sábado, 27 de dezembro de 2014

Capítulo 58

P

ensei em morder a boca dela de tanta raiva que estava sentindo, mas é claro que não fiz isso.
Por mais que eu tentasse parar aquele beijo, a menina sempre dava um jeitinho de me puxar e eu fui obrigado a corresponder aos movimentos que ela estava fazendo. Só paramos de nos beijar depois de um bom tempo.









- Você beija muito bem – ela me deu um selinho e acariciou o meu rosto.
- Obrigado, você também – suspirei e tentei me afastar, mas não consegui.
- Quer ir para um lugar mais calmo?
Que galinha assanhada!
- Não posso. Meus amigos estão aqui, nós viemos juntos e vamos voltar juntos.
- Ué, mas você não disse que estava sozinho?
- Nesse momento sim, eles estão perdidos por aí, mas nós viemos juntos.
- Ah, entendi.
- Pode me dar um minuto? Vou pegar outra bebida.
- Mas essa aí nem acabou! – ela desconfiou.
- Sim, mas já está quente. Quero outra. Já volto...
- Não demora!
- Pode deixar.
Assim que a Carol me deu espaço para passar eu quase saí correndo. Fingi que estava indo ao bar, mas na verdade, peguei o rumo da saída e só diminuí a velocidade dos meus passos quando cheguei na rua.





Suspirei e respirei aliviado quando me senti liberto daquele lugar chato onde meus amigos me obrigaram a ir.
- Finalmente!
É claro que eu queria esticar a noite na balada destinada ao público gay, mas eu não sabia onde encontrar uma boate GLS...
Foi então que eu comecei a andar sem rumo e quando dei por mim, estava sentado na frente do mar de Copacabana.






Fazia uma madrugada tipicamente carioca. Quente, gostosa e para finalizar, a lua estava linda e cheia, do jeito que eu gostava.
Não sei por quanto tempo fiquei parado, olhando para as ondas, mas deve ter sido muito tempo porque quando levantei e resolvi procurar a balada gay, percebi que a rua estava praticamente vazia.
A raiva que eu senti da Carol já tinha passado por completo e eu não estava mais pensando nela, ao contrário: já não estava nem aí para o que havia acontecido, embora estivesse com a consciência um pouco pesada por tê-la deixado plantada no meio da balada.
Quando coloquei os meus pés do outro lado da Avenida Atlântida, avistei um grupinho de gays e não pensei duas vezes em me aproximar e perguntar onde tinha uma danceteria GLS:
- Com licença?
Os carinhas ficaram calados de imediato e todos, absolutamente todos, me olharam ao mesmo tempo.
- Pois não? – disse um deles.
Eram seis no total, um mais afeminado que o outro.
- Sabem onde tem uma balada GLS por aqui?
- Ah, ele é do babado! – um dos guris deu risada.
- Então gato, tem uma lá na Raul Pompéia – disse outro deles.
- Onde fica essa rua?
- Um quarteirão depois da Nossa Senhora de Copacabana.
- Hum, subindo essa rua, né?
- Isso!
- Como chama o lugar?
Eles me disseram o nome da balada e eu confesso que fiquei animado. Só pelo nome percebi que iria me divertir bastante naquele lugar.
- Valeu...
- Disponha!
Quando dei as costas, eles voltaram a dar risada e a conversar com o tom de voz um pouco alterado. O que será que eles estavam fazendo naquela esquina? Seriam garotos de programa?
Nâo foi nada difícil encontrar o lugar que eles me recomendaram. Quando eu avistei o nome que os caras haviam dito, comecei a analisar o ambiente e rapidamente me pus para dentro do estabelecimento.
Logo na entrada já pude notar que o ambiente era muito mais alegre que o outro onde eu estava.
- Boa noite – disse o carinha do caixa.
- Boa noite.
- 15 reais, por favor?
- Só? – arregalei os olhos. Muito mais barato do que eu imaginava.
- Só – ele deu risada.
- Aí sim, hein? Fica aberta até que horas?
- Umas 5, 6, no máximo.
- E que horas são agora?
- 2.
- Ah, ainda dá para aproveitar um pouco.
- Ah, dá sim! Seu recibo. Bom divertimento.
- Valeu!
Eu andei com a cabeça baixa enquanto arrumava meu troco na carteira.
- Moço? Seu recibo, por favor?
- Hã?
- Pode me entregar seu recibo? – perguntou um funcionário.
- Ah!
Que esquisito! Para que tinham me entregado um recibo se eu não ia ficar com ele? Não tive nem tempo de ler o que estava escrito!
A danceteria também era de dois andares. Na verdade, três. Em cima existia a sauna, no térreo era a chapelaria, o caixa e um bar e no subsolo uma das pistas de dança. Desci as escadas e me deparei com um ambiente descolado, animado e completamente diferente do outro onde eu estava.








Ali me senti livre, me senti no meio de pessoas que me entendiam, pessoas que não eram preconceituosas e que buscavam as mesmas coisas que eu.
Dei uma circulada pelo local, fui até o bar, pedi uma tequila e procurei alguém para me entreter, mas não encontrei ninguém que fizesse o meu tipo.





Acabei me arrependendo de não ter escolhido outra caipirinha. A tequila acabou me deixando um pouco tonto e eu realmente não estava a fim de ficar bêbado.
- Tudo bem? – um cara se aproximou e segurou no meu cotovelo.
- Uhum, tudo bem sim...
- Parece tonto! Está tudo bem mesmo?
- Sim, tudo ótimo. Só fiquei um pouco tonto, mas já passou.
- Passou mesmo? – ele me puxou para mais perto e segurou na minha cintura.
- Passou sim – senti as minhas bochechas queimarem.
- Como se chama?
- Caio. E você?
- Daniel.
Não falamos mais nada e começamos a nos beijar. Daniel não era muito bonito, mas dava pro gasto. Para uns pegas ele dava um belo caldo.
Ele segurou na minha cintura e deslizou um dedo até o botão da minha calça. Muito apressadinho para o meu gosto!





