quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Capítulo 21

-Acorda, criatura – alguém estava me empurrando forte.
- Hã? – eu choraminguei. Estava tão bom ficar na cama.
- Você vai perder a hora pra ir pra escola, Caio. Levanta logo!!!

Era o Rodrigo. Eu respirei fundo, me espreguicei e peguei meu celular. 6 horas.
- Caraca, vou me atrasar!!!
Eu dei um pulo da cama e comecei a me arrumar apressadamente.
- O celular tá tocando há horas. Até perdi o sono já...
- Não vai pra faculdade?
- Entro às oito.
- Ué e por que você estava indo mais cedo na semana passada?
- Por pura ansiedade e também pra saber quanto tempo eu gasto daqui até lá.
- Ah, entendi.
- Que sono pesado é esse? Não ouviu seu celular não?
- Não – fiquei constrangido. – Desculpa ter te acordado.
- Vou te contar, viu? A noite foi tão boa que até perdeu a hora...
Dei uma risadinha sem graça. Lembrei de tudo o que tinha acontecido com o Bruno e comecei a ficar excitado. Por sorte eu já havia me vestido por completo.

- Já volto.
- Espera aí, parceiro...
- O que foi? Estou atrasado...
- Que chupada é essa no seu pescoço? – ele começou a dar risada.
- Hein? – eu me surpreendi.
O Rodrigo gargalhava.
- Nossa, o bagulho foi forte!!!
- Que chupada? Tá doido?
- Essa daí que você tem no pescoço...

Era só o que me faltava. Será que ele estava falando a verdade?
Fui ao banheiro e a primeira coisa que olhei foi meu pescoço. Ele estava certo. Tinha mesmo uma mancha roxa no lado direito. Fiquei morrendo de vergonha!!!
Lavei o rosto, fiz xixi e escovei os dentes. Eu estava tão feliz, embora um pouco nervoso por conta daquela mancha horrível na minha pele... O que as pessoas iam pensar de mim?
Infelizmente não tive tempo para comer um pedaço do meu bolo, se é que ainda tinha algum pedaço na geladeira... Devido ao meu atraso, tive que praticamente sair correndo de casa.
- A gente se fala no serviço. Bom dia.

Nem esperei meu amigo responder e voei até a rua. Fazia uma manhã linda e ensolarada. Eu tentei andar o mais rápido que pude, mas mesmo assim me atrasei alguns minutos.
- Licença, professora – abri a porta e entrei, indo direto pro meu lugar. Andei tão rápido que fiquei suado.
Enquanto a professora explicava a matéria, peguei meu aparelho celular e digitei uma mensagem pro Bruno:
“Bom dia, amor. Estou tão feliz com tudo o que aconteceu que até perdi a hora hoje. Não esquece que eu te amo, tá? Beijo, boa segunda-feira e boa semana. Até mais tarde.”
Só de pensar que a gente ia se encontrar no período da tarde, as borboletas da minha barriga já começaram a voar... Como eu amava aquele menino!
- Que bela chupada, hein? – Rogério falou, atrás de mim

Quando ele disse aquilo, eu tive vontade de cavar um buraco e me esconder dentro. Algumas pessoas que estavam ao meu lado deram risada.
- O negócio aí foi bom, hein?
- Você está me deixando sem graça – reclamei.
Ele sorriu e não falou mais nada, o que me deixou muito feliz. Por que o Bruno tinha que ter feito aquilo???

Aulas terminadas, voltei pra minha casa e fui direto pro chuveiro. O Rodrigo chegou praticamente junto comigo.
- Vamos almoçar aonde? – ele perguntou.
- Pode ser naquele restaurante perto do serviço?
- Pode. Quero ir lá também.
- O que será que tem de bom?
- Não sei, chupadinha. A gente vê na hora – ele riu.

