terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Capítulo 75

E
le não estava achando que eu ia aceitar aquele convite, estava?



- Você está louco? – eu comecei a dar risada.
- Qual o problema? Vai me dizer que você não tem curiosidade de entrar em uma sauna?
- Até tenho, mas eu não vou com você no meu “mocotó”, né Víctor?
- E qual o problema? – ele repetiu a pergunta. - Acha que eu vou te estrupar?
- Sinceramente? Tenho quase certeza. Melhor não arriscar – ri de novo.
- Do jeito que você está ficandogostosinho, é provável que eu te agarre mesmo – ele sorriu.
- Sai fora! Quero isso pra mim não, meu.
- Será? Duvido que você resista à minha pegada!
- Que pegada? Você não tem pegada, meu.
- Como sabe? Quer experimentar?
- Não, obrigado. Meu pau não sobe com você.
- Ah, até parece que não. Lembro muito bem daquele dia que a gente estava lá na minha casa e eu quis ficar com você.
- Nem me lembre daquele dia. Estou traumatizado até hoje. Você não queria ficar comigo, você queria me estrupar, isso sim!
- Aham. Não seria má ideia – ele piscou de brincadeira.
- Deus me livre! Agora falando sério, não vou pra sauna não. Se você quiser ir, pode ficar à vontade.
- Querer eu quero, mas sozinho eu não tenho coragem. Deixa de ser chato e me faz companhia?
- Não, obrigado. Estou bem aqui nesse sofá, descansando o meu corpinho.
- Chato!
- Mas você me ama mesmo assim.
- Amo? Não sabia. Estou desinformado, hein?
- Tanto me ama que está doidinho pra me dar uns pegas!
- Ah, faz favor! Menos, Caio.
- Nem tenta disfarçar, que eu sei que é verdade.
- Ultimamente você tem se sentido demais, garoto.
- Eu? Claro que não!
- Claro que sim. Você está metidinho demais.
- Nunca serei metido, meu filho – eu era super humilde!
- Uhum. Quem não te conhece que te compre.
- Para de graça. Eu vou ao bar, quer alguma coisa?
- Não, obrigado. Vê se não bebe muito que nem ontem, hein?
- Só não vou beber muito porque estou sem dinheiro, senão ia beber tanto ou mais que ontem.
- Toma cuidado, Caio. Você está virando um alcoolatra!





Eu tive que dar risada. Existia uma diferença muito grande entre beber por diversão e ser um cachaceiro compulsivo. E eu era controlado demais para saber a hora de parar.
- Exagerado! – dei risada e saí andando.
Não tive trabalho algum de chegar ao bar porque o caminho estava literalmente vazio. Acho que as únicas pessoas que estavam naquele salão éramos o Víctor e eu – além dos funcionários, é claro.
- O que vai querer? – o barman perguntou.
- Uma Smirnoff Ice, por favor.
- Aqui – ele me entregou o pedido rapidamente.
- Obrigado.
Que delícia! O líquido estava tão gelado que todo o meu estômago ficou na mesma temperatura que a bebida. Totalmente refrescante, do jeito que eu gostava.
- Quer? – ofereci de novo.
- O que é isso?
- Smirnoff Ice. Uma delícia!
- Deixa eu experimentar, vai...
Ele fez uma cara de repulsa tão engraçada que eu não contive o riso.
- Como consegue beber isso, moleque? Que horror...
- Delícia!
Acabou que o Víctor e eu ficamos totalmente entediados, porque não havia nada a ser feito naquele local. Nós só conseguimos nos animar quando as pessoas começaram a chegar.
- Agora sim, está ficando cheinho – ele falou.
- Daqui a pouco começa a bombar, você vai ver.
- Espero que seja bom mesmo, hein? Senão eu te mato.
- Vai gostar. Principalmente do dark room.
- Assim espero, assim espero.
- Me empresta seu celular? – estiquei a mão.
- Pra quê?!
- Quero jogar um pouco, o tempo não está passando.
- Pelo amor de Deus, você não vai fazer isso, vai?
- Qual o problema? – eu imitei a pergunta que ele havia feito no começo. – Não tem nada pra fazer mesmo!
- Só você pra me fazer pagar mico na balada – ele me entregou o aparelho.
- Olha quem fala! Você me faz pagar muito mais mico, moleque.
- Nem vou comentar.
- Acho bom.
- Vou dar uma volta, já volto.
- Já vai caçar?
- Claro! Não estou aqui para ficar jogando no celular, né?
O telefone do Víctor era um Nokia 2280, daqueles que nem câmera tinha, mas mesmo assim era um bom aparelho. Eu acessei o menu de aplicativos e me diverti horrores com o joguinho do balão.



- Divertindo-se muito? – ele voltou em 5 minutos.
- Da hora esse jogo do balão, hein?
- Como você achou?
- Ué, fuçando!
- Caraca... Curioso, hein?
- Ué, só abri os aplicativos e encontrei. O que há demais nisso? Até parece que eu sou um gênio só porque achei esse joguinho.
- Não tem nada de interessante nesse lugar, Caio. Acho que você está me enganando!
- Quer segurar a periquita e esperar? Não são nem 23h30, ainda tem muito tempo pela frente. Nós só vamos sair daqui lá pelas 5 horas.
- Se eu não ficar com ninguém, eu quebro seus dentes.
- E a culpa vai ser minha se você não ficar? A minha parte eu já fiz, que foi te trazer aqui. O resto você se vira.
- Olha lá como fala comigo, hein?
- - Cala a boca e me deixa curtir esse joguinho aqui.
- Se acabar com a minha bateria eu te mato.
- A bateria está cheia, não seja chorão!
Mas é claro que eu não fiquei jogando por muito tempo, afinal eu estava em uma boate. Se tinha algo pra ser feito ali, com certeza não era mexer no celular.
Conforme eu imaginara, por volta da 1 da madrugada as coisas começaram a esquentar e a pista começou a ficar cheia. Consecultivamente, meu amigo ficou mais animado e eu também me soltei um pouquinho mais.
- Agora sim isso aqui está ficando legal – ele sorriu.
- Eu disse, não disse?
- Arrasou, gatão.
Ali nós poderíamos soltar a franga sem sermos julgados ou criticados pelas pessoas. Naquela danceteria, eu não tinha motivos para criticar o jeito do Víctor falar ou se portar, afinal ali todos éramos iguais.
- Vou dar mais uma volta, agora não é possível que eu não arrume alguém.
- Vai na fé! – incentivei.
- Não vai, não? Vai ficar aí sentado que nem um velho?
- Eu me solto mais tarde, amor.
- Hum, essa eu pago pra ver.




