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esmo estando totalmente sem forças para fazer nada, eu fui
obrigado a reunir coragem para me livrar daquela situação.
Tudo bem que eu estava amando o que estava acontecendo, mas eu não ia deixar que eles se aproveitassem de mim a ponto de quererem me penetrar ao mesmo tempo.
- Isso não! – eu dei um jeito de me livrar dos corpos deles e fiquei de pé na cama em um salto.
Ambos me olharam com ar de incredulidade.
- Você não vai fazer isso com a gente, né? – Diego ficou revoltado.
- Dupla penetração não rola, na boa!
- E por que não? – Mateus me puxou pela cintura e eu caí de joelhos na frente dele.
- Porque não! Não quero e ponto. Um tudo bem, os dois ao mesmo tempo não!
- Aí você caiu no meu conceito, hein moleque? Estava gostando muito – ele ficou chateado.
- Vão querer desistir só por causa disso? Se eu soubesse que queriam isso desde o começo, nem teria topado.
- A gente não vai desistir – Diego estava batendo uma. – Você ainda vai levar muita rola hoje. Vem, cai de boca!
E eu caí mesmo. Estava mais duro que nunca e muito delicioso. Para o nosso momento ficar perfeito, só faltava eles se beijarem.
- Olha pra mim! – ele mandou e eu fitei aqueles olhos verdes que brilhavam intensamente. – Safado!
- Fica de quatro para eu terminar o serviço, fica? – mandou Mateus.

Ele não foi nada carinhoso. Colocou tudo de uma vez e aumentou e muito o ritmo da penetração. Eu fiquei com a minha pele ardendo de tanto que ele bateu nas minhas nádegas.
- Rebola!
- Assim?
- É, assim mesmo, seu puto...
Como eu desconfiava, não demorou muito tempo para ambos anunciarem o gozo. Eu fiquei de joelhos na cama, batendo pros dois e só esperando o momento do leite sair...
- VOU GOZAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH – Diego enfiou a mão no meio dos meus cabelos, jogou a minha cabeça pra trás e despejou o esperma na minha cara.
E eu que pensava que o Mateus não ia conseguir acompanhar o ritmo do irmão, fiquei totalmente surpreso quando ouvi os gritos dele de prazer e quando senti aquele líquido branco e espesso cair sobre a minha cara.
Foi literalmente um banho de porra. Nunca ninguém havia gozado tanto em mim como aqueles dois. Se bem que eu ainda não era muito experiente no que se dizia respeito a transa com muitos parceiros...
- Ah... – eles gemeram ao mesmo tempo e caíram deitados de costas no colchão.
Foram mais de 5 minutos de gemidos, mesmo depois do ápice já ter acontecido. O que me deixou mais surpreso e ao mesmo tempo contente, foi o fato de nenhum dos dois ter broxado após o gozo.
- Ué, ainda continuam com tesão? – provoquei.
- Muito – responderam ao mesmo tempo. Eles eram mesmo bem sincronizados.
- E isso aí não vai abaixar não? – mas nem o meu havia abaixado ainda!
- Só depois da terceira gozada – Diego deu uma risadinha safada.
- Quer mais uma? – passei a língua nos meus lábios, deitei na cama e me aproximei bem devagar.
- Só se for agora!
Eu comecei a chupá-los novamente, mas com um pouco mais de lentidão porque já estava me sentindo cansado. Por mais que eu não os conhecesse direito, estava me sentindo extremamente à vontade com aqueles garotos e todos os meus escrúpulos deram lugar a libertinagem.
- Isso, safado! Chupa minhas bolas agora – Mateus mandou.

Eu brinquei demais com os irmãos. Não me fiz de rogado em nenhum momento! Aproveitei a oportunidade, liberei a cadela que existia dentro de mim e me satisfiz até não querer mais.
- Deixa a gente te comer ao mesmo tempo, deixa? – um deles pediu com jeitinho.
- Na-na-ni-na-não!
- Como você é maldoso com a gente...
- Depois quem vai ficar sem andar sou eu, não vocês.
Eles deram risada compreensivamente e não tocaram mais no assunto. Não estava me sentindo pronto para ter aquela experiência. Não naquele momento.
- Quem sabe outro dia?
- Na próxima você libera?
- Quem sabe? Depende do meu ânimo!
- Quer ficar mais animado do que isso?!
- Impossível – eu sorri.

- Então pronto!
Os carinhas me pegaram de jeito pela segunda vez e só pararam de me enrabar quando se sentiram totalmente saciados, o que demorou a acontecer.
Eles me penetraram em quase todas as posições imagináveis e quando gozaram pela segunda vez, me jogaram com força na cama e me beijaram quase que ao mesmo tempo.
- E aí, gostou da oportunidade de ficar com irmãos gêmeos? – indagou Diego.
- Adorei! E vocês, gostaram?
- Foi foda – Mateus soltou o ar pela boca. – Estou morto!
- Também, mano. Não vou fazer mais nada hoje.
- Pode crer.
- Vocês moram juntos?
- Não – Diego respondeu. – Eu sou casado. Tenho minha própria casa.
- Ah, é! Que safadinho, hein? Traindo a esposa...
- Isso não é traição, eu não fiquei com mulher! Isso é só um complemento. Fala aí, Mateus?!
- Exato.
- Dois safados!
- Somos mesmo. Desde crianças, né?
