Eu segurei o celular do Rodrigo e
oassei meus olhos pelo visor do aparelho.
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Ele estava ligando de um número totalmente desconhecido para mim. Mesmo tendo
se passado vários meses, eu ainda lembrava o número dele.
Não sei quantas vezes eu suspirei olhando os números dos segundos da ligação avançarem e não sei se estava suspirando de saudade ou simplesmente amor...
O que eu devia fazer? Atender ou não atender? Se eu atendesse, iria correr o risco de passar raiva ouvindo as justificativas que ele tinha para me dar. Por outro lado, se eu não atendesse iria continuar com a velha e angustiante dúvida: por que ele tinha feito aquilo comigo?
E se ele tivesse tido um motivo realmente muito forte para ter ido embora sem se despedir de mim? Mas e se ele tivesse ido embora porquê quis? E se ele tivesse ido embora porquê estava cansado de mim?
Mas se ele havia se mudado para Madri porquê quis, por qual motivo estava querendo falar comigo depois de tanto tempo?
Quase um ano havia se passado e ele só estava me ligando naquele momento? Não! Eu não ia falar com ele...
E quando eu finalmente criei coragem para desligar o celular, ouvi um “alô” baixo e quase inaudível e isso fez o meu coração disparar de tanta emoção.
Era ele mesmo! Nem que passassem mil anos eu seria capaz de esquecer o tom daquela voz... Aquela voz de menino, aquela voz de adolescente... Aquele sotaque incrivelmente lindo, aquela risada gostosa... Era ele que estava do outro lado da linha e eu não tive dúvidas...
Com as mãos trêmulas, coloquei o celular no meu ouvido, mas não falei nada. Ah, Bruno... Por que você me abandonou? Por que você me deixou?
Eu ouvi claramente a respiração dele bater no telefone e isso me deixou ainda mais extasiado. Por mais que eu falasse que não, eu queria tanto vê-lo novamente... Só naquele momento eu fui capaz de perceber o quanto eu ainda gostava daquele garoto.
Só naquele momento eu percebi o quanto ele ainda me fazia falta e o quanto a minha vida ainda girava em torno dele.
- Alô? – a voz dele estava idêntica. Não havia mudado em nada... – Caio?
Infeliz! Desgraçado! Eu não estava acreditando que ele tinha ligado pro Rodrigo no intuito de falar comigo! Quem ele pensava que era afinal de contas?
E o que ele pensava que eu ia fazer? Será que ele acreditava mesmo que eu ia recebê-lo de braços abertos e que nós iríamos ficar conversando por horas?
NÃO. A resposta era não! Eu não ia falar com ele, não queria saber dele e não ia ser com um telefonema que ele iria me fazer dar o braço à torcer!
- Caio? Você está aí?
E foi quando eu senti o auge da minha raiva que eu apertei o botão vermelho e desliguei aquela ligação.
- Desgraçado... Desgraçado... DESGRAÇADO...
Se o celular fosse meu, com certeza eu teria jogado na parede e ele teria ficado em mil

pedaços, mas como eu não era o dono, me contentei em jogar os travesseiros do outro lado do quarto.
- O que foi, Caio? – Víctor entrou no quarto sem bater na porta. – Por que você está chorando? Aconteceu alguma coisa?
- Vamos sair, Víctor! Se arruma que a gente vai sair...
- Por que você está chorando? O que houve, amigo?
- Vai se arrumar se você quiser sair daqui, senão eu vou sozinho...
Eu bufei de raiva. Era audácia demais para o meu gosto... Voltar a me procurar depois de tanto tempo... Voltar a me procurar depois de praticamente um ano...
- Me conta o que está acontecendo, Caio?
- VAI SE ARRUMAR, VÍCTOR!
Ele arregalou os olhos e aparentemente ficou assustado. Eu saí do quarto e fui direto ao encontro do Rodrigo para devolver o célular e passar um recado.
- Posso falar com você? – eu não sabia se eu estava com ódio ou saudade.
- Já usou meu celular?
- Aqui está o seu celular – eu imitei o gesto dele e joguei o aparelho em seu colo. – Posso te pedir um favor?
- Não.
Eu não dei atenção, respirei fundo e disse:
- Se ele ligar de novo, não me passa o telefone. Diz que eu morri. Ouviu?
- Hã?!
- Ouviu? Entendeu? Eu não quero mais saber dele, Rodrigo! Por favor, pelo amor de Deus, não me dê nenhum recado, não me passa o celular, não me fala dele. Você entendeu?
Meu amigo me olhou com as sobrancelhas erguidas.
- Aham.
- Muito obrigado.
Eu não falei mais nada, virei as costas e saí andando. Ainda estava muito irritado com tudo o que havia acontecido minutos antes.
- Caio? – Rodrigo me chamou quando eu já estava quase saindo do quarto.
- O que foi? – eu falei, mas não me virei para olhá-lo.
- Você está bem?
- Eu estou ótimo. Melhor impossível – menti descaradamente.
Como eu poderia estar bem se toda a minha dor estava voltando a tomar conta do meu corpo? Eu estava sentindo um misto de sensações: ora me sentia com ódio do Bruno, ora me sentia completamente apaixonado por ele, ora me sentia frustrado, ora me sentia enganado, ora me sentia um completo idiota, ora me sentia revoltado...
- Tem certeza? – a voz dele estava tomada de cautela.
- Absoluta.
- Hum...
E falando isso eu saí. Saí e senti vontade de ir direto para a minha cama me acabar no choro. Senti vontade de ficar o resto do dia trancado no meu quarto, só pensando no Bruno...
Mas obviamente ele não merecia as minhas lágrimas, não merecia o meu pensamento, não merecia o meu amor e não merecia sequer que eu mencionasse seu nome. A única coisa que talvez ele merecesse, era o meu desprezo.
Desprezo era o que ele merecia e era isso que ele ia ter. No que dependesse de mim, eu nunca mais iria procurá-lo, por mais saudade que tivesse. Ele não tinha me abandonado? Então era sinal que não me queria por perto e se ele não me queria por perto, ele não ia me ver nunca mais.

- Estou pronto, amigo – Víctor apareceu com uma roupa diferente. – Já podemos ir.
- Ótimo. Eu preciso muito ver o mar.
- Ah, nós vamos pra praia? Eu não coloquei sunga...