- Que foi? – ele perguntou quando eu afastei a mão de cima do meu colo.
- Apressado demais, né?
- Ah, cara! Aqui é assim...
- Hum...
O carinha me puxou para outro beijo e dessa vez eu é que avancei o sinal, também dei uma conferida no volume por cima da calça, mas me decepcionei tanto com o tamanho que fiquei completamente sem vontade de continuar aquele beijo.
- Espera aí, Daniel. Já volto.
- Onde você vai?
- Andar por aí. Até mais!
Ficar com um carinha que não era bonito tudo bem, mas ficar com um cara que tem o pau minúsculo? Aí não era pra mim...
Não que eu fosse preconceituoso ou nada do gênero, eu só não senti tesão por ele! E olha que eu nem vi o negócio fora da calça... Só de apalpar consegui ter uma noção do que estava me aguardando. E não era nada grande mesmo.
Foi então que eu resolvi partir para a segunda vítima da noite. E dessa vez foi muito mais criterioso.
Passei meus olhos por todos os lados na procura de um bofe gostoso, mas infelizmente não encontrei ninguém que me chamasse a atenção, muito pelo contrário: até idosos eu consegui avistar, mas bofe que é bom... nada!
E durante mais de meia hora, eu fiquei só na vontade. Todos os caras que eu queria pegar já estavam com alguém e os que estavam disponíveis não me interessaram em nada... O jeito foi ficar só olhando mesmo.
Mas de repente eu avistei duas escadas e fiquei extremamente curioso. O que será que tinha lá em cima?
Subi os degraus com muito cuidado porque estava escuro e existia uns vãos entre um degrau e outro. Eu não podia me dar ao luxo de cair no meio da balada, né?
Quando cheguei ao topo da escada, me deparei com um corredor estreito, onde existia um sofá e uma mesinha de centro. O corredor tinha alguns gatos pingados e até que eu encontrei um carinha bonitinho. Será que ia rolar com ele?
Fui até o final desse corredor e vi mais uma escadinha, mas essa menor. Subi os cinco degraus e cheguei a outro corredor, este menor e muito, muito frio. 




Através desse corredor, tive uma visão privilegiada do que estava acontecendo lá embaixo, mas à princípio não entendi que lugar era aquele.
Fiquei olhando o que ocorria na pista de dança e de repente, sem mais nem menos, senti alguém me encoxar...
Algo duro, muito duro bateu na minha bunda e me fez sentir um arrepio de tesão na hora! Quem seria o doido que estava “me bulinando” no meio daquele corredor esquisito?
Quando eu me virei, quase tive um troço de tanta felicidade. Ele não era lá um deus grego, estava longe de ser perfeito, mas era bonito. Muito mais bonito que o tal do Daniel. E era gostoso também...
O cara não estava usando camiseta e deixou os músculos à mostra para quem quisesse ver. E era impossível não ver aqueles músculos deliciosos...
- Opa... – eu falei, já totalmente trêmulo.
- Sozinho?
- Aham.
- Vem cá, vem?





O cara me puxou pela mão, me fez descer dois lances de escada e me jogou contra uma parede. Rapidamente ele começou a me beijar feito um louco e em seguida eu percebi que algo duro estava roçando na minha barriga.
Fui obrigado a parar o beijo e olhar pra baixo. Como estava escuro, não consegui ver direito, mas obviamente que percebi que o pau dele estava pra fora da calça e estava me tocando.
- Chupa! – o rapaz falou com a voz grave e autoritária.


Capítulo 57

- Q
ue demora foi essa? – Rodrigo estava com ar de desconfiança.
- Não posso demorar 5 minutos a mais que você já fica louco, né?
- 5 minutos? Você demorou quase uma hora!
- E o que tem de errado nisso? – eu me joguei na cama e abri o saco de pães que havia comprado na padaria.






- Não tem nada de errado, eu só queria saber onde você estava.
- Na padaria. Pega seu doce logo antes que eu acabe com todos.
Ele levantou, foi até a minha cama e me olhou com desconfiança no olhar.
- Você está escondendo alguma coisa de mim!




- Escondendo o quê, Rodrigo? – me irritei.
- Se eu soubesse não estaria com essa dúvida na cabeça, Caio. O que você está escondendo de mim?
- Não estou te escondendo nada! Você que está com caraminholas na cabeça!
- Eu não nasci ontem, Caio Monteiro!
- Problema é seu Rodrigo Carvalho!
Ele ficou com cara feia, mas eu não me importei nem um pouco.
- Já volto.
- Onde você vai dessa vez? – ele quis saber.
- No quarto dos meninos, posso ou tenho que pedir a sua permissão?
Não esperei ele responder, saí e fechei a porta. Eu gostava muito do Rodrigo, mas às vezes ele era inconveniente demais,
- Posso? – coloquei a cabeça para dentro do quarto.
- Oi, Caio! – Fabrício infelizmente não estava pelado. – Entra aí.
- Eu trouxe uns pãezinhos da padaria. Querem?
Vinícius estava com o semblante tranquilo e parecia estar muito relaxado. Quando nossos olhos se trombaram, percebi que ele ficou com vontade de dar risada.
- Eu quero sim – o gostosão esticou o braço para eu entregar o saco de pães.
- É todo de vocês. Rodrigo e eu já comemos.
- Valeu, cara – Fabrício agradeceu. Ele estava na frente do computador.
- Disponham. Até mais!
- Já vai?
- Vou dormir que já estou cansado.
- Caralho, ainda é cedo, moleque.
- Cedo é, mas o sono está falando mais alto. Boa noite!
Enquanto eu ajeitava a cama para deitar, cantarolei uma música qualquer e esse gesto foi motivos para mais questionamentos por parte do meu amigo:
- Que felicidade é essa, Caio?
- Porra! Se eu fico triste você reclama, se eu fico feliz você reclama... Como quer que eu fique? Inerte?
- Não é isso! Calma! Eu só fiz uma pergunta!
- Pois é, fez perguntas demais por hoje. Me deixa um pouco em paz, beleza?
- Firmão parceiro! Não está mais aqui quem perguntou.
Depois de uns 2 minutos que eu disse aquilo, acabei me arrependendo e fui pedi desculpas ao meu colega de quarto. Eu havia sido grosso com ele desnecessariamente.



