A
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cordei ofegante e com a camiseta grudada ao corpo devido ao suor
que escorria por toda a minha pele.
Quando sentei na cama, afastei logo os lençóis de cima de mim e tentei acalmar o meu coração, que batia desregularmente, como de costume.
O Gabriel estava dormindo e o quarto estava muito escuro. A única fonte de iluminação do recinto vinha dos relâmpagos que ainda cortavam o céu da cidade naquela madrugada do mês de maio.
Não estava chorando; no entanto, meus olhos ardiam muito. Quando me senti um pouco melhor, dei um pulo da cama, peguei uma muda de roupa limpa e tratei logo de tomar um banho para me livrar de todo aquele suor que me incomodava bastante.
Quando engoli a saliva que estava acumulada na boca, senti uma dor descomunal na garganta. Seria sede ou as cordas vocais estavam mesmo inflamadas?

Depois do banho, deitei e tentei recobrar o sono, mas ele não me abraçou de imediato.
Que sonho foi aquele? Por que eu tinha sonhado com minha família? E quem era aquela mulher tão bondosa que me estendeu a mão e me encorajou a seguir adiante?
Eu estava confuso, muito confuso. As coisas pareciam sem sentido, sem explicação. Contudo, eu tinha certeza que nada havia acontecido por acaso, nem mesmo aquee sonho esquisito.
Quando sentei na cama, afastei logo os lençóis de cima de mim e tentei acalmar o meu coração, que batia desregularmente, como de costume.
O Gabriel estava dormindo e o quarto estava muito escuro. A única fonte de iluminação do recinto vinha dos relâmpagos que ainda cortavam o céu da cidade naquela madrugada do mês de maio.
Não estava chorando; no entanto, meus olhos ardiam muito. Quando me senti um pouco melhor, dei um pulo da cama, peguei uma muda de roupa limpa e tratei logo de tomar um banho para me livrar de todo aquele suor que me incomodava bastante.
Quando engoli a saliva que estava acumulada na boca, senti uma dor descomunal na garganta. Seria sede ou as cordas vocais estavam mesmo inflamadas?
Depois do banho, deitei e tentei recobrar o sono, mas ele não me abraçou de imediato.
Que sonho foi aquele? Por que eu tinha sonhado com minha família? E quem era aquela mulher tão bondosa que me estendeu a mão e me encorajou a seguir adiante?
Eu estava confuso, muito confuso. As coisas pareciam sem sentido, sem explicação. Contudo, eu tinha certeza que nada havia acontecido por acaso, nem mesmo aquee sonho esquisito.
Acordei com meus olhos muito grudados e com a boca seca. Tive
dificuldade para abrir as pálpebras e quando o fiz, notei que estava enxergando
tudo embaçado.
Quando engoli a saliva, tive a impressão que estava ingerindo uma pedra, tamanha foi a dor que senti na minha garganta. Era só o que me faltava!
Já não chovia mais. Eu olhei pela vidraça da varanda e identifiquei só com o meu olhar que estava fazendo um dia frio, pois a cidade estava sob uma forte garoa.

Levantei e fui ao banheiro. Quando olhei meu reflexo no espelho, tomei um susto: meus olhos estavam irreconhecíveis. Vermelhos, muito inchados e eu estava com olheiras enormes. Parecia até outra pessoa.
Estava mais uma vez com a roupa grudada no corpo e fui obrigado a tomar outro banho. Aproveitei e lavei meus cabelos e consecultivamente, me senti um pouco melhor.
- Vai demorar aí, Caio? – Gabriel bateu na porta.
- Nã-não – grunhi.
Minha voz quase não saiu. Ela estava rouca demais. Eu nunca havia ficado daquele jeito, pelo menos não que eu me lembrasse.
Desliguei o chuveiro, me sequei e me enrolei na toalha. Pelo menos naquela situação, eu não pensei em nenhum momento na minha mãe e em tudo o que aconteceu entre nós dois.
- Nossa Senhora, o que é isso nos seus olhos? – Gabriel ficou boquiaberto.
- Acordei assim – dei de ombros.
- Mano, você está com uma conjuntivite das bravas!
- Não estou não. É porque eu chorei ontem.
- E essa voz de velho? Você está amarelo... Sente-se bem?
- Acabou comigo agora, hein? Eu não estou muito legal...
- Isso eu já percebi. Quer ir ao médico?
- Não. Não precisa. É só uma gripe que logo vai passar.
Pela primeira vez desde que nós havíamos chegado no hotel, as meninas chegaram depois da gente para tomar o café da manhã.
- Nossa, Caio... Você está horroroso! – exclamou Alexia. – O que é isso nos seus olhos?
- Excesso de choro, só isso.