- Não, Víctor! Nós vamos ver a neve... A gente vai lá em uma montanha que tem neve, viu?
- Caramba, você está muito grosso hoje, meu...
- E eu vou ficar ainda mais. Porra, você está no Rio de Janeiro! Onde pensou que eu ia te levar? Para o shopping fazer compras?
- Estúpido!
- Vai colocar a porcaria dessa sunga ou nós vamos assim mesmo?
- Vou colocar. A madame pode esperar, ou é pedir demais?
- 2 minutos – eu falei. – E nenhum minuto a mais.
Não sei quantas vezes eu suspirei olhando os números dos segundos da ligação avançarem e não sei se estava suspirando de saudade ou simplesmente amor...
O que eu devia fazer? Atender ou não atender? Se eu atendesse, iria correr o risco de passar raiva ouvindo as justificativas que ele tinha para me dar. Por outro lado, se eu não atendesse iria continuar com a velha e angustiante dúvida: por que ele tinha feito aquilo comigo?
E se ele tivesse tido um motivo realmente muito forte para ter ido embora sem se despedir de mim? Mas e se ele tivesse ido embora porquê quis? E se ele tivesse ido embora porquê estava cansado de mim?
Mas se ele havia se mudado para Madri porquê quis, por qual motivo estava querendo falar comigo depois de tanto tempo?
Quase um ano havia se passado e ele só estava me ligando naquele momento? Não! Eu não ia falar com ele...
E quando eu finalmente criei coragem para desligar o celular, ouvi um “alô” baixo e quase inaudível e isso fez o meu coração disparar de tanta emoção.
Era ele mesmo! Nem que passassem mil anos eu seria capaz de esquecer o tom daquela voz... Aquela voz de menino, aquela voz de adolescente... Aquele sotaque incrivelmente lindo, aquela risada gostosa... Era ele que estava do outro lado da linha e eu não tive dúvidas...
Com as mãos trêmulas, coloquei o celular no meu ouvido, mas não falei nada. Ah, Bruno... Por que você me abandonou? Por que você me deixou?
Eu ouvi claramente a respiração dele bater no telefone e isso me deixou ainda mais extasiado. Por mais que eu falasse que não, eu queria tanto vê-lo novamente... Só naquele momento eu fui capaz de perceber o quanto eu ainda gostava daquele garoto.
Só naquele momento eu percebi o quanto ele ainda me fazia falta e o quanto a minha vida ainda girava em torno dele.
- Alô? – a voz dele estava idêntica. Não havia mudado em nada... – Caio?
Infeliz! Desgraçado! Eu não estava acreditando que ele tinha ligado pro Rodrigo no intuito de falar comigo! Quem ele pensava que era afinal de contas?
E o que ele pensava que eu ia fazer? Será que ele acreditava mesmo que eu ia recebê-lo de braços abertos e que nós iríamos ficar conversando por horas?
NÃO. A resposta era não! Eu não ia falar com ele, não queria saber dele e não ia ser com um telefonema que ele iria me fazer dar o braço à torcer!
- Caio? Você está aí?
E foi quando eu senti o auge da minha raiva que eu apertei o botão vermelho e desliguei aquela ligação.
- Desgraçado... Desgraçado... DESGRAÇADO...
Se o celular fosse meu, com certeza eu teria jogado na parede e ele teria ficado em mil
pedaços, mas como eu não era o dono, me contentei em jogar os travesseiros do outro lado do quarto.
- O que foi, Caio? – Víctor entrou no quarto sem bater na porta. – Por que você está chorando? Aconteceu alguma coisa?
- Vamos sair, Víctor! Se arruma que a gente vai sair...
- Por que você está chorando? O que houve, amigo?
- Vai se arrumar se você quiser sair daqui, senão eu vou sozinho...
Eu bufei de raiva. Era audácia demais para o meu gosto... Voltar a me procurar depois de tanto tempo... Voltar a me procurar depois de praticamente um ano...
- Me conta o que está acontecendo, Caio?
- VAI SE ARRUMAR, VÍCTOR!
Ele arregalou os olhos e aparentemente ficou assustado. Eu saí do quarto e fui direto ao encontro do Rodrigo para devolver o célular e passar um recado.
- Posso falar com você? – eu não sabia se eu estava com ódio ou saudade.
- Já usou meu celular?
- Aqui está o seu celular – eu imitei o gesto dele e joguei o aparelho em seu colo. – Posso te pedir um favor?
- Não.
Eu não dei atenção, respirei fundo e disse:
- Se ele ligar de novo, não me passa o telefone. Diz que eu morri. Ouviu?
- Hã?!
- Ouviu? Entendeu? Eu não quero mais saber dele, Rodrigo! Por favor, pelo amor de Deus, não me dê nenhum recado, não me passa o celular, não me fala dele. Você entendeu?
Meu amigo me olhou com as sobrancelhas erguidas.
- Aham.
- Muito obrigado.
Eu não falei mais nada, virei as costas e saí andando. Ainda estava muito irritado com tudo o que havia acontecido minutos antes.
- Caio? – Rodrigo me chamou quando eu já estava quase saindo do quarto.
- O que foi? – eu falei, mas não me virei para olhá-lo.
- Você está bem?
- Eu estou ótimo. Melhor impossível – menti descaradamente.
Como eu poderia estar bem se toda a minha dor estava voltando a tomar conta do meu corpo? Eu estava sentindo um misto de sensações: ora me sentia com ódio do Bruno, ora me sentia completamente apaixonado por ele, ora me sentia frustrado, ora me sentia enganado, ora me sentia um completo idiota, ora me sentia revoltado...
- Tem certeza? – a voz dele estava tomada de cautela.
- Absoluta.
- Hum...
E falando isso eu saí. Saí e senti vontade de ir direto para a minha cama me acabar no choro. Senti vontade de ficar o resto do dia trancado no meu quarto, só pensando no Bruno...
Mas obviamente ele não merecia as minhas lágrimas, não merecia o meu pensamento, não merecia o meu amor e não merecia sequer que eu mencionasse seu nome. A única coisa que talvez ele merecesse, era o meu desprezo.
Desprezo era o que ele merecia e era isso que ele ia ter. No que dependesse de mim, eu nunca mais iria procurá-lo, por mais saudade que tivesse. Ele não tinha me abandonado? Então era sinal que não me queria por perto e se ele não me queria por perto, ele não ia me ver nunca mais.