- Não, deixa pra lá! – ele ficou ofendido. – Nâo te faço mais perguntas não!
- Também não precisa ficar com criancice, Rodrigo. Já te pedi desculpas pela minha ignorância!
- Firmão, Caio! Deixa pra lá.
- Pelo amor de Deus, como você é sentimental, meu.
- Melhor você dormir e me deixar quieto, beleza?
- Criança!
- Estúpido!
- Já te pedi desculpas, caralho!
- E eu já falei pra você dormir e me deixar em paz. Quer que eu desenhe?
- Não, eu não sou burro!
- Então cala essa boca e me deixa em paz, caralho.
- Beleza, Rodrigo. Quando você acabar a sua TPM a gente volta a conversar. Boa noite!
Ele não falou mais nada e eu também não quis levar aquela situação adiante. Foi a primeira vez que meu amigo e eu discutimos de verdade. E não foi um motivo sério!
Confesso que fiquei pensando na minha foda com o Vinícius antes de dormir naquela noite quente, mas não demorou muito pro estudante de medicina ser trocado pelo meu ex-namorado.
Foi inevitável não lembrar das minhas noites com o Bruno e mais inevitável ainda compará-lo com o meu vizinho de quarto.




No sexo, Bruno e Vinícius eram totalmente diferentes. Um era carinhoso ao máximo e o outro, um verdadeiro macho no cio... Mas não dava pra reclamar de nenhum deles.
Suspirei e abracei meu travesseiro. Cheirei a fronha, senti o cheiro do meu xampu e automaticamente lembrei do perfume das madeixas do garoto dos olhos azuis. Nós usávamos os mesmos cosméticos e por causa disso, sempre que eu sentia meu próprio perfume, lembrava dele.
Como será que ele estaria naquele momento? O que estaria fazendo? Será que também pensava em mim?
Eu não sabia responder essa pergunta. Talvez sim, talvez não... Infelizmente eu nunca saberia daquilo.
Senti vontade de chorar e meus olhos ficaram marejados em questão de segundos.
“Por que, Bruno?” – a pergunta voltou a rondar o meu cérebro e mais uma vez o meu coração voltou a sentir a dor daquela ferida que ainda não havia cicatrizado por completo.
Era fato que eu já não sofria tanto por aquele adolescente, mas a dor ainda existia e quando ela apertava, eu não tinha alternativa a não ser chorar.
Chorar e lembrar de todos os momentos que nós passamos juntos. Como ele me fazia falta! Mesmo tendo me abandonado, aquele rapaz ainda me fazia muita, muita falta. Eu queria saber até quando seria daquele jeito...


- Bom dia – eu o cumprimentei na manhã seguinte.
- Bom dia – Rodrigo respondeu, com cara de poucos amigos.
- Vai continuar com suas criancices?
- E você vai continuar com sua ignorância?
Eu suspirei profundamente e não desviei meus olhos do rosto dele um segundo sequer.
- Eu já te pedi desculpas – o lembrei.
- De que adianta? Já foi grosso mesmo, né?
- Vai me desculpar ou vai continuar com essa besteira toda?
- Esquece. Deixa pra lá.
- Já disse que quando a sua TPM acabar a gente volta a conversar. Fui!
- Quem está com TPM aqui? – ele aumentou o tom de voz, mas eu não respondi nada e saí do nosso quarto para me dirigir ao trabalho.
- Pensei que não ia sair mais da toca – Fabrício estava encostado na parede oposta, mexendo no celular.
- Cá estou. Já podemos ir.
- Até que enfim, né?
- Ainda está muito cedo. Vamos chegar antes da loja abrir, relaxa.
- Não gosto de chegar atrasado. A Sabrina briga comigo.
- Que dó! Vai chorar se ela brigar com você?
- Me respeita, pivete! E eu lá tenho cara que chora por essas coisas?
- Vai saber, né?
- Cara, acho que aquele é nosso ônibus! Melhor a gente correr...
- Eu? Correr atrás de ônibus? Nem a pau!
- Vamos logo, moleque. Senão a gente se atrasa – ele me puxou pelo braço e me fez correr.
- Para com isso, pra que tanta pressa? Vai tirar o pai da forca?
- Só não quero chegar atrasado – ele segurou na lateral do busão e me puxou com um pouco mais de força.
- Para de me puxar criatura! Quer me fazer cair?
- Deixa de ser mole, moleque.
No fim das contas, conseguimos entrar sem maiores transtornos. A fila estava tão grande que não tinha necessidade dele me fazer correr tanto.
- Não precisava ter corrido tanto, teria dado tempo.
- Como você é reclamão, hein?
- Sou nada!
- Imagina se fosse...






