A
|
s minhas pernas ficaram muito moles. Meu coração disparou feito
uma bateria de escola de samba, minhas mãos tremeram e eu comecei a suar frio
de tanto nervoso. A minha barriga ficou gelada e para piorar, meu irmão olhou
em minha direção.
Eu fui pêgo e estava frito, mas esse era o preço que eu ia pagar por ser tão irresponsável. Definitivamente, eu não deveria ter ficado atrás daquela árvore em um dia em que a rua estava tão movimentada... E agora? Qual ia ser o meu destino? O que meu pai ia fazer comigo? E o Cauã? Será que ia discutir comigo como fez no passado? Ou será que o tempo apazigara a situação e tanto ele, como o Sr. Edson iam me aceitar numa boa???
A minha vontade era de sair correndo. Eu não sabia o que fazer e fiquei literalmente sem reação.
Eu me virei lentamente e dei de cara com a Joyce. Ela fez a maior cara de surpresa quando me viu e com os olhos, eu supliquei para ela não me denunciar.
- Não fala que sou eu, por favor... – sussurrei.
- Desculpa moço. Te confundi! – ela falou em voz alta e em seguida saiu andando.
- O que foi, filho? – ouvi meu pai perguntar ao Cauã.


- Nada pai, pensei ter visto um fantasma! – e dizendo isso, meu irmão voltou ao encontro dos amigos.
Meu coração bateu muito aliviado, mas eu ainda estava em uma zona de perigo. A única coisa que eu tinha a fazer naquele momento, era sair o mais rápido possível daquele lugar, mas como?
Como eu podia ir embora sem chamar a atenção? Como eu podia sair sem ser notado, sem ninguém perceber a minha presença?
Por sorte, rapidamente meu pai entrou com o carro na garagem e meu irmão não olhou mais na minha direção. Não sei se foi o acaso, ou se Deus me ajudou e me camuflou, só sei que o Cauã não me reconheceu. Ou se reconheceu, fingiu não me conhecer mais.
Um fantasma. Era isso que eu era pro Cauã? E eu sofrendo, sentindo a falta dele? Eu era um completo idiota mesmo...
Esperei os ânimos acalmarem para poder sair, mas quando ia fazê-lo, a Joyce foi ao meu encontro e eu fui obrigado a ficar parado onde estava:

- Posso saber o que você está fazendo aqui?
- Por favor, não fala alto. Eles não podem saber que eu estou aqui!
- Nem sei porque eu te escondi, garoto. Depois da vergonha que você me fez passar, eu deveria é ter te empurrado na frente do carro do seu pai!
- Joyce... Não fala alto desse jeito, o Cauã pode ouvir...
- Não deveria ter te ajudado, eu sou uma idiota mesmo!
- Calma, fica tranquila que eu já estou indo embora. Nós não nos veremos mais...
- Acho ótimo, nós estamos muito bem sem você! Faça isso mesmo, suma, desapareça e não volte mais.
- Eu vou fazer isso sim, mas não fala alto, por favor...
- O que é? Está com medo do seu pai? Está com medo do seu irmão?
- Fala baixo, Joyce, pelo amor de Deus... Eu não quero que eles saibam que eu estou aqui!
- Se você não quer que eles saibam, o que está fazendo aqui na frente da sua casa? Bateu saudades, né?
- Fala baixo, inferno! – eu bati o pé de nervoso. – Eu vou indo...
- Isso, foge mesmo. Foge que nem um ratinho com medo, porque é isso que você é... Nunca fui tão humilhada em toda a minha vida! Eu deveria te dar um tapa, isso sim...
- Eu não te humilhei porque quis, garota. Agora me deixa em paz, vai pro inferno, abraça o capeta que ele é da sua laia e da laia desses aí. Fica tranquila que eu não vou aparecer mais, eu tenho coisas melhores a fazer do que ficar aqui perto de gente como você!
- Vai pro inferno você seu viadinho... Seu irmão e sua família estão muito felizes sem você, sabia? Eles nem lembram que você existe...
Ouvir isso foi como se alguém tivesse enfiado uma faca no meu peito. Será que era verdade? Será que eles não sentiam a minha falta?
- Como você pode ter tanta certeza disso? – meus olhos ficaram marejados.
- Simples: – ela riu – eu e o Cauã estamos namorando!
Acho que devo ter ficado com uma baita cara de surpresa, porque ela riu de novo e em seguida falou:
- Qual o motivo da surpresa? Ao contrário de você, seu irmão gosta de mulher, Caio. E ele dá muito bem conta do recado, coisa que você não saberia fazer nunca, né?
- De você eu não dou conta mesmo não, mas o engraçado é que foi por mim que você se apaixonou, né? Foi comigo que você quis ficar, não foi? Foi comigo, não com o meu irmão... – eu senti vontade de esmurrar a cara daquela vadia.
- Se eu soubesse que você não passa de uma bichinha, nunca teria pedido pra ficar com você, teria ido direto no seu irmão... Mas errar é humano, ainda bem que a verdade apareceu!
- Ainda bem mesmo, porque eu não aguentava mais fingir que gostava de você! Pode ter certeza que eu sou muito mais feliz com a verdade do que com a mentira, mas eu não vou ficar me justificando pra você não. Vou embora que eu ganho mais, já perdi meu tempo demais aqui...
- Perdeu, é? Não é o que parece! Sei que você está louco para correr pros braços da sua mãe, pro seu pai e pro seu irmão, mas nem perca seu tempo porque eles não gostam de você. O melhor que você tem a fazer é ir embora de uma vez por todas e não voltar nunca mais!
- Na boa? Não preciso de seus conselhos. Se conselho fosse bom, não se dava, se vendia! Fica na sua e me deixa em paz, beleza?
- Claro que eu vou te deixar em paz, acha mesmo que eu vou perder meu precioso tempo com um perdedor como você? – Joyce riu.
- Então não perca seu tempo e vá ficar com seu namoradinho!
- É exatamente isso que eu vou fazer, não tenha dúvidas que o Cauã dá de 10 à 0 em você, viu?
- Por mim ele pode dar de mil à zero, eu não me importo! O importante pra mim é outra coisa, eu não estou nem aí pra sua opinião ao meu respeito, sua vadia! – bufei de raiva e senti vontade de socar aquela vaca.

Nem esperei ela falar mais nada e tampouco me importei com o que poderia me acontecer. Sem pestanejar, eu dei meia volta e comecei a subir a minha rua para ir até o Víctor.
Acho que a Joyce ficou tão perplexa com aquele “vadia” que eu soltei, que nem se deu conta que eu estava indo embora e ficou calada, na dela, sem fazer nada e sem esboçar reação.
