terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Capítulo 80

M
 eus olhos começaram a lacrimejar e eu senti uma vontade imensa de espirrar e realmente o fiz.
O meu nariz ficou doendo bastante e eu fui obrigado a colocar a mão em cima dele para sentir se estava saindo sangue ou não. Por sorte estava tudo certo.
- Você tem rinite? – ele perguntou quando saiu do banheiro.
- Não! Por quê?
- Está espirrando feito um louco e o seu nariz está muito vermelho!
Claro! O que ele esperava? Depois da portada que eu levei na cara, aquilo era o mínimo que poderia ter acontecido!
- Acho que estou ficando gripado – menti. Eu estava ótimo, só o meu nariz que doía bastante.
- Pega um remédio, parceiro.
- Não precisa. Se eu piorar eu pego.
- Se eu ficar gripado por sua causa, vou fazer você dormir lá no corredor.
- Não tem problema, o carpete desse hotel parece ser bem confortável – brinquei.
- Palhaço! O que vai fazer agora?
- Vou lá pro quarto das meninas. Alexia está me devendo uma massagem. E você?



- Queria usar a internet, mas como está caindo um dilúvio, melhor não. Vai que o seu notebook queima e depois eu tenho que pagar.
- Não creio que isso aconteça, mas é melhor prevenir do que remediar, não é?
- Claro! Acho que vou descer lá também...
- Então vamos logo, a minha coluna está me matando.
- É só corrigir a sua postura que isso se resolve.
Será que eu estava andando com a postura incorreta? Eu não queria ficar corcunda, era melhor me policiar!
Gabriel e eu chegamos rapidamente ao quarto das nossas amigas. A Janaína estava deitada na cama com uma touca de banho enrolada na cabeça. Parecia uma louca!
- Parece uma louca – eu brinquei. – Só falta dois pepinos nos olhos.
- Isso fica para mais tarde – ela me explicou. – Estou hidratando meus cabelos, posso?
- Colocou o pote todo de creme, né? Para hidratar essa palha seca tem que ter muito creme.



- Vem aqui, Caio, seu lindo! – ela levantou e foi até onde eu estava.
- O que foi?
- VOU TE MATAR, SEU DESGRAÇADO! – ela me empurrou até a varanda. – Boa viagem!
Eu ri muito. Minha amiga era doidinha e muito legal. Ela era uma das poucas que sempre me fazia dar risada.
- Melhor não te empurrar agora – ela deu um passo para trás quando abriu o vitrô. – Está chovendo muito, não posso me molhar. Vai que eu pego uma pneumonia!
- Exagerada.
Alexia e Gabriel conversavam tranquilamente e nem parecia que eu e a Jana estávamos no quarto. Comecei a desconfiar que eles estavam começando a ter um caso!
- Alexia? Alexia? ALEEEEEXIA?! Onde está a minha massagem?
- Hã?! Ah, é mesmo! Já tinha até esquecido. Senta aí no chão, seu magrelo.
- No chão? Eu vou é deitar na cama, quero relaxar!
- Então deita, folgado...
Fiquei com a cama que ficava próximo da varanda. Os relâmpagos e trovões não paravam de cair lá fora do hotel.
- Essa eu vou fazer de graça, mas a próxima você vai ter que pagar, hein?
- Eu mesmo não – me neguei. – Eu mereço ser VIP.
- Só por que você quer, né?
- Claro!
Conforme ela foi tocando nas minhas costas e nos meus ombros, eu fui relaxando e aos poucos fui ficando sonolento. As vozes dos meninos foram ficando cada vez mais longe e depois de um tempo, eu adormeci profundamente.