Fabrício e eu fomos conversando durante todo o trajeto até o shopping onde trabalhávamos. Com o passar do tempo, eu percebi que ele era um rapaz muito compenetrado e responsável, além de ser um verdadeiro cavalheiro.
- Quais os planos para o aniversário? – perguntei em meio a um bocejo.
- Vinícius e eu vamos comemorar em uma boate e é claro que você e o Rodrigo estão automaticamente convocados.
- Que boate?
- Acho que vamos no Barril mesmo, ainda não decidimos.
- E que dia vai ser mesmo?
- No sábado.
- Ah, no dia do aniversário do Vini?
- Pois é. Ele deu sorte do aniversário cair no sábado, mas deixa estar! Ano que vem é o meu que cai – ele deu um sorriso lindo.
- Nem sei que dia o meu cai esse ano...
- Quando você faz mesmo?
- Agosto.
- Hã... E o dia?
- 31.
- Tu é virgem, é?
- De signo sim – eu dei risada.
- Ah, espertinho!
- Ué, é a verdade – dei de ombros.
- Seu aniversário é numa sexta também. Se deu mal!
- Dá nada não, a gente pode comemorar no sábado. Sem problema algum.
- Beleza, vamos comemorar sim. Não são todos os dias que a gente faz 20 anos, né?
- E quem disse que eu vou fazer 20?
- É 21? – ele ergueu as sobrancelhas.
- Não – dei risada. – É 19!
- Caralho mano, vai se ferrar... Eu beirando os 26 e você ainda tem 18?
- Já tinha te falado isso, lembra?
- Até tinha me esquecido. Como você é pivete, hein?
- Olha o respeito, hein? Eu sei aonde você mora e a cama que você dorme!
- E daí?
- Nada impede que eu jogue pó-de-mico na sua cama. Vai ficar se coçando todo e aliás, você dorme pelado o bagulho vai ser bem feio! – brinquei.
- Quanta maldade, hein? Teria coragem de fazer isso comigo?
- Continua me chamando de pivete pra você ver!
- Beleza, então eu não te chamo mais de pivete.
- Acho bom.
- Te chamo de bebê, neném, criança... – ele caiu na gargalhada.
- E eu te chamo de idoso, 3ª idade, ancião...
- Mais respeito para com os mais velhos, por favor? E levanta a bunda dessa cadeira que chegou o nosso ponto.





- Já? Nem vi o tempo passar.
- Se não fosse eu na sua vida você estaria perdido bebezão!
- Muito obrigado, vô.
Ele me deu um tapa na cabeça e apertou o botão para acionar a campainha do ônibus. Menos de um minuto depois nós já estávamos na rua.
- Caio, reunião na sala da Sabrina – informou Gabriel.
- Já estou indo.
Eu terminei de dobrar uma calça jeans e segui o grupinho de funcionários até a sala da gerente. eram tantos colaboradores que a salinha ficou apertada e abafada.







- Todos aqui? – perguntou a gerente.
- Acho que sim – disse Saionara.
- Pessoal o assunto tem que ser tratado muito rapidamente porque ele pode voltar a qualquer momento.
- Ele quem? – perguntou Lucas.
- O Fabrício. Como vocês podem ver, ele é o único que não está presente...
Foi o maior borburinho. Todos ficaram com a maior cara de incógnita e sem entender nada.
- Na sexta é aniversário do Fabrício e eu queria ver com vocês se vocês topam fazer uma festinha surpresa pra ele?
E é claro que nós topamos. Todos os funcionários aceitaram e o único que ficou colocando empecilhos foi o Lucas.
- Acho que não vai dar certo – ele falou.
- Por que? – quis saber Gabo.
- Porque ele vai acabar descobrindo.
- Ele só vai descobrir se algum de vocês contar, o que não é o caso, Lucas! – exclamou Sabrina.
- Vai dar certo sim, chefa – eu disse. – É claro que vai dar certo.
- Ai ele tinha que abrir a boca – o idiota do Lucas revirou os olhos.
- Então estamos todos de acordo. Gabo, você fica incumbido de arrecadar o dinheiro para comprar o bolo e os refrigerantes.
- Beleza – concordou o gostosão.
- E o que vamos comprar para ele, chefe? – perguntou uma das caixas.
- Boa pergunta! – ela exclamou.
- Podemos deixar essa responsabilidade com o Caio, Sabrina – disse Gabriel.
- É mesmo! Caio, já que você mora com ele vai saber nos ajudar.
- Posso sondar alguma coisa, chefa.
- Faz isso sim.






- Com li... – Fabrício abriu a porta e se assustou quando nos viu reunidos.
- Entra aí, Fabrício! Finalmente você chegou – Sabrina tentou disfarçar. – Estávamos te esperando para começar a reunião.
- Reunião? Reunião de quê?
- Novas estratégias que irão acontecer em fevereiro.
De repente todo o clima de descontração foi embora e o ar ficou pesado.
- Pessoal, tive uma reunião com a diretoria hoje pela manhã e acontecerão algumas mudanças – disse a gerente.
Conforme ela foi falando a tensão ficou ainda pior.
-  À partir de fevereiro acontecerão algumas rotatividades, ou seja, alguns de vocês irão para outras filiais e outros vendedores virão para essa. Eu vou conversar individualmente com cada um de vocês para entender o que é melhor para cada um. Não se preocupem que não é nada além disso.
- Tem certeza? – perguntou Gabriel.
- Tenho sim. Só tenho mais uma notícia... Ainda sobre essa rotatividade, eu também estou inclusa. Só fico nessa filial até esse mês. De fevereiro em diante, eu vou assumir a loja de Nova Iguaçu...
Pronto! Só precisou ela falar isso para os questionamentos e reclamações começarem.
- Não adianta chorar, não adianta berrar e não adianta espernear. Está decidido. Eu preciso ficar mais perto da minha casa, vai ser melhor pra mim!
- E quem vai ficar no seu lugar? – perguntou Fabrício, com cara de derrotado.
- Quem vem é a Bia. Lembram dela?
- A Bia que era nossa amiga? – Gabo deu risada.
- A própria. E eu sei muito bem que vocês foram amigos, mas agora ela está em outro patamar então quero que vocês a respeitem, a obedeçam e a ajudem no que ela precisar, entenderam?