Não era exatemente o que ia acontecer, porque quando eu me soltasse, nós estaríamos na escuridão do quarto escuro, então ele não iria me enxergar.
A minha moleza chegou ao fim em um determinado momento da madrugada. De repente, as músicas começaram a ficar mais animadas e eu não consegui mais ficar sentado naquele sofá preto. Fui obrigado a me levantar e a cair na pista de dança, mesmo sem saber dançar muito bem.
Decidi ficar um pouco mais “solto”, então não pensei duas vezes em beber mais alguma coisa para me animar um pouquinho mais. E a bebida escolhida foi uma batida de alguma coisa com leite condensado. Muito boa, mas um pouco doce demais, o que acabou me deixando meio tonto.
- Bebendo de novo, Caio? – ele apareceu e parecia estar contente.
- Quer?
- O que é isso?
- Batida. Experimenta.



Daquela vez ele não fez cara de nojo e pareceu gostar.
- Essa é melhorzinha. É doce, né?
- Uhum. E aí, pegou?
- Peguei!!! – Víctor abriu um sorriso imenso.
- Graças a Deus! Isso merece até uma oração de agradecimento!
- Como você é sem graça...
- Pegou quem? Me mostra?
- Você acha mesmo que eu vou encontrá-lo no meio dessa muvuca?
- E foi bom? – bebi mais um gole da minha bebida.
- Foi, foi bom. Não foi o melhor beijo do mundo, mas foi bom.
- Mas ele é bonito?
- É gatinho. Até parece que eu vou ficar com um cara feio, né Caiô?!
Às vezes algumas pessoas tinham a mania de me chamar de “Caiô”. Eu já estava até acostumado.
- E você? Não pegou ainda? – ele tomou o copo da minha mão e se apossou da minha batida.
- Ainda não, mas calma que é cedo e eu não estou tão necessitado como você, colega.
- Ah, desculpa aí se você pode vir aqui todo final de semana, né?
- Não venho todo final de semana, venho no máximo duas vezes ao mês.
- O que já é suficiente.
- Tá, tudo bem. Três vezes ao mês – confessei.
- Já aumentou?
- Ah, tá bom! Eu confesso: eu venho mesmo todos os finais de semana.
- Viu só?
- Brincadeira, bobo. Acho que nunca fiz isso. Ou fiz? Ah, sei lá. Sempre que me dá vontade eu colo aqui.
- Safadinho...
- São os hormônios – dei risada.
- Idiota!
Meu melhor amigo e eu nos rendemos ao som e nos jogamos na dança. Até que não estávamos mandando tão mal assim...
- Aqui não toca funk não, né? – Víctor questionou.
- Nunca ouvi tocar não. Espero que não toque, senão eu vou embora.
- Te faço companhia. Se bem que você está morando no Rio de Janeiro; já deve estar acostumado a ouvir essa porcaria.
- Pior que não estou. Não consigo me acostumar com um bagulho tão ruim assim.
- Verdade!
Esporadicamente eu era obrigado a ouvir esse tipo de música, mas nunca fiquei confortável nessas situações. Que me perdoem as pessoas que gostam de funk, mas na minha humilde opinião, esse tipo de música é uma ofensa aos nossos ouvidos!
- Agora sou eu que vou dar uma volta, beleza? – eu queria respirar um pouco. – Já volto.
- Não demora.
- Não controla meu tempo, faz favor.
Saí perambulando pelo meio dos caras e como a pista estava um pouco apertada demais, foi inevitável não esbarrar em um ou outro pelo caminho.

- Desculpa – falei a um cara muito, mas muito alto.
- Tudo bem – ele não se importou comigo.
Se ele não chegasse a 2 metros de altura, estava próximo. Me senti um anão de jardim perto daquele gigante. Fiquei imaginando quanto mediria o...
- Que horror, Caio – eu mesmo me repreendi e em seguida dei risada sozinho.
Aproveitei que estava perto do banheiro e entrei para lavar o rosto e tirar a água dos joelhos. Segui para o mictório, mas para o meu total desagrado, um senhorzinho de meia-idade se alojou ao meu lado e ficou de olho no meu companheiro.
- Algum problema? – fiquei irritado. – Perdeu alguma coisa?
- Oi? – ele ficou sem graça.
- Quer parar de olhar, por favor? – eu coloquei o braço em cima da divisória que separava os mictórios para dificultar a visão dele.
- Posso segurar?
- Não!!! Tá louco, irmão? Se liga! – me revoltei mais ainda e parei de fazer xixi na metade do caminho. – Era só o que me faltava!
Saí daquele local e fui para um dos boxes. Pelo menos lá eu tinha certeza que iria ter privacidade.
Quando eu saí da cabine, o cara já não estava mais dentro do banheiro. Pelo menos ele tinha se tocado, né?