Quem ela pensava que era para me tratar daquele jeito? Tudo aquilo era ódio de mim? Tudo aquilo era porque eu fiquei com ela e depois ela ficou sabendo que eu era gay?
E o Cauã? Será mesmo que não me viu? E se viu, por que fingiu que não viu? Será que ele também estava com receio de me encarar, do mesmo jeito que eu estava de encará-lo?
A única certeza que eu tive naquela madrugada foi que meu pai não me viu, porque se tivesse visto, com certeza não teria deixado barato.
Fui um tremendo idiota e inconsequente. Agi pelo impulso, acabei me ferrando e fui humilhado pela minha cunhada à troco de nada. Se eu tivesse pensado um pouco mais, teria ido direto para a casa do Víctor, mas o meu coração me traiu e eu acabei me lascando, como dizem os nordestinos.
Enquanto caminhei até a casa do meu amigo, em nenhum momento olhei para trás e muito menos me preocupei com quem estava na rua. Os vizinhos do Víctor não me conheciam muito bem e podiam me confundir facilmente com meu irmão, se é que eles sabiam que eu tinha um irmão gêmeo.
Toquei a campainha da casa do meu melhor amigo com as mãos trêmulas. Eu ainda estava sentindo o meu estômago gelado e as pernas bambas, mas o medo já havia ido embora. Ou será que não?

- Finalmente você chegou – ele apareceu só de bermuda e parou no meio da garagem repentinamente. – O que aconteceu? Por que você está chorando?
Eu estava chorando? Coloquei a mão no rosto e meus dedos ficaram molhados. Eu chorei e nem me dei conta?
- Abre logo, por favor?
Ele abriu, eu entrei e fui logo o abraçando. Eu estava tão carente, mas tão carente de um abraço que não pensei duas vezes em usar o Víctor como cobaia.
- O que houve, Caio? Por que você está assim?
- Ai, Víctor! É tão difícil, sabe?
- Calma! Fica calmo e vamos entrar para conversar melhor...
Ele me levou até a sala e me fez sentar em um dos sofás. Será que ele ainda estava sozinho?
- Você está sozinho?
- Estou – ele afirmou. – Meus pais continuam viajando e a minha avó também. Desse jeito vou acabar morando sozinho...
Ele abriu um sorriso rápido, mas em seguida percebeu que a brincadeira não me animou e disse:
- Me fala o que aconteceu?
- Eu fui na minha casa, vi meu irmão, meus pais... e vi a Joyce também...
- Como assim? Você falou com a sua família? – ele arregalou os olhos.
- Não, não falei. Eu fiquei escondido atrás de uma árvore, eles não me viram. Só quem me viu foi a vaca da Joyce!
- Como assim? Não estou entendendo nada! Me explica isso direito, por favor!
- Quando eu estava vindo pra cá, resolvi descer no ponto da minha casa para ver como estavam as coisas. Eu não ia entrar, não ia fazer nada... Eu só queria ver a minha casa, ver alguém de longe...
- Você é burro?!
- Daí como a rua estava movimentada, eu fiquei atrás de uma árvore, porque o meu irmão estava na frente da casa da nossa vizinha...
- Como assim você se esconde atrás de uma arvore, seu animal? Uma árvore? Você é louco?
- Aí eu fiquei lá olhando pra ele e pensando em muitas coisas e de repente meus pais chegaram de carro, meu irmão ficou trocando ideia com nosso pai e sem mais nem menos a vadia da Joyce chegou atrás de mim e falou o meu nome... O Cauã olhou para onde eu estava, mas acho que não me viu.
- Louco não, você é demente! – ele bufou de raiva.
- Aí então a Joyce desconversou, porque o Cauã ouviu ela falando o meu nome e depois disso ele voltou lá pra casa da nossa vizinha, mas em seguida a Joyce veio falar comigo e me humilhou muito...
- O que ela disse?
- Disse que a minha família não gosta de mim e que se fosse eu, não os procuraria porque eles nem lembram de mim... Disse um monte de coisas horríveis...
- E você acreditou?
- Ela e o Cauã estão namorando!
- Estão? Disso eu não sabia!
- Estão e você nem me falou nada quando eu te perguntei isso...
- Nâo falei porque eu não sabia, quer que eu desenhe?
- Eu estou me sentindo horrível. Um pano de chão sujo que é descartado quando não serve mais...
- Porque você é burro! Por isso que você está se sentindo assim. Um idiota, é isso que você é. Onde é que já se viu ficar escondido atrás de uma árvore? Você pensou que é invisível ou o quê?
- Mas ninguém me viu...
- Como você pode ter certeza? Eles fingiram que não te viram, isso sim!!!
- Será?
- Você acha mesmo que o Cauã ia ficar parado ouvindo a Joyce falar seu nome? Acha mesmo que ele não ia ao encontro dela na mesma hora? Por favor, né Caio?
- Ele disse pro meu pai que achou ter visto um fantasma...
- Outra prova que ele te viu, mas que não quis falar com você! Caio você é muito burro, cara!
- Eu já estou me sentindo péssimo e você ainda fica me xingando, Víctor?
- Desculpa, mas é mais forte do que eu! Quer uma água pra se acalmar?
- Não, obrigado – eu sequei uma lágrima. – Acho que você tem razão, eu sou um idiota mesmo!
- Na boa? Você foi idiota, foi infeliz na sua decisão. Deveria ter vindo direto pra cá, ainda mais em uma madrugada de sábado, quando a rua está movimentada.
- Errar é humano.
- Persistir no erro é burrice. Onde é que já se viu se esconder atrás de uma árvore...? Nem que você fosse da finura de uma vassoura, meu filho.
- Você acha que o Cauã me viu mesmo?
- Eu não acho, eu tenho certeza. Só você que não percebeu isso.
- Ai meu Deus...
- Agora não adianta chorar depois do leite derramado. Já aconteceu, agora sofra as consequências do seu ato impensado.
Ele falava como se nunca tivesse errado, porém tinha razão. Já tinha acontecido e eu não tinha como voltar atrás. O jeito era me conformar e virar a página.
Todavia, se ele havia me visto, por que não foi tirar satisfações? Por que não foi falar comigo?
- Bola pra frente, Caio Monteiro! Não fique pensando mais nisso e vamos procurar alguma coisa pra fazer. Deleta tudo o que aconteceu, é melhor assim.
- Falar é fácil, Víctor. Queria ver se fosse com você.
- Se fosse comigo isso nem teria acontecido, porque eu penso antes de tomar uma atitude.
- Falou o sabichão, né?
- Não é isso, eu só peso na balança os prós e os contras. Você deveria ter feito a mesma coisa!
- Para de me atormentar, Víctor – eu briguei com ele. – Eu já tenho problemas demais para você ficar me atormentando desse jeito, me deixa em paz!