- Aham – Mateus concordou.
- Vocês se dão bem até demais pelo jeito, né? – confesso que senti uma baita inveja da cumplicidade daqueles dois. Quem me dera que meu irmão fosse meu cúmplice daquele jeito.
- Demais! A gente não se separa – eles se abraçaram.
- Que inveja! – suspirei.
- Por que fala assim? – Mateus perguntou.
- Porque não me dou bem com meu irmão gêmeo!
- Você tem um irmão gêmeo? – eles perguntaram ao mesmo tempo e fizeram a mesma expressão de surpresa.
- Tenho sim!
- Ah, conta outra! Mentira? – Diego não acreditou.
- Juro por Deus!
- Ah, impossível!
- É sério, eu tenho sim! Não estou brincando não. Por isso fiquei surpreso quando vi que vocês são gêmeos. Porque eu tenho um irmão igualzinho a mim também.
- Porra, que massa! E ele curte?
- Não – garanti com mais de 100% de certeza.
- Que pena! Ia adorar comer gêmeos. Ainda não tive essa oportunidade – Mateus abriu um sorriso safado.
- Já pensou, mano? Eu você e outros dois caras gêmeos? Tesão demais, hein?
- Vamos correr atrás disso, Diego!
- Com certeza...
Nós não nos aprofundamos no assunto e resolvemos tomar um banho juntos. Eu queria ir para casa, deitar e dormir o sono dos justos. Estava me sentindo extremamente cansado, mas ao mesmo tempo, muito leve e com as forças renovadas.
- Ensaboa meu pau, Caio – Diego pegou a minha mão e colocou em cima do pênis, que estava voltando a ficar duro.
- Pede pro seu irmão fazer isso, eu estou tranquilo. Já aprontei demais por hoje!
- Que maldade, hein? – Mateus segurou o pau, colocou a cabeça pra fora e começou a limpar a glande.
Eu demorei mais tempo embaixo do chuveiro que os garotos e quando saí para o quarto, ambos já estavam totalmente arrumados.
- Valeu aí, moleque! – Diego deu um tapinha nas minhas costas. – Você fodeu bem!
- Já vão?! Vão me deixar aqui sozinho?
- É só você deixar a chave na recepção – Mateus alisou a minha bunda e se dirigiu até a porta. – Valeu aí!
- Posso pegar o número de vocês?!
- Não. A gente é comprometido, esqueceu? Não vai rolar de novo – Diego foi definitivo>
Dei de ombros. Eu não estava me importando. Foi bom demais aquela experiência e se eles não iam querer mais, quem era eu para insistir no assunto?
- Beleza então! Até mais.
- Se cuida! – eles falaram ao mesmo tempo e saíram do quarto.
Eu me arrumei bem rapidinho, dei uma olhada no meu visual por um dos espelhos e saí rumo à recepção. Eu precisava da minha cama urgentemente.

Se tinha algo que eu não ia conseguir esquecer tão cedo, era ter podido ver todo o sexo pelos espelhos do quarto do motel de 5ª categoria. Aquelas cenas iriam ficar frescas na minha memória por muito tempo, eu tinha certeza disso.
- Aqui está a chave – eu falei ao cara que estava na recepção. Percebi que era o mesmo que tinha me atendido no primeiro dia que cheguei ao Rio de Janeiro.
- Valeu.
- Valeu – eu dei as costas e segui até as escadas de madeira.
Desci de dois em dois degraus e abri rapidamente a porta para ir até a rua. O sol já havia saído e eu me perguntei que horas seriam naquele momento.
Quando passei na frente da hospedaria do Seu Manollo, não consegui me segurar e aproveitei a oportunidade para cumprimentá-lo e para o meu total agrado, ele estava atrás do balcão, usando as mesmas roupas sociais de sempre.

- Seu Manollo?
- Pois não?
- O senhor lembra de mim?
- Claro que sim, garoto! Como tem passado?
- Muito bem e o senhor?
- Bem também! E aí, veio morar aqui de novo?
- Não! Não, não será necessário. Eu estou bem lá na minha casa – dei risada. – Eu passei apenas para saber como o senhor está... Aproveitei que estava aqui perto e resolvi entrar.
- Ah, sim! Obrigado pela consideração. Pensei que estava com saudades daqui.
- Não me leve a mal, Seu Manollo, mas é impossível sentir saudade desse lugar!
- Por que diz isso? Não esqueça que foi aqui que você morou quando precisou!
- Não é ingratidão, muito pelo contrário! Eu sou muito grato pelo tempo que passei aqui, mas graças a Deus hoje eu tenho a oportunidade de morar em um lugar melhor, com uma boa infraestrutura e com conforto!
- Que bom, fico contente. Se um dia você precisar, pode lembrar daqui. Sempre terei um quartinho para um bom freguês como você.
- Muito obrigado, Seu Manollo! Fico feliz que o senhor lembre de mim. Muito obrigado mesmo. Eu já vou indo, viu? Passe bem!
- Igualmente.
Foi bom rever o Seu Manollo. Quando eu voltei a andar pelas ruas da Lapa, foi impossível não lembrar do meu começo naquela cidade... Quanto sofrimento! Quanta agonia...
Até fome eu tinha passado! Se não fosse a ajuda do Padre João, muito provavelmente eu teria morrido de fome ou teria ido morar embaixo da ponte...