Lavei as mãos e em seguida joguei um pouco de água no meu rosto. Precisava me refrescar porque estava sentindo muito calor.
- Está passando mal? – um funcionário perguntou.
- Não. Por quê?!
- Está lavando o rosto...
- É calor – eu me justifiquei e ri.
- Ah, que susto. Que bom que está tudo bem. Desculpa o incômodo.
- Imagina!
Se eu não tivesse tanta certeza que ele era hetero, teria dado um jeito de atacá-lo ali mesmo. O cara era lindo, mas hetero. Só de olhar para ele, a gente sacava que ele não curtia a coisa. E se curtia, sabia disfarçar muito bem.
A noite passou que passou voando. Quando eu percebi, já era mais de 2 da manhã e eu ainda não havia ficado com ninguém.
- Quantos? – perguntei ao Víctor.
- 6 – ele se gabou. – E você?
- Nenhum, mas a diversão começa agora.
- Por que diz isso?
- Vou subir pro dark. Vem comigo!
Eu segurei na mão do meu parceiro e nós subimos os dois lances de escada que davam acesso ao quarto escuro. Lá já estava começando a ficar movimentado, mas ainda não estava completamente lotado de pessoas.
- É aqui? – ele se chocou.
- Não, é ali em cima. Tem que subir esses degraus.
- Mas claro assim?
- As luzes são apagadas mais tarde, Víctor. Não se precipite.
- Se você está falando...







Assim, sem mais nem menos, eu senti duas mãos fortes me puxarem para trás e de repente me vi nos braços de um cara forte. Nós começamos a nos beijar ali mesmo e eu nem me preocupei com a presença do Víctor ao meu redor. Eu não tinha nada para esconder dele mesmo...
- Como é seu nome? – ele perguntou depois de um tempão.
- Caio e você?
- Marcelo.
- Prazer, Marcelo – eu falei.
- Prazer é meu. Quer ir para um lugar mais calmo?
- Não posso, estou com meu amigo.
- A gente leva ele também.
- Não, não – ri. – Valeu.
- O que seu amigo curte?
- Não sei, nunca perguntei, mas não rola. De verdade.
- Tem certeza? Eu dou conta dos dois, hein?
- Tenho certeza absoluta. Valeu.
- Que pena. Vocês iam gostar.
- Imagino – me afastei e dei um tapinha amigával no braço do cara. – Até mais.
- Não acredito que você dispensou essa delícia, Caio – Víctor reclamou.
- Ele queria sair com nós dois ao mesmo tempo. Sai fora!
- Como é? – ele arregalou os olhos e abriu a boca.
- Acho que ele queria pegar você e eu ao mesmo tempo. Pelo menos foi isso que ele disse e deu a entender.
- E por que você não me falou, filho da puta? – ele me deu um soco de brincadeira.
- Está doido? Até parece que eu ia querer, né?
- Mas eu sim!
- Você é você, eu sou eu. Sai fora!!!
Subir as escadas e ficar naquele corredor me deu sorte. Pouco tempo depois de ter dispensado o Marcelo, já estava ficando com outro e o Víctor não ficou atrás.
- Você beija bem – o moleque falou.
- Valeu – agradeci. – Você também.
- Qual a sua idade?
- 18 e a sua?
- 20. Vamos ali em cima?
- Uhum.
E eu ia recusar um convite daqueles? O carinha era todo delícia, eu é que não ia perder a oportunidade de tirar uma casquinha dele.
O boy me jogou contra a parede e me beijou de uma maneira alucinante. A língua dele percorreu toda a minha boca e é claro que com isso eu fiquei pra lá de excitado.
- Já ficou duro? – ele segurou no meu volume por cima da calça.
- Pois é – eu confirmei.
- Safadinho... Posso ver?
- Já?!
- Pra que perder tempo?
- Só espera as luzes apagarem. Eu sou meio tímido...
- Ah... – ele me deu um selinho. – Não tem ninguém aqui...
- Não. Eu tenho vergonha – e se alguém aparecesse?
- Quer ver o meu? – ele começou a desabotoar a calça.
- Você ainda pergunta?
Não era o maior que eu já tinha visto; diria até que era pequeno, porém dava pro gasto.
- Segura?
Eu segurei e nós imendamos outro beijo. Fiquei batendo uma bem de leve pra ele não gozar, não queria que ele sujasse a minha roupa.
- Chupa? – o carinha perguntou.
- Claro assim não.
O local estava começando a ficar cheio e em seguida as luzes foram apagadas.
- E agora? Chupa?
- Agora sim.
Eu ajoelhei e coloquei tudo na boca, o que não foi difícil de se fazer. Conforme eu chupava, eu sentia o pau dele endurecer na minha boca e isso foi me deixando louquinho de tesão.
- Só isso? – ele reclamou quando eu levantei.
- Cansei de ficar agachado, pô.
- E agora? Vai colocar o seu pra fora, ou tá difícil?
- Ele já está – eu peguei na mão dele e coloquei por cima do meu pau.
Em menos de um minuto senti ele abocanhar todo o meu sexo. Foi um boquete rápido, todavia muito gostoso.
- Delícia – eu mordi meu lábio e empurrei a cabeça dele pra baixo.
Depois que ele subiu, nós nos beijamos novamente e só depois de muito tempo foi que lembrei de perguntar como ele se chamava:
- André e você?
- Caio.
- E aí, vamos sair daqui?
- Não, não estou sozinho.
- Está com quem?
- Com meu amigo.
- Ah, entendi. Então eu vou nessa, quero algo a mais hoje.
- Beleza. Boa sorte.
- Valeu.
Antes mesmo dele sair de perto de mim, outro já se aproximou e começou a me beijar. O bom de ficar no dark room era que a gente não ficava sozinho por muito tempo, sempre tinha com o que se ocupar.
E foi assim por muito tempo. Perdi as contas de quantos caras me chuparam e perdi as contas de quantos pediram para eu chupar, mas aquela velha dor na consciência falou mais alto e eu não fiz sexo oral em mais ninguém, porque por incrível que pareça, nenhum quis usar camisinha.
