O
|
que ele tinha falado?
Eu ouvi o que ouvi ou será que eu estava ficando louco e tudo não passava de um sonho? Ou de uma alucinação sem sentido?
Entreabri meus lábios e fiquei sem saber o que falar. Eu não estava acreditando que aquilo estava acontecendo.
- Não vai falar nada? – ele questionou depois de muito tempo.
- O que... o que você disse, Henrique?
- Eu perguntei se você quer namorar comigo, Caio! E então? Você aceita?
- Na-namorar? Mas assim tão de repente?
- Por que de repente? Nós nos conhecemos há um tempo já. Nós já ficamos, já percebemos que nos gostamos um pouquinho... E eu quero te fazer feliz, quero que você me faça feliz também... Me dá uma oportunidade?
- Mas Henrique, esse é o segundo dia que a gente fica... A gente nem teve tempo de se conhecer profundamente ainda...
- E precisa? – ele me deu um beijo no rosto. – Eu gosto de você, te acho muito lindinho e quero namorar com você!
- Mas...
- O que foi? Você não gosta de mim?
- Não é isso, é claro que eu gosto de você!
- E então o que é?
Eu não sabia dizer. Dentro de mim eu estava sentindo algo muito esquisito. Era como se algo estivesse me dizendo para tomar cuidado e pensar direito na minha decisão.
- Eu... não... sei... – falei pausadamente.
- Não vou te dar tempo para pensar! – ele me abraçou muito forte. – Ou é sim, ou é não!
- Calma, você está me colocando contra a parede – reclamei.
- Desculpa, bebê. Não é essa a minha intenção, eu digo novamente que só quero te fazer feliz!
- Me fazer feliz?
Será que era tão evidente assim que eu não era feliz? Será que as pessoas conseguiam enxergar tão perfeitamente que faltava algo na minha vida?
Porque faltava algo. Por mais que eu tentasse refazer a minha vida, eu não era feliz por completo e nunca ia ser. Eu só ia ser 100% feliz à partir do momento que meus problemas com minha família fossem resolvidos. E pensando bem, também quando meus problemas com o Bruno fossem resolvidos.
- Aceita, vai? – ele acariciou meus cabelos. – Eu gosto tanto de você e prometo que não vou te machucar nunca.
- Ah, Henrique...
- Vai, Caio? Me deixa ser seu namorado, por favor?
Eu dei um beijo no menino. Ele estava sendo tão fofinho que foi impossível resistir.
Talvez fosse bom aceitar aquele pedido. Eu precisava de alguém que cuidasse de mim, de alguém que me amasse, que crescesse comigo. E o Carlos Henrique parecia perfeito para isso. Em pouco tempo, ele demonstrou que gostava de mim e que estava disposto a cuidar de mim...
- Aceita namorar comigo? – ele perguntou novamente.
- Aceito, seu ansioso!
Ele abriu um sorriso enorme e em seguida me deu um baita beijo. Eu estava me sentindo feliz, embora no fundo eu estivesse achando aquele pedido um tanto quanto precipitado.
- Te adoro, meu namorado – ele mordeu meu lábio.
- Eu também gosto muito de você...
Pensei que fosse rolar algo a mais que beijos naquele dia, mas não aconteceu. Em determinado momento, eu tentei abrir o zíper da calça do Henrique, mas ele tirou as minhas mãos do colo dele e disse:
- Ainda não – percebi que o garoto ficou com vergonha. – Não estou preparado pra isso ainda!
- Ué? Você tem atitude pra me pedir em namoro, mas não consegue passar dos beijos? Que história é essa?
- É que eu não sou muito experiente com essas coisas.
- Você é virgem?
- Nâo – Carlos balançou a cabeça. – Eu só não tenho muita experiência com homens.
- Ah, você era hetero?
- Sim. Você é meu segundo namorado. Todas as outras foram mulheres.
- Desse jeito você me faz pensar que é muito experiente. Quantas namoradas você teve?
- 3...
- É, pode-se dizer que tem experiência sim.
- Não muita – ele abriu um sorriso amarelo.
- Preciso ir, Henrique – sentei na cama e passei as mãos nos meus ombros. – Já está ficando tarde.
- Você vai só porque eu não quero...?
- Não, não é isso. Juro que não. É que está tarde mesmo.
- Fica mais um pouco, por favor? Janta comigo...
- Não posso, Henrique! Os meus amigos devem estar preocupados comigo.
- Ah, que pena! Estou amando ficar aqui com você – ele me puxou e eu fui obrigado a deitar de novo.
- Eu também estou adorando ficar aqui com você, mas é que está tarde mesmo.
- Que pena! – o cara fez um biquinho que me lembrou muito o Bruno.
- Nós teremos tempo para continuar de onde paramos – eu dei um beijo de leve na bochecha dele.
- Sei que teremos, mas mesmo assim. É ruim ficar longe de você.
Ele me pareceu muito carente e isso me deixou encafifado. Realmente não sei explicar o motivo, mas algo me dizia que eu tinha que abrir meus olhos com aquele garoto.
- Eu estou tão feliz – ele me abraçou bem forte – por você ter aceito meu pedido de namoro!
- Eu estou feliz também, seu bobo – dei risada.
- Mesmo?
- Mesmo – garanti.
- Então isso me deixa ainda mais feliz...
- Pode me acompanhar até a porta? – pedi.
- Não, porque eu não quero que você vá!
Nos beijamos de novo. Ele beijava tão bem!
- Nâo posso mais ficar – falei, coloquei minha camiseta e levantei. – Se depender de você eu só saio daqui amanhã de manhã!
- Seria uma ótima ideia, mas sei que não é possível.
- Ainda bem que você sabe – eu dei risada e puxei o rapaz pelos braços, obrigando-o a ficar de pé também. – Anda, me leva até o portão ou eu não volto nunca mais aqui.
- Bobo – ele me abraçou por trás e eu senti algo duro me cutucando.
- Hum, que delícia!
- Você gosta? – ele beijou minha nuca e me bulinou.
- Adoro. Você não?
- Claro que eu gosto, Caio!
- Isso é o que eu quero ver mais pra frente.
- Só ver? – ele deu um sorriso safado.
- Ver, pegar, brincar...
- E o que mais?
- Aí vai depender de você, mas nesse momento eu quero ir pra minha casa dormir e descansar.
- Vamos lá então, seu chato!
Ele me levou ao portão, mas antes de sair pra rua eu o beijei de novo.
- Lindo, te adoro – Henrique acariciou as costas da minha mão direita.
- Também. Boa noite e obrigado por tudo.
- Eu que te agradeço! Vai com cuidado, tá bom?
- Pode deixar! Até amanhã...
- Até, meu lindão!

Saí da casa do Carlos o mais rápido que pude, senão ele ia me puxar para trás de novo e eu não ia conseguir ir embora nunca.
Eu estava mesmo feliz. Ter um namorado ia me fazer esquecer de vez do Bruno e isso ia me ajudar a ser um pouco mais feliz.
Em contrapartida, isso também me fez perceber que o Bruno fazia mesmo parte do meu passado e acabei ficando um pouco triste por causa dessa constatação. Será que eu ainda tinha esperanças dele voltar e das coisas se acertarem entre nós?
Não, não. O Bruno não ia voltar e as coisas não iam se acertar. E mesmo que ele voltasse, eu não podia ser burro ao ponto de perdoá-lo e muito menos aceitar namorar com ele de novo...
Cheguei em casa muito rapidamente. Quando entrei na sala, encontrei o Éverton deitado no sofá usando apenas uma cueca boxer vermelha.
- E aí, Caio? – ele me olhou.
- Tudo bom?
- Em paz. E você?
- Bem – fechei a porta e suspirei. Ainda não tinha caído a ficha. Eu estava namorando de novo...
- Tem janta lá na cozinha, viu? – o bibelô de estante me informou.
- E o que é?
O moço tinha um corpinho em ordem e um volume consideravelmente grande na cueca. Foi impossível frear meus olhos e não dar uma conferida no recheio daquele pano vermelho.
- Carne assada. Eu que fiz!
- Misericórdia – sorri. – E ficou bom?
- Vê lá, idiota – ele jogou uma almofada em cima de mim.
- Deus me ajude!
E não é que estava bom? O feijão estava com carne seca e linguiça e eu até repeti o prato. Às vezes os caras acertavam em cheio e faziam comidas gostosas.

- E aí? O que achou? Ruim?
- Não, retiro o meu misericórdia. Ficou bom. Você fez tudo?
- Só a carne. O arroz e o feijão quem fez foi o Maicon.
- O feijão ficou bom demais. Cadê os caras?
- Estou sozinho.
- E onde os outros foram?
- Vini foi na namorada, Maicon e os outros foram jogar bola.
- E por que você não foi com eles?
- Preguiça. Preferi ficar em casa.
- Hum... Vou pro quarto mexer na internet, qualquer coisa dá um grito.
- Beleza, fera.
Não consegui mais parar de pensar naquele pedido de namoro. Será que ele não foi precipitado demais? E se desse errado? E se a gente não conseguisse ficar junto? Não seria perca de tempo insistir naquele relacionamento?
O que eu tinha a perder se tentasse? Nada! Então não me adiantava ficar com aquela negatividade. E tem mais: se desse errado era só colocar um ponto final em tudo e pronto, tudo estaria resolvido.
Entrei no MSN e fiquei trocando ideia com o Víctor e outros colegas de São Paulo. Menos de meia hora depois, um pop-up com o nome e a foto do meu irmão subiram e em seguida o nome dele apareceu na lista de pessoas que estavam online.
Senti uma vontade enorme de falar com ele, mas resisti até o último. Era melhor passar vontade do que ser humilhado, não é mesmo?