- Fiquei sabendo o que aconteceu com a sua mãe. Sinto muito!
- Desculpa, eu fui obrigada a contar – Janaína se justificou, porque eu olhei nos olhos dela e ergui as sobrancelhas.
- Obrigado, Alexia.
- Isso daí é conjuntivite, hein?
- Não é.
- E essa voz? Ainda está com dor de garganta? – perguntou Janaína.
- Muita. Mais do que nunca.
- Tem que ir ao médico...
- Eu falei – Gabo se meteu. – Mas ele não quer ir.
- Não precisa, logo vai sarar.
Foi complicado comer aquele dia. Qualquer coisa que eu engolia, fazia os meus olhos ficarem cheios d’água tamanha a dor que eu estava sentindo.
Para piorar minha situação, na metade do dia meus ouvidos começaram a doer também. O que estava acontecendo comigo? Será que alguém tinha feito um vodu para tudo aquilo acontecer ao mesmo tempo?
- Caio, é importante você comparecer a um médico para ver esses olhos. Você não pode passar conjuntivite para ninguém – explicou Nilva.
- Não, Nilva. Isso não é conjuntivite. É porque eu chorei ontem, só isso – afirmei.
- Bom, está avisado. Se não melhorar até amanhã serei obrigada a tomar alguma ação.
O que será que ela quis dizer com aquilo? Será que ela ia me mandar embora?
- Dividam-se em trios – mandou a treinadora. – Nós iremos fazer uma dinâmica em grupo.
Em trios? Um de nós ia ficar de fora.
- Não pode ser um quarteto? – Gabriel levantou a mão.
- Não, eu falei trio.
Fizemos um sorteio doido lá e quem ficou de fora foi a Janaína. A coitada saiu atrás de dupla e acabou ficando com o tal do Thiago, aquele com quem ela sentou no primeiro dia de treinamento.
Carlos me lançou um olhar tristonho. Acho que ele queria que eu fizesse trio com ele e o Renato...
- Guardem as apostilas e um representante por trio venha até a mesa pegar uma bexiga.
A Alexia ficou responsável por isso por ser a única menina do grupo. A tal da dinâmica foi muito legal, mas como eu não estava me sentindo muito bem, não aproveitei como deveria ter aproveitado.
Quando engoli a saliva, tive a impressão que estava ingerindo uma pedra, tamanha foi a dor que senti na minha garganta. Era só o que me faltava!
Já não chovia mais. Eu olhei pela vidraça da varanda e identifiquei só com o meu olhar que estava fazendo um dia frio, pois a cidade estava sob uma forte garoa.
Levantei e fui ao banheiro. Quando olhei meu reflexo no espelho, tomei um susto: meus olhos estavam irreconhecíveis. Vermelhos, muito inchados e eu estava com olheiras enormes. Parecia até outra pessoa.
Estava mais uma vez com a roupa grudada no corpo e fui obrigado a tomar outro banho. Aproveitei e lavei meus cabelos e consecultivamente, me senti um pouco melhor.
- Vai demorar aí, Caio? – Gabriel bateu na porta.
- Nã-não – grunhi.
Minha voz quase não saiu. Ela estava rouca demais. Eu nunca havia ficado daquele jeito, pelo menos não que eu me lembrasse.
Desliguei o chuveiro, me sequei e me enrolei na toalha. Pelo menos naquela situação, eu não pensei em nenhum momento na minha mãe e em tudo o que aconteceu entre nós dois.
- Nossa Senhora, o que é isso nos seus olhos? – Gabriel ficou boquiaberto.
- Acordei assim – dei de ombros.
- Mano, você está com uma conjuntivite das bravas!
- Não estou não. É porque eu chorei ontem.
- E essa voz de velho? Você está amarelo... Sente-se bem?
- Acabou comigo agora, hein? Eu não estou muito legal...
- Isso eu já percebi. Quer ir ao médico?
- Não. Não precisa. É só uma gripe que logo vai passar.
Pela primeira vez desde que nós havíamos chegado no hotel, as meninas chegaram depois da gente para tomar o café da manhã.
- Nossa, Caio... Você está horroroso! – exclamou Alexia. – O que é isso nos seus olhos?
- Excesso de choro, só isso.
- Fiquei sabendo o que aconteceu com a sua mãe. Sinto muito!
- Desculpa, eu fui obrigada a contar – Janaína se justificou, porque eu olhei nos olhos dela e ergui as sobrancelhas.
- Obrigado, Alexia.
- Isso daí é conjuntivite, hein?
- Não é.
- E essa voz? Ainda está com dor de garganta? – perguntou Janaína.
- Muita. Mais do que nunca.
- Tem que ir ao médico...