- Sinto muito, alguém tem que abrir seus olhos e esse alguém sou eu. Beleza, beleza, vamos deixar isso de lado. Já aconteceu mesmo!
- Não vou conseguir parar de pensar nisso, Víctor...
- Pois deveria, mas vou te deixar em paz com seus pensamentos, beleza?
- Fico grato demais.
- Quer comer alguma coisa? Beber alguma coisa?
- Não, obrigado. Eu estou bem.
- Já quer dormir?
- Se não for pedir muito...
- Então vamos pro quarto!
Como de costume, eu fiquei com o colchão no centro do quarto e ele com a cama. Não conversamos muito por conta de tudo o que aconteceu. Eu parei de chorar e fiquei pensando nas consequências do meu ato.
O Víctor tinha razão. O Cauã havia me visto sim, mas não quis falar comigo. Eu não passava de um fantasma na vida dele. Acho que aquela história que ele falava que queria ser filho único era verdadeira mesmo.
Ele deveria estar aproveitando muito a minha saída de São Paulo. A casa era dele e ele não teria que dividir nada comigo.
Não que antes ele tivesse que dividir. Graças a Deus nisso o meu pai não deixou a desejar. Tudo o que um ganhava, o outro também ganhava, mesmo que fosse contra a vontade dele.
Mesmo eu me fazendo de cego, eu tinha certeza que o Cauã sempre foi o preferido do meu pai. Talvez no fundo, meu genitor já soubesse que eu era gay e por isso preferia meu irmão à mim...
Ou talvez nem fosse desse jeito. Talvez ele gostasse de nós dois da mesma forma. Aconteceu que eu era mais ligado à minha mãe que ao meu pai e o meu irmão mais ligado ao meu pai que à minha mãe.
Então essa era a explicação. Meu pai deveria me amar sim quando eu era criança, mas devido ao fato do Cauã ser ligado à ele, por isso ele ficava mais com o outro filho. Será que era isso mesmo ou será que eu estava mais uma vez tentando achar explicações para algo que não necessitava de explicação?
Eu não tinha que ficar pensando nessas coisas. O passado fazia parte do passado e não tinha que fazer parte do meu presente. O fato era que eu deveria me acostumar com a minha nova realidade. Eu tinha que aprender a viver sem meus pais e sem meu irmão! Eu já deveria ter feito isso desde o começo, pra falar a verdade.
Eu tentei fazer isso desde que fui expulso de casa e por várias vezes consegui tocar o barco sem sequer lembrar que Cauã. Fátima e Edson existiam. Por que estava tão carente naquele momento? Por que resolvi correr atrás deles depois de todo aquele tempo?
Será que a carência só bateu naquele momento? Ou será que o sentimento que estava adormecido finalmente acordou e tomou conta de mim?
Afinal, eram quase 2 anos sem vê-los, sem falar com eles... 2 anos não eram 2 dias, nem 2 semanas... O tempo estava passando e eu não estava mais convivendo com minha família, com as pessoas que me deram a vida... Será que ia ser assim para sempre? Por quanto tempo será que eu ia ficar sem tê-los por perto? 5 anos? 10 anos? 15 anos? 50 anos...? eu não sabia responder essa pergunta e a única alternativa que eu tinha, pelo menos naquele momento, era esperar pra ver o que ia acontecer.

Eu fui pêgo e estava frito, mas esse era o preço que eu ia pagar por ser tão irresponsável. Definitivamente, eu não deveria ter ficado atrás daquela árvore em um dia em que a rua estava tão movimentada... E agora? Qual ia ser o meu destino? O que meu pai ia fazer comigo? E o Cauã? Será que ia discutir comigo como fez no passado? Ou será que o tempo apazigara a situação e tanto ele, como o Sr. Edson iam me aceitar numa boa???
A minha vontade era de sair correndo. Eu não sabia o que fazer e fiquei literalmente sem reação.
Eu me virei lentamente e dei de cara com a Joyce. Ela fez a maior cara de surpresa quando me viu e com os olhos, eu supliquei para ela não me denunciar.
- Não fala que sou eu, por favor... – sussurrei.
- Desculpa moço. Te confundi! – ela falou em voz alta e em seguida saiu andando.
- O que foi, filho? – ouvi meu pai perguntar ao Cauã.
- Nada pai, pensei ter visto um fantasma! – e dizendo isso, meu irmão voltou ao encontro dos amigos.
Meu coração bateu muito aliviado, mas eu ainda estava em uma zona de perigo. A única coisa que eu tinha a fazer naquele momento, era sair o mais rápido possível daquele lugar, mas como?
Como eu podia ir embora sem chamar a atenção? Como eu podia sair sem ser notado, sem ninguém perceber a minha presença?
Por sorte, rapidamente meu pai entrou com o carro na garagem e meu irmão não olhou mais na minha direção. Não sei se foi o acaso, ou se Deus me ajudou e me camuflou, só sei que o Cauã não me reconheceu. Ou se reconheceu, fingiu não me conhecer mais.
Um fantasma. Era isso que eu era pro Cauã? E eu sofrendo, sentindo a falta dele? Eu era um completo idiota mesmo...
Esperei os ânimos acalmarem para poder sair, mas quando ia fazê-lo, a Joyce foi ao meu encontro e eu fui obrigado a ficar parado onde estava:
- Posso saber o que você está fazendo aqui?
- Por favor, não fala alto. Eles não podem saber que eu estou aqui!
- Nem sei porque eu te escondi, garoto. Depois da vergonha que você me fez passar, eu deveria é ter te empurrado na frente do carro do seu pai!
- Joyce... Não fala alto desse jeito, o Cauã pode ouvir...
- Não deveria ter te ajudado, eu sou uma idiota mesmo!
- Calma, fica tranquila que eu já estou indo embora. Nós não nos veremos mais...
- Acho ótimo, nós estamos muito bem sem você! Faça isso mesmo, suma, desapareça e não volte mais.
- Eu vou fazer isso sim, mas não fala alto, por favor...
- O que é? Está com medo do seu pai? Está com medo do seu irmão?
- Fala baixo, Joyce, pelo amor de Deus... Eu não quero que eles saibam que eu estou aqui!
- Se você não quer que eles saibam, o que está fazendo aqui na frente da sua casa? Bateu saudades, né?
- Fala baixo, inferno! – eu bati o pé de nervoso. – Eu vou indo...
- Isso, foge mesmo. Foge que nem um ratinho com medo, porque é isso que você é... Nunca fui tão humilhada em toda a minha vida! Eu deveria te dar um tapa, isso sim...
- Eu não te humilhei porque quis, garota. Agora me deixa em paz, vai pro inferno, abraça o capeta que ele é da sua laia e da laia desses aí. Fica tranquila que eu não vou aparecer mais, eu tenho coisas melhores a fazer do que ficar aqui perto de gente como você!