E como será que ele estaria? Eu precisava visitá-lo e precisava também ir à missa. Que falta de vergonha na cara! Deixar de visitar a quem havia me aberto as portas...
E é claro que eu não pude deixar de pensar na Dona Elvira! Será que ela estava bem? Nunca mais havíamos nos falado... Será que ela já tinha esquecido de mim?
Eu também estava sendo muito relaxado. Onde é que já se viu virar as costas para pessoas tão bondosas como o Padre João e a Dona Elvira?
Decidi que iria procurá-los o quanto antes. Eu precisava dar sinal de vida, dar satisfação do que estava acontecendo e ao mesmo tempo, precisava retribuir de alguma forma toda a ajuda que eles me deram no momento em que eu mais necessitei.
E como necessitei. Só eu sei o que passei naqueles dias horríveis. Aliás, só eu e Deus. É muito ruim a pessoa ficar com fome, não ter o que comer e ser obrigado a viver à base de água da pia de uma hospedaria... Não desejo isso ao meu pior inimigo!
E coincidentemente ou não, naquele exato momento em que eu pensava em todo aquele meu sofrimento, acabei avistando uma mendinga que estava mexendo no lixo, provavelmente a procura de algo para comer.

Fiquei compadecido com aquela cena e meu coração amoleceu na hora. Eu sabia o que ela estava sentindo. Eu sabia o que era passar fome.
Mas, ao mesmo tempo que eu queria ajudá-la, eu fiquei com medo de me aproximar. Talvez ela pudesse estranhar, ou até mesmo ser agressiva comigo.
Contudo, é claro que eu tive que tentar. Eu não podia perder a oportunidade de fazer o bem para aquela mulher. Se eu fosse embora sem falar com ela, não iria conseguir dormir naquele dia.
- Bom dia? – falei próximo a ela, mas mantendo uma distância considerável, para que ela não se assustasse muito.
A mulher me olhou com a face um pouco amedrontada e sem mais nem menos, parou de mexer nos sacos de lixo e começou a andar em ritmo acelerado.
- Não, espera! – saí atrás dela e tentei mostrar que eu não iria fazer nenhum mal a pobrezinha. – Espera, moça!
Porém ela não me esperou. A mulher saiu quase que correndo pelas ruas da Lapa e em determinado momento, eu até a perdi de vista, todavia logo a encontrei parada atrás de um poste. Ela estava com medo.
- Ei... Calma! – falei, olhando em seus olhos. – Eu não vou te machucar...
- O que você quer? – a voz dela saiu em um silvo. – Eu não fiz nada, eu não fiz nada!
- Calma – repeti. – Eu só queria te ajudar!
Não houve resposta. Deu pra notar que ela estava muito assustada.
- Você está com fome, não está?
Pelos olhos dela eu consegui obter a resposta positiva, mas mesmo assim ela assentiu depois de um tempo.
- Sim...
- Eu sei o que você está sentindo!
Novamente não houve resposta. Provavelmente ela deveria estar se sentindo acuada ou algo do tipo. Era melhor eu resolver aquele assunto de uma vez por todas.
- Anda, vem comigo – falei, com os olhos cheios de lágrimas.

- Não... não...
- Fica tranquila, por favor! Eu só vou te pagar uma refeição ali na frente...
A moradora de rua me olhou com certa curiosidade. Acho que ela estava desconfiando da minha palavra.
- É sério! Eu juro que não vou fazer nada com você, acredita em mim!
Silêncio. Eu percebi que ela não iria arredar o pé daquele lugar e dei razão a coitada. Eu no lugar dela também desconfiaria, porque nos dias de hoje não é nada comum a gente encontrar alguém disposto a nos ajudar, muito menos sendo um desconhecido como eu era pra ela.
- Não quer vir?
Nenhuma resposta.
- Então eu vou comprar e trago pra você. Posso?
- Eu...
Ela não tinha resposta para me dar, mas eu sabia o quanto ela precisava daquele prato de comida.
Por esse motivo, combinei com a mulher que voltaria o mais rápido possível e que ela me esperasse ali mesmo, uma vez que não era longe do restaurante onde eu costumava almoçar de vez em quando.
E ela se propôs a me esperar, já ficando um pouco mais segura da minha benevolência, o que me deixou muito feliz.
Meu coração estava rachado ao meio. Eu sabia mesmo o que ela estava sentindo. Quantas vezes cheguei a cogitar a possibilidade de procurar algum resto de comida no lixo para me alimentar nos dias em que sentia fome?
Quantas vezes cheguei a imaginar que o meu destino seria morar debaixo de uma ponte por culpa do meu pai?
Quantas vezes procurei uma moeda no meu bolso para comprar nem que fosse um pão com manteiga e não encontrei?
Muitas, muitas vezes.
O que aquela mulher estava passando, não era nada diferente do que eu iria passar caso não tivesse sido ajudado pelo Padre João e pela Dona Elvira.
Eu devia a minha vida àqueles dois. E estava tão relaxado com eles... Fiquei com vergonha de mim mesmo quando cheguei a essa conclusão.
Entrei no bar, pedi um almoço, uma lata de refrigerante e fiquei esperando o meu pedido ficar pronto.
Provavelmente já passava das 10 da manhã, uma vez que o almoço já estava sendo preparado. Quanto tempo será que eu fiquei naquele motelzinho barato com os gêmeos?