- Estou pronto, amigo – Víctor apareceu com uma roupa diferente. – Já podemos ir.
- Ótimo. Eu preciso muito ver o mar.
- Ah, nós vamos pra praia? Eu não coloquei sunga...
- Não, Víctor! Nós vamos ver a neve... A gente vai lá em uma montanha que tem neve, viu?
- Caramba, você está muito grosso hoje, meu...
- E eu vou ficar ainda mais. Porra, você está no Rio de Janeiro! Onde pensou que eu ia te levar? Para o shopping fazer compras?
- Estúpido!
- Vai colocar a porcaria dessa sunga ou nós vamos assim mesmo?
- Vou colocar. A madame pode esperar, ou é pedir demais?
- 2 minutos – eu falei. – E nenhum minuto a mais.
- Onde a gente está indo? – ele
perguntou depois de meia hora.
- Copacabana, Ipanema, Leblon...
- Jura?
- Uhum – eu já estava me sentindo bem mais calmo.
- E o Cristo fica perto desses lugares?
- Não.
- Ah, queria vê-lo. Vir aqui e não ver o Cristo é o mesmo que ir em Aparecida e não ver a Santa.
- Amanhã ou depois eu te levo lá, beleza?
- Leva mesmo?
- Levo sim, mas se ficar me torrando a paciência não levo mais.
- O que houve com o seu humor hoje, hein? Dormiu de calça jeans?
- Pois é, acho que sim! Já chegamos, levanta.

As portas do metrô abriram rapidamente e a multidão que estava dentro do trem desceu na plataforma muito rapidamente.
- Ah, quem dera o metrô de São Paulo fosse vazio assim, né?
- É.
Ele tinha razão. No meu ponto de vista, o transporte do Rio era muito mais vazio que o de São Paulo. A minha sorte era que em Sampa eu quase não andava de transporte público.
- Deixa eu te perguntar, o que você tinha para me falar mesmo? – questionei.
- Ah, menino! Nem te conto... Maior tristeza...
- O que foi?
- Assassinaram o tio da Amanda!
- Nossa, que horror... Foi assalto?
- Foi. Muita dó, a coitada ficou arrasada.
- Imagino.
- Mas já superou. Foi no começo do ano.
- Hum... Quando eu for lá semana que vem, vou visitá-la.
- Faz isso sim. Posso ser indiscreto?
- Fala? – eu estava até com medo do que ele ia perguntar.
- Você vai... na sua casa?
- Não! Claro que não, que pergunta!
- Não vai nem falar com a sua mãe?
- Não. Não quero ser humilhado de novo.
- Pensei que já tinha superado, sei lá.
- Você fala isso porque não foi com você. Superar eu até superei, mas isso não significa que eu queira passar por tudo de novo.
- Será que sua família não se arrependeu?
- Duvido muito. Você tem alguma notícia deles para me dar?
- Não. Nenhuma. Acredito que tudo esteja exatamente igual. Quer dizer, pelo menos é isso que eu acho.
- Você ainda vê meu irmão?
- Às vezes sim. Cada dia com uma garota diferente...
- E ele mudou em alguma coisa?
- Não. Está igualzinho à você. É incrível que mesmo estando longe, vocês ainda mantém o mesmo jeito.
- Como assim?
- Assim, mesmo você e o Cauã morando longe, o jeito de ser dos dois ainda é o mesmo... Os gostos, as roupas, o cabelo... Tudo parece.
- Somos gêmeos, esqueceu?
- Não esqueci, mas você entendeu o que eu quis dizer.
- Entendi sim.
- Nós estamos longe da praia?
- Nâo. Já estamos chegando.

Quando o garoto colocou os olhos no mar de Copa, quase caiu para trás.
- Isso daqui é real?
- Uhum. Quer que eu te belisque?
Não esperei a resposta dele e foi através do braço do meu amigo que eu soltei a raiva que estava sentindo do Bruno.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAI, VIADO! – ele gritou de dor. – Filho da puta!
- Desculpa, eu precisava fazer isso – dei risada e me senti muito, muito melhor.
- Precisava ser em mim, desgraça?
- Você estava mais próximo. Relaxa e curte a praia, parceiro.
- Depois dessa eu vou te afogar no oceano, infeliz.
- Nem vem, nem na água eu vou pisar.
- Seu trouxa – ele estava passando a mão por cima do beliscão que eu dei.
- Desculpa, foi mau...
- Foi péssimo!
Víctor parecia um peixe, não queria sair de dentro do mar. Perdi as contas de quantas vezes eu o chamei para a gente conhecer a praia de Ipanema, mas ele não me dava ouvidos.
- Víctor? Eu vou embora, hein?
- Já estou indo, Caio...
- Você disse isso há meia hora atrás. Já vai escurecer, quer fazer o favor de sair daí?
- Que inferno, hein? – ele bufou de raiva e saiu da água totalmente contrariado.
- Se dependesse de você, você ficaria aí até o dia amanhecer. Nunca vi gostar tanto de água assim...
- Não sou como você que não curte água, Caio – ele fez questão de sacodir o cabelo para me molhar.
- Eu gosto de água doce, não de água salgada.
- Uhum, sei... Vem cá, Ipanema é muito longe daqui?
- Uns 15 minutos andando.
- Vamos lá?
- Vamos, não tem nada para fazer mesmo!!!
E pelo menos eu ia ter a chance de relaxar um pouco mais. Ver o mar, ouvir o barulho das ondas e sentir o cheiro da maresia era a única terapia que me surtia efeito nos momentos em que eu estava irritado ou chateado.
- Caio Monteiro, estou pensando seriamente em me mudar para essa cidade maravilhosa – ele suspirou quando nós chegamos em Ipanema.
- Vem cá, você não disse que a minha cidade era feia?
- Mas é mesmo. Como eu te falei, são os extremos. Literalmente.
- Entendi.
- Deixa eu te perguntar... Há quanto tempo você adquiriu esse sotaque cariocano?
- Cariocano?
- Carioca com paulistano?
- Ai, Víctor – eu dei risada. – Só você mesmo.
- Verdade, pô. Me espera aqui, vou dar um mergulho e já volto!
- De novo?!
Ele ficou de sunga e saiu correndo pro mar. Eu sentei na areia macia, fiquei olhando o vai-e-vem das ondas e aos poucos fui colocando a minha mente no lugar.