- Vai pro inferno você seu viadinho... Seu irmão e sua família estão muito felizes sem você, sabia? Eles nem lembram que você existe...
Ouvir isso foi como se alguém tivesse enfiado uma faca no meu peito. Será que era verdade? Será que eles não sentiam a minha falta?
- Como você pode ter tanta certeza disso? – meus olhos ficaram marejados.
- Simples: – ela riu – eu e o Cauã estamos namorando!
Acho que devo ter ficado com uma baita cara de surpresa, porque ela riu de novo e em seguida falou:
- Qual o motivo da surpresa? Ao contrário de você, seu irmão gosta de mulher, Caio. E ele dá muito bem conta do recado, coisa que você não saberia fazer nunca, né?
- De você eu não dou conta mesmo não, mas o engraçado é que foi por mim que você se apaixonou, né? Foi comigo que você quis ficar, não foi? Foi comigo, não com o meu irmão... – eu senti vontade de esmurrar a cara daquela vadia.
- Se eu soubesse que você não passa de uma bichinha, nunca teria pedido pra ficar com você, teria ido direto no seu irmão... Mas errar é humano, ainda bem que a verdade apareceu!
- Ainda bem mesmo, porque eu não aguentava mais fingir que gostava de você! Pode ter certeza que eu sou muito mais feliz com a verdade do que com a mentira, mas eu não vou ficar me justificando pra você não. Vou embora que eu ganho mais, já perdi meu tempo demais aqui...
- Perdeu, é? Não é o que parece! Sei que você está louco para correr pros braços da sua mãe, pro seu pai e pro seu irmão, mas nem perca seu tempo porque eles não gostam de você. O melhor que você tem a fazer é ir embora de uma vez por todas e não voltar nunca mais!
- Na boa? Não preciso de seus conselhos. Se conselho fosse bom, não se dava, se vendia! Fica na sua e me deixa em paz, beleza?
- Claro que eu vou te deixar em paz, acha mesmo que eu vou perder meu precioso tempo com um perdedor como você? – Joyce riu.
- Então não perca seu tempo e vá ficar com seu namoradinho!
- É exatamente isso que eu vou fazer, não tenha dúvidas que o Cauã dá de 10 à 0 em você, viu?
- Por mim ele pode dar de mil à zero, eu não me importo! O importante pra mim é outra coisa, eu não estou nem aí pra sua opinião ao meu respeito, sua vadia! – bufei de raiva e senti vontade de socar aquela vaca.
Nem esperei ela falar mais nada e tampouco me importei com o que poderia me acontecer. Sem pestanejar, eu dei meia volta e comecei a subir a minha rua para ir até o Víctor.
Acho que a Joyce ficou tão perplexa com aquele “vadia” que eu soltei, que nem se deu conta que eu estava indo embora e ficou calada, na dela, sem fazer nada e sem esboçar reação.
Quem ela pensava que era para me tratar daquele jeito? Tudo aquilo era ódio de mim? Tudo aquilo era porque eu fiquei com ela e depois ela ficou sabendo que eu era gay?
E o Cauã? Será mesmo que não me viu? E se viu, por que fingiu que não viu? Será que ele também estava com receio de me encarar, do mesmo jeito que eu estava de encará-lo?
A única certeza que eu tive naquela madrugada foi que meu pai não me viu, porque se tivesse visto, com certeza não teria deixado barato.
Fui um tremendo idiota e inconsequente. Agi pelo impulso, acabei me ferrando e fui humilhado pela minha cunhada à troco de nada. Se eu tivesse pensado um pouco mais, teria ido direto para a casa do Víctor, mas o meu coração me traiu e eu acabei me lascando, como dizem os nordestinos.
Enquanto caminhei até a casa do meu amigo, em nenhum momento olhei para trás e muito menos me preocupei com quem estava na rua. Os vizinhos do Víctor não me conheciam muito bem e podiam me confundir facilmente com meu irmão, se é que eles sabiam que eu tinha um irmão gêmeo.
Toquei a campainha da casa do meu melhor amigo com as mãos trêmulas. Eu ainda estava sentindo o meu estômago gelado e as pernas bambas, mas o medo já havia ido embora. Ou será que não?
- Finalmente você chegou – ele apareceu só de bermuda e parou no meio da garagem repentinamente. – O que aconteceu? Por que você está chorando?
Eu estava chorando? Coloquei a mão no rosto e meus dedos ficaram molhados. Eu chorei e nem me dei conta?
- Abre logo, por favor?
Ele abriu, eu entrei e fui logo o abraçando. Eu estava tão carente, mas tão carente de um abraço que não pensei duas vezes em usar o Víctor como cobaia.
- O que houve, Caio? Por que você está assim?
- Ai, Víctor! É tão difícil, sabe?
- Calma! Fica calmo e vamos entrar para conversar melhor...
Ele me levou até a sala e me fez sentar em um dos sofás. Será que ele ainda estava sozinho?
- Você está sozinho?
- Estou – ele afirmou. – Meus pais continuam viajando e a minha avó também. Desse jeito vou acabar morando sozinho...
Ele abriu um sorriso rápido, mas em seguida percebeu que a brincadeira não me animou e disse:
- Me fala o que aconteceu?
- Eu fui na minha casa, vi meu irmão, meus pais... e vi a Joyce também...
- Como assim? Você falou com a sua família? – ele arregalou os olhos.
- Não, não falei. Eu fiquei escondido atrás de uma árvore, eles não me viram. Só quem me viu foi a vaca da Joyce!
- Como assim? Não estou entendendo nada! Me explica isso direito, por favor!
- Quando eu estava vindo pra cá, resolvi descer no ponto da minha casa para ver como estavam as coisas. Eu não ia entrar, não ia fazer nada... Eu só queria ver a minha casa, ver alguém de longe...
- Você é burro?!
- Daí como a rua estava movimentada, eu fiquei atrás de uma árvore, porque o meu irmão estava na frente da casa da nossa vizinha...
- Como assim você se esconde atrás de uma arvore, seu animal? Uma árvore? Você é louco?
- Aí eu fiquei lá olhando pra ele e pensando em muitas coisas e de repente meus pais chegaram de carro, meu irmão ficou trocando ideia com nosso pai e sem mais nem menos a vadia da Joyce chegou atrás de mim e falou o meu nome... O Cauã olhou para onde eu estava, mas acho que não me viu.
- Louco não, você é demente! – ele bufou de raiva.
- Aí então a Joyce desconversou, porque o Cauã ouviu ela falando o meu nome e depois disso ele voltou lá pra casa da nossa vizinha, mas em seguida a Joyce veio falar comigo e me humilhou muito...
- O que ela disse?