- Eu falei – Gabo se meteu. – Mas ele não quer ir.
- Não precisa, logo vai sarar.
Foi complicado comer aquele dia. Qualquer coisa que eu engolia, fazia os meus olhos ficarem cheios d’água tamanha a dor que eu estava sentindo.
Para piorar minha situação, na metade do dia meus ouvidos começaram a doer também. O que estava acontecendo comigo? Será que alguém tinha feito um vodu para tudo aquilo acontecer ao mesmo tempo?
- Caio, é importante você comparecer a um médico para ver esses olhos. Você não pode passar conjuntivite para ninguém – explicou Nilva.
- Não, Nilva. Isso não é conjuntivite. É porque eu chorei ontem, só isso – afirmei.
- Bom, está avisado. Se não melhorar até amanhã serei obrigada a tomar alguma ação.
O que será que ela quis dizer com aquilo? Será que ela ia me mandar embora?
- Dividam-se em trios – mandou a treinadora. – Nós iremos fazer uma dinâmica em grupo.
Em trios? Um de nós ia ficar de fora.
- Não pode ser um quarteto? – Gabriel levantou a mão.
- Não, eu falei trio.
Fizemos um sorteio doido lá e quem ficou de fora foi a Janaína. A coitada saiu atrás de dupla e acabou ficando com o tal do Thiago, aquele com quem ela sentou no primeiro dia de treinamento.
Carlos me lançou um olhar tristonho. Acho que ele queria que eu fizesse trio com ele e o Renato...
- Guardem as apostilas e um representante por trio venha até a mesa pegar uma bexiga.
A Alexia ficou responsável por isso por ser a única menina do grupo. A tal da dinâmica foi muito legal, mas como eu não estava me sentindo muito bem, não aproveitei como deveria ter aproveitado.
Quando eu terminei de contar meu sonho pra Janaína, ela segurou na
minha mão, arregalou os olhos e disse:
- Estou arrepiada!
- Por quê?!
- Qual sua religião?
- Católico nada praticante, por quê?
- Caio, você sonhou com Nossa Senhora!!!
- Oi?
- Menino do céu, que coisa mais linda! Isso significa que Ela está ao seu lado, sabia?
- Você acha mesmo?
- Eu não acho, eu tenho certeza! Estou emocionada, nunca tive um sonho assim...
- Não tinha pensado nisso – de repente senti meu coração dar um pulo de alegria. – Será que foi isso mesmo?
- Com certeza foi. Não tenha dúvidas que você está protegido pro resto da sua vida, Caio!
Com essa mensagem da Janaína, eu me senti muito melhor. Toda a angústia e a dor que estava dentro do meu peito se dissipou e eu não chorei mais por causa da minha mãe.
- Isso, não chora mais não. Já passou e agora você tem outra Mãe e Essa nunca vai te abandonar, meu caro.
- Tenho certeza que não!!!
- Estou arrepiada!
- Por quê?!
- Qual sua religião?
- Católico nada praticante, por quê?
- Caio, você sonhou com Nossa Senhora!!!
- Oi?
- Menino do céu, que coisa mais linda! Isso significa que Ela está ao seu lado, sabia?
- Você acha mesmo?
- Eu não acho, eu tenho certeza! Estou emocionada, nunca tive um sonho assim...
- Não tinha pensado nisso – de repente senti meu coração dar um pulo de alegria. – Será que foi isso mesmo?
- Com certeza foi. Não tenha dúvidas que você está protegido pro resto da sua vida, Caio!
Com essa mensagem da Janaína, eu me senti muito melhor. Toda a angústia e a dor que estava dentro do meu peito se dissipou e eu não chorei mais por causa da minha mãe.
- Isso, não chora mais não. Já passou e agora você tem outra Mãe e Essa nunca vai te abandonar, meu caro.
- Tenho certeza que não!!!
DOIS DIAS DEPOIS...
A minha dor de garganta estava tão forte, mas tão forte que eu
simplesmente parei de falar. Minha voz não saía mais, por mais esforços que eu
fizesse.
Para finalizar a minha maré de azar, não consegui comer nada. Absolutamente nada. A única coisa que passava pela minha garganta era água e ainda assim eu tinha que beber deitado.
- Você tem que ir ao médico – Janaína foi categórica. – E você vai hoje à noite sem falta!!!
Não tive outra alternativa. O Ricardo fez a gentileza de nos levar até um pronto socorro e para a minha total surpresa, rapidamente fui atendido.

- Você provavelmente está com amidalite – falou o clínico geral. – A sua garganta está cheia de pus.
- E... a-go-ra? – tentei balbuciar.
- O que você disse?
- E A-GO-RA? – falei um pouco mais alto.