Quando a marmita ficou pronta, eu pedi também dois pacotes de bolacha e algumas frutas que estavam próximas ao balcão. A mulher precisava se alimentar...

- Quanto deu? – perguntei.
A balconista me informou o valor e eu paguei feliz da vida. Não me importei com a quantia, me importei em salvar a vida daquela desconhecida.
Quando saí, tratei de voltar ao local combinado, mas para a minha surpresa, ela estava me esperando na metade do caminho, o que me facilitou bastante a vida.
- Pronto, moça – falei e entreguei a ela a sacola com a comida. – Não é muito, mas acho que vai te ajudar!
A sem-teto abriu a sacola, olhou o que tinha dentro e começou a chorar feito uma criança quando cai no chão e se machuca.
- O-obrigada...
- Não precisa me agradecer não – eu abri um sorriso.
Ela me olhou com a fisionomia triste, mas com uma gratidão estampada em seus olhos.
- Obrigada... muito... obrigada...
- Por nada... Eu posso saber seu nome?
- Maria.
Maria... O nome da mãe de Jesus, um nome abençoado!
- Seu nome é lindo, sabia? Seu nome é abençoado. Mas ande, vá lá almoçar que você deve estar faminta, né?
- Muito. O senhor não sabe o quanto...
- Sei sim, minha querida – eu suspirei e senti vontade de chorar. – Eu sei sim. Eu sei que não é nada fácil o que você está passando, mas tenha fé em Deus. Ele vai te ajudar.
- Que Deus te abençoe, moço. Que Deus te ilumine muito...
- Amém! Amém. Posso te dar um abraço?
Não me controlei e chorei quando ela me apertou em seus braços. Como era difícil passar por aquilo, meu Deus!
- Vai, vai almoçar – eu sorri e suspirei. – Antes que a sua comida esfrie.
- Obrigada, obrigada, muito obrigada...
- Por nada, Maria. Vá com Deus.
- Fique com Ele e que Ele te recompense em dobro.
- Amém. Vá em paz e boa sorte pra você.
Nos despedimos com um olhar e mais do que depressa, ela saiu andando e tomou o seu rumo.
Confesso que não voltei pra casa de imediato. Ao invés de dar meia volta e pegar o caminho da república, fiquei ali, parado, olhando aquela pobre mulher andar com a cabeça baixa.
Quando pensei que ela iria virar a esquina e sumir de vista, a mesma sentou-se no chão da calçada, abriu a sacola e começou a comer ali mesmo, sem nem prestar atenção ao que acontecia a sua volta.
Naquele momento, vendo aquela cena, me senti muito feliz, muito leve e com o coração extremamente aquecido. Não poderia existir nada melhor do que ajudar as pessoas que precisam.
- Deus te abençoe – falei comigo mesmo e sequei uma lágrima que teimou em escorrer pelo meu rosto. – Deus te abençoe...
Confortado e um pouco mais tranquilo por ter ajudado aquele ser humano, voltei a caminhar para a minha casa, mas em nenhum momento deixei de pensar naquela mendinga.
Será que ela estava nas ruas há muito tempo? E por que estaria ali? Por que não tinha um teto? Será que não tinha família?
Ela não era muito velha, deveria ter trinta e poucos anos... Era jovem e podia trabalhar... Por que estava nas ruas afinal de contas?
Infelizmente aquela era uma pergunta que ficaria sem resposta. Eu poderia muito bem ter perguntado a ela, mas e a coragem de invadir a sua intimidade? O jeito era ficar na curiosidade mesmo.

Pensei tanto na situação que nem me toquei que já tinha chegado na república. Assim que coloquei os pés para dentro da garagem, ouvi vozes vindas da sala e me perguntei o que diabos eles estavam fazendo acordados àquela hora da manhã. Ou será que já estava tão tarde que eles já tinham levantado há muito tempo?!
Mas quando eu entrei, todos os meus questionamentos foram respondidos. De repente eu senti meu queixo cair, minhas pernas ficarem mortas, minhas mãos suarem frio e o meu coração disparar adoidado. Não era possível que ele estava ali.
Será que eu estava sofrendo alucionações? Será que eu estava vendo um fantasma? Ou será que ele era louco e tinha cumprido a promessa que me havia feito meses antes?
- Finalmente você chegou, Caio! – Rodrigo bufou de raiva.
Eu fiquei em estado de choque e não consegui tirar meus olhos de cima dele. Como estava mudado! Fazia tanto tempo que não o via que nem lembrava mais daquela expressão no rosto daquele cachorro!
- Onde você estava, Caio? – perguntou Vinícius.
- Nós já estávamos preocupados – Fabrício completou a frase.
- Por que não nos ligou? – foi a vez do Maicon perguntar.
- A gente já ia atrás de você – até o Éverton se meteu.
Tudo o que eles me falaram entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Eu não tinha olhos para mais ninguém. Era realmente impossível que ele estivesse ali, na minha casa! Como ele tinha sido capaz de fazer aquilo? Como ele teve a coragem de ir até o Rio de Janeiro e não ter me comunicado nada? Ele era louco ou o quê?!
- Não vai falar nada? – ele abriu um sorriso largo e continuou me fitando com a mesma expressão brincalhona de sempre.