- Disse que a minha família não gosta de mim e que se fosse eu, não os procuraria porque eles nem lembram de mim... Disse um monte de coisas horríveis...
- E você acreditou?
- Ela e o Cauã estão namorando!
- Estão? Disso eu não sabia!
- Estão e você nem me falou nada quando eu te perguntei isso...
- Nâo falei porque eu não sabia, quer que eu desenhe?
- Eu estou me sentindo horrível. Um pano de chão sujo que é descartado quando não serve mais...
- Porque você é burro! Por isso que você está se sentindo assim. Um idiota, é isso que você é. Onde é que já se viu ficar escondido atrás de uma árvore? Você pensou que é invisível ou o quê?
- Mas ninguém me viu...
- Como você pode ter certeza? Eles fingiram que não te viram, isso sim!!!
- Será?
- Você acha mesmo que o Cauã ia ficar parado ouvindo a Joyce falar seu nome? Acha mesmo que ele não ia ao encontro dela na mesma hora? Por favor, né Caio?
- Ele disse pro meu pai que achou ter visto um fantasma...
- Outra prova que ele te viu, mas que não quis falar com você! Caio você é muito burro, cara!
- Eu já estou me sentindo péssimo e você ainda fica me xingando, Víctor?
- Desculpa, mas é mais forte do que eu! Quer uma água pra se acalmar?
- Não, obrigado – eu sequei uma lágrima. – Acho que você tem razão, eu sou um idiota mesmo!
- Na boa? Você foi idiota, foi infeliz na sua decisão. Deveria ter vindo direto pra cá, ainda mais em uma madrugada de sábado, quando a rua está movimentada.
- Errar é humano.
- Persistir no erro é burrice. Onde é que já se viu se esconder atrás de uma árvore...? Nem que você fosse da finura de uma vassoura, meu filho.
- Você acha que o Cauã me viu mesmo?
- Eu não acho, eu tenho certeza. Só você que não percebeu isso.
- Ai meu Deus...
- Agora não adianta chorar depois do leite derramado. Já aconteceu, agora sofra as consequências do seu ato impensado.
Ele falava como se nunca tivesse errado, porém tinha razão. Já tinha acontecido e eu não tinha como voltar atrás. O jeito era me conformar e virar a página.
Todavia, se ele havia me visto, por que não foi tirar satisfações? Por que não foi falar comigo?
- Bola pra frente, Caio Monteiro! Não fique pensando mais nisso e vamos procurar alguma coisa pra fazer. Deleta tudo o que aconteceu, é melhor assim.
- Falar é fácil, Víctor. Queria ver se fosse com você.
- Se fosse comigo isso nem teria acontecido, porque eu penso antes de tomar uma atitude.
- Falou o sabichão, né?
- Não é isso, eu só peso na balança os prós e os contras. Você deveria ter feito a mesma coisa!
- Para de me atormentar, Víctor – eu briguei com ele. – Eu já tenho problemas demais para você ficar me atormentando desse jeito, me deixa em paz!
- Sinto muito, alguém tem que abrir seus olhos e esse alguém sou eu. Beleza, beleza, vamos deixar isso de lado. Já aconteceu mesmo!
- Não vou conseguir parar de pensar nisso, Víctor...
- Pois deveria, mas vou te deixar em paz com seus pensamentos, beleza?
- Fico grato demais.
- Quer comer alguma coisa? Beber alguma coisa?
- Não, obrigado. Eu estou bem.
- Já quer dormir?
- Se não for pedir muito...
- Então vamos pro quarto!
Como de costume, eu fiquei com o colchão no centro do quarto e ele com a cama. Não conversamos muito por conta de tudo o que aconteceu. Eu parei de chorar e fiquei pensando nas consequências do meu ato.
O Víctor tinha razão. O Cauã havia me visto sim, mas não quis falar comigo. Eu não passava de um fantasma na vida dele. Acho que aquela história que ele falava que queria ser filho único era verdadeira mesmo.
Ele deveria estar aproveitando muito a minha saída de São Paulo. A casa era dele e ele não teria que dividir nada comigo.
Não que antes ele tivesse que dividir. Graças a Deus nisso o meu pai não deixou a desejar. Tudo o que um ganhava, o outro também ganhava, mesmo que fosse contra a vontade dele.
Mesmo eu me fazendo de cego, eu tinha certeza que o Cauã sempre foi o preferido do meu pai. Talvez no fundo, meu genitor já soubesse que eu era gay e por isso preferia meu irmão à mim...
Ou talvez nem fosse desse jeito. Talvez ele gostasse de nós dois da mesma forma. Aconteceu que eu era mais ligado à minha mãe que ao meu pai e o meu irmão mais ligado ao meu pai que à minha mãe.
Então essa era a explicação. Meu pai deveria me amar sim quando eu era criança, mas devido ao fato do Cauã ser ligado à ele, por isso ele ficava mais com o outro filho. Será que era isso mesmo ou será que eu estava mais uma vez tentando achar explicações para algo que não necessitava de explicação?
Eu não tinha que ficar pensando nessas coisas. O passado fazia parte do passado e não tinha que fazer parte do meu presente. O fato era que eu deveria me acostumar com a minha nova realidade. Eu tinha que aprender a viver sem meus pais e sem meu irmão! Eu já deveria ter feito isso desde o começo, pra falar a verdade.
Eu tentei fazer isso desde que fui expulso de casa e por várias vezes consegui tocar o barco sem sequer lembrar que Cauã. Fátima e Edson existiam. Por que estava tão carente naquele momento? Por que resolvi correr atrás deles depois de todo aquele tempo?
Será que a carência só bateu naquele momento? Ou será que o sentimento que estava adormecido finalmente acordou e tomou conta de mim?
Afinal, eram quase 2 anos sem vê-los, sem falar com eles... 2 anos não eram 2 dias, nem 2 semanas... O tempo estava passando e eu não estava mais convivendo com minha família, com as pessoas que me deram a vida... Será que ia ser assim para sempre? Por quanto tempo será que eu ia ficar sem tê-los por perto? 5 anos? 10 anos? 15 anos? 50 anos...? eu não sabia responder essa pergunta e a única alternativa que eu tinha, pelo menos naquele momento, era esperar pra ver o que ia acontecer.
A fila pra entrar na “The Week” não estava nada pequena. Eu perdi
as contas de quantas pessoas contei até chegar na última pessoa e me senti
entediado, porque sabia que iria perder um tempinho precioso para poder entrar
na balada.
- Não sabia que era tão cheio assim – comentei.
- Pois é, bem mais movimentada que a do Rio, né?
- Verdade. Espero que seja tão boa quanto.
- É bacana sim.
Conforme eu imaginara, perdemos meia hora na fila. Só entramos no recinto faltando pouco tempo para a meia noite.
- Algo me diz que vamos nos divertir muito essa noite... – falou Víctor.