- Sem camisinha eu não faço – bati o pé e o cara ficou arredio.
- Para de bobagem, meu – ele forçou a minha cabeça pra baixo.
- Não rola – eu o empurrei de leve.
 - Falou então...
- Falou!
- Caio? – ouvi a voz do Víctor me chamando.
- Aqui – eu falei. – Onde você está?
Ele não respondeu, mas quando alguém segurou na minha mão direita, eu sabia que era ele.
- E aí? – perguntei. – Se divertindo muito?
- Demais – ele soltou um profundo suspiro. – E você?
- Bastante. Só meio frustrado.
- Com o quê?!
- Nada demais, coisa boba.
Foi quando o meu amigo me abraçou que eu notei que ele estava sem camisa. Só não entendi porquê ele tinha jogado o corpo contra o meu.
- Quer me esmagar? – reclamei.
- Desculpa, me empurraram.
- Por que está sem camisa?
- Porque tiraram e eu estou com calor também.
Ele estava mesmo um pouco suado.
- Não perdeu a camiseta não, né Víctor?
- Não. Ela está bem segura aqui. Nossa, que delícia... – ele segurou o meu volume.
- Solta – fiquei com vergonha.
- Não mesmo – ele continuou brincando com o meu pau, mas não colocou pra fora.
- Para de graça, você é meu amigo!
- Não estou fazendo nada demais. Pode ficar tranquilo que eu não vou fazer nada além disso.
- Assim espero.
Não vi maldade no que ele estava fazendo. Era só uma brincadeira entre amigos e eu tinha certeza absoluta que aquele feito não atrapalharia a nossa amizade, pelo contrário.
- Quanto mede, mano? – ele perguntou no meu ouvido.
- Ah, não sei – devo ter ficado muito vermelho. – Por quê?
- Parece ser grande...
- Não é. Ele é normal.
- Não acho...
Mesmo estando um pouco sem graça, eu também segurei no dele, só que por cima da calça, assim como o Víctor estava fazendo.
- Isso aí, não passa vontade não – ele brincou.
- Palhaço. O seu também é grande.
- Acho que eles devem ter o mesmo tamanho. Vamos medir?
- ATÉ PARECE – eu caí na gargalhada e ele acabou retribuindo.
- Como você é idiota.
- Você que é,
- Ui, tem alguém me bulinando, Caio! – exclamou.
Senti vontade de sair correndo quando eu senti a calça do Víctor ser abaixada. O que será que ia acontecer?
- Puta que pariu – eu reclamei quando o pau dele saiu pra fora da cueca.
- A culpa não é minha, juro – ele tentou colocar a cueca, mas não conseguiu.
- Coloca isso, Víctor – eu pedi.
- Ah... – ele soltou um gemido e agarrou nos meus ombros.
- O que foi?
- Tem alguém me chupando – ele sussurrou no meu ouvido.
- Ai, SOCORRO! Deixa eu sair daqui... – fiquei desesperado.
- Para, você tá me servindo de apoio!
- E eu lá tenho cara de quebra-galho? Tô fora!
Com muita dificuldade, eu consegui andar pro lado e me desvencilhei do corpo do Víctor.
- Você me paga, Caio!
- Estou sem dinheiro.
Mas de nada adiantou fugir do Víctor, pois assim que eu me afastei dele, alguém me empurrou contra outro alguém e uma suruba começou a acontecer.
- Ui – soltei um gemido de surpresa quando alguém começou a me chupar.
Se existia algo melhor que aquela pegação, eu desconhecia. Enquanto um me chupava, outro me encoxava e ao mesmo tempo eu batia para mais dois. Era a descoberta de todos os prazeres ao mesmo tempo.
Para completar a minha farra, o que estava atrás de mim virou o meu pescoço e começou a me beijar. E que beijo delicioso ele me deu!
Comecei a ouvir gemidos vindos de todas as partes. Todas as partes mesmo: do meu lado direito, do meu lado esquerdo, na minha frente e atrás de mim. Uma verdadeira putaria sem fim.
- Para, para, para – eu afastei o rosto do cara que estava me chupando. – Senão eu vou gozar!
Ele se levantou e me beijou feito um louco. Senti algo bem duro bater na minha barriga e não me fiz de sonso: tratei logo de pegar e começar uma punhetinha pra ele.
- Me chupa?!
- Só se tiver camisinha!
E ele tinha. Finalmente um que era prevenido. Quando o pênis ficou completamente coberto, eu ajoelhei e comecei a chupar. Não foi algo muito legal sentir gosto de plástico na boca, mas melhor aquilo do que contrair uma doença sexualmente transmissível.
Ele gozou no exato momento em que a música parou. Senti a ponta da camisinha ficar mais pesada e me senti aliviado em saber que eu não ia receber nenhuma gota daquele esperma.
- Ah... – ele gemeu pela última vez e eu me levantei. – Tesão...
Não precisou de muito para eu gozar. Bastou ele bater duas ou três vezes no meu dote para eu ejacular no chão daquele quarto escuro. Senti as minhas pernas amolecerem quando eu o orgasmo ocorreu.
Quando as luzes acenderam, eu vi o Víctor pegando dois carinhas ao mesmo tempo. Que safado! Mas eu não podia condená-lo, afinal já havia feito aquilo antes.
- E aí, gostou? – o homem que estava comigo perguntou.
- Muito – fui sincero.
- Você vem aqui direto, né?
- Às vezes. Por que? Já me viu aqui?
- Algumas vezes – ele sorriu. – E espero te ver de novo.
- Provavelmente verá sim.
- Que bom. Até mais então, gostosinho.
- Até mais, gostosão – eu brinquei, ele sorriu e foi embora.
- Vamos embora? – o meu amigo estava suado, despenteado e com a aparência de cansado.
- Onde você estava, criatura? Lutando na 2ª Guerra Mundial?
-- Hã? Não entendi!
- Você está horrível...