- E agora você vai tomar uma injeção. Tem alergia a Benzetacil?
Minha nossa... A pior injeção que existe na face da terra.
Fiz que não com a cabeça e já comecei a rezar em pensamento.
- Então vou receitá-la e nós teremos que fazer um acompanhamento de perto. Provavelmente ela será suficiente para limpar suas vias respiratórias e a garganta, mas se não for, você terá que vir aqui novamente.
Assenti e suspirei. Odiava ficar doente.
- Entrega esse papel lá no final do corredor.
Assenti de novo e pigarreei. Meu peito também estava carregado.
- Melhoras.
- O-obri-ga-do.
- E aí? – os três perguntaram ao mesmo tempo.
Mostrei minha receita e todos fizeram careta.
- Boa sorte! – encorajou-me Alexia.
- Que dó, isso vai doer muito... – Janaína fez cara de cachorro sem dono.
- Quer acompanhante? – questionou Gabriel.
Balancei a cabeça negativamente e me dirigi ao final do corredor. Não demorou muito e um enfermeiro bonitão chamou o meu nome:
- Caio Monteiro? – a voz dele era linda, tanto quanto o rosto.
Respirei fundo e me preparei psicologicamente. Eu tinha certeza que a dor seria horrível, mas com certeza amenizaria o incômodo na garganta.
- Você vai tomar um soro – falou o bonitão. – Senta aqui e estende o braço, por favor.
Soro? Que soro? Não ia ser uma Benzetacil?
- Depois tem a injeção.
Que susto! Pensei que ele tinha trocado as fichas de medicação.
O soro me deixou com sono, porque diminuiu a minha fome e provavelmente também deveria ter algum tipo de medicamento. Ou não?
- Acabou? – ele perguntou depois de uma meia hora.
Dei de ombros. O cara mexeu no saquinho com soro e falou:
- Só mais uns 3 minutinhos...
O Gabriel apareceu na saleta com ar de preocupação.
- Ah, você está no soro também? Vai demorar?
- Trê-três mi-nu-tos.
- Ah, beleza. Já tomou a injeção?
Balancei a cabeça negativamente. Estava odiando ficar sem falar com ninguém.
- A gente te espera.
Fiz um “OK” com os dedos da mão direita. Eu estava mesmo me sentindo péssimo. Meu corpo estava molenga, molenga e ainda não estava enxergando muito bem por causa da irritação nos olhos.
O bonitão foi muito cuidadoso ao tirar a agulha de dentro da minha veia. Senti uma dorzinha minúscula quando o objeto saiu de dentro do meu braço e isso não me incomodou em nada. Eu estava preocupado com a outra, isso sim...
- Vamos lá? Agora é a Benzetacil.
Eu suspirei pela milésima vez e acompanhei o cara até outra sala. Quando eu passei, ele fechou a porta branca, passou a chave na maçaneta e disse:
- Abaixa a calça e a cueca aí...
Bem que eu podia fazer isso, mas em outras circunstâncias... Depois que deixei minhas nádegas à mostra, ele passou um algodão molhado em um dos lados e disse:
- Preparado?
- Nã-não.
- Sua voz está horrível, hein garoto? Vou ter que caprichar nessa injeção aqui...
Fechei meus olhos com muita força e quando a agulha entrou, automaticamente fiz força com a perna direita porque eu sabia que ia doer.
E doeu mesmo. Doeu muito, muito, muito. Conforme o líquido entrou na minha corrente sanguínea, eu tive vontade de sair correndo de tanta dor que estava sentindo.
- Pronto... – ele tirou a agulha e passou a mão na minha bunda. – Nem doeu, doeu?
- Do-eu.
Se eu pudesse, teria gritado. A dor foi tão grande que minha perna ficou travada e eu não consegui tirá-la do lugar.
- Quer ajuda? – o enfermeiro segurou no meu ombro e me tirou do lugar.
Fiquei com vontade até de fazer xixi. Com muita dificuldade, eu comecei a andar e só cheguei onde meus amigos estavam depois de muito tempo.
- E aí? – vendo eu mancar, a Janaína e os outros começaram a rir.
Claro que não falei nada. Primeiro porque não tinha voz e depois porque não tinha condições de responder aquela pergunta idiota.
Foi tenso chegar até a van e pior ainda chegar ao meu quarto no hotel. Os meus amigos foram muito legais comigo e me deram a maior força.
- Pronto, agora deita e dorme – falou Janaína.
- Tá com fome? – perguntou Alexia.
Assenti.
- Vamos arrumar alguma coisa para você comer – falou Gabriel.
Eles saíram do quarto tão rápido que nem tive como contestar. O que eles iam aprontar?
Depois de alguns minutos eles voltaram com uma sacola nas mãos da Janaína.