Não ia adiantar de nada eu ficar nervoso, irritado ou com raiva do Bruno. O único prejudicado nessa história seria eu mesmo e aquilo eu não queria e não ia permitir que acontecesse.
Ao invés de ficar julgando o que tinha acontecido, eu fiquei olhando pro mar, pro céu, pra lua, para as estrelas... E toda a raiva que existia dentro do meu peito se exauriu de vez, até o momento em que ele chegou ao meu lado e disse:
- Oi, Caio!
Quando eu olhei para trás, levei o maior susto. O que ele estava fazendo ali e como havia me encontrado no meio de tanta gente que estava na praia?
- Tudo bem? Posso me sentar ao seu lado?
- Como você me encontrou aqui? – perguntei com o coração batendo forte.
- Ué? Eu estava andando pela praia, te vi e resolvi falar com você. Por acaso eu não posso?
- Poder pode, desde que você não venha me falar do...
- Pode deixar que eu não vou falar do Bruno – Vítor sentou ao meu lado e estendeu a mão.
Mesmo sem querer, tive que ser educado e apertar a mão do garoto. Ele abriu um sorriso até que bonito e depois ficou olhando pro mar, como eu estava fazendo.
- Lindo, não?
- Extremamente – eu concordei. – Acho que nada supera esse lugar.
- Búzios. Búzios supera. Já foi lá?
- Não.
- É muito, mas muito lindo. Principalmente a Praia de Ferradurinha.
- Bom saber, quando eu tiver oportunidade irei conhecer.
- Não irá se arrepender. Você não está sozinho, não é?
- Não – confirmei. – O meu amigo está na água.
- Amigo mesmo? – ele sorriu.
- Amigo sim. Melhor amigo para ser sincero.
- Hum...
- Aproveitando que você está aqui, queria te pedir desculpas – de repente eu me senti na obrigação de me redimir por tê-lo tratado mal na última vez em que nos encontramos.
- Relaxa, Caio. Eu te entendo, sabia?
- Me entende?
- Entendo sim – Vítor garantiu. – Eu no seu lugar, teria feito a mesma coisa.
- Desculpa, de verdade. Acho que eu passei um pouco dos limites.
- Acontece. Sem problemas, já passou e eu não guardo rancor. Tanto é que vim até aqui falar com você.
- Obrigado. Prometo que não vou mais fazer isso com você, mas com uma condição.
- Qual?!
- Por obséquio – eu não sei de onde eu tirei essa palavra –, não me traga notícias dele, está bem?
O garoto de 17 anos sorriu novamente.
- Pode deixar que eu não vou te dar notícias dele.
- Obrigado. Fico aliviado.
- Tranquilo. E aí, como você está?
- Bem. Muito bem. Agora eu estou bem.
- Por que “agora eu estou bem”?
- Porque eu fiquei com raiva quando vi você aí. Pensei que viria me torrar a paciência com notícias daquele...
- Daquele? – ele me olhou com as sobrancelhas erguidas.
- Garoto – eu finalizei a frase.
- Na verdade, eu tenho sim um recado dele para você, mas como você não quer ouvir, eu é que não vou dar murro em ponta de faca!
- Te agradeço imensamente. E você, está bem?
- Estou sim, graças a Deus.
- Hum, que bom!
Eu não tinha raiva do Vítor. Eu só não queria que ele fosse falar do Bruno para mim. Se ele mantivesse um diálogo bacana, sem tocar no nome dele, nós poderíamos até ser amigos.
Nós ficamos em silêncio por um longo período. Acho que o assunto tinha acabado.
- Meu amigo não volta do mar. Acho que morreu afogado.
- Não é melhor ver se está tudo bem?
- Está sim, daqui eu estou enxergando o filho da mãe.
- Ah! Quem é?
- É aquele ali, de sunga preta...
- Aquele que está de frente pra gente?
- Uhum.
- Gatinho, hein?! Eu vou, hein?
Eu dei risada.
- Eu não vou.
Nessa época, aquele tal de “Vô”; “Não Vô”, estava começando a fazer sucesso no Orkut.
- Ele curte?
- Aham – dei risada.
- Opa! Melhor ainda...
Não demorou muito e o Víctor saiu da água e foi até onde nós estávamos.
- Finalmente decidiu sair de lá – comentei.
- A água está esfriando – Víctor estava até tremendo de frio.
O outro Vítor pigarreou e eu me lembrei que tinha que apresentá-los:
- Ah, Víctor, deixa eu te apresentar. Esse é o Vítor, um conhecido meu. Vítor, esse é o Víctor, meu melhor amigo.

- Hã? – Víctor não entendeu nada.
- Ele é meu xará? – perguntou Vítor.
- É sim – eu ri.
- Nossa, que emoção – Vítor levantou e estendeu a mão. – Tudo bom, xará?
- Bem e você?
- Bem também.
- Você não é daqui, né?
- Não. Eu sou de São Paulo, cara. Estou à passeio apenas.
- Bacana. Adorei seu nome, viu?
- E eu o seu.
Eles deram risada e eu fiquei de escanteio.
- Fiquem aí se conhecendo, eu vou dar uma volta na beira do mar e já volto.
- Não demora, quero conhecer mais praias – disse meu melhor amigo.
- Pode deixar,
Ainda estava cedo, mas a noite já havia caído e o céu parecia tempestuoso. Várias nuvens enormes estavam tampando a lua e aquilo me deixou um pouco encucado. Será que ia chover?
Caminhei cerca de 20 minutos para dar tempo dos xarás se conhecerem e quando o tempo começou a mudar pra valer, achei melhor voltar até onde eles estavam e em seguida, voltar para casa.
- Atrapalho? – perguntei,
- Não – eles falaram em uníssono.
- Víctor, acho melhor a gente voltar para casa. Vai começar a chover.
- Ah... Eu queria ir para o Leblon!
- Não vai dar não, amanhã eu te levo até lá.
- Que saco!
- Quer ficar na chuva? Se quiser a gente fica!
- Já estou todo molhado mesmo – ele riu.
- É né, bonitão? Mas eu não!
- Problema é seu...
- Nem vem que não tem, vamos embora para casa.
- Deixa o cara, Caio – Vítor se meteu.
- Eu até deixaria, Vítor. O pronlema é que ele não vai saber voltar sozinho.