Nós só fomos liberados depois que Sabrina passou todas as coordenadas e nos disse tudo o que iria acontecer daquele momento em diante. Todos ficaram tristes com a notícia da saída da nossa querida gerente.
- Pelo menos a Bia é tão gostosa quanto a Sabrina – ouvi o Gabriel comentar com o Fabrício no vestiário.
- Isso é, mas eu prefiro a Sabrina!
- Você gosta dela, não gosta?
- Como assim?
- Vocês se curtem! Geral tá ligado nisso.
- Bebeu, parceiro? A nossa relação é profissional. Nada além disso.
- E eu sou o Bozo! – meu professor deu risada. – Vou nessa. Até amanhã.
- Até.
- Falou, Caio!
- Bom descanso, Gabo. Obrigado pela ajuda.
- Disponha!
- Não fica triste, Fabrício. Vocês podem se ver fora daqui.
- Como é?
- Tá na cara que você não gostou da saída da chefe.
- Cala a boca, nenenzão!
- Estou mentindo?
- Claro que está. Não estou triste não.
- Até parece!
- Vamos embora? Estou precisando da minha cama.
- Vamos. O dia hoje foi muito puxado!
- Verdade. E aí, o que está achando?
- Já estou me acostumando com a rotina. Na verdade, acho que já me acostumei. Já não fico tão cansado como nos primeiros dias.
- Eu falei que você ia acostumar!
- Deixa eu te perguntar uma coisa... Você sempre passa seu aniversário longe da sua família?
- Desde que eu comecei a faculdade sim, por quê?
- E como faz no dia? E se eles quiserem te dar um presente? – comecei a sondar para tentar descobrir o que ele queria.
- É difícil falar porque eles não vêm até aqui e eu também não posso ir para casa.
- E por que eles não vêm?
- É que todos trabalham, Caio. Não podem largar o trabalho por minha causa.
- E se eles vierem no domingo?
- Não compensa vir pro Rio e voltar no mesmo dia. É tranquilo, eu já fiquei as férias com eles tá bom demais.
- Mas e os presentes?
- Normalmente eles me entregam quando eu volto pra casa – ele riu.
- Caraca! Que chato, hein?
- Pois é. Já até me acostumei, nem ligo mais.
- A gente se acostuma mesmo...
Eu também estava acostumado a ficar longe da minha família, mas sentia falta deles.
- E você? Tem falado com sua família?
- Não. Não tentei mais ligar não.
- Por quê?
- Tenho meus motivos – só de pensar meu coração ficou minúsculo e começou a doer.
- Hum... Vamos entrar nessa loja?
- Para quê? – eu estava com fome e doido para tomar banho, não queria perder tempo com mais nada.
- Preciso comprar um tênis...







Bingo! Era de um tênis que ele estava precisando.
- Vamos sim, também preciso comprar um.
A gente entrou na loja e logo uma vendedora foi ao nosso encontro.
- Posso ajudá-los?
- Pode! Quanto está aquele Nike branco ali? – perguntou Fabrício.
- Qual? Aquele branco e azul?
- Não, o branco e vermelho.





- Ah, sim. Esse está na promoção. R$ 149,00.
- Vocês têm o número 43?
Eu olhei para os pés do meu amigo e acho que pela primeira vez notei que ele tinha os pés um tanto quanto avantajados. Será que o resto era proporcional? Dizem que quem tem o pé grande também tem o...
- Temos sim. Você vai querer levar?
- Só vou experimentar. Hoje estou sem dinheiro, mas no começo do mês eu venho comprar! Espero que não tenha acabado...
- Posso deixar reservado para você se você quiser.
- Opa! Por favor!
- E você, mocinho? Vai querer experimentar algum?
- Quero sim, moça. Quero aquele preto com cinza ali de cima.
- Qual o número?
- 40.
- Já volto, podem sentar e ficar à vontade – disse a vendedora.
- Obrigado – agradeci.
- Que pé de moça, hein? – ele sorriu.
- Desculpa, eu ainda tenho 18 anos. Meus pés ainda vão crescer um pouco – brinquei.
- Pé de moça, meu...
- Você que tem pé de gigante!
- Desculpa, cara. Aqui é tudo proporcional. Tudo avantajado!
Engoli em seco e fiquei extremamente curioso. Será que era tudo aquilo mesmo?
- Hum... Sei!
- Certeza. Está duvidando?
- Não falei nada, falei?
- Essa sua cara te denuncia.
- Aqui está – a garota voltou com duas caixas.
- Já? – nos espantamos.
- Sim! Aqui tem que ser rápido. Esse é o seu e esse é o seu...
Eu segurei a caixa com o modelo que escolhi e peguei o tênis para ter uma visão melhor do modelo.
- E aí, gostaram?
- Sim – disse Fabrício. – Ficou muito bom. Você reserva então? Dia 5 eu venho buscar!
- Reservo sim, pode deixar. E você menino? Gostou?
- Gostei sim, mas só venho buscar dia 5 também.
- Sem problemas. Deixo reservado pra vocês. Só deixem seus nomes, por favor.
- Caio e Fabrício – ele falou.
- Tudo bem. Dia 5 vocês podem me procurar então.
- Seu nome? – indaguei.
- Felícia.
Que nomezinho...
- Beleza então. Nos aguarde semana que vem! – Fabrício levantou e se espreguiçou.
- Estarei aguardando.
- Vamos, Caio?
- Vamos sim.
Eu deixei o meu amigo ir na frente e quando ele ficou em uma distância considerável falei com a vendedora:
- Moça, reserva para sexta esse tênis que ele gostou. Vou comprar de presente de aniversário.
- Sério? Aí eu gostei. Sexta você vem buscar?
- Venho. É R$ 149,00 né?
- Isso mesmo.
- Beleza. Me aguarda aqui.
- Pode deixar. Obrigada!
- Eu é que agradeço.
- Caio? – ele me chamou.
- Já estou indo...
- O que você estava conversando com a moça? Já quer pegar né, safado?
- Que nada, eu fui perguntar quanto era o meu tênis. Acabei esquecendo – menti.
- Ah, entendi!