- Eu... não... acredito... que... você... está... aqui... – só foi o que eu consegui falar depois de mais ou menos 2 minutos de incredulidade.

Tudo bem que eu estava amando o que estava acontecendo, mas eu não ia deixar que eles se aproveitassem de mim a ponto de quererem me penetrar ao mesmo tempo.
- Isso não! – eu dei um jeito de me livrar dos corpos deles e fiquei de pé na cama em um salto.
Ambos me olharam com ar de incredulidade.
- Você não vai fazer isso com a gente, né? – Diego ficou revoltado.
- Dupla penetração não rola, na boa!
- E por que não? – Mateus me puxou pela cintura e eu caí de joelhos na frente dele.
- Porque não! Não quero e ponto. Um tudo bem, os dois ao mesmo tempo não!
- Aí você caiu no meu conceito, hein moleque? Estava gostando muito – ele ficou chateado.
- Vão querer desistir só por causa disso? Se eu soubesse que queriam isso desde o começo, nem teria topado.
- A gente não vai desistir – Diego estava batendo uma. – Você ainda vai levar muita rola hoje. Vem, cai de boca!
E eu caí mesmo. Estava mais duro que nunca e muito delicioso. Para o nosso momento ficar perfeito, só faltava eles se beijarem.
- Olha pra mim! – ele mandou e eu fitei aqueles olhos verdes que brilhavam intensamente. – Safado!
- Fica de quatro para eu terminar o serviço, fica? – mandou Mateus.
Ele não foi nada carinhoso. Colocou tudo de uma vez e aumentou e muito o ritmo da penetração. Eu fiquei com a minha pele ardendo de tanto que ele bateu nas minhas nádegas.
- Rebola!
- Assim?
- É, assim mesmo, seu puto...
Como eu desconfiava, não demorou muito tempo para ambos anunciarem o gozo. Eu fiquei de joelhos na cama, batendo pros dois e só esperando o momento do leite sair...
- VOU GOZAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH – Diego enfiou a mão no meio dos meus cabelos, jogou a minha cabeça pra trás e despejou o esperma na minha cara.
E eu que pensava que o Mateus não ia conseguir acompanhar o ritmo do irmão, fiquei totalmente surpreso quando ouvi os gritos dele de prazer e quando senti aquele líquido branco e espesso cair sobre a minha cara.
Foi literalmente um banho de porra. Nunca ninguém havia gozado tanto em mim como aqueles dois. Se bem que eu ainda não era muito experiente no que se dizia respeito a transa com muitos parceiros...
- Ah... – eles gemeram ao mesmo tempo e caíram deitados de costas no colchão.
Foram mais de 5 minutos de gemidos, mesmo depois do ápice já ter acontecido. O que me deixou mais surpreso e ao mesmo tempo contente, foi o fato de nenhum dos dois ter broxado após o gozo.
- Ué, ainda continuam com tesão? – provoquei.
- Muito – responderam ao mesmo tempo. Eles eram mesmo bem sincronizados.
- E isso aí não vai abaixar não? – mas nem o meu havia abaixado ainda!
- Só depois da terceira gozada – Diego deu uma risadinha safada.
- Quer mais uma? – passei a língua nos meus lábios, deitei na cama e me aproximei bem devagar.
- Só se for agora!
Eu comecei a chupá-los novamente, mas com um pouco mais de lentidão porque já estava me sentindo cansado. Por mais que eu não os conhecesse direito, estava me sentindo extremamente à vontade com aqueles garotos e todos os meus escrúpulos deram lugar a libertinagem.
- Isso, safado! Chupa minhas bolas agora – Mateus mandou.
Eu brinquei demais com os irmãos. Não me fiz de rogado em nenhum momento! Aproveitei a oportunidade, liberei a cadela que existia dentro de mim e me satisfiz até não querer mais.
- Deixa a gente te comer ao mesmo tempo, deixa? – um deles pediu com jeitinho.
- Na-na-ni-na-não!
- Como você é maldoso com a gente...
- Depois quem vai ficar sem andar sou eu, não vocês.
Eles deram risada compreensivamente e não tocaram mais no assunto. Não estava me sentindo pronto para ter aquela experiência. Não naquele momento.
- Quem sabe outro dia?
- Na próxima você libera?
- Quem sabe? Depende do meu ânimo!
- Quer ficar mais animado do que isso?!
- Impossível – eu sorri.
- Então pronto!
Os carinhas me pegaram de jeito pela segunda vez e só pararam de me enrabar quando se sentiram totalmente saciados, o que demorou a acontecer.
Eles me penetraram em quase todas as posições imagináveis e quando gozaram pela segunda vez, me jogaram com força na cama e me beijaram quase que ao mesmo tempo.
- E aí, gostou da oportunidade de ficar com irmãos gêmeos? – indagou Diego.
- Adorei! E vocês, gostaram?
- Foi foda – Mateus soltou o ar pela boca. – Estou morto!
- Também, mano. Não vou fazer mais nada hoje.
- Pode crer.
- Vocês moram juntos?
- Não – Diego respondeu. – Eu sou casado. Tenho minha própria casa.
- Ah, é! Que safadinho, hein? Traindo a esposa...
- Isso não é traição, eu não fiquei com mulher! Isso é só um complemento. Fala aí, Mateus?!
- Exato.
- Dois safados!
- Somos mesmo. Desde crianças, né?
- Aham – Mateus concordou.