- Não vou mesmo. E tenho medo de me perder...
- Pois é. Vamos logo antes que comece o temporal.
- Nem vai chover – ele se levantou.
- Você que pensa.
- Acho que também vou indo – disse Vítor.
- A gente se vê, Vítor – eu falei.
- Vamos juntos, poxa. Vocês vão de metrô?
- Uhum.
- A minha casa fica no caminho. Esqueceu?
Suspirei.
- Não, não esqueci.
- De onde vocês se conhecem? – perguntou Víctor.
- Ele é o melhor amigo do meu ex – falei rapidamente.
- Sério?
- Uhum – Vítor confirmou.
- Posso perguntar uma coisa?
- Claro – Vítor concordou.
- Seu amigo não está aqui não, né? – perguntou Víctor.
- Não! Ele ainda não voltou da Espanha. Por quê?
- Porque se eu encontrá-lo pessoalmente, eu vou quebrar todos os dentes da boca dele!
- Isso é que é defender o amigo, hein? – o cara deu risada.
- Na boa? Podemos mudar o rumo da prosa?
- Desculpa, Caio – Vítor se redimiu, - Eu sei que esse assunto ainda mexe com você.
- É mesmo. Desculpa, Caio – o outro Víctor também se redimiu.
- Tudo bem. Só não falem mais nele, por favor.
E não falaram mesmo. Eu deixei os dois trocando ideia na minha frente e fui caminhando atrás deles, mas em uma distância confortável para não ouvir o que eles conversavam.
- Bom eu fico aqui – disse Vítor. – Essa é a minha casa, Víctor. Se quiser entrar...
- Não vai dar – eu interrompi. – Nós temos que ir para casa.
- Ele é muito estraga prazeres – meu melhor amigo bufou de raiva.
- Não faltarão oportunidades – Vítor abriu um sorriso.
- Assim espero – Víctor retribuiu o sorriso e eu revirei os olhos.
Era só o que faltava: os dois xarás se pegarem ali no meio da rua.
- Até mais então.
- Até – Víctor apertou a mão do xará e em seguida foi a minha vez.
- Não dê nenhuma notícia minha ao seu amigo, por favor – eu recomendei.
- Pode deixar. A minha boca é um túmulo.
- Assim espero. Tchau.
- Tchau – ele acenou e em seguida entrou na garagem e fechou o portão.
- Gostei dele – meu amigo falou quando nós não estávamos mais na rua do garoto.
- Já quer pegar, né?
- Certeza! Eu não vou sair do Rio sem pegar pelo menos um, né?
- Relaxa, já te falei que no sábado vou te levar em uma balada onde você vai se acabar.
- Não vejo a hora!!!
- Copacabana, Ipanema, Leblon...
- Jura?
- Uhum – eu já estava me sentindo bem mais calmo.
- E o Cristo fica perto desses lugares?
- Não.
- Ah, queria vê-lo. Vir aqui e não ver o Cristo é o mesmo que ir em Aparecida e não ver a Santa.
- Amanhã ou depois eu te levo lá, beleza?
- Leva mesmo?
- Levo sim, mas se ficar me torrando a paciência não levo mais.
- O que houve com o seu humor hoje, hein? Dormiu de calça jeans?
- Pois é, acho que sim! Já chegamos, levanta.
As portas do metrô abriram rapidamente e a multidão que estava dentro do trem desceu na plataforma muito rapidamente.
- Ah, quem dera o metrô de São Paulo fosse vazio assim, né?
- É.
Ele tinha razão. No meu ponto de vista, o transporte do Rio era muito mais vazio que o de São Paulo. A minha sorte era que em Sampa eu quase não andava de transporte público.
- Deixa eu te perguntar, o que você tinha para me falar mesmo? – questionei.
- Ah, menino! Nem te conto... Maior tristeza...
- O que foi?
- Assassinaram o tio da Amanda!
- Nossa, que horror... Foi assalto?
- Foi. Muita dó, a coitada ficou arrasada.
- Imagino.
- Mas já superou. Foi no começo do ano.
- Hum... Quando eu for lá semana que vem, vou visitá-la.
- Faz isso sim. Posso ser indiscreto?
- Fala? – eu estava até com medo do que ele ia perguntar.
- Você vai... na sua casa?
- Não! Claro que não, que pergunta!
- Não vai nem falar com a sua mãe?
- Não. Não quero ser humilhado de novo.
- Pensei que já tinha superado, sei lá.
- Você fala isso porque não foi com você. Superar eu até superei, mas isso não significa que eu queira passar por tudo de novo.
- Será que sua família não se arrependeu?
- Duvido muito. Você tem alguma notícia deles para me dar?
- Não. Nenhuma. Acredito que tudo esteja exatamente igual. Quer dizer, pelo menos é isso que eu acho.
- Você ainda vê meu irmão?
- Às vezes sim. Cada dia com uma garota diferente...
- E ele mudou em alguma coisa?
- Não. Está igualzinho à você. É incrível que mesmo estando longe, vocês ainda mantém o mesmo jeito.
- Como assim?
- Assim, mesmo você e o Cauã morando longe, o jeito de ser dos dois ainda é o mesmo... Os gostos, as roupas, o cabelo... Tudo parece.
- Somos gêmeos, esqueceu?
- Não esqueci, mas você entendeu o que eu quis dizer.
- Entendi sim.
- Nós estamos longe da praia?
- Nâo. Já estamos chegando.
Quando o garoto colocou os olhos no mar de Copa, quase caiu para trás.
- Isso daqui é real?
- Uhum. Quer que eu te belisque?
Não esperei a resposta dele e foi através do braço do meu amigo que eu soltei a raiva que estava sentindo do Bruno.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAI, VIADO! – ele gritou de dor. – Filho da puta!
- Desculpa, eu precisava fazer isso – dei risada e me senti muito, muito melhor.
- Precisava ser em mim, desgraça?
- Você estava mais próximo. Relaxa e curte a praia, parceiro.
- Depois dessa eu vou te afogar no oceano, infeliz.
- Nem vem, nem na água eu vou pisar.
- Seu trouxa – ele estava passando a mão por cima do beliscão que eu dei.
- Desculpa, foi mau...
- Foi péssimo!
Víctor parecia um peixe, não queria sair de dentro do mar. Perdi as contas de quantas vezes eu o chamei para a gente conhecer a praia de Ipanema, mas ele não me dava ouvidos.
