domingo, 4 de janeiro de 2015

Capítulo 65

A
 minha ansiedade pra ele virar era tão grande que eu já estava ficando irritado com a demora em aquilo acontecer.







Comecei a contar os segundos nos dedos e quando ele finalmente virou para mim, quase tive um troço de tanta felicidade.
E eu não me decepcionei. É claro que não estava vendo o Fabrício excitado – e se aquilo acontecesse eu acharia muito estranho –, mas mesmo em estado relaxado, aquela delícia era muito, mas muito lindo!
- Posso apagar a luz, parceiro? – ele olhou no fundo dos meus olhos e em seguida bocejou.
- Aham...
Que maravilha! Quanto será que media aquele instrumento? A julgar pela altura que o cara tinha, pelo tamanho dos pés e pelo cumprimento daquele membro em estado flácido, eu poderia jurar que ele era tão dotado quanto o Vinícius!
- Então tenha uma boa noite.
- Boa noite – eu respondi depois que ele apagou a luz.
Suspirei e fechei meus olhos. Mudar para o quarto com o Fabrício iria ter as suas vantagens... Eu sempre quis que aquele momento chegasse e não me arrependi de ter deixado o Rodrigo com o Maicon.
- Durma bem – ele falou.
- Valeu, você também!
- Valeu...
Pela pouca claridade que vinha da rua, eu consegui vê-lo com perfeição.
Meu novo companheiro de quarto estava deitado de bruços e com as pernas em forma de “4”. Que visão privilegiada... Melhor que aquilo só se ele ficasse excitado na minha frente, mas infelizmente isso não aconteceu naquele momento.





ALGUNS MESES DEPOIS...
Depois de muito apanhar do meu gerente, eu finalmente aprendi a trabalhar sob pressão e já estava levando a minha rotina de trabalho numa boa.
- Caio, assina a sua folha de ponto, por favor? – o chefão me entregou uma folha de sulfite e uma caneta Bic azul.
- Assino.
- Muita hora extra esse mês, hein? Assim que eu gosto!
- Só fiz porque estava precisando de dinheiro – fui extremamente sincero.
- Discarado!
- Sou mesmo. Aqui está!
- Obrigado. Volta para o seu posto, faz favor.
- Volto em 5 minutos, vou ao banheiro.
- 5 minutos! Eu vou cronometrar.
- Fica à vontade.
Eu sabia que não ia demorar porque só ia tirar a água dos joelhos. Antes de chegar ao meu destino, encontrei com o Gabriel e ele acabou me parando para conversar.








- Onde pensa que vai, moleque?
- Moleque é a senhora sua mãe! Vou ao banheiro, posso?
- Pode não! Tem que vender, tem que vender...
- Se vender mais alguma coisa vou falir essa loja – brinquei.
- Ah, quem vê pensa que você é “O” vendedor, né?
- Modéstia à parte, estou indo muito bem, obrigado.
- Modéstia à parte, quem te ensinou? – ele abriu um sorriso largo.
- O Ivan!
- Abraça! Confessa que você deve tudo a mim, vai?
- Não exagera? Posso ir ao banheiro ou está difícil?
- Chorão!
- Sou nada!
- Não esquece que no sábado a gente tem o aniversário da Alexia, hein?
Alexia era uma colega de trabalho que entrou pouco depois do remanejamento de funcionários. Ela era extremamente, absolutamente, incontrolavelmente legal. Depois da Jana, virou a minha paixão naquela filial!






- Claro que eu não esqueci.
- Acho bom!
- Gabo, posso mijar, porra? O Ivan vai brigar comigo...
- Tá com medinho, é? – o cara deu risada.
- Não, palhaço!
Dei um soco no abdômen definido daquele deus grego e saí andando. Pena que aquele cara não me dava a mínima atenção sexualmente falando...
Naquele mesmo dia, quase no final do expediente, eu recebi uma notícia que me deixou sem chão: minha amiga Janaína havia conseguido um novo emprego e ia pedir as contas.







