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ui o primeiro a acordar na manhã
seguinte.
Acho que o meu organismo tinha acostumado a acordar cedo. Abri meus olhos automaticamente, mesmo ainda sentindo um pouco de sono.
A única fonte de iluminação do ambiente era a luz tênue que passava pelas frestas da janela do meu quarto. Quando eu me mexi e olhei pro Fabrício, tive a maior surpresa dos últimos tempos: ele estava deitado de lado, virado pra minha cama e com o pênis ereto, muito ereto.


Se restava algum resquício de sono, naquele momento não tinha mais. Era grande, mas não grande demais. Me lembrou muito o dote do Vini, mas aparentemente o do Fabrício era um pouco mais grosso e menor que o do melhor amigo. Provavelmente ele estava tendo uma ereção matinal, pois os olhos estavam fechados e ele parecia dormir profundamente.
Se antes eu achava o Fabrício gostoso, naquele momento então passei a achar ainda mais. Ele estava peludo e aquilo demonstrou virilidade. O cara devia mandar muito bem na hora H...
Fiquei com muita vontade de colocar tudo aquilo dentro da minha boca, mas é claro que eu não podia fazer aquilo. O Fabrício era hetero e não sabia da minha orientação sexual. Se eu caísse em tentação, com certeza iria estragar a nossa amizade e isso eu não queria que acontecesse.
Ganhei o dia vendo aquela cena. De vez em quando, eu notava que o negócio subia sozinho e isso me deixava com mais vontade ainda de experimentar aquela delícia.
Poderia ter ficado olhando pro meu amigo a manhã toda, mas de repente ele mudou de posição, virando de barriga pra baixo e toda a minha felicidade foi por água abaixo.
Não me restou outra alternativa a não ser levantar. Eu tinha muita roupa para lavar e não queria mais ficar na cama. Acho que fiquei frustrado pelo Fabrício ter cortado o meu barato.
Depois que escovei os dentes, fui direto pro tanque. Fora as duas cuecas que estavam jogadas dentro do banheiro, encontrei mais uma no meio do tanque e isso me deixou encafifado e um pouco irritado. Quem estaria deixando cuecas espalhadas pela casa?
Praticamente todas as minhas roupas estavam sujas. Eu tive um trabalho danado para colocar tudo em ordem e isso me deixou um pouquinho zangado.
Algum tempo tinha passado e a casa continuava silenciosa. De duas uma: ou os caras já tinham saído, ou ainda não tinham acordado.
Minha pergunta foi respondida depois de alguns minutos, quando eu ouvi passos vindos do corredor e quando o Éverton apareceu na lavanderia, usando apenas uma bermuda de cor branca.
- Caio! – ele exclamou. – Você voltou!
- Tudo bem, anão de jardim?
- Tudo e você, aspirante a humorista? Como foi de viagem?
- Muito bem. Como estão as coisas por aqui?
- Tudo em ordem. Chegou hoje?
- Hoje de madrugada. Acho que vocês já estavam dormindo na hora que cheguei.
- Ah, entendi! Vou tomar banho que tenho que trabalhar. Fico feliz que tenha voltado.
- Valeu, parceiro!

Como a máquina de lavar estava abarrotada de roupa da rapaziada, fui obrigado a lavar as minhas na mão. Se eu fosse esperar a máquina ficar vazia, não iria ter o que vestir no decorrer do dia.
Vinícius foi o segundo que eu vi naquela manhã. Ele me recepcionou com um abraço bem caloroso e puxou a minha orelha logo em seguida:
- Por que não disse que iria voltar hoje?
- Eu cheguei de madrugada e acho que vocês já estavam dormindo porque a casa estava escura e silenciosa.
- Sério? Deveria ter acordado a gente. Ou pelo menos me acordado!
- Imagina! Não ia fazer isso. E aí, como está tudo por aqui?
- Em ordem. E você como foi em São Paulo?
- Bem – é claro que eu não ia falar o incidente com a minha mãe. – Tudo certo.
- Deixa eu te perguntar uma coisa – ele estava só de cueca branca, como de costume. Eu fiquei com o corpo todo arrepiado quando ele deu uma coçadinha de leve no saco. – Você não ia ficar 21 dias em treinamento? Posso saber por que demorou mais de um mês?
- Porque foram 21 dias úteis e eu avisei isso ao Rodrigo.
- Avisou? Então eu não fui informado. Deixa ele comigo!
- Será que ele já acordou?
- A essa hora ele já deve estar na segunda aula – explicou Vinícius.
- Ah, é verdade! – o Rodrigo estudava de manhã...
O cara estava com o rosto e o cabelo amassados. Ele estava com uma carinha de sono que me deixou encantado. Sem sombra de dúvidas, Vinícius era um sinônimo de beleza masculina.

- Senti sua falta – Vini bagunçou meu cabelo. – Não fique mais tanto tempo longe da gente.
Eu adorava quando ele falava aquilo. Me sentia tão querido...
- Eu senti sua falta também. Aliás, eu sinto sua falta...
- Nem vem que não tem – ele abriu aquele sorriso lindo. – Isso não te pertence mais.
- Não cospe pra cima que pode cair na sua testa!
Em seguida foi a vez do Maicon falar comigo. Eu achei o garoto um pouco mudado. Parecia cansado, com a fisionomia estranha...
- Está tudo bem? – eu perguntei.
- Tudo e com você? Como foi em Sampa?
- Tudo em ordem. Está tudo bem mesmo? Você está diferente!
- Ah, é que eu engordei uns quilinhos – ele deu uma risadinha.
Será que era aquilo mesmo? Pra mim ele parecia doente!
- Ah, tá! Se você diz...

O Fabrício foi o último a acordar e ele também me recebeu com um abraço. Quando nossos corpos se encontraram, senti aquela delícia que ele tinha no meio das pernas encostar em mim e bastou isso para eu ficar em estado de alerta máximo.
- Que saudades, mano! Você fez falta... Por que não avisou que ia voltar?
- Quis fazer uma surpresa – expliquei. – Eu cheguei de madrugada e você já estava dormindo.
- Deveria ter me acordado, pô. E aí como foi de viagem?
- Tudo em ordem, graças a Deus. E por aqui? Alguma novidade?
- Não, tudo na mesma santa paz de sempre.
- Trabalhando e estudando muito?
- Muito – Fabrício até suspirou. – Já estou até atrasado. Vou pra ducha e depois a gente se fala, beleza?
- Falou, irmãozinho.
- Mas a gente pode ir trabalhar juntos, pô! – ele falou isso depois de um minuto.
- Eu só vou na segunda, Fabrício. Ganhei esses dias de folga.