Que mico. Eu ia ser o centro das atenções na central, com toda certeza.
E não deu outra. A primeira coisa que as meninas foram fazer quando me viram foi perguntar o que era aquilo.
- É um chupão. Pronto? Satisfeitas? Podemos mudar de assunto?
- Hum e quem fez isso?: - perguntou Mônica.
- Uma assombração – me revoltei. – Querem mudar de assunto, por favor?
Mas elas continuaram batendo na mesma tecla e as coisas só pioraram quando o Leonardo apareceu.
- Mentira? – ele colocou a mão direita na boca. – Quem fez isso em você, amigo?
- Não é da sua conta. Não é da conta de ninguém. Me deixem em paz!!!
Fiquei tão irritado que deixei os três falando sozinhos e fui até a porta para ver o meu bebê. Ele estava todo concentrado, mas quando me viu, abriu um sorriso lindo e enorme que eu retribuí na hora.
- Não acredito – disse Leonardo – que você ficou com alguém.
- Qual o problema? Não posso?
- Claro que pode né, gato? Só queria saber quem foi o sortudo...
- Não é da sua conta – repeti. – Que saco, será que eu não posso ter um pouco de privacidade?
- Nossa, amigo, como você tá grosso hoje, né?
- Vocês me deixaram assim, mas quer saber? Ninguém vai estragar o meu dia não. Se vocês quiserem, podem continuar perguntando, eu não vou falar mesmo.
- Pois eu descubro!!!
- Duvido.
- Quer apostar?
- Faz assim, vai ver se eu tô lá na esquina, vai?
Deixei o Léo sozinho e fui até o banheiro. Será que alguém ia me enxer o saco lá também? Por sorte estava vazio e eu pude respirar um pouco. Estava torcendo para aquela mancha sair logo.
Quando entrei, fui direto na sua PA. Ele me olhou com os olhos brilhantes e um sorriso nos lábios.
- Oi – dissemos juntos e rimos.
- Tudo bem? – perguntei.
- Sim e você?
- Ótimo. Olha isso...
Mostrei o meu pescoço e ele arregalou os olhos azuis.
- Não creio... – ele virou o pescoço também e eu vi uma mancha roxa praticamente no mesmo lugar. Caímos na risada.
- Melhor disfarçar – ele comentou.
- Aham. Nos falamos mais tarde?
- Com certeza.
- Aguardo sua ligação.
- Assim que você sair eu ligo.
- Tudo bem.
Nos despedimos, ele deslogou e eu fui pra minha posição de atendimento. Com a felicidade que eu estava sentindo, nem os clientes chatos iam me tirar do sério aquele dia.
- Boa tarde, senhor Caio – disse Michel.
- Olá, Michel. Tudo bem?
- Não tão bem quanto você. Que chupada é essa?
Até meu supervisor ia tirar onda comigo?
- Pois é né, acontece.
- Está certo, tem mais é que aproveitar mesmo.
Sorri e atendi meu primeiro cliente. A hora passou muito rápido aquele dia, quando percebi já era a hora de ir embora.
- Pessoal, não vão ainda, tenho um recado importante – o supervisor falou.
Eu revirei meus olhos. Queria falar logo com o meu namorado.
- Vai rolar uma campanha de folga...
Falou em folga os operadores se alvoroçaram. Eu prestei atenção nas informações, afinal também estava muito interessado em passar um dia em casa.

Michel explicou que, o operador que atendesse mais ligações no dia seguinte e que dentre essas ligações, tirasse 100% em uma monitoria, poderia ficar em casa na quarta-feira. Nada muito complicado, mas é claro que não podia estourar a pausa, tinha que fazer login e logout no horário certo e obviamente tinha que atender todos os contatos, pois quem derrubasse ligações seria suspenso. Eu fiquei esperançoso. Quem sabe eu podia ganhar?

Bruno cumpriu sua promessa. Assim que eu coloquei os pés fora do prédio, meu celular tocou. Meu coração voou quando eu vi seu nome no visor do telefone.