- Vocês se dão bem até demais pelo jeito, né? – confesso que senti uma baita inveja da cumplicidade daqueles dois. Quem me dera que meu irmão fosse meu cúmplice daquele jeito.
- Demais! A gente não se separa – eles se abraçaram.
- Que inveja! – suspirei.
- Por que fala assim? – Mateus perguntou.
- Porque não me dou bem com meu irmão gêmeo!
- Você tem um irmão gêmeo? – eles perguntaram ao mesmo tempo e fizeram a mesma expressão de surpresa.
- Tenho sim!
- Ah, conta outra! Mentira? – Diego não acreditou.
- Juro por Deus!
- Ah, impossível!
- É sério, eu tenho sim! Não estou brincando não. Por isso fiquei surpreso quando vi que vocês são gêmeos. Porque eu tenho um irmão igualzinho a mim também.
- Porra, que massa! E ele curte?
- Não – garanti com mais de 100% de certeza.
- Que pena! Ia adorar comer gêmeos. Ainda não tive essa oportunidade – Mateus abriu um sorriso safado.
- Já pensou, mano? Eu você e outros dois caras gêmeos? Tesão demais, hein?
- Vamos correr atrás disso, Diego!
- Com certeza...
Nós não nos aprofundamos no assunto e resolvemos tomar um banho juntos. Eu queria ir para casa, deitar e dormir o sono dos justos. Estava me sentindo extremamente cansado, mas ao mesmo tempo, muito leve e com as forças renovadas.
- Ensaboa meu pau, Caio – Diego pegou a minha mão e colocou em cima do pênis, que estava voltando a ficar duro.
- Pede pro seu irmão fazer isso, eu estou tranquilo. Já aprontei demais por hoje!
- Que maldade, hein? – Mateus segurou o pau, colocou a cabeça pra fora e começou a limpar a glande.
Eu demorei mais tempo embaixo do chuveiro que os garotos e quando saí para o quarto, ambos já estavam totalmente arrumados.
- Valeu aí, moleque! – Diego deu um tapinha nas minhas costas. – Você fodeu bem!
- Já vão?! Vão me deixar aqui sozinho?
- É só você deixar a chave na recepção – Mateus alisou a minha bunda e se dirigiu até a porta. – Valeu aí!
- Posso pegar o número de vocês?!
- Não. A gente é comprometido, esqueceu? Não vai rolar de novo – Diego foi definitivo>
Dei de ombros. Eu não estava me importando. Foi bom demais aquela experiência e se eles não iam querer mais, quem era eu para insistir no assunto?
- Beleza então! Até mais.
- Se cuida! – eles falaram ao mesmo tempo e saíram do quarto.
Eu me arrumei bem rapidinho, dei uma olhada no meu visual por um dos espelhos e saí rumo à recepção. Eu precisava da minha cama urgentemente.
Se tinha algo que eu não ia conseguir esquecer tão cedo, era ter podido ver todo o sexo pelos espelhos do quarto do motel de 5ª categoria. Aquelas cenas iriam ficar frescas na minha memória por muito tempo, eu tinha certeza disso.
- Aqui está a chave – eu falei ao cara que estava na recepção. Percebi que era o mesmo que tinha me atendido no primeiro dia que cheguei ao Rio de Janeiro.
- Valeu.
- Valeu – eu dei as costas e segui até as escadas de madeira.
Desci de dois em dois degraus e abri rapidamente a porta para ir até a rua. O sol já havia saído e eu me perguntei que horas seriam naquele momento.
Quando passei na frente da hospedaria do Seu Manollo, não consegui me segurar e aproveitei a oportunidade para cumprimentá-lo e para o meu total agrado, ele estava atrás do balcão, usando as mesmas roupas sociais de sempre.
- Seu Manollo?
- Pois não?
- O senhor lembra de mim?
- Claro que sim, garoto! Como tem passado?
- Muito bem e o senhor?
- Bem também! E aí, veio morar aqui de novo?
- Não! Não, não será necessário. Eu estou bem lá na minha casa – dei risada. – Eu passei apenas para saber como o senhor está... Aproveitei que estava aqui perto e resolvi entrar.
- Ah, sim! Obrigado pela consideração. Pensei que estava com saudades daqui.
- Não me leve a mal, Seu Manollo, mas é impossível sentir saudade desse lugar!
- Por que diz isso? Não esqueça que foi aqui que você morou quando precisou!
- Não é ingratidão, muito pelo contrário! Eu sou muito grato pelo tempo que passei aqui, mas graças a Deus hoje eu tenho a oportunidade de morar em um lugar melhor, com uma boa infraestrutura e com conforto!
- Que bom, fico contente. Se um dia você precisar, pode lembrar daqui. Sempre terei um quartinho para um bom freguês como você.
- Muito obrigado, Seu Manollo! Fico feliz que o senhor lembre de mim. Muito obrigado mesmo. Eu já vou indo, viu? Passe bem!
- Igualmente.
Foi bom rever o Seu Manollo. Quando eu voltei a andar pelas ruas da Lapa, foi impossível não lembrar do meu começo naquela cidade... Quanto sofrimento! Quanta agonia...
Até fome eu tinha passado! Se não fosse a ajuda do Padre João, muito provavelmente eu teria morrido de fome ou teria ido morar embaixo da ponte...