“Eu estava perdido nos meus pensamentos enquanto olhava a tempestade que caía lá fora, até que minha atenção foi desviada com o toque da campainha. Quem seria?
Levantei da minha cama, calcei meus chinelos e me dirigi até a porta do meu quarto. Será que era o Gabrile?
- Quem é?
Silêncio. Não houve resposta alguma. Um trovão soou no céu da cidade de São Paulo?
- Quem é?! – repeti a pergunta, porém novamente não obtive resposta.
Abrir ou não abrir? Essa era a questão. Se eu não abrisse, ficaria curioso e não saberia quem era e se abrisse, poderia ter uma surpresa desagradável. E se fosse alguma visita indesejada?
Mas que visitia indesejada poderia ser aquela? Eu estava no hotel! Quem mais seria a não ser um de meus amigos? Eu só poderia estar ficando louco!
Sem pestanejar, abri a porta e quando vi aquele par de olhos azuis no corredor, quase caí pra trás de tanto susto.
Meus lábios abriram. Eu queria falar alguma coisa, mas não conseguia esboçar nenhuma reação. Era ele... Era ele... Depois de tanto tempo...
- Vo... Você?! – foi o que eu consegui dizer depois de alguns segundos. Ou seriam minutos?
- Caio... – a voz do Bruno estava diferente. Ele estava mudado!
- Você?! – meu coração acelerou a tal ponto que eu pensei que iria enfartar. – O que diabos você está fazendo aqui, Bruno?
- Eu vim conversar com você, Caio. Eu preciso falar com você, eu preciso muito!
- Falar comigo? – eu estava sentindo ódio dentro do meu peito. – Como você pode dizer uma coisa dessas, Bruno? Como você ousa falar isso depois de tanto tempo? Você ficou louco?
- Caio, por favor... Pelo amor de Deus... A gente precisa conversar!
- Conversar o quê?! Eu não tenho nada pra falar com você, NADA! SOME DAQUI, VAI EMBORA!
- Caio, por favor...
- NÃO! SOME JÁ DAQUI, BRUNO! ME DEIXA EM PAZ...
- Caio...
- ME...
Tudo começou a ficar embaçado.
- Caio, não vai embora...
- DEIXA...
Eu estava ficando um pouco tonto.
- Caio, não vai, por favor!
- EM PAZ...
E de repente tudo ficou translucido e eu não sabia mais onde estava. Que lugar era aquele afinal de contas? E o que o Bruno estava fazendo ali?”


- Caio? – senti alguém cutucar as minhas costelas. – Acorda, Caio!
- Me... deixa... em paz... Me deixa...? – eu me remexi e o meu coração disparou quando eu abri os olhos e vi a claridade daquele quarto de hotel.
- Acorda, menino – Alexia me deu um empurrão e eu quase caí da cama. – Você dormiu há um tempão.
- Dormi? Que horas são? Onde eu estou?
- Quase 22 – disse Janaína. – Dormiu que nem uma pedra. E você está no meu quarto, não lembra?
- Sério? – fiquei constrangido e atordoado. – E por que não me acordaram antes?
- Porque nós somos boazinhas – disse Alexia. – Ficamos com dó de te acordar, você estava dormindo tão gostoso!
- Obrigado, meninas. Vocês são uns amorores. Onde está o Gabo?
Eu estava um pouco suado e me sentia muito esquisito. Que sonho foi aquele?