- Oi, anjo – as pessoas que estavam perto de mim começaram a caçoar, mas eu saí de perto e comecei a andar até a estação de metrô.
- Tudo bem, bebê?
- Melhor agora. E você?
- Digo o mesmo. O seu super falou da campanha?
- Sim.
- Vamos ganhar essa, hein amor?
- Bem que eu queria, viu?
- Você por acaso já conhece os pontos turísticos do Rio?
Acredito que aquela tenha sido a primeira vez desde que tinha me mudado que eu refleti sobre o assunto.
- Ah, não...
- Imaginei. Nunca foi ao Cristo?
- Nâo – fiquei com vergonha.
- Ao Pão de Açúcar?
- Não.
- A Lagoa?
- Não...
- Ao Maracanã?
- Não...
- Ao Arpuador?
- Não... – quanta coisa eu não conhecia!
- E ao Jardim Botânico?
- Muito menos...
- Minha nossa. O que você conhece aqui?
- Ah, Copacabana, Ipanema, Leblon, Lapa e Catete e acho que só.
- Nunca foi na Barra da Tijuca?
- Não...
- Misericórdia... Nem parece que mora na Cidade Maravilhosa...
- Verdade. Que vergonha!!!
- Não se preocupa, príncipe. Na quarta eu te levo em todos esse lugares, tá bom?
- Jura? – eu fiquei ainda mais feliz.
- Serei seu guia turístico!!!
Eu achei a atitude dele muito fofa. Durante todo o tempo que eu estava naquela cidade, nunca ninguém se importou em me levar para conhecer os pontos turísticos.
- Mas pra isso, a gente tem que ganhar a folga – ele comentou.
- Nós vamos ganhar. Farei tudo o que está ao meu alcance.
- Eu também. Amor, preciso desligar que o professor chegou, tá bom?
- Tudo bem. A gente conversa pela internet mais tarde?
- Sim. Me espera.
- Sempre.
- Beijo, te amo.
- Beijo, te amo também.
Desliguei. Que coisa boa, ele ia me fazer companhia... Que bonitinho!!!
- Com quem você tanto falava? – perguntou Rodrigo.

- Ai que susto, criatura!!!
- Não disfarça. Com quem você falava, hein chupadinha?
- Como você é inconveniente, hein?
Ele riu.
- Confesso que estou curioso.
- Você não conhece. É da escola.
- Mas é namoro?
- É, é namoro. Satisfeito?
- Que da hora... Parabéns, moleque – ele bagunçou meu cabelo. – Finalmente alguém daquela república desencalhou!


Não soube o que responder. Fiquei pensando nos olhos do meu garoto até chegar em casa.
- Tem correspondência... – Rodrigo pegou a carta que estava presa no portão. – Olha, é pra você!
- Pra mim? Será que é a minha...
Era a minha certidão de nascimento. Finalmente havia chegado.
- Que ótimo. Amanhã mesmo vou me alistar.
- Vai faltar no colégio, brother?
- É o jeito, né?
- Espera pra ver se você ganha a tal folga...
- Não. Já tenho planos pra essa folga...
- Hum, safadinho...
Minha pele esquentou. Eu fui direto pro quarto e juntei os documentos para me alistar no exército. Estava rezando pra não passar.

Quando os demais garotos chegaram da faculdade, o Rodrigo me fez o favor de contar que eu estava namorando. Não queria que ele tivesse feito aquilo.
- Hum... – fizeram os 3.
- Olha o pescoço dele – Rodrigo riu.
Eu o fuzilei com os olhos.
Pronto. Eles me zoaram àté cansarem, mas eu não me estressei. Levei na esportiva.
- Parabéns – disse Fabrício.
- Mandou bem – comentou Willian.
- Tenha juízo – disse Vinícius. – Te considero meu irmão mais novo, me sinto na responsabilidade de cuidar de você.
Eu achei aquele comentário muito estranho, mas dei de ombros e agradeci.
- Só tome cuidado para não virar papai antes do tempo – ele completou.
- Não se preocupe – aquilo NÃO ia acontecer. Eu tinha certeza.
- Ainda tem bolo? – Willian perguntou.
O bolo. Nem tinha me lembrado mais dele. Abri a porta da geladeira e fiquei muito feliz quando vi um pedaço grande o suficiente para satisfazer o meu desejo.
- Tem, mas vai tirando os olhos que é meu.
- Eu falei primeiro, filhote – ele correu e tomou o bolo da minha mão.
- Acontece que eu só comi um pedaço...
- Pois faça outro que você come mais.
Acabou que a gente dividiu entre si. Não comi tudo o que eu queria, mas pelo menos matei a minha lombriga.
Enquanto o Rodrigo fuçava alguma coisa na internet, eu me joguei no sofá da sala e fiquei assistindo televisão. Levei um baita susto quando o Vinícius sentou no sofá ao lado, apenas de cueca.