- Ah, obrigado! Amo a sua sinceridade.
- É verdade, vai se olhar no espalho. Quantos?
- Só 15 e você?
- Sei lá, depois do quarto eu não contei mais.
- Espero que não tenha pêgo mais do que eu.
- Sem rivalidade, por favor. Vamos embora que eu estou só o pó.
- Somos dois!
- Vai se arrumar, pelo amor de Deus. Não vou sair com você zoado desse jeito.
- Já vou, inferno!







Eu só levantei porque não me restava alternativa. Bocejei e me espreguicei vagarosamente. Eu não queria viajar naquela noite.
- E aí? – Fabrício estava rodeado de cadernos e livros.
- Bom dia. Estudando?
- Semana de provas se aproximando.
- Boa sorte.
- Para onde foi ontem, garoto?
- Barril – menti.
- Ah, é? E aí, pegou muitas?
- Algumas – mascarei a verdade.
- Esse é meu garoto!!!
- Sabe que horas são?
- Já passa das 6 horas.
- JÁ?!
Eu tinha que me apressar.
- Que desespero é esse?
- Vou viajar, esqueceu? Nem arrumei as minhas coisas ainda!
- Nossa, é verdade. Já é hoje, né?
- Já. Estou frito...
- Calma, se precisar de ajuda eu estou aqui.
- Você é um amigão!
- Os amigos são para essas coisas.
Eu fui até o banheiro, fiz xixi, escovei os dentes, lavei o rosto e voltei direto pro quarto para começar a arrumar as minhas coisas.
- Preciso de uma mala – lembrei.
- Eu até te emprestaria a minha, Caio – Fabrício me olhou rapidamente –, mas ela está rasgada. Foi mal...
- Não tem problema, o que vale é a intenção!
- Acho que o Vini tem uma boa, por que não vê com ele?
- É isso mesmo que eu vou fazer!
Fui ao quarto do futuro médico, mas ele estava vazio. Com certeza o Vinícius havia saído para a casa da namorada ou estava com ela em algum lugar da cidade.
- Ele saiu – eu me lamentei.
- Que merda. E agora?
- Vou ver se o Maicon tem uma pra me emprestar.
- Isso aí, alguém vai ter que ter!
É... Alguém tinha que ter...
- E aí, Caio? – parecia que ele estava dormindo.
- Tudo bom, Maicon?
- Beleza e você?
- Bem também. Estava dormindo?
- Cochilando só, mas nem grila. O que você quer?
- Eu preciso de uma bolsa de viagem ou uma mala... você tem para me emprestar?
- Pode crer, você vai viajar hoje à noite, né?
- Uhum. Daqui a pouco para ser mais preciso.
- Desculpa, velho – Maicon abriu um sorriso amarelo. – A minha mala quebrou as rodinhas e não abre mais o zíper...
Será que alguém havia feito macumba pra mim? Só podia ser aquilo! Nada estava dando certo naquele momento...
- Que droga... Mas valeu, Maicon! Não tem problema não...
- O Rodrigo não tem?
Eu olhei pro meu amigo, que também estava no meio dos livros. Será que ele me emprestaria? É claro que ele foi a minha primeira opção, mas o medo de levar um não acabou falando mais alto... Só que naquele momento eu não tinha alternativa. Ele era a minha última esperança.
- Vê aí com ele – o Maicon abriu a porta e fez gesto para eu entrar. – Eu vou ao banheiro.
- Mais uma vez, muito obrigado.
- Disponha!
- Rodrigo?
- Hum? – ele não levantou o rosto para me fitar.
- Me ajuda?
- O que é? – ele continou sem levantar o rosto.
- Você está sabendo que eu vou viajar essa noite, né?
- Sim. O que eu tenho com isso?
- Sabe o que é? É que eu não tenho uma mala para colocar as minhas roupas... Será que... será que você não teria uma para me emprestar?
Ele ficou calado por um momento e eu torci meus dedos para ele dizer que sim.
- Não tenho – essa foi a resposta que eu recebi.
- Não? – doeu na alma aquele “não tenho”.
- Não – Rodrigo repetiu.
- Sério mesmo? Mas e aquela mala que você levou pro Paraná?
- Está ocupada.
- Poxa...
- Sinto muito. Vê com o seu melhor amigo.
- Você é meu melhor amigo – eu senti um nó na garganta. Eu estava frito.
- Corrigindo: eu ERA seu melhor amigo. Agora nós somos meramente CONHECIDOS e que isso fique bem claro.
- Mas...
- Agora não adianta chorar. O leite já derramou e eu não quero mais amizade com você.
- Mas, Rodrigo...
- Sem lamentações. Por mim você leva as suas roupas em uma sacola. Ou melhor, sabe o que você faz?
- Hum...? – meus olhos estavam se enchendo de lágrimas.
- Pega um lençol, coloca suas coisas em cima dele e depois você une as quatro pontas e dá um nó, Pronto! Problema resolvido.
- Francamente, Rodrigo – eu fiquei com raiva.
Até parece que eu ia fazer aquilo, né? Seria o maior mico da minha vida.
- É uma ideia.
- Beleza. Obrigado pela sua ajuda – eu virei as costas e fui embora.
- CAIO? – ele me chamou quando eu já estava no corredor, no entanto eu não voltei para ver o que ele queria.
Eu estava ferrado! Não tinha onde levar as minhas coisas, não tinha como viajar! Por que eu não tinha visto aquilo antes? Como eu pude ser tão imbecíl e ter deixado as coisas para cima da hora?
- Caio? – ele apareceu no corredor e tocou nas minhas costas.
- O que foi? – eu virei com os olhos ainda cheios d’água. – Vai me humilhar ainda mais?
- Eu te empresto a mala – respondeu com uma carinha de dó que eu nunca vou conseguir esquecer.
- Não precisa – fui orgulhoso. – Agora eu não quero mais.
- Não quer? E o que você vai fazer então?
- Eu dou um jeito!
- Para de ser mal-agradecido, Caio. Eu estou te oferecendo, pô.
- Está oferecendo porque ficou com dó de mim. Eu não quero mais. Agora é tarde!
- Para de ser orgulhoso?
- Sou mesmo, Rodrigo. Estou cansado de mendigar sua amizade, sabia?
O Maicon apareceu e como percebeu que a gente estava discutindo, entrou e fechou a porta sem falar nada.
- Ah, Caio! – ele exclamou e ficou com raiva. – Agora é meio tarde para isso, você não acha?
- Não, não acho não. Eu nem te fiz nada pra você me tratar assim. Você nem olha na minha cara direito.
- Era o que eu deveria fazer mesmo. Não deveria te olhar nunca mais, mas eu sou idiota. Eu tenho dó!
- Dispenso sua compaixão.
- Para de ser orgulhoso! Você vai querer ou não a mala?
- Não!
- Ótimo então. Eu tentei. Por mim você leva em um saco de lixo!
Mas antes mesmo dele entrar no quarto eu reconsiderei a minha resposta e é claro que voltei atrás na minha decisão:
- Eu aceito – puxei o Rodrigo pelo braço e fiz ele voltar pro corredor. – Me perdoa... Me perdoa... Eu aceito!
- Depois dessa eu não deveria te emprestar, mas eu vou quebrar seu galho.
- Ficarei muito agradecido, de verdade.
- É o mínimo que você pode fazer.
Ele entrou nos aposentos e eu fiquei esperando no corredor. Suspirei quando meu ex-melhor amigo fechou a porta na minha cara. Por que ele estava sendo tão duro comigo?
- Aqui está – ele voltou depois de poucos minutos com uma mala de rodinhas na mão. – Cuidado com ela.
- Pode deixar. Eu vou ser responsável.
- Espero. Se ela chegar quebrada ou qualquer coisa do tipo, você vai pagar.



