terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Capítulo 77

D

 ormi tão bem naquele colchão extremamente macio, que tive dificuldade pra acordar na manhã daquela segunda-feira.









- Acorda, Caio – o Gabriel me cutucou nas costelas. – Senão nós vamos nos atrasar pro café da manhã!
- Hã... Não quero tomar café, Gabriel!
- Tem certeza que vai perder um café da manhã de rei? – como ele podia estar tão animado naquela hora da madrugada?
- Que horas são?
- 7 horas. Não esqueça que nós temos que estar na empresa às 9.
- Eu sei – cobri minha cabeça com o travesseiro.
- Bom, você é que sabe. Eu não perderia nenhum minuto se fosse você.
Bufei de raiva. Eu já tinha acordado mesmo... De que adiantava ficar na cama e não conseguir dormir mais? O jeito era encarar a realidade e sair daquela maciez deliciosa.
- Droga – reclamei mais para mim mesmo.
- Não fica bravo, eu só estou tentando te ajudar – ele deu de ombros.
- Não estou bravo com você. Só estou com raiva de ter que sair dessa cama!
- Gostou tanto assim?
- Muito. Você não?
- Gostei, é claro. Nada como uma boa cama para relaxar o corpo. Pena que não é de casal, odeio cama de solteiro!
- Hum. Vou escovar os dentes. Me espera?
- Sim! Não demora.
- Vou tentar ser rápido.
Gabriel já estava arrumado. Não para trabalhar, mas ele não usava a mesma roupa que estava na noite anterior.
Entrei no banheiro e tentei ser o mais rápido que pude; todavia, acho que mesmo me apressando, não fui ágil o suficiente porque quando saí pro quarto, ele parecia um pouco impaciente.
- Finalmente, hein?
- Nem demorei – cocei meus olhos vagarosamente.
- Demorou sim. Está pronto? Podemos descer?
- Podemos, Gabo – bocejei. – Podemos!!!
- Então vamos logo – ele me empurrou até a porta e eu não tive muita escolha. Fui obrigado a obedecê-lo.








O local para tomar café da manhã ficava no 3º andar. Era um salão enorme, repleto de mesas muito elegantes e uma mesa de centro imensa com muitas, mas muitas coisas para serem degustadas.
Notei que Janaína e Alexia já estavam sentadas e estavam atacando a comida sem cerimônias.
- Pode se servir à vontade – Gabriel me orientou.
- Não estou com muita fome, mas...
Peguei um prato branco e comecei a me servir. Primeiro, coloquei três pãezinhos de queijo no centro do objeto de louça; em seguida, escolhi um pedaço de bolo que estava incrivelmente bonito, mas cujo sabor eu nem sequer desconfiava.
- Do que será que é esse bolo? – perguntei.
- É só ler na plaquinha que está perto da bandeja – ele falou.
- Ah, é verdade. Obrigado.