E como será que ele estaria? Eu precisava visitá-lo e precisava também ir à missa. Que falta de vergonha na cara! Deixar de visitar a quem havia me aberto as portas...
E é claro que eu não pude deixar de pensar na Dona Elvira! Será que ela estava bem? Nunca mais havíamos nos falado... Será que ela já tinha esquecido de mim?
Eu também estava sendo muito relaxado. Onde é que já se viu virar as costas para pessoas tão bondosas como o Padre João e a Dona Elvira?
Decidi que iria procurá-los o quanto antes. Eu precisava dar sinal de vida, dar satisfação do que estava acontecendo e ao mesmo tempo, precisava retribuir de alguma forma toda a ajuda que eles me deram no momento em que eu mais necessitei.
E como necessitei. Só eu sei o que passei naqueles dias horríveis. Aliás, só eu e Deus. É muito ruim a pessoa ficar com fome, não ter o que comer e ser obrigado a viver à base de água da pia de uma hospedaria... Não desejo isso ao meu pior inimigo!
E coincidentemente ou não, naquele exato momento em que eu pensava em todo aquele meu sofrimento, acabei avistando uma mendinga que estava mexendo no lixo, provavelmente a procura de algo para comer.
Fiquei compadecido com aquela cena e meu coração amoleceu na hora. Eu sabia o que ela estava sentindo. Eu sabia o que era passar fome.
Mas, ao mesmo tempo que eu queria ajudá-la, eu fiquei com medo de me aproximar. Talvez ela pudesse estranhar, ou até mesmo ser agressiva comigo.
Contudo, é claro que eu tive que tentar. Eu não podia perder a oportunidade de fazer o bem para aquela mulher. Se eu fosse embora sem falar com ela, não iria conseguir dormir naquele dia.
- Bom dia? – falei próximo a ela, mas mantendo uma distância considerável, para que ela não se assustasse muito.
A mulher me olhou com a face um pouco amedrontada e sem mais nem menos, parou de mexer nos sacos de lixo e começou a andar em ritmo acelerado.
- Não, espera! – saí atrás dela e tentei mostrar que eu não iria fazer nenhum mal a pobrezinha. – Espera, moça!
Porém ela não me esperou. A mulher saiu quase que correndo pelas ruas da Lapa e em determinado momento, eu até a perdi de vista, todavia logo a encontrei parada atrás de um poste. Ela estava com medo.
- Ei... Calma! – falei, olhando em seus olhos. – Eu não vou te machucar...
- O que você quer? – a voz dela saiu em um silvo. – Eu não fiz nada, eu não fiz nada!
- Calma – repeti. – Eu só queria te ajudar!
Não houve resposta. Deu pra notar que ela estava muito assustada.
- Você está com fome, não está?
Pelos olhos dela eu consegui obter a resposta positiva, mas mesmo assim ela assentiu depois de um tempo.
- Sim...
- Eu sei o que você está sentindo!
Novamente não houve resposta. Provavelmente ela deveria estar se sentindo acuada ou algo do tipo. Era melhor eu resolver aquele assunto de uma vez por todas.
- Anda, vem comigo – falei, com os olhos cheios de lágrimas.
- Não... não...
- Fica tranquila, por favor! Eu só vou te pagar uma refeição ali na frente...
A moradora de rua me olhou com certa curiosidade. Acho que ela estava desconfiando da minha palavra.
- É sério! Eu juro que não vou fazer nada com você, acredita em mim!
Silêncio. Eu percebi que ela não iria arredar o pé daquele lugar e dei razão a coitada. Eu no lugar dela também desconfiaria, porque nos dias de hoje não é nada comum a gente encontrar alguém disposto a nos ajudar, muito menos sendo um desconhecido como eu era pra ela.
- Não quer vir?
Nenhuma resposta.
- Então eu vou comprar e trago pra você. Posso?
- Eu...
Ela não tinha resposta para me dar, mas eu sabia o quanto ela precisava daquele prato de comida.
Por esse motivo, combinei com a mulher que voltaria o mais rápido possível e que ela me esperasse ali mesmo, uma vez que não era longe do restaurante onde eu costumava almoçar de vez em quando.
E ela se propôs a me esperar, já ficando um pouco mais segura da minha benevolência, o que me deixou muito feliz.
Meu coração estava rachado ao meio. Eu sabia mesmo o que ela estava sentindo. Quantas vezes cheguei a cogitar a possibilidade de procurar algum resto de comida no lixo para me alimentar nos dias em que sentia fome?
Quantas vezes cheguei a imaginar que o meu destino seria morar debaixo de uma ponte por culpa do meu pai?
Quantas vezes procurei uma moeda no meu bolso para comprar nem que fosse um pão com manteiga e não encontrei?
Muitas, muitas vezes.
O que aquela mulher estava passando, não era nada diferente do que eu iria passar caso não tivesse sido ajudado pelo Padre João e pela Dona Elvira.
Eu devia a minha vida àqueles dois. E estava tão relaxado com eles... Fiquei com vergonha de mim mesmo quando cheguei a essa conclusão.
Entrei no bar, pedi um almoço, uma lata de refrigerante e fiquei esperando o meu pedido ficar pronto.
Provavelmente já passava das 10 da manhã, uma vez que o almoço já estava sendo preparado. Quanto tempo será que eu fiquei naquele motelzinho barato com os gêmeos?