- Assim espero, estou precisando muito!
No começo, não achei o local muito legal, mas quando o povo chegou de verdade e o ambiente ficou lotado, eu mudei de opinião.
O primeiro cara com quem eu fiquei tinha o rosto parecido com o do Vini e foi só por isso que eu dei uns beijinhos nele.
- Você beija bem, hein?
- Obrigado – eu agradeci. – Você também beija bem.
- Qual sua idade?
- 18 e a sua?
- 26. Novinho ainda!
- Pois é...
Mas nós não passamos dos beijos. Ao contrário do que acontecia no Rio, eu não beijei tanto como gostaria. Só fiquei com 4 durante a noite toda e nem gozei como acontecia na cidade onde eu estava morando.
- Curtiu? – perguntou Víctor, quando nós saímos por volta das 5 horas da manhã.
- Deu para dar uns beijos, valeu a pena, mas não curti tanto quanto eu queria.
- Não chupou nem foi chupado?
- Não. E você?
- Eu sim – ele sorriu. – Bom demais!

- Não sabia que era tão cheio assim – comentei.
- Pois é, bem mais movimentada que a do Rio, né?
- Verdade. Espero que seja tão boa quanto.
- É bacana sim.
Conforme eu imaginara, perdemos meia hora na fila. Só entramos no recinto faltando pouco tempo para a meia noite.
- Algo me diz que vamos nos divertir muito essa noite... – falou Víctor.
- Assim espero, estou precisando muito!
No começo, não achei o local muito legal, mas quando o povo chegou de verdade e o ambiente ficou lotado, eu mudei de opinião.
O primeiro cara com quem eu fiquei tinha o rosto parecido com o do Vini e foi só por isso que eu dei uns beijinhos nele.
- Você beija bem, hein?
- Obrigado – eu agradeci. – Você também beija bem.
- Qual sua idade?
- 18 e a sua?
- 26. Novinho ainda!
- Pois é...
Mas nós não passamos dos beijos. Ao contrário do que acontecia no Rio, eu não beijei tanto como gostaria. Só fiquei com 4 durante a noite toda e nem gozei como acontecia na cidade onde eu estava morando.
- Curtiu? – perguntou Víctor, quando nós saímos por volta das 5 horas da manhã.
- Deu para dar uns beijos, valeu a pena, mas não curti tanto quanto eu queria.
- Não chupou nem foi chupado?
- Não. E você?
- Eu sim – ele sorriu. – Bom demais!
Acordei às 16 horas em ponto. Estava sentindo o meu corpo
pesado, minhas costas doíam e eu estava com o nariz entupido.
- Era só o que me faltava...
- O que foi? – perguntou Víctor. – Acordou com a cueca melada?
- Não seu idiota! Eu estou ficando gripado.
- Ah, pensei que tinha tido uma polução noturna – ele gargalhou.
- Não, faz muito tempo que não tenho mais isso, ao contrário de você!
- Tá louco? Eu tenho vida sexual ativa se é que você não sabe!
- Também tenho, querido. Então não enche meu saco!
Claro que eu tinha vida sexual ativa, mas não tão ativa quanto deveria ser. Pelo menos eu fazia sexo umas duas vezes por mês – o que pra mim não é suficiente, obviamente.
- Quer comer? – ele perguntou.
Engoli e senti a minha garganta doer.
- Quero um remédio se você tiver. Odeio dor de garganta.
- Espera aí, já te trago.
Mas esse remédio não adiantou de nada. Quando eu cheguei na rodoviária para esperar os meus amigos, a minha garganta estava doendo mais do que nunca.
- Deu tudo certo? – perguntei com meu coração aliviado em ver que eles estavam bem.
- Sim – falou Gabriel. – Por que você está rouco?
- Dor de garganta. Se divertiram?
- Muito – falou Janaína. – A praia de Itararé é linda!
- Ah, é mesmo. Mas vocês acharam pousada?
- Sim – falou Alexia. – Senão teríamos voltado.
- Fiquei preocupado. Eu preciso urgentemente de um celular...
- Precisa mesmo, gato – Jana colou no meu braço. – É horrível ficar incomunicável com as pessoas.
- Vou comprar assim que chegarmos no Rio.
- Era só o que me faltava...
- O que foi? – perguntou Víctor. – Acordou com a cueca melada?
- Não seu idiota! Eu estou ficando gripado.
- Ah, pensei que tinha tido uma polução noturna – ele gargalhou.
- Não, faz muito tempo que não tenho mais isso, ao contrário de você!
- Tá louco? Eu tenho vida sexual ativa se é que você não sabe!
- Também tenho, querido. Então não enche meu saco!
Claro que eu tinha vida sexual ativa, mas não tão ativa quanto deveria ser. Pelo menos eu fazia sexo umas duas vezes por mês – o que pra mim não é suficiente, obviamente.
- Quer comer? – ele perguntou.
Engoli e senti a minha garganta doer.
- Quero um remédio se você tiver. Odeio dor de garganta.
- Espera aí, já te trago.
Mas esse remédio não adiantou de nada. Quando eu cheguei na rodoviária para esperar os meus amigos, a minha garganta estava doendo mais do que nunca.
- Deu tudo certo? – perguntei com meu coração aliviado em ver que eles estavam bem.
- Sim – falou Gabriel. – Por que você está rouco?
- Dor de garganta. Se divertiram?
- Muito – falou Janaína. – A praia de Itararé é linda!
- Ah, é mesmo. Mas vocês acharam pousada?
- Sim – falou Alexia. – Senão teríamos voltado.
- Fiquei preocupado. Eu preciso urgentemente de um celular...
- Precisa mesmo, gato – Jana colou no meu braço. – É horrível ficar incomunicável com as pessoas.
- Vou comprar assim que chegarmos no Rio.
Na segunda-feira tivemos outra prova surpresa no
treinamento e ao contrário do que aconteceu na primeira, nesta eu não tirei uma
nota tão boa. Acho que os meus problemas pessoais estavam interferindo na minha
vida profissional e isso não era nada legal...
Em um dado momento do dia, a minha gripe atacou de tal forma que eu espirrei nove vezes seguidas.
- Saúde, saúde, saúde, saúde, saúde, saúde, saúde, saúde e saúde – falou Nilva, muito rapidamente.
- Obrigado – eu sequei meu nariz com um dos lenços da caixinha que havia comprado.
- Quer tomar um remédio? A clínica fica no 2º andar...
- Não, obrigado. Eu já me mediquei antes de vir trabalhar.
- Então tudo bem. Pessoal, vamos efetuar as correções da prova...
- Qual foi a sua nota? – perguntou Henrique.
- 6 e a sua?
- 9 – ele sorriu.
Metido!
- Parabéns!!!
