sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Capítulo 41

- Eu não acredito que você veio – meu coração bateu até mais forte.
- Eu disse que viria.
Bruno estava tão lindo que eu perdi até o fôlego.
- Quem é o Felipe?
Eu dei risada e balancei a cabeça negativamente. Se eu sobesse que ele era tão ciumento eu não teria falado nada a respeito do meu personal trainer.
- É aquele ali de amarelo.
Quando os olhos do meu namorado bateram no corpo do meu professor, ele abriu a boca e ficou com a fisionomia de pastel.
- É aquele gostosão?
Dei um soco no braço do garoto. Ele não estava me vendo ali?
- Olha o respeito!
- Desculpa, foi mais forte que eu! Tem certeza que é ele?
- Claro que tenho! Eu treino aqui faz tempo...
- Agora eu te entendo. Agora eu entendo o que você quis dizer... Acho que vou mudar para a noite aqui...
- Vai, é?
- Assim eu posso ficar mais perto de você – ele tentou disfarçar.
- Se saiu bem, mas não vai mudar nada não. Vai continuar a tarde.
- Que gato que ele é!
- Não te disse?
Nós dois ficamos olhando pro mestre e ele acabou percebendo e foi ao meu encontro:
- Já vai?
- Já. Chega por hoje, né?
- Amanhã tem mais.
- Esse é o Bruno. Meu... Amigo.
- Prazer – o Felipe estendeu a mão.
Meu namorado ficou sem saber o que fazer e só apertou a mão do rapaz depois de alguns segundos.
- Prazer é meu...
- O Bruno malha aqui à tarde. Acho que com a Luci. Não é isso, Bruno?
- Aham...
- A Luci é gente fina. Por que não vem à noite com o Caio?
- Não posso. Eu estudo.
- Ah, entendi. Que pena. Ele precisa de uma companhia.
- O Rodrigo não vem mais? – meu namorado perguntou, mas olhando pro Felipe.
- Não – eu dei um cutucão nas costas dele. – Ele pediu férias. Vamos?
- Ah...
- Amanhã você vem que horas?
- 20:30 de novo – respondi ao meu professor.
- Te aguardo então. Nada de faltar, hein?
- Pode deixar. Vamos, Bruno?
- Hã? Vamos!
Quando a gente chegou na rua, eu não consegui me controlar e fui logo tirando satisfação:
- Você não parava de olhar pra ele, seu filho da mãe – dei um tapa de leve na nuca do Bruno.
- Ai, desculpa. Não consegui resistir. Ele é muito gostoso.
- Ah, é? Fica com ele então!
- Não. Quero ficar com você – ele me abraçou por trás.
- Sei.
- Verdade...
Não me segurei mais e o beijei ali mesmo, na calçada de uma avenida movimentada. O único problema foi ter que parar o beijo poucos minutos depois.
- Gostei disso – ele mordeu os lábios.
- Isso é pra você aprender a se controlar, palhaço.
- Eu me controlo muito bem, mas nessas circunstâncias...
- Só não vou brigar com você porque você tem razão. Ele é muito gostoso mesmo.
- Não é?
- Demais...
- Posso te perguntar uma coisa?
- Pode.
A gente estava andando quase de mãos dadas de tão próximos que estávamos.
- Teria coragem de transar a três?
- Já quer fazer uma suruba, né?
Ele ficou todo sem graça.
- Não respondeu a minha pergunta.
- Depende do tesão. Quem sabe. Por quê?
- Porque eu tenho curiosidade, mas não quero fazer.
- Por que não?
- Ah, sei lá. Deve ser meio esquisito.
- Enfim.
- Só é uma vontade. Um desejo secreto.
- Uma fantasia – eu completei.
- Isso. Porém fica tranquilo que eu não vou te trair com ninguém e não vou pedir para a gente transar com outro cara, tá bom?
- Eu confio em você e entendi o que você quis dizer.
- Você é perfeito!
Fomos conversando até o momento em que eu cheguei na empresa. Acordamos que eu ia chegar na casa dele por volta das seis horas no sábado.
- Estamos combinados então – eu finalizei.
- Combinados.
De repente me deu um ataque de loucura:
- Está com seu crachá aí?
- Estou, por quê?
- Vem comigo!