NA SEXTA-FEIRA...
Vinícius, Rodrigo e eu combinamos que iríamos fingir que tínhamos esquecido do aniversário do Fabrício, portanto quando eu o vi naquela manhã, tratei de apressá-lo e não o cumprimentei direito:
- Anda logo, velho! Nós vamos chegar atrasados!
- Bom dia pra você também, Caio!





- Bom dia nada, anda logo que a gente está atrasado!
- Atrasado aonde, moleque? Nâo são nem 9 horas...
- Anda logo, porra. Não quero me atrasar!
- Eu não estou com nem um pouco de pressa, até mesmo porque hoje é...
- Hoje é sexta-feira, o trânsito está complicado e eu não estou a fim de me atrasar!     Quer fazer o favor de se apressar?
Ele abriu a boca e não falou nada. Lembrei do Rodrigo quando ele fez isso.
- Beleza – ele suspirou e ficou com o semblante triste. – Já estou indo!
Senti pena e ao mesmo tempo vontade de dar risada.
- Nâo comenta nada – Vini falou. – Você tem que se segurar!
- Estou tentando...
Na loja não foi diferente. Todos fingimos esquecer o aniversário do gatinho. Ele ficou realmente muito chateado e isso se refletiu até em suas vendas.
- Vendeu quanto hoje, Fabrício? – perguntou Sabrina.
- Não vendi nada – ele suspirou.
- Nada? – ela se chocou. – Como assim não vendeu nada?
- Não vendi, ué! Simples e fácil assim – ele saiu andando.
- Tadinho – ela deu risada. – Ele está muito chateado!
- Cadê o dinheiro, Gabo? – eu o cobrei. – Preciso comprar o tênis logo!
- Aqui, Caio! Faz do jeito que a gente combinou, beleza?
- Pode deixar!





Todos os funcionários foram saindo e ninguém falou com o Fabrício. Nós combinamos que iríamos comemorar o aniversário dele em um rodízio de pizza no próprio shopping que trabalhávamos e é claro que ele não estava sabendo de nada.
- Vamos embora, Caio? – ele perguntou com a voz tristonha.
- Vamos sim...
- Não, não vai não, Fabrício! Que história é essa? Vamos ter uma conversinha em particular e é agora!
- Agora, Sabrina? Já deu meu horário...
- Pouco me importa! Você pensa o quê? Não vendeu nada hoje? Vamos ter um feedback e é já! Estou te esperando na minha sala!
- Desculpa, mas eu não vou não.
- Ah, vai sim! Ou vai ou eu te advirto por insubordinação! O que você prefere?
- Vai lá – eu o aconselhei com a fisionomia séria. – É melhor!
- Você me espera então?
- Eu não! Vou pra casa que ganho mais, tchau!
A cada patada que ele recebia, eu ficava com remorso. Tadinho do Fabrício...
- Pensei que não ia vir... – a vendedora me recebeu com um sorriso nos lábios.
- Eu disse que viria, não disse?
- Pensei que não ia vir mais.
- É a correria. Me vê o tênis do Fabrício, por favor?
- É o branco e vermelho, né?
- Isso!
- Só um segundo.
Ela demorou muito pouco novamente.
- Aqui está.
- Pagamento é com você?
- Não. No caixa, por favor. Aqui está sua notinha.
- Obrigado!
Eu fui até o caixa e me surpreendi com o tamanho da fila. Fui obrigado a ligar para a minha chefe para ela enrolar mais um pouco na loja.
- Vou demorar uns 10 minutos nessa fila.
- Quantas pessoas têm na sua frente?
- 12.
- Que merda, hein?
- Pois é! Enrola ele aí mais um pouco.
- Pode deixar. Quando chegar no rodízio me avisa.
- Beleza.
Mas eu demorei mais que 10 minutos. Cheguei na pizzaria quase meia hora depois.






- Caraca, Caio. Foi fabricar o sapato? – perguntou Gabo.
- Claro! Olha quem vocês mandam comprar as coisas. Se eu tivesse ido, já teria voltado há muito tempo – Lucas se meteu.
- Cala a boca, infeliz! O papo ainda não chegou no puteiro! Então GABRIEL, eu demorei porque tinha 12 pessoas na fila do caixa. Demorou muito...
- Filho da puta... – Lucas levantou e simulou ir ao meu encontro, mas as caixas o seguraram e o fizeram sentar em seu lugar.
- Já chega, né Lucas? – Saionara reclamou. – Não aguentamos mais suas idiotices!
Foi a maior briga, mas eu não dei bola e liguei pra chefe dando o aval para eles descerem.
- Eles já estão vindo.
- Finalmente – Gabo suspirou e bebeu um gole da cerveja que estava em sua frente.
- Cadê o bolo? – perguntei.
- É mesmo, vou pedir para trazerem... – meu amigo levantou da mesa e foi até o balcão.
- Eu ainda quebro esses dentes... – Lucas resmungou.
- Na boa, Lucas? Cala a boca e me deixa em paz uma vez na vida? – reclamei.
- Idiota!
- Cara feia pra mim é fome, filho. Daqui a pouco você mata essas lombrigas com a pizza, mas duvido que essa cara melhore!
O Vini e o Rodrigo apareceram em cima da hora e eu confesso que fiquei pra lá de surpreso com aquela visita inesperada.
- Pensei que não iam vir...
- Pegamos um trânsito da porra – explicou Rodrigo.
- Sentem aí, sentem aí que eles já estão vindo!
Gabriel colocou o bolo em cima da mesa, nós acendemos a vela e em seguida ouvimos a voz dele:
- Por que você me trouxe aqui?
- Não faz perguntas, Fabrício! Você pergunta demais...