- Ah...
- Falta muita roupa aí, Caio? – perguntou Vinícius.
- Um pouco, por quê?
- Quer lavar as minhas não?
- Ah, folgado! Nem a pau.
- O que custa? Já está com a mão na massa mesmo.
- Não, valeu. Odeio lavar roupa ainda mais na mão.
- A máquina está muito cheia?
- Lotada.
- Então já lava tudo, rapaz! Não te custa nada, vai? Você ficou mais de um mês sem ajudar a gente...
Ele encheu tanto minha paciência que eu acabei cedendo. Só não lavei as cuecas dos meninos. Aí era querer demais, né?
- Pode deixar que as cuecas eu mesmo lavo mais tarde – o médico sorriu.
- Ah, bom. Pensei que até isso você ia querer.
- Sei que você ia adorar, mas deixa comigo mesmo.
Eu ia adorar? Ia adorar é sentir aquela maravilha na minha boca de novo... Isso eu ia adorar!
- A propósito, de quem são aquelas cuecas no banheiro?
- Minhas é que não são. Quem for o dono que pegue e coloque no lugar certo! Agora eu vou nessa que tenho muita coisa pra fazer na faculdade.
- Estudando muito?
- Pra caramba. Não vejo a hora dessa porra acabar.
- Só mais um ano e meio! – lembrei.
- Tempo demais ainda.
- O pior já passou.
O Rodrigo chegou da faculdade no exato momento em que eu coloquei a última peça de roupa no varal. A lavanderia ficou atolada de tantas peças penduradas. Juntar tanta coisa daquele jeito foi relaxo por parte dos integrantes daquela república.
- Eu tentei vir o mais rápido possível – ele me abraçou forte demais.


- Quem te falou?
- O Vinícius. Quem mais?
- Ah, é! E aí, como vai você?
- Bem e você? Fez boa viagem?
- Fiz sim. Tudo em ordem, graças a Deus. Já terminei de lavar minhas roupas, agora vou descansar!
- Lavou as minhas também? Você é demais!
- O Vini ficou atormentando meus pacovás e eu lavei de todo mundo, menos as roupas íntimas.
- Aí seria demais, né? Vou lavar as minhas já, já. Mas me conta as novidades? Como foi em São Paulo?
- Muito bem, tirando aquele contratempo que eu te falei.
Como meu amigo e eu estávamos sozinhos, não havia perigo em falar tudo o que tinha acontecido em São Paulo em voz alta.
- Imagino o trapo que você ficou, mas agora parece muito bem.
- E estou mesmo. Tive um sonho incrível e desde então eu não chorei mais por quem não merece o meu amor.
- Que sonho?
- Aquele que eu te contei pela internet, lembra?
- Ah, é mesm. Pode crer... Depois disso não precisa chorar mesmo não.
- Então, daí eu não estou sofrendo mais. Não tanto como antes pelo menos.
- Isso mesmo, mas pode ficar em paz que agora você está com a sua família. Não que seja sua família de sangue, mas a gente não vai te humilhar como eles. Pode confiar.
- Eu sei. Por isso eu queria voltar logo. Queria e não queria na verdade.
- Deve ter sido horrível voltar pra sua cidade depois de tanto tempo, né?
- Foi sim, mas deu tudo certo. Eu supero as coisas um dia!
- Eu sei que vai superar, você é forte. Você é um batalhador e um dia tudo vai dar certo pra você.
- E a faculdade, como está?
- Me deixando louco. Muita coisa pra fazer, estágio pra cumprir e não consigo nada... Complicado!
- Relaxa, no fim das contas tudo vai dar certo. Só mais dois anos e meio.
- Pouca coisa, quase nada – Rodrigo bufou.
- Por isso eu não quero fazer faculdade.
- Ah, mas vai! Mas vai fazer sim e vai fazer ano que vem.
- Aliás falando nisso, eu não gostei dessa história do senhor ter me inscrito no Enem não, viu?
- E eu estou preocupado com isso por acaso? Você vai fazer e ponto final. Tem que estudar se quiser ser alguém na vida!
- Vou pensar ainda se vou nessa prova. Quando é mesmo?
- Final de agosto, já te falei.
- Na época do meu aniversário ainda? Capaz que não faça...
- Ah, vai sim e acho bom você ir estudando pra tirar uma nota boa.
- Quem vê pensa!
Rodrigo e eu ficamos conversando durante a tarde toda e ele me encheu tanto o saco para fazer o bolo de chocolate que eles gostavam, que eu fui obrigado a atender ao pedido.
- Vai demorar muito pra ficar pronto?
- Calma, apressado. Acabei de colocar no forno.
- Mas vai demorar?
- Vai, né? Enquanto isso me ajuda com o recheio.
- Ajudo sim, vou comer tudo sozinho antes do bolo assar.
- Então melhor você lavar a louça.
- Eu? Por que eu?
- Porque primeiro: a ideia do bolo foi sua e segundo: hoje é seu dia.
- Como você sabe?
- Seu nome está ali na geladeira...
- Já foi olhar isso?
- Claro! Não sou bobo como aparento ser.
Tive que separar os pedaços dos meninos, senão o Rodrigo teria comido o bolo todo.
- Delícia demais – ele falou com a boca cheia. – Parece bolo da minha avó, meu.
- A receita é da minha avó, talvez por isso você se identifique.
- Receita de vó são outros quinheitos mesmo.
Acho que o meu organismo tinha acostumado a acordar cedo. Abri meus olhos automaticamente, mesmo ainda sentindo um pouco de sono.
A única fonte de iluminação do ambiente era a luz tênue que passava pelas frestas da janela do meu quarto. Quando eu me mexi e olhei pro Fabrício, tive a maior surpresa dos últimos tempos: ele estava deitado de lado, virado pra minha cama e com o pênis ereto, muito ereto.
Se restava algum resquício de sono, naquele momento não tinha mais. Era grande, mas não grande demais. Me lembrou muito o dote do Vini, mas aparentemente o do Fabrício era um pouco mais grosso e menor que o do melhor amigo. Provavelmente ele estava tendo uma ereção matinal, pois os olhos estavam fechados e ele parecia dormir profundamente.
Se antes eu achava o Fabrício gostoso, naquele momento então passei a achar ainda mais. Ele estava peludo e aquilo demonstrou virilidade. O cara devia mandar muito bem na hora H...
Fiquei com muita vontade de colocar tudo aquilo dentro da minha boca, mas é claro que eu não podia fazer aquilo. O Fabrício era hetero e não sabia da minha orientação sexual. Se eu caísse em tentação, com certeza iria estragar a nossa amizade e isso eu não queria que acontecesse.