Eu puxei meu garoto pelo braço e nós entramos no prédio onde trabalhávamos.
- Onde você está me levando?
- Já vai ver.
Eu apertei o botão para chamar o elevador e um deles rapidamente abriu as portas. Apertei o botão do refeitório e esperei impacientemente as portas abrirem novamente.
- Não estou entendendo nada.
- Já vai entender.
Quando nós chegamos no andar certo, eu empurrei o Bruno até as escadas de emergência e quando tive certeza que estávamos sozinhos, o empurrei contra a parede e comecei a beijá-lo enlouquecidamente.
- Você... É... Doido? – ele falou completamente sem ar.
- Doido por você!
- E se alguém nos pegar aqui?
- Nâo vão pegar. Não tem quase ninguém aqui essa hora.
Outro beijo, mais rápido e selvagem.
- Para – foi a vez dele pedir. – Não posso continuar senão não vou me segurar!
- Nem eu – eu peguei a mão do Bruno e coloquei dentro da minha calça. Eu estava muito excitado.
- Safado!
- Não viu nada...
- Vai para a sua PA, Caio – ele me abraçou. – Já está na hora.
Ainda faltavam cinco minutos.
- Queria ficar com você.
- Eu também amor, mas você precisa ir pra sua PA. O Breno vai te advertir!
Suspirei e o beijei novamente, porém com mais cautela.
- A gente se vê no sábado – falei.
- Sim.
- Se cuida.
- Você também. Bom trabalho. Se comporta, tá?
- Comporte-se também, safadinho.
Nos beijamos de novo e eu desci pelas escadas mesmo até o meu andar.
- Juízo – falamos juntos e demos risada.
- Não sabia que a senhora fazia ovos de páscoa – comentei.
- Faço sim. Resolvi fazer em cima da hora esse ano, mas vai dar tempo – Dona Elvira me informou.
- E quanto é?
- Vou te trazer a tebela de preços.
Ela voltou com uma folha de sulfite cheia de anotações. Eu fiquei completamente perdido com tantos preços e tantos ovos de páscoa.
- Dona Elvira, vamos fazer o seguinte: me passa todos os valores que eu vou digitar e imprimir para a senhora.
- Faria isso?
- Claro! Desculpa, mas essa lista tá muito bagunçada.
- Eu só não fiz porque não sei mexer muito nessas coisas.
Então por que diabos ela tinha um computador no mercado?
- Então por que a senhora tem esse computador se não usa?
- É só para passar as mercadorias mesmo – ela me explicou. – É só isso que eu sei fazer.
- Vou te dar umas aulinhas de informática. Vem cá...
Ao invés de fazer a listagem, eu ensinei a velhinha a passar as informações pro Word. Não custava nada dar uma mãozinha.
- Adorei – ela ficou toda serelepe. – Isso é muito divertido.
- Agora a senhora vai clicar aqui – eu coloquei o dedo na tela. – E selecionar a opção para imprimir.
- Assim?
- Isso!
Um minuto depois a lista saiu na impressora que ficava embaixo do balcão.
- Agora sim! Bem melhor – eu falei.
- Vou treinar mais um pouco. Como faço para deixar as letras maiores?
Respondi o que ela me perguntou enquanto lia as informações na folha de sulfite. O que comprar para o Bruno?
- Vou comprar um ovo – falei.
- Sério? – ela ficou ainda mais entusiasmada. – Você é meu primeiro freguês esse ano. E qual vai querer?
- Ainda não sei. Vou precisar descobrir primeiro.
- Ah, já sei! É pro namorado, né?
- É – fiquei sem graça. Como ela sabia que eu estava namorando? – Como a senhora sabe?
- Não nasci ontem, Caio. Esses seus olhinhos brilhantes não me enganam.
- Na verdade a senhora é muito esperta, isso sim.
- Rodrigo? – eu entrei em casa chamando pelo meu amigo. – Rodrigo?
- O que foi? – ele surgiu atrás de mim do nada.
- Que susto! Parece até uma alma penada!
- Quem me chamou foi você... Eu, hein!
- Me faz um favor?
- Qual é?
- Está sozinho?
- Vinícius tá lavando as cuecas.
- Vem comigo – eu puxei o garoto pro quarto.
- Quanto mistério – ele suspirou.