- Não se preocupe, Rodrigo. Eu não fujo das minhas responsabilidades.
Ele me fitou no fundo dos olhos, abriu a boca para falar alguma coisa, mas ao invés disso, virou as costas, entrou no quarto e fechou a porta na minha cara pela segunda vez.
- Grosso – falei baixinho.
Que saudades daquele cara que era meu parceiro... Será que eu tinha sido tão rude com ele para ele me tratar daquele jeito? Ou será que tudo não passava de ciúmes do Víctor?
- Conseguiu? – o Fabrício perguntou.
- Uhum. O Rodrigo me emprestou.
- Ah, que bom.
- É...
Depois que tudo estava devidamente arrumado, eu me certifiquei se não estava esquecendo alguma coisa; contudo, aparentemente não estava faltando nada.
- Não vai levar o note?
- Vou sim, mas vou levá-lo na mochila.
- Melhor colocar na mala.
- Você acha?
- Se eu fosse você, nem mochila eu levaria. Vai ser necessário?
- Não sei...
- Melhor não, mano. Deixa ela aqui.
- Acho que vou seguir o seu conselho.
Abri a mala e coloquei meu notebook no meio das roupas. Eu só estava torcendo para nada de ruim acontecer com a mala do Rodrigo, afinal eu não queria pagar o pato quando voltasse pro Rio de Janeiro.
- Tem janta, Fabrício?
- O Maicon fez a comida hoje.
- E o que é?
- Carne de panela mesmo. Ficou bom.
- Saudades das comidas do Will...
- Porra, pode crer. Meu camarada faz falta!
- Será que ele está bem?
- Está sim. Às vezes nós nos falamos na internet.
- Manda um salve quando você falar com ele.
- Pode deixar.
Quando eu passei pra cozinha, resolvi falar com o Víctor. Não era possível que ele ainda estava dormindo naquela altura do campeonato, era?! Já estava ficando um pouco tarde demais...
- Víctor?
- Hum?
- Já arrumou suas coisas? Já, já nós temos que sair!
- Já vou...
- Já vou nada, levanta e arruma suas coisas. Anda!
- Nossa, como você é chato!







Às 9 em ponto eu resolvi sair de casa. Eu tinha que encontrar o pessoal da loja no estacionamento do shopping às 10 e meia e não queria me atrasar.
- Já vai, Caio? – perguntou Maicon.
- Já, Maicon. Não quero me atrasar.
- Então boa viagem, cara – ele me deu um abraço rápido. – Que dê tudo certo nessa sua viagem aí.
- Valeu, mano. Obrigado.
- De nada!!!
- Vamos, Caio? – perguntou Víctor.
- Vamos – eu suspirei.
- Pegou tudo? Não está esquecendo nada?
- Não. E você?
- Tudo aqui. Deixa eu me despedir dos seus amigos...
- Vou me despedir também.
Essa foi a parte chata.
Não foi necessário ir atrás deles. Todos foram ao nosso encontro. Todos, menos o Rodrigo.
- Vai com Deus – Éverton apertou a minha mão e deu um tapinha no meu ombro. – Boa sorte.
- Obrigado.
Não preciso nem falar que o Vinícius não hesitou em me abraçar de verdade, né?
- Boa sorte, se cuida, se comporta, não apronte e juízo, viu? Quando chegar liga aqui para dar notícias!
- Pode deixar, Vini. Você é demais mesmo...
- Já disse que te considero meu irmão mais novo. Você já é da família! – ele sorriu e bateu no meu ombro, como o Éverton tinha feito.
- Obrigado.
- Caio – Fabrício também me puxou e me abraçou. – Que Deus te acompanhe!
- Amém. Cuida do nosso quarto, hein?
- Opa, pode deixar. Juízo, garoto!
- Pode deixar. Eu volto, hein gente?
- Se não estiver aqui em 22 dias, sua vaga já estará ocupada – brincou o mais velho do grupo.
- Ah, é assim? Bom saber que sou totalmente substituível!
- Claro que é – ele bagunçou meu cabelo.
O Víctor apertou a mão de todos, agradeceu pela hospitalidade e em seguida nós saímos. Eu só estava sentindo falta de uma pessoa...
- Boa viagem – eles falaram e eu senti um nó enorme na minha garganta. Que vontade de chorar!
- O Rodrigo não se despediu de você? – Víctor perguntou,
- Não – eu falei com a voz embargada.
- Vai chorar? – ele ergueu as sobrancelhas.
- E daí se eu chorar? São meus amigos!
- Que lindo, Caio! – ele não pareceu estar brincando. – Não chora, você vai voltar. Ou não?!
- Claro que vou! Acha mesmo que eu vou ter coragem de morar no inferno de novo?
- Não fala assim, meu...












E foi quando eu ia dobrar a esquina que eu ouvi a voz dele me chamando:
- CAIO?!
Eu parei imediatamente e senti o meu coração disparar de alegria. Quando me virei e vi o Rodrigo correndo ao meu encontro, não consegui disfarçar a minha alegria.