- Trouxemos a sua salvação – a morena sentou na minha cama e me entregou a sacola.
Quando eu abri, me deparei com um macarrão instantâneo. Meus olhos se iluminaram. Aquilo ia ser mesmo a minha salvação.
Mas não consegui comer. Para ingerir a refeição, fui obrigado a deitar e colocar a cabeça um pouco para trás. Foi uma situação complicada demais para o meu gosto.
Para finalizar a minha maré de azar, não consegui comer nada. Absolutamente nada. A única coisa que passava pela minha garganta era água e ainda assim eu tinha que beber deitado.
- Você tem que ir ao médico – Janaína foi categórica. – E você vai hoje à noite sem falta!!!
Não tive outra alternativa. O Ricardo fez a gentileza de nos levar até um pronto socorro e para a minha total surpresa, rapidamente fui atendido.
- Você provavelmente está com amidalite – falou o clínico geral. – A sua garganta está cheia de pus.
- E... a-go-ra? – tentei balbuciar.
- O que você disse?
- E A-GO-RA? – falei um pouco mais alto.
- E agora você vai tomar uma injeção. Tem alergia a Benzetacil?
Minha nossa... A pior injeção que existe na face da terra.
Fiz que não com a cabeça e já comecei a rezar em pensamento.
- Então vou receitá-la e nós teremos que fazer um acompanhamento de perto. Provavelmente ela será suficiente para limpar suas vias respiratórias e a garganta, mas se não for, você terá que vir aqui novamente.
Assenti e suspirei. Odiava ficar doente.
- Entrega esse papel lá no final do corredor.
Assenti de novo e pigarreei. Meu peito também estava carregado.
- Melhoras.
- O-obri-ga-do.
- E aí? – os três perguntaram ao mesmo tempo.
Mostrei minha receita e todos fizeram careta.
- Boa sorte! – encorajou-me Alexia.
- Que dó, isso vai doer muito... – Janaína fez cara de cachorro sem dono.
- Quer acompanhante? – questionou Gabriel.
Balancei a cabeça negativamente e me dirigi ao final do corredor. Não demorou muito e um enfermeiro bonitão chamou o meu nome:
- Caio Monteiro? – a voz dele era linda, tanto quanto o rosto.
Respirei fundo e me preparei psicologicamente. Eu tinha certeza que a dor seria horrível, mas com certeza amenizaria o incômodo na garganta.
- Você vai tomar um soro – falou o bonitão. – Senta aqui e estende o braço, por favor.
Soro? Que soro? Não ia ser uma Benzetacil?
- Depois tem a injeção.
Que susto! Pensei que ele tinha trocado as fichas de medicação.
O soro me deixou com sono, porque diminuiu a minha fome e provavelmente também deveria ter algum tipo de medicamento. Ou não?
- Acabou? – ele perguntou depois de uma meia hora.
Dei de ombros. O cara mexeu no saquinho com soro e falou:
- Só mais uns 3 minutinhos...
O Gabriel apareceu na saleta com ar de preocupação.
- Ah, você está no soro também? Vai demorar?
- Trê-três mi-nu-tos.
- Ah, beleza. Já tomou a injeção?
Balancei a cabeça negativamente. Estava odiando ficar sem falar com ninguém.
- A gente te espera.
Fiz um “OK” com os dedos da mão direita. Eu estava mesmo me sentindo péssimo. Meu corpo estava molenga, molenga e ainda não estava enxergando muito bem por causa da irritação nos olhos.
O bonitão foi muito cuidadoso ao tirar a agulha de dentro da minha veia. Senti uma dorzinha minúscula quando o objeto saiu de dentro do meu braço e isso não me incomodou em nada. Eu estava preocupado com a outra, isso sim...
- Vamos lá? Agora é a Benzetacil.
Eu suspirei pela milésima vez e acompanhei o cara até outra sala. Quando eu passei, ele fechou a porta branca, passou a chave na maçaneta e disse:
- Abaixa a calça e a cueca aí...
Bem que eu podia fazer isso, mas em outras circunstâncias... Depois que deixei minhas nádegas à mostra, ele passou um algodão molhado em um dos lados e disse:
- Preparado?
- Nã-não.
- Sua voz está horrível, hein garoto? Vou ter que caprichar nessa injeção aqui...
Fechei meus olhos com muita força e quando a agulha entrou, automaticamente fiz força com a perna direita porque eu sabia que ia doer.
E doeu mesmo. Doeu muito, muito, muito. Conforme o líquido entrou na minha corrente sanguínea, eu tive vontade de sair correndo de tanta dor que estava sentindo.
- Pronto... – ele tirou a agulha e passou a mão na minha bunda. – Nem doeu, doeu?