- Preciso de um favor enorme!
- Qual?
- Descobre pra mim que tipo de chocolate o Bruno gosta?
- E por que eu? Por que você não pergunta?
- Seu burro, porque se eu perguntar vai ficar muito na cara. Quero dar um presente para ele...
- Hã! E o que eu ganho em troca?
- Uma cerveja?
- Pouco.
- Duas cervejas?
- Melhorou. Como faço isso?
- Você também não pode perguntar senão ele pode desconfiar... O ideal seria que você pedisse para alguém sondá-lo. Um garoto. O Michel. Pede pro Michel sondar, por favor!
- Vou tentar. Te prometo nada não.
- Tentar nada, você vai conseguri! A páscoa é semana que vem e eu tenho que fazer o pedido logo.
- Vou tentar – ele repetiu. – Não te prometo nada.
- Ficarei no aguardo da sua ligação. Agora desaparece que eu quero dormir.
- Ah! É ssim que você me trata? Eu vou tentar te ajudar e  é assim que você me retribui?
- Desculpa, querido – eu fiz uma voz um pouco mais adocicada. – Pode se retirar, por favor?
- Agora sim – ele deu risada e me bateu. – Me trata bem.
- Palhaço!
- Vou perguntar sim, relaxa.
- Valeu. Te devo as cervejas.
- Tá me devendo uma caixa já.
- Junto tudo e pago no final do ano.
- Quero só ver.
- Vai sair? – Vini perguntou.
- Aham. Vou dormir fora.
- Ah, é? E eu posso saber onde?
- Não – eu ri. – Curioso.
- Hum... Voltou com a namorada?
- Que namorada? – será que ele não percebeu que eu era gay?
- Ou namorado? – ele ergueu as sobrancelhas.
- Não voltei com ninguém não. Vou para a casa de um amigo.
- É? E não quer ficar mais um pouco? – ele segurou na vara.
Eu abaixei meus olhos e mordi meu lábio.
- Não. Não posso porque já estou atrasado.
- 5 minutinhos?
- Não dá. Sinto muito, vai ter que se virar sozinho dessa vez...
- Que pena. Você ia gostar muito.
- Você também ia – eu sorri. – Mas fica pra próxima, beleza?
- Tem certeza?
Ele colocou o pau pra fora. Estava meia bomba.
Eu tinha que resistir... Eu tinha que resistir... Eu tinha que resistir...
- Coloca isso pra dentro, Vinícius!
- Vem colocar, vem? Vem colocar na sua boquinha...
Meu pau começou a endurecer e eu comecei a ficar balançado. Será que eu deveria...?
Ele se aproximou e pegou a minha mão. A minha boca ficou cheia de água, mas eu não podia trair o Bruno!
- Não – eu me soltei. – Não posso.
A crise na minha consciência ia me matar se eu traísse o Bruno. Eu tinha recriminado tanto a atitude dele... Não ia fazer a mesma coisa!
Vini fez bico e começou a se masturbar bem devagar. Eu não toquei naquele pau, mas não consegui parar de olhar um segundo sequer.
- Vem? Você quer! – aquela voz grossa falou.
- Não posso...
- Vem?
Ele me empurrou para o quarto e mesmo contra a minha vontade, eu acabei obedecendo.
- Só vou ficar olhando – falei.
- Vai pegar nele...
Ele segurou na minha mão e levou até o pinto, mas eu me afastei rapidamente.
- Não posso, não entende?
Ele continuou batendo.
- Vai conseguir ficar só olhando?
- Vou... – mordi meu lábio.
- É você que sabe.
Ele tirou toda a roupa e deitou na cama com as pernas abertas. Foi a melhor visão que eu tive nos últimos tempos.
Vinícius colocou a mão atrás da nuca e enquanto tocava no sexo, não parou de me olhar um segundo sequer.
Ele soltou uns gemidinhos baixos, nada comparado aos grunhidos que ele dava quando eu chupava aquele pau...
- Chupa, Caio... – ele falou.
- Não posso!
- Vem, cai de boca...
- Não...
- Você adora minha rola, não adora?
- Não posso, Vini...
A vontade era enorme. Eu me aproximei bem devagar e fiquei ao lado daquele cara gostoso...
- Pega nele, pega?