Ganhei o dia vendo aquela cena. De vez em quando, eu notava que o negócio subia sozinho e isso me deixava com mais vontade ainda de experimentar aquela delícia.
Poderia ter ficado olhando pro meu amigo a manhã toda, mas de repente ele mudou de posição, virando de barriga pra baixo e toda a minha felicidade foi por água abaixo.
Não me restou outra alternativa a não ser levantar. Eu tinha muita roupa para lavar e não queria mais ficar na cama. Acho que fiquei frustrado pelo Fabrício ter cortado o meu barato.
Depois que escovei os dentes, fui direto pro tanque. Fora as duas cuecas que estavam jogadas dentro do banheiro, encontrei mais uma no meio do tanque e isso me deixou encafifado e um pouco irritado. Quem estaria deixando cuecas espalhadas pela casa?
Praticamente todas as minhas roupas estavam sujas. Eu tive um trabalho danado para colocar tudo em ordem e isso me deixou um pouquinho zangado.
Algum tempo tinha passado e a casa continuava silenciosa. De duas uma: ou os caras já tinham saído, ou ainda não tinham acordado.
Minha pergunta foi respondida depois de alguns minutos, quando eu ouvi passos vindos do corredor e quando o Éverton apareceu na lavanderia, usando apenas uma bermuda de cor branca.
- Caio! – ele exclamou. – Você voltou!
- Tudo bem, anão de jardim?
- Tudo e você, aspirante a humorista? Como foi de viagem?
- Muito bem. Como estão as coisas por aqui?
- Tudo em ordem. Chegou hoje?
- Hoje de madrugada. Acho que vocês já estavam dormindo na hora que cheguei.
- Ah, entendi! Vou tomar banho que tenho que trabalhar. Fico feliz que tenha voltado.
- Valeu, parceiro!
Como a máquina de lavar estava abarrotada de roupa da rapaziada, fui obrigado a lavar as minhas na mão. Se eu fosse esperar a máquina ficar vazia, não iria ter o que vestir no decorrer do dia.
Vinícius foi o segundo que eu vi naquela manhã. Ele me recepcionou com um abraço bem caloroso e puxou a minha orelha logo em seguida:
- Por que não disse que iria voltar hoje?
- Eu cheguei de madrugada e acho que vocês já estavam dormindo porque a casa estava escura e silenciosa.
- Sério? Deveria ter acordado a gente. Ou pelo menos me acordado!
- Imagina! Não ia fazer isso. E aí, como está tudo por aqui?
- Em ordem. E você como foi em São Paulo?
- Bem – é claro que eu não ia falar o incidente com a minha mãe. – Tudo certo.
- Deixa eu te perguntar uma coisa – ele estava só de cueca branca, como de costume. Eu fiquei com o corpo todo arrepiado quando ele deu uma coçadinha de leve no saco. – Você não ia ficar 21 dias em treinamento? Posso saber por que demorou mais de um mês?
- Porque foram 21 dias úteis e eu avisei isso ao Rodrigo.
- Avisou? Então eu não fui informado. Deixa ele comigo!
- Será que ele já acordou?
- A essa hora ele já deve estar na segunda aula – explicou Vinícius.
- Ah, é verdade! – o Rodrigo estudava de manhã...
O cara estava com o rosto e o cabelo amassados. Ele estava com uma carinha de sono que me deixou encantado. Sem sombra de dúvidas, Vinícius era um sinônimo de beleza masculina.
- Senti sua falta – Vini bagunçou meu cabelo. – Não fique mais tanto tempo longe da gente.
Eu adorava quando ele falava aquilo. Me sentia tão querido...
- Eu senti sua falta também. Aliás, eu sinto sua falta...
- Nem vem que não tem – ele abriu aquele sorriso lindo. – Isso não te pertence mais.
- Não cospe pra cima que pode cair na sua testa!
Em seguida foi a vez do Maicon falar comigo. Eu achei o garoto um pouco mudado. Parecia cansado, com a fisionomia estranha...
- Está tudo bem? – eu perguntei.
- Tudo e com você? Como foi em Sampa?
- Tudo em ordem. Está tudo bem mesmo? Você está diferente!
- Ah, é que eu engordei uns quilinhos – ele deu uma risadinha.
Será que era aquilo mesmo? Pra mim ele parecia doente!
- Ah, tá! Se você diz...
O Fabrício foi o último a acordar e ele também me recebeu com um abraço. Quando nossos corpos se encontraram, senti aquela delícia que ele tinha no meio das pernas encostar em mim e bastou isso para eu ficar em estado de alerta máximo.
- Que saudades, mano! Você fez falta... Por que não avisou que ia voltar?
- Quis fazer uma surpresa – expliquei. – Eu cheguei de madrugada e você já estava dormindo.
- Deveria ter me acordado, pô. E aí como foi de viagem?
- Tudo em ordem, graças a Deus. E por aqui? Alguma novidade?
- Não, tudo na mesma santa paz de sempre.
- Trabalhando e estudando muito?
- Muito – Fabrício até suspirou. – Já estou até atrasado. Vou pra ducha e depois a gente se fala, beleza?
- Falou, irmãozinho.
- Mas a gente pode ir trabalhar juntos, pô! – ele falou isso depois de um minuto.
- Eu só vou na segunda, Fabrício. Ganhei esses dias de folga.
- Ah...
- Falta muita roupa aí, Caio? – perguntou Vinícius.
- Um pouco, por quê?
- Quer lavar as minhas não?
- Ah, folgado! Nem a pau.
- O que custa? Já está com a mão na massa mesmo.
- Não, valeu. Odeio lavar roupa ainda mais na mão.
- A máquina está muito cheia?
- Lotada.
- Então já lava tudo, rapaz! Não te custa nada, vai? Você ficou mais de um mês sem ajudar a gente...
Ele encheu tanto minha paciência que eu acabei cedendo. Só não lavei as cuecas dos meninos. Aí era querer demais, né?
- Pode deixar que as cuecas eu mesmo lavo mais tarde – o médico sorriu.
- Ah, bom. Pensei que até isso você ia querer.
- Sei que você ia adorar, mas deixa comigo mesmo.
Eu ia adorar? Ia adorar é sentir aquela maravilha na minha boca de novo... Isso eu ia adorar!
- A propósito, de quem são aquelas cuecas no banheiro?
- Minhas é que não são. Quem for o dono que pegue e coloque no lugar certo! Agora eu vou nessa que tenho muita coisa pra fazer na faculdade.
- Estudando muito?
- Pra caramba. Não vejo a hora dessa porra acabar.
- Só mais um ano e meio! – lembrei.
- Tempo demais ainda.
- O pior já passou.