- Que susto, meu...
- Pensando na mina?
- Uhum.
- Bacana.
Ele abriu as pernas. Não contive meus olhos e dei uma conferida rápida. Que volume delicioso...
Mais uma vez ele coçou o saco enquanto eu olhava o meio de suas pernas. Meu pau começou a crescer e eu voltei a mirar a tela da televisão.
- Tem jogo?
- Não. Já conferi – menti.
- Merda. Estou sem sono.
- Vai ver alguma coisa na internet...
- O Fabrício tá mexendo.
- Ah, tá.
Nós ficamos em silêncio um tempo, só de olho na televisão. Vez ou outra eu passava os olhos pelo recheio da cueca daquele gostoso, mas muito rapidamente pra ele não desconfiar.
- Que tá passando aí? – era o Willian.
- Porra nenhuma – respondeu Vinícius.
- Então acho que vou dormir...
- Will, estoura essa espinha aqui das minhas costas, por favor? – Vini perguntou.
- Eu mereço! Tá me achando com cara de quê, hein?
- Quebra essa, velho... Tá me incomodando.
- Espera, vou pegar um pedaço de papel higiênico. Isso aí vai sangrar.
Ele voltou rapidamente e estourou a espinha do Vinícius.
- Valeu, parceiro. Não sei porquê ainda aparecem espinhas na minha idade.
- Pelo menos a sua é nas costas. E eu que estou com uma no saco?
Engoli em seco. Vini deu risada.
- Não é um pelo encravado? – ele questionou.
- Acho que não. Sei lá. Vontade de estourar, mas dói pra porra...
- Tenso, hein? Quem manda não lavar o negócio direito? – o médico brincou.
- Vai se foder, idiota.
Eu fiquei imaginando como seria aquela espinha. Se ele deixasse, eu estouraria numa boa...
- Vou dormir. Falou aí.
- Falou – respondemos eu e o Vini.
- Você que deveria ser cheio de espinhas, né? – o gostoso se dirigiu à mim.
- Nunca tive problema com acne, graças a Deus. Não em excesso, é claro.
- 17 anos, hormônios gritando, deveria aparecer algumas...
- De vez em quando aparece uma aqui e outra acolá.
- No saco também? – ele riu.
- Não – ri em resposta. – Ainda bem que não.
Esperei o jornal terminar pra voltar pro quarto. O Vinícius resolveu ficar na sala mais um pouco.
- Já pode usar – ele falou.
- Valeu, Rodrigo.

Eu me conectei e ele já estava me esperando. Conversamos muito e eu só consegui dormir depois das 2 da manhã, mas não estava preocupado. Não ia pra escola mesmo.

Acordei junto com o Rodrigo na terça. Me arrumei, peguei meus documentos e fui ao posto de alistamento. Saí de lá por volta das 11 da manhã.

Não sei se por sorte ou acaso do destino, na mesma rua tinha um pronto atendimento do meu convênio e eu resolvi perguntar se havia a possibilidade de passar com o clínico geral para pegar meu atestado da academia.
- Sua carteirinha, por favor? – pediu a recepcionista. Tudo estava dando certo.
Quando o médico me chamou, eu entrei na sala e me surpreendi. Que delícia de doutor!
- Bom dia – disse.
- Bom dia – ele respondeu e estendeu a mão. – O que aconteceu?
- Nada. Na verdade eu queria um atestado médico para iniciar em uma academia.
- Hum...
O doutor me fez algumas perguntas, mediu a minha pressão e preencheu o atestado que eu tinha comprado na farmácia. Um problema a menos.
- Muito obrigado.
- Por nada. Bom dia.
- Bom dia.



