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as é claro que ela não estava me enxergando.

O vidro da van era negro o suficiente para ninguém ver o quê ou quem estava dentro do veículo. Por este motivo, eu tive certeza que ela não sabia que eu estava ali.
Depois de alguns segundos minha mãe virou as costas e saiu andando, entrou na sala e fechou a porta ao passar.
Eu suspirei. É claro que ela não havia me visto. Que ideia a minha de imaginar que ela estava olhando nos meus olhos...
Doeu e doeu muito. Eu queria vê-la, mas não queria dar o braço à torcer... O jeito era me conformar em ficar na minha cidade por 3 semanas e não encontrar nenhum de meus familiares.
- Vamos embora, Ricardo – eu funguei. – Vamos pro hotel.
O motorista foi compreensível e não me fez nenhum questionamento. O cara ligou o motor e de repente eu já não estava mais na minha rua.
Como ela estava mudada... Como ela havia envelhecido em tão pouco tempo... Por que será que isso aconteceu? Onde estava a mãe que eu deixei quando saí de casa? Onde estava sua beleza? Sua juventude???
Meu sofrimento era tamanho que eu não pensava em mais nada a não ser nela. Nela e no meu irmão, que por mais rude que tivesse sido comigo no passado, não deixava de ser meu irmão.
Eu também queria vê-lo. Queria ficar cara a cara com a minha cópia viva. Eu queria e precisava encontrá-lo, eu queria olhar pra ele e pensar que eu estava olhando para um espelho que tinha vontade própria...
Mas isso não seria possível. Ainda não era a hora, ainda não era o momento. Por mais que tivesse passado praticamente 2 anos, esse tempo ainda não era suficiente para apaziguar tudo o que acontecera no passado.
Talvez o melhor a ser feito fosse não procurá-los novamente. Talvez eu devesse esquecê-los, talvez eu devesse deixá-los de lado, do mesmo jeito que eles tinham feito comigo!

Pensei, repensei e pensei mais uma vez em tudo o que aconteceu até nós chegarmos no hotel. Eu não sabia se estava fazendo a coisa certa indo no meu bairro, mas o meu coração pedia e pedia muito para eu fazer aquilo.
- Obrigado, Ricardo – eu abri a porta da van e desci pro asfalto. – Muito obrigado.
- Por nada, rapaz. Você está bem?
- Uhum, estou bem sim. Por favor, não fale nada do que aconteceu com ninguém!
- Fica tranquilo, Caio. Não se preocupe.
- Muito obrigado. De verdade.
- Sempre que precisar, é só falar.
- Fico grato. Boa noite!
- Boa noite.
Entrei no hotel de cabeça baixa. Eu não queria que ninguém me visse chorando, mas isso foi inevitável. Para o meu total azar, dei de cara com a Janaína no elevador e ela foi logo perguntando o que tinha acontecido:
- O que você tem? Por que está chorando?
- Por nada – tentei fugir do assunto.
- Por nada não, aconteceu alguma coisa!
- Não foi nada, Jana! Me deixa ir pro quarto, por favor...
- Não vai subir enquanto não me contar o que aconteceu!
Suspirei e sequei meus olhos. Eu não queria falar sobre o assunto.
- Onde você vai? – tentei fugir de novo do assunto.
- Comprar comida, mas não desconversa. O que você tem, Caio? Por que não confia em mim?
- Eu confio em você sim, mas não quero conversar agora, pode ser?
- E até quando você vai ficar prolongando essa dor, Caio? É nítido que você não está bem, é nítido que você precisa desabafar!
Será que eu era tão transparente assim? Será que eu não conseguia esconder ou pelo menos disfarçar o meu sofrimento?
- Só queria ficar um pouco sozinho, Jana – falei. – Não quero conversar nesse momento. Me entenda, por favor!
- Tudo bem, eu não vou insistir, mas você sabe que aqui você tem uma amiga, que independente de qualquer coisa, eu te apoiarei. Confie em mim!
- Obrigado pela amizade, eu gosto muito de você.
Ela me abraçou e me deu um beijo carinhoso no rosto. Eu sabia que podia contar com a Janaína, mas não queria desabafar com ela naquele momento. Eu sabia também que não ia conseguir prolongar aquela conversa com ela por muito mais tempo.
- Vai comprar sua comida. Eu vou tomar banho e deitar um pouco.
- Não vai jantar? – ela me fitou com ar de desaprovação.
- Não – balancei a cabeça com os olhos fechados. – Eu não estou com fome.
- Mas tem que jantar, você almoçou cedo demais hoje.
- Não estou com fome, não estou mesmo.
- Estou ficando preocupada! Eu nunca te vi assim antes...
- Prometo que conto tudo o que está acontecendo quando eu estiver me sentindo um pouco melhor.
- Vou esperar. Sabe que pode contar comigo.
- Obrigado – eu agradeci pela segunda vez e chamei o elevador, que não demorou a abrir as portas. – A gente se fala depois.
- Se precisar desabafar, sabe qual é o número do meu quarto, não sabe?
- Sei sim, muito obrigado mesmo.
- Te adoro, infeliz. Fica bem, tá bom?
- Também te adoro, sua linda. Vou ficar sim!
- Beijo!
- Outro.

Apertei o botão do 13º andar e fiquei esperando a porta fechar e o elevador começar a subir. Enquanto não cheguei no meu quarto, me olhei no espelho e me espantei com o tamanho das minhas olheiras e a cor dos meus olhos. Eles estavam muito vermelhos.
Por sorte, o Gabriel não estava no quarto. Com certeza cumpriu a promessa e foi treinar na academia do hotel. Foi melhor assim, pelo menos eu não ia ter de dar nenhuma satisfação pro meu amigo.
Fiquei mais de meia hora debaixo da água quente do chuveiro e isso fez as minhas forças ficarem renovadas. Eu me senti relaxado e um pouco mais calmo. Pelo menos, chorando eu não estava mais.
Não tive vontade de fazer mais nada. A única coisa que eu queria e necessitava naquele momento era da cama – que não era minha, mas não deixava a desejar.

Me aninhei no meio do colchão e me cobri com a colcha que estava forrada no mesmo. Pensei muito, muito mesmo na minha mãe. Eu ainda não estava acreditando que a havia visto e muito menos que ela estava tão mudada.
Pensei tanto nela e em tudo o que tinha acontecido, que nem me dei conta que acabei adormecendo. Só acordei depois de muito tempo, com a claridade e o barulho da televisão.

- Desculpa, eu te acordei? – Gabriel estava deitado e só de cueca branca.
- Imagina, não tem problema. Nem vi quando você chegou. Que horas são?
- Quase uma hora.
- Nossa, já? – me espantei. Não pensei que fosse tão tarde.
- Você estava dormindo pesado. Desculpe ter te acordado. Vou desligar a tevê...
- Nâo, não. Pode assistir. Eu não me importo não.
Sentei, calcei meus chinelos e fui ao banheiro. Eu precisava tirar a água dos joelhos.
- A Janaína te ligou duas vezes já – ele informou.
- Vou retornar, obrigado.
Pela primeira vez senti a minha barriga roncar depois de tudo o que ocorreu. Me arrependi de não ter ido comprar comida com a Janaína.
- Alô? – foi a Alexia que atendeu.
- A Jana está acordada?
- Uhum, espera aí...
- Oi? – ela atendeu.
- Me ligou?
- Melhor?
- Uhum.
- Mesmo?
- Uhum, nada melhor que o sono, né?
- Descansou bastante?
- Apaguei.
- Que bom. Melhor assim.
- Verdade. E você está bem?