O Rodrigo chegou da faculdade no exato momento em que eu coloquei a última peça de roupa no varal. A lavanderia ficou atolada de tantas peças penduradas. Juntar tanta coisa daquele jeito foi relaxo por parte dos integrantes daquela república.
- Eu tentei vir o mais rápido possível – ele me abraçou forte demais.
- Quem te falou?
- O Vinícius. Quem mais?
- Ah, é! E aí, como vai você?
- Bem e você? Fez boa viagem?
- Fiz sim. Tudo em ordem, graças a Deus. Já terminei de lavar minhas roupas, agora vou descansar!
- Lavou as minhas também? Você é demais!
- O Vini ficou atormentando meus pacovás e eu lavei de todo mundo, menos as roupas íntimas.
- Aí seria demais, né? Vou lavar as minhas já, já. Mas me conta as novidades? Como foi em São Paulo?
- Muito bem, tirando aquele contratempo que eu te falei.
Como meu amigo e eu estávamos sozinhos, não havia perigo em falar tudo o que tinha acontecido em São Paulo em voz alta.
- Imagino o trapo que você ficou, mas agora parece muito bem.
- E estou mesmo. Tive um sonho incrível e desde então eu não chorei mais por quem não merece o meu amor.
- Que sonho?
- Aquele que eu te contei pela internet, lembra?
- Ah, é mesm. Pode crer... Depois disso não precisa chorar mesmo não.
- Então, daí eu não estou sofrendo mais. Não tanto como antes pelo menos.
- Isso mesmo, mas pode ficar em paz que agora você está com a sua família. Não que seja sua família de sangue, mas a gente não vai te humilhar como eles. Pode confiar.
- Eu sei. Por isso eu queria voltar logo. Queria e não queria na verdade.
- Deve ter sido horrível voltar pra sua cidade depois de tanto tempo, né?
- Foi sim, mas deu tudo certo. Eu supero as coisas um dia!
- Eu sei que vai superar, você é forte. Você é um batalhador e um dia tudo vai dar certo pra você.
- E a faculdade, como está?
- Me deixando louco. Muita coisa pra fazer, estágio pra cumprir e não consigo nada... Complicado!
- Relaxa, no fim das contas tudo vai dar certo. Só mais dois anos e meio.
- Pouca coisa, quase nada – Rodrigo bufou.
- Por isso eu não quero fazer faculdade.
- Ah, mas vai! Mas vai fazer sim e vai fazer ano que vem.
- Aliás falando nisso, eu não gostei dessa história do senhor ter me inscrito no Enem não, viu?
- E eu estou preocupado com isso por acaso? Você vai fazer e ponto final. Tem que estudar se quiser ser alguém na vida!
- Vou pensar ainda se vou nessa prova. Quando é mesmo?
- Final de agosto, já te falei.
- Na época do meu aniversário ainda? Capaz que não faça...
- Ah, vai sim e acho bom você ir estudando pra tirar uma nota boa.
- Quem vê pensa!
Rodrigo e eu ficamos conversando durante a tarde toda e ele me encheu tanto o saco para fazer o bolo de chocolate que eles gostavam, que eu fui obrigado a atender ao pedido.
- Vai demorar muito pra ficar pronto?
- Calma, apressado. Acabei de colocar no forno.
- Mas vai demorar?
- Vai, né? Enquanto isso me ajuda com o recheio.
- Ajudo sim, vou comer tudo sozinho antes do bolo assar.
- Então melhor você lavar a louça.
- Eu? Por que eu?
- Porque primeiro: a ideia do bolo foi sua e segundo: hoje é seu dia.
- Como você sabe?
- Seu nome está ali na geladeira...
- Já foi olhar isso?
- Claro! Não sou bobo como aparento ser.
Tive que separar os pedaços dos meninos, senão o Rodrigo teria comido o bolo todo.
- Delícia demais – ele falou com a boca cheia. – Parece bolo da minha avó, meu.
- A receita é da minha avó, talvez por isso você se identifique.
- Receita de vó são outros quinheitos mesmo.
E assim foi passando a semana. Pensei
que os dias iriam demorar muito para passar, mas me enganei redondamente.
Quando menos esperei, já estávamos na segunda-feira e eu já tive que ir
trabalhar.
Não quis sair de casa usando meu uniforme. Seria mico demais fazer isso. Por esse motivo, coloquei todas as coisas dentro da minha mochila. Seria melhor desse jeito.
- Assim está melhor.
- Já vai? – perguntou Fabrício. – Quer me esperar não?
- Claro que eu vou te esperar, não quero ir sozinho.
- Demorou, 5 minutos eu fico pronto.
- Sim, sim. Sem pressa, eu ainda vou arrepiar meus cabelos.
- Você? Com cabelo arrepiado? Essa eu quero ver!
- Pelo menos eu vou tentar.
Foi um processo muito complicado. Eu quase sequei o pote de gel do Vinícius e mesmo assim, não consegui deixar o cabelo do jeito que eu queria.
- Conseguiu? – ele entrou com a toalha enrolada na cintura.
- Mais ou menos. Ele fica caindo...
- Deixa eu te ajudar. Senta aí na cama.
- Hã?
- Senta logo, moleque!
Eu sentei e ele ficou na minha frente. Meu rosto ficou literalmente na altura do pau dele. Eu ia adorar que aquela toalha caísse no chão... Ah, como eu ia adorar...
- Porra, vai ter cabelo liso assim no inferno!
- To falando...
- Parece até cabelo de mulher.
- As meninas têm muita inveja do meu cabelo...
- Não é pra menos. Não se mexe!
Eu fiquei quieto e ele mexeu nas minhas madeixas muito rapidamente. Fiquei impaciente, se soubesse que ia dar tanto trabalho, nem teria tido essa ideia.
- Pronto, consegui. Da próxima vez a gente pode colocar sabonete. Com sabonete eu tenho certeza que fica durinho.
- Ah, aí não pô. Vai estragar meu cabelo todo!
Fui pro espelho e aprovei o resultado. Ficou show de bola. Será que ia surtir algum comentário de alguém na loja?

Não quis sair de casa usando meu uniforme. Seria mico demais fazer isso. Por esse motivo, coloquei todas as coisas dentro da minha mochila. Seria melhor desse jeito.
- Assim está melhor.
- Já vai? – perguntou Fabrício. – Quer me esperar não?
- Claro que eu vou te esperar, não quero ir sozinho.
- Demorou, 5 minutos eu fico pronto.
- Sim, sim. Sem pressa, eu ainda vou arrepiar meus cabelos.
- Você? Com cabelo arrepiado? Essa eu quero ver!