- Do-eu.
Se eu pudesse, teria gritado. A dor foi tão grande que minha perna ficou travada e eu não consegui tirá-la do lugar.
- Quer ajuda? – o enfermeiro segurou no meu ombro e me tirou do lugar.
Fiquei com vontade até de fazer xixi. Com muita dificuldade, eu comecei a andar e só cheguei onde meus amigos estavam depois de muito tempo.
- E aí? – vendo eu mancar, a Janaína e os outros começaram a rir.
Claro que não falei nada. Primeiro porque não tinha voz e depois porque não tinha condições de responder aquela pergunta idiota.
Foi tenso chegar até a van e pior ainda chegar ao meu quarto no hotel. Os meus amigos foram muito legais comigo e me deram a maior força.
- Pronto, agora deita e dorme – falou Janaína.
- Tá com fome? – perguntou Alexia.
Assenti.
- Vamos arrumar alguma coisa para você comer – falou Gabriel.
Eles saíram do quarto tão rápido que nem tive como contestar. O que eles iam aprontar?
Depois de alguns minutos eles voltaram com uma sacola nas mãos da Janaína.
- Trouxemos a sua salvação – a morena sentou na minha cama e me entregou a sacola.
Quando eu abri, me deparei com um macarrão instantâneo. Meus olhos se iluminaram. Aquilo ia ser mesmo a minha salvação.
Mas não consegui comer. Para ingerir a refeição, fui obrigado a deitar e colocar a cabeça um pouco para trás. Foi uma situação complicada demais para o meu gosto.
DIAS DEPOIS...
Melhorei só depois de 3 dias. Aos poucos a voz foi voltando ao
normal e eu consegui voltar a me alimentar normalmente. Ainda bem.
- Melhor? – perguntou Gabriel em uma determinada manhã.
- Bem melhor.
Nós estávamos nos últimos dias de treinamento. Como estávamos adiantados, a Nilva começou uma revisão e foi a oportunidade pra gente tirar todas as dúvidas que tínhamos.
- Então ficamos combinados assim – falou nossa instrutora. – Depois de amanhã é a nossa prova e no último dia, a nossa festinha.
Combinamos de fazer uma festa de despedida. Seria bom para descontrair o ambiente e relaxar um pouco.
Naquele mesmo dia, resolvi visitar o Víctor e a Amanda. Eu tinha que me despedir dos meus amigos.
- Seu viado dos infernos, como você só vem me visitar agora? – Amanda reclamou.
- Não tive muito tempo, sabe?
Contei pra eles o que houve com minha mãe e ambos ficaram do meu lado.
- Eu já sabia – lembrou Víctor. – E ainda não acredito que você foi burro desse jeito.
- Você só sabia da primeira parte. Que eu liguei você não sabia ainda.
- Ah, é!
- Querem mais bolo? – perguntou Amanda.
- Não, obrigado – falei. – Já tenho que ir...
- - Cedo assim?
- Sim, já está tarde... Amanhã acordo cedo!
- Quando você volta pro Rio? – perguntou Víctor.
- Volto daqui 4 dias.
- Já? Então a gente não vai se ver mais?
Não! É por isso que eu estou aqui, já pra me despedir.
Eles até se emocionaram, mas eu me fiz de forte.
- Vão me visitar no Rio! – os convidei.
- Olha que eu vou mesmo – falou Amanda.
- É pra ir sim! Você vai adorar.
Como diz aquele ditado “errar é humano, mas persistir no erro é burrice”, daquela vez eu não passei na frente da minha casa, mas não foi por falta de vontade.
Não fui pelo simples fato que estava cansado de sofrer em vão e não queria mais chorar por quem não merecia o meu amor.
Sim, porque a minha família não merecia o meu amor. Eu fui de coração aberto, pronto para perdoá-los e tentar resgatar o tempo que a gente havia perdido, mas eles não quiseram, então de que ia adiantar ficar insistindo e dando murro em ponta de faca?
Fui direto pro hotel e antes mesmo de chegar no hall de entrada, trombei com meus amigos.
- Onde vocês vão? – perguntei,
- Passear e curtir nossos últimos dias na cidade – falou Alexia.
Olhei pra Janaína e senti vontade de dar risada. Ela estava parecendo um esquimó de tanta roupa de frio que colocou. Até de luvas e cachecol – amos cor de rosa – ela estava.
- Jana, você pensa que está no Pólo Norte, é?
- Frio da porra!!! Odeio o frio! Bem que você disse que aqui faz frio.
E eu estava sem blusa. Não fazia frio nenhum naquele dia. A temperatura deveria estar por volta dos 16, 15 graus, nada menos que isso.
- Quanto exagero! Você parece uns 10 quilos mais gorda...