Quando a marmita ficou pronta, eu pedi também dois pacotes de bolacha e algumas frutas que estavam próximas ao balcão. A mulher precisava se alimentar...
- Quanto deu? – perguntei.
A balconista me informou o valor e eu paguei feliz da vida. Não me importei com a quantia, me importei em salvar a vida daquela desconhecida.
Quando saí, tratei de voltar ao local combinado, mas para a minha surpresa, ela estava me esperando na metade do caminho, o que me facilitou bastante a vida.
- Pronto, moça – falei e entreguei a ela a sacola com a comida. – Não é muito, mas acho que vai te ajudar!
A sem-teto abriu a sacola, olhou o que tinha dentro e começou a chorar feito uma criança quando cai no chão e se machuca.
- O-obrigada...
- Não precisa me agradecer não – eu abri um sorriso.
Ela me olhou com a fisionomia triste, mas com uma gratidão estampada em seus olhos.
- Obrigada... muito... obrigada...
- Por nada... Eu posso saber seu nome?
- Maria.
Maria... O nome da mãe de Jesus, um nome abençoado!
- Seu nome é lindo, sabia? Seu nome é abençoado. Mas ande, vá lá almoçar que você deve estar faminta, né?
- Muito. O senhor não sabe o quanto...
- Sei sim, minha querida – eu suspirei e senti vontade de chorar. – Eu sei sim. Eu sei que não é nada fácil o que você está passando, mas tenha fé em Deus. Ele vai te ajudar.
- Que Deus te abençoe, moço. Que Deus te ilumine muito...
- Amém! Amém. Posso te dar um abraço?
Não me controlei e chorei quando ela me apertou em seus braços. Como era difícil passar por aquilo, meu Deus!
- Vai, vai almoçar – eu sorri e suspirei. – Antes que a sua comida esfrie.
- Obrigada, obrigada, muito obrigada...
- Por nada, Maria. Vá com Deus.
- Fique com Ele e que Ele te recompense em dobro.
- Amém. Vá em paz e boa sorte pra você.
Nos despedimos com um olhar e mais do que depressa, ela saiu andando e tomou o seu rumo.
Confesso que não voltei pra casa de imediato. Ao invés de dar meia volta e pegar o caminho da república, fiquei ali, parado, olhando aquela pobre mulher andar com a cabeça baixa.
Quando pensei que ela iria virar a esquina e sumir de vista, a mesma sentou-se no chão da calçada, abriu a sacola e começou a comer ali mesmo, sem nem prestar atenção ao que acontecia a sua volta.
Naquele momento, vendo aquela cena, me senti muito feliz, muito leve e com o coração extremamente aquecido. Não poderia existir nada melhor do que ajudar as pessoas que precisam.
- Deus te abençoe – falei comigo mesmo e sequei uma lágrima que teimou em escorrer pelo meu rosto. – Deus te abençoe...
Confortado e um pouco mais tranquilo por ter ajudado aquele ser humano, voltei a caminhar para a minha casa, mas em nenhum momento deixei de pensar naquela mendinga.
Será que ela estava nas ruas há muito tempo? E por que estaria ali? Por que não tinha um teto? Será que não tinha família?
Ela não era muito velha, deveria ter trinta e poucos anos... Era jovem e podia trabalhar... Por que estava nas ruas afinal de contas?
Infelizmente aquela era uma pergunta que ficaria sem resposta. Eu poderia muito bem ter perguntado a ela, mas e a coragem de invadir a sua intimidade? O jeito era ficar na curiosidade mesmo.
Pensei tanto na situação que nem me toquei que já tinha chegado na república. Assim que coloquei os pés para dentro da garagem, ouvi vozes vindas da sala e me perguntei o que diabos eles estavam fazendo acordados àquela hora da manhã. Ou será que já estava tão tarde que eles já tinham levantado há muito tempo?!
Mas quando eu entrei, todos os meus questionamentos foram respondidos. De repente eu senti meu queixo cair, minhas pernas ficarem mortas, minhas mãos suarem frio e o meu coração disparar adoidado. Não era possível que ele estava ali.
Será que eu estava sofrendo alucionações? Será que eu estava vendo um fantasma? Ou será que ele era louco e tinha cumprido a promessa que me havia feito meses antes?
- Finalmente você chegou, Caio! – Rodrigo bufou de raiva.
Eu fiquei em estado de choque e não consegui tirar meus olhos de cima dele. Como estava mudado! Fazia tanto tempo que não o via que nem lembrava mais daquela expressão no rosto daquele cachorro!
- Onde você estava, Caio? – perguntou Vinícius.
- Nós já estávamos preocupados – Fabrício completou a frase.
- Por que não nos ligou? – foi a vez do Maicon perguntar.
- A gente já ia atrás de você – até o Éverton se meteu.
Tudo o que eles me falaram entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Eu não tinha olhos para mais ninguém. Era realmente impossível que ele estivesse ali, na minha casa! Como ele tinha sido capaz de fazer aquilo? Como ele teve a coragem de ir até o Rio de Janeiro e não ter me comunicado nada? Ele era louco ou o quê?!
- Não vai falar nada? – ele abriu um sorriso largo e continuou me fitando com a mesma expressão brincalhona de sempre.
- Eu... não... acredito... que... você... está... aqui... – só foi o que eu consegui falar depois de mais ou menos 2 minutos de incredulidade.
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