- Preocupada com você, mas bem.
- Está tudo em ordem, fica tranquila. Vou desligar, quero dormir mais, tá bom?
- Sim. Até amanhã!
- Até. Beijo.
- Outro!
Coloquei o telefone no gancho e deitei de bruços, com a cabeça pro lado da varanda. Fazia uma noite tão linda...
- O que você tem, moleque? – perguntou Gabriel.
- Nada, por quê?
- Está calado, esquisito!
- Cansado.
- Sei. Aconteceu alguma coisa?
- Não. Nada!
- Onde você foi quando chegou no hotel? Você não veio pra cá...
- Fui dar uma volta.
- E não nos convida? – ele fingiu indignação.
- Queria ficar sozinho...
- Ah!
- Vou dormir de novo, Gabo. Até amanhã.
- Até amanhã, Caio.

Ele diminuiu o volume da televisão, mas nem precisava. Fiquei tão absorto em meus pensamentos que não ouvi e nem vi mais nada, só consegui enxergar o rosto da minha mãe e lembrar do doce som da voz dela...
O vidro da van era negro o suficiente para ninguém ver o quê ou quem estava dentro do veículo. Por este motivo, eu tive certeza que ela não sabia que eu estava ali.
Depois de alguns segundos minha mãe virou as costas e saiu andando, entrou na sala e fechou a porta ao passar.
Eu suspirei. É claro que ela não havia me visto. Que ideia a minha de imaginar que ela estava olhando nos meus olhos...
Doeu e doeu muito. Eu queria vê-la, mas não queria dar o braço à torcer... O jeito era me conformar em ficar na minha cidade por 3 semanas e não encontrar nenhum de meus familiares.
- Vamos embora, Ricardo – eu funguei. – Vamos pro hotel.
O motorista foi compreensível e não me fez nenhum questionamento. O cara ligou o motor e de repente eu já não estava mais na minha rua.
Como ela estava mudada... Como ela havia envelhecido em tão pouco tempo... Por que será que isso aconteceu? Onde estava a mãe que eu deixei quando saí de casa? Onde estava sua beleza? Sua juventude???
Meu sofrimento era tamanho que eu não pensava em mais nada a não ser nela. Nela e no meu irmão, que por mais rude que tivesse sido comigo no passado, não deixava de ser meu irmão.
Eu também queria vê-lo. Queria ficar cara a cara com a minha cópia viva. Eu queria e precisava encontrá-lo, eu queria olhar pra ele e pensar que eu estava olhando para um espelho que tinha vontade própria...
Mas isso não seria possível. Ainda não era a hora, ainda não era o momento. Por mais que tivesse passado praticamente 2 anos, esse tempo ainda não era suficiente para apaziguar tudo o que acontecera no passado.
Talvez o melhor a ser feito fosse não procurá-los novamente. Talvez eu devesse esquecê-los, talvez eu devesse deixá-los de lado, do mesmo jeito que eles tinham feito comigo!
Pensei, repensei e pensei mais uma vez em tudo o que aconteceu até nós chegarmos no hotel. Eu não sabia se estava fazendo a coisa certa indo no meu bairro, mas o meu coração pedia e pedia muito para eu fazer aquilo.
- Obrigado, Ricardo – eu abri a porta da van e desci pro asfalto. – Muito obrigado.
- Por nada, rapaz. Você está bem?
- Uhum, estou bem sim. Por favor, não fale nada do que aconteceu com ninguém!
- Fica tranquilo, Caio. Não se preocupe.
- Muito obrigado. De verdade.
- Sempre que precisar, é só falar.
- Fico grato. Boa noite!
- Boa noite.
Entrei no hotel de cabeça baixa. Eu não queria que ninguém me visse chorando, mas isso foi inevitável. Para o meu total azar, dei de cara com a Janaína no elevador e ela foi logo perguntando o que tinha acontecido:
- O que você tem? Por que está chorando?
- Por nada – tentei fugir do assunto.
- Por nada não, aconteceu alguma coisa!
- Não foi nada, Jana! Me deixa ir pro quarto, por favor...
- Não vai subir enquanto não me contar o que aconteceu!
Suspirei e sequei meus olhos. Eu não queria falar sobre o assunto.
- Onde você vai? – tentei fugir de novo do assunto.
- Comprar comida, mas não desconversa. O que você tem, Caio? Por que não confia em mim?
- Eu confio em você sim, mas não quero conversar agora, pode ser?
- E até quando você vai ficar prolongando essa dor, Caio? É nítido que você não está bem, é nítido que você precisa desabafar!
Será que eu era tão transparente assim? Será que eu não conseguia esconder ou pelo menos disfarçar o meu sofrimento?
- Só queria ficar um pouco sozinho, Jana – falei. – Não quero conversar nesse momento. Me entenda, por favor!
- Tudo bem, eu não vou insistir, mas você sabe que aqui você tem uma amiga, que independente de qualquer coisa, eu te apoiarei. Confie em mim!
- Obrigado pela amizade, eu gosto muito de você.
Ela me abraçou e me deu um beijo carinhoso no rosto. Eu sabia que podia contar com a Janaína, mas não queria desabafar com ela naquele momento. Eu sabia também que não ia conseguir prolongar aquela conversa com ela por muito mais tempo.
- Vai comprar sua comida. Eu vou tomar banho e deitar um pouco.
- Não vai jantar? – ela me fitou com ar de desaprovação.
- Não – balancei a cabeça com os olhos fechados. – Eu não estou com fome.
- Mas tem que jantar, você almoçou cedo demais hoje.
- Não estou com fome, não estou mesmo.
- Estou ficando preocupada! Eu nunca te vi assim antes...
- Prometo que conto tudo o que está acontecendo quando eu estiver me sentindo um pouco melhor.
- Vou esperar. Sabe que pode contar comigo.
- Obrigado – eu agradeci pela segunda vez e chamei o elevador, que não demorou a abrir as portas. – A gente se fala depois.
- Se precisar desabafar, sabe qual é o número do meu quarto, não sabe?
- Sei sim, muito obrigado mesmo.
- Te adoro, infeliz. Fica bem, tá bom?
- Também te adoro, sua linda. Vou ficar sim!
- Beijo!
- Outro.
Apertei o botão do 13º andar e fiquei esperando a porta fechar e o elevador começar a subir. Enquanto não cheguei no meu quarto, me olhei no espelho e me espantei com o tamanho das minhas olheiras e a cor dos meus olhos. Eles estavam muito vermelhos.
Por sorte, o Gabriel não estava no quarto. Com certeza cumpriu a promessa e foi treinar na academia do hotel. Foi melhor assim, pelo menos eu não ia ter de dar nenhuma satisfação pro meu amigo.
Fiquei mais de meia hora debaixo da água quente do chuveiro e isso fez as minhas forças ficarem renovadas. Eu me senti relaxado e um pouco mais calmo. Pelo menos, chorando eu não estava mais.
Não tive vontade de fazer mais nada. A única coisa que eu queria e necessitava naquele momento era da cama – que não era minha, mas não deixava a desejar.
Me aninhei no meio do colchão e me cobri com a colcha que estava forrada no mesmo. Pensei muito, muito mesmo na minha mãe. Eu ainda não estava acreditando que a havia visto e muito menos que ela estava tão mudada.
Pensei tanto nela e em tudo o que tinha acontecido, que nem me dei conta que acabei adormecendo. Só acordei depois de muito tempo, com a claridade e o barulho da televisão.
- Desculpa, eu te acordei? – Gabriel estava deitado e só de cueca branca.
- Imagina, não tem problema. Nem vi quando você chegou. Que horas são?