- Víctor? Eu vou embora, hein?
- Já estou indo, Caio...
- Você disse isso há meia hora atrás. Já vai escurecer, quer fazer o favor de sair daí?
- Que inferno, hein? – ele bufou de raiva e saiu da água totalmente contrariado.
- Se dependesse de você, você ficaria aí até o dia amanhecer. Nunca vi gostar tanto de água assim...
- Não sou como você que não curte água, Caio – ele fez questão de sacodir o cabelo para me molhar.
- Eu gosto de água doce, não de água salgada.
- Uhum, sei... Vem cá, Ipanema é muito longe daqui?
- Uns 15 minutos andando.
- Vamos lá?
- Vamos, não tem nada para fazer mesmo!!!
E pelo menos eu ia ter a chance de relaxar um pouco mais. Ver o mar, ouvir o barulho das ondas e sentir o cheiro da maresia era a única terapia que me surtia efeito nos momentos em que eu estava irritado ou chateado.
- Caio Monteiro, estou pensando seriamente em me mudar para essa cidade maravilhosa – ele suspirou quando nós chegamos em Ipanema.
- Vem cá, você não disse que a minha cidade era feia?
- Mas é mesmo. Como eu te falei, são os extremos. Literalmente.
- Entendi.
- Deixa eu te perguntar... Há quanto tempo você adquiriu esse sotaque cariocano?
- Cariocano?
- Carioca com paulistano?
- Ai, Víctor – eu dei risada. – Só você mesmo.
- Verdade, pô. Me espera aqui, vou dar um mergulho e já volto!
- De novo?!
Ele ficou de sunga e saiu correndo pro mar. Eu sentei na areia macia, fiquei olhando o vai-e-vem das ondas e aos poucos fui colocando a minha mente no lugar.
Não ia adiantar de nada eu ficar nervoso, irritado ou com raiva do Bruno. O único prejudicado nessa história seria eu mesmo e aquilo eu não queria e não ia permitir que acontecesse.
Ao invés de ficar julgando o que tinha acontecido, eu fiquei olhando pro mar, pro céu, pra lua, para as estrelas... E toda a raiva que existia dentro do meu peito se exauriu de vez, até o momento em que ele chegou ao meu lado e disse:
- Oi, Caio!
Quando eu olhei para trás, levei o maior susto. O que ele estava fazendo ali e como havia me encontrado no meio de tanta gente que estava na praia?
- Tudo bem? Posso me sentar ao seu lado?
- Como você me encontrou aqui? – perguntei com o coração batendo forte.
- Ué? Eu estava andando pela praia, te vi e resolvi falar com você. Por acaso eu não posso?
- Poder pode, desde que você não venha me falar do...
- Pode deixar que eu não vou falar do Bruno – Vítor sentou ao meu lado e estendeu a mão.
Mesmo sem querer, tive que ser educado e apertar a mão do garoto. Ele abriu um sorriso até que bonito e depois ficou olhando pro mar, como eu estava fazendo.
- Lindo, não?
- Extremamente – eu concordei. – Acho que nada supera esse lugar.
- Búzios. Búzios supera. Já foi lá?
- Não.
- É muito, mas muito lindo. Principalmente a Praia de Ferradurinha.
- Bom saber, quando eu tiver oportunidade irei conhecer.
- Não irá se arrepender. Você não está sozinho, não é?
- Não – confirmei. – O meu amigo está na água.
- Amigo mesmo? – ele sorriu.
- Amigo sim. Melhor amigo para ser sincero.
- Hum...
- Aproveitando que você está aqui, queria te pedir desculpas – de repente eu me senti na obrigação de me redimir por tê-lo tratado mal na última vez em que nos encontramos.
- Relaxa, Caio. Eu te entendo, sabia?
- Me entende?
- Entendo sim – Vítor garantiu. – Eu no seu lugar, teria feito a mesma coisa.
- Desculpa, de verdade. Acho que eu passei um pouco dos limites.
- Acontece. Sem problemas, já passou e eu não guardo rancor. Tanto é que vim até aqui falar com você.
- Obrigado. Prometo que não vou mais fazer isso com você, mas com uma condição.
- Qual?!
- Por obséquio – eu não sei de onde eu tirei essa palavra –, não me traga notícias dele, está bem?
O garoto de 17 anos sorriu novamente.
- Pode deixar que eu não vou te dar notícias dele.
- Obrigado. Fico aliviado.
- Tranquilo. E aí, como você está?
- Bem. Muito bem. Agora eu estou bem.
- Por que “agora eu estou bem”?
- Porque eu fiquei com raiva quando vi você aí. Pensei que viria me torrar a paciência com notícias daquele...
- Daquele? – ele me olhou com as sobrancelhas erguidas.
- Garoto – eu finalizei a frase.
- Na verdade, eu tenho sim um recado dele para você, mas como você não quer ouvir, eu é que não vou dar murro em ponta de faca!
- Te agradeço imensamente. E você, está bem?
- Estou sim, graças a Deus.
- Hum, que bom!
Eu não tinha raiva do Vítor. Eu só não queria que ele fosse falar do Bruno para mim. Se ele mantivesse um diálogo bacana, sem tocar no nome dele, nós poderíamos até ser amigos.
Nós ficamos em silêncio por um longo período. Acho que o assunto tinha acabado.
- Meu amigo não volta do mar. Acho que morreu afogado.
- Não é melhor ver se está tudo bem?
- Está sim, daqui eu estou enxergando o filho da mãe.
- Ah! Quem é?
- É aquele ali, de sunga preta...
- Aquele que está de frente pra gente?
- Uhum.
- Gatinho, hein?! Eu vou, hein?
Eu dei risada.
- Eu não vou.
Nessa época, aquele tal de “Vô”; “Não Vô”, estava começando a fazer sucesso no Orkut.
- Ele curte?
- Aham – dei risada.
- Opa! Melhor ainda...
Não demorou muito e o Víctor saiu da água e foi até onde nós estávamos.
- Finalmente decidiu sair de lá – comentei.
- A água está esfriando – Víctor estava até tremendo de frio.
O outro Vítor pigarreou e eu me lembrei que tinha que apresentá-los:
- Ah, Víctor, deixa eu te apresentar. Esse é o Vítor, um conhecido meu. Vítor, esse é o Víctor, meu melhor amigo.