Meu namorado e eu quase não tivemos oportunidade de conversar na terça-feira. O Michel e a supervisora do período da manhã estavam insuportavelmente chatos, devido a fila de atendimento.
- Eu ganhei a folga!!! – ele abriu um sorriso enorme.
- Sério?
- Sim. Agora só falta você.
- Mas só você ganhou?
- Não. São 6 folgas por período.
- Ah, que bacana. Vou me esforçar, prometo.
- Conto com isso. Nos falamos mais tarde.
- Tá bom.
- Bom trabalho, lindão.
Ele era louco?
- Aqui não – sibilei entre os dentes.
- Desculpa.
- Caio, já pra sua PA – disse Michel.
- Já estou indo, super...
Corri e me loguei em cima da hora. Se ele tinha conseguido a folga, eu também tinha que conseguir. Era questão de honra, eu queria e precisava sair com ele no dia seguinte.
Quando o Michel falou meu nome eu quase comecei a pular no meio da operação. Que maravilha!!! As coisas estavam mesmo dando certo pra mim...
Rodrigo e Mônica também conseguiram. Mais uma vez o Leonardo ficou furioso e com inveja de mim:
- Será o “Benedito” que você ganha todas?
- Sabe o que é isso? Força de vontade e fé. Coisa que você não tem, pelo jeito.
- Vai começar com suas liçõezinhas?
- Não. Não quero perder meu tempo. Até quinta!!!


Eu saí quase que correndo da empresa. Se tivesse dado dois passos a mais, teria sido atropelado por um táxi.
- Cuidado, Caio – Aparecida me puxou.
- É a felicidade, Cida.
- Eu sei. Eu ganhei também.
- Parabéns.
- Pra nós.
O celular só chamava. Quando eu ia desistir, ele atendeu:
- Oi, amor?
- CONSEGUI!
- Sério? – a voz dele mudou.
- Aham.
- Arrasou, gatão!!!
- De pé nosso encontro?
- Mais do que de pé... Que horas podemos nos encontrar?
- Depois da escola, né?
- Vai pra escola? Não vai dar tempo de fazer nada, Caio...
- É que eu já faltei hoje...
- E qual o problema? Nem tá tendo nada ainda. Logo mais tem carnaval... Relaxa!!!
- Não sei...
- Beleza. Se você não quer sair comigo você pode ir pra suas aulas. Eu não me importo.
- Bobo, é claro que eu quero sair com você... Pode ser umas 8:00?
- Perfeito – ele parecia feliz. – Lá na portaria do meu prédio, combinado?
- Combinado. Mal vejo a hora.
- Você vai amar. Prepare-se porque vai andar muito.
- Estou acostumado.
- Preciso entrar na sala. A gente se fala na internet. Se bem que eu tô tão cansado que acho que nem vou entrar hoje...
- Qualquer coisa me manda uma mensagem.
- Pode deixar. Te amo, beijo.
- Beijo. Amo também.




Eu coloquei um pouco de sabão em pó no tanque e joguei todas as minhas roupas íntimas debaixo d’água.
Estava tão feliz que comecei a cantarolar baixinho e nem percebi que o Fabrício estava perto de mim.
- Eita felicidade boa, hein?
Sorri.
- Pois é. Nem te percebi aí.
- Eu vi. Lavando roupa?
- Aham. Quer usar o tanque? Já vou acabar...
- Não, não tenho esse problema.
- Ué, por quê?
- Não uso cueca.
Ui...
- Não?
- Não.
- Nunca?
- Nunca. Quer dizer, só quando vou ao médico ou algo assim.
- Nossa...
- Gosto de deixar o bicho solto, saca?
- Sim – respondi, olhando eu seus olhos. – E as suas meias?
- Deixo na máquina. Meia não tem  tanto problema assim.
- Ah, entendi...
- Vou nessa. Até amanhã.
- Até.
Então ele não usava cueca? Por isso que eu o tinha visto pelado na frente do computador... Eu precisava entrar no quarto dele mais vezes...
Depois que lavei todas as peças, as coloquei no varal e por fim fui pro quarto. Ele realmente não estava conectado. Fiquei chateado e fui dormir.