- Quase uma hora.
- Nossa, já? – me espantei. Não pensei que fosse tão tarde.
- Você estava dormindo pesado. Desculpe ter te acordado. Vou desligar a tevê...
- Nâo, não. Pode assistir. Eu não me importo não.
Sentei, calcei meus chinelos e fui ao banheiro. Eu precisava tirar a água dos joelhos.
- A Janaína te ligou duas vezes já – ele informou.
- Vou retornar, obrigado.
Pela primeira vez senti a minha barriga roncar depois de tudo o que ocorreu. Me arrependi de não ter ido comprar comida com a Janaína.
- Alô? – foi a Alexia que atendeu.
- A Jana está acordada?
- Uhum, espera aí...
- Oi? – ela atendeu.
- Me ligou?
- Melhor?
- Uhum.
- Mesmo?
- Uhum, nada melhor que o sono, né?
- Descansou bastante?
- Apaguei.
- Que bom. Melhor assim.
- Verdade. E você está bem?
- Preocupada com você, mas bem.
- Está tudo em ordem, fica tranquila. Vou desligar, quero dormir mais, tá bom?
- Sim. Até amanhã!
- Até. Beijo.
- Outro!
Coloquei o telefone no gancho e deitei de bruços, com a cabeça pro lado da varanda. Fazia uma noite tão linda...
- O que você tem, moleque? – perguntou Gabriel.
- Nada, por quê?
- Está calado, esquisito!
- Cansado.
- Sei. Aconteceu alguma coisa?
- Não. Nada!
- Onde você foi quando chegou no hotel? Você não veio pra cá...
- Fui dar uma volta.
- E não nos convida? – ele fingiu indignação.
- Queria ficar sozinho...
- Ah!
- Vou dormir de novo, Gabo. Até amanhã.
- Até amanhã, Caio.
Ele diminuiu o volume da televisão, mas nem precisava. Fiquei tão absorto em meus pensamentos que não ouvi e nem vi mais nada, só consegui enxergar o rosto da minha mãe e lembrar do doce som da voz dela...
- Psiu? – ele me deu um cutucão no lado das costelas. – Acorda!
- Oi? – não abri meus olhos.
- Não vai tomar café?
- Já?
- Já está na hora – ele puxou o meu lençol e eu senti o frio do ar-condicionado envolver o meu corpo. – Levante.
Bufei de raiva. Eu estava com fome, mas ele não precisava ser drástico daquele jeito.
- Já vou, já vou.
Me arrumei e escovei os dentes rapidamente. Quando descemos, as meninas já estavam sentadas e teminando de comer.
- Bom dia – as cumprimentei.
- Bom dia – Janaína me olhou no fundo dos olhos.
- Está tudo bem – eu falei, quando sentei.
- Que bom.

O pão de queijo não estava molinho do jeito que eu gostava. Quase quebrei o dente quando mordi o primeiro dos quatro que coloquei no prato.
- Ai – reclamei.
A Alexia deu risada.
- Com outra mordida dessas você fica banguelo.
- Parece até que mordi pedra! – reclamei e deixei o pãozinho de lado.
- Come o bolo de aipim, está uma delícia – Gabriel me recomendou.
- Vou buscar uns pedaços e já volto.
Nem me fiz de rogado. Como eu era – e sou – apaixonado por bolos, tratei logo de pegar três pedaços bem generosos.
- Que pouca vergonha, ele parece um morto de fome – brincou Janaína.
- Pior é o Gabriel que faz dois pratos!
- Preciso manter a forma, Caio – ele explicou.
- Dizem que temos que comer como reis no café da manhã e no jantar comer como mendigos – comentou Alexia.
Puxa saco! Só porquê ele estava dando um “guenta” nela, ela defendeu aquele monstro em forma de homem.
- Se você diz, quem sou eu para discordar?
- Hoje eu quero sair – ela mudou de assunto. – Quero conhecer mais lugares. Falta pouco tempo pra gente ir embora e nós não conhecemos quase nada.
- É mesmo, Caio. Leva a gente para andar pela cidade hoje? – perguntou Gabriel.
- Sim, levo sim. É só me falarem onde querem ir.
- Oi? – não abri meus olhos.
- Não vai tomar café?
- Já?
- Já está na hora – ele puxou o meu lençol e eu senti o frio do ar-condicionado envolver o meu corpo. – Levante.
Bufei de raiva. Eu estava com fome, mas ele não precisava ser drástico daquele jeito.
- Já vou, já vou.
Me arrumei e escovei os dentes rapidamente. Quando descemos, as meninas já estavam sentadas e teminando de comer.
- Bom dia – as cumprimentei.
- Bom dia – Janaína me olhou no fundo dos olhos.
- Está tudo bem – eu falei, quando sentei.
- Que bom.
O pão de queijo não estava molinho do jeito que eu gostava. Quase quebrei o dente quando mordi o primeiro dos quatro que coloquei no prato.
- Ai – reclamei.
A Alexia deu risada.
- Com outra mordida dessas você fica banguelo.
- Parece até que mordi pedra! – reclamei e deixei o pãozinho de lado.
- Come o bolo de aipim, está uma delícia – Gabriel me recomendou.
- Vou buscar uns pedaços e já volto.
Nem me fiz de rogado. Como eu era – e sou – apaixonado por bolos, tratei logo de pegar três pedaços bem generosos.
- Que pouca vergonha, ele parece um morto de fome – brincou Janaína.
- Pior é o Gabriel que faz dois pratos!
- Preciso manter a forma, Caio – ele explicou.
- Dizem que temos que comer como reis no café da manhã e no jantar comer como mendigos – comentou Alexia.
Puxa saco! Só porquê ele estava dando um “guenta” nela, ela defendeu aquele monstro em forma de homem.
- Se você diz, quem sou eu para discordar?
- Hoje eu quero sair – ela mudou de assunto. – Quero conhecer mais lugares. Falta pouco tempo pra gente ir embora e nós não conhecemos quase nada.
- É mesmo, Caio. Leva a gente para andar pela cidade hoje? – perguntou Gabriel.
- Sim, levo sim. É só me falarem onde querem ir.
Não havia mais muito o que conhecer. Eles já haviam ido em tudo
que era ponto turístico. Por desencargo de consciência, eu os levei para dar um
tour pela zona sul.

- Que bairro é esse? – sondou Gabriel.
- Esse é o Morumbi. Bonito, né?
- Ah, esse é o famoso Morumbi? – perguntou Janaína.
- E onde fica o estádio? – os olhinhos do Gabriel até brilharam.
- Nós já vamos chegar lá.
E quando chegamos, ele fez a maior festa. Ficou todo encantado, parecia até uma criança que tinha ganhado um pirulito de um adulto ou um brinquedo novo, o brinquedo dos sonhos.
- Muito da hora, “mermão”.
- Não vi a menor graça – falou Janaína.
- Nem eu, preferia ter ido em um museu – brincou Alexia.
- Museu aberto a essa hora? Impossível – Gabriel zombou.
- Onde fica a Sede do Governo do Estado? – perguntou Janaína.
- Se eu não me engano é nesse bairro mesmo, mas eu não faço ideia de onde seja.
- Como não? Que espécie de paulista é você?
- Nunca andei muito pelo Morumbi, Jana! – me expliquei.
- Isso não justifica.
- Sabe o que eu queria mesmo? – falou Alexia.
- Hum?
- Queria conhecer o litoral.
- Impossível – falei. – A não ser que queiram viajar.
E para a minha total surpresa, não é que eles toparam? Ficou acordado que a gente iria na sexta-feira à noite e iríamos voltar na madrugada da segunda. Eu só queria saber onde nós iríamos ficar hospedados!