Não falei com o Cauã, mas não consegui não fuçar no perfil do Orkut dele. Estava mesmo com o status “namorando” e tinha várias fotos da Joyce em um álbum criado exclusivamente para ela.
Que nojo. Que garota vulgar! Ficou comigo e depois com meu irmão gêmeo... Será que ela não tinha amor próprio? Ou será que ela nos achava tão bonitos assim que não resistiu a nenhum de nós dois?
Dei uma passadinha na página de recados dele e li um por um. Não havia nada de anormal. Parecia que tudo estava na mesma santa rotina de sempre.
- E aí, Caio? – Fabrício entrou no quarto já sem camiseta.
- Tudo bom?
- Sim e você? O que faz aí nesse note? Vendo filme pornô? – ele abriu um sorriso.
- Que nada, rapaz – sorri em resposta. – Estou fuçando no Orkut do meu irmão gêmeo.
- Ah, é! Eu esqueço que você é gêmeo.
- Sou sim...
- Me diga uma coisa, você e seu irmão já pegaram a mesma mina?
- Então, meu irmão está namorando com uma garota que eu pegava antes de vir pra cá.
- Sério?
- Aham! Vem aqui ver a foto deles...
Procurei uma foto dos dois e mostrei pro meu amigo. Ele ficou espantado com a nossa semelhança.
- Não me conformo com a semelhança de vocês dois. São clones, só podem.
- Somos nada. Cauã e eu só parecemos na aparência, porque no caráter somos bem diferentes.
- Por que diz isso?
- Um dia eu te conto, Fabrício. Um dia eu te conto!
- Belezinha...
Ainda bem que ele respeitava a minha intimidade. Eu sentia que podia contar com aquele cara sempre que precisasse.
- Obrigado por ser compreensivo, você é um amigão!
- Imagina, eu odeio interferir na intimidade das pessoas. Agora eu vou tomar banho que estou fedendo aqui.
- E aí, como foi o jogo? – perguntei.
- Da hora. Nós jogamos com o pessoal da faculdade, foi muito bacana. Se você não tivesse ido trampar, teria ido com a gente.
- Faz um tempão que não bato uma bolinha.
- Precisamos marcar mais vezes – ele saiu com a toalha em um dos ombros e fechou a porta quando passou.
Respondi alguns recados no meu perfil, li meus e-mails e percebi que o Bruno tinha mandado mais algumas mensagens. Não cheguei a contar quantas eram, apenas fui apagando sem dar nem atenção aos títulos que ele havia colocado.
- Vai pra lixeira, você também e você, e mais você... – bufei de raiva.
Eu apaguei as mensagens, mas não cheguei a ir no lixo eletrônico para excluir tudo definitivamente.
Não tinha nenhum e-mail importante, então assim que fiz a limpeza na minha caixa de entrada, desloguei do site e em seguida, desliguei meu computador.
- Ah, você está usando? – Rodrigo entrou sem bater na porta.
- Estou não, acabei de desligar. Pode levar!
- Ah, muito obrigado. Senti muito a falta dele.
- E de mim não, né?
- De você só um pouquinho.
Ele estava sem camisa e todo suado.
- Cachorro!
- Au, au – ele latiu e saiu do quarto em seguida.

Eu fiquei dando risada sozinho. O Rodrigo era uma figura. A menina que tivesse a oportunidade de namorar com ele, com certeza iria se divertir muito.
Deitei e fiquei olhando pro teto. Eu estava namorando de novo... Quem diria que isso ia acontecer?
Quando o Bruno me largou, eu tive tantos pensamentos negativos, eu senti tanta vontade de morrer que nem sequer cogitei a possibilidade de encarar novos relacionamentos.
Mas o fato é que tinha passado tempo demais e eu tinha o direito de ser feliz. O Carlos era calmo e parecia gostar de mim de verdade. Não custava nada eu dar uma chance pro cara. E se ele me fizesse feliz de verdade?
Mas como tudo na vida, tinha o outro lado da história: e se ele me machucasse da mesma forma que o Bruno me machucou?
Essa era uma resposta que só o tempo daria e eu não teria como saber se ia mesmo acontecer ou não.
Também não podia me dar ao luxo de julgar o coitado do Henrique não é mesmo? Ele aparentava ser tão bonzinho! Não adiantava eu ficar com aqueles pensamentos só porquê uma vez o Bruno me machucou...
Eu estava generalizando. Não é porquê um me fez mal que o outro também ia fazer. Eu estava resistente demais. Tinha mais é que me jogar, encarar aquele relacionamento como uma forma de ser feliz e não ficar pensando no futuro!
Fabrício entrou só de toalha e com os cabelos pingando. Ele estava tão gostosinho que eu senti meu pau endurecer imediatamente.
- Bom demais tomar um banho gelado antes de dormir, né?
- Gelado? A essa hora?
- Estava morrendo de calor.
- Nem está fazendo calor hoje.
O que era um milagre tratando-se do Rio de Janeiro.
- É porque eu corri, suei. Estava precisando.
- Imagino.
- Posso usar seu note?
- O Rodrigo pegou. Claro que pode!
- Vou lá ver se ele vai demorar muito.
- Beleza.

Virei de lado e fechei meus olhos. Se eu soubesse que iria adormecer tão rapidamente, teria tirado a minha roupa e me trocado, ou ficado apenas de cueca para dormir um pouco mais confortável.
Eu ouvi o que ouvi ou será que eu estava ficando louco e tudo não passava de um sonho? Ou de uma alucinação sem sentido?
Entreabri meus lábios e fiquei sem saber o que falar. Eu não estava acreditando que aquilo estava acontecendo.
- Não vai falar nada? – ele questionou depois de muito tempo.
- O que... o que você disse, Henrique?
- Eu perguntei se você quer namorar comigo, Caio! E então? Você aceita?
- Na-namorar? Mas assim tão de repente?
- Por que de repente? Nós nos conhecemos há um tempo já. Nós já ficamos, já percebemos que nos gostamos um pouquinho... E eu quero te fazer feliz, quero que você me faça feliz também... Me dá uma oportunidade?
- Mas Henrique, esse é o segundo dia que a gente fica... A gente nem teve tempo de se conhecer profundamente ainda...
- E precisa? – ele me deu um beijo no rosto. – Eu gosto de você, te acho muito lindinho e quero namorar com você!
- Mas...
- O que foi? Você não gosta de mim?
- Não é isso, é claro que eu gosto de você!
- E então o que é?
Eu não sabia dizer. Dentro de mim eu estava sentindo algo muito esquisito. Era como se algo estivesse me dizendo para tomar cuidado e pensar direito na minha decisão.
- Eu... não... sei... – falei pausadamente.
- Não vou te dar tempo para pensar! – ele me abraçou muito forte. – Ou é sim, ou é não!
- Calma, você está me colocando contra a parede – reclamei.
- Desculpa, bebê. Não é essa a minha intenção, eu digo novamente que só quero te fazer feliz!
- Me fazer feliz?
Será que era tão evidente assim que eu não era feliz? Será que as pessoas conseguiam enxergar tão perfeitamente que faltava algo na minha vida?
Porque faltava algo. Por mais que eu tentasse refazer a minha vida, eu não era feliz por completo e nunca ia ser. Eu só ia ser 100% feliz à partir do momento que meus problemas com minha família fossem resolvidos. E pensando bem, também quando meus problemas com o Bruno fossem resolvidos.
- Aceita, vai? – ele acariciou meus cabelos. – Eu gosto tanto de você e prometo que não vou te machucar nunca.
- Ah, Henrique...
- Vai, Caio? Me deixa ser seu namorado, por favor?
Eu dei um beijo no menino. Ele estava sendo tão fofinho que foi impossível resistir.
Talvez fosse bom aceitar aquele pedido. Eu precisava de alguém que cuidasse de mim, de alguém que me amasse, que crescesse comigo. E o Carlos Henrique parecia perfeito para isso. Em pouco tempo, ele demonstrou que gostava de mim e que estava disposto a cuidar de mim...
- Aceita namorar comigo? – ele perguntou novamente.
- Aceito, seu ansioso!
Ele abriu um sorriso enorme e em seguida me deu um baita beijo. Eu estava me sentindo feliz, embora no fundo eu estivesse achando aquele pedido um tanto quanto precipitado.
- Te adoro, meu namorado – ele mordeu meu lábio.
- Eu também gosto muito de você...
Pensei que fosse rolar algo a mais que beijos naquele dia, mas não aconteceu. Em determinado momento, eu tentei abrir o zíper da calça do Henrique, mas ele tirou as minhas mãos do colo dele e disse:
- Ainda não – percebi que o garoto ficou com vergonha. – Não estou preparado pra isso ainda!
- Ué? Você tem atitude pra me pedir em namoro, mas não consegue passar dos beijos? Que história é essa?
- É que eu não sou muito experiente com essas coisas.
- Você é virgem?
- Nâo – Carlos balançou a cabeça. – Eu só não tenho muita experiência com homens.
- Ah, você era hetero?
- Sim. Você é meu segundo namorado. Todas as outras foram mulheres.
- Desse jeito você me faz pensar que é muito experiente. Quantas namoradas você teve?
- 3...
- É, pode-se dizer que tem experiência sim.
- Não muita – ele abriu um sorriso amarelo.
- Preciso ir, Henrique – sentei na cama e passei as mãos nos meus ombros. – Já está ficando tarde.
- Você vai só porque eu não quero...?
- Não, não é isso. Juro que não. É que está tarde mesmo.
- Fica mais um pouco, por favor? Janta comigo...
- Não posso, Henrique! Os meus amigos devem estar preocupados comigo.
- Ah, que pena! Estou amando ficar aqui com você – ele me puxou e eu fui obrigado a deitar de novo.
- Eu também estou adorando ficar aqui com você, mas é que está tarde mesmo.
- Que pena! – o cara fez um biquinho que me lembrou muito o Bruno.