Era de côco. Será que estava bom? Ao lado, havia outro bolo e aquele eu tinha certeza que era de chocolate. Impossível resistir. Coloquei um pedaço deste também. O prato começou a ficar pesado.
- Isso é porque você não está com fome, né? – ele sorriu.
- Ah, não estou resistindo não...
O prato dele estava muito maior e isso era compreensível. Para manter aquele saco de músculos em pé, o moço tinha que comer bem, muito bem.
Acrescentei um misto quente e uma porção de ovos mexidos e por fim, finalizei com um copo de suco de laranja. Isso era suficiente.
- Posso? – perguntei quando cheguei na mesa das meninas.
- Depois do que você me falou ontem à noite, o correto seria você sentar lá na outra ponta – disse Janaína. – Mas como eu sou uma pessoa muito boa, eu deixo. Pode sentar-se.
- Obrigado, querida amiga do meu coração – eu coloquei meu prato em frente a cadeira que eu queria ocupar e em seguida me sentei.
- O que ele te falou, Jana? – perguntou Alexia.
- Me chamou de avó dele, amiga! Vê se pode? Eu mereço isso?
- Vocês dois vão acabar no altar – ela comentou.
- Cruzes – eu bati na mesa. – Quero não!
- E você acha que eu quero? – ela me fuzilou com os olhos muito expressivos. – Você é novinho demais.
- Antes ser novinho demais do que ser uma anciã como você.
- Já estão brigando tão cedo? – Gabriel sentou na minha frente, ao lado da Janaína.
- Ela me ama – eu engoli o último pedaço de pão de queijo.
- Quem me ama é você, seu branquelo.
- Pior que eu amo mesmo!
- Misericórdia, Gabriel! – Alexia não tirou os olhos do prato do nosso amigo. – É bom você deixar um pouco de comida para os outros hóspedes, sabia?
- Peguei pouco – ele sorriu.
- Credo. Você passa fome no Rio, gato? – questionou Janaína.
- Não – ele começou a comer bem rapidinho.
- Olha o tamanho desse cara. Pra ficar de pé, ele tem que comer feito um leão – defendi o rapaz.
- Obrigado, parceiro. Mulher nunca entende nada.
- Pois pra mim parece que ele não come há 3 semanas – Alexia suspirou.
- Caio, seu lindo – a Jana me fitou. – Quando você vai nos levar pra conhecer a cidade?
- Eu?
- Tem outro Caio por aqui, seu lindo?!
- Eu? Levar vocês pra conhecer a cidade?
- Claro que sim, Caio – Gabriel se meteu. – Ou você acha que a gente não vai querer conhecer a cidade?
- Ele leva sim, gente – falou Alexia. – Isso aí é só charme.
- Mas quando a gente iria? – perguntei.
- Quando tivermos folga, ué – disse Janaína.
- Pode ser. Levo sim. Onde vocês querem ir?
- Nos pontos turísticos, obviamente – Alexia revirou os olhos.
- Os pontos turísticos de São Paulo são: o Rio Tietê, o Rio Pinheiros, a 25 de Março, o Brás...
- Não, obrigada. Dispenso os rios poluídos – disse Alexia.
- Eu aceito ir na 25 de Março. Preciso fazer umas comprinhas – Janaína limpou os lábios com o guardanapo.
- Que pobreza, amiga – Alexia riu.
- Cala a boca. Você que veio do Morro do Dendê deve estar louquinha para ir no comércio popular torrar uma graninha.
- Deus me livre! Eu só frequento shoppings, amor.
- Shopping de pobre – Janaína riu. – Se liga, vai com a gente e ponto final.
- Deus me acuda!
- Meninos, com licença – Jana se levantou. – Eu vou me arrumar para o meu primeiro dia de treinamento. Quero ficar linda, vai que tem algum gatinho na sala, né?
- Você? Linda? Só nascendo de novo – Alexia brincou.
- Branquela azeda – a morena bufou de raiva. – Vamos subir logo, cachorra!
- Adoro uma cachorra – Gabo abriu um sorriso largo e a Alexia ficou vermelha.
- Gabriel! – ela ficou mais vermelha que uma pimenta malagueta.
- Desculpa, eu sou sincero – ele não aguentou e deu risada.
- Você me paga, Janaína! – Alexia não sabia o que fazer.
- Relaxa, gata. Todas nós temos uma cachorra adormecida dentro de nosso corpo – ela piscou de brincadeira. – Vamos subir, senão nós vamos nos atrasar.
- Com licença, meninos...
- Até mais tarde – falei.







Deixei o bolo de côco pro final e acabei acertando na minha decisão. Ele estava simplesmente sublime. Leve, molhado, não estava doce demais e também não estava faltando açúcar. Realmente bom.
- Nossa! Vou querer mais um pedaço.
- É bom? – ele me perguntou.
- Muito bom. Bom até demais!
- Vou pegar um pedaço pra mim então.
- Traz um pra mim, por favor?
- Pode deixar.
Talvez eu tenha até caído no pecado da gula porque não estava mais sentindo fome, mas como o bolo estava bom por demais, eu realmente não consegui resistir.
- Isso porque não estava com fome – ele repetiu quando eu terminei meu café da manhã.
- Quem resiste a isso? Amanhã estarei aqui às 5!
O cara riu.
- Exagerado.
- Você fez a Alexia ficar com vergonha – não consegui me segurar mais e soltei o verbo.
- Não foi a minha intenção – ele deu uma risadinha safada. – Só falei a verdade, mas não foi falando dela.
- Peça desculpas depois. Se eu conheço bem aquela lá, ela não vai nem olhar mais na sua cara.
- Olha sim, Caio. Mulher é safada, meu caro. Até parece que você não conhece a fruta!
E eu não conhecia mesmo, mas ele não precisava saber daquele pequenino detalhe.
- Hã... – não soube o que responder.
- Caio, você não é virgem não, né?

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