Eu não sabia se ele estava mesmo interessado em mim ou não. Não era sempre que ele ficava me olhando... O Carlos me deixava confuso de vez em quando.
- Alguém tem alguma dúvida na primeira pergunta?
- Eu tenho – Janaína levantou a mão. O esmalte dela era vermelho sangue.
- Fala, Jana?!
Ela expôs a dúvida dela e em seguida a Nilva sanou a questão com uma breve explicação. E foi assim durante todo o dia. Nosso treinamento estava chegando ao fim e o conteúdo estava avançando cada vez mais. Aos poucos, nós estávamos ficando capacitados para a empresa e logo teríamos que colocar a mão na massa e começar a trabalhar pra valer.
Em um dado momento do dia, a minha gripe atacou de tal forma que eu espirrei nove vezes seguidas.
- Saúde, saúde, saúde, saúde, saúde, saúde, saúde, saúde e saúde – falou Nilva, muito rapidamente.
- Obrigado – eu sequei meu nariz com um dos lenços da caixinha que havia comprado.
- Quer tomar um remédio? A clínica fica no 2º andar...
- Não, obrigado. Eu já me mediquei antes de vir trabalhar.
- Então tudo bem. Pessoal, vamos efetuar as correções da prova...
- Qual foi a sua nota? – perguntou Henrique.
- 6 e a sua?
- 9 – ele sorriu.
Metido!
- Parabéns!!!
Eu não sabia se ele estava mesmo interessado em mim ou não. Não era sempre que ele ficava me olhando... O Carlos me deixava confuso de vez em quando.
- Alguém tem alguma dúvida na primeira pergunta?
- Eu tenho – Janaína levantou a mão. O esmalte dela era vermelho sangue.
- Fala, Jana?!
Ela expôs a dúvida dela e em seguida a Nilva sanou a questão com uma breve explicação. E foi assim durante todo o dia. Nosso treinamento estava chegando ao fim e o conteúdo estava avançando cada vez mais. Aos poucos, nós estávamos ficando capacitados para a empresa e logo teríamos que colocar a mão na massa e começar a trabalhar pra valer.
- Obrigado mais uma vez, Ricardo – uma das meninas
agradeceu.
- Por nada. Bom descanso e até amanhã!
Quando eu estava quase descendo da van, a Janaína me puxou pelo cotovelo e me fez sentar de novo.
- O que é isso? Ficou louca, foi?
- Ricardo, segue para Higienópolis, por favor – disse a moça.
Eu arregalei meus olhos e meu coração disparou.
- Como assim? Você bebeu?
- Hoje você vai encontrar a sua mãe, gato! Ou eu não me chamo Janaína Santos!
- Como assim? Você decide o dia e a hora e não me fala nada? Não é assim que funciona! Pode voltar para o hotel, Ricardo!
- Segue o que eu te falei mais cedo, Ricardo, por favor – orientou Janaína. – Caio, não vamos prorrogar isso, OK?
Discuti com ela boa parte do caminho, mas de nada adiantou. Ela estava convicta e decidida a me ajudar e nada do que eu falei adiantou para ela mudar de ideia.
- Onde é a sua casa?
- Aquele sobrado ali – eu apontei com o dedo. A minha mão estava tremendo.
- Para ali na frente daquela árvore, Ricardo, por favor!
- Você manda, Jana!
Ele estacionou a van. Eu fiquei olhando mais uma vez para a minha casa. O carro do meu pai não estava na garagem. Ele deveria estar trabalhando ainda...
- Que casarão, hein? – Jana comentou.
- Que nada!
- É sim, não seja modesto. Sua família é rica, é?
- Não – eu balancei a cabeça. – Nem um pouco rica. Eles só vivem de uma maneira confortável, mas não sobra dinheiro no final do mês. Pelo menos não sobrava na época que eu morava aí.
- Vou dar uma volta, volto daqui uma meia hora, pode ser? – perguntou Ricardo.
- Pode. Obrigada, seu lindo – disse Janaína.
Eu voltei a fitar o sobrado onde morei durante toda a minha vida. Por que eu estava sentindo tanta falta daquele lugar?
- Seus pais trabalham com o quê? Desculpa a curiosidade...
- Meu pai é publicitário e dirige uma empresa pequena aí... Minha mãe não trabalha porque meu pai não deixa...
- E ainda fala que não é rico – ela bufou.
- Acredite, não somos. Não somos mesmo.
Eu falei a mais pura verdade.
- E aí? Está pronto?
- Não!
- Ah, tudo bem. Me fala o número do telefone da sua casa – ela pegou o celular.
- Pra quê?!
- Sabe o que é? Eu queria jogar na “Mega Sena”. Vai que eu ganho? PARA QUE SERVE UM NÚMERO DO TELEFONE SE NÃO FOR PRA LIGAR, IDIOTA?
- Não precisa gritar – eu fiz bico. – Nâo sei o número!
- Vou dar dois tapas na sua cara e esfregar o seu focinho no asfalto, moleque. Fala logo a porra do número ou eu vou tocar a campainha em dois tempos!
Falei o número rapidamente. Ela me dava medo de vez em quando...
- Obrigada. Gosto assim!

A morena colocou o telefone celular no ouvido e ficou olhando fixamente pro portão da minha casa.
- Alô? Com quem eu falo?
Meu coração disparou e minha cabeça começou a doer.
- Hã... Eu sou a Janaína... Eu queria falar com... Qual o nome da sua mãe?
- Fá-Fátima... – eu choraminguei.
- Eu queria falar com a Fátima!
Outra pausa.
- É a senhora? Então, Dona Fátima... Eu me chamo Janaína, tudo bem com a senhora?
Pausa.
- Bem, obrigada. Eu estou ligando para lhe dar uma boa notícia...
Pausa. Eu senti vontade de ir ao banheiro e comecei a roer as unhas. Eu nunca fazia aquilo, mas naquele momento não consegui me controlar.
- Sou amiga do seu filho, o Caio...
Houve uma pausa maior.
- Dona Fátima?
O que será que havia acontecido? Será que a minha mãe tinha desligado?
- Então, sou amiga do Caio e ele está aqui...
Não tenho como negar que fiquei na expectativa de encontrá-la. Pelo menos se eu a visse pessoalmente, um pouco da saudade que estava sentindo se dissiparia e consecultivamente eu iria me sentir melhor...
- Isso mesmo, nós estamos em São Paulo, mais precisamente na sua rua, em frente a sua casa...
Pausa. Que ansiedade, que nervosismo...
- O Caio quer muito vê-la, Dona Fátima. Será que a senhora pode sair um minuto ou ele pode entrar na sua casa...?
O meu coração estava a mil por hora e eu já tinha roído todas as minhas unhas de tão ansioso que eu estava.