Não resisti. Segurei aquele cacete imenso e continuei a punheta. Ele não ia demorar a gozar.
- Põe na boca?
- Não...
Minha consciência ia me matar. Eu estava traindo o Bruno!
- Não posso! – me levantei rapidamente e fui até a porta.
O Vini continuou de onde eu parei e disse:
- Se não pode então vai embora e me deixa sozinho.
Não consegui fazer o que ele pediu. Por um lado, eu queria muito cair de boca nele de novo. Por outro, eu estava me sentindo péssimo por causa do meu namorado.
- Vai querer ou não?
A cabecinha estava molhada.
- Nã-não...
- Então sai. Fecha a porta quando passar!
E foi o que eu fiz. Arrasado por ter perdido uma enorme oportunidade, mas ao mesmo tempo aliviado por ter saído daquela situação.
E assim eu me senti: dividido. Dividido entre o amor do Bruno e a pegação do Vinícius.
Eles se completavam. Em um lado estava a paixão, o amor, o sentimento. Do outro, estava o tesão, o fogo, o desejo... E eu não sabia em qual dos dois lados eu deveria ficar.
Agradeci a Deus quando meu celular começou a tocar. Pelo menos eu ia poder me distrair e ia conseguir esquecer um pouco o Vinícius.
- Alô?
- E aí, Caio – era o Rodrigo.
- Conseguiu o que eu te pedi?
- Consegui. Está me devendo duas caixas de certveja porque foi muito difícil...
- Cachaceiro! O que ele gosta?
- Hã?
- De que tipo de chocolate ele gosta, menino?
- Ah! Chocolate branco!
- Tem certeza?
- Absoluta!
- Vou confiar em você.
- Não confia em mim, filho da mãe?
- Eu disse que ia confiar, não ouviu?
- Quero as minhas cervejas. Foi muito difícil conseguir essa informação. O Michel ficou meio desconfiado de minha masculinidade por sua causa.
Eu dei risada.
- Adoro!
- Adora nada, filho da mãe. Por sua causa o Michel tá pensando eue eu sou viado.
- Olha o preconceito!
- Não sou viado, porra – ele deu risada.
Eu sabia que ele falava aquelas coisas de brincadeira e não levava nada a sério.
- Beleza. Eu preciso desligar – falei.
- Firmeza! Paga as minhas cervejas, hein?
- Pode deixar que amanhã mesmo eu te levo.
- Amanhã?
- O quarto é seu de novo. Vou dormir no Bruno.
- Que romântico, mas poupe-me dos detalhes sórdidos, por favor!
- Não pretendia te contar os detalhes mesmo.
- Tenho que ir.
- Até mais.
Chocolate branco... Não pensei duas vezes e liguei imediatamente para a Dona Elvira. Eu queria encomendar o ovo de páscoa o quanto antes:
- Alô? -  a voz dela era bem diferente pelo telefone.
- Dona Elvira, é o Caio.
- Oi, meu filho. Diga?
- Quero encomendar o ovo do Bruno.
- Ah, sim. Qual é?
- Pode fazer um branco.
- Qual o tamanho?
- Um quilo.
- Que grande...
- Pois é.
- Em formato de coração?
- Ah, não... Melhor não... Isso é coisa de hetero.
- Nada a ver. Assim você mostra que o ama de verdade...
- Não – eu não me sentia muito à vontade em conversar sobre minha homossexualidade com a Dona Elvira. – Melhor normal.
- Você que sabe.
Eu confirmei o valor e em seguida desliguei. Fiquei torcendo para que ele gostasse do meu presente.
Enquanto me dirigi até a casa da Dona Terezinha, lembrei do que havia acontecido com o Vini. Será que ele tinha ficado bravo comigo?
Ele tinha que entender que não seria sempre que eu ia poder tirar o atraso dele. Não que eu reclamasse porque eu adorava fazer aquilo, mas o fato é que eu estava namorando e tinha que ser fiel ao meu namorado.
Deduzi que a melhor opção naquele caso seria abrir o jogo com ele de uma vez. Eu deveria ter falado a verdade quando ele perguntou se eu tinha reatado meu namoro... Onde estava a minha coragem?
- BRUNO? – eu chamei no portão.
Ele apareceu rapidamente. Estava usando só uma bermuda de tactel.