- Nós teremos tempo para continuar de onde paramos – eu dei um beijo de leve na bochecha dele.
- Sei que teremos, mas mesmo assim. É ruim ficar longe de você.
Ele me pareceu muito carente e isso me deixou encafifado. Realmente não sei explicar o motivo, mas algo me dizia que eu tinha que abrir meus olhos com aquele garoto.
- Eu estou tão feliz – ele me abraçou bem forte – por você ter aceito meu pedido de namoro!
- Eu estou feliz também, seu bobo – dei risada.
- Mesmo?
- Mesmo – garanti.
- Então isso me deixa ainda mais feliz...
- Pode me acompanhar até a porta? – pedi.
- Não, porque eu não quero que você vá!
Nos beijamos de novo. Ele beijava tão bem!
- Nâo posso mais ficar – falei, coloquei minha camiseta e levantei. – Se depender de você eu só saio daqui amanhã de manhã!
- Seria uma ótima ideia, mas sei que não é possível.
- Ainda bem que você sabe – eu dei risada e puxei o rapaz pelos braços, obrigando-o a ficar de pé também. – Anda, me leva até o portão ou eu não volto nunca mais aqui.
- Bobo – ele me abraçou por trás e eu senti algo duro me cutucando.
- Hum, que delícia!
- Você gosta? – ele beijou minha nuca e me bulinou.
- Adoro. Você não?
- Claro que eu gosto, Caio!
- Isso é o que eu quero ver mais pra frente.
- Só ver? – ele deu um sorriso safado.
- Ver, pegar, brincar...
- E o que mais?
- Aí vai depender de você, mas nesse momento eu quero ir pra minha casa dormir e descansar.
- Vamos lá então, seu chato!
Ele me levou ao portão, mas antes de sair pra rua eu o beijei de novo.
- Lindo, te adoro – Henrique acariciou as costas da minha mão direita.
- Também. Boa noite e obrigado por tudo.
- Eu que te agradeço! Vai com cuidado, tá bom?
- Pode deixar! Até amanhã...
- Até, meu lindão!
Saí da casa do Carlos o mais rápido que pude, senão ele ia me puxar para trás de novo e eu não ia conseguir ir embora nunca.
Eu estava mesmo feliz. Ter um namorado ia me fazer esquecer de vez do Bruno e isso ia me ajudar a ser um pouco mais feliz.
Em contrapartida, isso também me fez perceber que o Bruno fazia mesmo parte do meu passado e acabei ficando um pouco triste por causa dessa constatação. Será que eu ainda tinha esperanças dele voltar e das coisas se acertarem entre nós?
Não, não. O Bruno não ia voltar e as coisas não iam se acertar. E mesmo que ele voltasse, eu não podia ser burro ao ponto de perdoá-lo e muito menos aceitar namorar com ele de novo...
Cheguei em casa muito rapidamente. Quando entrei na sala, encontrei o Éverton deitado no sofá usando apenas uma cueca boxer vermelha.
- E aí, Caio? – ele me olhou.
- Tudo bom?
- Em paz. E você?
- Bem – fechei a porta e suspirei. Ainda não tinha caído a ficha. Eu estava namorando de novo...
- Tem janta lá na cozinha, viu? – o bibelô de estante me informou.
- E o que é?
O moço tinha um corpinho em ordem e um volume consideravelmente grande na cueca. Foi impossível frear meus olhos e não dar uma conferida no recheio daquele pano vermelho.
- Carne assada. Eu que fiz!
- Misericórdia – sorri. – E ficou bom?
- Vê lá, idiota – ele jogou uma almofada em cima de mim.
- Deus me ajude!
E não é que estava bom? O feijão estava com carne seca e linguiça e eu até repeti o prato. Às vezes os caras acertavam em cheio e faziam comidas gostosas.
- E aí? O que achou? Ruim?
- Não, retiro o meu misericórdia. Ficou bom. Você fez tudo?
- Só a carne. O arroz e o feijão quem fez foi o Maicon.
- O feijão ficou bom demais. Cadê os caras?
- Estou sozinho.
- E onde os outros foram?
- Vini foi na namorada, Maicon e os outros foram jogar bola.
- E por que você não foi com eles?
- Preguiça. Preferi ficar em casa.
- Hum... Vou pro quarto mexer na internet, qualquer coisa dá um grito.
- Beleza, fera.
Não consegui mais parar de pensar naquele pedido de namoro. Será que ele não foi precipitado demais? E se desse errado? E se a gente não conseguisse ficar junto? Não seria perca de tempo insistir naquele relacionamento?
O que eu tinha a perder se tentasse? Nada! Então não me adiantava ficar com aquela negatividade. E tem mais: se desse errado era só colocar um ponto final em tudo e pronto, tudo estaria resolvido.
Entrei no MSN e fiquei trocando ideia com o Víctor e outros colegas de São Paulo. Menos de meia hora depois, um pop-up com o nome e a foto do meu irmão subiram e em seguida o nome dele apareceu na lista de pessoas que estavam online.
Senti uma vontade enorme de falar com ele, mas resisti até o último. Era melhor passar vontade do que ser humilhado, não é mesmo?
Não falei com o Cauã, mas não consegui não fuçar no perfil do Orkut dele. Estava mesmo com o status “namorando” e tinha várias fotos da Joyce em um álbum criado exclusivamente para ela.
Que nojo. Que garota vulgar! Ficou comigo e depois com meu irmão gêmeo... Será que ela não tinha amor próprio? Ou será que ela nos achava tão bonitos assim que não resistiu a nenhum de nós dois?
Dei uma passadinha na página de recados dele e li um por um. Não havia nada de anormal. Parecia que tudo estava na mesma santa rotina de sempre.
- E aí, Caio? – Fabrício entrou no quarto já sem camiseta.
- Tudo bom?
- Sim e você? O que faz aí nesse note? Vendo filme pornô? – ele abriu um sorriso.
- Que nada, rapaz – sorri em resposta. – Estou fuçando no Orkut do meu irmão gêmeo.
- Ah, é! Eu esqueço que você é gêmeo.
- Sou sim...
- Me diga uma coisa, você e seu irmão já pegaram a mesma mina?
- Então, meu irmão está namorando com uma garota que eu pegava antes de vir pra cá.
- Sério?
- Aham! Vem aqui ver a foto deles...
Procurei uma foto dos dois e mostrei pro meu amigo. Ele ficou espantado com a nossa semelhança.
- Não me conformo com a semelhança de vocês dois. São clones, só podem.
- Somos nada. Cauã e eu só parecemos na aparência, porque no caráter somos bem diferentes.
- Por que diz isso?
- Um dia eu te conto, Fabrício. Um dia eu te conto!
- Belezinha...
Ainda bem que ele respeitava a minha intimidade. Eu sentia que podia contar com aquele cara sempre que precisasse.
- Obrigado por ser compreensivo, você é um amigão!
- Imagina, eu odeio interferir na intimidade das pessoas. Agora eu vou tomar banho que estou fedendo aqui.
- E aí, como foi o jogo? – perguntei.
- Da hora. Nós jogamos com o pessoal da faculdade, foi muito bacana. Se você não tivesse ido trampar, teria ido com a gente.
- Faz um tempão que não bato uma bolinha.
- Precisamos marcar mais vezes – ele saiu com a toalha em um dos ombros e fechou a porta quando passou.
Respondi alguns recados no meu perfil, li meus e-mails e percebi que o Bruno tinha mandado mais algumas mensagens. Não cheguei a contar quantas eram, apenas fui apagando sem dar nem atenção aos títulos que ele havia colocado.
- Vai pra lixeira, você também e você, e mais você... – bufei de raiva.
Eu apaguei as mensagens, mas não cheguei a ir no lixo eletrônico para excluir tudo definitivamente.
Não tinha nenhum e-mail importante, então assim que fiz a limpeza na minha caixa de entrada, desloguei do site e em seguida, desliguei meu computador.
- Ah, você está usando? – Rodrigo entrou sem bater na porta.
- Estou não, acabei de desligar. Pode levar!
- Ah, muito obrigado. Senti muito a falta dele.
- E de mim não, né?
- De você só um pouquinho.
Ele estava sem camisa e todo suado.
- Cachorro!
- Au, au – ele latiu e saiu do quarto em seguida.
Eu fiquei dando risada sozinho. O Rodrigo era uma figura. A menina que tivesse a oportunidade de namorar com ele, com certeza iria se divertir muito.
Deitei e fiquei olhando pro teto. Eu estava namorando de novo... Quem diria que isso ia acontecer?
Quando o Bruno me largou, eu tive tantos pensamentos negativos, eu senti tanta vontade de morrer que nem sequer cogitei a possibilidade de encarar novos relacionamentos.
Mas o fato é que tinha passado tempo demais e eu tinha o direito de ser feliz. O Carlos era calmo e parecia gostar de mim de verdade. Não custava nada eu dar uma chance pro cara. E se ele me fizesse feliz de verdade?
Mas como tudo na vida, tinha o outro lado da história: e se ele me machucasse da mesma forma que o Bruno me machucou?
Essa era uma resposta que só o tempo daria e eu não teria como saber se ia mesmo acontecer ou não.
Também não podia me dar ao luxo de julgar o coitado do Henrique não é mesmo? Ele aparentava ser tão bonzinho! Não adiantava eu ficar com aqueles pensamentos só porquê uma vez o Bruno me machucou...
Eu estava generalizando. Não é porquê um me fez mal que o outro também ia fazer. Eu estava resistente demais. Tinha mais é que me jogar, encarar aquele relacionamento como uma forma de ser feliz e não ficar pensando no futuro!
Fabrício entrou só de toalha e com os cabelos pingando. Ele estava tão gostosinho que eu senti meu pau endurecer imediatamente.