- Pelo menos eu vou tentar.
Foi um processo muito complicado. Eu quase sequei o pote de gel do Vinícius e mesmo assim, não consegui deixar o cabelo do jeito que eu queria.
- Conseguiu? – ele entrou com a toalha enrolada na cintura.
- Mais ou menos. Ele fica caindo...
- Deixa eu te ajudar. Senta aí na cama.
- Hã?
- Senta logo, moleque!
Eu sentei e ele ficou na minha frente. Meu rosto ficou literalmente na altura do pau dele. Eu ia adorar que aquela toalha caísse no chão... Ah, como eu ia adorar...
- Porra, vai ter cabelo liso assim no inferno!
- To falando...
- Parece até cabelo de mulher.
- As meninas têm muita inveja do meu cabelo...
- Não é pra menos. Não se mexe!
Eu fiquei quieto e ele mexeu nas minhas madeixas muito rapidamente. Fiquei impaciente, se soubesse que ia dar tanto trabalho, nem teria tido essa ideia.
- Pronto, consegui. Da próxima vez a gente pode colocar sabonete. Com sabonete eu tenho certeza que fica durinho.
- Ah, aí não pô. Vai estragar meu cabelo todo!
Fui pro espelho e aprovei o resultado. Ficou show de bola. Será que ia surtir algum comentário de alguém na loja?
E surtiu mesmo. A Janaína foi a
primeira que foi falar comigo e elogiar o meu novo visual:
- O que fizeram com o cabelo do meu amigo? – ela já começou a dar risada e me agarrou no meio da loja.
- Gostou? – eu ri junto com ela.
- Adorei, gato! Se não fosse gay eu te pegava, hein?
- Palhaça!
- Mudou o visual, Caio? – perguntou Eduarda.
- Ah, pois é... Emprego novo, visual novo.
- Ficou bacana. E aí, preparado?
- Preparadíssimo.
- É assim que se fala. Vamos lá? Vou fazer uma reunião com vocês.
Só quem faltava chegar era a Alexia, mas isso porque ela foi contratada para trabalhar das 13:00 às 22:00. Eu, o Gabo e a Jana ficamos das 10:00 às 19:00.
Depois das apresentações, o que diga-se de passagem foi a pior parte pois todos os funcionários se espantaram com a minha idade e ficaram duvidando da minha capacidade profissional, a Eduarda começou a falar onde cada vendedor ia ficar:
- Janaína, você fica com a parte de móveis.
- Você manda, chefa!
- O Gabriel fica com a telefonia...
- Sim senhora!
- Pô, senhora não, mano – a Duda falava e anotava alguma coisa em um sulfite. A prancheta dela era cor-de-rosa e eu achei isso esquisito demais.
- Beleza então, truta... – Gabo riu.
- Agora melhorou! Caiô... – até ela me chamava de “Caiô”? – Vou te deixar na linha branca. Pode ser?
- Com certeza!
- Beleza... Ingrid e Jocielma, vocês também vão ficar na telefonia com o Gabriel.
- Seu cachorro sarnento, eu vou fazer um vodu pra você – Jana me agarrou rindo.
- O que eu fiz? Quem eu matei?
- Você ficou na linha branca – ela falava rindo e isso me fazia rir junto com ela.
- O que tem demais nisso?
- O que tem? Que você vai ganhar muita comissão, só tem isso – Gabriel parecia irritado. – Agora eu? Vou tirar só o salário né? Me deixar na telefonia é sacanagem!
- Queria tanto ficar na linha branca... Troca comigo? – pediu minha amiga.
- Não, obrigado. Eu estou bem aqui!
- Cachorro! Ainda bem que nossos departamentos são perto, né?
- Verdade – falou Gabriel. – Onde será que a minha loira vai ficar?
Essa foi uma resposta que nós só tivemos depois do almoço. Jana, Gabriel e eu fomos almoçar às 12:30 e perdemos a entrada da branquela da Alexia.
- Que cabelo é esse, menino? – ela sorriu.
- Gostou? Já está caindo...
- Ficou bom! Deveria usar assim todos os dias, ficou gatinho!
- Como é, Alexia? – Gabriel ficou com ciúmes.
- Opa, desculpa! Não te vi aí, tudo bem? – ela ficou vermelha.
- Eu ouvi, hein? Eu ouvi!
- Onde você ficou, amiga? Já sabe? – perguntou Janaína
- Fiquei com colchões e estofados. E vocês?
Ninguém ficou no mesmo departamento. A Eduarda foi esperta em nos separar...
- Já venderam?
- Não – respondemos ao mesmo tempo.
O movimento estava bem fraco naquele dia.
Onde estava o Carlos? Eu não tinha visto ele durante todo o dia. Será que ele tinha desistido?
Não, ele não desistiu. Depois de poucos minutos, eu o localizei e fiz questão de procurá-lo para dar um oi...
- Oi! – falei, cutucando as costas dele.
- O... – ele arregalou os olhos quando virou e me viu parado atrás dele.
- O que foi? – abri um sorriso.
- É você mesmo?
- Eu sim! Não parece?
- Se antes eu já te achava lindo, agora então nem se fala... – os olhos dele até brilharam quando ele falou isso.
- Obrigado! – fiquei sem graça. – Gostou da mudança?
- O quê? Eu amei, isso sim! Ficou lindo, lindo demais.
- Muito obrigado! Onde você estava que eu não te vi o dia todo?
- Eu vou entrar às 13:00. Não te falei?
- Não!
- É então, vou fazer faculdade de manhã e esse horário é melhor pra mim.
- Entendi! E aí, já sabe onde vai ficar?
- Som e imagem e você?
- Estou na linha branca.
- Mandou bem, hein? Vai ganhar bem!
- Tomara... Tomara mesmo!
- Melhor dispersar, a Duda está olhando pra você.
- Obrigado pelo toque. Depois a gente se fala?
- Com toda certeza do mundo!
Sorri, dei meia volta e voltei para o meu departamento, que não ficava nada longe do dele. Aproveitei que estava um pouco ocioso pra tentar decorar os códigos das mercadorias. Isso iria me ajudar bastante no futuro.
- O que está fazendo, Caio? Ficou doido, é? – Duda tocou nas minhas costas porque eu estava olhando bem de perto a folha que informava o valor da mercadoria. O código do produto era minúsculo.
- Não, eu só estou tentando decorar os códigos das mercadorias.
- Ah! Muito bom, muito bom. Eu gosto assim!
Depois de uns poucos minutos, uma senhorinha que aparentava ser muito simpática apareceu na loja e foi olhar os fogões. É claro que eu não perdi a oportunidade e fui logo tratando de atendê-la:
- Boa tarde...
