sábado, 24 de janeiro de 2015

Capítulo 94

3
0 dias seria tempo suficiente?
- Tudo bem – concordou Fabrício. – Em 30 dias você vai ter a casa de volta.
Arrumamos um problema. Onde nós iríamos morar? O que iríamos fazer? Todos, sem exceção, estavam preocupados com o nosso destino.
- Acalmem-se que daremos um jeito – falou Vinícius assim que o dono da casa foi embora.
- Temos tempo suficiente para conseguir outro lugar – disse Fabrício.
- Assim espero – falou Rodrigo.
- Eu vou tomar banho e ir pro trabalho que eu ganho mais – falei. – Já perdi o sono mesmo!
Eu estava muito estressado naquele dia. Parece que tinha acordado com o pé esquerdo. Será que o motivo desse estresse foi só por conta do cara ter chegado em casa cedo demais e ter feito com que eu perdesse o sono?
- Que cara de poucos amigos é essa? – Janaína perguntou.
- Hoje eu acordei com a macaca, hein? Acho bom não ficar no meu pé hoje.
- Credo, nem falei nada. Bom dia! – ela se afastou de mim rapidinho.
Esse sábado foi um dia que se eu pudesse, teria ficado enfurnado dentro do meu quarto e sem falar com ninguém. Meu mau-humor refletiu até nas minhas vendas. Só consegui fechar um negócio perto do meu expediente chegar ao fim.
- Obrigado e volte sempre – falei ao cliente.
- Obrigado.
- Você já está indo, não é? – Carlos foi ao meu encontro.
- Graças a Deus.
- Hoje você não está em um dia bacana, não é?
- Não, não estou. Por isso evitei de falar com você pra não descontar meu mau-humor em quem não merece.
- Até bravo você fica lindo, sabia? – meu namorado sorriu.
- Agradeço o elogio. Deixa eu bater o ponto. Até amanhã.
- Amanhã eu folgo.
- Ah, é?
- Uhum. Eu vou visitar meus avós no interior.
- Entendi. Boa viagem então.
- Posso te ligar amanhã?
- Pode sim. Vou nessa, tá bom?
- Vai lá, bom descanso!
- Obrigado!