- Rodrigo...
- Você ia mesmo embora sem se despedir de mim? – ele arfou de cansaço.
- Ah, você não foi lá falar comigo, pensei que não queria se despedir...
- Você acha mesmo que você vai viajar e eu não vou te desejar boa viagem? – ele riu.
- Ah, Rodrigo!
Eu o abracei bem forte e aí sim senti vontade de chorar. Ele me fazia muita falta como amigo, muita mesmo.
- Desculpa – eu falei com os olhos marejados.
- Eu é que tenho que pedir desculpas, não você! Me perdoa, por favor?
- Claro que sim!
Ouvi o Víctor suspirar e se afastar de nós dois, o que foi muito bom porque assim eu pude me despedir do Rodrigo como eu queria.
- Me perdoa mesmo – ele falou. – Eu fui um completo idiota!
- Mais idiota fui eu – eu sequei uma lágrima que ia cair. – Eu sou um idiota!
- Não, você não é. Você é um garoto muito bom, Caio. E eu consegui entender que nós precisamos de nossas individualidades, precisamos do nosso espaço. Você é um dos poucos que eu confio aqui nessa cidade e eu não quero mais ficar brigado com você. De verdade!
- Eu também não quero ficar brigado com você, Rodrigo. Eu nunca quis! Me perdoa, de coração!
- Não tenho nada que perdoar. Que bom que eu consegui te alcançar, ia ficar com remorso se você tivesse ido sem falar comigo.
- Eu também ia, mas ainda bem que tudo deu certo no fim das contas.
- É!
- Amigos? – eu estendi a mão direita.
- Melhores amigos – ele segurou a minha mão, sorriu e me puxou para outro abraço. – Irmãos, como deve ser.
- Irmãos – eu sorri também. – Gosto muito de você, garoto.
- E eu de você! Mas vai lá, não quero que você se atrase por minha causa.
- Eu tenho que ir mesmo, já estou me atrasando.
- Então vai. Vai com Deus! Boa sorte, tudo de bom nessa nova fase e muito sucesso pra você.
- Obrigado, mano. Muito obrigado por tudo.
- Imagina! Onde está o Víctor?
- Lá na frente já.
- Eu vou lá falar com ele...
Nós fomos até o Víctor e pela primeira vez, eu vi os meus dois melhores amigos se darem bem. Eles se despediram e deixaram as intrigas de lado. Que bom que tudo estava dando certo!
- Boa viagem – ele falou de novo. – Quando chegar me liga, tá bom?
- Pode deixar, eu ligo sim. Se cuida!
- Você também!
Eu senti um alívio tão grande em ter feito as pazes com o Rodrigo que parecia até que havia tirado uma tonelada das minhas costas.
- Feliz? – Víctor perguntou.
- Muito – eu não tinha porquê mentir.
- Que cara escroto esse, viu?
- Cala a boca, hein? Não ouse falar mal dele na minha frente!
- Sem comentários.
- Não seja invejoso!
- Inveja? Daquele magrelo? Até parece!
- Não vou brigar com você, eu estou feliz demais pra isso.
- Nossa, quem vê pensa até que ele é seu namorado. Não é namorado não?
- Não – eu ri. – Ele não curte. E se curtisse eu teria o maior prazer em ficar com ele porque ele é um cara incrível.
- Menos, hein?! Não vejo nada de incrível nele.
Então aquela despedida e o clima de amizade era falsidade da parte do Víctor?
- Não vamos mais falar nisso, beleza? – coloquei um ponto final na história.
- Como quiser. Onde nós estamos indo?
- Vou te deixar dentro do ônibus para a Rodoviária.
- E está longe?
- Não muito. Espero que ele não demore.
Mas quando nós chegamos no Largo do Machado, o busão já estava lá.




- Ah, foi esse que eu peguei quando cheguei – ele se lembrou. – Esse é o Largo do Martelo?
- Largo do Machado – eu o corrigi. – E entra logo nesse ônibus antes que você o perca!
- Nossa, está me expulsando mesmo?
- Vai logo, não está vendo que o motorista está lá dentro?
- Não vai se despedir de mim?
- Despedir pra quê, Víctor? A gente vai se ver rapidinho!!!
- Ah, é!
- Só não é mais tonto porque não é loiro. Vai logo, meu.
- Até mais então! Boa viagem.
- Para você também!





Fui um dos primeiros a chegar no estacionamento do Barra Shopping. As demais pessoas que estavam lá eu ainda não conhecia; portanto, fiquei na minha e esperei algum conhecido chegar, o que não demorou a acontecer.
- Não acredito que vamos pra São Paulo – a Jana me agarrou e deu risada.
- Nem eu, gata! Vai ser divertido demais.
- Nem me fala! Cadê a vaca da Alexia?
- Não sei.
- Será que desistiu?
- Ela não é louca!
Claro que ela não tinha desistido. Rapidamente a minha amiga apareceu com um monte de malas e mais uma mochila enorme nas costas.
- O que tanto você trouxe aí? – eu questionei.
- Trouxe a Rocinha inteira, amiga? – a Jana deu risada.
- Você para, hein sua negra azeda? – a branquela se ofendeu. – Já disse que eu moro na Zona Sul.
- Desde quando o Morro do Dendê fica na Zona Sul?
Eu só ria com aquelas duas. Uma era mais palhaça que a outra.
- Vocês não valem nada mesmo.
- Oi? – a Jana fez cara de paisagem. – Eu valho muito!
- Você não vale nem uma moeda de um centavo furada – a Alexia fez uma bolinha de chiclete.
- Eu quero um chiclete – estendi a mão.
- Folgado.
- Anda logo – reclamei.
- Calma aí!
Enquanto eu estava esperando ela me entregar a goma de mascar, percebi que ele já havia chegado. Henrique estava sozinho em um canto, mexendo no celular e totalmente distraído. Como era lindinho...
- O que está olhando, Caio Monteiro? – sondou Janaína.
- Os carros. Estou procurando o meu por aí – brinquei.
- Seu carro? O Fusquinha?
- Fusca? – eu olhei pra ela. – E eu lá sou homem de dirigir Fusca?
Em poucos minutos o Gabriel apareceu e fechou o nosso grupo. Ele, assim como eu, estava apenas com uma mala de rodinhas.
- Caralho, Alexia! Trouxe o morro inteiro, foi?
A Janaína quase teve um troço de tanto rir.
- Qual a dificuldade de vocês entenderem que eu moro na Zona Sul?
- Aham, a gente acredita, amiga – a Jana continuou rindo.
- Na Zona Sul moro eu, Alexia – me gabei, mas só para tirar onda da cara dela.
O pior é que eu morava na Zona Sul mesmo!
Rapidamente a Duda apareceu e nós nos reunimos. Eu pensava que seria um grupo maior de pessoas. No total estávamos em 12.
- Todos aqui – ela falou. – Que bom!
Eram 8 mulheres e 4 homens. O outro cara, que eu ainda não sabia o nome, não me chamava a atenção em nada.
A gerente nos passou várias instruções de como deveríamos proceder na chegada à São Paulo e depois de mais ou menos 20 minutos, uma van se aproximou para nos levar ao aeroporto.
- Desejo à todos boa viagem e aproveitem bem esse treinamento, hein? – Eduarda sorriu.
- Pode deixar – quase todos falamos ao mesmo tempo.
- Essa viagem vai ser o máximo – disse Alexia.
- Nem me fala – Gabriel passou o braço pelo meu ombro. – Né, Caio?
- Com certeza!!!