- Já subiu para o barraco de vocês – explicou Janaína. – Infelizmente, estava tão bom ver todos aqueles músculos aqui na minha frente...
- Se fecha, Janaína – Alexia e eu demos risada.
- Eu não! Ele é uma delícia mesmo...
Claro que ele era uma delícia. O Gabriel era muito gostoso, muto gostoso mesmo, mas faltava alguma coisa na obra de arte. Por mais gostoso que ele fosse, algo deixava a desejar, mas eu não sabia o que era.
- Bom, melhor eu subir também. Estou só o pó!
- Percebi, amigo – falou Alexia.
- Obrigado pela massagem, amor. Foi muito boa!
- Que bom que você gostou. Agora eu posso usar a minha caminha?
- Pode, claro! Obrigado por tudo. Até amanhã, princesas!
- Bom descanso – elas disseram ao mesmo tempo.
- Caio? – Janaína me chamou quando eu coloquei a Mao na maçaneta.
- Oi, Jana?
- Está tudo bem?
Por que ela fez aquela pergunta?
- Sim, está sim, por quê?
- É que você estava muito inquieto na cama. Estava sonhando? Teve um pesadelo?
- Sim, sim. Tive sim. Nada demais não. Está tudo bem. Obrigado pela preocupação.
- Se cuida, tá bom? Se precisar de mim, sabe onde me encontrar.
- Obrigado, amorzinho. Te amo.
- Eu também te amo, magricela!
Abri a porta do quarto das garotas e fui direto pro elevador, que por sorte estava me esperando de portas abertas. Rapidamente cheguei no 13º andar, o único problema era que eu estava sem a chave e não consegui entrar no quarto.
- Gabriel? – bati na porta e chamei o meu parceiro.
Ele não apareceu para abrir a porta e eu fiquei um pouco preocupado. O Gabriel não podia me deixar para fora do quarto!
- Gabriel? – bati de novo, dessa vez um pouco mais forte.
Só sosseguei o coração quando ouvi passos dentro do quarto. Ainda bem que ele estava acordado!
- Por que demorou para abrir? – eu entrei rapidamente.
- Eu estava ocupado – ele falou.
- Ah, é? Fazendo o quê?
- Hum... – ele coçou a nuca e ficou calado.
- O que foi? – perguntei.
- Ah, eu vou falar porque tu é homem e é meu parceiro! Eu estava batendo uma.
O moleque nem ficou vermelho. Algo dentro da minha cueca se movimentou.
- Safado – abri um sorriso.
- Fazer o que, irmão? É foda ficar sem sexo!
- Eu que o diga – já estava sentindo falta das minhas baladinhas no Rio. Isso porque eu estava em São Paulo há 2 dias!
- Mas você chegou e eu tive que parar. Até broxei – ele me deu um soco forte no tórax.
- Foi mal, se eu soubesse teria demorado mais nas meninas...
- Relaxa. Depois eu continuo.
- Vai lá no banheiro, meu – sugeri.
- Não. Eu gosto de bater deitado e sem roupa.
Putz! Foi inevitável imaginar aquela cena maravilhosa... Eu daria um dedo para ver o Gabriel se masturbando!
- Ah... entendi!
- Acho que vou dormir, Caio. Amanhã tem mais, né?
- Verdade. Está só começando.
- Uhum.
Antes de partir para a minha cama, fui ao banheiro. Não queria levantar de madrugada para ter que fazer xixi... Aproveitei a oportunidade e escovei meus dentes. Quando voltei pro quarto, ele já estava deitado de bruços e totalmente coberto com o lençol da cama.
- Boa noite – o cumprimentei.
- Boa noite, Caio!
Bastou me deitar para aquele sonho rodar na minha cabeça. Por que eu tinha sonhado com o desgraçado do Bruno depois de tanto tempo?



Não entendi a razão daquele sonho. Tudo sinhá sido esquisito demais pro meu gosto! Onde é que já se viu sonhar que ele estava no meu hotel? Como se aquilo fosse possível!
Perdi as contas de quantas vezes suspirei por causa dele. Aqueles olhos azuis incrivelmente lindos não tinham me visitado em sonhos há muito tempo. Por que teve que acontecer naquele dia, por quê?!
Inevitavelmente, me vi mergulhado em uma saudade sem fim do meu ex-namorado. Não dava pra negar que mesmo depois de quase um ano, ele ainda mexia comigo e mexia muito.
Não que eu ainda fosse apaizonado por ele; porque eu não era, mas eu tinha curiosidade em saber o que tinha acontecido com ele, o motivo pelo qual ele saiu do Brasil e por causa desses questionamentos, eu me sentia mexido quando pensava nele.
Ia completar um ano que nós estávamos seprados. O tempo estava passando rápido demais...
Eu me perguntei como nós estaríamos caso ele ainda estivesse no Rio. Será que estaríamos juntos ou separados? Será que estaríamos felizes ou vivendo em um relacionamento turbulento e cheio de mentiras?
Eu não sabia a resposta para aquelas perguntas e tampouco quis encontrar as respostas. Tudo o que eu podia – e devia – fazer naquele momento era me dedicar ao meu novo trabalho e aos meus amigos. Era isso que eu ia fazer... Não havia mais espaço pro Bruno na minha vida e não seria por causa de um sonho idiota que eu iria ficar pensando nele.



