terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Capítulo 79

T
 alvez tenha sido uma conspiração do destino, ou pura coincidência.
Eu olhei para todos os lados e notei que a Janaína estava sentada com um cara desconhecido e o Gabriel estava ao lado da Alexia.
Se os meus amigos não estavam perdendo tempo, eu é que não ficaria atrás!
- Sento sim – falei por impulso.- Será um prazer!
Aquele rapaz tinha algo que me chamava muito a atenção! Era impossível resistir àquele sorriso tão chamativo...

- Que bom! – ele puxou a cadeira e fez gesto para eu sentar.
Além de bonitinho, ele era um cavalheiro! Comecei a ficar admirado com a gentileza daquele garoto.
- Todos acomodados? – perguntou Janaína. – Vou chamar a instrutora, só um momento, pessoal!
- Ué? – minha amiga Janaína ficou em dúvida. – Você não vai ministrar o treinamento?
- Não, não. Eu não sou do T&D, sou da área de Recursos Humanos – a loira explicou.
- Já estava crente nos meus créditos nas provas – minha amiga lamentou.
- Aquela história era brincadeira, xará – a funcionária riu. – Eu nem vou chegar perto das provas de vocês. Só um momento!
- Vaca – eu consegui ler os lábios da Janaína e acabei soltando uma risada baixa. Ela era doida, só podia.
- E aí, Caio? Qual bairro você mora lá bo Rio?
- Catete e você?
- Eu moro na Glória.
- Pertinho!
- Do lado – ele sorriu de novo.
Será que ele só sabia fazer aquilo ou era para me impressionar?
- Verdade! – concordei.
- Você mora com quem?
- Com 5 amigos e você?
- 5 amigos? Só homens?
- Sim. Só homens. Moro em uma república estudantil.
- Isso significa que você está no Rio estudando?
- Não necessariamente. Eu moro lá, mas não estudo. Ainda não.
- Ah e como mora lá então?
- Um amigo me convidou, eu aceitei. Moro lá há quase um ano e meio.
- Bacana! Deve ser legal morar em uma república.
- Eu gosto – confessei. – É divertido.
- Mas e a sua família? Eles aprovam?
- Não tenho família – me deu até uma dor no coração.
- Ah, sinto muito! Eu não sabia...
- Tudo bem. Para eu ser sincero, eu tenho família que vive aqui em Sampa, mas nós não nos damos bem.
- Sem querer ser intrometido, mas já sendo, por que?! Agora você me deixou curioso.
- Meu pai e eu brigamos e ele me expulsou de casa. Desde então eu não pisei mais lá. Em agosto do ano retrasado eu mudei para o Rio e nunca mais os vi.
- Nossa, mas para ele ter te expulsado, você deve ter feito algo muito grave, não?
Lógico que ele não ia saber o que eu havia feito, não é mesmo?
- Depende do ponto de vista, mas eu não quero mais falar sobre isso!
- Claro, claro! Me desculpe se eu me aprofundei demais no assunto.
Ele tinha um jeito culto de falar. Não falava como os caras da idade dele...
- Tudo bem! – eu abri um sorrisinho amarelo e o assunto foi finalizado. – Você não me disse com quem mora...
- Ah, perdão! Eu moro com o meu irmão mais velho.
- Só com ele?
- Sim, meus pais já são falecidos – ele explicou.
- Lamento muito!
- Tudo bem, fica tranquilo. Eu não sofro mais com isso.
- Ah, entendo.
Querendo ou não, eu tinha uma boa noção do que era viver sem os pais por perto. Os meus não estavam mortos, mas não queriam saber de mim e é como se estivessem debaixo de sete palmos de terra. Acredito que eu sim estava morto para todos naquela família. Talvez menos para a minha mãe...
- Será que a gente pode mexer na internet? – ele abriu o Internet Explorer, mas nenhum site foi carregado.
- Acho que deve estar bloqueado, não?
- Sim está sim. Que droga!
- Já queria entrar no Orkut, né?
Me sinto um velho falando do Orkut, mas...
- Claro! Estou sentindo muita falta dele.
- Não trouxe notebook?
- Eu não tenho notebook.
- Eu trouxe o meu. Se você quiser, pode usar depois.
- Sério? Você deixaria?
- Por que não? Pode usar sim, sem problemas.
- Nossa, muito obrigado, Caio!
- Imagina. Os amigos são para essas coisas. Ou nós não somos amigos?

- Claro que somos – Carlos abriu um sorriso lindíssimo e eu fiquei derretido. Ele era muito bonitinho!
A porta da sala foi aberta e uma mulher com os cabelos muito cacheados e com o aspecto seco entrou na sala. Ela era muito baixinha, muito baixinha mesmo! Até mesmo o Éverton a superava no quesito altura.


