito não! Nem vi você com tantas assim... – Fabrício discordou.
É claro que ele não tinha visto, mas eu não ia falar a verdade.
- Você não viu porque não parou de beijar suas negas, filhote. Pegou quantas?
- 12.
- E você, Vini?
- 14.
- E os dois foram pro motel que eu já fiquei sabendo. Safadinhos!
- Ossos do ofício – o gostosão abriu um sorriso imenso e coçou o saco. Que vontade de ver aquela delícia que ele tinha no meio das pernas!
- Vinícius, tem uma chamada perdida no seu celular. Melhor ver quem é, vai que é da sua família – o companheiro de quarto falou.
- Ah, valeu pelo aviso. Já ia mesmo dormir poque estou exausto! Boa noite para vocês.
- Boa noite – falamos juntos.
Eu tomei a última gota de refrigerante, levantei, coloquei o prato na pia, lavei as mãos, me espreguicei e respirei fundo.
- Acho que vou dormir também. Até amanhã, parceiro.
- Até amanhã, moleque. Vê se não perde a hora pro trampo, hein?
- Pode deixar!
Quando eu entrei no quarto, fui direto pra cama, me aninhei no meio do meu edredom, fechei os olhos e não consegui dormir.
A falta de sono me deixou impaciente e eu fui obrigado a entrar na internet para me entreter um pouco.
Contudo, se eu soubesse que iria passar tanta raiva, teria deixado o Rodrigo continuar fazendo o que estava fazendo e teria ficado olhando pro teto, sem fazer porra nenhuma!
Quando entrei, vi que o Bruno estava novamente online e percebi várias atualizações dele no perfil, sem contar oos zilhares de depoimentos que ele tinha me mandado. Novamente apaguei todos, sem ler nenhum.
Fiquei muito, mas muito irritado. É claro que ele não estava colocando nada para me provocar, mas uma vírgula que ele postava me deixava pra lá de bravo. Senti vontade de jogar o notebook pela janela – e olha que ela ficava ao lado da cama do Rodrigo.
- Que foi?
- O Bruno está online.
- E você está falando com ele?
- Deus me livre e guarde três mil vezes – bati até na madeira.
- Não se falaram mais?
- Não e não quero falar. Estou bem assim!
- Isso mesmo, mano. Assim que tem que ser.
Mas não foi preciso eu ter a iniciativa. Menos de 5 minutos depois de ter conversado com o Rodrigo, a janela com a foto dele subiu e uma janelinha do Messenger começou a piscar enlouquecidamente.
Que ódio! Por que eu não o bloqueava logo de uma vez? Por que eu não colocava um ponto final naquela história em definitivo?
Porque eu era covarde! Já havia bloqueado o menino mais de duas vezes e sempre voltava atrás na minha decisão. Excluir do Orkut seria outro martírio... Por mais que eu não estivesse mais ligado, por mais que eu já tivesse dado a volta por cima naquela situação horrível, eu ainda não tinha me desligado completamente do Bruno.
Mesmo contra a minha vontade, abri a janela, respirei fundo, criei coragem e li:
- Finalmente acordou, hein?
- Que horas são?
- 21h10.
- Puta, já?
- Já! Perdeu todo o domingo.
- Olha quem fala! Que horas você chegou?
- Quase 11 – ele disse.
- Caralho! Onde foi?
- Fui pra um motel dar uma relaxada. Você também?
- Não. Fui para uma balada GLS. Não curti aquela balada onde vocês me levaram...
- Não gostou, mas bem que pegou uma gatinha, né?
- Peguei não, menino! Fui assediado, quase me estruparam!
Ele caiu na gargalhada. Fazia muito tempo que nós não mantínhamos um diálogo como aquele.
- Pegou quantas? – perguntei depois de alguns minutos.
- 12. E você?
- Contando com a tarada, peguei 18.
- Ah, tá! Acredito!
- Juro por Deus. Isso se não peguei mais.
- E foi pros finalmentes com alguém?
- Ah, depende do que você chama de “finalmentes”. Quer mesmo que eu conte todos os detalhes?
- NÃO! Obrigado. Pode me poupar dos detalhes sórdidos.
- Ah, tá! Melhor assim. Os meninos também foram para os finalmentes, né?
- Foram.
- Não diga que foi uma suruba de vocês três com três vadias? – só de imaginar fiquei com o pau latejando.
- Claro que não, seu trouxa. Que nojo! Deus me livre de meter com dois machos...
- Não sabe o que você perde! – eu bocejei e senti a barriga roncar.
- Deus é mais, nem quero saber.
- Manézão. Aí, tem janta?
- Aham. O Vini cozinhou uns negócios lá.
- O Vini? Cozinhando? Conta outra!
- Sério! Acho que a balada fez bem e deixou o cara de bom-humor. Fez arroz, feijão e carne de panela. Ficou gostoso, viu?
- Ai essa é boa! Deus me ajude...