- Por que você vai fazer isso? – eu fiquei muito triste.
- Porque é necessário!
- Não gosta mais daqui?
- Gosto, mas lá eu vou ganhar duas vezes mais, né Caio?!
- Ingrata! E como eu fico nessa história?
- Você fica comigo! Qual a chance de você não ir trabalhar lá também? Já te indiquei, queridinho!
- Oi?!
- É isso mesmo que você ouviu. Lá você vai ganhar mais, Caio! Isso é vida, meu filho.
- Como assim você me indicou? E nem falou comigo?
- Estou falando agora. Eles vão te ligar para agendar uma entrevista.
- Quando? Onde? Não tenho celular, esqueceu?
- Eu sei, infeliz. Eu dei o telefone daqui...
- Você é louca?
- Qual o problema?
- E se o chefe atender?
- Qual o problema? – ela repetiu com aquela cara de desdém. – Não tem medo dele, tem?
- Não mais – dei risada. – Já passei dessa fase.
- Pois é! Quero você lá comigo, amigo...
- Quanto ganha?
Quando ela me disse o salário, eu fiquei com vontade de sair correndo para aquela loja.
- OI?
- Pois é. está vendo porquê eu vou pedir as contas? Eu fico preta passada na chapinha se eu não fizer isso amanhã mesmo!
- Vou sentir muito a sua falta...
- Não vai sentir falta coisíssima nenhuma, você vem comigo, porra!
- É tentador, mas eu não queria sair daqui. E os meninos?
- A gente leva todo mundo!
- Como se fosse fácil, Jana!
- Difícil é que não é. Me aguarde!
- Caio, telefone para você – meu gerente foi atrás de mim no meio da loja com cara de poucos amigos.
Eu nem lembrava mais que a Jana havia dado o telefone da loja como referência...
- Quem é? – indaguei, sem entender nada.
- Não sei, não me informaram. Anda logo, você não tem que ficar perdendo tempo não.
- Calma! Dormiu de calça jeans?
Eu estava bem desaforado naquela época e ele já tinha até acostumado.
- Vou contar até três para você desaparecer da minha frente. 1, 2...
Eu só saí andando porque queria saber quem estava me ligando.
- Alô?
- Caio?
- Sim?
- Meu nome é Ísis – ela falou o nome e em seguida disse o nome da empresa que representava. – Eu estou entrando em contato para verificar se você tem interesse de fazer uma entrevista conosco?
- Sim! Claro! Quando posso ir?
- Pode ser na segunda-feira?
- Pode sim! Qual o horário?
- Pode ser às 8 horas da manhã?
- Perfeito! Qual o endereço?
-É aqui no shopping mesmo! Sua amiga Janaína que te indicou...
- Ah, sim. É verdade, eu havia me esquecido desse detalhe. Quem eu devo procurar?
- Pela gerente, O nome dela é Eduarda.
- Tudo bem. Eu preciso levar algo?
- Se puder, um currículo atualizado.
- Perfeito! Agendado então.
- Perfeito. Muito obrigada, Caio! Boa sorte.
- Obrigado, Ísis!
- Imagina.
Só depois que eu coloquei o telefone no gancho e me virei foi que percebi que o meu superior estava ouvindo a minha conversa.
- Posso saber quem era?
- Não pode não – é claro que eu não ia falar nada. Não naquele momento.
- Olha a insubordinação!
- Olha o autoritarismo!
- Não é para ficar passando o telefone da minha sala para seus amigos, Caio!
- Irei me policiar. Posso voltar ao meu trabalho?
- Deve! Some daqui, vai...
- Com muito prazer!







Sair com meus colegas de trabalho era algo que me divertia muito. Eu sempre dava boas gargalhadas e conseguia me distrair à beça!
O tonto do Gabriel inventou de contar piadas e se saiu muito mal nessa história. Era uma pior que a outra.
- Não achei a menor graça – a aniversariante se ofendeu quando ele contou uma de loira.
- Você fala isso porque é oxigenada, né? – ele riu e bebeu um gole de sua cerveja.
- Oxigenada é o seu nariz! Eu sou loira natural, tá bom? – Alexia ficou inconformada.
- Ah, tá! Duvido.
- Sou sim! Que infâmia!
- Olha que tem um jeito de descobrir, hein gata? – meu amigo Fabrício estava todo saidinho.
- Sonha, meu querido. Pode sonhar que por enquanto é de graça! – ela deu risada e socou o braço dele de leve.
Foi literalmente a maior zorra durante todo o tempo em que nós ficamos na mesa daquele barzinho. Fazia tempo que eu não me divertia tanto como naquela noite gelada do mês de abril.
- Eu ainda acho que você deveria ter comemorado seu aniversário na quadra da Beija-Flor, amiga – a Jana insistia no assunto.
- Ai não, amiga! Muita muvuca, muita gente feia. Aqui tá melhor.
- A gente pode ir na quadra outro dia, Jana – eu me propus a acompanhá-la.
- Faria isso por mim, lindo?
- Qual a chance de te abandonar?
- É por isso que eu te amo! – ela me mandou um beijo.
Eu havia ido ao sambódromo no carnaval daquele ano e confesso que senti uma energia excepcional e uma adrenalina fora do comum. É indescritível ver a alegria por todos os lados. Repetir a dose seria muito bom...
- Quando vocês forem, me avisem – pediu Gabriel.
- Vai sambar, gostosão? – Jana perguntou.
- Com certeza, amor.
- Essa eu quero ver, hein? – Alexia começou a ficar animadinha.
- Agora você quer ir, né safada? – Jana deu risada.
- Quero ver esse monte de músculos sambando. Deve ser a visão do inferno.
Inferno? Aquilo era a visão do paraíso, isso sim!
- Sonha! – ele piscou.