- Ih, então é melhor eu colocar um biquíni!
- Palhaça! – eu ri. – Boa saída então, cuidado para não se perderem.
- Pode deixar, a gente já conhece a região – faloiu Alexia.
- Então beleza.
Como era de se esperar, o Gabriel não estava no quarto e sim na academia. Era incrível como ele gostava de treinar. Não sei se isso era bom ou ruim e eu também não me metia mais nesse quesito.
Nem mesmo terminei de colocar a minha roupa e alguém bateu na porta do meu quarto. Quem seria?
Me surpreendi quando abri a porta e dei de cara com o Carlos. Todas as vezes que ele quis usar meu computador, ele pediu antes e naquela vez não.
- Oi – ele abriu o mesmo sorriso de sempre.
- Oi! Que surpresa!
- Atrapalho?
- Claro que não, entra aí...
- Com licença!
Como era educadinho...
- Veio usar o note?
- Não, não.
- Não? – eu estranhei.
- Na verdade, eu quero é conversar com você!
- Conversar comigo? – estranhei mais ainda. – Sobre o quê exatamente?
- Ah, sei lá... Queria te conhecer um pouco melhor...
- Ah, bacana. A gente quase não têm oportunidade de se falar, né?
- Uhum – ele concordou e ficou olhando pro meu tórax.
Fiquei envergonhado. Por que ele não disfarçou aquele olhar?
- E você quer falar sobre o quê? – perguntei enquanto procurei uma camiseta no armário.
- Sobre você, sobre mim...
- Hum...
- Não, não veste não – ela falou. – Tá tão bom assim...
Acho que fiquei mais vermelho que o tapete do Oscar. Não atendi ao pedido dele.
- É que estou com frio – menti.
- Mas o ar-condicionado nem está ligado!
- Mesmo assim estou com frio. Eu estaca doente e não quero ficar de novo.
- Por que não me ligou? – Henrique mudou de assunto.
- Porque não tenho celular!
- Não? Pensei que tinha!
- Vou comprar agora quando a gente receber.
- Hum, que bom. Aí pelo menos a gente vai poder manter contato...
- Sim.
Ele sentou na minha cama e ficou me olhando. Eu fiquei sem saber o que fazer.
- Senta aqui, Caio – ele bateu duas vezes no colchão.
- Pra quê?
- Pra gente trocar uma ideia...
Trocar ideia? Tão pertinho?
- O que você quer, Henrique? – soltei de uma vez.
- Como assim?
- Percebi que você fica me olhando de vez em quando, agora por exemplo você ficou olhando pro meu corpo...
- E você também fica me olhando – ele fitou meus olhos.
- Só retribuo seus olhares – me justifiquei.
- O que é suficiente pra mim... Senta aqui, vai?
Eu sentei. Ele me olhou muito, muito mesmo.
- Sabia que você é uma gracinha? – ele falou baixinho.
- Va-valeu...
- Tem uma coisa que eu quero muito fazer agora, Caio...
- E o que é?
- Isso aqui...
Foi muito rápido. Os lábios dele grudaram nos meus na velocidade de um raio e a língua dele invadiu a minha boca na velocidade da luz. Eu não acreditava que ele estava me beijando!


- Melhor? – perguntou Gabriel em uma determinada manhã.
- Bem melhor.
Nós estávamos nos últimos dias de treinamento. Como estávamos adiantados, a Nilva começou uma revisão e foi a oportunidade pra gente tirar todas as dúvidas que tínhamos.
- Então ficamos combinados assim – falou nossa instrutora. – Depois de amanhã é a nossa prova e no último dia, a nossa festinha.
Combinamos de fazer uma festa de despedida. Seria bom para descontrair o ambiente e relaxar um pouco.
Naquele mesmo dia, resolvi visitar o Víctor e a Amanda. Eu tinha que me despedir dos meus amigos.
- Seu viado dos infernos, como você só vem me visitar agora? – Amanda reclamou.
- Não tive muito tempo, sabe?
Contei pra eles o que houve com minha mãe e ambos ficaram do meu lado.
- Eu já sabia – lembrou Víctor. – E ainda não acredito que você foi burro desse jeito.
- Você só sabia da primeira parte. Que eu liguei você não sabia ainda.
- Ah, é!
- Querem mais bolo? – perguntou Amanda.
- Não, obrigado – falei. – Já tenho que ir...
- - Cedo assim?
- Sim, já está tarde... Amanhã acordo cedo!
- Quando você volta pro Rio? – perguntou Víctor.
- Volto daqui 4 dias.
- Já? Então a gente não vai se ver mais?
Não! É por isso que eu estou aqui, já pra me despedir.