Na manhã da quarta, tomei um belo banho e escolhi uma roupa confortável, uma vez que logo pela manhã o calor já estava insuportável.
- Não vai pra escola de novo, Caio? – Rodrigo achou estranho.
- Não. Vou sair.
- Hum, safadinho...
- Tem um óculos de sol pra me emprestar?
- Tenho sim, parceiro. Pode pegar no guarda-roupa.
Eu achei o óculos e coloquei. Até que tinha ficado legal. Depois que fiquei totalmente arrumado, saí e fui ao seu encontro.
- Já cheguei – disse quando ele atendeu.
- Estou descendo – ele falou.
Não demorou nem 5 minutos e nós nos encontramos. Ele estava lindo de boné e camiseta regata.

- Adorei o óculos.
- É do meu amigo.
Nos abraçamos.
- Saudade – dissemos juntos.
- Vamos? – ele perguntou.
- Aham. Aonde nós vamos primeiro?
- Jardim Botânico. Tem máquina?
- Não – me lamentei.
- Não por isso – ele me mostrou uma câmera digital de última geração.
- Que da hora...
- Vamos tirar muitas fotos hoje.
- Oba... Como faz para chegar no Jardim Botânico?
- Vamos ter que pegar muitos ônibus e muitos metrôs hoje.
- Sem problema...
- Você vai ficar exausto, viu?
- Não ligo. Só de estar com você eu já me sinto bem.
- Lindo! – meu namorado se derreteu pra cima de mim.


Enquanto a gente caminhava, íamos conversando sobre muitas coisas. Ele parecia ter uma vida tão confortável naquele bairro e naquele condomínio, mas tudo não passava de aparências.
Bruno me relatou que ele tentava esquecer os problemas que tinha com sua família tentando ser um pouco mais espalhafatoso que o normal.
- Eu tento esquecer das brigas que tenho com o meu pai através das minhas brincadeiras – ele justificou. – Ou você acha que eu sou “dado” desse jeito mesmo?
- Bom, no começo eu confesso que pensei que você fosse assim...
- Não, Caio. Não sou do tipo de gay que sai com o primeiro cara que aparece. Por mais que eu pareça assim, é só uma máscara que eu tenho pra me esconder dos meus problemas.
- Eu te entendo, mas posso ser sincero?
- Claro.
- Você pode se esconder de todo mundo, menos de você. Na minha opinião não adianta tapar o sol com a peneira.
- Concordo com você, mas eu faço isso pra simplesmente esquecer da raiva e do estresse que eu passo em casa. Pra você ter uma noção, eu já pensei até em fugir.
- Não fala isso nem de brincadeira... Eu sei o quanto eu sofri quando fui expulso... É horrível.
- Eu estou juntando dinheiro para me mudar quando tiver condições. Se a minha avó não fosse tão velhinha eu ia morar com ela.
- Mas pelo que percebi ela é bem ativa ainda.
- É sim, mas acontece que eu não quero dar problemas pra ela. Sabe como é, né?
- Uhum...
- Deixa eu te falar, desde ontem eu não fumo.
- Verdade?
- Aham.
- Meus parabéns. É assim que tem que ser.
- Só porque eu estou com você...
- Fico feliz que eu seja um incentivo para você parar de fumar. Me sinto útil assim.
- Você é mais que um incentivo, você é o único motivo para que eu faça isso.
Fiquei tímido com aquela revelação, mas ao mesmo tempo lisonjeado.
- Puxa, muito obrigado...
- Você pensa que eu estou mentindo quando digo que te amo e que me apaixonei por você?
- Às vezes isso tudo é tão surreal que eu fico pensando que não passa de um sonho...
Ele riu.
- Mas é real, amor. Eu te amo!
- Eu te amo também.
Fiquei morrendo de vontade de beijá-lo e só não o fiz porque estávamos no meio da rua.
Fiquei deslumbrado com o Jardim Botânico. Se eu soubesse que era tão lindo daquele jeito, tinha ido conhecer bem antes.

Tiramos muitas fotos juntos. Em um determinado momento em que ficamos sozinhos, nos beijamos apaixonadamente. Era bom demais estar com ele.
A Praia da Barra não era tão bonita como a de Ipanema e Copacabana, mas ainda assim era linda. Não pisamos na areia porque estávamos de tênis, porém vontade não nos faltou.