- Hã? – Víctor não entendeu nada.
- Ele é meu xará? – perguntou Vítor.
- É sim – eu ri.
- Nossa, que emoção – Vítor levantou e estendeu a mão. – Tudo bom, xará?
- Bem e você?
- Bem também.
- Você não é daqui, né?
- Não. Eu sou de São Paulo, cara. Estou à passeio apenas.
- Bacana. Adorei seu nome, viu?
- E eu o seu.
Eles deram risada e eu fiquei de escanteio.
- Fiquem aí se conhecendo, eu vou dar uma volta na beira do mar e já volto.
- Não demora, quero conhecer mais praias – disse meu melhor amigo.
- Pode deixar,
Ainda estava cedo, mas a noite já havia caído e o céu parecia tempestuoso. Várias nuvens enormes estavam tampando a lua e aquilo me deixou um pouco encucado. Será que ia chover?
Caminhei cerca de 20 minutos para dar tempo dos xarás se conhecerem e quando o tempo começou a mudar pra valer, achei melhor voltar até onde eles estavam e em seguida, voltar para casa.
- Atrapalho? – perguntei,
- Não – eles falaram em uníssono.
- Víctor, acho melhor a gente voltar para casa. Vai começar a chover.
- Ah... Eu queria ir para o Leblon!
- Não vai dar não, amanhã eu te levo até lá.
- Que saco!
- Quer ficar na chuva? Se quiser a gente fica!
- Já estou todo molhado mesmo – ele riu.
- É né, bonitão? Mas eu não!
- Problema é seu...
- Nem vem que não tem, vamos embora para casa.
- Deixa o cara, Caio – Vítor se meteu.
- Eu até deixaria, Vítor. O pronlema é que ele não vai saber voltar sozinho.
- Não vou mesmo. E tenho medo de me perder...
- Pois é. Vamos logo antes que comece o temporal.
- Nem vai chover – ele se levantou.
- Você que pensa.
- Acho que também vou indo – disse Vítor.
- A gente se vê, Vítor – eu falei.
- Vamos juntos, poxa. Vocês vão de metrô?
- Uhum.
- A minha casa fica no caminho. Esqueceu?
Suspirei.
- Não, não esqueci.
- De onde vocês se conhecem? – perguntou Víctor.
- Ele é o melhor amigo do meu ex – falei rapidamente.
- Sério?
- Uhum – Vítor confirmou.
- Posso perguntar uma coisa?
- Claro – Vítor concordou.
- Seu amigo não está aqui não, né? – perguntou Víctor.
- Não! Ele ainda não voltou da Espanha. Por quê?
- Porque se eu encontrá-lo pessoalmente, eu vou quebrar todos os dentes da boca dele!
- Isso é que é defender o amigo, hein? – o cara deu risada.
- Na boa? Podemos mudar o rumo da prosa?
- Desculpa, Caio – Vítor se redimiu, - Eu sei que esse assunto ainda mexe com você.
- É mesmo. Desculpa, Caio – o outro Víctor também se redimiu.
- Tudo bem. Só não falem mais nele, por favor.
E não falaram mesmo. Eu deixei os dois trocando ideia na minha frente e fui caminhando atrás deles, mas em uma distância confortável para não ouvir o que eles conversavam.
- Bom eu fico aqui – disse Vítor. – Essa é a minha casa, Víctor. Se quiser entrar...
- Não vai dar – eu interrompi. – Nós temos que ir para casa.
- Ele é muito estraga prazeres – meu melhor amigo bufou de raiva.
- Não faltarão oportunidades – Vítor abriu um sorriso.
- Assim espero – Víctor retribuiu o sorriso e eu revirei os olhos.
Era só o que faltava: os dois xarás se pegarem ali no meio da rua.
- Até mais então.
- Até – Víctor apertou a mão do xará e em seguida foi a minha vez.
- Não dê nenhuma notícia minha ao seu amigo, por favor – eu recomendei.
- Pode deixar. A minha boca é um túmulo.
- Assim espero. Tchau.
- Tchau – ele acenou e em seguida entrou na garagem e fechou o portão.
- Gostei dele – meu amigo falou quando nós não estávamos mais na rua do garoto.
- Já quer pegar, né?
- Certeza! Eu não vou sair do Rio sem pegar pelo menos um, né?
- Relaxa, já te falei que no sábado vou te levar em uma balada onde você vai se acabar.
- Não vejo a hora!!!
- Caio, uma tal de Eduarda te ligou –
informou Rodrigo, assim que Víctor e eu chegamos na república.
- Ah, é? E o que ela queria?
- Pediu para você ir na loja amanhã sem falta.
- Só falou isso?
- Uhum.
- Obrigado, Rodrigo – eu abri um sorriso.
Pelo que parecia, ele estava bem mais calmo comigo. Será que já tinha me perdoado?
- Quem é Eduarda? – perguntou Víctor.
- Minha chefe.
- Hum. Nome bonito!
- Também acho.
Não demorou muito e uma chuva muito forte começou a cair na cidade do Rio de Janeiro. Acredito que aquela foi a primeira chuva de vento que eu presenciei desde que havia me mudado para aquela cidade, quase 2 anos antes. Ou seria exagero de minha parte?
- Impossível que você nunca tenha presenciado uma chuva dessas aqui no Rio, Caio – Víctor não acreditou em mim.
- Não que eu me lembre – dei de ombros.
- Tem roupa no varal, Caio? – perguntou Rodrigo.
- Não sei, cara...
- Vou lá dar uma olhada.
Ele voltou todo ensopado e eu fiquei com pena de não ter ido ajudá-lo.
- Tinha? – perguntei.
- Um monte de cueca e umas roupas do Maicon eu acho. Consegui salvar algumas.
- Desculpa não ter ido te ajudar.
- Tranquilo.
- Ah, é? E o que ela queria?
- Pediu para você ir na loja amanhã sem falta.
- Só falou isso?
- Uhum.
- Obrigado, Rodrigo – eu abri um sorriso.
Pelo que parecia, ele estava bem mais calmo comigo. Será que já tinha me perdoado?
- Quem é Eduarda? – perguntou Víctor.
- Minha chefe.
- Hum. Nome bonito!
- Também acho.
