sábado, 24 de janeiro de 2015

Capítulo 88

E
u fechei meus olhos, deixei o celular cair e mergulhei na minha dor. A Jana me abraçou tão forte, mas tão forte que eu senti as minhas costelas doerem.



- Calma – ela tentou me tranquilizar. – Vai ficar tudo bem.
- Ela não quer me ver – eu solucei. – Ela não quer me ver...
Eu chorei como nunca havia chorado antes, até mais do que quando fui expulso de casa, até mais do que quando o Bruno me largou. O meu desespero foi tão forte que eu me senti mal de verdade. Fiquei sem ar, engasguei com a minha saliva e quase desmaiei de tanta emoção.
- Você está se sentindo bem? – Janaína ficou preocupada e abriu os vidros da van. – Quer um copo com água?
- Eu quero... eu quero... eu quero sair... sair daqui...
- Fica calmo, meu amor... nós já vamos embora daqui...
Eu deitei no banco do veículo e uni meus joelhos ao peito. Eu estava sentindo uma dor tão grande dentro do meu coração que seria capaz de jurar que nunca mais sentiria algo daquele jeito... A dor que eu senti quando fui abandonado pelo Bruno nem chegou aos pés daquela que estava sentindo naquele momento. Era mais uma vez a dor da rejeição, mas eram rejeições tão antônimas e ao mesmo tempo tão sinônimas!
- Ai meu Deus, o que eu faço? – a Jana estava preocupada, muitíssimo preocupada.
Senti a minha língua ficar mais grossa que o normal e em seguida ela começou a doer. Se antes eu já estava sem ar, naquele momento então quase não consegui respirar.



- O que foi, Caio? – ela me sacodiu. – FALA COMIGO, MENINO!
Comecei a tossir feito um louco. Juntou o choro, a gripe, a falta de ar, o desespero e a tristeza e eu fiquei totalmente inerte.
- Ai meu Jesus Cristo, o menino vai morrer... – as mãos da minha amiga estavam suadas e muito frias. – Socorro minha Virgem Santíssima... ACODE AQUI, ACODE AQUI...
Janaína colocou minha cabeça no colo dela e empurrou meu queixo para trás. Fiquei ainda mais sem ar, mas pelo menos a língua voltou ao normal.
- Respira, criatura... Eu estou assustada!!! – aparentemente ela estava tremendo.
Só o que eu precisava naquele momento era desabafar. Soltar tudo o que estava preso na minha garganta. Só isso iria fazer eu me sentir pelo menos um pouco melhor.
E foi isso mesmo que eu fiz. Por sorte ou por um pedido da Janaína, o Ricardo demorou muito a voltar e quando ele voltou, eu já estava um pouco mais calmo. Eu não queria ter que dar explicações à ele.
- Parte pro hotel, urgente – falou a morena, assim que o motorista chegou na van.
Eu fechei os olhos e fiquei lembrando de muitas coisas que eu a minha mãe tínhamos vivido. Por que as coisas tinham que ser daquele jeito, por quê?!
- Quer alguma coisa? – ela acariciou meu rosto.
- Eu só quero paz...
- Vai ficar tudo bem, eu prometo – minha amiga deu um beijo muito carinhoso no meu rosto. – Você está melhor?
Será? Será mesmo que ia ficar tudo bem?
- Não fica assim, meu lindo – ela estava tão carinhosa comigo... – Eu odeio te ver assim! Me responde: você está melhor?
- Um pouco – minha voz foi quase inaudível.
Como eu poderia estar bem sendo rejeitado por minha própria mãe?
- Ai meu Deus, o que eu faço? A culpa é toda minha... Eu não deveria ter feito isso... – ela colocou as duas mãos na cabeça e bagunçou os cabelos. A garota ficou parecendo uma doida.
Não falei nada. Ela secou as minhas lágrimas muito pacientemente e aos poucos, muito aos poucos, eu fui parando de chorar.