- Boa tarde – ela tinha a voz um pouco grossa demais.
- Posso ajudá-la?
- Queria ver um fogão!
Foi difícil fazer a velha escolher um produto, mas depois de muita argumentação, ela aceitou fechar a compra, o que me deixou muito feliz.
- Venha comigo, por favor?
- Pois não...
As 4 mesas que eu podia utilizar estavam ocupadas, portanto, tive que pegar uma mesa de outro setor para fechar a compra da minha cliente e fiz questão de fazer isso perto da Janaína.
- Licença, moça – falei pra ela. – Posso usar sua mesa? Preciso fechar a compra da minha cliente...
- Pode, metido – ela riu. – Manda ver!
- Senta aqui, dona Joaquina, por favor... Qual vai ser a forma de pagamento? Carnê? Cartão? Dinheiro? Cheque? – deu vontade de falar “fiado”, mas me segurei. Eu não podia brincar com coisa séria.
- Carnê – respondeu a velhota.
- Já é cliente?
- Sou cliente há mais de 30 anos, meu filho.
- Que bom! Me empresta seu RG, por favor?
Eu tremia e minhas mãos estavam suadas. Será que eu ia fazer tudo certo? Meu nervosismo piorou quando a Eduarda apareceu atrás de mim e ficou olhando o que eu estava fazendo.
- Oi, Duda?!
- Só acompanhando, pode continuar que está tudo certinho.
- Qual o endereço de entrega, dona Joaquina?
Ela ditou o endereço e eu coloquei no sistema.
- Isso, isso mesmo – a Eduarda falou. – Agora aperta o F12...
- Uhum...
Eu lembrava bem dessa parte do treinamento pois foi uma das partes que eu fiquei com mais dúvida.
- Isso, Caio!!! Parabéns, excelente!
- Você é novo aqui? – perguntou a cliente.
- Sou sim, meu primeiro dia. A senhora é minha primeira cliente.
- Ah, que legal. Mereço um descontinho então, hein?
- Isso aí é com a gerente aqui...
- Vou ser boazinha e liberar 5%, pode ser?
- Pode! Muito obrigada.
- Mas com uma condição!
- Qual?
- A senhora vai ter que levar a garantia complementar...
- Ela vai levar – eu falei.
- Ah, vai? Então desconto concedido!
Quando eu finalizei e imprimi a folha para a mulher assinar, meu coração até bateu aliviado. Tudo deu certo afinal de contas.
- Parabéns pela compra. Agora eu vou pedir pra senhora ir até o crediário com essa folhinha para eles fazerem seu carnê. A data de entrega ficou para daqui 3 dias.
- Tudo bem, querido. Muito obrigada! Como se chama?
- Caio.
- À partir de agora comprarei sempre com você, viu? Muito educado e muito bonzinho.
- Obrigado – fiquei com vergonha. – Volte sempre!
- Pode deixar. Depois eu venho ver uma geladeira que a minha está mais velha que Dercy Gonçalves.
- Isso, aí a senhora me procura, por favor.
- Com certeza!
- Muito bom, Caio! - Eduarda me parabenizou. – Está de parabéns.
- Obrigado, Duda! Fiz tudo certinho mesmo?
- Fez sim. Parabéns, agora volta lá que tem mais dois clientes.
- Pode deixar. Posso te pedir uma coisa?
- Claro! Se estiver ao meu alcance...
- Está tudo ótimo, está tudo muito bem, mas não teria como ligar o rádio não? Isso aqui está murcho demais sem som...
- Claro que tem, bem lembrado! Sabia que eu estava esquecendo alguma coisa...
Eu dei risada, mas parei imediatamente. Se eu não soubesse que ele estava na Espanha, poderia jurar que tinha acabado de entrar na loja onde eu trabalhava.
O menino não era o clone do Bruno, mas parecia até ser irmão dele, tamanha era a semelhança. Mesmos traços no rosto, mesma altura, mesmo estilo de cabelo... E com a mesma porcaria de cor azul nos olhos.
Será que... Será que era ele? Será que ele tinha voltado? Será que ele estava no Brasil?
Não, não podia ser! Nâo era ele não... Se fosse, ele teria ido falar comigo... Ou será que não?
- Guilherme? Vem aqui me ajudar a escolher um sofá, filho? – uma mulher falou e esse menino foi atrás dela.
Ufa! Que susto! Ainda bem que não era o Bruno...
- Boa tarde, posso ajudar? – perguntei à um casal que estava vendo geladeiras.
- Boa tarde – disse a moça. – Esses são os únicos modelos de geladeiras que vocês têm?
- No mostruário sim, mas temos mais modelos no catálogo. Querem dar uma olhada?
- Por favor!
- Me acompanhem, por gentileza.
Dessa vez eu consegui sentar na minha mesa.
- Já são clientes?
- Não.
A Eduarda cumpriu a promessa e ligou o rádio. Isso me deixou mais animado, mas ainda assim eu fiquei pensando no Bruno.
- Temos todos esses modelos que estão aqui na tela do computador. Podem olhar à vontade e se tiverem alguma dúvida é só perguntar.
Enquanto os clientes viam os refrigeradores na tela do computador, eu fiquei pensando nele. E se ele voltasse mesmo? E se ao invés desse tal de Guilherme fosse ele? E se fosse ele que estivesse na minha frente naquele momento, pedindo para voltar comigo? Qual seria a minha reação?!
- E aí, amor? – perguntou a moça.
Eles ficaram debatendo entre si e eu fiquei viajando na maionese. E de repente foi como se eu tivesse tido a resposta para todos os meus questionamentos. Sem mais nem menos, uma música começou a tocar no rádio e foi impossível, simplesmente impossível não prestar atenção na letra daquela canção:
- O que fizeram com o cabelo do meu amigo? – ela já começou a dar risada e me agarrou no meio da loja.
- Gostou? – eu ri junto com ela.
- Adorei, gato! Se não fosse gay eu te pegava, hein?
- Palhaça!
- Mudou o visual, Caio? – perguntou Eduarda.
- Ah, pois é... Emprego novo, visual novo.
- Ficou bacana. E aí, preparado?
- Preparadíssimo.
- É assim que se fala. Vamos lá? Vou fazer uma reunião com vocês.
Só quem faltava chegar era a Alexia, mas isso porque ela foi contratada para trabalhar das 13:00 às 22:00. Eu, o Gabo e a Jana ficamos das 10:00 às 19:00.
Depois das apresentações, o que diga-se de passagem foi a pior parte pois todos os funcionários se espantaram com a minha idade e ficaram duvidando da minha capacidade profissional, a Eduarda começou a falar onde cada vendedor ia ficar:
- Janaína, você fica com a parte de móveis.