Não demorou muito e uma chuva muito forte começou a cair na cidade do Rio de Janeiro. Acredito que aquela foi a primeira chuva de vento que eu presenciei desde que havia me mudado para aquela cidade, quase 2 anos antes. Ou seria exagero de minha parte?
- Impossível que você nunca tenha presenciado uma chuva dessas aqui no Rio, Caio – Víctor não acreditou em mim.
- Não que eu me lembre – dei de ombros.
- Tem roupa no varal, Caio? – perguntou Rodrigo.
- Não sei, cara...
- Vou lá dar uma olhada.
Ele voltou todo ensopado e eu fiquei com pena de não ter ido ajudá-lo.
- Tinha? – perguntei.
- Um monte de cueca e umas roupas do Maicon eu acho. Consegui salvar algumas.
- Desculpa não ter ido te ajudar.
- Tranquilo.
NA
MANHÃ SEGUINTE...
Eu cheguei na loja no exato momento em
que ela abriu. Entrei e fui logo à procura da Eduarda, mas eu não consegui
encontrá-la.
- Posso te ajudar? – perguntou uma jovem senhora.
- Pode sim, gostaria de falar com a Eduarda?
- Ah, ela não está. Posso ajudá-lo?
- Seria só com ela.
- Aconteceu algum problema com sua compra?
- Não – eu sorri. – Não sou cliente não, sou funcionário!
- Ah, você é funcionário! É que eu nunca te vi por aqui...
- Sou novo na loja, ainda nem comecei o treinamento!
- Hum, entendi.
- Ela me ligou ontem e pediu para eu vir hoje... Sabe se ela demora?
- Foi em uma reunião com o nosso gerente regional. Não sei se vai demorar.
- Poxa vida, vou ter que esperar... Eu volto mais tarde então. Muito obrigado!
- Por nada!!!
Eu dei meia volta e saí andando. Aquele não era meu dia de sorte! Ia ter que ficar preso naquele shopping até sabe-se lá que horas...
E foi quando eu ia abandonar a loja que tudo aconteceu. Por uma mera distração, eu bati de frente com o corpo de um rapaz que tinha a mesma altura que eu e devido ao impacto, nós quase caímos de costas no chão:
- Desculpa – falei. – Foi sem querer!!!
- Não olha por onde anda não? – ele reclamou, mas também tinha culpa no cartório.
- Foi mau... Desculpa mesmo...
- Tudo bem – ele suspirou e me fitou no fundo dos olhos.
Foi aí que meu coração quase parou de tanta emoção. Não sei explicar o motivo, mas fiquei sem sentir o chão quando ele me lançou aquele olhar tão penetrante...
Como era gracioso! Alto, branco, corpo e rosto bonitos... Um verdadeiro gatinho, mas é claro que ele não ia curtir a parada, né?
- Desculpa mesmo – falei novamente.
- Não tem problema, a culpa foi minha. Eu que peço desculpas – ele abriu um sorriso e mostrou os dentes incrivelmente brancos e com aparelho.
- A culpa é nossa – eu ri.
- Pois é. Você trabalha aqui?
- Ainda não. Começo semana que vem,..
- Sério? Eu também! Eu precisava falar com a Duda, sabe se ela está aí?
- Não, ela não está. Eu também preciso falar com ela, mas ela está em reunião e não sabem dizer que horas ela volta.
- Que ótimo, hein?
- Né?
- O jeito é voltar mais tarde...
- Pois é!
- Então tá... A gente se vê.
- Uhum, a gente se vê – eu concordei.
- Nossa, que mal-educado que eu sou... – ele abriu outro sorriso. – Nem perguntei o seu nome! Como se chama?
- Caio. E você?
- Muito prazer, Caio – o garoto estendeu a mão direita. – Eu me chamo Henrique.

- Posso te ajudar? – perguntou uma jovem senhora.
- Pode sim, gostaria de falar com a Eduarda?
- Ah, ela não está. Posso ajudá-lo?
- Seria só com ela.
- Aconteceu algum problema com sua compra?
- Não – eu sorri. – Não sou cliente não, sou funcionário!
- Ah, você é funcionário! É que eu nunca te vi por aqui...
- Sou novo na loja, ainda nem comecei o treinamento!
- Hum, entendi.
- Ela me ligou ontem e pediu para eu vir hoje... Sabe se ela demora?
- Foi em uma reunião com o nosso gerente regional. Não sei se vai demorar.
- Poxa vida, vou ter que esperar... Eu volto mais tarde então. Muito obrigado!
- Por nada!!!
Eu dei meia volta e saí andando. Aquele não era meu dia de sorte! Ia ter que ficar preso naquele shopping até sabe-se lá que horas...
E foi quando eu ia abandonar a loja que tudo aconteceu. Por uma mera distração, eu bati de frente com o corpo de um rapaz que tinha a mesma altura que eu e devido ao impacto, nós quase caímos de costas no chão:
- Desculpa – falei. – Foi sem querer!!!
- Não olha por onde anda não? – ele reclamou, mas também tinha culpa no cartório.
- Foi mau... Desculpa mesmo...
- Tudo bem – ele suspirou e me fitou no fundo dos olhos.
Foi aí que meu coração quase parou de tanta emoção. Não sei explicar o motivo, mas fiquei sem sentir o chão quando ele me lançou aquele olhar tão penetrante...
Como era gracioso! Alto, branco, corpo e rosto bonitos... Um verdadeiro gatinho, mas é claro que ele não ia curtir a parada, né?
- Desculpa mesmo – falei novamente.
- Não tem problema, a culpa foi minha. Eu que peço desculpas – ele abriu um sorriso e mostrou os dentes incrivelmente brancos e com aparelho.
- A culpa é nossa – eu ri.
- Pois é. Você trabalha aqui?
- Ainda não. Começo semana que vem,..
- Sério? Eu também! Eu precisava falar com a Duda, sabe se ela está aí?
- Não, ela não está. Eu também preciso falar com ela, mas ela está em reunião e não sabem dizer que horas ela volta.
- Que ótimo, hein?
- Né?
- O jeito é voltar mais tarde...
- Pois é!
- Então tá... A gente se vê.
- Uhum, a gente se vê – eu concordei.
- Nossa, que mal-educado que eu sou... – ele abriu outro sorriso. – Nem perguntei o seu nome! Como se chama?
- Caio. E você?
- Muito prazer, Caio – o garoto estendeu a mão direita. – Eu me chamo Henrique.
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