Quando cheguei no hotel, já estava com o rosto seco, mas meus olhos provavelmente estavam inchados porque eu não estava enxergando quase nada.
- Obrigada, Ricardo – Janaína me conduziu para fora do carro. – Sigilo absoluto, está bem?
- Fica tranquila! Se precisarem é só me ligar, seja a hora que for.
- Obrigada mesmo!
Ela me empurrou pelo hotel e eu senti uma vontade imensa de sentar quando nós entramos no elevador.
- Está passando mal? Quer ir ao médico? – ela me segurou e me colocou de pé.
- Fica tranquila, Jana – minha voz estava horrível. – Eu só preciso da minha cama e de um bom banho.
- Desculpa ter feito você passar por tudo isso, Caio.
- A culpa não é sua, Jana. Eu te agradeço muito por você ter me encorajado a fazer isso, só assim eu descobri o tipo de mãe que eu tenho.
Acho que a dor e a tristeza foram se transformando em raiva e amargura.
- Sua mãe não é mãe, é uma cascavel,  é uma cobra bem venenosa, é isso que ela é!!!
- Eles me odeiam! – foi a conclusão que eu cheguei. – Todos me odeiam naquela família, todos...
Voltei a chorar. Nem me dei conta que o elevador já tinha parado de subir.
- Oh, meu amor – Jana me abraçou com muito carinho. – Mas nós te amamos! Seus amigos te amam, do jeitinho que você é!
- O-obrigado – eu funguei e sequei as lágrimas. – Você é muito importante pra mim.
- Agora seca esses olhinhos e para de chorar. Vamos esquecer tudo o que aconteceu, está bem?
- Vou tentar... Prometo que vou tentar...
- É assim que se fala! Ânimo e vamos tocar o barco como estávamos fazendo.
- Muito obrigado, Jana! Muito obrigado mesmo. Não sei o que seria de mim sem você.
- Sabe que pode contar comigo incondicionalmente. Você não tem sua família de sangue, mas pode me considerar sua irmã mais velha. Eu vou cuidar de você, meu lindo!
- Nem sei... nem sei como eu posso te agradecer...
- Melhorando! Me agradeça melhorando e erguendo essa cabecinha linda.
- Tentarei. Só o tempo pra curar o que eu estou sentindo.
- Verdade; portanto, dê tempo ao tempo. Tudo vai melhorar, você vai ver!
- Assim espero!
- Agora vai lá pro quarto, toma aquele banho bem gostoso e depois desce para o meu gabinete pra gente ir jantar, tá bom?
- Não, eu não quero jantar não. Não sinto fome.
- Você tem que comer, menino. Saco vazio não para em pé...
- Não, de verdade. Não quero comer mesmo. Sem fome.
- Não vou insistir. Se quiser, se precisar de alguma coisa, qualquer coisa, é só me ligar ou colar no meu palacete.
- Não se preocupe, eu já estou melhorzinho.
- Graças a Deus! Mas não hesite em me procurar, Caio! Não mesmo.
- Pode deixar, Jana. Muito obrigado por tudo, de coração.
- Não tem nada que agradecer. Eu te adoro e você sabe.
- Também te adoro!

Nos abraçamos e em seguida eu entrei no meu quarto. Gabriel não estava nos nossos aposentos. Provavelmente estava na academia. Foi bom porque ele não me viu chorando.
Não fui pro banho como queria. Quando olhei pra minha cama, não tive como resistir e caí deitado em cima dela.