Por sorte, quando nós acordamos para tomar o café na manhã seguinte, já não chovia mais. O céu estava límpido e muito azul. Provavelmente o sol seria bem forte novamente.
- Bom dia – eu o cumprimentei.
- Bom dia, parceiro. Dormiu bem?
- Sim – fui sincero. Por sorte, não sonhei mais com meu ex-namorado. – E você?
- Eu também. Vamos tomar café?
- Sim, mas antes vou escovar os dentes e me trocar. Não dá para descer como um mendingo, né?
- Isso é!
A Alexia e a Janaína chegaram antes da gente no salão do café da manhã, mas ao contrário do dia anterior, naquele dia elas não estavam sentadas e sim na fila para pegar a comida.
- Bom dia – falei quando me aproximei das duas.
- Bom dia – disseram ao mesmo tempo.
Seguindo o exemplo da segunda-feira, eu comi tudo o que pude e mais um pouco. Algo me dizia que eu ia engordar naquela viagem à trabalho.
- Hoje eu vou pra academia, faça chuva ou faça sol – anunciou o saco de músculos.
- Vou com você – Janaína interveio. – Eu não posso engordar nessa viagem.
- Eu é que não vou perder esse hotel para a academia. Estou bem assim, obrigada.
- Alexia, tem que malhar, amiga – Jana a fitou com desaprovação.
- Quando eu voltar pro Rio eu malho.
- Lembre-se que eu disse que iria te arrastar comigo – Gabriel se dirigiu a mim.
- Vou pensar no assunto.
Segundos depois o Renato e o Carlos entraram no salão; contudo, não nos avistaram.
- Vai sentar com esse daí de novo, Caio? – perguntou Alexia.
- Se os meus amigos tiverem a decência de deixar um lugar pra mim, não. Se não deixarem, sim.
- Eu já entendi a indireta, Caio – Janaína deu risada. – Pode deixar que hoje você é nosso.
- Obrigado pela parte que me toca!
- Boa tarde, Caio – Carlos apareceu com o mesmo sorriso simpático de sempre.
- Tudo bom, Carlos?
- Bem e você?
- Sim!
- O convite pra internet está de pé?
- Sim! Só falar quando quiser.
- Pode ser hoje à noite?
- Claro! Sem problema algum.
- Então combinado!
- Todos estão aqui? – perguntou Ricardo, o motorista da van. – Já podemos ir?