Quando eu pensei que a viagem ia ficar emocionante, o avião começou a pousar.
- Que droga, já chegamos? – Alexia reclamou.
- Rapidinho, né? – comentou Gabriel.
- Demais, nem conheci São Pedro! – ela brincou.
Uma sensação esquisita tomou conta de mim. Querendo ou não, eu estava voltando para a minha cidade. Estava voltando para o local onde eu cresci, onde passei praticamente todos os anos da minha vida...
- Que cara é essa, Caio? – perguntou Alexia.
- Ih, acho que ele ficou com medo do avião – brincou Janaína.
- Que nada – eu falei. – Sensação esquisita de voltar aqui.
- Ah, é. O Caio é paulista – falou Gabriel.
- Imagino que seja mesmo – disse Alexia.
- Muito!
Nós nos reunimos no saguão do aeroporto e ficamos esperando a representante da empresa ir ao nosso encontro, o que não demorou a acontecer:
- Muito prazer, eu me chamo Mary e vou levá-los até o hotel, por favor, me sigam.
Deixei eles irem na frente. Eu precisava colocar os pensamentos em ordem. Era muito diferente pisar naquela cidade depois de quase 2 anos morando no Rio de Janeiro!
- E aí, Caio? – Henrique foi falar comigo. – Tudo bem?
- Tudo, Henrique e você?
- Bem também! E aí, animado para conhecer o hotel?
- Estou sim e você?
- Eu também! Será que vamos ficar no mesmo quarto?
- Quem sabe? – eu abri um sorriso sem graça e ele retribuiu.
- Vamos ver, né?
- Uhum – concordei.
Janaína deixou que eu ficasse na jenela da van. Eu confesso que em um determinado momento, parei de ouvir o que eles estavam conversando e deixei o sentimento que estava dentro do meu peito tomar conta do meu corpo.
Eu estava em São Paulo. E como a cidade estava diferente! O clima parecia diferente, as pessoas pareciam diferente. Por mais que a cidade continuasse do mesmo jeito que eu havia deixado, algo me dizia que tudo estava mudado.
Eu já não olhava para aquelas ruas com a mesma paixão que olhava antes; eu não tinha mais o mesmo amor pela minha cidade, pelo local onde eu cresci, pelo local onde eu vivi, onde fiz amigos e onde fiz todas as minhas descobertas...
A minha sensação era que eu era um intruso. Eu não fazia mais parte daquilo tudo. O meu mundo naquele momento era outro! Mas por outro lado, aquela era a MINHA cidade, aquele era o MEU local e eu o conhecia como a palma da minha mão!
Eu não podia dar as costas à São Paulo por um simples acontecimento pessoal que me obrigara a sair de suas terras! Que tipo de paulista eu era afinal de contas?
- Bateu saudade? – Jana perguntou baixinho.
- Por um lado sim, por outro não.
- Que bairro é esse? Você conhece?
- Como não vou conhecer? Por incrível que pareça, eu ainda me lembro de tudo! Aqui é Perdizes.
- Hum...
Será que eu ia ter coragem de ir no meu bairro? Será que eu ia ter coragem de visitar a minha antiga casa? De reencontrar a minha família?
Aquela seria uma oportunidade única. Quem sabe eles poderiam me receber pelo menos para uma visita rápida?
Ou será que eu não seria bem-vindo nem para visitar a minha mãe?! Será que eu deveria arriscar, ou será que eu deveria me contentar com a triste realidade de nunca mais falar com eles?
Definitivamente, eu não sabia o que fazer, nem o que pensar. Eu estava em São Paulo, mas não acreditava no que estava acontecendo. Parecia que eu estava em um sonho, só que em um sonho aparentemente real demais, tangível demais...
- Chegamos – disse Mary.
A viagem foi tão rápida assim? Ou eu tinha me perdido no tempo?
- Que bairro é esse, Mary? – perguntou uma das funcionárias, cujo nome eu ainda não sabia.
- Nós estamos no Centro de São Paulo.
No Centro? Com certeza eu havia me perdido no tempo...
- Já dividiram as duplas para os quartos?
- Não – respondemos.
- Então vamos dividir.
A anfitriã tirou uma folha de sulfite da bolsa e começou a separação pelas mulheres, deixando os homens para o final.
- Quem é Carlos Henrique? – perguntou a representante da empresa.
- Sou eu – disse Henrique.
- Com quem você quer ficar no quarto, rapaz?
- Com o Caio! – ele falou.
- Não – Gabriel se meteu. – Eu quero ficar com o Caio!
Foi o maior burburinho.
- Quem é Caio? – perguntou Mary.
- Eu – respondi, com meu rosto em chamas.
- Já que você está tão requisitado, vou deixar você escolher o seu companheiro. E então? Com quem você quer ficar?



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