Chorei tudo de novo e talvez até mais do que eu chorei antes. Como estava sozinho, não precisava frear meus sentimentos e coloquei tudo pra fora de novo. Eu precisava viver aquela dor por completo, precisava chorar, precisava desabafar, precisava soltar tudo o que eu estava sentindo, só assim eu me sentiria melhor depois.
Chorei tanto que a fronha do meu travesseiro ficou molhada. Não sei por quanto tempo fiquei nessa situação e tampouco me preocupei com as horas ou com o quê estava acontecendo no mundo ao meu redor.
Eu estava me sentindo em um poço. Estava me sentindo no fundo do poço. Era como se eu estivesse em um quarto escuro, onde não tinha portas, nem janelas, nem luz, nem nada a não ser eu, a dor insuportável que eu estava sentindo e a mais tenebrosa de todas as escuridões.
Primeiro, fui rejeitado pelo meu pai. Espancado, humilhado, pisoteado e expulso quase que a pontapés de casa. Fui tratado como o pior ser humano da face da Terra. Fui tratado como um delinquente, como um marginal, como um criminoso só pelo fato de ser gay.
Depois, fui humilhado pelo meu irmão. Ele me ofendeu, me xingou, me disse coisas horríveis e ficou se vangloriando porque saí de casa.
Minha mãe não me apoiou. Não fez nada para me ajudar, não estendeu a mão no momento em que eu mais precisei dela. Ela foi complacente com a atitude do meu pai e naquele momento, quando enfim eu tive oportunidade de encontrá-la, oportunidade de procurá-la, ela também me virou as costas.
Que espécie de família era essa? Que espécie de pessoas eram essas que gostavam de ver o sofrimento alheio? Será que eles pensavam que eu não tinha sentimentos? Será que eles não pensavam em mim? Em tudo o que eles me obrigaram a viver? Será que eles pensavam que eu era de ferro?
Não, eu não era de ferro e sim, eu tinha sentimentos! Eu era de carne e osso e tinha um coração que batia dentro do meu peito! Coração esse que estava mutilado, esquartejado e cansado de tanto sofrimento!
Eu estava sangrando por conta de tudo o que estava acontecendo. Sempre abandonado, sempre humilhado, sempre pisoteado... Ninguém gostava de mim, ninguém pensava em mim...
Eu não aguentava mais tanto sofrimento como aquele. Abandonado pela família, abandonado pelo namorado... Quem seria o próximo? Ou quem seriam os próximos? Os garotos da república?
Será que eu era tão ruim assim pra todo mundo me querer pelas costas? Será que eu era tão ruim assim que todo mundo queria me ver longe de tudo e de todos? Será que eu era tão ruim assim que não merecia o amor da minha família e das pessoas que me cercavam?
Por que só comigo? Por que tudo comigo? Por que as coisas só aconteciam comigo? Parecia até que o mundo estava conbrando mais de mim do que dos outros. Parecia até que eu estava carregando um peso que não era meu, problemas que não eram meus, uma vida que não era minha.
Eu não entendia, eu não compreendia porquê tudo tinha que ser daquele jeito! Por mais que eu tentasse, nada vinha na minha mente...
Era abandono de um lado, abandono do outro, rejeição de um lado, rejeição do outro... Até quando seria daquele jeito, meu Deus? Será que eu não merecia ser feliz? Por que eu não merecia ser feliz?
Será que eu não ia ser feliz nunca? Será que eu estava condenado à infelicidade? Condenado ao sofrimento? E por que tinha que acontecer uma coisa atrás da outra comigo? Por quê?!
Quando finalmente me recuperei do abandono do meu pai, veio o abandono do Bruno e quando me recuperei do abandono do Bruno, veio o abandono da minha mãe. Minha própria mãe... Aquela que me carregou no ventre por 7 meses...
Como foi difícil suportar aquela dor. Como foi difícil enxergar uma luz no fim do túnel... Como foi difícil acreditar que tudo iria dar certo no final das contas...
Parecia até que a vida estava querendo me dar uma rasteira. Era sofrimento atrás de sofrimento. Se eu fosse listar tudo o que já tinha vivido de ruim naqueles 2 ultimos anos, iria dar uma folha de caderno inteira escrita na frente e no verso.