- Bom demais tomar um banho gelado antes de dormir, né?
- Gelado? A essa hora?
- Estava morrendo de calor.
- Nem está fazendo calor hoje.
O que era um milagre tratando-se do Rio de Janeiro.
- É porque eu corri, suei. Estava precisando.
- Imagino.
- Posso usar seu note?
- O Rodrigo pegou. Claro que pode!
- Vou lá ver se ele vai demorar muito.
- Beleza.
Virei de lado e fechei meus olhos. Se eu soubesse que iria adormecer tão rapidamente, teria tirado a minha roupa e me trocado, ou ficado apenas de cueca para dormir um pouco mais confortável.
Acordei com o sol batendo na minha cara.
Desacreditei que a janela tinha ficado aberta durante toda a madrugada. O
Fabrício estava mesmo passando calor na noite anterior.
Levantei e fui direto pro banheiro. Como tinha trabalhado a semana inteira sem folga, estava me sentindo um pouco cansado, mas nada que fosse comprometer o meu rendimento na empresa.
- Bom dia – o futuro médico me cumprimentou e em seguida bagunçou meu cabelo. – Dormiu bem?
- Dormi e você?
- Bem demais. Já vai trabalhar?
- Daqui a pouco, por quê?
- É que você já está arrumado.
- Ah, não. Eu dormi assim.
- Esqueceu de tirar a roupa ou quis dormir assim?
- Esqueci. Peguei no sono assim.
- É um lesado mesmo.
- Me respeita, faz favor?
Meu amigo riu e entrou no banheiro. Eu pensei que eu é que ia entrar.
- Ei, eu ia entrar aí...
- Pode entrar se quiser – ele abriu a porta.
- O que você vai fazer? – ergui as sobrancelhas.
- Tomar banho.
- Eu também! Nem se tivessem dois chuveiros daria certo.
- Pensei que você só ia usar. Então espera aí que é rápido!
E não demorou mesmo. Em menos de 5 minutos, o gatinho saiu com uma cueca branca extremamente colada ao corpo, que deixou aquela jiboia incrivelmente marcada contra o tecido.
- Ui – me abanei.
Ele riu alto.
- Bocó!
Sorri, entrei, fechei a porta e caí debaixo da água morna. Tomei um banho rápido, mas renovador. Saí do banheiro me sentindo um pouco melhor e já não tão cansado como antes.
- Bom dia – Éverton estava com a mesma cueca vermelha do dia anterior.
- Bom dia, bibelô. Tudo em ordem?
- Tudo e bibelô é o caralho!
- O caralho deve ser bibelô também – eu dei risada.
- Quer ver? Quer dar uma conferida? – ele fez menção de abaixar a cueca.
- Não, valeu. Deve ser tão pequeno que a gente só vai enxergar com lupa!
Ele me deu um soco no ombro, mas sorriu. O Éverton era gente fina e levava as nossas brincadeiras na esportiva. Se ele fosse outro, encararia a baixa estatura como um problema e levaria uma vida rancorosa por causa disso.

Fabrício e eu saímos com antecedência naquele dia. Quando chegamos no shopping, ainda faltava mais de meia hora para o nosso expediente começar.
- Bom trabalho – ele apertou meu ombro.
- Pra você também, manda um salve pra galera lá. Menos pro Lucas!
- Pode deixar.
Cada um foi para sua respectiva loja. Quando eu entrei, percebi que os únicos funcionários presentes eram a Eduarda e duas meninas que fizeram treinamento comigo.
- Bom dia – as cumprimentei.
- Bom dia – elas responderam.
- Tudo bom? – perguntei.
- Sim – Duda me encarou. – Onde está seu cabelo arrepiado? Quer dizer que só foi no primeiro dia? É isso mesmo?
- Ah, chefe demora muito pra fazer e não segura direito. Eu não vou ficar me matando não.
- Ficou tão legal, deveria tentar de novo.
- Vou ver se amanhã eu faço.
- Hoje nós teremos visitias, pessoal – falou minha gerente.
- Que visita? – perguntou uma das meninas.
- Nosso gerente regional.
- O que é gerente regional? – perguntou a outra menina.
- É o meu gerente. Meu superior. Ele vai ficar aqui hoje.
- E a gente tem que fazer alguma coisa específica? – perguntei.
- Só se policiarem quanto a conversas paralelas e manterem o foco nos setores de vocês. Darei maiores explicações quando todos chegarem.
O homem se chamava Tácio e ao contrário da Duda e do Jonas, ele parecia ser um pouco antipático.
- Esse é o Caio – falou Jonas. – O funcionário mais jovem da filial.
- Tudo bem, Caio? – ele estendeu a mão.
- Tudo e o senhor?
- Muito bem, obrigado. Agora fiquei curioso, qual a sua idade?
- 18 anos – sorri.
- Um menino ainda e já entrou na empresa? Meus parabéns, espero que agarre essa oportunidade com unhas e dentes, pois normalmente não aceitamos vendedores tão jovens. Você deve ter experiência na função?
- Tenho sim.
- Embora ele seja jovem, Tácio, o Caio é muito comprometido e fecha muitas vendas, viu?
- É mesmo, Jonas? Depois eu vou querer dar uma olhada nas vendas dele.
- Te mostro com prazer – meu gerente sorriu. – Vamos lá? Vou te apresentar o pessoal de móveis...
Não gostei nada daquele papo de mostrar as minhas vendas. Tudo bem que o cara era superior dos meus superiores, mas não me agradei com aquele assunto.
- Que cara é essa, menino? – perguntou Maria, uma das vendedoras de linha branca.
- Não é nada, Maria.
- E aí, gostou do Tácio?
- Parece ser gente fina – menti e em seguida saí para atender um cliente.
Tive uma rotina absolutamente normal. Carlos e eu só tivemos oportunidade de conversar depois que o regional foi almoçar.
- Difícil vir falar com meu namorado – ele abriu um sorriso e estendeu a mão.
- Pois é, esse regional no nosso mocotó não está dando certo. Tudo bem?
- Melhor agora e você?
- Estou bem.
- Quer dar uma passadinha lá em casa hoje à noite?
- Não. Quando você chegar em casa eu já vou estar no vigésimo sono.
- Ah, é mesmo! Eu esqueço que nós somos de turnos diferentes...
- Pois é. Só no final de semana mesmo.
- Vou contar os dias pra isso.
- Eu também – sorri.
- Pra você – ele tirou um chocolate do bolso da calça.
- Ai que lindo! – meus olhos brilharam. – Muito obrigado!
- Adoro te ver feliz, sabia?
- Você é muito lindo! Obrigado...
- Caio, reunião da linha branca – chamou um dos vendedores.
- Vai lá, depois a gente se fala – Henrique apertou meu ombro, do mesmo jeito que o Fabrício tinha feito mais cedo.
Só tive oportunidade de saborear meu chocolate quando saí da empresa. Ele já estava um pouco derretido, mas mesmo assim eu me lambuzei todo.
- Não oferece não, diacho? – Janaína ficou com o olho cumprido.
- Não! – engoli o último pedaço.
- Mão de vaca! – ela virou o rosto.
- Foi presente e presente a gente não compartilha.
- Ah, é? – os olhos dela brilharam. – De quem você ganhou?
- Não posso falar.
- Como não? Vai esconder as coisas de mim agora? – ela já ficou encapetada.
- Tem coisas que nós temos que esconder, né?
- Vai me negar uma fofoca, Caio Monteiro? Nossa, deixa você!
- Estou brincando, amor meu – eu a agarrei com força. – Eu ganhei do meu namorado!
- WHAT?! – ela arregalou os olhos de uma forma tão engraçada que eu fui obrigado a rir.
- É isso mesmo que você ouviu.
- Mentira? Quem é o bofe? É da loja? Como se chama? É bonito? Tem dinheiro? É bom de cama? É grande o negócio?
- Calma, uma pergunta de cada vez! É da loja sim, é o Carlos Henrique.
- MENTIRA? NÃO CREIO! – ela ficou boquiaberta.
- Cala a boca, inferno. É ele sim, qual o problema?
- Por isso ele queria ficar no seu quarto no hotel...
- A gente começou a namorar tem poucos dias, Jana! Ai como você é escandalosa...
- Que babado fortíssimo... Estou preta passada na chapinha!
- Mas o que você acha dele?
- Ah, sei lá. Meio sem sal.
- Por que diz isso?
- Ah, não faz meu tipo não. Sou mais o Gabriel.
- Aquele monte de músculos? Ele é bombado demais.
- Bem meu número ele. Pena que a Alexia foi mais rápida que eu, mas tudo bem.
- O Carlos é bonitinho. Eu gosto dele.
- Se você gosta é isso que importa.
- Nem preciso pedir pra você não falar nada com ninguém, né?
- Não precisa. Confie em mim, por favor. E da próxima vez, conte mais cedo. Daqui a pouco vocês estão fazendo bodas de ouro e eu só fiquei sabendo agora.
- Dá pra ser menos exagerada? – eu dei risada.
- Não é exagero não. Ai, meu busão chegou, finalmente!
Ela esticou a mão e ficou pulando no meio da calçada feito uma doida. Parecia uma pulga no cio.
- Janaína, o motorista já viu – eu fiquei com vergonha. – Quer parar de pular, pelo amor de Deus? O povo vai pensar que você é louca.
- Estou aproveitando a oportunidade para me exercitar um pouquinho. Beijo, amigo até amanhã!
- Até, sua doente. Bom descanso!
Ela subiu murmurando alguma coisa que para mim foi incompreensível. Aquela menina me fazia rir o tempo todo e isso era bom, pelo menos nas horas de dor eu ia poder contar com ela para me tirar do fundo do poço.
Levantei e fui direto pro banheiro. Como tinha trabalhado a semana inteira sem folga, estava me sentindo um pouco cansado, mas nada que fosse comprometer o meu rendimento na empresa.