- Deve ter algum lugar – Gabriel me tranquilizou.
- E se não tiver, a gente volta no mesmo dia – argumentou Janaína.
- Beleza então, nós vamos!
- Já estou com saudades do mar – explicou Alexia. – E do sol também.
- Ai nem fala, amiga. Essa cidade é muito fria – reclamou Janaína.
- Você ainda não viu frio, Jana!
- E nem quero ver, obrigada.
Como meus amigos me fizeram andar até a 1 da manhã, não tive tempo para pensar na minha família e consecutivamente me senti bem melhor naquela noite.
- Hoje você está feliz?
- Sim – falei, - Mente ocupada, sem tempo para pensar em coisas tristes.
- Que bom – Janaína passou o braço pelo meu ombro. – Eu fico aliviada!
- Obrigado.
Só chegamos no hotel por volta da 1 e meia da matina. Gabriel e eu ficamos brigando para ver quem ia tomar banho primeiro e eu acabei perdendo a disputa.
- Prometo que serei rápido – ele ficou só de cueca novamente. Pelo jeito estava acostumando comigo. Será que até o fim da viagem ele ficaria pelado na minha frente?
- Agradeço se não demorar mesmo.
- Confie.
Contudo, ele não cumpriu a promessa. Se eu não tivesse ficado no pé, Gabriel teria demorado muito tempo embaixo do chuveiro.
- Lembre-se dos “Amigos do Planeta” – eu fiz referência ao programa ecológico da empresa onde estávamos trabalhando.
- Muito engraçado você! Não me deixou nem bater uma em paz...
- Ah, era isso que você estava fazendo, seu safado? – eu abri um sorriso.
- Era, mas você me atrapalhou.
- Se tivesse falado eu teria esperado!
- Agora é tarde, já broxei.
- Ué, é só fazer ele endurecer de novo – eu prolonguei o assunto pra ver até onde ele iria.
- Agora perdi o tesão – ele tirou a toalha e ficou de cueca preta. – Só quando eu ver a Alexia ele vai ficar duro.
- Safadinho!
- Você não imagina o quanto – ele deu um sorriso muito safado.
- Palhaço!

Entrei no banheiro já de pau duro. Ao contrário dele, eu me masturbei até alcançar o orgasmo e é claro que fiquei pensando nele. Mesmo ele não sendo dotado, era lindo e muito gostoso. O tipo de cara que deixava qualquer garota molhadinha e qualquer gay subindo pelas paredes.
Só quando deitei na cama foi que lembrei que não ia poder viajar pro litoral com meus amigos. Eu já tinha combinado de sair com o Víctor...
- E eu posso saber por que você não vai com a gente?
- É que eu combinei de sair com um amigo primeiro... Vou ter que cumprir a minha promessa!
- E você não pode sair com ele outro dia?
- Não, porque já foi combinado assim, mas vocês podem ir pra praia sem mim.
- E aí a gente se perde, né? – Gabo reclamou.
- Não tem como vocês se perderem. É impossível isso acontecer. E tem mais: quem tem boca vai à Roma!
- Você é muito desagradável, moleque.
- Não sou, prefere que eu minta e na hora H invente uma desculpa? Estou sendo sincero, oras.
- É você que sabe, você vai perder toda a diversão!
- Quando eu voltar pro Rio, terei todas as oportunidades do mundo para ir à praia!
- Não vamos nos prolongar nesse assunto – Gabriel bocejou, se espreguiçou e em seguida coçou o saco. – Eu vou dormir.
- Como quiser. Boa noite!
- Boa noite, seu traíra...
- Que bairro é esse? – sondou Gabriel.
- Esse é o Morumbi. Bonito, né?
- Ah, esse é o famoso Morumbi? – perguntou Janaína.
- E onde fica o estádio? – os olhinhos do Gabriel até brilharam.
- Nós já vamos chegar lá.
E quando chegamos, ele fez a maior festa. Ficou todo encantado, parecia até uma criança que tinha ganhado um pirulito de um adulto ou um brinquedo novo, o brinquedo dos sonhos.
- Muito da hora, “mermão”.
- Não vi a menor graça – falou Janaína.
- Nem eu, preferia ter ido em um museu – brincou Alexia.
- Museu aberto a essa hora? Impossível – Gabriel zombou.
- Onde fica a Sede do Governo do Estado? – perguntou Janaína.
- Se eu não me engano é nesse bairro mesmo, mas eu não faço ideia de onde seja.
- Como não? Que espécie de paulista é você?
- Nunca andei muito pelo Morumbi, Jana! – me expliquei.
- Isso não justifica.
- Sabe o que eu queria mesmo? – falou Alexia.
- Hum?
- Queria conhecer o litoral.
- Impossível – falei. – A não ser que queiram viajar.
E para a minha total surpresa, não é que eles toparam? Ficou acordado que a gente iria na sexta-feira à noite e iríamos voltar na madrugada da segunda. Eu só queria saber onde nós iríamos ficar hospedados!
- Deve ter algum lugar – Gabriel me tranquilizou.
- E se não tiver, a gente volta no mesmo dia – argumentou Janaína.
- Beleza então, nós vamos!
- Já estou com saudades do mar – explicou Alexia. – E do sol também.
- Ai nem fala, amiga. Essa cidade é muito fria – reclamou Janaína.
- Você ainda não viu frio, Jana!
- E nem quero ver, obrigada.
Como meus amigos me fizeram andar até a 1 da manhã, não tive tempo para pensar na minha família e consecutivamente me senti bem melhor naquela noite.
- Hoje você está feliz?
- Sim – falei, - Mente ocupada, sem tempo para pensar em coisas tristes.
- Que bom – Janaína passou o braço pelo meu ombro. – Eu fico aliviada!
- Obrigado.
Só chegamos no hotel por volta da 1 e meia da matina. Gabriel e eu ficamos brigando para ver quem ia tomar banho primeiro e eu acabei perdendo a disputa.
- Prometo que serei rápido – ele ficou só de cueca novamente. Pelo jeito estava acostumando comigo. Será que até o fim da viagem ele ficaria pelado na minha frente?
- Agradeço se não demorar mesmo.
- Confie.
Contudo, ele não cumpriu a promessa. Se eu não tivesse ficado no pé, Gabriel teria demorado muito tempo embaixo do chuveiro.
- Lembre-se dos “Amigos do Planeta” – eu fiz referência ao programa ecológico da empresa onde estávamos trabalhando.
- Muito engraçado você! Não me deixou nem bater uma em paz...
- Ah, era isso que você estava fazendo, seu safado? – eu abri um sorriso.
- Era, mas você me atrapalhou.
- Se tivesse falado eu teria esperado!
- Agora é tarde, já broxei.
- Ué, é só fazer ele endurecer de novo – eu prolonguei o assunto pra ver até onde ele iria.
- Agora perdi o tesão – ele tirou a toalha e ficou de cueca preta. – Só quando eu ver a Alexia ele vai ficar duro.
- Safadinho!
- Você não imagina o quanto – ele deu um sorriso muito safado.
- Palhaço!
Entrei no banheiro já de pau duro. Ao contrário dele, eu me masturbei até alcançar o orgasmo e é claro que fiquei pensando nele. Mesmo ele não sendo dotado, era lindo e muito gostoso. O tipo de cara que deixava qualquer garota molhadinha e qualquer gay subindo pelas paredes.
Só quando deitei na cama foi que lembrei que não ia poder viajar pro litoral com meus amigos. Eu já tinha combinado de sair com o Víctor...