Entretanto, se a vida queria me dar uma rasteira, ela não ia conseguir! Eu não ia permitir! Eu não merecia passar por tudo aquilo, não merecia!!!
Se a vida queria me dar uma rasteira, ela teria que tentar novamente. Porque, mesmo estando em frangalhos, eu ia dar a volta por cima, da mesma forma que eu fiz das outras vezes.
Talvez pudesse demorar alguns dias, algumas semanas ou até mesmo alguns poucos meses, mas eu ia dar a volta por cima!
Eu ia chorar, ia berrar, ia soltar toda a dor que estava presa no meu peito, porém depois eu não ia mais fazer nada disso.
Eu tinha que viver aquela dor pra poder me fortalecer, pra poder alimentar o meu esopírito, pra criar forças para dar a volta por cima.
E eu ia dar a volta por cima, eu tinha certeza que ia. Se a minha mãe não me queria, eu é que não ia me rebaixar a ponto de procurá-la novamente. Ela que ficasse ao lado do filhinho preferido dela, o Cauã.
Porque ele também deveria ser o filho preferido dela. Eu nunca passei de um intruso naquele lar e aquela nunca foi a minha família de verdade. Então, eu não tinha motivos para alimentar falsas esperanças. E eu não ia alimentar mais nada por eles, mais nada!
Quando o Gabriel chegou eu ainda estava deitado, mas já não chorava mais. Ele me viu naquele estado, mas teve a delicadeza de não perguntar o que havia acontecido. Provavelmente a Janaína o alertou a respeito de tudo o que rolou entre a minha mãe e eu.
- Vou pro banho e já volto – só foi isso que ele disse.
O cheiro de suor mais uma vez tomou conta do quarto, mas como nas vezes anteriores, não era um cheiro desagradável. Não sei explicar o que acontecia com o Gabo, mas ele não ficava fedorento quando ficava suado. Ou eu estava ficando alucinado?
Me virei e fiquei olhando o horizonte pela vidraça da varanda. Toda a chuva que estava ameaçando cair nos dias anteriores de repente se fez presente e muito rapidamente, todo o vidro ficou completamente ambaçado.
- Caralho, que tempestade é essa? – ele saiu só de toalha.
Não consegui falar nada e nem esbocei nenhuma reação. Eu queria e precisava ficar quietinho. Precisava curtir a minha solidão, pois era assim que eu estava me sentindo. Solitário, sem ninguém, sem um lugar no mundo pra chamar de meu.
Por mais que eu tivesse a Janaína, a Alexia, o Gabriel, o Vini, o Fabrício, o Víctor e o Rodrigo ao meu lado, nenhum deles era capaz de suprir a falta que minha família fazia.
Os meninos até podiam ficar no lugar do Cauã e as meninas podiam até ficar como minhas irmãs, mas quem ia substituir meu pai e minha mãe?
Tenho certeza que a Dona Elvira faria muito bem esses papeis, mas ela não estava mais morando no Rio, então de que me adiantaria contar com ela?
O jeito era me conformar com a solidão mesmo. O jeito era seguir adiante como a Jana havia falado, tocar o barco sem olhar para trás. Deixar o passado onde ele tinha que ficar, por mais difícil que isso fosse.
- Vou usar o lap, pode? – ele tentou puxar assunto.
Mais uma vez não respondi nada. Gabriel estava ali, mas era como se ele não estivesse. Não era questão de fingir que ele não estava no quarto, eu simplesmente não tinha forças para falar com ele. Acho que a minha voz nem ia sair se eu abrisse a boca.
Meu amigo foi muito paciente comigo e não puxou mais assunto durante o resto da noite. Quando os trovões diminuíram, eu finalmente criei coragem e fui tomar meu banho, mas não fiquei debaixo do chuveiro tanto tempo quanto gostaria.
E assim eu passei a noite. Calado, triste e sem nenhuma expectativa de reencontrar meus familiares. Naquele momento, eu tive certeza que mesmo que se passassem 50 anos, eu não mais os veria. Naquele momento eu tive certeza que eu ia morrer e não ia mais reencontrá-los.
Sim, eu ia ter que seguir sozinho. Sozinho pela vida, sozinho por todos os lados. Eles não me queriam e eu estava sofrendo por causa disso. De duas uma: ou eu era idiota, ou eu os amava demais. E eu não sabia qual das duas opções se encaixava naquele momento da minha vida.