- Você manda, chefa!
- O Gabriel fica com a telefonia...
- Sim senhora!
- Pô, senhora não, mano – a Duda falava e anotava alguma coisa em um sulfite. A prancheta dela era cor-de-rosa e eu achei isso esquisito demais.
- Beleza então, truta... – Gabo riu.
- Agora melhorou! Caiô... – até ela me chamava de “Caiô”? – Vou te deixar na linha branca. Pode ser?
- Com certeza!
- Beleza... Ingrid e Jocielma, vocês também vão ficar na telefonia com o Gabriel.
- Seu cachorro sarnento, eu vou fazer um vodu pra você – Jana me agarrou rindo.
- O que eu fiz? Quem eu matei?
- Você ficou na linha branca – ela falava rindo e isso me fazia rir junto com ela.
- O que tem demais nisso?
- O que tem? Que você vai ganhar muita comissão, só tem isso – Gabriel parecia irritado. – Agora eu? Vou tirar só o salário né? Me deixar na telefonia é sacanagem!
- Queria tanto ficar na linha branca... Troca comigo? – pediu minha amiga.
- Não, obrigado. Eu estou bem aqui!
- Cachorro! Ainda bem que nossos departamentos são perto, né?
- Verdade – falou Gabriel. – Onde será que a minha loira vai ficar?
Essa foi uma resposta que nós só tivemos depois do almoço. Jana, Gabriel e eu fomos almoçar às 12:30 e perdemos a entrada da branquela da Alexia.
- Que cabelo é esse, menino? – ela sorriu.
- Gostou? Já está caindo...
- Ficou bom! Deveria usar assim todos os dias, ficou gatinho!
- Como é, Alexia? – Gabriel ficou com ciúmes.
- Opa, desculpa! Não te vi aí, tudo bem? – ela ficou vermelha.
- Eu ouvi, hein? Eu ouvi!
- Onde você ficou, amiga? Já sabe? – perguntou Janaína
- Fiquei com colchões e estofados. E vocês?
Ninguém ficou no mesmo departamento. A Eduarda foi esperta em nos separar...
- Já venderam?
- Não – respondemos ao mesmo tempo.
O movimento estava bem fraco naquele dia.
Onde estava o Carlos? Eu não tinha visto ele durante todo o dia. Será que ele tinha desistido?
Não, ele não desistiu. Depois de poucos minutos, eu o localizei e fiz questão de procurá-lo para dar um oi...
- Oi! – falei, cutucando as costas dele.
- O... – ele arregalou os olhos quando virou e me viu parado atrás dele.
- O que foi? – abri um sorriso.
- É você mesmo?
- Eu sim! Não parece?
- Se antes eu já te achava lindo, agora então nem se fala... – os olhos dele até brilharam quando ele falou isso.
- Obrigado! – fiquei sem graça. – Gostou da mudança?
- O quê? Eu amei, isso sim! Ficou lindo, lindo demais.
- Muito obrigado! Onde você estava que eu não te vi o dia todo?
- Eu vou entrar às 13:00. Não te falei?
- Não!
- É então, vou fazer faculdade de manhã e esse horário é melhor pra mim.
- Entendi! E aí, já sabe onde vai ficar?
- Som e imagem e você?
- Estou na linha branca.
- Mandou bem, hein? Vai ganhar bem!
- Tomara... Tomara mesmo!
- Melhor dispersar, a Duda está olhando pra você.
- Obrigado pelo toque. Depois a gente se fala?
- Com toda certeza do mundo!
Sorri, dei meia volta e voltei para o meu departamento, que não ficava nada longe do dele. Aproveitei que estava um pouco ocioso pra tentar decorar os códigos das mercadorias. Isso iria me ajudar bastante no futuro.
- O que está fazendo, Caio? Ficou doido, é? – Duda tocou nas minhas costas porque eu estava olhando bem de perto a folha que informava o valor da mercadoria. O código do produto era minúsculo.
- Não, eu só estou tentando decorar os códigos das mercadorias.
- Ah! Muito bom, muito bom. Eu gosto assim!
Depois de uns poucos minutos, uma senhorinha que aparentava ser muito simpática apareceu na loja e foi olhar os fogões. É claro que eu não perdi a oportunidade e fui logo tratando de atendê-la:
- Boa tarde...
- Boa tarde – ela tinha a voz um pouco grossa demais.
- Posso ajudá-la?
- Queria ver um fogão!
Foi difícil fazer a velha escolher um produto, mas depois de muita argumentação, ela aceitou fechar a compra, o que me deixou muito feliz.
- Venha comigo, por favor?
- Pois não...
As 4 mesas que eu podia utilizar estavam ocupadas, portanto, tive que pegar uma mesa de outro setor para fechar a compra da minha cliente e fiz questão de fazer isso perto da Janaína.
- Licença, moça – falei pra ela. – Posso usar sua mesa? Preciso fechar a compra da minha cliente...
- Pode, metido – ela riu. – Manda ver!
- Senta aqui, dona Joaquina, por favor... Qual vai ser a forma de pagamento? Carnê? Cartão? Dinheiro? Cheque? – deu vontade de falar “fiado”, mas me segurei. Eu não podia brincar com coisa séria.
- Carnê – respondeu a velhota.
- Já é cliente?
- Sou cliente há mais de 30 anos, meu filho.
- Que bom! Me empresta seu RG, por favor?
Eu tremia e minhas mãos estavam suadas. Será que eu ia fazer tudo certo? Meu nervosismo piorou quando a Eduarda apareceu atrás de mim e ficou olhando o que eu estava fazendo.
- Oi, Duda?!
- Só acompanhando, pode continuar que está tudo certinho.
- Qual o endereço de entrega, dona Joaquina?
Ela ditou o endereço e eu coloquei no sistema.
- Isso, isso mesmo – a Eduarda falou. – Agora aperta o F12...
- Uhum...
Eu lembrava bem dessa parte do treinamento pois foi uma das partes que eu fiquei com mais dúvida.
- Isso, Caio!!! Parabéns, excelente!
- Você é novo aqui? – perguntou a cliente.
- Sou sim, meu primeiro dia. A senhora é minha primeira cliente.
- Ah, que legal. Mereço um descontinho então, hein?
- Isso aí é com a gerente aqui...
- Vou ser boazinha e liberar 5%, pode ser?
- Pode! Muito obrigada.
- Mas com uma condição!
- Qual?
- A senhora vai ter que levar a garantia complementar...
- Ela vai levar – eu falei.
- Ah, vai? Então desconto concedido!