- OI – ele abriu um sorriso lindo.
- Que saudade!
Quando ele abriu o portão fomos logo nos beijando.
- Saudade também – ele falou.
Ouvi vozes dentro da casa e achei aquilo esquisito.
- Tem alguém aí?
- Meus irmãos. Ou melhor, meus sobrinhos.
- Você é tão novo pra ser tio – eu não me acostumava com aquilo.
- E tem idade para ser tio, é?
- Ah, eu sempre imagino tios mais velhos. Você ainda é um adolescente, é muito esquisito.
- Eu sei, é estranho mesmo.
- Uhum.
- Posso pedir uma coisa?
- Claro!
Ele tirou alguma coisa que estava no meu lábio.
- Não comenta da minha adoção com meus irmãos, tá? Eles não sabem.
- Pode ficar tranquilo.
- Vem, vamos entrar.
Eu me deparei com uma moça que aparentava ter a idade do Bruno e um garotinho que ainda não havia chegado na pré-adolescência.
- Caio essa é a minha irmã, Pâmela.
- Oi – eu fui e dei um beijo no rosto dela.
Esqueci que os cariocas cumprimentam com dois beijos e só me toquei quando vi a menina com a cara virada.
- Ah, é. São dois. Desculpa.
O Bruno deu risada e explicou que eu não era carioca.
- Percebi pelo sotaque – a voz dela era um pouco enjoada.
- E esse é meu irmão, Leonardo.
- Leonardo? – eu não acreditei.
- É, pois é. Leonardo.
- Beleza campeão?
O garoto parecia ser bem calminho e era a cara do Bruno.
- Ele é a sua cara.
- Pois é, todos falam.
Foi aí que aquele papinho de adoção me deixou ainda mais grilado. Os irmãos não sabiam e o caçula era a cara do primogênito... Algo naquela história estava muito mal-contado.
- Vai fazer meu bolo? – ele perguntou.
- Quer mesmo que eu faça?
- Claro! Só se você não quiser fazer...
- Bolo de quê? – perguntou o pivetinho.
- Prestígio!
- Eu quero – ele disse e a irmã concordou.
- Acho que não vou ter muita escolha – sorri e me rendi. – Eu faço, mas você tem que me ajudar.
- Ajudo, claro. Só deixa eu colocar uma camiseta, tá bom?
- Uhum.
Enquanto meu namorado subiu para o quarto, a Dona Terezinha apareceu toda arrumada. Será que ela ia sair?
- Olá, Dona Terezinha – a cumprimentei.
- Olá, querido. Como tem passado?
- Muito bem e a senhora?
- Bem obrigada. Lamento ter que sair agora que você chegou...
- Imagina, Dona Terezinha. Não se preocupa comigo.
- Vai dormir aqui hoje? – ela lembrava a minha avó paterna.
- Sim. Espero não causar incômodo.
- De maneira alguma. Pode ficar à vontade. A casa é sua.
- Muito obrigado.
- Vó, traz um doce pra mim? – pediu Leonardo.
- Trago um chocolate, pode ser?
- Eba!!!
O Bruno voltou com uma camiseta branca que ficou bem justa. Era impressão minha ou ele estava ficando com o corpo musculoso?
- Tá ficando gatinho, hein? – Pâmela levantou do sofá e desligou a televisão.
- Para, idiota – ele reclamou.
- Todo encorpado...
Ele era um gatinho mesmo. Meu gatinho.
- Sem graça.
- Vem, Léo. Vamos para casa – a menina chamou.
- Já? Eu quero esperar pelo bolo.
- Já. Vamos embora que você tem lição de casa...
- Como você sabe?
- Você me contou, palhaço. Vamos, anda!
Eu me despedi dos meninos e fiquei a sós com meu anjo de olhos azuis. Quando ele fechou a porta, foi ao meu encontro e me beijou por mais de meia hora.
- Que saudade dessa boquinha gostosa – eu falei.
- Não mais do que eu.
- Sua irmã tem razão, sabia? Você está ficando encorpado mesmo.
Eu passei meus dedos lentamente pelo tórax do garoto e ele ficou arrepiado.
- Para, eu fico sem graça.
- Você? Sem graça? Tá bom, acredito!