- E eu posso saber por que você não vai com a gente?
- É que eu combinei de sair com um amigo primeiro... Vou ter que cumprir a minha promessa!
- E você não pode sair com ele outro dia?
- Não, porque já foi combinado assim, mas vocês podem ir pra praia sem mim.
- E aí a gente se perde, né? – Gabo reclamou.
- Não tem como vocês se perderem. É impossível isso acontecer. E tem mais: quem tem boca vai à Roma!
- Você é muito desagradável, moleque.
- Não sou, prefere que eu minta e na hora H invente uma desculpa? Estou sendo sincero, oras.
- É você que sabe, você vai perder toda a diversão!
- Quando eu voltar pro Rio, terei todas as oportunidades do mundo para ir à praia!
- Não vamos nos prolongar nesse assunto – Gabriel bocejou, se espreguiçou e em seguida coçou o saco. – Eu vou dormir.
- Como quiser. Boa noite!
- Boa noite, seu traíra...
A Alexia e a Janaína foram muito mais compreensivas que o Gabriel
e não ficaram colocando obstáculos na minha saída com o Víctor.
- Por mim tudo bem, você tem todo direito de sair com seus amigos – falou Janaína.
- É só nos dar as coordenadas de como devemos fazer para chegar na praia – completou Alexia.
- Podem deixar e obrigado pela compreensão.
Naquele mesmo dia mudamos de módulo no treinamento. Passamos da montagem para as solicitações de reparo nas mercadorias. Neste módulo sim eu fiquei repleto de dúvidas.

- Nilva? – eu chamei minha treinadora. – Pode repetir qual as opções de abertura de atendimento, por favor?
- Claro, Caio. Anota aí...
Foi difícil me concentrar no treinamento, porque as informações estavam cada vez mais difíceis e eu fiquei completamente perdido.
- Alguém não entendeu? – perguntou Nilva.
- Eu!!! – não me fiz de rogado e expus a minha dúvida.
- Vamos lá então, Caio...
Por sorte, a Nilva era uma pessoa boníssima e extremamente paciente. Sempre que alguém tinha dúvida, ela parava o conteúdo e só voltava quando a questão fosse esclarecida.
- Agora entendi, obrigado.
Faltando mais ou menos 15 minutos para o final do expediente, a treinadora parou o treinamento para nós provarmos os nossos uniformes.
- Se eu soubesse que tem uniforme, nem teria ficado – reclamou Alexia.
- Claro que tem, ameba loira – brincou Janaína. – Nunca foi em uma loja?
- Já, mas pensei que seríamos VIPs.
- Só porque você quer, né? – falei.
- Calça social? – Gabriel franziu o cenho. – Não sou muito fã...
- Por que? – quis saber.
- Depois eu te explico.
Dei de ombros. Por que será que ele não quis falar na sala?
- Todos anotaram os tamanhos do uniforme? – perguntou Nilva.
- Sim – respondemos em uníssono.
- Então passem as folhas para frente e sumam daqui – ela deu risada. – Bom descanso, até amanhã!
- Até...
- Caio, pode nos levar pra balada hoje? – perguntou Alexia.
- Posso sim, mas onde vocês querem ir?
- Lá na Lapa, lembra?
- Ah, pode crer. Levo sim, sem problemas.
- Obrigada!
Perdi as contas de quantas vezes eu peguei o Henrique olhando pro meu rosto durante aquele dia.
Todas as vezes que dei o flagra, notei que o garoto ficou com as bochechas vermelhas. Tão bonitinho...
- Oi? – ele segurou no meu ombro quando eu ia entrando no elevador.
- Oi, Carlos! Tudo bem?
- Sim e você?
- Bem também.
- Será que eu poderia usar seu note hoje?
- Pode sim, cara. Cola lá no meu quarto...
- Muito obrigado!
- Disponha!!!
Era notório que ele estava envergonhado, mas eu não me importei. O carinha estava me chamando a atenção e se dependesse de mim, nós levaríamos aquele flerte de olhares para frente.
- Que horas a gente se encontra? – perguntou Janaína.
- Pode ser umas 22 horas – informei.
- Ótimo, pelo menos vai dar tempo de ir treinar – falou o bombadão.
- Só pensa nisso, Gabriel? – bufou Alexia.
- Nesse momento é só nisso que dá pra pensar – ele também bufou.
Será que eles estavam se alfinetando?
- Então às 22 horas nós nos encontramos no hall de entrada – Janaína puxou a Alexia pelos ombros, senão ela não ia parar de ficar olhando no espelho do elevador.
- Combinado – aceitei a proposta. – Até mais tarde.
- Arrasem no visual, odeio sair com pessoas feias – a negra piscou de brincadeira.
- Palhaça! – eu sorri e a porta fechou em seguida.
Nem bem entramos no quarto e o Gabriel já saiu de volta. Ele só trocou de roupa e se mandou pra academia.
- Rato de academia! – falei comigo mesmo.
Não tive oportunidade de ficar sozinho por muito tempo. Menos de 10 minutos depois da saída do Gabriel, alguém bateu na porta e eu já tinha certeza de quem era antes mesmo de abrí-la.
- Oi – ele abriu um sorriso, mas dessa vez foi tímido.
- Oi... – eu retribuí o sorriso. – Pode entrar, Carlos!
- Com licença, Caio...
- Fica à vontade!
Ele passou pela porta e ficou parado no meio do quarto.
- Pode usar, não fica grilado não – eu ri.
- Desculpa te atrapalhar, viu? Eu prometo que vai ser rápido...
- Relaxa! Pode ficar o tempo que for necessário.
- Obrigado, mas eu não quero te atrapalhar não. É rapidinho, sério mesmo.
- Já falei pra você relaxar.
Nós dois demos risada. O Carlos sentou na cadeira que estava à frente da mesa onde se encontrava meu notebook, se ajeitou e por fim abriu o aparelho.
- Se importa se eu for tomar uma ducha? – indaguei.
- Não – ele olhou no fundo dos meus olhos. – É claro que não!
- Então eu já volto...
Não fiquei mais que 5 minutos dentro do banheiro. Quando saí com meus cabelos molhados, ele me jogou um olhar tão penetrante que fiquei até sem graça.
- Como você foi rápido!
- Eu disse que não ia demorar...
Como aquele cara tinha um sorriso incrível... Sempre que ele sorria, eu meio que perdia o chão e me sentia flutuando. Algo me conectava ao Carlos, mas eu ainda não sabia o quê exatamente.
- Prontinho. Já utilizei.
- Já? Muito pouco tempo.
- Ah, já fiz tudo que precisava fazer.
- Se você está dizendo... Mas se quiser, pode usar mais um pouco, viu?
- Não precisa não...
- Sempre que precisar é só falar.
- Muito obrigado, Caio!
- Por nada, Carlos!
Ele me olhou pela enésima vez. Parecia que queria me falar alguma coisa com os olhos.
- Então eu já vou.
- Tem certeza?
- Uhum... Obrigado mesmo!
- Imagina, sempre cola aqui quando precisar.
- Pode deixar. Até mais então.
- Até!
Ele saiu rapidamente, mas antes me olhou ,ais uma vez. Será que ele estava a fim de mim?
- Ai, ai – suspirei quando fiquei sozinho. – Eu ainda te pego, garoto!
Decidi entrar um pouco na internet. Queria ver se algum amigo meu do Rio estava online, mas quando abri o note para me conectar, fui surpreendido com um papel que estava dobrado em cima do teclado.

- O que é isso?
Fiquei pra lá de surpreso quando abri o papel e me deparei com o nome do Henrique acrescido de um número de celular. Até esqueci o que ia fazer no computador!