- Bom dia – o futuro médico me cumprimentou e em seguida bagunçou meu cabelo. – Dormiu bem?
- Dormi e você?
- Bem demais. Já vai trabalhar?
- Daqui a pouco, por quê?
- É que você já está arrumado.
- Ah, não. Eu dormi assim.
- Esqueceu de tirar a roupa ou quis dormir assim?
- Esqueci. Peguei no sono assim.
- É um lesado mesmo.
- Me respeita, faz favor?
Meu amigo riu e entrou no banheiro. Eu pensei que eu é que ia entrar.
- Ei, eu ia entrar aí...
- Pode entrar se quiser – ele abriu a porta.
- O que você vai fazer? – ergui as sobrancelhas.
- Tomar banho.
- Eu também! Nem se tivessem dois chuveiros daria certo.
- Pensei que você só ia usar. Então espera aí que é rápido!
E não demorou mesmo. Em menos de 5 minutos, o gatinho saiu com uma cueca branca extremamente colada ao corpo, que deixou aquela jiboia incrivelmente marcada contra o tecido.
- Ui – me abanei.
Ele riu alto.
- Bocó!
Sorri, entrei, fechei a porta e caí debaixo da água morna. Tomei um banho rápido, mas renovador. Saí do banheiro me sentindo um pouco melhor e já não tão cansado como antes.
- Bom dia – Éverton estava com a mesma cueca vermelha do dia anterior.
- Bom dia, bibelô. Tudo em ordem?
- Tudo e bibelô é o caralho!
- O caralho deve ser bibelô também – eu dei risada.
- Quer ver? Quer dar uma conferida? – ele fez menção de abaixar a cueca.
- Não, valeu. Deve ser tão pequeno que a gente só vai enxergar com lupa!
Ele me deu um soco no ombro, mas sorriu. O Éverton era gente fina e levava as nossas brincadeiras na esportiva. Se ele fosse outro, encararia a baixa estatura como um problema e levaria uma vida rancorosa por causa disso.
Fabrício e eu saímos com antecedência naquele dia. Quando chegamos no shopping, ainda faltava mais de meia hora para o nosso expediente começar.
- Bom trabalho – ele apertou meu ombro.
- Pra você também, manda um salve pra galera lá. Menos pro Lucas!
- Pode deixar.
Cada um foi para sua respectiva loja. Quando eu entrei, percebi que os únicos funcionários presentes eram a Eduarda e duas meninas que fizeram treinamento comigo.
- Bom dia – as cumprimentei.
- Bom dia – elas responderam.
- Tudo bom? – perguntei.
- Sim – Duda me encarou. – Onde está seu cabelo arrepiado? Quer dizer que só foi no primeiro dia? É isso mesmo?
- Ah, chefe demora muito pra fazer e não segura direito. Eu não vou ficar me matando não.
- Ficou tão legal, deveria tentar de novo.
- Vou ver se amanhã eu faço.
- Hoje nós teremos visitias, pessoal – falou minha gerente.
- Que visita? – perguntou uma das meninas.
- Nosso gerente regional.
- O que é gerente regional? – perguntou a outra menina.
- É o meu gerente. Meu superior. Ele vai ficar aqui hoje.
- E a gente tem que fazer alguma coisa específica? – perguntei.
- Só se policiarem quanto a conversas paralelas e manterem o foco nos setores de vocês. Darei maiores explicações quando todos chegarem.
O homem se chamava Tácio e ao contrário da Duda e do Jonas, ele parecia ser um pouco antipático.
- Esse é o Caio – falou Jonas. – O funcionário mais jovem da filial.
- Tudo bem, Caio? – ele estendeu a mão.
- Tudo e o senhor?
- Muito bem, obrigado. Agora fiquei curioso, qual a sua idade?
- 18 anos – sorri.
- Um menino ainda e já entrou na empresa? Meus parabéns, espero que agarre essa oportunidade com unhas e dentes, pois normalmente não aceitamos vendedores tão jovens. Você deve ter experiência na função?
- Tenho sim.
- Embora ele seja jovem, Tácio, o Caio é muito comprometido e fecha muitas vendas, viu?
- É mesmo, Jonas? Depois eu vou querer dar uma olhada nas vendas dele.
- Te mostro com prazer – meu gerente sorriu. – Vamos lá? Vou te apresentar o pessoal de móveis...
Não gostei nada daquele papo de mostrar as minhas vendas. Tudo bem que o cara era superior dos meus superiores, mas não me agradei com aquele assunto.
- Que cara é essa, menino? – perguntou Maria, uma das vendedoras de linha branca.
- Não é nada, Maria.
- E aí, gostou do Tácio?
- Parece ser gente fina – menti e em seguida saí para atender um cliente.
Tive uma rotina absolutamente normal. Carlos e eu só tivemos oportunidade de conversar depois que o regional foi almoçar.
- Difícil vir falar com meu namorado – ele abriu um sorriso e estendeu a mão.
- Pois é, esse regional no nosso mocotó não está dando certo. Tudo bem?
- Melhor agora e você?
- Estou bem.
- Quer dar uma passadinha lá em casa hoje à noite?
- Não. Quando você chegar em casa eu já vou estar no vigésimo sono.
- Ah, é mesmo! Eu esqueço que nós somos de turnos diferentes...
- Pois é. Só no final de semana mesmo.
- Vou contar os dias pra isso.
- Eu também – sorri.
- Pra você – ele tirou um chocolate do bolso da calça.
- Ai que lindo! – meus olhos brilharam. – Muito obrigado!
- Adoro te ver feliz, sabia?
- Você é muito lindo! Obrigado...
- Caio, reunião da linha branca – chamou um dos vendedores.
- Vai lá, depois a gente se fala – Henrique apertou meu ombro, do mesmo jeito que o Fabrício tinha feito mais cedo.
Só tive oportunidade de saborear meu chocolate quando saí da empresa. Ele já estava um pouco derretido, mas mesmo assim eu me lambuzei todo.
- Não oferece não, diacho? – Janaína ficou com o olho cumprido.
- Não! – engoli o último pedaço.
- Mão de vaca! – ela virou o rosto.
- Foi presente e presente a gente não compartilha.
- Ah, é? – os olhos dela brilharam. – De quem você ganhou?
- Não posso falar.
- Como não? Vai esconder as coisas de mim agora? – ela já ficou encapetada.
- Tem coisas que nós temos que esconder, né?
- Vai me negar uma fofoca, Caio Monteiro? Nossa, deixa você!
- Estou brincando, amor meu – eu a agarrei com força. – Eu ganhei do meu namorado!
- WHAT?! – ela arregalou os olhos de uma forma tão engraçada que eu fui obrigado a rir.
- É isso mesmo que você ouviu.
- Mentira? Quem é o bofe? É da loja? Como se chama? É bonito? Tem dinheiro? É bom de cama? É grande o negócio?
- Calma, uma pergunta de cada vez! É da loja sim, é o Carlos Henrique.
- MENTIRA? NÃO CREIO! – ela ficou boquiaberta.
- Cala a boca, inferno. É ele sim, qual o problema?
- Por isso ele queria ficar no seu quarto no hotel...
- A gente começou a namorar tem poucos dias, Jana! Ai como você é escandalosa...
- Que babado fortíssimo... Estou preta passada na chapinha!
- Mas o que você acha dele?
- Ah, sei lá. Meio sem sal.
- Por que diz isso?
- Ah, não faz meu tipo não. Sou mais o Gabriel.
- Aquele monte de músculos? Ele é bombado demais.
- Bem meu número ele. Pena que a Alexia foi mais rápida que eu, mas tudo bem.
- O Carlos é bonitinho. Eu gosto dele.
- Se você gosta é isso que importa.
- Nem preciso pedir pra você não falar nada com ninguém, né?
- Não precisa. Confie em mim, por favor. E da próxima vez, conte mais cedo. Daqui a pouco vocês estão fazendo bodas de ouro e eu só fiquei sabendo agora.
- Dá pra ser menos exagerada? – eu dei risada.
- Não é exagero não. Ai, meu busão chegou, finalmente!
Ela esticou a mão e ficou pulando no meio da calçada feito uma doida. Parecia uma pulga no cio.
- Janaína, o motorista já viu – eu fiquei com vergonha. – Quer parar de pular, pelo amor de Deus? O povo vai pensar que você é louca.
- Estou aproveitando a oportunidade para me exercitar um pouquinho. Beijo, amigo até amanhã!
- Até, sua doente. Bom descanso!
Ela subiu murmurando alguma coisa que para mim foi incompreensível. Aquela menina me fazia rir o tempo todo e isso era bom, pelo menos nas horas de dor eu ia poder contar com ela para me tirar do fundo do poço.
Quando o Fabrício chegou da faculdade, eu já estava
quase pegando no sono.
- Caio?
- Hum? – não abri meus olhos.
- Pode vir na sala? Tenho um comunicado a fazer...
- Comunicado? Que comunicado? – abri meus olhos imediatamente. Será que havia acontecido alguma coisa?
- Vamos lá que você vai saber.
Eles não tinham nem trocado de roupa. Todos, exceto eu e o Rodrigo, estavam muito bem arrumados.
- O negócio é o seguinte – Fabrício ficou encostado nas costas do sofá. – O dono da casa me ligou.
- Ligou? – Vinícius perguntou.
- Ligou mais cedo. Eu estava trabalhando, mas consegui atender. Eu vou direto ao ponto: ele quer aumentar o aluguel em 50%.
- Como é? – Vinícius ficou bravo. – Tudo isso? Ele é louco?
- Pois é. Tudo isso. Ele alegou que não aumentou ano passado e agora quer retroativo.
- Nem pensar! – Vinícius ficou bravo mesmo. – Não estou cagando dinheiro!