- É verdade – ele deu um sorrisinho amarelo. – Pode não parecer, mas eu sou meio tímido.
- Tímido sou eu. Você é o Bitch, lembra?
- Quer me matar de vergonha? Nem sei porque me deram esse apelido!
- Aham, sei!!!
- Vamos fazer o bolo? – ele levantou e desconversou.
- Espertinho. Vamos, afinal ele demora muito para ficar pronto.
- Demora, é?
- Sim. Dá muito trabalho. Você comprou tudo o que eu te pedi?
- Comprei sim. Está tudo separadinho aqui na cozinha. Vem comigo.
Eu comecei a trabalhar rapidamente. Pensei seriamente em começar a vender aquela receita, porque todos pediam e adoravam.
- Eu quero só assistir seus dotes culinários – ele sentou em uma das cadeiras da mesa.
- Assistir nada, vem me ajudar aqui, folgado!
- E o que eu faço?
- Vai me passando os ingredientes...
Quando eu estava na metade da receita, alguém começou a chamar o nome do meu namorado. Era uma voz masculina e eu fiquei com a pulga atrás da orelha.
- Quem é?
- É meu amigo – ele respondeu. – Ele não disse que vinha...
- Vai atender, eu vou continuar aqui...
- Já volto.
Mas quando ele voltou, não voltou sozinho. Um garoto com estatura mediana estava com ele.
- Caio esse é meu melhor amigo, Vítor. Vítor, esse é o Caio.
- Então esse é o famoso Caio? – ele foi ao meu encontro.
- Famoso?
- O Bitch fala muito de você.
- Fala, é? – apertamos as mãos.
- Fala. Vive falando de você e suspirando pelos cantos.
- Vítor!
- É mentira? – o garoto virou para trás e encarou meu namorado, que estava muito vermelho.
- Não...
- Então pronto.
Eu lembrei do meu melhor amigo Víctor. Mais uma coincidência...
- Meu melhor amigo também chama Víctor – comentei.
- Mas o dele tem “c” no meio?
- Sim.
- O meu não. O dele é chique, o meu é pobre.
Dei risada.
- Você não me disse que o bofe cozinha, amiga – Vítor se dirigiu ao Bruno.
- Ele tem muitas qualidades que nem eu conheço.
Meu namorado parecia sem graça com a presença do amigo. Será que estava com vergonha de mim?
- Não cozinho não. Só sei fazer bolo – expliquei.
- E é de quê? – Vítor quis saber.
- Prestígio.
- Nossa, que digno. Posso esperar para experimentar?
Olhei pro Bruno. O que será que ele ia responder?
- Vai demorar muito – foi o que ele falou.
- Não estou atrapalhando não, né? – o amigo perguntou.
- Não – foi a minha vez de comentar.
- Ah, tá. Até que enfim você deu uma chance pra minha amiga, Caio. Ela sofreu muito por sua causa.
Pelo jeito ele sabia de tudo.
- Vamos mudar de assunto? – quis sair pela tangente.
- É melhor.
- Me fala um pouco de você? – Vítor perguntou.
Analisei rapidamente o perfil do garoto. Ele era até que bonitinho, mas nada comparado ao meu amor.
- O que você quer saber? – perguntei.
- Tudo!
- Por favor, né? – Bruno se aproximou de mim. – Sossega essa bunda, Vítor. Ele tem dono!
Eu fiquei completamente sem graça e não consegui falar nada.
- Não quero tirar ele de você não, bicha – Vítor falou. – Só quero saber um pouco mais do garoto.
- Não seja indiscreto, ele tá sem graça – meu namorado me deu um beijo no rosto.
- Para – eu sibilei baixinho.
- Ele sabe de tudo, amor. Não escondo nada do Vítor. Né, viado?
- É. Somos irmãs desde o berçário.
- Como assim?
- É que nossos pais são muito amigos e nós nascemos no mesmo dia – Bruno explicou.
- Verdade?
- Pois é. Eu aturo esse viado desde o dia que nasci – Vítor falou.
- Isso que é amizade.
- Somos inseparáveis – Bruno falou.
- Até já nos pegamos!
- Vítor!
Eu fiquei enciumado. Que tipo de amizade era aquele que eles se pegavam?
- É verdade, Caio. A gente já se pegou, mas nada muito sério.