- Agora a gente vai almoçar no Barra Shopping.
- É longe daqui?
- É longe sim, tem que pegar ônibus.
- Quando a gente vai ver o Cristo?
- Só no final do dia, quero te mostrar o pôr do sol do bondinho...
- Deve ser a coisa mais linda nesse mundo.
- É lindo sim, mas não é tão lindo como você.
Sempre que ele falava aqueles galanteios, eu ficava todo bobo e derretido. O carinho e o amor que eu sentia pelo Bruno só aumentava a cada dia.
Só lembrei que já tinha ido naquele shopping com a Dona Elvira quando cheguei de frente ao mesmo. Nós comemos lanche do Mc’Donalds e tomamos um milk shake do Bob’s de sobremesa.


- Posso experimentar um pouco do seu? – perguntei.
- Vem pegar – ele deu uma chupada no canudinho e ficou me olhando. Eu fiquei com a boca cheia d’água.
- Ah, se eu pudesse.
Ele riu e me entregou o copo. Era de chocolate.
- Delícia...
Após o almoço nós seguimos até o Maracanã. Era bonito, mas não foi o meu local preferido naquele dia.

- Você vai amar a Praia do Arpoador.
- É mesmo?
- É muito lindo lá.
E era lindo mesmo. Melhor que a Praia da Barra. Tiramos várias fotos do mar e nossas também.

- Próxima parada: Cristo Redentor.
Eu já estava me sentindo cansado. Bem que ele tinha me alertado que aquilo ia acontecer.
- Bem que você disse que eu ia ficar cansado.
- Não te falei?
- Mas compensa.
- O que está achando?
- Muito bom – suspirei. Melhor porque ele era o meu guia.
O que eu não sabia era que tinha que pagar para subir no Cristo.
- Melhor a gente não subir então... – falei.
- Relaxa, vem comigo.
- Mas é que...
- Relaxa, já disse!!!
Ele pagou, mas eu fiquei chateado. Não queria que ele gastasse dinheiro comigo.
Contudo, quando eu cheguei nos pés do Cristo, não me segurei e comecei a chorar. Era lindo demais e tinha uma energia tão boa, tão positiva...

Bitch passou o braço pelo meu ombro e me abraçou. Eu estava tão emocionado que nem dei muita atenção pra ele.
Fiz muitos pedidos. Pedi paz pro meu coração, dos meus pais e meu irmão; pedi pela nossa união; para a reconciliação de minha família e pedi para que eu tivesse coragem e fé pra seguir adiante.
Agradeci pelas coisas terem melhorado e por ter conhecido o Bruno. Só consegui parar de chorar depois de 10 minutos.
- Mais calmo?
- Sim – funguei.
- Lindo, não é?
- Muito lindo. É mágico, é perfeito...
- Sim... Vem, vamos andar de bondinho que já vai anoitecer. É a hora perfeita.
Eu nunca tive medo de altura, contudo, confesso que quando o bondinho ficou no alto, eu me assustei.

- Com medo? – ele riu.
- Um pouquinho.
- Me dá a sua mão...
Nós não estávamos sozinhos, mas eu nem liguei. Ele segurou minha mão direita e entrelaçou nossos dedos. Nossos olhos se cruzaram.
- Olha a cidade...
Eu olhei pra frente e vi o céu começar a escurecer e o sol se esconder no horizonte. Uma das cenas mais bonitas que eu havia visto em toda a minha vida.

- Está vendo o pôr do sol?
- Uhum – falei baixinho.
- Eu te dou de presente – ele falou ainda mais baixo.
Fiquei sem reação. De todas as características que ele estava me mostrando, a que mais estava me surpreendendo era o romantismo.
Nos fitamos novamente, mas daquela vez por um longo período de tempo. Não sei se passaram segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos, décadas, séculos ou milênios. Só sei que, toda vez que nossos olhos se encontravem, uma corrente elétrica percorria todo o meu corpo. As minhas pernas ficavam bambas, meu coração disparava e a minha respiração falhava. Eu estava tão apaixonado pelo Bruno que mal sabia eu que aquele sentimento estava com os dias, as horas, os minutos e os segundos contados.

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