sábado, 3 de janeiro de 2015

Capítulo 64

P
roblema? Para mim seria uma grande solução!
- Tem problema não – garanti com o coração batendo a mil.
- Prometo que não faço nada demais. Só gosto de dormir pelado, mas fico com lençol.
- Tudo bem – até parece que eu ia me importar, né?
- Que bom que você não é grilado. Com o Vinícius eu não tinha problema.
- Eu sei, vocês já falaram isso.
- Qual vai ser sua cama?
- Qualquer uma, não tenho preferência.
- Posso ficar perto da janela então?
- Sem problemas!
- É que pra mim é melhor por causa do calor – ele deu uma risadinha sem graça.
- Saquei.




Pelo que eu estava percebendo, ele era daquele tipo de pessoas que sofria com o calor.
Durante todo o tempo em que eu estava morando naquela república, nunca havia percebido que o Fabrício era calorento e se tinha percebido, não tinha dado a devida atenção.
- Que bom que você não é grilado com essas coisas.
- Comigo não tem tempo ruim – me justifiquei.
- É isso aí!
- Vou voltar para meu quarto antigo, hoje ainda vou dormir lá.
- Eu também vou para o meu. Amanhã a gente se muda.
- Aham!
Fabrício e eu nos despedimos e cada um partiu para seus respectivos aposentos. 




- Que altura é aquela, Caio? – Rodrigo olhou para mim e começou a dar risada.
- Baixinho, não?
- Meus primos de 12 anos são maiores que ele, cara!
- Sabia que isso é bullying? Vou te denunciar para a sociedade protetora dos anões!
Foi só falar isso para ele quase ter uma síncope de tanto dar risada.
- Qual a graça? Não vejo graça em ter um metro e meio! O coitado deve sofrer... Acho que nem consegue segurar no ferro do teto do metrô.



- Para, para... – ele secou uma lágrima. – Minha barriga tá doendo!
Qual era a graça?! Eu não estava falando nada demais...
- Vai dormir, vai. Você ganha mais!
- Cansei de ficar nessa cama, sabia? – ele suspirou. – Queria fazer alguma coisa.
- Vai jogar um pouco no note, pô!
- Nem quero, queria algo que movimentasse o corpo.
- Vai correr de novo.
- Essa hora? Para me roubarem até a cueca?
- Isso lá é verdade. Não sei como nunca fui assaltado enquanto trabalhei de madrugada.
- Não foi você mesmo que falou que era tranquilo?
- Tranquilo é, mas sei lá! Sempre rola uma insegurança!
- Verdade. O jeito é dormir mesmo. Até amanhã!
- Até. Dorme bem.
- Idem.
- Valeu!
Eu deitei, mas não adormeci. Fiquei me revirando de um lado para o outro por muito tempo. Parecia que a minha cama estava cheia de pregos.
- Que foi, Caio?
- Não está dormindo por quê?
- Porque não estou com sono, ué? E você?
- Não consigo pregar os olhos!
- Hum.
- Vou ao banheiro!
Dei um pulo da cama que fez as minhas costas ficarem doendo. A casa estava muito escura e silenciosa. Fiquei até com um frio esquisito na espinha quando passei pelo corredor para poder chegar ao banheiro.





- Eu, hein?
Tive uma ligeira sensação que estava sendo observado. Será que um dos meninos estava na sala?
Passei os dedos pelo interruptor e a luz acendeu rapidamente, mas o cômdo estava absolutamente vazio, o que me deixou arrepiado da cabeça aos pés.
- Credo!
Até apressei meus passos até o sanitário e quando cheguei, levantei rapidamente a tampa do vaso e comecei a urinar.
Senti um alívio imediato e em seguida meu corpo ficou em chofre com o que eu avistei na borda do vaso: uma gota de esperma!
Alguém havia se masturbado e todo o meu medo deu lugar para a minha curiosidade. Quem teria feito aquilo?
Será que havia sido o Rodrigo? Só se foi na hora em que eu estava no quarto com o Fabrício.
E se tivesse sido o próprio Fabrício? Que safado! Será que ele ia se masturbar no quarto quando nós estivéssemos dividindo os mesmos aposentos?
Ou será que havia sido o Maicon? Nunca tive nenhuma percepção de um lado “safado” do cara, então era impossível julgá-lo...
Vinícius? Seria provável! Era bem a cara dele colocar aquela delícia para fora e começar a tocar uma... Como eu queria ajudá-lo!
Fiquei olhando para aquela gotinha branca por um longo tempo, só pensando em quem teria sido responsável por aquele crime.
- Caio? – ouvi uma voz masculina me chamar do corredor.
- AI – gritei e dei um pulo de susto.
- Calma, parceiro! Está assustado? – o Maicon começou a dar risada e entrou no banheiro.
Meu coração disparou feito uma bateria de escola de samba. Fazia muito tempo que eu não me assustava tanto.
- Quer me matar do coração? – eu estava tremendo feito vara verde.
- Que foi? Por qual motivo se assustou tanto? Estava fazendo o quê de errado?
- Nada! É que você não fez barulho, porra!
- Que cara de quem estava aprontando, hein? – ele me olhou com um sorriso safado nos lábios.
- Palhaço! Eu estava fazendo xixi.
- Não é o que parece – ele caiu na gargalhada.
- Não fui eu! – jurei. – Era isso que eu queria saber...
- Aham! Conta outra!
- Não fui eu! É sério!
- Aham, sei. Precisa mentir não, cara. É normal, todo mundo faz isso.
- Eu não fiz isso, Maicon!
- Não precisa mentir, Caio. Eu também bato punheta de vez em quando!
Bufei de raiva. Além de ter quase enfartado de tanto susto, ainda estava sendo acusado injustamente por algo que não havia feito.