- Não liga pra ele, amor. Quer ajuda aí?
- Já estou terminando. Pode untar a assadeira?
- Claro!
- Ele parece ser bem melhor que o safado do Igor, amiga – o Vítor comentou.
- Você está sendo muito inconveniente, Vítor – Bruno falou sério. – Eu não quero falar do passado e você sabe disso.
- Desculpa. Não quis dar um fora. Foi mal, Caio.
- Relaxa...
Assim que terminei a massa, corri e preparei o recheio e a cobertura. Os meninos ficaram conversando e eu só ouvindo a conversa. Tudo o que eu pudesse saber a respeito do Bruno, seria muito útil.
Mas eles não falaram nada demais. Pelo visto o Vítor entendeu o recado e não deu mais nenhuma brecha, mas eu ainda ia ter oportunidade de questionar tudo o que eu queria saber. Ah, ia.

- Ficou pronto? – ele entrou na cozinha.
- Sim – falei.
- Já pode comer? – o outro perguntou.
- Claro que não. Ainda preciso colocar o recheio e a cobertura.
- Quanto trabalho, né?
- Nossa ficou enorme, hein? – meu amor se espantou.
- Rendeu, né?
- Aham.
Percebi que ele tinha fumado recentemente e fiquei muito, mas muito bravo.
- Você fumou?
Bruno abaixou os olhos e ficou sem graça.
- Não consegui resistir, me desculpa...
- Não, tudo bem! Não quero mandar na sua vida, só fiz uma pergunta.
- Sim, mas eu sei que você não gosta.
- Caio, vai demorar muito? Eu preciso ir embora, mas quero experimentar esse bolo aí... – Vítor perguntou.
- Mais uns 10 minutinhos – falei.
- Ah, eu espero. Posso usar o telefone, amiga?
- Vai lá...
Quando ele saiu, o Bruno me abraçou por trás e falou no meu ouvido:
- Desculpa, eu vou escovar meus dentes e tomar um banho...
- Relaxa, amor – eu falei. – Já disse que não quero mandar na sua vida...
- Não, mas eu vou escovar os dentes sim. Ninguém merece mau hálito!
Era o mínimo que ele podia fazer e era o preço que eu tinha que pagar por estar namorando um fumante.
- Relaxa, tá? – tentei parecer conformado, mas...
- De jeito nenhum. Eu já volto.
Ele demorou tanto que eu até desconfiei do que ele estava fazendo.
- Quer ajuda aí? – Vítor perguntou.
- Nâo. Já estou finalizando.
- Ficou muito bonito.
- Obrigado. Espero que tenha ficado tão bom quanto a aparência.
- Também espero. Odeio me decepcionar.
Abri um sorrisinho sem graça. Ele não ia se decepcionar...
- Desculpa a demora – ele voltou com outra roupa e com os cabelos molhados.
- Tomou banhp... Hum! Hoje tem... – Vítor brincou.
- Cala a boca, vadia – ele reclamou e foi ao meu encontro. – Pronto, amor...
- Demorou...
- Desculpa, queria ter certeza que estava tudo bem.
- Tem uma linha aí?
- Linha? Deixa eu ver...
Ele vasculhou o armário e acabou encontrando.
- Essa dá?
- Aham.
Eu cortei o bolo cuidadosamente e ele quase se partiu, mas eu consegui dar um jeitinho brasileiro e ficou tudo em ordem.
- Amiga, casa com esse bofe. Ele é muito prendado – Vítor deu risada.
- Cala a boca, porra – Bruno estava ficando irritado, mas eu nem liguei.
Rapidamente coloquei o recheio e a cobertura e assim que tudo ficou pronto, dei o sinal verde para eles atacarem.
- Nossa Senhora – Vítor arregalou os olhos. – Quer casar comigo?
- Hã?
- Vai embora, infeliz – Bruno deu uma porrada no braço do amigo. – Deixa meu namorado em paz.
- Menino, que bolo bom é esse?
- Gostou? – eu perguntei.
- Adorei. Muito bom!!!
- Ficou excelente mesmo, Caio – Bruno concordou. – Parabéns.
- Obrigado. Que bom que você gostou.
- Adorei.
Eu experimentei um pedaço, mas não achei lá grande coisa. Já havia feito melhores.

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