“Eu estava caminhando por uma estrada de terra batida. Do meu lado direito, havia uma cerca e uma pastagem imensa e do meu lado esquerdo muitas árvores de todos os tamanhos e formas possíveis e imagináveis.
Ao fundo, eu conseguia ouvir nitidamente o cântico de alguns pássaros. Eu estava tão calmo, tão tranquilo!
Mas de repente, eles apareceram na minha frente e minha calma deu lugar ao desespero. Minha mãe, meu pai e meu irmão. Eles riram de mim, gargalharam quando me viram andar sozinho por aquela estrada de terra.
- Nós não gostamos de você! – exclamou minha mãe.
- Eu não tenho um filho gay! – esbravejou meu pai.
- Eu estou muito melhor sem você! – falou Cauã.
Eu comecei a chorar e recuei dois ou três passos, mas eles vieram ao meu encontro e continuaram a me ofender. Comecei a correr como um desesperado, mas eles continuaram atrás de mim, não me deixaram em paz!
- Seu viadinho nojento... – falou Cauã.
- Eu não tenho um filho gay! – repetiu meu pai.
- Nós não gostamos de você! – repetiu minha mãe.
- PAREM, PAREM, POR FAVOR...
Minhas pernas brincaram comigo e eu acabei caindo no chão. E foi o ponto de partida para meu pai começar a me chutar. Ele me chutou nas costas, ao mesmo tempo que o Cauã chutou o meu estômago.
- PAREM... PAREM, POR FAVOR...
Enquanto eles me batiam, a minha mãe dava risada. Todos riam enquanto eu chorava. Sozinho, largado e ainda por cima espancado. Seria melhor morrer para não sentir tanta dor como eu estava sentindo.
Mas logo eles foram embora rindo. Os três viraram as costas e me deixaram jogado no chão de terra batida. Eu senti gosto de sangue na minha boca e um líquido quente saiu do meu nariz.
Não estava sentindo minhas pernas, nem meus braços. Choraminguei de dor na alma e dor no corpo. Por que aquilo tinha que acontecer comigo?
Fechei meus olhos e tentei respirar fundo para criar forças para levantar, mas não consegui. Será que eu estava morto? Não estava mais sentindo meu corpo, não estava mais sentindo nenhuma dor...
Foi quando eu abri os olhos que eu a vi parada na minha frente.
Era uma mulher muito bonita e tinha um sorriso muito bondoso nos lábios. Ela estendeu a mão e fez sinal para que eu levantasse e por incrível que pareça, eu consegui levantar.
Me coloquei de pé e uma paz imensa, gigantesca, infinita tomou conta do meu ser. Era como se todos os meus problemas tivessem sido solucionados...
- Fica calmo – ela falou com uma voz linda e muito doce. – Vai ficar tudo bem agora!
Quem era aquela mulher? E por que ela estava falando aquilo?
Ela parecia ser uma camponesa que vivia com simplicidade. A pele dela era branca como leite e os olhos incrivelmente claros, mas o que mais me chamava a atenção, era seu sorriso bondoso.
A mulher vestia um vestido tão simples, mas tão simples, que não fazia jus a beleza que ela tinha. Ela merecia vestir algo melhor...
- Quem é você?
Ela manteve o mesmo sorriso nos lábios e não falou nada.
- Estenda a mão, Caio – a mulher pediu e eu obedeci imediatamente.
A pele dela era sedosa e muito quente. Eu senti uma onda de calor tomar conta de todo o meu corpo e a paz que eu já estava sentindo antes, se multiplicou a tal ponto que parecia que eu estava flutuando.
- Não se preocupe com mais nada – ela falou com o mesmo tom de voz doce de antes. – Tudo vai dar certo, confie em mim! Você é forte, você vai superar tudo isso.
- Eu estou tão desesperado... – não deveria ter falado aquilo, mas foi o que saiu pelos meus lábios. – Me ajuda, por favor...
- Eu sei que está, mas agora você não está mais sozinho. Eu estou com você e não vou te abandonar. Confie em mim.
- Mas, quem é você? E como sabe meu nome?
- Agora siga o seu caminho. Siga seu caminho sem medo, você não está sozinho! Vá, siga em frente, sem olhar para trás!
Ela me encorajou tanto que eu me virei e dei o primeiro passo. O calor que estava sentindo aumentou e magicamente desapareceu. Eu não sei explicar porque isso aconteceu.
Quem era aquela mulher? Por que ela me disse aquelas coisas? E por que eu estava me sentindo tão bem perto dela?
Olhei para trás e ela estava me olhando com um olhar muito carinhoso. O sorriso permaneceu intacto. Ela era tão boazinha...
- Vá, Caio – ela falou. – Siga seu caminho! Você não está mais sozinho!
Eu me virei de novo e comecei a andar. Andei com passos firmes, passos fortes e sem medo de mais nada.
Não estava mais com medo do que eu podia encontrar pela frente, não estava mais com medo dos obstáculos que viria a enfrentar e não estava mais com medo de estar sozinho.
Era como se eu fosse invencível... Era como se nada nem ninguém pudesse me derrubar. Eu estava me sentindo tão forte, mas tão forte, que conseguiria até derrubar um gigante se fosse necessário...
De repente me lembrei que deveria agradecer por tudo o que ela tinha me falado e por ela ter me encorajado. Sem pensar duas vezes, me virei e fui logo falando:
- Obri... gado...
Mas ela já não estava mais ali. A estrada de terra batida estava novamente vazia e só o que eu conseguia ouvir era o cântico dos passarinhos nas árvores ao meu redor.”


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