Quando eu finalizei e imprimi a folha para a mulher assinar, meu coração até bateu aliviado. Tudo deu certo afinal de contas.
- Parabéns pela compra. Agora eu vou pedir pra senhora ir até o crediário com essa folhinha para eles fazerem seu carnê. A data de entrega ficou para daqui 3 dias.
- Tudo bem, querido. Muito obrigada! Como se chama?
- Caio.
- À partir de agora comprarei sempre com você, viu? Muito educado e muito bonzinho.
- Obrigado – fiquei com vergonha. – Volte sempre!
- Pode deixar. Depois eu venho ver uma geladeira que a minha está mais velha que Dercy Gonçalves.
- Isso, aí a senhora me procura, por favor.
- Com certeza!
- Muito bom, Caio! - Eduarda me parabenizou. – Está de parabéns.
- Obrigado, Duda! Fiz tudo certinho mesmo?
- Fez sim. Parabéns, agora volta lá que tem mais dois clientes.
- Pode deixar. Posso te pedir uma coisa?
- Claro! Se estiver ao meu alcance...
- Está tudo ótimo, está tudo muito bem, mas não teria como ligar o rádio não? Isso aqui está murcho demais sem som...
- Claro que tem, bem lembrado! Sabia que eu estava esquecendo alguma coisa...
Eu dei risada, mas parei imediatamente. Se eu não soubesse que ele estava na Espanha, poderia jurar que tinha acabado de entrar na loja onde eu trabalhava.
O menino não era o clone do Bruno, mas parecia até ser irmão dele, tamanha era a semelhança. Mesmos traços no rosto, mesma altura, mesmo estilo de cabelo... E com a mesma porcaria de cor azul nos olhos.
Será que... Será que era ele? Será que ele tinha voltado? Será que ele estava no Brasil?
Não, não podia ser! Nâo era ele não... Se fosse, ele teria ido falar comigo... Ou será que não?
- Guilherme? Vem aqui me ajudar a escolher um sofá, filho? – uma mulher falou e esse menino foi atrás dela.
Ufa! Que susto! Ainda bem que não era o Bruno...
- Boa tarde, posso ajudar? – perguntei à um casal que estava vendo geladeiras.
- Boa tarde – disse a moça. – Esses são os únicos modelos de geladeiras que vocês têm?
- No mostruário sim, mas temos mais modelos no catálogo. Querem dar uma olhada?
- Por favor!
- Me acompanhem, por gentileza.
Dessa vez eu consegui sentar na minha mesa.
- Já são clientes?
- Não.
A Eduarda cumpriu a promessa e ligou o rádio. Isso me deixou mais animado, mas ainda assim eu fiquei pensando no Bruno.
- Temos todos esses modelos que estão aqui na tela do computador. Podem olhar à vontade e se tiverem alguma dúvida é só perguntar.
Enquanto os clientes viam os refrigeradores na tela do computador, eu fiquei pensando nele. E se ele voltasse mesmo? E se ao invés desse tal de Guilherme fosse ele? E se fosse ele que estivesse na minha frente naquele momento, pedindo para voltar comigo? Qual seria a minha reação?!
- E aí, amor? – perguntou a moça.
Eles ficaram debatendo entre si e eu fiquei viajando na maionese. E de repente foi como se eu tivesse tido a resposta para todos os meus questionamentos. Sem mais nem menos, uma música começou a tocar no rádio e foi impossível, simplesmente impossível não prestar atenção na letra daquela canção:
“Quase que acabo com a minha vida
Você me pôs num beco sem saída
Por que fez isso comigo
Você me pôs num beco sem saída
Por que fez isso comigo
Me dediquei somente a você
Tudo o que eu podia eu tentei fazer
Mas não, não adiantou.
Tudo o que eu podia eu tentei fazer
Mas não, não adiantou.
Você não sabe o que
é amar
Você não sabe o que é amor
Acha que é somente ficar, ficar, ficar
E se rolar rolou
Você não sabe o que é amor
Acha que é somente ficar, ficar, ficar
E se rolar rolou
Não se maltrata o
coração
De quem não merece sofrer
Não vou ficar na solidão de mão em mão
Assim como você.
De quem não merece sofrer
Não vou ficar na solidão de mão em mão
Assim como você.
Pode chorar,
Mas eu não volto pra você
Pode chorar,
Você não vai me convencer
Pode chorar,
Você se lembra o quanto eu chorei por você?
Mas eu não volto pra você
Pode chorar,
Você não vai me convencer
Pode chorar,
Você se lembra o quanto eu chorei por você?
Pode chorar,
Mas eu não volto pra você
Pode chorar,
Você não vai me convencer
Pode chorar,
Você se lembra o quanto eu chorei por você?
Mas eu não volto pra você
Pode chorar,
Você não vai me convencer
Pode chorar,
Você se lembra o quanto eu chorei por você?
Quase que acabo com
a minha vida
Você me pôs num beco sem saída
Por que fez isso comigo?
Você me pôs num beco sem saída
Por que fez isso comigo?
Me dediquei somente a você
Tudo o que eu podia eu tentei fazer
Mas não, não adiantou.
Você não sabe o que
é Amar
Você não sabe o que é Amor
Acha que é só mesmo ficar, ficar, ficar
E se rolar rolou
Você não sabe o que é Amor
Acha que é só mesmo ficar, ficar, ficar
E se rolar rolou
Não se maltrata o coração
De quem não merece sofrer
Não vou ficar na solidão de mão em mão
Assim como você.
Pode chorar,
Mas eu não volto pra você
Pode chorar,
Você não vai me convencer
Pode chorar,
Você se lembra o quanto eu chorei por você?
Pode chorar,
Mas eu não volto pra você
Pode chorar,
Você não vai me convencer
Pode chorar,
Você se lembra o quanto eu chorei por você?
Mas eu não volto pra você
Pode chorar,
Você não vai me convencer
Pode chorar,
Você se lembra o quanto eu chorei por você?
Pode chorar,
Mas eu não volto pra você
Pode chorar,
Você não vai me convencer
Pode chorar,
Você se lembra o quanto eu chorei por você?
Pode chorar,
Mas eu não volto pra você
Pode chorar,
Você não vai me convencer
Pode chorar,
Você se lembra o quanto eu chorei por você?
Mas eu não volto pra você
Pode chorar,
Você não vai me convencer
Pode chorar,
Você se lembra o quanto eu chorei por você?
Pode chorar,
Mas eu não volto pra você
Pode chorar,
Você não vai me convencer
Pode chorar,
Você se lembra o quanto eu chorei por você?
Mas eu não volto pra você
Pode chorar,
Você não vai me convencer
Pode chorar,
Você se lembra o quanto eu chorei por você?
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