Fiquei olhando para aquele papel por um longo período. Meu coração disparou como não fazia há tempos. Nesse momento até esqueci dos meus problemas. As borboletas tomaram conta do meu estômago repentinamente.
Só depois de um tempão eu comecei a mexer na internet. Assim que entrei no meu Orkut, tive outra surpresa: o Henrique havia me adicionado.
- Como ele me achou? – foi a primeira pergunta que eu me fiz.
É claro que eu tive que fuçar no perfil dele. Dei uma olhada em tudo que pude. Fotos, recados, depoimentos, vídeos...
Mas minha atenção foi desviada quando uma janela do MSN subiu. O Rodrigo estava querendo falar comigo.
Não perdemos tempo e abrimos logo a webcam.
- Que demora foi essa em entrar? – ele fez cara de bravo.
- Ah, não sou muito ligado na internet como antes.
Rodrigo estava sem camisa. Eu fui obrigado a passar meus olhos pelo corpo do meu amigo, foi instinto. Quem mandou ele não se vestir? a culpa não era minha...

- Fez um escândalo para ganhar esse notebook na época e hoje em dia nem liga pra ele. Dá pra mim que está me fazendo falta!
- Dou nada, no máximo te empresto. O certo seria te alugar.
- Caralho, como você é muquirana, hein?
- Sou nada. E aí, como estão as coisas?
- Em ordem e com você?
- Mais ou menos...
- Aconteceu alguma coisa?
- Tem alguém aí?
- Não, estou sozinho. Pode falar...
Contei o que aconteceu com a minha mãe e ele me aconselhou a procurá-la.
- Ela é sua mãe, Caio! Você tem que ir vê-la, mano.
- Será? Tenho tanto medo de ser rejeitado...
- Quem te expulsou foi seu pai, não sua mãe.
- Mas ela não fez nada para me ajudar, Rodrigo. Ao contrário, falou até que ia me mandar para uma sessão de descarrego ou qualquer coisa do gênero para ver se eu me curava...
- Ela falou isso na hora do desespero. Ou você acha que os pais querem ter um filho gay?
- Sei que não querem, mas se eles me amassem de verdade, eles iam me aceitar.
Rodrigo suspirou e ficou triste.
- Nisso você tem razão. Eu só acho que você tinha que seguir seu coração...
- Eu estou em dúvida!
- Faço ideia. Não queria estar no seu lugar.
- Isso é horrível, sabia? – senti um nó na minha garganta.
- Fica calmo que tudo vai dar certo. Queria estar aí pra te apoiar... Pra te dar um abraço...
- E eu queria que você estivesse aqui para me dar apoio. Sinto muito a sua falta.
- Eu também sinto a sua e do seu computador também – ele abriu um sorriso enorme.
- Cara de pau – eu ri.
- Mas você me ama mesmo assim.
- Pior que eu amo mesmo!
Se o Rodrigo não fosse hetero, eu com certeza teria ficado com ele há muito tempo. Ele era o tipo de cara fofo, que qualquer pessoa se apaixonava com muita facilidade.
Nós ficamos conversando por muito tempo. As horas foram passando que eu nem me dei conta. Quando fui olhar o relógio, já passara das 21 horas e eu ainda nem havia jantado.
- Digow, eu preciso sair. Vou comprar um marmitex e depois vou sair com os meninos.
- Ah, é? Vão pra onde?
- Uma baladinha lá na Lapa.
- Mas nem é final de semana...
- E precisa ser final de semana para sair de casa?
- Não, né?
- Então pronto. Vou nessa, beleza? Depois a gente troca ideia.
- Uhum. Vê se compra um celular, está fazendo falta!
- Vou comprar sim, mas só quando eu voltar e receber meu primeiro salário.
- Falando nisso, quando volta mesmo?
- Daqui uns 10 dias. Até já perdi as contas – dei risada.
- É eu também. Parece que já faz um ano que você viajou.
- Exagerado...
Ele deu uma risadinha.
- Manda um abraço pros caras. Até mais, irmão!
- Até, Caio. Se cuida, tá? E pensa no que eu te falei.
- Pensarei sim, pode deixar.
- Por mim tudo bem, você tem todo direito de sair com seus amigos – falou Janaína.
- É só nos dar as coordenadas de como devemos fazer para chegar na praia – completou Alexia.
- Podem deixar e obrigado pela compreensão.
Naquele mesmo dia mudamos de módulo no treinamento. Passamos da montagem para as solicitações de reparo nas mercadorias. Neste módulo sim eu fiquei repleto de dúvidas.
- Nilva? – eu chamei minha treinadora. – Pode repetir qual as opções de abertura de atendimento, por favor?
- Claro, Caio. Anota aí...
Foi difícil me concentrar no treinamento, porque as informações estavam cada vez mais difíceis e eu fiquei completamente perdido.
- Alguém não entendeu? – perguntou Nilva.
- Eu!!! – não me fiz de rogado e expus a minha dúvida.
- Vamos lá então, Caio...
Por sorte, a Nilva era uma pessoa boníssima e extremamente paciente. Sempre que alguém tinha dúvida, ela parava o conteúdo e só voltava quando a questão fosse esclarecida.
- Agora entendi, obrigado.
Faltando mais ou menos 15 minutos para o final do expediente, a treinadora parou o treinamento para nós provarmos os nossos uniformes.
- Se eu soubesse que tem uniforme, nem teria ficado – reclamou Alexia.
- Claro que tem, ameba loira – brincou Janaína. – Nunca foi em uma loja?
- Já, mas pensei que seríamos VIPs.
- Só porque você quer, né? – falei.
- Calça social? – Gabriel franziu o cenho. – Não sou muito fã...
- Por que? – quis saber.
- Depois eu te explico.
Dei de ombros. Por que será que ele não quis falar na sala?
- Todos anotaram os tamanhos do uniforme? – perguntou Nilva.
- Sim – respondemos em uníssono.
- Então passem as folhas para frente e sumam daqui – ela deu risada. – Bom descanso, até amanhã!
- Até...
- Caio, pode nos levar pra balada hoje? – perguntou Alexia.
- Posso sim, mas onde vocês querem ir?
- Lá na Lapa, lembra?
- Ah, pode crer. Levo sim, sem problemas.
- Obrigada!
Perdi as contas de quantas vezes eu peguei o Henrique olhando pro meu rosto durante aquele dia.
Todas as vezes que dei o flagra, notei que o garoto ficou com as bochechas vermelhas. Tão bonitinho...
- Oi? – ele segurou no meu ombro quando eu ia entrando no elevador.
- Oi, Carlos! Tudo bem?
- Sim e você?
- Bem também.
- Será que eu poderia usar seu note hoje?
- Pode sim, cara. Cola lá no meu quarto...
- Muito obrigado!
- Disponha!!!
Era notório que ele estava envergonhado, mas eu não me importei. O carinha estava me chamando a atenção e se dependesse de mim, nós levaríamos aquele flerte de olhares para frente.
- Que horas a gente se encontra? – perguntou Janaína.
- Pode ser umas 22 horas – informei.
- Ótimo, pelo menos vai dar tempo de ir treinar – falou o bombadão.
- Só pensa nisso, Gabriel? – bufou Alexia.
- Nesse momento é só nisso que dá pra pensar – ele também bufou.
Será que eles estavam se alfinetando?
- Então às 22 horas nós nos encontramos no hall de entrada – Janaína puxou a Alexia pelos ombros, senão ela não ia parar de ficar olhando no espelho do elevador.
- Combinado – aceitei a proposta. – Até mais tarde.