- Calma, Vini! – falou Maicon. – 50% é dinheiro demais. Ele não pode fazer isso.
- Foi o que eu aleguei também – falou Fabrício. – Falei que a gente não ia aceitar tudo isso de uma vez só.
- E o que ele disse? – perguntou Rodrigo.
- Disse que se a gente não aceitar, temos que desocupar a casa.
- Não tem problema, a gente desocupa – Vinícius bufou. – Eu não vou aceitar pagar tudo isso não. Essa casa não vale esse valor todo.
- Mas tem que ver que a gente também usa os móveis – disse Éverton.
- Não importa. Quando a gente mudou pra cá, ele disse que o valor não ia passar disso – reclamou o futuro médico. – E agora ele vem com essa?
- Acontece que nós já estamos morando aqui há bastante tempo – falou Rodrigo. – Mais cedo ou mais tarde esse cara ia querer aumentar o aluguel.
- Se ele quer aumentar, beleza. É um direito dele – falou Vini. – Só o que ele não pode é fazer um aumento tão abusivo assim. Se aumentasse uns 20%, 30% eu não ia falar nada. Somos em 6 e isso não ia interferir tanto no orçamento, mas 50%? É dinheiro demais!
- Concordo com o Vini – falou Maicon. – É dinheiro demais e eu já tenho muitos gastos. Não posso pagar mais do que eu pago aqui na república.
- Eu também não – falou Rodrigo. – Quem está me bancando é meu pai, ele não tem dinheiro pra ficar gastando comigo não. E eu estou desempregado.
- Calma gente, tudo se resolve – falei. – A gente pode conversar com ele...
- Também acho – disse Fabrício. – Eu marquei com ele pro sábado de manhã, assim todo mundo vai estar presente.
- Vamos conversar sim, mas se ele não mudar de idiea, o que a gente faz? – perguntou Éverton.
- Vamos procurar outra casa – falou Vinícius. – Eu não aceito pagar tudo isso não. Não aceito mesmo.
- Caio?
- Hum? – não abri meus olhos.
- Pode vir na sala? Tenho um comunicado a fazer...
- Comunicado? Que comunicado? – abri meus olhos imediatamente. Será que havia acontecido alguma coisa?
- Vamos lá que você vai saber.
Eles não tinham nem trocado de roupa. Todos, exceto eu e o Rodrigo, estavam muito bem arrumados.
- O negócio é o seguinte – Fabrício ficou encostado nas costas do sofá. – O dono da casa me ligou.
- Ligou? – Vinícius perguntou.
- Ligou mais cedo. Eu estava trabalhando, mas consegui atender. Eu vou direto ao ponto: ele quer aumentar o aluguel em 50%.
- Como é? – Vinícius ficou bravo. – Tudo isso? Ele é louco?
- Pois é. Tudo isso. Ele alegou que não aumentou ano passado e agora quer retroativo.
- Nem pensar! – Vinícius ficou bravo mesmo. – Não estou cagando dinheiro!
- Calma, Vini! – falou Maicon. – 50% é dinheiro demais. Ele não pode fazer isso.
- Foi o que eu aleguei também – falou Fabrício. – Falei que a gente não ia aceitar tudo isso de uma vez só.
- E o que ele disse? – perguntou Rodrigo.
- Disse que se a gente não aceitar, temos que desocupar a casa.
- Não tem problema, a gente desocupa – Vinícius bufou. – Eu não vou aceitar pagar tudo isso não. Essa casa não vale esse valor todo.
- Mas tem que ver que a gente também usa os móveis – disse Éverton.
- Não importa. Quando a gente mudou pra cá, ele disse que o valor não ia passar disso – reclamou o futuro médico. – E agora ele vem com essa?
- Acontece que nós já estamos morando aqui há bastante tempo – falou Rodrigo. – Mais cedo ou mais tarde esse cara ia querer aumentar o aluguel.
- Se ele quer aumentar, beleza. É um direito dele – falou Vini. – Só o que ele não pode é fazer um aumento tão abusivo assim. Se aumentasse uns 20%, 30% eu não ia falar nada. Somos em 6 e isso não ia interferir tanto no orçamento, mas 50%? É dinheiro demais!
- Concordo com o Vini – falou Maicon. – É dinheiro demais e eu já tenho muitos gastos. Não posso pagar mais do que eu pago aqui na república.
- Eu também não – falou Rodrigo. – Quem está me bancando é meu pai, ele não tem dinheiro pra ficar gastando comigo não. E eu estou desempregado.
- Calma gente, tudo se resolve – falei. – A gente pode conversar com ele...
- Também acho – disse Fabrício. – Eu marquei com ele pro sábado de manhã, assim todo mundo vai estar presente.
- Vamos conversar sim, mas se ele não mudar de idiea, o que a gente faz? – perguntou Éverton.
- Vamos procurar outra casa – falou Vinícius. – Eu não aceito pagar tudo isso não. Não aceito mesmo.
Quando cheguei no trabalho na manhã seguinte, a
minha chefe foi logo ao meu encontro e disse:
- Bom dia – ela me deu dois beijos no rosto.
- Bom dia, chefa. Tudo bem?
- Bem sim e você?
- Ótimo.
- Que bom, preciso falar com você.
- Sobre?
- Sobre sua folga. Você trabalhou domingo e tem direito a uma folga na semana. Qual o dia você vai querer?
- Tenho?
- Nossa, você não lembra mesmo das coisas que eu te falo, né?
- Claro que lembro, não seja boba – fiquei encabulado.
- Qual dia você quer? Pode ser amanhã, sexta ou sábado.
- Por mim pode ser qualquer dia desses aí.
- Adoro pessoas flexíveis como você.
- E se eu não quiser pegar agora, tem problema?
- Tem não. Quer deixar mais pra frente?
- Quero! Quanto tempo eu posso esperar pra pegar? Eu posso acumular mais folgas?
- Você pode adiar quanto tempo quiser, mas o limite de acúmulo é de 5 folgas. Mais do que isso não pode. Por exemplo: suponhamos que você trabalhe 5 domingos seguidos. Vai ter direito a 5 folgas, certo?
- Certo – concordei.
- Quando você totalizar 5 folgas, você é obrigado a tirá-las. Não pode juntar mais do que isso não. Nós visamos seu bem estar também.
- Ah, que bacana! Gostei... Então eu vou acumular. Posso?
- Pode sim, mas vamos nos programando para você não tirar essas folgas em uma época de pico de vendas, como dia dos pais, natal e por aí vai.
- Nós estamos em junho, eu não vou aguentar ficar até dezembro sem folga, por favor né?
Ela riu.
- Vai saber, né? É brincadeira. Até dezembro você ia acumular umas cem folgas.
- Quem me dera!
- Era isso. Vai deixar pra mais pra frente, né?
- Vou sim, Duda. Eu prefiro.
- Então tudo bem. Estamos combinados assim.
- Bom dia – ela me deu dois beijos no rosto.
- Bom dia, chefa. Tudo bem?
- Bem sim e você?
- Ótimo.
- Que bom, preciso falar com você.
- Sobre?
- Sobre sua folga. Você trabalhou domingo e tem direito a uma folga na semana. Qual o dia você vai querer?
- Tenho?
- Nossa, você não lembra mesmo das coisas que eu te falo, né?
- Claro que lembro, não seja boba – fiquei encabulado.
- Qual dia você quer? Pode ser amanhã, sexta ou sábado.
- Por mim pode ser qualquer dia desses aí.
- Adoro pessoas flexíveis como você.
- E se eu não quiser pegar agora, tem problema?
- Tem não. Quer deixar mais pra frente?
- Quero! Quanto tempo eu posso esperar pra pegar? Eu posso acumular mais folgas?
- Você pode adiar quanto tempo quiser, mas o limite de acúmulo é de 5 folgas. Mais do que isso não pode. Por exemplo: suponhamos que você trabalhe 5 domingos seguidos. Vai ter direito a 5 folgas, certo?
- Certo – concordei.
- Quando você totalizar 5 folgas, você é obrigado a tirá-las. Não pode juntar mais do que isso não. Nós visamos seu bem estar também.
- Ah, que bacana! Gostei... Então eu vou acumular. Posso?
- Pode sim, mas vamos nos programando para você não tirar essas folgas em uma época de pico de vendas, como dia dos pais, natal e por aí vai.
- Nós estamos em junho, eu não vou aguentar ficar até dezembro sem folga, por favor né?
Ela riu.
- Vai saber, né? É brincadeira. Até dezembro você ia acumular umas cem folgas.
- Quem me dera!
- Era isso. Vai deixar pra mais pra frente, né?
- Vou sim, Duda. Eu prefiro.
- Então tudo bem. Estamos combinados assim.
Fiquei pensando na notícia que o Fabrício nos deu.
Será que iríamos ter que sair da república? E se isso acontecesse, onde nós
iríamos morar?
- Que ar de preocupação é essa? – perguntou Janaína. – Isso tudo porque não está perto do namorado?
- Fala baixo, mulher – eu sibilei. – Quer que a loja toda fique sabendo?
- Não citei nomes, citei?
- Independente! Não, não é isso. Já falei com ele hoje. É outra coisa.
- Que coisa? Se é que eu posso saber, é claro.
- Pode sim. O dono da casa onde eu moro quer aumentar o aluguel e acho que nós vamos ter que sair de lá...
- Que chato...
- Pois é, e estou preocupado com nosso destino. Vamos ter que achar outra casa e que já esteja mobiliada.
- Aí complica mais ainda.
- Esse é o problema.
- Pensei que os móveis fossem de vocês...
- Não, não. Eu também pensei que fossem, mas não são.
- Vai dar tudo certo. Tenha paciência e confie que dará tudo certo.
- Assim espero.