Não foi uma viagem tão tranquila pois nós pegamos trânsito e acabamos nos atrasando. Como havia sido acordado que o nosso horário de trabalho seria das 9 às 18 horas, naquele dia tivemos que sair do hotel por volta das 8, mas pelo jeito teríamos que sair mais cedo ainda.
- Bem que dizem que essa cidade é um inferno para trânsito – comentou uma das funcionárias.
Eu fiquei bravo porque eles começarama  falar mal de São Paulo. Talvez aquela velha história que diz que cariocas e paulistas se detestam seja verdade, embora eu ame os cariocas de paixão...
- Como se no Rio não tivesse trânsito também! – falei em alto e bom som para todos ouvirem.
- Não fica com essa cara – Alexia pediu.
- Aquelas vacas falaram mal da minha cidade, Alexia!
- Você vai ter que aguentar calado!
Quando chegamos na empresa, pedimos desculpa à Nilva pelo atraso, mas ela compreendeu a situação e não nos deu nenhuma bronca. Pelo menos isso.
- Hoje iremos começar o conteúdo. Vou precisar da máxima atenção de vocês. Entenderam?
- Sim! – dissemos.
- ENTENDERAM???
- SIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIM!!!
- Ah! Assim que eu gosto. Vou passar a lista de presença, assinem com o primeiro nome apenas.
Particularmente, fiquei quase louco com o que a instrutora estava nos ensinando. Eu não estava entendendo bulhufas e acho que não era o único.
- Pode repetir essa última informação? – alguém perguntou.
- É simples, pessoal...
Um pouco antes do nosso horário de almoço, alguém bateu na porta da sala e interrompeu o nosso treinamento. Era um cara até então desconhecido:
- Bom dia, pessoal. Eu me chamo Aroldo faço parte do RH e estou aqui para entregar os VRs e VAs de vocês.
- Finalmente! – exclamou Gabriel.
- Já não era sem tempo – Alexis suspirou. Eu estava do lado dela naquele dia.
- Quem é Rosangela?
- Eu – disse uma moça que estava na penúltima fileira.
- Pode vir aqui, por favor?
Eu fui quase o último da lista. Já estava ficando preocupado.
- Caio Monteiro?
- Até que enfim!
- Assina aqui, por favor? – pediu o homem.
- Sim...
Dei um visto onde estava o meu nome e ele me entregou o envelope com meu cartão de crédito. Finalmente eu ia parar de gastar meu dinheiro com comida...
- Escolheu qual? – Janaína quis saber.
- VR e você?
- Também. É melhor para comer fora.
- Sim!
- Pessoal, vamos almoçar – Nilva nos liberou. – Depois do almoço iremos ver como funciona a logística do depósito!
- Isso parece ser legal – falou Gabriel.
- É mesmo – concordou Janaína. – Disso eu gostei, mas odiei o sistema que a gente vai lançar as vendas.