No domingo eu trabalhei sozinho. Nenhum dos meus amigos quis ir e eu não tive com quem conversar o dia todo.
Desde que eu havia começado a trabalhar naquela loja, aquele foi o primeiro dia em que a hora demorou de verdade a passar.
- Que impaciência! – exclamei comigo mesmo.
Dei graças a Deus quando bati o crachá e pude ir embora. A minha casa me esperava e eu precisava muito descansar.
E foi exatamente isso que eu fiz. A primeira coisa que fiz quando cheguei em casa, foi tomar uma ducha bem demorada. Em seguida, comi um pouco de macarrão que sobrou do almoço e depois, fui direto pra minha cama.
- E aí, irmão? – Rodrigo saiu do quarto quando eu ia entrar no meu.
- Como você está?
- Com dor de novo – ele suspirou.
- Estou preocupado com essa dor. Você tem que queixado disso a semana toda... É melhor procurar um médico!
- Não é pra tanto, Caio. É só uma dorzinha de estômago.
- Dorzinha que vem te acompanhando a semana toda, né?
- Deve ser gastrite, sei lá!
- Pode ser mesmo. Você só come besteira!
- Isso não é verdade! – Rodrigo se ofendeu.
- O Vini sabe disso?
- Não.
- Se piorar, me avisa. Tá bom?
- Pode deixar. Obrigado pela preocupação.
Só na segunda pela manhã eu melhorei o humor. Acordei disposto e me sentindo feliz.
- Bom dia! – cumprimentei o Vinícius. – Como vai, Dr. Vinícius?
- Nossa, que animação é essa em plena segunda-feira? Viu um passarinho verde logo cedo?
Eu tinha visto mesmo, mas um passarinho branco. O passarinho do Fabrício!
- Não. Só acordei bem humorado. E aí, a quantas andam a nova casa? Já acharam alguma coisa?
- Parece que tem uma república aqui perto. Nós vamos averiguar.
- Mas caberemos todos?
- Isso é o que vamos verificar. Espero que sim!
- Mudando de assunto, você ficou sabendo que o Digow está sentindo dor de estômago há uma semana?
- Como é? E ele não foi ao médico ainda?
- Não! Diz que é gastrite...
- Mas ele não pode brincar com isso! Pode ser sério! Assim que chegar na faculdade vou direto puxar a orelha dele. Ele que me aguarde!
- É por isso que eu gosto de você, gostosão!!!
- Bom dia! – cheguei com a corda toda. – Tudo bem, pessoas?
- Nossa, quem te viu, quem te vê! – exclamou Janaína. – No sábado estava mordido e hoje está assim? O que aconteceu?
- Eu dormi bem e quando eu durmo bem, eu fico bem na manhã seguinte!
- É, percebi!
É incrível como o nosso estado interfere na nossa vida profissional. O meu bom humor foi reflexo nas minhas vendas. Naquele dia, fechei com sete clientes e isso me deixou ainda mais feliz.
- Já viu quantos pedidos eu fechei hoje? – perguntei pro Jonas.
- Deixa eu ver...
O cara mexia tão rápido no sistema que eu ficava até com um pouco de inveja. Será que um dia eu ia ser que nem ele?
- Nossa, caraca! – ele se espantou. – Mandando muito bem, meus parabéns!
- Muito obrigado!
- Começou bem a semana. É isso aí!!!
- É comecei mesmo. Agora eu vou dar uma descansada.
- Isso vai mesmo.
Senti meu celular vibrando. Quem será que estava me ligando?
- Jonas, meu celular está tocando. Eu posso atender?
- Claro! Vai que é um cliente...
Mas não era um cliente. Era o Rodrigo. Por que será que ele estava me ligando no meu horário de trabalho? Será que tinha acontecido alguma coisa?
- Oi? O que foi?
- Caio... – ele estava ofegante.
- O que foi? O que você tem?
- Você vai demorar muito?
- Estou saindo daqui agora, por que? Está sentindo alguma coisa?
- Muita dor... no estômago... Eu não estou aguentando...
- Calma, Rodrigo! – fiquei preocupado. – Eu já estou indo embora...
- Não... demora muito...
- Vou tentar, mas fica calmo. Já ligou pro Vinícius?
- Ele não... me atende...
- Vou ligar pra ele. Fica tranquilo que eu já estou indo!
Desliguei e me precipitei. Nem sei por onde eu deveria começar.
- Algum problema, Caio? – perguntou Jonas.
- Meu irmão está passando mal...
- Nossa! Então vai embora logo, rapaz!.
- Vou mesmo, até amanhã, chefe...
- Se precisar de alguma coisa liga no meu celular.
- Muito obrigado!
Eu saí às pressas e fui direto pro meu armário. Sem entrar na cabine, arranquei minha camisa e fui logo colocando a minha camiseta. Será que o meu amigo estava bem?
- Que pressa é essa? – Gabriel entrou no vestiário.
- Meu irmão está passando mal...
- Que irmão? O de São Paulo? Ele está aqui?
- Não, não é esse. É o Rodrigo. Ele é como se fosse meu irmão.
- Mas o que ele tem?
- Dor de estômago.
- Ah, coisa boba.
- Boba nada, cara. Ele está com essa dor há uma semana.
Tirei a minha calça social e coloquei a jeans. Estava tão apressado que tive dificuldade ao colocar meus tênis. Minha preocupação foi aumentando com o passar do tempo.
- Até amanhã – falei e saí sem olhar pra trás.
- Não vai falar comigo? – Carlos se meteu na minha frente.
- Não posso, meu amigo está passando mal. Amanhã a gente conversa...
- Mas...
- Eu te ligo!
O que será que o Rodrigo tinha? Eu corri até o ponto do ônibus e senti as minhas pernas tremerem enquanto eu esperava o coletivo.
Pra piorar, o busão estava demorando muito a passar. Se ele demorasse mais 5 minutos, eu seria obrigado a ir de táxi.
- LAPA, LARGO DO MACHADO, CATETE – um cara de uma van gritou.
Era a minha salvação. Acredito que aquela tenha sido a primeira vez que eu andei de van clandestina no Rio. A minha preocupação era muito maior com meu amigo do que com o que poderia acontecer comigo.
- Vai saltar aonde? – perguntou o carinha.
- Catete. Rua do Catete.
- Demorou.
Menos de 2 minutos depois do veículo dar a partida, meu celular tocou de novo. E era ele mais uma vez:
- E aí? Melhorou um pouco?
- Nã-não – senti que ele estava tremendo o queixo. – Vo-você va-vai de-demorar mu-muito?
- Ai, Rodrigo – me preocupei de verdade. – Eu acabei de entrar na van...
- Be-beleza...
- Mas o que você está sentindo?
- Muita do-dor, Ca-caio. Um-muita dor me-me-mesmo.
- Vai se arrumando aí que a gente vai direto pro hospital. Entendeu?
- Tá bo-bom...
- Fica calmo, por favor! Eu vou tentar ligar pro Vinícius...
- Tá...
Desliguei e já disquei o número do Vini, mas ele não me atendeu.
- Atende, Vini, atende...
- Pode pagar a passagem? – o moleque perguntou.
- Ah, é. Quanto é?
- R$ 2,50.
Entreguei o dinheiro e fiquei olhando pela janela. Ainda faltava mais de 20 minutos para chegar em casa.
Foram 25 minutos que pareceram mais 25 anos. Quando eu cheguei na minha rua, dei um pulo na calçada e saí correndo pelo meio da multidão. Eu queria saber se o Rodrigo estava bem...
- Atende, Vinícius! – bufei de raiva quando o celular dele caiu na caixa postal. – Que ódio!
Fazia tempo que eu não corria tanto como naquele dia. Minhas pernas ficaram até doendo e eu também senti uma dor esquisita na lateral esquerda do meu tronco. Será que eu também ia ficar doente?
Abri o portão o mais rápido que pude e nem tranquei quando passei. Eu só precisava saber se ele estava bem...
Entrei na casa e fui logo chamando pelo nome do meu amigo:
- Rodrigo? Cadê você?
Silêncio absoluto.
- Ué? Será que ele já foi?
A luz do banheiro estava acesa e eu fui conferir se meu amigo estava lá, mas o ambiente estava vazio.
- Acho que ele já foi...
Algo dentro de mim estava falando para eu vasculhar a casa e o primeiro cômodo que eu fui, foi no quarto dele.
- RODRIGO?!
E não deu outra. Quando eu abri a porta, dei de cara com ele caído no chão.
Rodrigo estava deitado de bruço
s em forma de “4”. Meu coração disparou a tal ponto que pensei que iria enfartar. O que estava acontecendo com ele, meu Deus?

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