- Bom dia – ela nos cumprimentou.
- Bom dia – somente algumas pessoas responderam.
- Não ouvi. Bom dia? – ela fez cara de brava.
- Bom dia – mais algumas pessoas responderam.
- Ainda não ouvi! BOM DIA?!
- BOM DIA!
- Ah, agora sim eu gostei! Já estavam dormindo, não é mesmo?
Foi um silêncio mortal. Ela parecia ser mesmo bem rígida.
- Bom dia, pessoal. Eu me chamo Nilva e serei a instrutora de treinamento de vocês. Nós nos veremos pelos próximos 21 dias, portanto vão logo tratando de se acostumar porque eu sou meio doida, viu?
Ela se dirigiu até a mesa que ficava na frente da sala, guardou algumas coisas dentro de uma gaveta, mexeu no mouse do computador, olhou para a parede, suspirou e disse:
- Quem vai ser o cavalheiro que vai me ajudar a ligar o projetor de imagens? – ela perguntou. –


Nenhum homem vai se prontificar? Serei obrigada a escolher...
- Eu ligo – disse o cara que estava ao lado da Janaína.
- Ah! Temos um cavalheiro na sala! Como você se chama, meu filho?
- Thiago.
- Por favor, Thiago, me ajuda aqui com esse troço. Acho que vocês já perceberam que eu sou desprovida de altura, né? Não alcanço esse negócio não, minha gente.
Algumas pessoas deram risada. A aparência de rígida foi dando espaço à simpatia. Quando o Thiago levantou, eu entendi porque a Jana havia sentado ao lado dele. O cara era um filé!
- Obrigada, meu filho. Vai ganhar um décimo na prova final por ser pró-ativo – ela sorriu.
- Vou cobrar, hein? – ele falou.
- Pode cobrar, eu honro as minhas promessas!
A Nilva bebeu um gole de água e em seguida começou a discursar:
- Agora falando sério: vamos começar com o treinamento. Fiquem tranquilos que hoje não haverá conteúdo, será um dia light apenas para apresentação da empresa e para a gente se conhecer, né?
Eu estava torcendo para ela não inventar de fazer uma dinâmica, mas caí quase que instantaneamente do cavalo.
- Primeiramente, quero que todos se apresentem e em seguida, faremos uma dinâmica em grupo para interagirmos melhor entre si.
Revirei meus olhos. Que coisa mais chata!
- Vamos começar aqui por essa moça bonita. Como você se chama, querida?
- Andressa.
- Diga para nós um pouco mais sobre você, Andressa...
Eu fiquei tão entediado com aquela baboseira, que quase dormi sentado. Só consegui abrir meus olhos e dispertar quando chegou a minha vez.
- Eu me chamo Caio, tenho 18 anos, sou do Rio de Janeiro...
- Tão novinho assim, Caio?
- Pois é – abri um sorriso amarelo.
Depois que todos se apresentaram a dinâmica idiota chegou ao fim, a Nilva liberou 10 minutos de pausa para que a gente pudesse lavar o rosto, beber água e ir ao banheiro.
- Eu pensei que o treinamento seria só nosso – comentou Gabriel.
- Eles não vão perder tempo com 10 funcionários – Janaína comentou.
- Posso saber por que diabos você sentou com aquele cara? – fiquei enciumado.
- Amigo – ela me agarrou. – Que pão é aquele, amigo? Não resisti!
- Pão? Quando eu falo que você é a minh avó você não acredita!
Eu levei uma porrada no braço que fez a minha pele arder.

- Tu me respeita, hein neguinho?
- Vadia, doeu desgraça!
- Era pra doer mesmo! Mas então, ele é “tudodebom.com.br”. Estou apaixonada!
- Cala a boca, Janaína – eu ri. – Você nem o conhece, como pode estar apaixonada?
- Nunca ouviu falar em amor à primeira vista?
Engoli em seco. Como eu não havia ouvido falar nisso se eu mesmo havia me apaixonado de cara pelo... Bruno?
- Acredito fielmente nisso – comentei.
- Ah, é? Já se apaixonou assim?
- Infelizmente!
- Por quem?! Quem é a coitada? Eu a conheço?
- Conhece, Janaína! É você, sua vaca.
- Sério? – ela fez cara de espanto.
Só que não!
- Óbvio que não! Acha que eu gosto de velhas? – brinquei.
- E eu gosto de criança por acaso?
- Criança é a sua mãe, sua trouxa!
- Vamos entrar, meninos? – Nilva abriu a porta e fez gesto para nós entrarmos.
- Mais tarde a gente continua essa D.R – ela me fuzilou com os olhos, como só ela sabia fazer. Janaína me dava medo de vez em quando.
- Tudo bem, Jana – fingi ser submisso.
Depois que todos os treinandos se acomodaram, a mini--mulher fechou a porta, desligou a luz, pegou uma régua e começou a discursar.
Ficou acordado que o treinamento seria das 9 às 18, que nós teríamos 1 hora e 5 minutos de almoço por dia e para a alegria geral da nação e nossa total surpresa, o treinamento seria somente de segunda à sexta. Não podia ser melhor!
- Que luxo! – a Alexia exclamou. – Sábado e domingo de folga!
Era a oportunidade que os meus amigos queriam para conhecer a cidade. Senti que me daria mal nessa história, pois com toda certeza do mundo, eu seria o guia turístico da turma.