Nunca mais serei capaz de esquecer a fisionomia do rosto do Fabrício quando ele nos viu reunidos, com um bolo enorme em cima da mesa e com várias bexigas espalhadas por todos os lados!
- SURPRESA! – a maioria do pessoal gritou, mas eu cai na gargalhada. O rosto dele ficou muito engraçado naquela expressão de surpresa.
- Não acredito!
- Pensou que a gente havia esquecido, né? – Sabrina abraçou o meu amigo.
- Pensei! Pensei mesmo! – ele sorriu.
- Até parece que a gente ia esquecer!
Quando chegou a minha vez de abraçá-lo, eu respirei fundo e disse:





- Até que enfim eu posso te dizer feliz aniversário!
- Seu ridículo! Pensei que tinha esquecido!
- Claro que não, né? Acha que eu ia esquecer esse dia tão importante? Parabéns!
- Obrigado!
- Muitos anos de vida, muita saúde, muito dinheiro...
- Me deseje muito sexo, muitas mulheres, muitas baladas... – ele sussurrou no meu ouvido.
- Muito isso aí também – eu me diverti com aquela brincadeira do garoto.
- Palhaço – Fabrício riu e deu dois tapas nas minhas costas.
- Você é demais! Muita saúde, viu?
- Valeu, pivete!
- Pivete não!
- Hoje eu posso, vai?
- Hum... Só hoje!
- Beleza!
No meio da festa eu comecei a pensar com os meus botões... No dia 1º de fevereiro ia completar um ano que eu havia me mudado para a república! Aquilo significava que eu tinha me mudado dias depois do aniversário dos meninos...
- Por que não me disse que eu me mudei dias depois do aniversário deles? – perguntei ao Rodrigo.
- Sei lá! Era necessário? – ele ainda estava um pouco chateado comigo.
- Ah, não sei... Questão de educação dar parabéns, né?
- Desculpa! Não sou a Mãe Diná para adivinhar que você queria dar parabéns a eles.
- Como você é grosso, Rodrigo – fechei a cara e cruzei os braços.
- Acho que estou aprendendo com alguém!
Durante o resto da noite nós não nos falamos mais. Eu adorava o meu amigo, mas ele estava chato demais naqueles últimos dias.
- Como você se chama mesmo? – Lucas perguntou ao Vini.
- Vinícius, por que? – o cara perguntou.
- Ah, não sei. Acho que eu já te vi em algum lugar.
- É?
- Aham!
- Que bom pra você!
Eu caí na risada e o Vini ficou me olhando sem entender nada.
- Que foi, Caio?
- Nada, Vini! Depois eu te explico!
- Fiquei curioso...
- Em casa eu te explico, na boa!
- Beleza!






O Lucas ficou me fuzilando com os olhos, porque o Vinícius e eu ficamos trocando ideia por muito tempo. Com toda certeza do mundo, ele ficou com ciúmes por eu ter amizade com o bonitão e ele não.
- E aí, curtiu a noite? – perguntou Sabrina.
- Pra caralho! Obrigado por tudo, pessoal! Amei.
- Gostou do presente? – perguntou Gabriel.
- Demais! Era o que eu queria!
- Que bom.
Só saímos de lá quando nos expulsaram. Quase não conseguimos pegar ônibus para chegar em casa.
- Que horas são? – Rodrigo perguntou.
- Quase uma... – Fabrício respondeu.
Vinícius parou de andar de imediato.
- Opa... – ele sonorizou.
- PARABÉNS – nós três caímos em cima do gatão no meio da rua mesmo.
- Obrigado, obrigado, muito obrigado, mas podem me largar? Não fica bem três marmanjos me agarrando no meio da rua!
- Não se faça de difícil, donzela – Fabrício brincou. – Quem vê pensa que você não gosta!
- Está me tirando, parceiro?
Ele deu risada.
- Na boa, podemos ir para casa? Já está tarde e amanhã é dia!
- Verdade, Caio – o aniversariante concordou. – Vamos embora que eu preciso reunir forçar para a balada de hoje à noite.
- Isso aí. Hoje vamos aprontar todas! – Rodrigo concordou.
- Vamos apostar quem pega mais hoje? – Vini propôs.
Eu revirei os olhos e saí andando. A última coisa que eu queria naquele momento era ser assaltado ou ser vítima de um sequestro relâmpago.
- Espera a gente, Caio – Fabrício reclamou.
- Eu não! Que demora da porra... Preciso da minha cama!
Quando nós entramos em casa, ele me puxou pelo cotovelo, olhou no fundo dos meus olhos e disse:
- Por qual motivo você estava rindo de mim na pizzaria?
- Não estava rindo de você, idiota. Estava rindo do Lucas!
- Quem é Lucas?
- Aquele viadinho que perguntou qual era seu nome...
- Ah! Por que riu dele?
- Porque ele quer ficar com você!
- Hã? – o futuro doutor arregalou os olhos.







- É isso! Ele gostou de você!
- Como você sabe, mano?
- Sabendo! Simplesmente sei, Vini. É por isso que eu ri, porque você deu um fora bonito nele e ele ficou todo sem graça.
- Credo! Não curto essas paradas não...
- Aham! Eu que o diga, né?
Ele deu risada e deu um tapinha na minha bunda.
- Com você é diferente, moleque.
- Diferente por quê?
- Porque você me dá tesão – ele falou no meu ouvido.
- Engraçado! A recíproca é muito verdadeira nesse caso!
A gente caiu na gargalhada.
- Boa noite, Caio.
- Boa noite, Vini! Parabéns novamente. Saúde sempre para você!
- Obrigado. Boa noite!
Fiquei feliz que tenha dado tudo certo naquela noite. O Fabrício ficou de fato muito feliz com aquela festa surpresa e eu gostei bastante de colaborado com aquele acontecimento.
A única coisa que deixou a desejar foi a minha demora para comprar o presente dele, mas a culpa não foi minha. Ainda bem que a Sabrina tinha deixado o celular dela comigo, senão nada daquilo teria dado certo. O Fabrício teve um aniversário feliz afinal de contas. Só restava saber se o  do Vini seria tão bom quanto o de seu melhor amigo.
NA BALADA HÉTERO...









Não sei porquê topei acompanhá-los naquela noitada. Assim que colocamos os pés na danceteria, cada um foi para um lado e eu fiquei literalmente sozinho e sem saber o que fazer.
Resolvi ir até o bar e pedi uma caipirinha de morango. Se eu não ia ficar com ninguém naquela noite, eu tinha que me distrair com alguma coisa...
Andei para um lado, andei para o outro e não encontrei nenhum dos três. Onde será que eles estavam?
Só depois de muito tempo descobri que o recinto tinha outra pista de dança no piso superior. Como eu era tapado!
Subi as escadas e antes de chegar no 2º andar, já me deparei com o Fabrício aos beijos com uma mulata muito da “gostosa”. Ele foi sincero quando disse que estava disposto a passar o rodo naquela comemoração.
- Que inveja dessa vaca... – falei baixinho e terminei minha bebida.
Não precisei andar muito para encontrar o Rodrigo. Ele também estava aos beijos, mas ao invés de ser com uma mulata, era com uma loira, mas ela não tinha o corpo tão bonito como a ficante do Fabrício.
Só faltava encontrar o Vinícius. E depois de dar uma circulada eu o avistei agarrado com uma loira de mini-saia. A mão do cara estava na bunda da periguete e ela parecia gostar do que estava fazendo.
Vagabundo! Fiquei com tanto ciúme do Vinícius que senti vontade de puxar aquela perua pelos cabelos e jogá-la para bem longe do meu gostosão! Como eu queria estar no lugar dela!





- Até que enfim te encontrei, Caio! – Fabrício apareceu atrás de mim de repente. – Onde você estava?
- Lá embaixo. Só subi agora.
- Pegou quantas? – ele sorriu.
- Nenhuma – respondi na inocência.
- Nenhuma? Já estou indo pra terceira! Aproveita mais, moleque. Se joga na pista e passa o rodo!
- Estou tranquilo – senti até nojo só de pensar em beijar uma garota.
- Quero só ver com quantas você vai ficar, hein?
Ele nem esperou a resposta e foi circular pelo meio da pista. Eu fiquei extremamente frustrado. Definitivamente, balada hetero não era para mim!







Como não tinha nada para fazer e não estava curtindo a música que estava tocando, resolvi dar mais uma perambulada pela boate e mais uma vez vi o Rodrigo aos beijos, mas daquela vez com outra menina. Eles estavam me saindo melhor que encomenda!
- Sozinho? – ouvi uma voz feminina atrás de mim.
Quando eu me virei, me deparei com uma garota linda. Muito linda, mas que realmente não fazia o meu tipo. Ela não tinha o que eu gostava!
- Sim e você?
- Também. Como se chama?
- Caio. E você?
- Carol. Pode me chamar de Carol.
- Beleza então, Carol!
- Posso te fazer companhia?
- Por que não? – o que poderia ter demais em uma companhia feminina?
- Você vem sempre aqui?
- Na verdade, é a primeira vez que eu venho.
- Hum! Mora aonde?
- Catete e você?
- Moro em Copa mesmo.
- Bacana! Espera aí, vou pegar uma bebida e já volto!
- Tudo bem. Eu espero.







Eu fui até o bar e trombei com o aniversariante na fila do caixa.
- E aí, quantas? – perguntei.
- Três só. E você?
- Como assim? Tá louco, é?
- Ah, é! Havia me esquecido! – ele deu uma risadinha.
- Acho que vou embora, não estou curtindo.
- Para de ser sem graça, hein? É meu aniversário!
- Grande coisa, você está se divertindo com suas negas e eu estou aqui sozinho e sem fazer nada!
- Porque quer. Vai dançar, beber, curtir a noite!
- É o que me resta, mas se eu sumir de repente, você já sabe!
- Se fizer isso vou ficar muito chateado, Caio!
- Paciência!
Ele foi para um lado e eu fui para o outro. Não quis ser deselegante com a Carol, então resolvi ir ao encontro da garota e para a minha surpresa, ela ficou mesmo me esperando.
- Quer? – ofereci minha caipirinha de kiwi.
- Quero sim, posso?
- Claro!
Ela colocou a boca no canudinho e enquando chupou a bebida ficou olhando nos meus olhos.
- Delícia! Adoro caipirinha de kiwi.
- Muito boa mesmo.
- Qual sua idade, gatinho?
- 18 e a sua?
- Também!
- Hum, legal!
- Curtiu a boate?
- Sim, sim. É bem bacana – não era mentira. O local era realmente legal, pena que era hetero.
- Se você vier mais vezes, vamos poder nos encontrar de novo!
- Você vem sempre aqui?
O Fabrício passou perto de mim e me deu um cutucão de propósito.
- Idiota – dei risada quando ele piscou pra mim.
- Conhece?
- Meu amigo.
- Hum! Respondendo sua pergunta, eu venho aqui quase todos os finais de semana.
- Ah, entendi.
Dei um chupão na minha bebida e respirei fundo. A noite parecia que ia ser muito longa.
- Quer mais?
- Não, obrigada! Agora eu quero é outra coisa...
- O quê?
Eu fiquei tão assustado quando ela começou a me beijar que quase derramei a minha caipirinha na roupa da tarada.
Os lábios dela estavam urgentes. A língua invadiu a minha boca e eu senti uma repulsa muito grande tomar conta do meu corpo!
Carol me puxou pela cintura e envolveu o seu corpo ao meu. Meu coração bateu acelerado e eu senti vontade de empurrá-la. Quem disse que eu queria ficar com ela? Quem ela pensava que era para me beijar daquele jeito???