A nossa comemoração só acabou quando o dia raiou no horizonte. Como tínhamos ido direto da loja, eu estava me sentindo literalmente podre. Ainda bem que era a minha folga naquele domingo e eu ia poder colocar o sono em dia.
- Boa sorte no trabalho – eu bocejei, me espreguicei e me joguei na cama.
- Obrigado. Bom descanso – Fabrício também deitou e se enrolou em um cobertor muito peludo.
- Muito frio para essa época do ano, não acha?
- Acho! Vai entender. O inverno está chegando já...
- Não exagera. Ainda falta muito tempo para isso.
- Do jeito que o tempo passa rápido? Amanhã é inverno!
- Vamos dormir. Você precisa descansar.
O coitado não deveria ter ido ao aniversário da Alexia, uma vez que ele teria que trabalhar no domingo. Foi uma loucura da parte dele ter passado a noite em claro. Eu não teria aguentado tanto tempo sem dormir!
- Vamos sim. Bom dia, até mais.
- Bom dia – eu falei, me virei e rapidamente adormeci.








NA SEGUNDA...
Chegar no shopping e não ver nenhum cliente em seu interior me fez me sentir meio esquisito.
Eu fui direto para a loja e bati na porta de vidro para que alguém fosse ao meu auxílio.
Rapidamente um cara de uniforme foi ao meu encontro, abriu a porta e disse:
- Pois não?!
- Bom dia, eu tenho uma entrevista com a Eduarda...
- Ah, sim. Pode entrar. Ela já vem atendê-lo.
Era uma loja muito famosa e com um nome muito forte no nosso país. Eu fiquei olhando as mercadorias e babei por alguns produtos que estavam expostos por todos os lados da filial.
- Caio? – uma mulher muito jovem se aproximou.
Ela usava um sapato de bico fino, calça social e uma blusa branca com um cinto preto na barriga. Seu cabelo era cacheado e estava solto e muito bem penteado. A guria fazia mesmo o tipo gerente.





- Sim?
- Bom dia, eu sou a Eduarda. Tudo bem?
- Bom dia! Tudo ótimo e você?
- Bem! Que bom que você veio no horário. Pode me acompanhar?
- Claro!
Aquela era uma das maiores lojas daquele shopping. Eu segui a mulher por quase 5 minutos e me espantei com o tamanho daquele local.
- Enorme aqui, hein?
- Você acha? É uma das menores... Existem maiores. É porquê você não viu a matriz...
- Imagino que seja imensa.
- 6 andares.
- Nossa!
- Pode sentar, Caio! Quer uma água? Um café?
- Nâo, obrigado. Eu estou bem.
- Podemos começar?
- Podemos sim, Eduarda.
- Pode me chamar de Duda. Eu prefiro.
- Como quiser, Duda!
Foi uma entrevista demorada. Ela me perguntou muitas coisas, pediu para eu fazer uma provinha de matemática e uns testes de raciocínio e depois de quase uma hora, ela falou:
- Muito bom! Gostei muito de você.
- Ah, que bom – dei risada e fiquei sem graça.
- Não vou ficar no suspense não. Você será contratado!
Meu coração disparou. Nunca pensei que seria rápido daquele jeito.
- Sério? – acabei não acreditando.
- Sério sim! Você mostra-se preparado e amadurecido para ser vendedor na nossa loja. E isso é muito raro porque você é muito, muito novinho. Será o funcionário mais novo dessa loja.
- Nossa... Obrigado!!!
A Duda me falou algumas coisas, perguntou se eu tinha interesse e nós acabamos ficando acordados. Eu iria começar na semana seguinte.
- Por favor, não esqueça os documentos – ela me lembrou.
- Pode deixar. E mais uma vez, muito obrigado!
- Por nada. Eu que agradeço!