- Eu gostei – confessei. – Embora esteja meio doidinho com tanta informação!
- Quem será? – Gabriel me olhou com ar de curiosidade.
- É o Carlos, eu vou emprestar o notebook pra ele.
- Ah, entendi!
- Oi, Carlos! Pode entrar.
- Obrigado, Caio – que sorriso mais lindo!
- O note está em cima da mesa, pode ficar à vontade. Já está conectado na internet.
- Valeu, Caio! Tudo bom... Como é seu nome mesmo?
- Gabriel!
- Tudo bom, Gabriel?
- Em paz!
- Não vou demorar, eu prometo – Carlos sentou e me olhou.
- Fica à vontade, mano!
Gabriel estava assistindo televisão, todo largado em cima de sua cama. Um verdadeiro colírio para os olhos. O imaginei totalmente pelado na minha frente...
- Gabo? Posso usar seu celular?
- Claro! Todo seu.
- Ligarei à cobrar.
- Não, não! Qual a operadora?
- Fixo.
- Não tem celular?
- Até tem, mas é mais caro...
- Qual a operadora?
- TIM – eu rezei para a minha memória não me trair.
- Ah, então pode ligar normal, mano. Eu tenho bônus de TIM pra TIM e já vou perder. Fica à vontade.
- Sério? Valeu, irmão! Fico te devendo essa.
- Sempre às ordens!
- Obrigado. Carlos, eu já volto. Pode ficar tranquilo aí...
- Beleza, Caio. Obrigado.
Eu saí na sacada. Não estava chovendo, mas o tempo estava um pouco frio. Por sorte, eu ainda sabia o número do celular do Rodrigo de cabeça. Será que ele ia me atender?
- Alô? – ele atendeu no 5º toque.
- Pensei que não ia me atender – abri um sorriso enorme.
- Caio!!! Tudo bom, maninho?
- Eu estou ótimo e você?
- Bem! Que saudades! Como estão as coisas aí?
Como o Gabriel disse que eu podia usar, fiquei conversando com o Rodrigo por mais de 10 minutos. Ele me falou que não havia nenhuma novidade no Rio de Janeiro, mas parecia que ele estava me escondendo alguma coisa.
- Tem certeza que não está escondendo nada de mim? – perguntei pela enésima vez.
- Absoluta. Você está grilado! Desencana...
- Assim espero, Rodrigo. Assim espero. Vou desligar. Depois a gente conversa mais.
- Beleza, mano. Um abraço!
- Outro.
Depois que desliguei, resolvi ligar para o Víctor. Queria saber se havia ocorrido tudo bem na volta para São Paulo.
- Pensei que não ia me ligar nunca – ele reclamou.
- Não exagera! Como foi de viagem?
- Bem e você?
- Bem também. Chegou em casa que horas?
- 7 da manhã! E você? Onde está hospedado?
- Cheguei aqui por volta da meia noite e no hotel lá pela uma. Não marquei horário.
- Quando nos veremos?
- Em breve. Eu irei visitá-lo, pode ficar tranquilo.
- Assim espero!
- Tenho que desligar, depois a gente conversa mais.
- Beleza. Abraço, Caio.
- Outro, Víctor!
- Já? – Gabriel quis ser simpático.
- Já abusei demais. Vê aí quanto eu gastei, eu coloco crédito pra você depois.
- 2 reais – ele me respondeu depois de um minuto. – Gastou muito pouco.
- Só isso? Pensei que seria mais...
- Pronto, Caio! – Carlos levantou e se espreguiçou. – Já usei.
- Já? Só isso? – imitei o Gabriel. – Pode mexer mais!
- Não, não. Já fiz o que queria fazer, muito obrigado.
- Por nada, Carlos. Sempre que precisar, é só falar.
- Obrigado mesmo! Até mais então, Gabriel. Até mais, Caio.
- Até!
Ele entrou no quarto completamente molhado e cheirando a suor.
- Nossa – eu ri. – Tomou banho de chuva?
- Não, é suor mesmo – Gabriel tirou a camiseta pela primeira vez na minha frente.
Consegui contar os gominhos no abdômen do cara. Havia 6 de cada lado e as entradinhas nas laterais. Sem contar o peitoral incrivelmente delineado.
Várias gotas de suor escorreram pelo corpo do cara e entraram para dentro da bermuda. O cheiro de suor dele tomou conta do quarto, mas não era um cheiro ruim. Era cheiro de homem mesmo. Fiquei de pau duro na hora!
- Deixa esse ar condicionado no mínimo, Caio, por favor – ele sentou na cama e abaixou a cabeça.
- Está passando mal? – deixei a temperatura em 17º C.
- Não. É só calor mesmo.
- O que treinou hoje?
- Bíceps, tríceps, ombro, peito e fiz uma hora de corrida.
- Uau! Que horas são?
- 22h20.
- Caramba, Gabo. Como consegue?
- Não consigo é ficar sem. Só vou esfriar o calor e vou tomar uma ducha bem demorada. Já que não tenho sexo, pelo menos desestresso na academia.
Era a segunda vez que ele falava em sexo. será que estava sentindo tanta falta assim?
- Entendi.
Mais alguns minutos se passaram e por fim ele criou coragem e foi para o banho. Acredito que pela primeira vez eu me dei conta que tinha que tomar o máximo de cuidado possível perto do Gabriel. Se ele continuasse fazendo aquelas coisas perto de mim, se ele continuasse tirando a camisa na minha frente, eu não saberia se seria capaz de me controlar. Talvez pudesse atacá-lo e aquilo não podia acontecer.
Quando o garoto saiu, ele só usava um shorts de jogador de futebol. Pelo que me parecia, aos poucos ele estava perdendo a timidez e estava cada vez mais desnudo na minha frente. Aquilo não era nada bom.
- Agora sim – Gabriel caiu deitado de costas na cama. – Sou um novo homem.
Dei risada e voltei a olhar para a tela do notebook. Era tentação demais ficar no mesmo quarto que aquele garoto, mas eu tinha que ser forte e vencer todos os meus impulsos. Mas como?



NA SEXTA-FEIRA...

- Um bom final de semana – Nilva abriu a porta e nós começamos a sair. – E até segunda!
- Tchau, Nilva – eu me despedi.
- Tchau, Caio!
- Caio, onde vai nos levar hoje? – perguntou Janaína.
- Pode ser em um barzinho na Vila Mariana?
- Pode! Quero conhecer tudo o que eu tenho direito.
- Vocês topam? – perguntei aos meninos.
- Claro que sim – concordou Gabriel.
- Óbvio, gato – disse Alexia.
- Caio, posso ser curiosa? – perguntou Janaína.
- Pode – o que será que ela ia me perguntar?
- Qual bairro sua família mora aqui em Sampa?
- Higienópolis – eu respondi de imediato. – Por quê?
- E você vai nos levar nesse bairro?
- Não! Não quero pender para aqueles lados – falei.
- Entendi...
- Como nós vamos chegar nessa Vila Mariana, Caio? – sondou Gabriel.
- Iremos de metrô!
- E demora muito?
- Não! Primeiro nós vamos pegar um até a Sé e depois outro até a Vila Mariana. Uns 30 minutos mais ou menos.
- Não dá para ir de ônibus? – quis saber Alexia. – Assim pelo menos a gente conhece a cidade.
- Até dá, mas vai demorar bem mais. Vocês é que sabem!
Acabamos optando pelo metrô mesmo. Levei meus amigos a um barzinho que era o point da rapaziada da escola que eu estudava. Só estava torcendo para não encontrar nenhum conhecido.
- Você vinha aqui? – perguntou Gabriel.
- Cansei de vir aqui. Só não pude vir com muita frequência porque eu era de menor na época, mas sempre estive presente.




- Ué? Não entendi! Você disse que cansou de vir e ao mesmo tempo disse que quase não vinha? – Janaína riu.
- É que assim, Jana... Eu cansei de vir porque o pessoal só queria vir nesse aqui. Não cheguei a ser um frequentador assíduo desse lugar, entendeu?
- Acho que sim.
O que eu quis dizer é que das vezes que eu saí de casa, 99% foi para aquele bar. Por isso eu havia enjoado dele.
- Bacana aqui – falou Gabriel. – Várias gatinhas!
- E gatinhos também! – comentou Alexia.
Nós quatro ficamos jogando conversa fora até altas horas da noite. Por volta da meia noite, a grande maioria dos menores de idade que ali estavam presentes foram obrigados a se retirar e assim o ambiente ficou mais calmo e silencioso.
- Você também ia embora a meia noite? – meu amigo sorriu.
- Ia sim, senão eu morria em casa – dei risada. – Bons tempos!
Com 15 anos eu já frequentava aquele lugar.
- Quantas vezes vinha aqui por mês?
- Ah, uma só – respondi no ato. – Não podia ser mais que isso. Meu pai é muito chato!
Mas das vezes que eu fui, sempre me diverti muito. Com certeza aquela época não sairia da minha memória nunca.
- Da hora aqui. Gostei mesmo – ele falou pela segunda vez.
- Que bom que eu acertei.
- Caio, nós estamos longe da Avenida Paulista? – perguntou Alexia.
- Um pouco.
- Que pena, queria dar um passeio lá.
- De madrugada? – ri.
- Uhum. Respirar ar puro.
- Puro ou poluído? – brincou Janaína.



De repente um grupo de garotos que tinha aproximadamente a minha idade me chamou muito a atenção. Eles estavam chegando e escolheram a mesa mais distante que havia da minha, mas mesmo assim eu conseguia ouvir perfeitamente o que eles estavam falando.
Foi quando eu ouvi uma voz conhecida que me toquei sobre o que estava acontecendo! Eu conhecia aqueles garotos... Eu sabia quem eles eram...
O desespero tomou conta do meu corpo e eu senti uma dor de barriga instantânea. Minhas mãos começaram a suar frio, eu fiquei extremamente inquieto e comecei a tremer feito uma vara verde.
Eles não podiam me ver ali. Não podiam! Meu irmão não estava no meio da trupe dele, mas e se algum dos caras me conhecesse? Claro que eles iam me conhecer! Eu era irmão gêmeo de um dos integrantes daquele grupinho... Seria impossível eles não me reconhecerem...
- O que foi, Caio? – perguntou Gabriel.
Quase tive um troço! Os meninos não podiam ouvir meu nome, não podiam me localizar... Eu tinha que sair daquele bar, eu tinha que me esconder... Eu não podia ser descoberto pela turma do Cauã, não podia!



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