- Que ar de preocupação é essa? – perguntou Janaína. – Isso tudo porque não está perto do namorado?
- Fala baixo, mulher – eu sibilei. – Quer que a loja toda fique sabendo?
- Não citei nomes, citei?
- Independente! Não, não é isso. Já falei com ele hoje. É outra coisa.
- Que coisa? Se é que eu posso saber, é claro.
- Pode sim. O dono da casa onde eu moro quer aumentar o aluguel e acho que nós vamos ter que sair de lá...
- Que chato...
- Pois é, e estou preocupado com nosso destino. Vamos ter que achar outra casa e que já esteja mobiliada.
- Aí complica mais ainda.
- Esse é o problema.
- Pensei que os móveis fossem de vocês...
- Não, não. Eu também pensei que fossem, mas não são.
- Vai dar tudo certo. Tenha paciência e confie que dará tudo certo.
- Assim espero.
- Boa noite, moço – fui falar com o Carlos na hora
que acabou meu expediente. – Já vou embora.
- Que pena, não terei mais quem olhar agora.
- Quer dizer que você fica me olhando?
- O dia inteiro – ele ficou vermelho. – É que você é lindo demais!
- Para, eu não sou tão lindo assim.
- Claro que é!
- Seu bobo. Vou embora, quero ir à praia. Amanhã a gente se fala!
- Vai pra praia agora? Mas nem tem mais sol...
- Não quero curtir o sol, quero ouvir o mar. Só isso.
- Ah, entendi. Então tá, né? Boa praia pra você!
- Obrigado e bom término aí...

- Que pena, não terei mais quem olhar agora.
- Quer dizer que você fica me olhando?
- O dia inteiro – ele ficou vermelho. – É que você é lindo demais!
- Para, eu não sou tão lindo assim.
- Claro que é!
- Seu bobo. Vou embora, quero ir à praia. Amanhã a gente se fala!
- Vai pra praia agora? Mas nem tem mais sol...
- Não quero curtir o sol, quero ouvir o mar. Só isso.
- Ah, entendi. Então tá, né? Boa praia pra você!
- Obrigado e bom término aí...
Embora fosse noite, a Praia de Botafogo estava
lotada. Eu não tive como pisar na areia, afinal estava de tênis e se ficasse
descalço, depois teria um problema para colocar as minhas meias.
Caminhei pelo calçadão e fiquei olhando pro mar. Estava tão bonito, tão majestoso... Será que existe algo mais bonito que o mar no Planeta Terra?
As pessoas estavam felizes. Uns andavam de bicicleta e outros corriam na ciclovia. Estava com saudade da praia. Precisava tirar um dia para pegar um bronze e curtir as areias cariocas. Isso iria me fazer muito bem.
Como estava razoavelmente perto da minha casa, resolvi voltar caminhando. Foi bom respirar um pouco de ar puro e colocar os pensamentos em ordem.
- Onde você estava? – perguntou Rodrigo. – Que demora foi essa? O que você estava aprontando? Por que não me ligou? Eu pensei que tivesse acontecido alguma coisa! Quer me matar de preocupação?
- Calma, respira! Resolvi dar uma passadinha na praia, pai – expliquei.
- Palhaço! Eu pergunto porque me preocupo com você.
- Calma, é só uma brincadeira!
- Pra você – ele me entregou um chocolate.
- Pra mim?
- Não, pra Ana Maria Braga! É claro que é pra você, anta!
- Quanto amor! Obrigado.
- E aí, o que você achou dessa história do aluguel?
- Complicado – sentei no sofá. – Não queria sair daqui, já me acostumei com o bairro, com a casa...
- Eu também, mas se for necessário teremos que encarar o desafio.
- Ah, isso com certeza. Vamos ver como fica no sábado.
- Verdade. De toda forma, já vou começar a sondar na faculdade uma nova república.
- Já?
- Já sim, não podemos perder tempo. Eu só espero que a gente não tenha que se separar.
- É verdade, temos que achar uma casa para nós seis. Ou pelo menos para os mais íntimos.
- Concordo. Agora é só esperar pra ver. Tem janta, vai querer?
- O que é?
- Macarrão com salsicha. Eu que fiz.
- Vamos ver se ficou bom. Qualquer coisa eu janto fora.
- Nossa, valeu pela parte que me toca, Caio! Eu te dou um chocolate com todo o carinho do mundo e é assim que você me paga! Beleza!
- É brincadeira, seu bobo!
Rodrigo e eu fomos pra cozinha. A gororoba dele estava comível, mas não era um manjar dos deuses.
- Que foi? – percebi que ele fez uma careta de repente.
- Ah, estou com uma dor de estômago esquisita hoje.
- Sério? Já tomou remédio?
- Não, porque não é dor forte. É só umas pontadas.
- Se piorar toma um remédio. Pede pro Vini que ele deve ter alguma coisa.
- É eu vou fazer um acompanhamento. E aí, já comprou seu celular?
- Ainda não. Vou comprar essa semana sem falta, já está todo mundo me cobrando.
- É bom, se a gente precisar falar com você nem tem como.
- Uhum, vou comprar sim.
- Hoje é seu dia de lavar a louça, viu?
- Eu sei – engoli a comida e suspirei. – Odeio fazer isso, mas...
- Faz parte. Também não gosto.
- Rodrigo, tenho uma novidade para te contar.
- Que novidade?
- Eu estou namorando de novo.
- Está é? – ele estava com a mão apoiada no queixo. – E quem é o coitado?
- O coitado é um garoto que trabalha comigo. Ele se chama Carlos Henrique.
- Hum, finalmente fez a fila andar. Assim que eu gosto!
- É... Estava na hora, né?
- Passou da hora – ele me corrigiu. – Fico feliz por você e faço votos que sejam muito felizes. Depois eu quero conhecê-lo.
- Beleza, te apresento com o maior prazer.
- Safado, por isso que você chegou mais tarde hoje?
- Não – eu levantei e fui direto pra pia. – Eu estava na praia mesmo. Ele ainda não saiu do trabalho.
- Ah, entendi. Eu vou deitar, tá bom? Essa dorzinha está me deixando irritado.
- Toma cuidado, mano. Não brinca com isso.
- É só uma pontada mesmo.
Caminhei pelo calçadão e fiquei olhando pro mar. Estava tão bonito, tão majestoso... Será que existe algo mais bonito que o mar no Planeta Terra?
As pessoas estavam felizes. Uns andavam de bicicleta e outros corriam na ciclovia. Estava com saudade da praia. Precisava tirar um dia para pegar um bronze e curtir as areias cariocas. Isso iria me fazer muito bem.
Como estava razoavelmente perto da minha casa, resolvi voltar caminhando. Foi bom respirar um pouco de ar puro e colocar os pensamentos em ordem.
- Onde você estava? – perguntou Rodrigo. – Que demora foi essa? O que você estava aprontando? Por que não me ligou? Eu pensei que tivesse acontecido alguma coisa! Quer me matar de preocupação?
- Calma, respira! Resolvi dar uma passadinha na praia, pai – expliquei.
- Palhaço! Eu pergunto porque me preocupo com você.
- Calma, é só uma brincadeira!
- Pra você – ele me entregou um chocolate.
- Pra mim?
- Não, pra Ana Maria Braga! É claro que é pra você, anta!
- Quanto amor! Obrigado.
- E aí, o que você achou dessa história do aluguel?
- Complicado – sentei no sofá. – Não queria sair daqui, já me acostumei com o bairro, com a casa...
- Eu também, mas se for necessário teremos que encarar o desafio.
- Ah, isso com certeza. Vamos ver como fica no sábado.
- Verdade. De toda forma, já vou começar a sondar na faculdade uma nova república.
- Já?
- Já sim, não podemos perder tempo. Eu só espero que a gente não tenha que se separar.
- É verdade, temos que achar uma casa para nós seis. Ou pelo menos para os mais íntimos.
- Concordo. Agora é só esperar pra ver. Tem janta, vai querer?
- O que é?
- Macarrão com salsicha. Eu que fiz.
- Vamos ver se ficou bom. Qualquer coisa eu janto fora.
- Nossa, valeu pela parte que me toca, Caio! Eu te dou um chocolate com todo o carinho do mundo e é assim que você me paga! Beleza!
- É brincadeira, seu bobo!
Rodrigo e eu fomos pra cozinha. A gororoba dele estava comível, mas não era um manjar dos deuses.
- Que foi? – percebi que ele fez uma careta de repente.
- Ah, estou com uma dor de estômago esquisita hoje.
- Sério? Já tomou remédio?
- Não, porque não é dor forte. É só umas pontadas.
- Se piorar toma um remédio. Pede pro Vini que ele deve ter alguma coisa.
- É eu vou fazer um acompanhamento. E aí, já comprou seu celular?
- Ainda não. Vou comprar essa semana sem falta, já está todo mundo me cobrando.
- É bom, se a gente precisar falar com você nem tem como.
- Uhum, vou comprar sim.
- Hoje é seu dia de lavar a louça, viu?
- Eu sei – engoli a comida e suspirei. – Odeio fazer isso, mas...
- Faz parte. Também não gosto.
- Rodrigo, tenho uma novidade para te contar.
- Que novidade?
- Eu estou namorando de novo.
- Está é? – ele estava com a mão apoiada no queixo. – E quem é o coitado?
- O coitado é um garoto que trabalha comigo. Ele se chama Carlos Henrique.
- Hum, finalmente fez a fila andar. Assim que eu gosto!
- É... Estava na hora, né?
- Passou da hora – ele me corrigiu. – Fico feliz por você e faço votos que sejam muito felizes. Depois eu quero conhecê-lo.
- Beleza, te apresento com o maior prazer.
- Safado, por isso que você chegou mais tarde hoje?
- Não – eu levantei e fui direto pra pia. – Eu estava na praia mesmo. Ele ainda não saiu do trabalho.