O nosso primeiro dia de treinamento foi light, mas extremamente cansativo. Quando eu saí do prédio, estava sentindo a minha coluna doer um pouco e isso me deixou incomodado.
- Dor nas costas – reclamei.
- Eu te faço uma massagem, meu lindo – Alexia grudou no meu braço e colocou o queixo no meu ombro.
- Faz? É por isso que eu te amo!
- Quando chegar no hotel, é só colar no meu quarto que eu faço.
- Vou fazer isso mesmo – prometi. – Quero e preciso muito relaxar.
- E eu? Não ganho massagem não? – perguntou Gabriel.
- Não – Alexia respondeu prontamente.
- Não seja má comigo, gatinha – ele sorriu.
- Vou pensar no seu caso!
Carlos Henrique e eu não tivemos oportunidade de nos falar mais durante o resto do dia. Apenas nos despedimos na chegada no hotel.
- Até amanhã – ele falou.
- Até amanhã, bom descanso!
- Caio, acho mesmo que vai chover, hein? – Jana olhou pro céu.
- Eu disse, não disse?




E choveu mesmo. A tempestade começou a cair quando eu ainda estava no banho. Como não havia mais nada pra fazer naquela noite, me dei ao luxo de ficar mais tempo que o normal debaixo do chuveiro e isso acabou aliviando um pouco da tensão que eu estava sentindo.
- Vai ficar aí até quando? – Gabriel tentou abrir a porta, no entanto não conseguiu.
- Já estou saindo, só espera eu terminar de me vestir.
- Se veste aqui, diacho! Tem vergonha de mim?
- Não – respondi imediatamente. – É a força do hábito.
Assim que eu saí, ele entrou no banheiro. Acho que estava com vontade de usá-lo. Mesmo relampeando e trovejando muito, eu não resisti e tive que ligar o notebook. Precisava mandar notícias aos meus amigos.
E para a minha felicidade, o Rodrigo estava online e nós pudemos conversar bastante. Contei tudo o que estava acontecendo na viagem e em contrapartida, ele também me expôs as situações no Rio. Nada de anormal até então.
Fiquei quase meia hora falando com meu melhor amigo e o Gabriel não saiu do banheiro. Será que estava com diarreia? Quando notei que o temporal estava forte demais e que havia risco do meu notebook queimar por causa do fio da internet, me despedi do Rodrigo e resolvi sair da rede mundial de computadores. Fiquei surpreso quando ele me confessou que já estava sentindo saudades de mim!
- Caio? – Gabriel me chamou.
- O que foi?
- Pode me trazer uma cueca? Eu esqueci de pegar.
Ui! Que perigo! Seria pedir demais para ele sair pelado e se trocar na minha frente?
- Qual a gaveta? – perguntei.
- A última.
- Qual eu pego?
- Uma bem folgada.
- Como vou saber qual é a folgada? Não é melhor você vir buscar? – arrisquei a sorte.
- Pega qualquer uma então.
Que droga! Seria bom demais se ele aceitasse o meu conselho.
Abri a gaveta e me deparei com muitas cuecas. Peguei uma, duas, três e tentei identificar qual seria a maior de todas. Eram todas do tamanho G e pareciam enormes para mim.
Fiquei surpreso com um pacote de camisinhas que havia no fundo da gaveta. Que bom que ele era um cara prevenido!
- Abre aí? – eu bati na porta.
Ele abriu e colocou a mão pra fora. Como eu não era burro, me aproximei o máximo que pude e literalmente grudei a minha testa na porta, mas não consegui ver nada dentro do banheiro. Provavelmente ele estava atrás da porta.
- Onde está?
- Aqui – eu coloquei a peça de roupa na mão dele.
- Obrigado, você é muito gentil.
Mais uma vez tentei ver o interior do banheiro, mas para a minha total desgraça, ele fechou a porta na minha cara e eu bati o  nariz com tudo na madeira de cor marrom.


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