Pulei da cama e mesmo de cueca me dirigi até a cozinha e me servi de tudo que pude. E para a minha total surpresa, a comida estava boa. Ou será que a fome modificou o sabor dos alimentos?
- Posso casar? – ele apareceu de toalha no meio da cozinha.
- Pode. Me surpreendeu, hein?
- Posso saber onde o senhor foi ontem à noite? Por que sumiu assim do nada?
- Quer mesmo que eu responda?
- Não, na verdade eu sei onde você foi.
- Sabe?
- Imagino. Fiquei chateado, mas beleza.
- Que bom que você me entende.
- Fiquei sabendo que você pegou uma garota? É verdade?
- Peguei não, ela que me pegou – bebi um gole de refrigerante. Senti a minha cabeça doer de leve e de repente fiquei com muita sede.
- Ah, entendi – ele deu um sorriso lindo, muito lindo.
- Posso fazer uma pergunta?
- Pode sim, Caio.
Vinícius sentou ao meu lado e abriu as pernas de leve. É claro que eu não pude deixar de dar uma conferida naquele corpo escultural que ele tinha.
- Está usando alguma coisa aí embaixo? – perguntei no ouvido do meu amigo.
Ele sorriu, cruzou os braços e disse:
- Não.
- Sério mesmo? – mordi meus lábios.
- Sério! Quer dar uma conferida?
- Conferida no quê? – Fabrício entrou na cozinha de sopetão.
- Ih, curioso você, hein? – Vini não deu brecha.
- Do que estão falando?
- Da balada de ontem – eu falei.
- Ah, entendi. Pegou quantas, Caio?
- 18 – falei a verdade.
- Hã? – eles não acreditaram e fizeram a mesma cara de incredulidade.
- Fala sério, vai? – Fabrício me olhou.
- Juro por Deus! 18. E vocês?
- Ah, não acredito não! Nem vi você com tantas assim... – Fabrício discordou.
É claro que ele não tinha visto, mas eu não ia falar a verdade.
- Você não viu porque não parou de beijar suas negas, filhote. Pegou quantas?
- 12.
- E você, Vini?
- 14.
- E os dois foram pro motel que eu já fiquei sabendo. Safadinhos!
- Ossos do ofício – o gostosão abriu um sorriso imenso e coçou o saco. Que vontade de ver aquela delícia que ele tinha no meio das pernas!
- Vinícius, tem uma chamada perdida no seu celular. Melhor ver quem é, vai que é da sua família – o companheiro de quarto falou.
- Ah, valeu pelo aviso. Já ia mesmo dormir poque estou exausto! Boa noite para vocês.
- Boa noite – falamos juntos.
Eu tomei a última gota de refrigerante, levantei, coloquei o prato na pia, lavei as mãos, me espreguicei e respirei fundo.
- Acho que vou dormir também. Até amanhã, parceiro.
- Até amanhã, moleque. Vê se não perde a hora pro trampo, hein?
- Pode deixar!
Quando eu entrei no quarto, fui direto pra cama, me aninhei no meio do meu edredom, fechei os olhos e não consegui dormir.
A falta de sono me deixou impaciente e eu fui obrigado a entrar na internet para me entreter um pouco.
Contudo, se eu soubesse que iria passar tanta raiva, teria deixado o Rodrigo continuar fazendo o que estava fazendo e teria ficado olhando pro teto, sem fazer porra nenhuma!
Quando entrei, vi que o Bruno estava novamente online e percebi várias atualizações dele no perfil, sem contar oos zilhares de depoimentos que ele tinha me mandado. Novamente apaguei todos, sem ler nenhum.
Fiquei muito, mas muito irritado. É claro que ele não estava colocando nada para me provocar, mas uma vírgula que ele postava me deixava pra lá de bravo. Senti vontade de jogar o notebook pela janela – e olha que ela ficava ao lado da cama do Rodrigo.
- Que foi?
- O Bruno está online.
- E você está falando com ele?
- Deus me livre e guarde três mil vezes – bati até na madeira.
- Não se falaram mais?
- Não e não quero falar. Estou bem assim!
- Isso mesmo, mano. Assim que tem que ser.
Mas não foi preciso eu ter a iniciativa. Menos de 5 minutos depois de ter conversado com o Rodrigo, a janela com a foto dele subiu e uma janelinha do Messenger começou a piscar enlouquecidamente.
Que ódio! Por que eu não o bloqueava logo de uma vez? Por que eu não colocava um ponto final naquela história em definitivo?
Porque eu era covarde! Já havia bloqueado o menino mais de duas vezes e sempre voltava atrás na minha decisão. Excluir do Orkut seria outro martírio... Por mais que eu não estivesse mais ligado, por mais que eu já tivesse dado a volta por cima naquela situação horrível, eu ainda não tinha me desligado completamente do Bruno.
Mesmo contra a minha vontade, abri a janela, respirei fundo, criei coragem e li:
“A gente pode conversar?”

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