- Ah, entendi. Eu vou deitar, tá bom? Essa dorzinha está me deixando irritado.
- Toma cuidado, mano. Não brinca com isso.
- É só uma pontada mesmo.
- Boa noite, moço – colei na bancada de telefonia.
- Boa noite, posso ajudar? – Gabriel entrou na onda.
- Pode, quero ver um celular.
- É só olhar aí, meu filho – ele sorriu.
- Estou falando sério. Quero comprar meu aparelho hoje!
- Sério mesmo? É sério que você vai ajudar esse pobre vendedor? – os olhos dele brilharam.
- Vai depender dos preços. Vou pesquisar ainda.
- Pesquisar nada, vai é comprar comigo – ele já foi abrindo o compartimento onde ficavam os aparelhos. – Qual você vai querer?
- Um que seja de acordo com a minha renda – falei.
- Mas qual você gostou?
- Ai de muitos. Esse pretinho aqui é lindo, mas é muito caro...

Foi um dilema muito grande. Eu fiquei em dúvida em muitos, muitos mesmo. Confesso que fiquei com vontade de pesquisar o preço da concorrência, mas como sabia que tanto o Gabo quanto a Duda iam ficar chateados, resolvi comprar logo de uma vez.
- Ah, seja o que Deus quiser! Vai esse pretinho mesmo.
- Aí eu gostei, hein? Vamos fechar a compra.
Gabriel abriu o meu cadastro e eu senti na pele o que os clientes sentiam. Eram tantas perguntas que até dava raiva de ficar esperando tanto tempo.
- Vou chamar minha gerente para liberar seu desconto, tudo bem? – Gabriel ficou todo feliz.
- Eu aguardo, moço. Muito obrigado.
Eles não demoraram nem 2 minutos.
- Pois não? – Eduarda apareceu. – É você que está querendo colocar fogo na loja?
- Farei isso se você não me conceder 99% de desconto!
- 99% eu não te garanto, mas uns 10% sim.
- Já é alguma coisa – abri um sorriso.
- Qual você escolheu?
- Esse pretinho aí.
- Boa compra. Ele é muito bom.
- Você tem um desses?
- Meu marido.
- Hum...
- Prontinho, Gabriel.
- Obrigado, patroa!
- Obrigado, Duda.
- Por nada, Caio.
- Desconto em folha mesmo? – meu amigo perguntou.
- Por favor.
- Só um momento...
Foi bom demais sair da loja com meu celular novo. A primeira coisa que fiz quando coloquei meus pés fora da empresa foi ativar a minha linha. Eu queria voltar a ser sociável o mais rápido possível.
- Boa noite, posso ajudar? – Gabriel entrou na onda.
- Pode, quero ver um celular.
- É só olhar aí, meu filho – ele sorriu.
- Estou falando sério. Quero comprar meu aparelho hoje!
- Sério mesmo? É sério que você vai ajudar esse pobre vendedor? – os olhos dele brilharam.
- Vai depender dos preços. Vou pesquisar ainda.
- Pesquisar nada, vai é comprar comigo – ele já foi abrindo o compartimento onde ficavam os aparelhos. – Qual você vai querer?
- Um que seja de acordo com a minha renda – falei.
- Mas qual você gostou?
- Ai de muitos. Esse pretinho aqui é lindo, mas é muito caro...
Foi um dilema muito grande. Eu fiquei em dúvida em muitos, muitos mesmo. Confesso que fiquei com vontade de pesquisar o preço da concorrência, mas como sabia que tanto o Gabo quanto a Duda iam ficar chateados, resolvi comprar logo de uma vez.
- Ah, seja o que Deus quiser! Vai esse pretinho mesmo.
- Aí eu gostei, hein? Vamos fechar a compra.
Gabriel abriu o meu cadastro e eu senti na pele o que os clientes sentiam. Eram tantas perguntas que até dava raiva de ficar esperando tanto tempo.
- Vou chamar minha gerente para liberar seu desconto, tudo bem? – Gabriel ficou todo feliz.
- Eu aguardo, moço. Muito obrigado.
Eles não demoraram nem 2 minutos.
- Pois não? – Eduarda apareceu. – É você que está querendo colocar fogo na loja?
- Farei isso se você não me conceder 99% de desconto!
- 99% eu não te garanto, mas uns 10% sim.
- Já é alguma coisa – abri um sorriso.
- Qual você escolheu?
- Esse pretinho aí.
- Boa compra. Ele é muito bom.
- Você tem um desses?
- Meu marido.
- Hum...
- Prontinho, Gabriel.
- Obrigado, patroa!
- Obrigado, Duda.
- Por nada, Caio.
- Desconto em folha mesmo? – meu amigo perguntou.
- Por favor.
- Só um momento...
Foi bom demais sair da loja com meu celular novo. A primeira coisa que fiz quando coloquei meus pés fora da empresa foi ativar a minha linha. Eu queria voltar a ser sociável o mais rápido possível.
A campainha tocou cedo demais no sábado. Eu
levantei com os olhos ardendo e com um mau-humor fora do comum. Será possível
que o dono da casa tinha mesmo que chegar lá antes das 7 da manhã?
- Esse é o Caio – Vinícius me apresentou. – Ele mora aqui há quase 2 anos.
- Tudo bom? – o homem perguntou.
- Tudo – resmunguei.
Ele era calvo, muito barrigudo e com um bigode na cara que parecia mais o rabo de uma raposa. Para completar, um cheiro horrível de cigarro tomou conta do ambiente e eu fiquei até enjoado.
- Antes de conversar com vocês eu queria dar uma olhada na casa toda, pode ser?
- Claro, pode ficar à vontade – falou Fabrício. – Só não olha a bagunça.
- Não se preocupem com isso. Desculpem ter vindo tão cedo e ter tirado vocês da cama, acontece que esse é o único horário que eu tenho.
- Não tem problema.
Ele foi em todos os quartos e passou os olhos por todos os lados.
- Tudo está bem conservado. Isso é bom.
- Nós tentamos conservar a casa ao máximo – falou Vinícius. – Somos bem organizados com relação a isso.
- E o banheiro? Alguma reclamação? Alguma infiltração?
- Tudo em ordem, nunca tivemos problema com isso – faloi Fabrício.
- Excelente. Vamos aos fatos...
Ele expôs o motivo pelo qual teria que aumentar tanto o valor do aluguel e ficou irredutível quanto a um abatimento.
- Não posso diminuir. Eu perdi dois imóveis recentemente e esse é o último que me resta. Ou vocês aceitam, ou vamos reincidir o contrato, infelizmente.
- Não podemos aceitar um valor tão absurdo assim, Mário – falou Vinícius. – Está incompatível com a nossa renda. – Você tem que entender que somos estudantes, temos gastos, obrigações. Alguns de nós não trabalham, dependem dos pais... Aí fica difícil, aí você quebra as nossas pernas...
- Eu entendo rapazes, juro que entendo. Porém, vocês também precisam me entender. Eu perdi duas casas, só tenho essa e é a minha única fonte de renda. Tenho que aumentar o valor.
- Mas não precisa aumentar tanto assim – falou Fabrício.
- Lamento muito, mas não posso diminuir o valor.
- É sua última palavra?
- Minha última palavra.
- Então não aceitamos – falou Vini.
- Perfeito – falou o velho. – Então comecem a arrumar suas coisas porque vocês têm 30 dias pra sair dessa casa. E nem um segundo a mais que isso!
- Esse é o Caio – Vinícius me apresentou. – Ele mora aqui há quase 2 anos.
- Tudo bom? – o homem perguntou.
- Tudo – resmunguei.
Ele era calvo, muito barrigudo e com um bigode na cara que parecia mais o rabo de uma raposa. Para completar, um cheiro horrível de cigarro tomou conta do ambiente e eu fiquei até enjoado.
- Antes de conversar com vocês eu queria dar uma olhada na casa toda, pode ser?
- Claro, pode ficar à vontade – falou Fabrício. – Só não olha a bagunça.
- Não se preocupem com isso. Desculpem ter vindo tão cedo e ter tirado vocês da cama, acontece que esse é o único horário que eu tenho.
- Não tem problema.
Ele foi em todos os quartos e passou os olhos por todos os lados.
- Tudo está bem conservado. Isso é bom.
- Nós tentamos conservar a casa ao máximo – falou Vinícius. – Somos bem organizados com relação a isso.
- E o banheiro? Alguma reclamação? Alguma infiltração?
- Tudo em ordem, nunca tivemos problema com isso – faloi Fabrício.
- Excelente. Vamos aos fatos...
Ele expôs o motivo pelo qual teria que aumentar tanto o valor do aluguel e ficou irredutível quanto a um abatimento.
- Não posso diminuir. Eu perdi dois imóveis recentemente e esse é o último que me resta. Ou vocês aceitam, ou vamos reincidir o contrato, infelizmente.
- Não podemos aceitar um valor tão absurdo assim, Mário – falou Vinícius. – Está incompatível com a nossa renda. – Você tem que entender que somos estudantes, temos gastos, obrigações. Alguns de nós não trabalham, dependem dos pais... Aí fica difícil, aí você quebra as nossas pernas...
- Eu entendo rapazes, juro que entendo. Porém, vocês também precisam me entender. Eu perdi duas casas, só tenho essa e é a minha única fonte de renda. Tenho que aumentar o valor.
- Mas não precisa aumentar tanto assim – falou Fabrício.
- Lamento muito, mas não posso diminuir o valor.
- É sua última palavra?
- Minha última palavra.
- Então não aceitamos – falou Vini.
- Perfeito – falou o velho. – Então comecem a arrumar suas coisas porque vocês têm 30 dias pra sair dessa casa. E nem um segundo a mais que isso!
Nenhum comentário:
Postar um comentário