- Fica bravinho não. Prometo que não conto nada para os meninos!
- Não fiz nada! Vou dormir que ganho mais. Boa noite!
- Boa noite, punheteiro! Dorme bem, viu? – ele deu risada, segurou na parede, tirou o negócio pra fora e começou a urinar.
Confesso que fiquei irritado no começo, mas depois deixei de lado e fiquei na minha.






NO DIA SEGUINTE...

Ele chegou com muitas mochilas e bolsas de viagem. Parecia um jovem escoteiro que estava indo acampar.
- Pode entrar, fica à vontade – falou Vinícius.
- Licença aí – disse Éverton.
Nesse momento eu pude analisá-lo com mais calma. Ele não era feio, mas não era um Vinícius da vida. Éverton era simplesmente normal; a única coisa que chamava a atenção nele, com toda certeza do mundo era a altura, mas pelo jeito ele era muito bem resolvido naquele quesito.
- Qual vai ser meu quarto? – perguntou o futuro professor de Educação Física.
- É o meu – disse Vini. – Já quer se instalar?
- Quero sim. Preciso arrumar as minhas coisas.
- Então cola na grade, garoto!
- Também preciso arrumar as minhas coisas no novo quarto – falou Fabrício.
- Eu também – disse Maicon.
- Já vou tirar as minhas coisas do meu quarto, Maicon! Espera só um momento.
- Sem pressa, Caio!
Antes de fazer a mudança de quarto, fui até a cozinha e bebi um copo de água.
Queria pegar uma cerveja, mas a geladeira estava pelada.
- Precisamos estocar cervejas – comentei com o meu novo companheiro de quarto.
- Verdade. Sinto falta de uma loira bem gelada nas noites de calor.
- Pois é! Qual sua parte do guarda-roupa?
- A direita. Pode ser?
- Claro!
Eu fui arrumando minhas coisas muito lentamente. Sempre tive uma mania muito exagerada de organização – coisas de virginianos – e sempre curti deixar as minhas roupas bem organizadas dentro do armário.



- Para que tanta organização? – perguntou Fabrício.
- Sou chato para isso. Na verdade, eu sou de lua. Quando sou organizado, sou organizado até demais e quando sou desorganizado, ninguém encontra nada na minha bagunça.
- Pois eu sou é muito bagunceiro. Você vai ver, vai achar meia para um lado, camisa para o outro lado...
- Zoou?
- Não! Meu quarto antigo só não era bagunçado porque o Vini arrumava – ele deu risada.
- Ah, brincou?
- Brincadeira. Sou meio bagunceiro, mas não tanto.
- Ah, bom! Pensei que ia dormir com um porco...
- Também não ofende, vai?
- Estou brincando!
Eu dobrei a última camiseta e fechei a porta do meu novo armário, que era idêntico ao anterior.
- Qual sua gaveta de cuecas? – indaguei.
- Nâo uso cuecas – ele ergueu as sobrancelhas.
- Ah, é! Qual é a sua gaveta de meias?
- A última.
- Vou pegar a primeira. Posso?
- Toda sua!
- Obrigado.
- 10 reais.
- Tenho dinheiro não.
- Mão de vaca! Já volto.
Ele saiu com uma toalha nas costas e eu fiquei terminando de fazer as minhas coisas. Quando terminei de arrumar tudo, voltei ao meu quarto antigo para buscar meu notebook e me surpreendi com a descontração que estava rolando entre o Rodrigo e o Maicon.
- Atrapalho? – fiquei com ciúmes do meu melhor amigo.
- Claro que não!
- Cadê meu filho?
- Ah, eu coloquei ele para carregar... – explicou Rodrigo.
- Posso levar, né?
- Poder, poder, poder não pode, mas...
-Até parece que vou deixar aqui!
- Não te custaria nada...
- Nem pensar! Ele é meu – brinquei.
- Egoísta, hein? – Maicon sorriu.
- Sou mesmo – brinquei de novo. – Até mais. Foi um prazer morar com você por um ano, Rodrigo.
- Digo o mesmo, vizinho. Adeus!
- Adeus.
Por sorte, a internet estava disponível em todos os quartos. Eu consegui me conectar muito rapidamente e tive uma ligeira impressão que a velocidade naquele canto era maior que onde eu dormia antes.
Fucei rapidinho nos meus recados, respondi algumas mensagens do Víctor e quando eu ia saindo para colocar o notebook na mesa, ele entrou.
Os cabelos estavam molhados e caídos por cima do rosto. Fabrício estava enrolado na toalha e e parecia estar renovado fisicamente.
- Muito bom tomar um banho gelado!
- Tomou banho gelado?
- Muito calor!
Nem estava fazendo tanto calor assim...
Meu amigo abriu a porta do guarda-roupa, pegou o desodorante roll-on e passou nas axilas.
- Calor sim – ele falou.
- Não acho – repeti pela segunda vez.
Foi nesse momento que aconteceu pela primeira vez. Quando percebi que ele tirou a toalha, prendi a respiração, mordi o lábio e não pisquei mais os olhos.
Aquela bunda branca tomou conta da minha visão. Era redonda, lisa e muito, muito branca. Será que era dura? Meu pau começou a dar sinal de vida, mas eu fui obrigado a me controlar. Ele não podia saber que eu curtia a fruta. Não podia mesmo...



Um comentário:

Unknown disse...

Como sempre lindo.amei esse capítulo.