- Isso mesmo – Janaína assentiu. – Seu filho está aqui, na frente da sua casa. A senhora vai vir vê-lo ou não?!
Será que ela ia topar encontrar comigo?

A fisionomia da Janaína mudou e ela ficou calada por um tempão. O que será que estava acontecendo?
- Mas Dona Fátima... – ela estava com a voz tremendo.
O que houve? O que será que a minha mãe estava falando para ela?
- Mas... A senhora pode me ouvir?
Pausa. A morena ficou furiosa de repente.
- Alô?! Alô? Dona Fátima?!
- O que aconteceu? – eu me precipitei e me arrumei no banco da van.
- Ela desligou...
- Mas ela vai vir me ver? – meu coração estava batendo muito rápido e eu estava com muita esperança de ver a minha mãe.
Minha amiga ficou calada e me fitou, já com outra fisionomia. Neste momento ela estava com os olhos tristonhos. O que aquilo significava?
- Fala, Janaína! A minha mãe vai vir me ver?
- Sinto muito, Caio – ela suspirou. – Ela disse que não quer te encontrar...

- Por nada. Bom descanso e até amanhã!
Quando eu estava quase descendo da van, a Janaína me puxou pelo cotovelo e me fez sentar de novo.
- O que é isso? Ficou louca, foi?
- Ricardo, segue para Higienópolis, por favor – disse a moça.
Eu arregalei meus olhos e meu coração disparou.
- Como assim? Você bebeu?
- Hoje você vai encontrar a sua mãe, gato! Ou eu não me chamo Janaína Santos!
- Como assim? Você decide o dia e a hora e não me fala nada? Não é assim que funciona! Pode voltar para o hotel, Ricardo!
- Segue o que eu te falei mais cedo, Ricardo, por favor – orientou Janaína. – Caio, não vamos prorrogar isso, OK?
Discuti com ela boa parte do caminho, mas de nada adiantou. Ela estava convicta e decidida a me ajudar e nada do que eu falei adiantou para ela mudar de ideia.
- Onde é a sua casa?
- Aquele sobrado ali – eu apontei com o dedo. A minha mão estava tremendo.
- Para ali na frente daquela árvore, Ricardo, por favor!
- Você manda, Jana!
Ele estacionou a van. Eu fiquei olhando mais uma vez para a minha casa. O carro do meu pai não estava na garagem. Ele deveria estar trabalhando ainda...
- Que casarão, hein? – Jana comentou.
- Que nada!
- É sim, não seja modesto. Sua família é rica, é?
- Não – eu balancei a cabeça. – Nem um pouco rica. Eles só vivem de uma maneira confortável, mas não sobra dinheiro no final do mês. Pelo menos não sobrava na época que eu morava aí.
- Vou dar uma volta, volto daqui uma meia hora, pode ser? – perguntou Ricardo.
- Pode. Obrigada, seu lindo – disse Janaína.
Eu voltei a fitar o sobrado onde morei durante toda a minha vida. Por que eu estava sentindo tanta falta daquele lugar?
- Seus pais trabalham com o quê? Desculpa a curiosidade...
- Meu pai é publicitário e dirige uma empresa pequena aí... Minha mãe não trabalha porque meu pai não deixa...
- E ainda fala que não é rico – ela bufou.
- Acredite, não somos. Não somos mesmo.
Eu falei a mais pura verdade.
- E aí? Está pronto?
- Não!
- Ah, tudo bem. Me fala o número do telefone da sua casa – ela pegou o celular.
- Pra quê?!
- Sabe o que é? Eu queria jogar na “Mega Sena”. Vai que eu ganho? PARA QUE SERVE UM NÚMERO DO TELEFONE SE NÃO FOR PRA LIGAR, IDIOTA?
- Não precisa gritar – eu fiz bico. – Nâo sei o número!
- Vou dar dois tapas na sua cara e esfregar o seu focinho no asfalto, moleque. Fala logo a porra do número ou eu vou tocar a campainha em dois tempos!
Falei o número rapidamente. Ela me dava medo de vez em quando...
- Obrigada. Gosto assim!
A morena colocou o telefone celular no ouvido e ficou olhando fixamente pro portão da minha casa.
- Alô? Com quem eu falo?
Meu coração disparou e minha cabeça começou a doer.
- Hã... Eu sou a Janaína... Eu queria falar com... Qual o nome da sua mãe?
- Fá-Fátima... – eu choraminguei.
- Eu queria falar com a Fátima!
Outra pausa.
- É a senhora? Então, Dona Fátima... Eu me chamo Janaína, tudo bem com a senhora?
Pausa.
- Bem, obrigada. Eu estou ligando para lhe dar uma boa notícia...
Pausa. Eu senti vontade de ir ao banheiro e comecei a roer as unhas. Eu nunca fazia aquilo, mas naquele momento não consegui me controlar.
- Sou amiga do seu filho, o Caio...
Houve uma pausa maior.
- Dona Fátima?
O que será que havia acontecido? Será que a minha mãe tinha desligado?
- Então, sou amiga do Caio e ele está aqui...
Não tenho como negar que fiquei na expectativa de encontrá-la. Pelo menos se eu a visse pessoalmente, um pouco da saudade que estava sentindo se dissiparia e consecultivamente eu iria me sentir melhor...
- Isso mesmo, nós estamos em São Paulo, mais precisamente na sua rua, em frente a sua casa...
Pausa. Que ansiedade, que nervosismo...
- O Caio quer muito vê-la, Dona Fátima. Será que a senhora pode sair um minuto ou ele pode entrar na sua casa...?
O meu coração estava a mil por hora e eu já tinha roído todas as minhas unhas de tão ansioso que eu estava.
- Isso mesmo – Janaína assentiu. – Seu filho está aqui, na frente da sua casa. A senhora vai vir vê-lo ou não?!
Será que ela ia topar encontrar comigo?
A fisionomia da Janaína mudou e ela ficou calada por um tempão. O que será que estava acontecendo?
- Mas Dona Fátima... – ela estava com a voz tremendo.
O que houve? O que será que a minha mãe estava falando para ela?
- Mas... A senhora pode me ouvir?
Pausa. A morena ficou furiosa de repente.
- Alô?! Alô? Dona Fátima?!
- O que aconteceu? – eu me precipitei e me arrumei no banco da van.
- Ela desligou...
- Mas ela vai vir me ver? – meu coração estava batendo muito rápido e eu estava com muita esperança de ver a minha mãe.
Minha amiga ficou calada e me fitou, já com outra fisionomia. Neste momento ela estava com os olhos tristonhos. O que aquilo significava?
- Fala, Janaína! A minha mãe vai vir me ver?
- Sinto muito, Caio – ela suspirou. – Ela disse que não quer te encontrar...
Nenhum comentário:
Postar um comentário