- Arrasem no visual, odeio sair com pessoas feias – a negra piscou de brincadeira.
- Palhaça! – eu sorri e a porta fechou em seguida.
Nem bem entramos no quarto e o Gabriel já saiu de volta. Ele só trocou de roupa e se mandou pra academia.
- Rato de academia! – falei comigo mesmo.
Não tive oportunidade de ficar sozinho por muito tempo. Menos de 10 minutos depois da saída do Gabriel, alguém bateu na porta e eu já tinha certeza de quem era antes mesmo de abrí-la.
- Oi – ele abriu um sorriso, mas dessa vez foi tímido.
- Oi... – eu retribuí o sorriso. – Pode entrar, Carlos!
- Com licença, Caio...
- Fica à vontade!
Ele passou pela porta e ficou parado no meio do quarto.
- Pode usar, não fica grilado não – eu ri.
- Desculpa te atrapalhar, viu? Eu prometo que vai ser rápido...
- Relaxa! Pode ficar o tempo que for necessário.
- Obrigado, mas eu não quero te atrapalhar não. É rapidinho, sério mesmo.
- Já falei pra você relaxar.
Nós dois demos risada. O Carlos sentou na cadeira que estava à frente da mesa onde se encontrava meu notebook, se ajeitou e por fim abriu o aparelho.
- Se importa se eu for tomar uma ducha? – indaguei.
- Não – ele olhou no fundo dos meus olhos. – É claro que não!
- Então eu já volto...
Não fiquei mais que 5 minutos dentro do banheiro. Quando saí com meus cabelos molhados, ele me jogou um olhar tão penetrante que fiquei até sem graça.
- Como você foi rápido!
- Eu disse que não ia demorar...
Como aquele cara tinha um sorriso incrível... Sempre que ele sorria, eu meio que perdia o chão e me sentia flutuando. Algo me conectava ao Carlos, mas eu ainda não sabia o quê exatamente.
- Prontinho. Já utilizei.
- Já? Muito pouco tempo.
- Ah, já fiz tudo que precisava fazer.
- Se você está dizendo... Mas se quiser, pode usar mais um pouco, viu?
- Não precisa não...
- Sempre que precisar é só falar.
- Muito obrigado, Caio!
- Por nada, Carlos!
Ele me olhou pela enésima vez. Parecia que queria me falar alguma coisa com os olhos.
- Então eu já vou.
- Tem certeza?
- Uhum... Obrigado mesmo!
- Imagina, sempre cola aqui quando precisar.
- Pode deixar. Até mais então.
- Até!
Ele saiu rapidamente, mas antes me olhou ,ais uma vez. Será que ele estava a fim de mim?
- Ai, ai – suspirei quando fiquei sozinho. – Eu ainda te pego, garoto!
Decidi entrar um pouco na internet. Queria ver se algum amigo meu do Rio estava online, mas quando abri o note para me conectar, fui surpreendido com um papel que estava dobrado em cima do teclado.
- O que é isso?
Fiquei pra lá de surpreso quando abri o papel e me deparei com o nome do Henrique acrescido de um número de celular. Até esqueci o que ia fazer no computador!
Fiquei olhando para aquele papel por um longo período. Meu coração disparou como não fazia há tempos. Nesse momento até esqueci dos meus problemas. As borboletas tomaram conta do meu estômago repentinamente.
Só depois de um tempão eu comecei a mexer na internet. Assim que entrei no meu Orkut, tive outra surpresa: o Henrique havia me adicionado.
- Como ele me achou? – foi a primeira pergunta que eu me fiz.
É claro que eu tive que fuçar no perfil dele. Dei uma olhada em tudo que pude. Fotos, recados, depoimentos, vídeos...
Mas minha atenção foi desviada quando uma janela do MSN subiu. O Rodrigo estava querendo falar comigo.
Não perdemos tempo e abrimos logo a webcam.
- Que demora foi essa em entrar? – ele fez cara de bravo.
- Ah, não sou muito ligado na internet como antes.
Rodrigo estava sem camisa. Eu fui obrigado a passar meus olhos pelo corpo do meu amigo, foi instinto. Quem mandou ele não se vestir? a culpa não era minha...
- Fez um escândalo para ganhar esse notebook na época e hoje em dia nem liga pra ele. Dá pra mim que está me fazendo falta!
- Dou nada, no máximo te empresto. O certo seria te alugar.
- Caralho, como você é muquirana, hein?
- Sou nada. E aí, como estão as coisas?
- Em ordem e com você?
- Mais ou menos...
- Aconteceu alguma coisa?
- Tem alguém aí?
- Não, estou sozinho. Pode falar...
Contei o que aconteceu com a minha mãe e ele me aconselhou a procurá-la.
- Ela é sua mãe, Caio! Você tem que ir vê-la, mano.
- Será? Tenho tanto medo de ser rejeitado...
- Quem te expulsou foi seu pai, não sua mãe.
- Mas ela não fez nada para me ajudar, Rodrigo. Ao contrário, falou até que ia me mandar para uma sessão de descarrego ou qualquer coisa do gênero para ver se eu me curava...
- Ela falou isso na hora do desespero. Ou você acha que os pais querem ter um filho gay?
- Sei que não querem, mas se eles me amassem de verdade, eles iam me aceitar.
Rodrigo suspirou e ficou triste.
- Nisso você tem razão. Eu só acho que você tinha que seguir seu coração...
- Eu estou em dúvida!
- Faço ideia. Não queria estar no seu lugar.
- Isso é horrível, sabia? – senti um nó na minha garganta.
- Fica calmo que tudo vai dar certo. Queria estar aí pra te apoiar... Pra te dar um abraço...
- E eu queria que você estivesse aqui para me dar apoio. Sinto muito a sua falta.
- Eu também sinto a sua e do seu computador também – ele abriu um sorriso enorme.
- Cara de pau – eu ri.
- Mas você me ama mesmo assim.
- Pior que eu amo mesmo!
Se o Rodrigo não fosse hetero, eu com certeza teria ficado com ele há muito tempo. Ele era o tipo de cara fofo, que qualquer pessoa se apaixonava com muita facilidade.
Nós ficamos conversando por muito tempo. As horas foram passando que eu nem me dei conta. Quando fui olhar o relógio, já passara das 21 horas e eu ainda nem havia jantado.
- Digow, eu preciso sair. Vou comprar um marmitex e depois vou sair com os meninos.
- Ah, é? Vão pra onde?
- Uma baladinha lá na Lapa.
- Mas nem é final de semana...
- E precisa ser final de semana para sair de casa?
- Não, né?
- Então pronto. Vou nessa, beleza? Depois a gente troca ideia.
- Uhum. Vê se compra um celular, está fazendo falta!
- Vou comprar sim, mas só quando eu voltar e receber meu primeiro salário.
- Falando nisso, quando volta mesmo?
- Daqui uns 10 dias. Até já perdi as contas – dei risada.
- É eu também. Parece que já faz um ano que você viajou.
- Exagerado...
Ele deu uma risadinha.
- Manda um abraço pros caras. Até mais, irmão!
- Até, Caio. Se cuida, tá? E pensa no que eu te falei.
- Pensarei sim, pode deixar.
Acho que se o Gabriel tivesse colocado uma camiseta mais colada no
corpo, ela teria rasgado. O cara estava tão bombado, mas tão bombado, que já
estava ficando até feio.
- Esse cara usa bomba – ouvi um desconhecido comentar com um homem.
- Certeza.
Na minha opinião, tudo que passa do limite não faz bem. E o Gabriel estava ficando monstruoso demais. Eu não entendia o motivo de todo aquele treinamento pesado.