Quando eu contei a novidade para a Janaína, ela quase me deixou surdo pelo telefone.
- EU SABIA QUE VOCÊ IA PASSAR!
- Cala a boca, vaca! Quer estourar meus tímpanos?
- É a felicidade! Nós vamos trabalhar juntos de novo!
- Isso é ótimo, mas agora eu preciso desligar e comunicar a novidade aos meus outros amigos. Um beijo, tchau!
- Se desligar na minha cara eu quebro seu focinho!
- Você fala mais que a velha do leite, meu! Preciso trabalhar...
- Pede logo as contas desse lugar e fica em casa descansando, seu burro!!!
- E as minhas contas? Você paga?
- Seu salário agora é bem melhor, você mesmo pode pagar.
- Só vou receber meu primeiro salário Deus sabe quando. Não seja chata e me deixa desligar, está bem?
- É assim que você me trata? Eu te arrumo o emprego dos seus sonhos e é assim que você me trata?
- Sem crises existenciais agora, pelo amor de Deus – dei risada.
- Idiota.
- Vadia!
- Você adora uma vadia que eu sei...
Adoro? Adoro porra nanhuma!
Depois de mais ou menos 10 minutos de prosa inútil, ela finalmente deixou eu desligar e finalmente consegui me dirigir até a loja para dar a boa nova aos meus colegas de trabalho.
- Quenga velha, acabou com meu cartão telefônico! – reclamei comigo mesmo.
Gabriel e Alexia foram os que mais reclamaram e ficaram se lamentando no meu ouvido. Eu fiquei até irritado com o chororô dos dois.
- Que saco, eu já disse que vou levá-los quando eu puder...
- Mas, Caio... – a loira fez bico.
- Alexia, eu vou ganhar duas vezes mais. Você sabe o que é isso?
- Beleza, mas tem comissão também? – Gabriel quis saber.
- Sim tem sim!
- Então compensa?
- Se compensa? Claro que compensa! Assim que der eu indico vocês, calma! Não é o fim do mundo, eu sei que vocês me amam, mas não precisam morrer só porque eu vou sair daqui.
- Sem exageros. Não se sinta muito não – o cara me deu um soco forte demais.
- Ai – reclamei de dor e segurei no local onde ele me bateu. – Doeu!
- Viado manhoso da porra. Vira homem, caralho.
Será que eu estava dando pinta da minha homossexualidade? Será que alguém estava desconfiando da minha masculinidade?
- Ah, Caio – Alexia me abraçou.
- Não vai chorar, vai?
- Estou com vontade!
- Dramática.







Sem nem pensar duas vezes, no sábado daquela semana eu fui para a balada que costumava ir para comemorar o meu novo emprego.
O ambiente estava bom como sempre: vários gatinhos, vários caras interessantes e muitos homens gostosos.
Como já era rotineiro, eu me dirigi ao bar, peguei a minha primeira dose de bebida e caí na pista de dança.
Me joguei para um lado, me joguei para o outro e aos poucos, os carinhas começaram a aparecer.
Beijei um, beijei dois, beijei três e assim sucessivamente. Por volta das 2h30, subi no “dark room” e lá me acabei de vez.
Era um beijo melhor que o outro, um cara mais gostoso que o outro. É claro que sempre havia um ou outro que deixava a desejar, mas no geral eu me dei bem naquela noite e nada me deixou frustrado.
E como eu poderia ficar frustrado? Quando eu estava quase descendo para voltar pra casa, calhou de encontrar um carinha muito tesudo e obviamente eu aproveitei a oportunidade para tirar uma casquinha do dito cujo.
Mas o que me deixou extremamente surpreso foi a aparição de outro cara atrás de mim. Enquanto eu beijava um, o outro ficou me alisando e eu entrei rapidamente em parafuso.
Fiquei excitado como a muito não acontecia. Meu pau até doía de tanto tesão que eu estava sentindo.
E foi quando rolou o beijo triplo que eu entrei em desespero. Era um mais gostoso que o outro! Será que eram bonitos? Será que eram tão interessantes como aparentavam ser?
- Como se chama? – um deles perguntou.
- Caio. E você?
- Diego. Idade, moleque?
- 18 e você?
- 25.
Outro beijo e depois foi a vez de perguntar o nome do outro carinha:
- Mateus.
- Qual sua idade, Mateus? – fiquei muito interessado.
- 25.
Que beijo gostoso, meu Jesus amado! Um beijava melhor que o outro e eu não sabia com qual eu queria ficar...







O som da balada foi desligado e eu ouvi vários gemidos ao meu redor.
O que estava atrás de mim me puxou para trás e eu senti algo duro na minha bunda... Fiquei alucinado!
- Ei, vamos para um motel? – Diego sugeriu.
Engoli em seco. Quem ele estava convidando?
- Quem? Eu? – perguntei baixinho.
- Não cara, vocês dois!
- Nós três? – Mateus perguntou.
- Certeza! Topam?
Ai, ai, ai, ai, ai... Será que eu deveria ir?
Que dúvida absurda... Nunca fiquei tão tentado em toda a minha vida.
- Eu topo – disse Mateus, beijando a minha nuca.
- E você, Caio? O que acha? – Diego perguntou e me puxou para um abraço apertado.

Nenhum comentário: