sábado, 13 de dezembro de 2014

Capítulo 47

O
 sol bateu no meu rosto e fez a minha pele arder. Que horas seriam?

Minha cabeça deu várias voltas e começou a latejar sem parar. A minha barriga estava muito vazia e embrulhada e mais uma vez eu senti vontade de vomitar, mas não consegui.

- Tudo bem aí? – perguntou um carinha.
- Que... que horas... são? – eu perguntei.
- 10 da manhã. Você precisa de ajuda?
- Que praia é essa?
- Copacabana, cara. Você está bem?
- Aham...
Como eu podia estar bem depois de tudo o que tinha acontecido comigo? Ninguém poderia ficar bem depois de receber um baque do tamanho do que eu recebi...


Segui vagarosamente até o metrô e não sei como eu não me perdi. Quando tirei a carteira do meu bolso para pegar o meu cartão de passagem, levei um choque imenso ao perceber que tudo estava encharcado de água.
Foi sorte o cartão passar. Ao colocar os pés na escada rolante, quase levei uma queda. Se tivesse caído, com certeza teria me quebrado todo. Parece que foi Deus que segurou na minha mão e me ajudou a me equilibrar...
O trem estava parado e com as portas abertas, mas assim que eu passei o barulho informando que as portas seriam fechadas soou e em seguida o vagão saiu do lugar.

Que dor de cabeça infernal eu estava sentindo... O cheiro de álcool era tão forte que me deixou ainda mais enjoado. Minha roupa e meus cabelos estavam tão cheios de areia que eu seria capaz de jurar que se juntasse todos os grãos, seria capaz de construir um castelo de areia.
Meus olhos estavam grudados, embaçados e ardiam muito, mas eu não estava mais chorando. Talvez as minhas lágrimas tivessem acabado ou será que eu estava sem forças?
Estava tão grogue por causa da bebida que acabei passando da minha estação e fui obrigado a descer na próxima e voltar tudo a pé. Por sorte não era longe e mais ou menos meia hora depois eu consegui chegar em casa.

Tateei o meu bolso a procura da minha chave, mas não a encontrei. Será que eu tinha perdido?
Coloquei a mão entre as grades do portão de ferro e toquei a campainha. Enquanto eu esperava alguém aparecer, acabei me sentindo tão tonto que tive a impressão que ia cair. 

- Caio? – o Fabrício apareceu.
Eu levantei a cabeça e respirei fundo. Onde ele estava?
- Caralho, o que aconteceu com você?
O portão foi aberto e o meu corpo pendeu para frente.
- Você tá bêbado? – ele me segurou pelas axilas.
- Hã?
- Puta que pariu...
Fabrício me conduziu para dentro de casa. Meus olhos agradeceram quando se livraram da claridade daquela manhã de domingo.
- Quem é, Fabrício? – uma voz perguntou.
- É o Caio, cara. Me ajuda aqui que ele não tá legal!
Todos apareceram de uma vez só.
- Caio? – Rodrigo se aproximou. – O que houve com você?
Não respondi nada e fiquei olhando pro chão.
- Consegue ficar de pé? – Fabrício me soltou, mas não consegui me equilibrar e meu corpo caiu para a esquerda.
- Ele tá bêbado de novo? – Will perguntou.
- O que houve, Caio? – Rodrigo quis saber. – O que é que você tem, cara?
- Nada – resmunguei.
- Ele precisa de um banho – Vinícius se aproximou e me empurrou até o banheiro.
- Alguma coisa aconteceu com ele – ouvi a voz do Fabrício soar distante.
Fechei meus olhos e respirei fundo. Que vontade enorme de vomitar...
- O que houve? – Vinícius me sentou no vaso sanitário.

Eu não tive coragem de responder nada.
- Fala, Caio. O que aconteceu? Por que você está assim?
Só tive coragem de chorar em silêncio. Percebendo as minhas lágrimas caindo, ele não falou mais nada, encostou a porta do banheiro e começou a tirar a minha roupa.
- Você precisa de um banho urgente.
A água estava muito gelada e quando ela caiu sobre a minha pele, eu tive vontade de dar um berro de tanto frio que eu estava sentindo.

- Fala comigo, Caio – ele colocou a minha cabeça para trás e a água caiu sobre o meu rosto.
- Hã...
Meus olhos fecharam sozinhos. Eu preferia a escuridão ao invés da claridade.
- Tudo bem aí, Vini? – perguntou Rodrigo.
- Traz uma roupa pra ele, por favor, Rodrigo?!
Vinícius ensaboou meus cabelos e eu fiquei aliviado quando a coceira foi embora. O chão estava repleto de areia.
- Segura aí, já volto.
Eu segurei na parede e respirei fundo. Minha barriga deu duas voltas e eu jorrei mais um pouco de água pra fora do meu corpo.
- Isso, vomita mesmo que vai te fazer bem – ele falou.
Vomitei tanto que a minha garganta ficou doendo. Eu fiquei totalmente sem forças e se ele não tivesse me segurado, com certeza eu teria caído de costas no chão do banheiro.
Percebi que os quatro estavam por perto e fiquei um pouco envergonhado.
- Caralho, você bebeu mesmo, hein?
Não tinha coragem de responder nada. Por pior que eu estivesse, ainda estava lúcido e entendia tudo o que estava acontecendo ao meu redor.
- Will tem alguma coisa salgada para ele comer? – perguntou o estudante de medicina.
- Vou preparar alguma coisa, espera aí...
- Demora não, ele tá muito mal!

Rodrigo se aproximou com uma toalha e eu senti a água parar de cair de imediato. Meu corpo estava tremendo e meus lábios e dentes batiam uns nos outros sem parar um segundo sequer.
O futuro médico secou meu corpo e meus cabelos e depois começou a me vestir. Eu comecei a me sentir um pouco melhor a cada segundo que passava.
- Melhor? – Fabrício perguntou.
- Hum?
- Me ajudem a levá-lo pro quarto – Vinícius me segurou pelos ombros.
- Eu acho que posso andar sozinho – deduzi. Já não estava me sentindo tão tonto.
- Consegue? – ele me soltou.
Eu não senti o mundo girar e consegui andar sem maiores problemas, mas a minha cabeça estava doendo demais.
Assim que vi a minha cama, não consegui mais ter forças nas minhas pernas e deixei o meu corpo tombar. Era tudo o que eu precisava naquele momento: da minha cama.


- Agora fala o que aconteceu – disse Fabrício.
- Não, Fabrício – eu ouvi a voz do Rodrigo se alonjar. – Ele não vai falar o que aconteceu. É melhor ele descansar um pouco.
E foi o que eu fiz. Não consegui esperar pela comida que o Willian estava preparando. Meu corpo e minha mente foram puxados para a escuridão e eu adormeci em questão de segundos.

“Nós estavamos nos beijando e ele estava sendo extremamente carinhoso comigo.
Eu passei os meus dedos pela lateral do rosto do meu namorado e vi aqueles olhos azuis brilharem de felicidade.
- Eu preciso falar com você – ele disse.
- O que foi?
- Eu não quero mais namorar com você – a voz dele saiu de uma vez.
Eu senti as minhas pernas ficarem molengas e uma faca entrar dentro do meu peito.
- Hã...?
- É isso mesmo  que você ouviu! – ele me empurrou para trás. – Eu não quero mais namorar com você. Acabou!”


- Não... Não... – eu me remexi e senti a minha cabeça latejar de tanta dor. – Não... NÃO, NÃÃO!!!
Eu abri meus olhos e me vi naquele quarto escuro. Estava ensopado de suor e com muita, muita dor de cabeça.
A porta foi aberta e os quatro entraram de uma vez. A minha respiração estava ofegante e a claridade do corredor me incomodou um pouco.

- O que foi, Caio? – Willian se aproximou.
A luz foi acesa e eu me incomodei ainda mais. Uma gota de suor desceu pelo lado direito do meu rosto.
Foi impossível reter as lágrimas. Aquele pesadelo fez o meu desespero voltar com força total e eu senti muita vontade de sair correndo daquele quarto.
- O que está acontecendo com ele, alguém pode me responder? – Fabrício ficou estressado.
- Acho que eu sei o que aconteceu. Me deixem a sós com ele, galera.
- Mas, Rodrigo... – Will tentou ajudar.
- Deixa a gente a sós, Will, por favor. Eu preciso conversar com ele.
- Vamos fazer o que o Rodrigo está falando – Vinícius pronunciou. – É melhor eles ficarem à sós mesmo.
Os três saíram e meu melhor amigo fechou a porta. Eu estava sentindo tanta dor no meu peito que voltei a me deitar e me cobri por completo.

- Vamos conversar, Caio? – percebi que ele sentou na cama.
- Me deixa em paz, Rodrigo – falei depois de um segundo.
- Vamos conversar? Vai ser bom para você!
Ele puxou o meu lençol e eu senti o ar fresco invadir as minhas narinas.
Minhas lágrimas tamparam o resto da minha visão e eu fiquei mais uma vez sufocado, engasgando em seguida com a minha saliva.

- Respira – ele ergueu os meus braços e tirou a minha camiseta. Eu estava lavado de suor. – Respira fundo e se acalma.
Foi difícil me manter sob controle. Eu não estava tendo coragem para nada naquele momento. Nada, absolutamente nada.
- Quer tomar outro banho? – ele perguntou com um olhar carinhoso.
- Aham.
Seria bom me livrar daquele suor todo. Meu amigo levantou, procurou uma roupa limpa no meu lado do armário e em seguida me ajudou a levantar da cama.
- Eu acho que consigo sozinho... – choraminguei.
- Então vamos!
Quando passei pela sala, senti seis olhos me fitarem com curiosidade, mas eles não falaram nada. O que eu ia falar para os meninos? Que história eu ia inventar naquele momento?
Rodrigo e eu entramos no banheiro e ele trancou a porta com a chave.
- Pode deixar, eu consigo tomar banho sozinho – falei.
- Prefiro ficar aqui por precaução. Prometo que não vou ficar olhando.
Me senti um pouco aliviado. Era vergonhoso demais tomar uma ducha com o meu melhor amigo me fitando...
A água ainda estava gelada, mas me ajudou a ficar um pouco mais tranquilo. Eu aproveitei e escovei os dentes e lavei mais uma vez os meus cabelos. Ainda tinha areia no couro cabeludo.

- Pronto – falei.
Ele me entregou a toalha e a roupa limpa e quando eu fiquei pronto, nós saímos e ele me levou até a cozinha.
- Você precisa comer alguma coisa.
Não estava sentindo a menor fome. O Vinícius apareceu, puxou a cadeira que estava ao meu lado e sentou.

- Tudo bem, Caio?
Não olhei para ele e também não tive coragem para responder. Eu não queria falar o que estava acontecendo. Não queria falar com ninguém.
- Quer conversar? – ele insistiu.
- Melhor não insistir, Vini – Rodrigo apareceu com um prato de comida. – Come, vai te fazer bem.
- Não quero – virei a cara e afastei o prato.
- Tem que comer, filhote – Vinícius colocou o prato na minha frente de novo. – Você precisa se alimentar.
Era macarrão. Eu olhei para aquela comida e senti o meu estômago girar de novo, mas não senti vontade de vomitar.

- Eu não quero! – repeti.
- É, mas vai ter que comer porque você chegou bêbado demais. Provavelmente está sem nada solido na barriga.
- Eu já disse que não quero! – me coloquei de pé e comecei a andar pro quarto.
Ninguém ia me obrigar a fazer o que eu não queria. E se eu disse que não queria comer, era porque eu não queria comer!
- Caio... – Willian apareceu e me repreendeu.
- Que é? Vai me obrigar a comer por acaso? Eu já disse que não quero, caralho!
Será que eu estava falando grego? Fiquei extremamente revoltado e quando entrei no quarto, bati a porta para não ser incomodado, mas ela abriu em seguida e o Rodrigo entrou.
- Calma, Caio! Você está muito nervoso...
- Me deixa sozinho, Rodrigo!
Eu não queria ninguém por perto. Eu queria ficar sozinho, queria chorar e pensar no Bruno. Ninguém podia me consolar,,,
- Eu sou seu amigo, cara... Me deixa te ajudar?
- Não quero a sua ajuda! Eu quero ficar sozinho!
Ele suspirou e me fitou com pena. Será que ele já tinha entendido o que havia acontecido?
- Eu vou estar na sala. Se precisar de alguma coisa é só chamar.
Eu precisava sim. Precisava entender por qual motivo o Bruno havia me abandonado e aquilo ele não era capaz de responder.
- Sai... – eu pedi com os olhos cheios de lágrimas.
- Qualquer coisa me chama, tá?
- SAI DAQUI, RODRIGO!

Ele abriu a boca para falar alguma coisa, mas desistiu e saiu em seguida, encostando a porta quando passou.

Eu ouvi os meninos conversarem entre si e ouvi o Rodrigo falar que eu precisava ficar sozinho porque tinha terminado meu namoro.
Então ele sabia... Ele já tinha deduzido o que tinha acontecido. Ou ele era muito esperto, ou sabia de alguma coisa e não quis me contar...
Eu chorei e solucei por muito tempo. Ele não podia ter feito aquilo comigo. Eu não merecia passar por aquele sofrimento todo... Eu sempre dei o melhor de mim pro Bruno e o que recebi em troca? Uma bela de uma traição e um belo de um abandono nas costas...
Abracei os meus joelhos e deixei a minha dor tomar conta de todo o meu corpo. A cada soluço que eu dava, parecia que uma faca entrava em alguma parte do meu corpo.

Era como se eu estivesse morrendo aos poucos tamanho o meu desespero. Nunca pensei que ia sofrer daquele jeito por alguém... Nem quando fui expulso de casa fiquei tão desesperado.
Mas eram dores diferentes. Tão similares e tão diferentes ao mesmo tempo.
Era a dor do abandono, mas em bases totalmente opostas.
Primeiro fui expulso de casa pelo meu pai. Sofri muito com aquele acontecimento, mas ao mesmo tempo senti a necessidade de dar a volta por cima e continuar a viver.
Com o Bruno, estava sendo diferente porque ele tinha sim me largado, mas eu não tinha a sensação de querer continuar vivendo. Muito pelo contrário. Eu queria morrer.
Sim, eu queria morrer. Era a melhor solução que tinha naquele momento. Talvez a morte me fizesse esquecer toda a dor que eu estava passando...
Eu amava o Bruno de verdade. Amava como nunca amei ninguém na minha vida. Amava mais do que amava a mim mesmo...
Era um amor limpo, um amor verdadeiro, um amor que ultrapassava qualquer limite... Era um amor puro, um amor inocente, um amor transparente...
Era aquele tipo de sentimento que faz a gente querer morrer pela pessoa se fosse necessário. E eu tinha aquela sensação. Eu queria morrer por causa do Bruno!
Sem mais nem menos eu peguei o meu notebook e resolvi entrar na internet. Quem sabe teria um recado ou um depoimento onde ele me explicasse o que teria acontecido?
Falsas esperanças. Não havia absolutamente nada. Nem um recado, nem um depoimento, nem um “oi”, nem um “adeus”... Nada!
Que bela vida eu tinha. Se eu tinha nascido para sofrer, estava disposto a colocar um fim naquela dor que estava sentindo.
Eu não merecia aquele sofrimento. Não merecia! Foi assim que eu decidi fazer a maior burrada da minha vida.
Sem medir a gravidade dos meus pensamentos, eu me coloquei de pé, calcei os meus chinelos e tracei um plano na minha mente.
Eu ia morrer. Ia morrer e não ia sofrer mais. Ia morrer e ia deixar tudo para trás.
Minha família nunca mais ia ter notícias de mim e seguiria feliz, como se eu nunca tivesse existido.
O Cauã com certeza ficaria feliz com a minha morte. Ele ia ser filho único e não ia ter um clone andando pelas ruas, nunca mais seria confundido comigo e nunca mais teria que ser comparado comigo...
Meu pai certamente ia se sentir aliviado em saber da minha morte. Ele não ia mais precisar sentir vergonha de ter um filho homossexual! Ele ia me esquecer e ia sentir ainda mais orgulho do Cauã! Ia ser perfeito para ele...
Minha mãe certamente seria a única que sentiria a dor da minha perda, mas não por muito tempo.
Ela ainda estava em idade fértil, poderia ter outros filhos e iria me substituir facilmente. Quem sabe ela pudesse ter uma menina? Quem sabe ela pudesse realizar o sonho de ter uma filha? Sim, ela poderia me esquecer! Para que ela ia ficar lembrando de um filho gay que foi expulso de casa e que nunca foi motivo de orgulho para a família?

Meus amigos também iam me esquecer. Eles iam encontrar novos amigos e com certeza enterrariam a minha lembrança com o meu corpo. Ninguém mais lembraria de mim, ninguém mais teria que aturar o meu choro, a minha dor e as minhas lamentações!
Dona Elvira também se livraria. Seria uma dor de cabeça a menos, afinal, ela não teria mais a obrigação de me pagar semanalmente! Seria uma contenção de despesas e aquilo iria ajudá-la!
E o Bruno? O Bruno provavelmente já não pensava em mim. Ele mudou, foi viver em outro país, em uma nova realidade e em um novo mundo.
Um novo mundo onde eu não cabia. Um novo mundo onde ele ia conhecer alguém bacana, iria se apaixonar de verdade e iria me deletar de sua memória.
Não, ele não ia sentir a minha falta! Como ele poderia sentir a minha falta se ele foi capaz de mudar para Madri sem nem sequer me avisar?
Eu estava decidido. Ia me matar. Ia colocar fim na minha vida medíocre, já que ela não servia para nada mesmo! Quem gostava de mim? Quem queria a minha presença de verdade? Ninguém!!!
Peguei a chave do Rodrigo que estava em cima da mesinha onde ficava meu computador e, sem pensar em mais nada, saí daquele quarto disposto a acabar com tudo.

Eu cheguei na rua rapidamente. Estava uma noite fria, sem lua e com um vento extremamente gelado, mas eu não me importei! Eu ia morrer mesmo...

Eu só não sabia como ia colocar um ponto final na minha vida...
Enquanto caminhava, as lágrimas voltaram a cair. Eu lembrei do meu sonho e me senti ainda mais desesperado. Por que ele tinha feito aquilo comigo? Por quê???
Eu não estava mais olhando por onde estava andando e quando percebi, já estava na avenida que dava acesso a praia.
Talvez instintivamente ou inconscientemente, eu tenha caminhado até a praia porque gostava muito do mar...
Sim... O mar! Era daquele jeito que eu ia morrer! Ele já até tinha tentado me buscar na noite anterior...
Aquela era a melhor forma de colocar um ponto final em tanto sofrimento... Eu ia me encontrar com a água e tudo iria ficar bem...

Eu ia esquecer dos meus problemas. Ia esquecer de tudo o que aconteceu e ia esquecer do Bruno!
Caminhei pela calçada e procurei a melhor forma de entrar na água sem que ninguém percebesse a minha presença, mas a praia estava cheia demais...
Por mais escura que a noite estivesse, provavelmente alguém notaria o que eu ia fazer... Provavelmente alguém me impediria de tentar cometer o suicídio...
A morte era o melhor remédio para aquela dor insuportável que eu estava sentindo...
Para me encontrar com o oceano, eu só precisava atravessar a avenida, caminhar pela areia e me jogar dentro d’água. Não seria muito difícil... Não seria muito complicado! Talvez as pessoas nem percebessem a minha presença...
Mas ia demorar demais para eu morrer afogado. Eu precisava de algo mais rápido, algo mais instantâneo, mas o quê?
Sem saber o que fazer, sentei em um banco de cimento e me pus a pensar. Eu precisava colocar um fim em tudo o que eu estava sentindo. Eu precisava parar de sofrer daquele jeito... Não tinha solução, eu precisava me matar!

Sequei as lágrimas que teimavam em molhar o meu rosto e de repente me senti mais calmo.
Por que eu ia cometer aquela loucura?
Por que eu ia acabar com a minha vida só por causa que o Bruno tinha ido embora sem me falar nada?
Eu era louco? Será que eu estava ficando maluco?
É claro que aquela não era a melhor solução! Ninguém pode acabar com a própria vida... Eu estava ficando biruta, só podia!
Nenhum sofrimento pode determinar uma loucura daquelas... Nenhum tipo de dor pode tomar conta da nossa mente a ponto de nos fazer cometer uma burrada dessas... Nenhuma lágrima poderia justificar o desejo que eu estava sentindo naquele momento... O desejo de colocar um ponto final na minha vida...
Mas por outro lado, eu estava me sentindo tão solitário! Estava me sentindo tão abandonado, tão humilhado, tão ofendido que não me existia outra alternativa.
Ninguém ia sentir a minha falta. Ninguém ia perceber a minha ausência! Provavelmente meus amigos do Rio iam pensar que eu tinha voltado para São Paulo e meus amigos de São Paulo iam pensar que eu ainda estava no Rio!
Talvez eles nem percebessem a minha ausência... Seria muito melhor eu fazer aquilo ao invés de ficar sofrendo do jeito que eu estava.
E se não me bastasse, eu estava desempregado. Com o que a Dona Elvira me pagava, eu não ia conseguir honrar as minhas despesas e eu definitivamente não estava disposto a depender de ninguém.
Sem contar o fato de ter que dar explicações ao Fabrício, ao Vinícius e ao Willian. Eu não ia querer contar a verdade... Eu não ia ter coragem de falar o que realmente tinha acontecido e não estava com cabeça para inventar nenhuma desculpa esfarrapada.
É... Eu tinha mesmo que me matar. Não me restava alternativa. Era mesmo o melhor a ser feito.
Mas e se doesse? Será que morrer afogado ia me fazer sentir dor? Eu não aguentava mais sentir dor...
Mas eu tinha certeza que nenhuma dor física ultrapassaria a dor que o Bruno tinha me causado. Nenhuma dor seria capaz de ser maior que a dor daquele abandono...
- Por que, Bruno? Por quê?
Respirei bem fundo e criei coragem. Eu tinha que ser homem e ter coragem para fazer o que eu queria... Eu não ia mais sofrer, nunca mais!
Caminhei até a beira da avenida e esperei o farol fechar. O mar estava me esperando... Mas ele estava tão longe! Eu tinha a sensação que ia demorar uma eternidade para concluir o meu objetivo...
Tinha que existir um meio mais rápido de acabar com a minha vida... Tinha que ter um meio mais rápido e menos doloroso de me suicidar...
O farol abriu e fechou várias vezes e eu não saí do lugar. Foi quando um caminhão passou por mim que eu pensei em uma segunda opção... Eu ia me jogar na frente do próximo carro que aparecesse na minha frente! 

Mas o sinal fechou e ficou verde para os pedestres. Será que nada estava ao meu favor nessa vida?
Fui obrigado a esperar o sinal ficar verde para os carros e vermelho para os pedestres. Eu esperei pacientemente o primeiro carro se aproximar e para a minha surpresa e felicidade, tratava-se de um ônibus. Seria muito melhor! Eu tinha certeza que o meu plano ia dar certo...

Esperei o veículo se aproximar o suficiente e quando tive a certeza que o motorista não ia mais conseguir frear, avancei e me pus na frente da lataria.
Enquanto esperava pela dor e pelo impacto, ouvi uma buzina muito alto começar a soar e ouvi alguém gritar pelo meu nome, muito próximo de mim...
- CAIO, NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃO!!!

3 comentários:

Anônimo disse...

sera q rodrigo vai salva caio! ansioso...

Valentina disse...

Eu acho q é o vini.....mas pode ser rodrigo...ou uma das meninas do trabalho...ou o menino do trabalho....podiam ter um romance ...kkkkkkk viajei... não não poderiam ser uma das meninas, porqu
e perderia a graça

Anônimo disse...

Oi eu sou o lukka eu quando eu li -Caio naooooooo
Eu não sei pq mai eu pensei que poderia ser o irmão dele