- Aqui está vazio, né? – eu puxei papo.
- Normal – Janaína parecia entediada.
- Deve lotar no sábado, no domingo.
- Verdade.
Sem mais nem menos me bateu um vazio. Eu fiquei olhando para as pessoas dentro da danceteria e me senti solitário. Acho que a ausência da minha família estava me deixando carente demais naqueles dias.
Talvez tivesse sido melhor não ter ido até a minha casa. Se eu não tivesse ido, não teria encontrado a minha mãe, não teria ficado péssimo, não teria chorado e não estaria me sentindo vazio daquele jeito.
- Que cara é essa, Caio? – perguntou Gabriel.
- Nada não.
- Ele sempre desconversa – Alexia revirou os olhos.
- Não é nada, que saco! – bufei e me virei.
A única coisa que eu não precisava naquele momento era deles ficando no meu pé.
- Eu já volto – falei depois de uns 5 minutos.
Precisava de ar puro. Precisava respirar. Não pensei duas vezes e me dirigi a um canto do local onde estávamos que era aberto. Ali eu ia ter paz.
Senti alguém me abraçando e de repente a Janaína me deu um beijo na bochecha. Ela era a única que era compreensiva entre os meus amigos.
- Está tudo bem?
- Uhum – suspirei e fiquei olhando o horizonte.
Parecia que ia chover. Várias nuvens estavam passando por debaixo da lua e o ar estava ficando pesado.
- Tem certeza, Caio?
- Uhum.
- Quer ficar sozinho? Colocar os pensamentos em ordem?
- Não é isso, Jana. Eu só não quero ser atolado de perguntas, sabe?
- Eu te entendo, lindo. Às vezes nós extrapolamos, né?
- Sim – não menti. – E me sufocam. Principalmente a Alexia.
- Eu sei. A gente te deve desculpas...
- Tranquilo, a única coisa que eu preciso é da minha particularidade.
- Uhum. Prometo que eu não vou mais fazer nenhuma pergunta, tá?
- Também não precisa ser tão radical – eu sorri. – Sua boba!
Ela me deu outro abraço.
- Sabe que pode contar comigo.
- Sei sim.
- Tem certeza que está tudo bem? Quer voltar pro hotel?
- Não quero voltar. É até bom eu sair, espairecer um pouco... Isso que eu estou sentindo é só saudade.
- Saudade da sua família, né?
Assenti com a cabeça e em seguida abaixei meus olhos. Eu não queria começar a chorar.
- Posso ser curiosa?
- Pode.
- Sempre quis saber o que aconteceu... mas não precisa contar se não quiser...
Suspirei profundamente. Mais cedo ou mais tarde, ela teria que saber de tudo. Então eu resolvi contar.
- Já te falei que eu tenho um gêmeo?
- Aham. E que tem seu irmão? Não se dão bem?
- Não, não nos damos bem. Acho que nunca nos demos bem. Eu tenho dúvidas. Quando a gente era pequeno, a gente brincava junto e tudo mais, porém sempre brigávamos...
- Normal, coisa de irmãos!
- Uhum...
Fui falando, fui falando, fui falando e quando percebi, já tinha falado tudo.
- Foi expulso? – ela arregalou os olhos.
- Fui. Apanhei tanto, tanto, tanto que até saiu sangue pelo nariz e pela boca.
- Minha nossa! Mas por quê?!
Eu fiquei calado por um minuto. Mesmo o céu estando totalmente enegrecido, eu consegui identificar no horizonte as nuvens tempestuosas que estavam tomando conta da cidade de São Paulo.
- E então? – Janaína perguntou novamente. – Por que você foi expulso de casa?
- Eu fui expulso de casa porque eu sou gay, Jana.

- Esse cara usa bomba – ouvi um desconhecido comentar com um homem.
- Certeza.
Na minha opinião, tudo que passa do limite não faz bem. E o Gabriel estava ficando monstruoso demais. Eu não entendia o motivo de todo aquele treinamento pesado.
- Aqui está vazio, né? – eu puxei papo.
- Normal – Janaína parecia entediada.
- Deve lotar no sábado, no domingo.
- Verdade.
Sem mais nem menos me bateu um vazio. Eu fiquei olhando para as pessoas dentro da danceteria e me senti solitário. Acho que a ausência da minha família estava me deixando carente demais naqueles dias.
Talvez tivesse sido melhor não ter ido até a minha casa. Se eu não tivesse ido, não teria encontrado a minha mãe, não teria ficado péssimo, não teria chorado e não estaria me sentindo vazio daquele jeito.
- Que cara é essa, Caio? – perguntou Gabriel.
- Nada não.
- Ele sempre desconversa – Alexia revirou os olhos.
- Não é nada, que saco! – bufei e me virei.
A única coisa que eu não precisava naquele momento era deles ficando no meu pé.
- Eu já volto – falei depois de uns 5 minutos.
Precisava de ar puro. Precisava respirar. Não pensei duas vezes e me dirigi a um canto do local onde estávamos que era aberto. Ali eu ia ter paz.
Senti alguém me abraçando e de repente a Janaína me deu um beijo na bochecha. Ela era a única que era compreensiva entre os meus amigos.
- Está tudo bem?
- Uhum – suspirei e fiquei olhando o horizonte.
Parecia que ia chover. Várias nuvens estavam passando por debaixo da lua e o ar estava ficando pesado.
- Tem certeza, Caio?
- Uhum.
- Quer ficar sozinho? Colocar os pensamentos em ordem?
- Não é isso, Jana. Eu só não quero ser atolado de perguntas, sabe?
- Eu te entendo, lindo. Às vezes nós extrapolamos, né?
- Sim – não menti. – E me sufocam. Principalmente a Alexia.
- Eu sei. A gente te deve desculpas...
- Tranquilo, a única coisa que eu preciso é da minha particularidade.
- Uhum. Prometo que eu não vou mais fazer nenhuma pergunta, tá?
- Também não precisa ser tão radical – eu sorri. – Sua boba!
Ela me deu outro abraço.
- Sabe que pode contar comigo.
- Sei sim.
- Tem certeza que está tudo bem? Quer voltar pro hotel?
- Não quero voltar. É até bom eu sair, espairecer um pouco... Isso que eu estou sentindo é só saudade.
- Saudade da sua família, né?
Assenti com a cabeça e em seguida abaixei meus olhos. Eu não queria começar a chorar.
- Posso ser curiosa?
- Pode.
- Sempre quis saber o que aconteceu... mas não precisa contar se não quiser...
Suspirei profundamente. Mais cedo ou mais tarde, ela teria que saber de tudo. Então eu resolvi contar.
- Já te falei que eu tenho um gêmeo?
- Aham. E que tem seu irmão? Não se dão bem?
- Não, não nos damos bem. Acho que nunca nos demos bem. Eu tenho dúvidas. Quando a gente era pequeno, a gente brincava junto e tudo mais, porém sempre brigávamos...
- Normal, coisa de irmãos!
- Uhum...
Fui falando, fui falando, fui falando e quando percebi, já tinha falado tudo.
- Foi expulso? – ela arregalou os olhos.
- Fui. Apanhei tanto, tanto, tanto que até saiu sangue pelo nariz e pela boca.
- Minha nossa! Mas por quê?!
Eu fiquei calado por um minuto. Mesmo o céu estando totalmente enegrecido, eu consegui identificar no horizonte as nuvens tempestuosas que estavam tomando conta da cidade de São Paulo.
- E então? – Janaína perguntou novamente. – Por que você foi expulso de casa?
- Eu fui expulso de casa porque eu sou gay, Jana.
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