Eles até se emocionaram, mas eu me fiz de forte.
- Vão me visitar no Rio! – os convidei.
- Olha que eu vou mesmo – falou Amanda.
- É pra ir sim! Você vai adorar.
Como diz aquele ditado “errar é humano, mas persistir no erro é burrice”, daquela vez eu não passei na frente da minha casa, mas não foi por falta de vontade.
Não fui pelo simples fato que estava cansado de sofrer em vão e não queria mais chorar por quem não merecia o meu amor.
Sim, porque a minha família não merecia o meu amor. Eu fui de coração aberto, pronto para perdoá-los e tentar resgatar o tempo que a gente havia perdido, mas eles não quiseram, então de que ia adiantar ficar insistindo e dando murro em ponta de faca?
Fui direto pro hotel e antes mesmo de chegar no hall de entrada, trombei com meus amigos.
- Onde vocês vão? – perguntei,
- Passear e curtir nossos últimos dias na cidade – falou Alexia.
Olhei pra Janaína e senti vontade de dar risada. Ela estava parecendo um esquimó de tanta roupa de frio que colocou. Até de luvas e cachecol – amos cor de rosa – ela estava.
- Jana, você pensa que está no Pólo Norte, é?
- Frio da porra!!! Odeio o frio! Bem que você disse que aqui faz frio.
E eu estava sem blusa. Não fazia frio nenhum naquele dia. A temperatura deveria estar por volta dos 16, 15 graus, nada menos que isso.
- Quanto exagero! Você parece uns 10 quilos mais gorda...
- Ih, então é melhor eu colocar um biquíni!
- Palhaça! – eu ri. – Boa saída então, cuidado para não se perderem.
- Pode deixar, a gente já conhece a região – faloiu Alexia.
- Então beleza.
Como era de se esperar, o Gabriel não estava no quarto e sim na academia. Era incrível como ele gostava de treinar. Não sei se isso era bom ou ruim e eu também não me metia mais nesse quesito.
Nem mesmo terminei de colocar a minha roupa e alguém bateu na porta do meu quarto. Quem seria?
Me surpreendi quando abri a porta e dei de cara com o Carlos. Todas as vezes que ele quis usar meu computador, ele pediu antes e naquela vez não.
- Oi – ele abriu o mesmo sorriso de sempre.
- Oi! Que surpresa!
- Atrapalho?
- Claro que não, entra aí...
- Com licença!
Como era educadinho...
- Veio usar o note?
- Não, não.
- Não? – eu estranhei.
- Na verdade, eu quero é conversar com você!
- Conversar comigo? – estranhei mais ainda. – Sobre o quê exatamente?
- Ah, sei lá... Queria te conhecer um pouco melhor...
- Ah, bacana. A gente quase não têm oportunidade de se falar, né?
- Uhum – ele concordou e ficou olhando pro meu tórax.
Fiquei envergonhado. Por que ele não disfarçou aquele olhar?
- E você quer falar sobre o quê? – perguntei enquanto procurei uma camiseta no armário.
- Sobre você, sobre mim...
- Hum...
- Não, não veste não – ela falou. – Tá tão bom assim...
Acho que fiquei mais vermelho que o tapete do Oscar. Não atendi ao pedido dele.
- É que estou com frio – menti.
- Mas o ar-condicionado nem está ligado!
- Mesmo assim estou com frio. Eu estaca doente e não quero ficar de novo.
- Por que não me ligou? – Henrique mudou de assunto.
- Porque não tenho celular!
- Não? Pensei que tinha!
- Vou comprar agora quando a gente receber.
- Hum, que bom. Aí pelo menos a gente vai poder manter contato...
- Sim.
Ele sentou na minha cama e ficou me olhando. Eu fiquei sem saber o que fazer.
- Senta aqui, Caio – ele bateu duas vezes no colchão.
- Pra quê?
- Pra gente trocar uma ideia...
Trocar ideia? Tão pertinho?
- O que você quer, Henrique? – soltei de uma vez.
- Como assim?
- Percebi que você fica me olhando de vez em quando, agora por exemplo você ficou olhando pro meu corpo...
- E você também fica me olhando – ele fitou meus olhos.
- Só retribuo seus olhares – me justifiquei.
- O que é suficiente pra mim... Senta aqui, vai?
Eu sentei. Ele me olhou muito, muito mesmo.
- Sabia que você é uma gracinha? – ele falou baixinho.
- Va-valeu...
- Tem uma coisa que eu quero muito fazer agora, Caio...
- E o que é?
- Isso aqui...
Foi muito rápido. Os lábios dele grudaram nos meus na velocidade de um raio e a língua dele invadiu a minha boca na velocidade da luz. Eu não acreditava que ele estava me beijando!
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